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Novos Paradigmas para o Urbanismo no Século XXI

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Academic year: 2021

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Novos Paradigmas para o Urbanismo no Século XXI

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Geisa Bugs2

1. Introdução

Thomas Kuhn introduziu o termo ‘paradigma’ para se referir a uma visão de mundo que domina a ciência por um período de tempo. Uma mudança de paradigma ocorre quando essa visão de mundo se torna desgastada, quando se demonstram inconsistências a tal ponto que não se pode mais trabalhar segundo este paradigma vigente.

Atualmente estamos passando por uma mudança de paradigma, de um mundo baseado no material para um mundo baseado nas informações, em função da chamada revolução digital, que se caracteriza pela adoção em massa das tecnologias digitais em todas as esferas de nossas vidas. As tecnologias digitais estão mudando também as formas de relação dos habitantes com o espaço urbano. Para Pereira et al. (2013) em breve será característico as cidades terem o seu espaço inteiramente digitalizado e exibido através de vários tipos de representação. Modelos, imagens, vídeos, músicas, tweets e posts, localizáveis no espaço e no tempo, coexistirão no espaço urbano com a estrutura física e a infraestrutura. Em outras palavras, a representação do espaço e o espaço representado estão se aproximando e se cruzarão.

Ao mesmo tempo, estamos paulatinamente nos afastamos de um mundo em que um pequeno número de pessoas define regras, cria produtos e toma decisões, na direção de um mundo em que todas as pessoas são dotadas de meios para participar e contribuir ativamente na resolução de problemas pessoalmente significativos, o que Fischer (2011) caracteriza como "cultura da participação".

Neste contexto, surgem diversas iniciativas, não necessariamente com a participação de arquitetos e urbanistas, cuja atuação ou objeto de interesse é o espaço urbano, tais como o urbanismo tático e o placemaking. Em comum, defendem a incorporação da perspectiva e a valorização dos saberes do utilizador do espaço urbano, em contraponto a visão baseada puramente no conhecimento técnico dos especialistas.

Já na década de sessenta Jacobs (2009 [1961]) chamou a atenção para o atrito entre o espaço urbano planejado e os anseios do público usuário deste espaço, e defendeu uma maior compreensão da dinâmica social da comunidade como forma de enriquecer os

1 Projeto de pesquisa

2 Arquiteta e Urbanista, Mestre em Tecnologias Geoespaciais, PhD em Planejamento Urbano e Regional, Professora Pesquisadora do Mestrado em Arquitetura e Urbanismo da UniRitter, geisa.bugs@uniritter.edu.br

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projetos propostos. Assim, estes movimentos se afastam, do “desenho urbano” com raízes no CIAM - Congressos Internacionais da Arquitetura Moderna, ou na abordagem "artística" de Camilo Sitte.

Em paralelo, percebe-se nas escolas de arquitetura e urbanismo um distanciamento entre o ensino e a pesquisa acadêmica e a pratica do urbanismo. Discute-se, por exemplo, a aparente assimetria entre as disciplinas de "arquitetura" e as de "urbanismo" (ROVATI, 2013; MELLO 2017) e a necessidade de se capacitar o profissional para trabalhar com bancos de dados urbanos (ASCHER, 2001) e em conjunto com os usuários do espaço urbano (BUGS, 2014).

Frente a este contexto, questiona-se: Quais são os paradigmas emergentes para o urbanismo do século XXI?

Assim sendo, o principal objetivo da pesquisa é investigar os paradigmas emergentes no campo do urbanismo contemporâneo, avaliando se, e como estas novas práticas se tornarão de fato paradigmas estabelecidos. Os objetivos específicos são: Identificar e caracterizar os contextos no qual estas práticas se desenvolvem e quais as suas origens e dimensões teóricas; reconhecer e analisar as suas materializações e consequências no espaço urbano; e avaliar se, e como estas práticas serão incorporadas pelos profissionais do urbanismo.

2. Metodologia Proposta

Em linhas gerais, a metodologia proposta para este projeto de pesquisa engloba: Etapa 1 – Revisão da literatura;

Etapa 2 – Estudos de caso e entrevistas com praticantes e pesquisadores; Etapa 3 – Análise dos dados coletados;

Etapa 4 – Redação e publicação dos resultados finais.

Se prevê o conclusão das etapas 1 e 2 no próximo ano e das etapas 3 e 4 no ano subsequente.

3. Resultados Parciais

Até o presente momento, o projeto se encontra na fase inicial de seleção da bibliografia pertinente (etapa 1) e na identificação de conceitos/práticas emergentes a serem aborados, dentre os quais pode-se destacar:

Novo urbanismo: os ideais do novo urbanismo tem conquistado vários adeptos, principalmente nos Estados Unidos. O novo urbanismo defende uma visão de cidade compacta e heterogênea. Se assemelha aos primórdios do urbanismo ao usar as relações espaciais para criar uma cidade melhor. Daí o nome. O novo urbanismo clama por projetos urbanos que incluam uma variedade de tipos de construções, usos mistos, habitação para

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diferentes grupos de renda, presença marcante dos espaços públicos, forma urbana que estimule a vizinhança, envolvimento da comunidade, e sentimentos subjetivos de integração com o ambiente e satisfação estética. A unidade básica é o bairro, haja vista que a crítica ao subúrbio americano é parte fundamental do discurso do novo urbanismo. Referências bibliográficas: Congresso para o Novo Urbanismo (2001), Kunstler (2003), Macedo (2007).

Placemaking: movimento que se descreve ao mesmo tempo um processo e uma

filosofia, que se inspira na comunidade para criar espaços públicos agradáveis e interessantes que promovam a saúde das pessoas, a felicidade e o bem-estar. Segundo o

Projects for Public Space, os conceitos do placemaking originaram-se na década de 1960,

nas ideias de Jane Jacobs sobre a criação de cidades para pessoas, a importância dos bairros e dos espaços públicos convidativos, e a posse cidadã das ruas através da agora famosa teoria dos “olhos na rua”. Referências bibliográficas: Shibley e Schneekloth (1995), Brown et. al. (2009), Friedmann (2010).

Urbanismo tático: conceito que promove a autoprodução dos espaços públicos, uma visão participativa de “faça você mesmo”, em que aqueles que são afetados por uma questão se mobilizam ativamente para enfrentá-la. Referências bibliográficas: Isidoro (2017), Nogueira (2017), Maziviero e Almeida (2017).

Acupuntura urbana: a ideia central é a de que pequenas intervenções são capazes de gerar a melhoria das cidades. No Brasil, conta com defensores como Jaime Lerner. Referência bibliográfica: Lerner (2003).

Cidade para pessoas: vertente oriunda do trabalho do arquiteto dinamarquês Jan Gehl, que aborda a dimensão humana nas cidades. Referências bibliográficas: Gehl (2014), Speck (2016).

Neo-urbanismo: François Ascher, urbanista e sociólogo, trata dos desafios da sociedade onde as conexões vão além dos laços físicos e visíveis e como a maior presença das redes nos obriga a entender a dimensão das cidades de outra forma. Referência bibliográfica: Ascher (2010).

Urbanismo sustentável: Busca manter um equilíbrio entre a urbanização e a industrialização em relação aos recursos naturais. Advoga a manutenção das áreas verdes, dos parques, das nascentes, ou seja, a proteção das faixas de natureza, bem como cuidar das emissões de poluentes. Referências bibliográficas: Silva e Romero (2010), Farr (2013). 4. Considerações Finais

Neste primeiro ano, além do levantamento bibliográfico, alguns dos conceitos listados acima foram abordados na disciplina do Mestrado em Arquitetura e Urbanismo denominada ‘Laboratório III: Projeto de Arquitetura e Urbanismo: Escalas Territórios e Redes’. Neste sentido, pode-se citar a leitura e discussão do livro ‘Novos Princípios do Urbanismo’ de François Ascher, e a elaboração de um artigo, como trabalho final da disciplina, que discute os dez principais conceitos do Novo Urbanismo no caso do ‘Bairro Quartier’ de Pelotas.

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5. Palavras-chave

Urbanismo, Colaboração, Participação, Espaço Urbano, Tecnologias Digitais. Referências bibliográficas

ASCHER, F. Novos Princípios do Urbanismo. Um léxico. Lisboa: Livros Horizonte, 2010. BROWN, L. J.; DIXON, D.; GILLHAM, O. Urban Design for an Urban Century:

Placemaking for People. New Jersey: John Wiley and Sons, 2009.

CONGRESSO PARA O NOVO URBANISMO. Carta do Novo Urbanismo, 2001. Tradução de Frederico Rogeiro. Disponível em:

<https://www.cnu.org/sites/default/files/cnucharter_portuguese.pdf>. Acesso em: 2 jul. 2018. FARR, D. Urbanismo sustentável: desenho urbano com a natureza. Porto Alegre:

Bookman, 2013.

FISCHER, G. Understanding, fostering, and supporting cultures of participation. Interactions, v. 18, n. 3, p. 42-53, 2011.

FRIEDMANN, J. Place and place-making in cities: A global perspective. Planning Theory & Practice, p. 149-165.Taylor & Francis, 2010.

GEHL, J. Cidades Para Pessoas. Editora Perspectiva, 2014.

ISIDORO, A. C. P. Urbanismo tático: desafios ao planeamento do território. Dissertação. Mestrado em Planeamento Regional e Urbano, Universidade do Aveiro, 2017.

JACOBS, J. Morte e vida de grandes cidades. 2ª ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009.

KUNSTLER, J. H. The City in Mind: Notes on the Urban Condition. Simon and Schuster, 2003.

LERNER, J. Acupuntura urbana. Editora Record, 2003.

MACEDO, A. C. A Carta do Novo Urbanismo norte-americano. Revista Integração, 2007. MAZIVIERO, M. C.; ALMEIDA, E. Urbanismo Insurgente: ações recentes de coletivos urbanos ressignificando o espaço público na cidade de São Paulo. 17º ENANPUR, São Paulo, 2017.

MELLO, B. C. E. de. O urbanismo dos arquitetos : genealogia de uma experiência de ensino. Tese de doutorado Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Arquitetura. Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional. 2016.

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NOGUEIRA, P. C. E. Urbanismo tático e intervenções urbanas: aderências e deslizamentos. Arcos Design, v. 10, n. 1, 2017.

PEREIRA, G. C.; FLORENTINO, P. V.; ROCHA, M. C. F. City as a social network – Brazilian examples. In: UDMS 2013 -Urban Data Management Society, University College London, 2013.

ROVATI, J. F. Urbanismo versus planejamento urbano? Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, v. 15, n. 1, p. 33-58, 2013.

SILVA, G. J. A.; ROMERO, M. A. B. Novos paradigmas do urbanismo sustentável no Brasil: a revisão de conceitos urbanos para o século XXI. Actas do Pluris, 2010.

SHIBLEY, R. G.; SCHNEEKLOTH, L. H. Placemaking: The art and practice of building communities. New York, Wiley, 1995.

Referências

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