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História da Saúde. Revista Estudos Amazônicos vol. XI, nº 2 (2015), pp

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Academic year: 2021

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estudos realizados na área em suas distintas linhagens para a região amazônica constitui um desafio complexo dada a coexistência de uma vastidão de práticas de cura com hibridismos de saberes e ofícios ao longo dos séculos.

Sinalizar para os fluxos migratórios das cidades da Amazônia e as decorrentes campanhas de saneamento, pensar a ameaça, o medo e a interdependência provocada pelas doenças e epidemias em diferentes momentos e interpretar a história das instituições médicas e profissões em saúde são alguns elementos postos na agenda de pesquisa. Abordar os paradigmas médicos em formação e consolidação, enquadrar as doenças em perspectiva histórica, especialmente observando a atuação de cientistas e profissionais de saúde e debater a produção de ideias e ação política ao longo do território tem sido o enfoque da maior parte dos trabalhos desenvolvidos na região.

Apesar da temática ainda surgir na maioria das vezes como assunto tangente em muitos trabalhos, novos esforços têm delimitado parâmetros temáticos e cronológicos para a região com refinamento de pesquisa em arquivos e com fontes orais que lançam mão de bases teóricas e metodológicas bem definidas. Muitas dessas abordagens estão

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professores e pesquisadores profissionais com dissertações, teses e pesquisas que discutem temas de ampla relevância para a História Social da Amazônia.

O artigo de Adnê Jefferson Moura Rodrigues mostra os embates sobre saúde no cotidiano através do discurso maternalista dos médicos. Analisando as representações de infância presentes nas propagandas veiculadas em revistas ilustradas de Belém entre 1919 e 1942, o autor traz as fotografias e seus usos sociais para discutir a ideia de robustez e saúde. O consumo e a publicidade de alimentos fortificantes, os concursos de beleza (e saúde) infantil tornam-se objetos através das páginas das revistas, sendo possível ver a expansão da autoridade médica para a esfera privada.

O texto de Elis Regina Corrêa Vieira aborda os debates higienistas das décadas iniciais do século XX e as decorrentes concepções de mundo rural e urbano no Pará. Através das ideias de intelectuais, médicos e políticos, as discussões sobre civilização e progresso ganharam novos tons nos movimentos pelo saneamento. Consultando a imprensa local e os literatos, a autora observa ainda o sentido das doenças nas disputas pelas representações de Belém e de seus acessos como cenário urbano, evidenciando a tênue fronteira com o espaço rural.

André Vasques Vital leva-nos ao debate sobre saneamento para outra territorialidade, a cidade de Porto Velho. Estudando a Liga Pró-Saneamento do Rio Madeira e Seus Afluentes coordenada pelo médico Joaquim Augusto Tanajura o autor observa o alcance do sanitarismo na Primeira República. Vital vê nos contornos de serviços de saúde aspectos sociais da crise da indústria gomífera. Em razão disso, nota através de cartas, periódicos e publicações oficiais o formato adquirido pelos debates sobre saúde pública, medidas de educação sanitária e rotina de atendimentos médicos nas margens do rio Madeira. O texto contribui

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ainda para os estudiosos interessados nos fluxos de pessoas e ideias e nos debates sobre nação e região.

Fabrício Herbeth observa os conflitos e alianças envolvidos na criação de um matadouro modelo para Belém entre 1887 e 1912. No texto, higiene, saúde pública e fornecimento de carne para Belém e outros munícipios da Província evidenciam parâmetros da renovação urbana projetada pelo Intendente Antônio Lemos. Nos currais, nos matadouros e nos açougues da “bela época” sociedades e companhias, projetos de elites políticas e econômicas aparecem em disputas simultaneamente à promulgação de leis e decretos que à luz da ciência visavam regulamentar o comércio de gado. Através de vasta pesquisa documental o autor consegue apresentar disputas, conflitos e fluxos de capitais em meio à mudança de paradigmas médicos e sanitários no contexto de reforma urbana.

O cenário do artigo de Júlio Santos da Silva é a cidade de Manaus, mais especificamente no momento da chegada da epidemia de gripe espanhola ao Amazonas em 1918. No contexto da crise econômica provocada pela quebra do monopólio da borracha conhecemos a estrutura de postos de saúde montada para atender à ameaça gerada pela epidemia. No artigo vemos ainda como a história de uma doença representa um momento de medos sociogênicos, ao ponto de até o mesmo o clássico Teatro Amazonas, ícone arquitetônico de um projeto de modernidade, ter servido de ambulatório no esforço de combate à espanhola. Segundo Silva, em Manaus a medicina oficial e as práticas de cura populares parecem ter convivido numa relativa harmonia em comparação com outras capitais brasileiras onde a historiografia registrou um conflito mais evidente. Ainda assim, a doença marcou a história social da cidade, com altos índices de mortos.

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principal abordagem do artigo de Martins. Entre as teses médicas mais distintas em debate, a autora não busca fechar questão se os curiosos nomes bacillus influenzai ou micrococcus catarrhalis seriam os agentes etiológicos da doença, preferindo observar a adesão a ideias e teses no contexto de instabilidade e incertezas. A autora consegue empreender uma refinada abordagem beneficiada por suas leituras sobre história da saúde e das doenças mostrando que à revelia de qualquer enquadramento biomédico ou metodológico que se reivindique mais objetivo a doença está situada também na moralidade de seus contemporâneos.

O tema da narrativa biográfica de médicos e cientistas é um desafio posto na agenda história da saúde. Aristoteles Guilliod de Miranda e José Maria Abreu Junior são autores de um artigo sobre o médico Camilo Salgado com opções metodológicas próximas de uma perspectiva prosopográfica, onde fontes variadas permitem acompanhar o herói em formação. Situando os episódios que construíram o mito e apresentado pragmatismos, oportunidades e fracassos, a trajetória de vida de Camilo Salgado é apresentada de forma inédita pelos autores complexificando as disputas pela memória do médico santo.

Por fim, este editor convidado apresenta um artigo onde as ideias de uma geração de médicos nutrólogos sobre a alimentação na Amazônia são objeto, mais especificamente o pensamento de Dante Costa. No texto as ideias e a atuação profissional desse cientista ganham destaque, observando publicações e teses defendidas em seminários, cursos técnicos, livros e artigos. Por meio da defesa da educação alimentar e da assistência social vemos como Costa e outros homens de ciência erguiam os parâmetros de uma disciplina simultaneamente em que esquadrinhavam um país e uma Amazônia marcada pela pobreza e pela fome e, na visão dessa geração de médicos, parcialmente culpada ela mesma por suas mazelas.

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Espero que o dossiê instigue o debate intelectual para aqueles que travam uma aproximação inicial com o campo de estudos da História da Saúde e que seja igualmente útil para quem chegou até aqui por algum interesse específico nos temas apresentados. Boa leitura!

Érico Silva Muniz Professor e Bolsista de Pós-Doutorado (PNPD/CAPES) Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia/UFPA

Referências

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