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Vitalidade e vazios urbanos em Goiânia (Brasil): o caso do Setor Sul

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André Luiz Teixeira e Silva Torres PPG-FAU/UnB

andretstorres@gmail.com

Vitalidade e vazios urbanos em Goiânia (Brasil): o caso do Setor Sul

Valério Augusto Soares de Medeiros PPG-FAU/UnB valeriodemedeiros@gmail.com 1325

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CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO PARA O PLANEAMENTO URBANO,

REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVEL (PLURIS 2018)

Cidades e Territórios - Desenvolvimento, atratividade e novos desafios

Coimbra – Portugal, 24, 25 e 26 de outubro de 2018

VITALIDADE E VAZIOS URBANOS EM GOIÂNIA (BRASIL): O CASO DO SETOR SUL

A. L. T. S. TORRES e V. A. S. de MEDEIROS

RESUMO

Os vazios urbanos têm se tornado um problema cada vez mais recorrente em grandes cidades brasileiras. A discussão sobre a questão se associa à perda de qualidade dos espaços públicos e aos impactos para a qualidade de vida e a dinâmica urbanas, uma vez que a presença, convivência e participação de pessoas nos espaços públicos é um elemento benéfico e necessário para a urbanidade. A pesquisa, com base nesta perspectiva, explora o entendimento do espaço em sua estrutura e materialidade: desenvolve-se uma leitura morfológica, de modo que a cidade é lida por meio das relações entre seus elementos físicos constituintes. O objeto de investigação é a cidade de Goiânia (Brasil), em particular a área delimitada pelo Setor Sul, bairro residencial projetado quando da concepção do plano para a nova capital do Estado de Goiás na década de 1930. A pesquisa explora características físicas e atributos de configuração do bairro, identificando e discutindo aspectos que levaram à perda do uso e vitalidade diacronicamente.

1. INTRODUÇÃO

As cidades são estruturas complexas que se transformaram ao longo do tempo, ocupações constituídas por incontáveis elementos e suas relações. Se é possível uma simplificação, a cidade pode ser reduzida a dois principais elementos: os cheios, compostos pelas edificações inseridas em suas macro e micro parcelas, e os vazios, constituídos pelos espaços livres. O primeiro, as edificações, lotes ou quarteirões, são os lugares quase sempre fechados, controlados, restritos. O segundo, os vazios, em grande parte compreendem os espaços públicos: são os locais de livre circulação, isto é, ruas, praças, largos, parques e outros. Diferente do primeiro, aqui todos têm acesso e estão, pelo menos teoricamente, livres para se manifestarem à sua maneira: os espaços públicos possibilitam trocas e aprendizado por meio da convivência entre diferentes grupos e pessoas.

O encontro das semelhanças e diferenças no espaço público nos permite, no mínimo, uma validação de nossa própria essência, de modo a possibilitar o crescimento (Tenório, 2012). Compartilhar o mesmo espaço com outras pessoas, ainda que não aconteça a interação direta, favorece a aprendizagem social. Quando este compartilhamento se dá com pessoas de diferentes grupos em relação ao que pertencemos, a aprendizagem é ainda mais significativa, tanto para o indivíduo quanto para a sociedade. Sendo assim, no que diz respeito à vida na cidade, considera-se a presença, convivência e participação de pessoas nos espaços públicos como um elemento benéfico e necessário à sociedade. Mesmo assim, nas cidades contemporâneas, parece não haver um entendimento efetivo desta importância

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ou pouco existe de preocupação real com o tema, apesar do debate. Não é incomum encontrar espaços inadequados para dar o suporte necessário à vida pública. O resultado é uma grande quantidade lugares mortos e sem vida, um desperdício associado à subutilização.

Para o entendimento de espaços públicos, três conceitos parecem ser essenciais:

urbanidade, vitalidade e vazios urbanos. O primeiro se relaciona às características e

capacidade de um espaço de acolher pessoas (Aguiar, 2012). O segundo compreende a circulação e a permanência de pessoas nos espaços públicos (Holanda, 2002). Por último, a expressão vazios urbanos se relaciona à inexistência de usos ou atividades em um espaço, e se interliga aos dois primeiros pela oposição (Borde, 2003). Os vazios urbanos, à princípio, podem ser considerados áreas da cidade sem função e sem conteúdo social. Apresentam-se como um fenômeno urbano recente, que se expressa na cidade contemporânea marcada pelos efeitos de mudanças operadas nas estruturas produtivas a partir das últimas décadas do século XX (Borde, 2003). O que faz destes espaços vazios urbanos, portanto, são os aspectos formais, funcionais, simbólicos e políticos diretamente relacionados à sua condição urbana, devendo as análises estarem atreladas à compreensão do processo de urbanização gerador. Áreas antes funcionais dentro das cidades acabam por perder a importância, tornando-se estruturas obsoletas, destituídas de sua função original e conteúdo social (Borde, 2003).

Como aponta Villaça (2001), a maioria das metrópoles do Brasil sofre com o esvaziamento dos seus centros, o que acontece devido à transferência de usos de maior valor agregado, como moradia, para outras partes da cidade. Este fato acaba por ocasionar o abandono de um estoque de infraestrutura que se torna ociosa, trazendo prejuízos econômicos importantes, já que as redes continuam a ser ofertadas enquanto outras áreas, geralmente na periferia, são desprovidas, exaltando a necessidade de um melhor aproveitamento do espaço urbano. A utilização dos vazios e sua reinserção à dinâmica urbana parece ao mesmo tempo uma questão social e econômica, a afetar diretamente a qualidade dos espaços.

Inquietações decorrentes das transformações nos espaços públicos provocaram, a partir da segunda metade da década de 1980, o surgimento de pesquisas e discussões a respeito do tema, dos quais muitos tiveram como suporte as críticas realizadas na década de 1960 à urbanística do movimento moderno. É imprescindível citar alguns autores de grande contribuição por exporem teorias para sucesso ou insucesso de propostas de intervenção na cidade, embasadas na leitura de espaços construídos. Jane Jacobs (2007) e Jan Gehl (2013) são responsáveis por importantes estudos sobre vitalidade e espaços públicos. Ambos trazem considerações significativas por meio de sugestões para o planejamento de espaços que garantam o florescimento da vida urbana. Christopher Alexander (1965) e Nikos Salingaros (2005) contribuem para a compreensão sistêmica e relacional do espaço urbano. A pesquisa, com base nesta perspectiva tendo em conta a revisão de literatura, explora prioritariamente o entendimento do espaço em sua estrutura e materialidade, considerando ainda como foram produzidos e como são usados. É uma leitura morfológica, amparada pela investigação da forma, lida por meio das relações entre seus elementos.

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2. O CASO DO SETOR SUL

Como estudo de caso, optou-se pela investigação de Goiânia, em Goiás, com foco no bairro Setor Sul, em razão de sua peculiaridade histórica e formal (Figura 01). O bairro residencial é permeado por uma série de vazios que datam desde sua implantação. Ao contrário de terrenos esquecidos no tempo objetivando a especulação ou de equipamentos e áreas abandonadas por se constituírem elementos obsoletos na cidade, estes espaços são resquícios de um planejamento nunca consolidado, onde a falta de urbanidade e usos definidos levou à perda da vitalidade. Com a influência do modelo das “cidades jardins”, estas áreas (28 praças internas às quadras) foram projetadas como espaços públicos para o uso comunitário, porém nunca foram construídas, sofrendo ainda um processo de isolamento físico que intensificou a questão dos vazios. Alguns destes espaços se adaptaram, outros não. Após mais de seis décadas da implantação, a questão persiste e caminha sem solução.

Fig. 1 Goiânia e o bairro Setor Sul

São considerados momentos emblemáticos para a leitura de seus vazios urbanos: 1º) o projeto elaborado por Attílio Corrêa Lima e revisado por Armando de Godoy em 1947; 2º) a implantação e a consolidação do bairro, de 1950 a 1975; 3º) a implementação do projeto CURA, visando o resgate das praças internas, em 1980; 4º) as alterações configuracionais ocorridas pela criação da Av. Cora Coralina, em 2000; e 5º) o bairro hoje, em 2017, que vivencia os reflexos da expansão de suas áreas limítrofes e a intensa alteração do uso do solo (Figura 02).

Fig. 2 Evolução do Setor Sul (manchas das praças internas)

A pesquisa parte do princípio que a configuração resultante do processo de implantação, apropriação e consolidação do Setor Sul tem um papel fundamental para a falta de vitalidade das praças. A pesquisa propõe uma análise dos aspectos físicos e configuracionais de modo a compreender com as relações morfológicas afetam a vitalidade dos espaços.

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3. METODOLOGIA

Para a obtenção dos resultados, a pesquisa (cf. Torres, 2017) foi dividida em quatro etapas. A primeira parte do estudo se dedicou à revisão teórica, com prioridade para a identificação dos conceitos de interesse. A revisão de literatura considerou a análise dos conceitos de vazios urbanos, espaços públicos, urbanidade, vitalidade, configuração urbana e Sintaxe Espacial, a resultar numa síntese de aspectos relevantes para garantia da vitalidade nas cidades. A segunda parte buscou o entendimento do processo de urbanização da área estudada, esclarecendo o processo de ocupação do lugar. A terceira

parte consistiu na fase coleta de dados, a partir da definição das variáveis de interesse,

com base na literatura revisada dos autores mencionados na introdução. A obtenção dos dados se deu por meio de visitas ao local, lançando mão de bases cadastrais (mapas e

fotografias aéreas) e mapeamentos online (segundo os softwares Google Maps®, Google

Earth® e Bing Maps®). Também nesta etapa ocorreu o processo de redesenho dos mapas

históricos de Goiânia e do Setor Sul em representações axiais (mapas axiais, produzidos de acordo com a Sintaxe do Espaço), tendo em conta questões de atualização da cartografia e sincronia dos dados. A quarta parte compreendeu a análise dos dados coletados, com foco na correlação entre variáveis. Para o processamento de algumas informações foi

utilizado o software de geoprocessamento Qgis®, estruturado na associação entre

informações numéricas e cartográficas. Os gráficos resultantes foram produzidos no

Excel®, por meio de tabelas e gráficos dinâmicos.

As teorias e/ou abordagens desenvolvidas por Jacobs (2007), Gehl (2003), Alexander (1965) e Salingaros (2005) permitiram a seleção de um conjunto de premissas/condições para a vitalidade dos espaços urbanos. Algumas destas condições, que se aplicam ao estudo de caso, foram utilizadas como variáveis: a) área das praças, b) qualidade dos espaços públicos (mobiliário/ equipamentos existentes), c) número de acessos para as praças, d) uso do solo, e) permeabilidade visual e f) existência de transporte público. Estas variáveis foram aplicadas para análises no âmbito do bairro.

Das estratégias que permitem os estudos de vitalidade baseados na análise configuracional, destaca-se para a pesquisa a Teoria da Lógica Social do Espaço (Sintaxe Espacial). Por meio de um método e técnicas, são estabelecidas relações entre duas categorias: 1) a função do espaço, produto de suas relações (âmbito sintático) e 2) o significado do espaço, relação entre grupos e indivíduos (âmbito semântico). Sendo assim, investiga-se o relacionamento entre espaço e sociedade (Holanda, 2002; Barros, 2014).

A teoria trabalha com uma perspectiva sistêmica para o ambiente urbano e, sendo assim, considera que as partes afetam o todo e vice-versa, revelando a existência de uma interdependência entre os elementos estruturadores do espaço. Alterações locais na configuração podem acarretar transformações no sistema como um todo. Para o estudo de caso, as variáveis utilizadas associadas à Sintaxe Espacial e aplicadas para análises do

bairro e da cidade são: g) conectividade, h) integração global e i) integração local.

Todas as variáveis acima foram correlacionadas com a vitalidade dos espaços estudados, correspondente à: j) contagem de pessoas/pedestres e veículos / dias de semana e finais de semana. Estes dados foram obtidos a partir de levantamento realizado nos espaços estuados, por meio de contagem em 235 pontos e com base no “Manual de Observação da Sintaxe Espacial” (Grajewski ,1992) (cf. Torres, 2017).

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4. ANÁLISE DA ÁREA ESTUDADA

Esta seção compreende a investigação da área de estudo. Para a análise a nível das praças

internas, no que diz respeito aos dados de vitalidade/contagem de pessoas/pedestres e veículos, é possível perceber, segundo um mapa de calor, como a configuração do bairro e

a hierarquia do sistema viário são capazes de concentrar fluxos nas vias arteriais e em locais de convergência, como as praças Cívica e do Cruzeiro, ao contrário das vias coletoras, locais (cul-de-sacs) e praças internas (Figura 03).

Fig. 3 Mapa de calor (contagem de veículos, à esquerda; contagem de pessoas/pedestres, à direita).

O gráfico de vitalidade das praças (Figura 04), com a sobreposição entre ambos os dados de contagens (pessoas e veículos), foi capaz de apontar certa sincronia entre os fluxos de movimento, reforçando a questão da segregação dos modos de deslocamento como fator negativo para a promoção da vitalidade, como colocado pelos autores revisados.

Fig. 4 Comparativo: contagem de veículos/pessoas (dias de semana e finais de semana)

Para as variáveis oriundas da revisão de literatura, com relação às áreas das praças, é possível perceber como houve redução na medida no decorrer dos anos, o que se atribui às transformações como ocupação de certos espaços, abertura de vias e eliminação das vielas (Figura 02). Os gráficos, com a correlação entre área e vitalidade (Figuras 05 e 06), apontam para praças com maior área apresentando maior número nas contagens, o que se

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dá devido ao fato destas serem aquelas que possuem maior número de acessos para as vias externas e também as que possuem vias para a circulação de veículos em seu interior.

Fig. 5 Comparativo: área (m²) x nº veículos

Fig. 6 Comparativo: área (m²) x nº pessoas

A correlação entre a vitalidade com a quantidade de equipamentos e mobiliário (qualidade

do espaço público) apontou pouca ou quase nenhuma interferência destes para a vitalidade

(Figuras 07 e 08). Acredita-se que o desempenho ocorre em razão da baixa diversidade e qualidade encontrada nestes equipamentos, baixa qualidade de pavimentação e o aspecto de abandono intrínseco a muitos destes espaços. Vale ressaltar o potencial pouco aproveitado de murais de arte urbana localizados no interior das praças (Torres, 2017).

Fig. 7 Comparativo: equipamentos/mob. urbano x nº veículos

Fig. 8 Comparativo: equipamentos/mob. urbano x nº pessoas

No que diz respeito ao número de acessos para as praças, o que contribui para uma maior conectividade destes espaços, a variável mostrou-se influente em ambas as contagens

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(pessoas e veículos) (Figuras 09 e 10). As praças 04 e 26, que fogem da regra, apresentam outros aspectos como o dimensionamento das vias, vias não pavimentadas e baixa permeabilidade visual como fator negativo para a vitalidade.

Fig. 9 Comparativo: nº acessos x nº veículos

Fig. 10 Comparativo: nº acessos x nº pessoas

O levantamento para o uso do solo apontou para um significante aumento da diversidade para o bairro, originalmente residencial. Apenas 41% da área total dos lotes corresponde ao uso residencial, enquanto os demais são utilizados por uma variedade de outras ocupações. A diversidade é uma das importantes condições para a vitalidade, como apontam os autores explorados nesta pesquisa. Apesar da correlação mostrarem alguma sincronia entre vitalidade e diversidade, a curva de tendência se mostra pouco ascendente, tanto para veículos como para pessoas (Figuras 11 e 12). Ocorre que, em muitos dos casos, a diversidade de usos é voltada para as vias externas e não para o interior das praças, o que não gera efeito sobre estes espaços.

Fig. 11 Comparativo: uso do solo x nº veículos

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A correlação com os dados levantados para permeabilidade visual (baixa, média e alta) com os números de contagem (Figuras 13 e 14) apontou haver significativa interdependência. Praças com vias de circulação para veículos em seu interior se correlacionam com as praças com maior permeabilidade visual.

Fig. 13 Comparativo: permeabilidade visual x n veículos

Fig. 14 Comparativo: permeabilidade visual x nº pessoas

Verificou-se que a existência de transporte público não influi na questão da vitalidade no interior das praças. Aparentemente o fluxo de pessoas que utilizam o serviço de transporte se concentra nas vias principais, onde estão os principais corredores de ônibus.

Em relação às variáveis associadas à Sintaxe do Espaço, a correlação entre os dados de contagem e conectividade demonstrou como o papel das articulações espaciais é relevante para a promoção da vitalidade urbana (Figuras 15 e 16). A curva de tendência aponta para o crescimento da vitalidade conforme o aumento da conectividade das praças, o que se relaciona à outra variável já mencionada, a de número de acessos às praças.

Fig. 15 Comparativo: conectividade x nº veículos

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A variável de integração traduz o quão acessível ou permeável podem ser as linhas de um sistema. A integração global consiste na análise a partir de todos os eixos para todos os eixos, considerando todos os percursos possíveis entre qualquer origem e destino, enquanto a integração local se restringe à análise dos eixos para até três conversões. Ambas as variáveis apresentam correspondência com os valores de contagem, o que indica que quanto mais integrado estes espaços, maior o número de pessoas e veículos circulando nestes locais, no entanto, localmente, os espaços se apresentam mais integrados do que em um âmbito global (Figuras 17 e 18).

Fig. 17 Comparativo: integração global x nº pessoas

Fig. 18 Comparativo: integração local x nº pessoas

Para a análise a nível de bairro e cidade, no que tange os dados do mapa axial da cidade de Goiânia, para a variável da conectividade, percebe-se como partes da trama da cidade mais regulares concentram as áreas com os valores mais altos para a variável (Figura 19).

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O Setor Sul, pela organicidade do traçado, apresenta baixos valores para a variável, a não ser pelas suas vias arteriais (predominam linhas azuis escuras).

A variável de integração global para Goiânia aponta uma significativa correspondência entre as princiais centralidades urbanas (Setor Central, Setor Campinas, etc.) e o núcleo de integração da cidade, com a trama mais integrada e acessível do sistema (Figura 20). Percebe-se, por outro lado, que o Setor Sul se encontra parcialmente ilhado (verde, em área com predomínio de vermelho), envolto por áreas mais integradas globalmente.

Fig. 20 Mapa de integração global

A variável de integração local revelou baixos valores para as vias locais e coletoras para o bairro (Figura 21). O traçado orgânico e a grande quantidade de espaços públicos não qualificados do Setor Sul são entendidos como responsáveis pela falta de articulação deste com suas áreas limítrofes.

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5. Conclusões

Para consolidar os resultados obtidos, e à título de conclusão, foi produzido o gráfico expresso na Figura 22. Nele constam todas as variáveis, organizadas por meio de uma estratégia de “empilhamento”, que consiste na somatória das variáveis linha a linha e o acúmulo dos valores dos dados. Percebe-se que as praças com maior valor de contagem apresentam maior acúmulo de valores pela somatória, a exemplo da Praça 06, com mais de 800%. O gráfico aponta, por outro lado, a Praça 13 com os valores acumulados mais baixos, correspondendo, assim, ao espaço em que as características físicas menos contribuem para a vitalidade, como a baixa permeabilidade visual, falta de pavimentação, mobiliário e acessos para o interior da praça. Possui ainda péssima colocação nas variáveis da sintaxe analisadas.

Fig. 22 Correlação das variáveis

As cinco praças com maior contagem de pessoas e veículos possuem também boa colocação no ranking das variáveis da sintaxe, principalmente as de conectividade e integração local. Vale lembrar que o ranking é constituído por 23 posições de praças ainda existentes, já que algumas foram inteiramente eliminadas por ocupações, como as praças 02, 19, 20, 25 e 29, que não aparecem nas análises. As informações indicam uma real correlação entre o potencial apontado pela sintaxe e a presença e circulação de pessoas e veículos nos espaços, indicando um importante papel da configuração para a vitalidade. Os achados permitem afirmar que o Setor Sul reproduz cenários de fragmentação e descontinuidade no tecido urbano, estando pouco integrado ao restante da malha urbana, apesar de fazer parte do núcleo projetado para a capital e apresentar posição central no sistema urbano. Se observarmos o núcleo de integração revelado pelo mapa de integração global (Figura 20) é possível perceber que todo o núcleo planejado para Goiânia, projetada por Attílio Correa Lima, faz parte do núcleo de integração, com exceção do Setor Sul. Vale lembrar que por meio das modificações propostas, Godoy o quis desta forma, mais isolado, propiciando maior tranquilidade a um setor residencial. No entanto, com o processo de crescimento urbano para muito além dos limites do bairro, o Setor Sul ficou ilhado. A partir da discussão anterior, e tendo em conta uma perspectiva de planejamento e desenho urbanos, não se acredita que a abertura de vias, que já acontece em quase todas as praças, seja a solução para o problema do abandono destes lugares. Também não se interpreta que investimentos em apenas uma variável possa resolver o problema de vitalidade. Se o objetivo é dar real uso aos espaços e livrá-los do abandono, deve-se ampliar a discussão caso a caso e levar em consideração todos os aspectos analisados e ainda outros que porventura não tenham sido explorados na pesquisa.

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Da leitura conduzida sobre o desempenho das praças internas do Setor Sul, algumas considerações parecem relevantes para colaborar em um futuro planejamento destes espaços:

a) Evitar novos fechamentos dos acessos para o interior das praças;

b) Implantar novos equipamentos, mobiliários e dar manutenção aos já existentes; c) Aumentar a qualidade dos espaços;

d) Valorizar o acervo de pinturas e grafites existentes no local; e) Levar atividades e diversidade de usos para o interior das praças;

f) Incentivar aberturas voltadas a praças internas garantindo maior permeabilidade visual.

6. REFERÊNCIAS

Aguiar, D. (2012) Urbanidade e qualidade da cidade, Vitruvius, Arquitextos 141.08. Disponível em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.141/4221. [Acesso em: 26 jun. 2016].

Alexander, C. (1965) A city is not a tree, Architectural Forum, vol. 122, part 01, 58-62. Barros, A. P. B. G. (2014) Diz-me como andas que te direi onde estás: inserção do aspecto relacional na análise da mobilidade urbana para o pedestre, PPGT/FAU/Universidade de Brasília, Brasília (Tese).

Borde, A. L. P. (2003) Percorrendo os vazios urbanos, X Encontro Nacional da Anpur, 01-16.

Gehl, J. (2013) Cidades para pessoas, Perspectiva, São Paulo.

Grajewski, T. (1992) Introduction to observation techniques, UCL, Space Syntax Laboratory, Londres.

Holanda, F. (2002) O espaço de exceção, Ed. UnB, Brasília.

Jacobs, J. (2007) Morte e vida de grandes cidades, Martins Fontes, São Paulo. Salingaros, N. A. (2005) Principles of urban structure, Techne Press, Amsterdam. Tenorio, G. S. (2012) Ao desocupado em cima da ponte, PPG/FAU/Universidade de Brasília, Brasília (Tese).

Torres, A. L. T. e S. (2017) O frágil limiar entre espaços públicos e vazios urbanos: uma análise das condições para assegurar a vitalidade nos assentamentos,

PPG/FAU/Universidade de Brasília, Brasília (Dissertação).

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