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A (re)configuração do espaço rural no território Portal da Amazônia

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Academic year: 2021

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Linha Editorial: Pesquisas Científicas

A (re)configuração do espaço rural no território

Portal da Amazônia

Deonice Maria Castanha Lovato1 - deonicec@yahoo.com.br

Resumo: O artigo tem como finalidade a análise do espaço rural ocupado por projetos de

colonização no norte do Estado de Mato Grosso, buscando estabelecer relação com a atual dinâmica territorial estabelecida por políticas públicas no país. A problemática questionada é o entendimento da re(configuração) do espaço rural e os sujeitos-atores desse espaço promovido pela colonização e atualmente no contexto do Território Portal da Amazônia. Estabeleceu-se como objetivos o entendimento histórico da ocupação no norte de Mato Grosso no âmbito da expansão do capitalismo no campo; a presença do pequeno agricultor no processo de colonização e o Território Portal da Amazônia inserido nas políticas públicas para o espaço rural. A metodologia adotada foi à realização da revisão bibliográfica sobre o tema; seguida de entrevista semiestrutura com os pequenos agricultores; e por fim a sistematização dos dados teóricos e empíricos. Com a pesquisa constatou-se que as ações implementadas tanto pelo processo de colonização quanto pelas políticas públicas no contexto do desenvolvimento territorial não garantem qualidade na permanência do pequeno agricultor na terra e promove a reprodução de um pequeno agricultor empobrecido e dependente de mediadas compensatórias.

Palavras-chave: Colonização. Agricultores familiares. Portal da Amazônia.

Resumen: El artículo tiene como objetivo analizar el campo ocupado por los proyectos de

colonización en el norte del estado de Mato Grosso, buscando establecer relaciones con las dinámicas territoriales actuales establecidos por la política pública en el país. El tema cuestionado es la comprensión de la re (configuración) del campo y de los sujetos-actores en este espacio que promueve la colonización y ahora en el contexto del Portal Regional de la Amazonía. Se establecieron como objetivo la comprensión histórica de la ocupación en el norte de Mato Grosso, en el contexto de la expansión del capitalismo en el campo; la presencia de los pequeños productores en el proceso de colonización y el Territorio Amazonas Portal inserta en las políticas públicas para las zonas rurales. La metodología adoptada fue la realización de la revisión de la literatura sobre el tema; seguido de semiestrutura entrevista con los pequeños agricultores; y, finalmente, la sistematización de los datos teóricos y empíricos. A través de la investigación se encontró que las acciones llevadas a cabo tanto por el proceso de colonización y por las políticas públicas de desarrollo territorial contexto no garantiza la calidad de los pequeños agricultores se quedan en la tierra y promueve la

1 Professora com Licenciatura em História e Geografia (FAI, 1984); Especialização em Coordenação Pedagógica

(UFMT, 2012); e Mestre em Educação (UFMS, 2003). Atualmente docente do ensino superior na Faculdade de Ciências Sociais de Guarantã do Norte-MT. E-mail: deonicec@yahoo.com.br

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reproducción de un pequeño agricultor empobrecido y depende de las medidas compensatorias.

Palabras-clave: La colonización. agricultores familiares. Portal de la Amazon

1. INTRODUÇÃO

O artigo faz parte de uma pesquisa em andamento, que tem como finalidade a análise do espaço rural ocupado por projetos de colonização no norte do Estado de Mato Grosso, buscando estabelecer relação com a atual dinâmica territorial rural estabelecida por políticas públicas no país.

O campo empírico do estudo é oTerritório Portal da Amazônia, considerado um Território Rural, formado por dezessete municípios em que todos foram originários historicamente por processos de colonização durante as décadas de 1970 e 1980, sendo uma região de fronteira agrícolanonorte do Estado de Mato Grosso.

O objeto da pesquisa, ou seja, sua problemática é o entendimento da re(configuração) do espaço rural e os sujeitos-atores desse espaço promovido pela colonização e atualmente no contexto do Território Portal da Amazônia.

Estabeleceram-se como objetivos o entendimento histórico da ocupação no norte de Mato Grosso no âmbito da expansão do capitalismo no campo; a presença do pequeno agricultor noprocesso de colonização e o Território Portal da Amazônia inserido nas políticas públicas para o meio rural.

O procedimento metodológico contou primeiro com a realização de uma revisão bibliográfica de autores que abordam sobre o tema da colonização, agricultores familiares e Territórios Rurais.Em seguida, foi realizada a pesquisa empírica qualitativa com base na entrevista semiestrutura com os pequenos agricultores dos municípios de Nova Monte Verde, Terra Nova do Norte e Matupá com o objetivo de entender esse processo de ocupação e a situação que se encontram atualmente enquanto agricultores familiares. Na última etapa, foram sistematizados os dados empíricos e a luz da teoria compreender as implicações da (re)configuração do espaço rural âmbito do Território Portal da Amazônia

O estudo propõe-se a contribuir com a discussão em torno da ocupação no norte do Estado de Mato Grosso, em que se encontra historicamente em construção, levando em consideração a análisesocioeconômica dos migrantes mediante as políticas públicas para a

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agricultura familiar e atribuindo novos papéis ao mundo rural frente às novas necessidades postas pelo capital.

2. CONTEXTO HISTÓRICO DA FRONTEIRA CAPITALISTA

Para entendimento da expansão da fronteira norte mato-grossense do país, deve-se verificar que essa expansão estava inserida no contexto da política desenvolvimentista dos governos militares no Brasil e na modernização da agricultura, ou seja, a expansão do capitalismo no campo2.

Com relação ao processo da modernização da agricultura no Brasil, esta ocorreu durante as décadas de 1960 e 1970, em que a expansão do capitalismo no meio rural ocorreu sem alterar a estrutura fundiária. Seu resultado foi um êxodo rural e os movimentos migratórios interregional, como a ocupação da Amazônia mato-grossense por meio de projetos de colonização.

A política de modernização da agricultura brasileira na década de 1970 estava pautada na chamada“Revolução Verde”, que de acordo com Brum (1988, p. 44),

Foi um programa que tinha como objetivo explícito contribuir para o aumento da produção e da produtividade agrícola no mundo [...] ocultavam-se, no entanto, poderosos interesses econômicos e políticos ligados à expansão e fortalecimento das grandes corporações.

No Brasil, com o avanço da modernização Brum (2005, p. 30) destaca que foi criada a Empresa Brasileira de pesquisa Agropecuária - EMBRAPA, em 1973, sob influência dos centros internacionais. Também com o objetivo de difundir as inovações tecnológicas foram criadas para diversos estados as Empresas de Assistência Técnica e Extensão Rural - EMATERs.

No período de 1964 a 1977, a prioridade da produção agrícola voltada à exportação, que se criaram alguns instrumentos para o campo, como a criação do Sistema Nacional de Crédito Rural - SNCR em 1965, com o objetivo de fortalecer os pequenos e médios produtores, porém, os maiores beneficiados foram os grandes proprietários.

Com a modernização agrícola, o interesse direcionou-se para os produtos agrícolas destinados à exportação, as chamadas culturas comerciais3 em detrimento as culturas

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É importante não incorrer no engano que a penetração capitalista no campo do país ocorreu somente a partir da introdução da industrialização na economia brasileira, mas sim, desde a economia colonial esta inserção estava presente.

3Fica estabelecido para a presente pesquisa, segundo nosso entendimento, que as lavouras tradicionais são

aquelas cultivadas sem o uso de máquinas e outros recursos técnicos; são aquelas destinadas especialmente para o mercado interno, como a produção básica de arroz, do feijão, da mandioca, da batata entre outras.

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tradicionais4. Estudos apontam que no final da década de 1970 havia carência na produção de alimentos no Brasil.

Assim, a industrialização criou um conjunto de novas necessidades, determinando-se um novo papel ao campo. A velocidade das máquinas ao transformar matérias-primas em alimentos industrializados e a política do governo em dinamizar as exportações de gêneros agrícolas, acarretou a intensificação da mecanização e a concentração das grandes propriedades na monocultura exportadora.

Brum (2005, p. 29, grifo do autor), faz uma análise do que essa modernização da agricultura constituiu:

Num instrumento de modernização conservadora que ajudou a consolidar a estrutura agrária injusta do passado, aprofundar a internacionalização da economia e agravar a dependência. Uma minoria dos agricultores, aqueles que se estruturaram de forma empresarial foi beneficiada. Num primeiro momento, os pequenos proprietários rurais foram progressivamente marginalizados, mas, nas décadas de 70 e 80, também foram atingidos os médios agricultores.

Devido a uma política econômica para a agricultura que estimulou as culturas para a exportação, concentrou a propriedade da terra e favoreceu a agricultura empresarial não restou muita opção aos pequenos agricultores a migração para as cidades ou para a fronteira agrícola criada no norte do país.

Nesse contexto, é que se vai desencadear grande fluxo migratório principalmente dos estados do Sul e Sudeste para a Amazônia mato-grossense promovido por colonizadoras.

Conforme menciona Delgado (2001, p. 32), em que “a agricultura brasileira foi penalizada principalmente nos períodos de mais intensa expansão industrial (1956/61 e 1967/73), mas essa discriminação atingiu principalmente os pequenos produtores e trabalhadores rurais, já que as elites agrárias foram compensadas através de diversos mecanismos de política”.

Quanto à politica desenvolvimentista do Estado, esta se desenvolveu mediante a logística com a construção de estradas, principalmente a BR 1635 e a concessão de muitos empréstimos para investimentos a grandes grupos econômicos.

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Fica estabelecido para a presente pesquisa, segundo nosso entendimento, que as lavouras comerciais são aquelas destinadas ao mercado interno (matérias-primas para a indústria) e mercado externo, como é o caso da soja, do algodão, do café, da laranja entre outras.

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A construção da BR-163 em Mato Grosso iniciada em 1971, fez parte do Plano de Integração Nacional - PINdo Governo Militar e pertencia ao movimento desencadeado na época, cujo lema era “Integrar para não Entregar” com pressão para ocupar a região Amazônica, o governo determinou que o Batalhão de Engenharia e Construção - 9º BEC, para construir a rodovia de Cuiabá (MT) a Santarém (PA). A construção desse trecho da BR 163 durou cinco anos.

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O Estado assume o papel de agente financeiro da política para o desenvolvimento da Amazônia com a criação de dois órgãos em 1966, a Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia - SUDAM e o Banco da Amazônia – BASA o Estado. A SUDAM tinha como finalidade de promover o desenvolvimento da região amazônica, criando incentivos fiscais e financeiros especiais para atrair investidores privados, nacionais e internacionais.

Dessa forma, Picoli (2006, p. 47) destaca que,

Através das facilidades oferecidas pela ditadura, empresas nacionais e transnacionais instalaram-se nessa região, inclusive obtendo recursos financeiros para estruturação. Várias empresas usufruíram dos recursos promovidos por mecanismos de incentivos fiscais, trazendo pouco retorno para a nação e quase nenhum para a região Amazônica. Alguns nasceram apenas com a finalidade de especulação imobiliária da terra.

Outro órgão criado em 1974 foi o Programas de Polos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia – POLOAMAZÔNIA, com objetivo de estabelecer áreas no espaço amazônico, para a exploração pecuária, agrícola, florestal e mineral. Assim, esse Programa favoreceu grandes grupos econômicos nacionais e internacionais e as colonizadoras privadas.

O Estatuto da Terra formulado em 1964, já falava em colonização oficial e particular, porém foi a partir de 1974 que a colonização particular foi estimulada, articulando os interesses da empresa privado e do Estado, segundo Schaefer (1985, p. 50), essa era “a nova maneira de promover o aproveitamento econômico da terra com base na empresa privada de colonização”.

Conforme estabelecia o Estatuto em seu capítulo II, Seção III, Art. 63 (1964, p. 37), quanto da organização da colonização que,

Para atender aos objetivos da presente Lei e garantir as melhores condições de fixação do homem à terra e seu progresso social e econômico, os programas de colonização serão elaborados prevendo-se os agrupamentos de lotes em núcleos de colonização, e destes em distritos, e a associação dos parceleiros em cooperativas.

De acordo com o Estatuto da Terra (1964, p.19), a empresa rural é “o empreendimento de pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que explore econômica e racionalmente imóvel rural, dentro da condição de rendimento econômico”. Dessa forma, iniciaram-se os programas de estímulo à colonização para o Centro-Oeste e o Norte do país, notadamente no estado do Mato Grosso.

Nesse sentido, o Estatuto da Terra segundo Martins (1995, p. 96), foi uma espécie de reforma agrária via colonização sem risco e desmobilizou os camponeses em sua luta pela

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posse da terra, ou seja, impediu que a questão agrária se transformasse em uma questão nacional e de classe.

Martins (1995, p. 96), destaca que “o Estatuto estabelece como ponto de essencial da redefinição fundiária a colonização de novas áreas, mediante remoção e assentamento de lavradores desalojados pela concentração da propriedade ou removidos de áreas de tensão”.

Ao nos referirmos sobre a fronteira agrícola no país, estamos nos referindo à expansão do capitalismo no campo e, ao mesmo tempo, à recriação capitalista nas áreas de fronteira agrícola. Nesse processo, os movimentos migratórios tornam-se as expressões evidentes. Assim, para Martins (1995, p. 130), essa migração não é um simples ato acidental na vida das pessoas, mas um processo de acomodação do capitalismo agrário.

Portanto, o papel do Estado no processo da expansão da fronteira capitalista foi atuante com a construção de grandes rodovias para o Norte e Centro-Oeste, pelaconcessão de crédito rural, incentivos fiscais, subsídios, do controle de preços, da pesquisa e extensão rural.

3. A COLONIZAÇÃO NO VIÉS DE UMA CONTRARREFORMA AGRÁRIA

O “excedente” populacional que se deslocou para o Mato Grosso expulso pela estrutura fundiária concentradora e por uma política oficial pela opção ao grande capital tornou-se uma fronteira aberta pela grande quantidade de terras disponíveis.

A migração para o norte do Estado de Mato Grosso durante as décadas de 1970 e 1980 ocorreu por meio de projetos de colonização, tinha a conotação para a sociedade brasileira que governo federal estava realizando uma espécie de reforma agrária no país.

Na verdade, o modelo de colonização implementada pelo Estado era a reforma agrária capitalista, ou seja, “a política de colonização oficial e particular, conforme ela foi formulada e posta em prática nesses anos, teve a conotação de uma contrarreforma agrária”, conforme destaca Ianni (1979, p. 44).

Nota-se que os problemas agrários no Brasil ao invés se serem resolvidos no próprio local, são transferidos para outras regiões, como forma de amenizar os entraves para uma condição justa pela posse da terra.

O que está por trás das empresas colonizadoras é a grande quantidade de terras que eram concedidas pelo governo federal para implementar os projetos. A SUDAM cadastrava áreas de até 500 mil hectares para as colonizadoras. De acordo com Barrozo (1982, p. 28) como exemplo, o norte de Mato Grosso teve 213 projetos agropecuários aprovados até 1981 com incentivos fiscais.

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Podemos destacar três tipos de colonização da terra ocorridas a partir de 1964 para o norte do Estado de Mato Grosso: a colonização oficial ou dirigida, a colonização particular e a ocupação espontânea.

A colonização espontânea sempre ocorreu livremente e de forma desordenada. No entanto, conforme ressalta Schaefer (1985, p. 47), essa migração não é de fato “espontânea”, pois há motivos que forçaram os migrantes a deslocar-se, embora eles não saibam explicar os reais motivos.

Com relação à colonização espontânea, em que os camponeses ocupam a terra sem nenhuma coordenação oficial ou privada, é comum ocorrer conflitos pela posse da terra, cujos migrantes são considerados invasores por grupos de grileiros e pistoleiros, geralmente ancorados por latifundiários na disputa por terras devolutas6.

Em Mato Grosso esse tipo de conflito provocou muitas mortes e falsificações de documentos, tendo em vista que segundo Schaefer (1985, p. 48) “o Estado de Mato Grosso já foi vendido nos cartórios pelo menos duas vezes e 40% de sua área já está nas mãos de fazendeiros paulistas, que mantêm as terras para futuras especulações com a crescente valorização das terras”.

Quanto à colonização oficial, realizada sob a responsabilidade do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA7 possibilitou a implantação de projetos que contavam com a definição do plano definido do espaço para as áreas destinadas aos lotes para os parceleiros, a equiparação com certa infraestrutura (estradas, educação, saúde, habitação) e finalmente o crédito e a comercialização da produção.

De acordo com Cunha (2006), a consequência da colonização acelerada “ocorreu a multiplicação de diversos novos municípios nas áreas de fronteira, como é o caso do norte de Mato Grosso, os quais sofrem até hoje com a ausência de infraestrutura e serviços”.

A execução dos projetos do INCRA diferenciou-se um dos outros de acordo com as formas de ação em cada um. Podemos destacar alguns conforme pontua Oliveira (1987, p. 93-94): Projeto Integrado de Colonização - PIC, quando o INCRA assumia a responsabilidade da organização do território, administração e infraestrutura física; Projeto de Assentamento - PA utilizava a infraestrutura existente para propiciar uma rápida integração na região; Projeto de Assentamento Rápido - PAR, quando o INCRA assumia somente a demarcação e a titulação

6 De acordo com nosso entendimento, terras devolutas são aqueles pertencentes ao poder público. 7

Criado em 1970 com a função de realizar a reforma agrária, manter o cadastro nacional de imóveis rurais e administrar as terras públicas da União. Atualmente tem como objetivo a implantação de projetos compatíveis com as potencialidades e biomas de cada região, a integração espacial dos projetos e o desenvolvimento sustentável dos assentamentos existentes no país.

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das terras; e projeto de ação conjunta - PAC, quando o INCRA e uma cooperativa agiam juntos, em que o INCRA cuidava da implantação da infraestrutura e da titulação das parcelas e a cooperativa se responsabilizava pela administração e manutenção do projeto.

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Quanto à colonização particular, a partir das décadas de 1970 e 1980 dirigidas à fronteira da Amazônica mato-grossense foram incentivadas pelo governo, como se constata com Oliveira (1987, p. 144):

O estado de Mato Grosso ocupou posição privilegiada nesse processo, pois foi contemplado com recursos de todos esses programas governamentais. Por isso, constituiu-se em área preferencial para a implantação de projetos de colonização privada do país. Calcula-se que mais de 90% dos projetos particulares de colonização estão no estado.

A formação de cidades, conforme denomina Picoli (2006, p. 70), “cidades fabricadas na Amazônia. [...] para que os agropecuaristas e as empresas de extrativismo no norte mato-grossense pudessem se expandir e reproduzir capitais”. Com isso, ocorreu um novo redimensionamento geográfico, demográfico e administrativo no estado de Mato Grosso.

Verifica-se que com o surgimento de cidades a existência uma inter-relação entre o espaço rural e espaço urbano, caracterizada por cidades que giram em torno das atividades ligadas a agropecuária circundante.

Assim, o Estado de Mato Grosso exerceu um papel importante no processo de redistribuição espacial da população brasileira, representou a possibilidade para milhares de brasileiros de sonhar com uma vida melhor e ao mesmo tempo converteu em uma alternativa de grandes possibilidades econômicas para outros.

Portanto, a compreensão do papel do colonizador é um processo que passa pelo ideário de desenvolvimento e dinamização regional do espaço regional como estratégia de consolidação e reprodução do capitalismo no Brasil.

4. A CONFIGURAÇÃO DA DINÂMICA TERRITORIAL

Sabe-se que s políticas públicas no Brasil a partir dos anos de 1990, estiveram pautadas nas orientações neoliberais representadas pelos organismos internacionais como o PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial. A questão territorial passou a ser reconhecido como componente estratégico das políticas públicas para atender o desenvolvimento rural pautado nos objetivos de cunho neoliberal.

Nesse contexto, no final dos anos de 1990a política de desenvolvimento territorial vai estar imbuída nas políticas públicas do governo federal com objetivo de minimizar a pobreza rural e as desigualdades sociais e regionais.

Nesse intuito que em 2003 o Governo Federal criou o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais – PRONAT, conhecidos como Territórios

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Rurais de Identidade por meio da Secretaria de Desenvolvimento Territorial – SDT vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA. A adoção de políticas públicas voltadas para o meio rural, Grando (2014) explica que passaram a “considerar o território como a unidade de gestão, e a coesão territorial e a identidade como elementos centrais”.

O PRONAT passou a funcionar regulamentado por portarias a partir de 2005 e deu suporte legal para a criação dos Territórios da Cidadania8 em 2008, por apresentar os critérios estipulados pelo MDA9 por possuírem uma identidade social econômica e cultural.

Dessa forma, Delgado e Leite (2011) explicam que,

Durante o processo de identificação dos territórios rurais, o governo entendeu que alguns territórios apresentavam-se economicamente mais fragilizados que outros e, com isso, necessitavam de uma atenção emergencial com ações ainda mais articuladas. A partir dessa percepção surge o Programa Territórios da Cidadania, lançado em 2008, que tem o mesmo referencial conceitual dos territórios rurais sendo amparado também pela mesma portaria, mas com uma gestão bem mais complexa. Resumidamente, foi do conjunto de territórios rurais que o governo, em geral, selecionou os territórios da cidadania.

Assim, os Territórios da Cidadania apresentaram características especiais e emergenciais para direcionar políticas públicas pautada na descentralização e gestão social por atores do meio local.

Quanto à gestão, os Territórios Rurais apresentavam uma forma mais centralizada na SDT/MDA, vinculando os diferentes colegiados territoriais ao Ministério, enquanto na gestão dos Territórios da Cidadania se estabelecia conforme pontua Delgado e Leite (2011) em “um tripé: Comitê Gestor Nacional, Comitês de Articulação Estadual e os Colegiados Estaduais”.

O conceito de território para Secretaria de Desenvolvimento Territorial conforme MDA (2005; p. 16), define como:

[...] um espaço físico, geograficamente definido, não necessariamente contínuo, caracterizado por critérios multidimensionais, tais como o ambiente, a economia, sociedade, a cultura, a política e as instituições, e uma população, com grupos sociais relativamente distintos, que se relacionam interna e externamente por meio de processos específicos, onde se pode distinguir um ou mais elementos que indicam identidade ecoesão social, cultural e territorial.

De acordo com esse conceito podemos analisar que se propõe um desenvolvimento local que atue no espaço rural delimitado por um território, que pode ser o município, uma comunidade de diferentes etnias, uma microrregião, ou um assentamento rural, estando ligados principalmente por uma identidade territorial.

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Os Territórios da Cidadania fazem parte de uma política de desenvolvimento territorial rural criada em 2008, pelo então presidente Lula, em que se considera que as comunidades devem explorar características e potencialidades próprias, na busca da especialização de atividades que lhes tragam vantagens comparativas, de natureza econômica, social, política e tecnológica, numa relação harmoniosa com a natureza e tendo a agricultura familiar como objeto principal.

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Com o governo de Michel Temer a partir de 2016, o Ministério de Desenvolvimento Agrário foi vinculado ao Ministério de Desenvolvimento Social – MDS.

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A abordagem territorial do desenvolvimento rural coloca ênfase nos laços diretos e localizados entre atores sociais, na mediada em que se construírem um novo modelo de desenvolvimento baseado em valores humanistas e identidários o espaço rural como uma oportunidade de interação.

A missão da Secretaria de Desenvolvimento Territorial – SDT consiste em promover a política de desenvolvimento do Brasil rural, a democratização do acesso a terra, a gestão territorial da estrutura fundiária, a inclusão produtiva, a ampliação de renda da agricultura familiar e a paz no campo, contribuindo com a soberania alimentar, o desenvolvimento econômico, social e ambiental do país.

De acordo com Abravomey (2003, p. 84),

Uma vez iniciada a formação de uma rede nacional que reúne extensionistas, movimentos sociais e inteligência universitária na formação dos conselhos de desenvolvimento rural, é urgente que se caminhe para mudar o formato atual que não tem estimulado que os conselhos preencham as funções para as quais foram concebidos e criados.

No entanto, o discurso nas políticas públicas de desenvolvimento rural se pauta conforme destaca Montenegro Gómez (2006, p. 73):

Diversificação produtiva, pluriatividade, transformação do pequeno produtor em empresário rural, capacitando-o para contribuir melhor com a acumulação do capital, implementação de políticas de desenvolvimento baseadas em mecanismos de mercado, busca de consensos entre classes sociais, participação popular e substituição de enfoques setoriais por outros territoriais.

Essa preocupação de elaborar estratégias para o desenvolvimento rural mediante políticas públicas com enfoque de caráter territorial aponta para, a construção de alianças com todos os agentes públicos e privados interessados no desenvolvimento como forma de manter os interesses do capital, apesar de conter pontos positivos tem no seu objetivo principal a manutenção da ordem e amenizar conflitos sociais.

4.1 O Território Portal da Amazônia

Localizado no extremo norte do Estado de Mato Grosso, composto pordezessete municípios: Alta Floresta, Apiacás, Carlinda, Colíder, Guarantã do Norte, Itaúba, Matupá, Nova Bandeirante, Nova Canaã do Norte, Nova Guarita, Nova Monte Verde, Nova Santa Helena, Novo Mundo, Paranaíta, Peixoto de Azevedo, Terra Nova do Norte e Marcelândia.

Convém pontuar Grando (2014, p. 132) com relação a esses municípios que,

O povoamento da Amazônia Legal também é a história do povoamento do território Portal da Amazônia. Embora seus municípios tenham sido criados mais recentemente (a maioria dos municípios tem a data da sua criação a partir de 1980), a maioria deles teve sua formação ligada a empresas colonizadoras privadas e a programas de assentamentos do INCRA.

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Alguns projetos de colonização no Território Portal da Amazônia a seguir:

Quadro 01 – Projetos de colonização no Território Portal da Amazônia

Município Empresa ou órgão Implantação

Alta Floresta Colonizadora INDECO 1976

Apiacás Colonizadora INDECO 1982

Carlinda INCRA e Coop. Agrícola de Cotia 1981

Colíder Colonizadora Líder 1973

Guarantã do Norte Coop. Tritícola de Erechim e INCRA 1981

Marcelândia Colonizadora Maiká 1977

Matupá Agropecuária Cachimbo 1984

Nova Bandeirantes Colonizadora Bandeirantes 1982

Nova Canaã do Norte Colonizadora Líder 1976

Nova Guarita INCRA e Coopercana 1978

Nova Monte Verde Colonizadora Monte Verde 1984

Nova Santa Helena Colonos espontâneos 1976

Novo Mundo Assentamento pelo INCRA 1981

Paranaíta Colonizadora INDECO 1979

Peixoto de Azevedo INCRA e Coopercava 1980

Terra Nova do Norte INCRA e Coopercana 1978

Itaúba Irmãos Bedin e colonos espontâneos 1973

Fonte: Elaboração própria com base em FERREIRA, João Carlos Vicente. Mato Grosso e seus municípios. Cuiabá: Secretaria de Estado de Educação, 1997 e OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Amazônia: monopólio, expropriação e conflitos. Campinas: Papirus, 1987, p.109-110.

De acordo com o Quadro 01, percebe-se o surgimento de novos municípios no Estado de Mato Grosso com esse processo acelerado de ocupação, como também o redimensionamento de sua estrutura produtiva e demográfica10.

Sendo uma região localizada nos limites iniciais da floresta amazônica, em que os municípios do território têm sua origem em projetos de colonização privados ou projetos de assentamentos para a reforma agrária, conforme pontua Olival, Spexoto e Rodrigues (2006):

Trata-se de uma área com colonização a partir da década de 70 e que está compreendida dentro do chamado “arco do desmatamento da floresta amazônica”; um ponto de pressão onde se chocam áreas de preservação natural e o avanço da produção rural.

Sendo uma região localizada nos limites iniciais da floresta amazônica, em que os municípios do território têm sua origem em projetos de colonização privados ou projetos de assentamentos para a reforma agrária, conforme pontua Olival, Spexoto e Rodrigues (2006):

Trata-se de uma área com colonização a partir da década de 70 e que está compreendida dentro do chamado “arco do desmatamento da floresta amazônica”; um ponto de pressão onde se chocam áreas de preservação natural e o avanço da produção rural.

10 De acordo com Oliveira (1987, p. 158-159), até o ano de 1970, o Estado de Mato Grosso tinha trinta e quatro

municípios. Em 1980, saltou para oitenta e dois municípios e atualmente em 2008, conforme dados do IBGE, Mato Grosso apresenta cento e quarenta e um município.

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Os municípios que se destacam no Portal da Amazônia nas atividades econômicas, notadamente as ligadas à agropecuária são Alta Floresta, Guarantã do Norte e Colíder.

Cunha (2006) conclui que,

Diante disto, pode-se observar que os anos 80 caracterizaram-se pela realização destes projetos de colonização, baseados em assentamentos de famílias em pequenas propriedades e executados por empresas públicas e privadas. Porém, estes projetos acabaram limitados e tiveram suas chances de sucesso reduzidas por diversos elementos, tais como: características qualitativas da terra; dificuldade de acesso ao crédito por parte dos pequenos agricultores; e condições de isolamento da maioria das áreas colonizadas (em particular no caso do norte de Mato Grosso).

Cerca de 90% dos migrantes que se dirigiram para os atuais municípios do Portal da Amazônia eram agricultores e vinham com suas famílias e demais parentescos para trabalhar na terra.

5. OS PEQUENOS AGRICULTORES NO PORTAL DA AMAZÔNIA

Denota-se que a migração desarticula o modo da família viver e muitas vezes ocorrem à reprodução de vida dos pequenos agricultores em condições de carência e pobreza no local em que viviam.

Dessa forma, Oliveira (1997, p. 143) afirma que,

A abertura das novas frentes de ocupação na Amazônia sempre trouxe consigo esse caráter contraditório da formação da estrutura fundiária brasileira no seio da lógica do desenvolvimento capitalista. Assim, o processo que leva os grandes capitalistas a investirem na fronteira contém o seu contrário, a necessária abertura dessa fronteira aos camponeses e demais trabalhadores do campo.

A vinda dos migrantes para o norte de Mato Grosso em deslocamentos espontâneos ou por colonização oficial e particular em sua maioria era proveniente de áreas agrícolas no Sul e Sudeste, tinham o objetivo de plantar lavouras temporárias e permanentes.

Para Alta Floresta, Colíder e região o que se propagou pelas colonizadoras foi o cultivo da lavoura cafeeira. Sabe-se que o solo e clima amazônico não eram propícios para o café e o que se viu foi logo a grande decepção dos migrantes agricultores.

O modelo pioneiro de exploração na propriedade foi para o plantio de culturas temporárias como o arroz, o milho e o feijão. Dessa maneira, essas culturas foram a sustentação do migrante nos primeiros anos de abertura e desmatamento.

Em um processo contraditório, ao mesmo tempo em que houve uma significativa vinda de migrantes para os projetos de colonização, também houve a saída de muitos. Como foi o caso em Terra Nova do Norte, que recebeu uma segunda leva de migrantes, os chamados colonos compradores que vinham do Sul mediante o rumor de notícias que o governo federal estava vendendo lotes a preços irrisórios.

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V. 5, N. 2 (2016) 101 Os projetos de assentamentos eram redigidos no papel como um projeto que garantia todo o apoio e a assistência às famílias que se dirigiram para as novas fronteiras. Porém, na prática o que se viu foi o total descaso e abandono aos camponeses, que sem êxito, a maioria acabou vendendo suas terras aos grandes fazendeiros do Sudeste e Sul do país.

Dessa maneira, os colonos compradores eram pequenos proprietários no Sul e com venda de suas terras resgataram os títulos de propriedade dos colonos parceleiros a preços baixos e ainda sobrava algum dinheiro para investir na produção.

No entanto, muitos migrantes não retornaram porque não tinham mais opção e encarar as adversidades tornou-se a única opção possível.

Para pior a vida do camponês transformado em migrante, colono, pequeno proprietário, enfim, muitos por meio da empresa ou cooperativa colonizadora contraíram dívidas bancárias para a compra do lote, para o desmatamento e para plantar. A produção não sobrava para quitar as dívidas e a perda com produção era grande em virtude das péssimas condições das estradas, que inclusive durante a época das chuvas ficavam intransitáveis.

Convêm destacar que, a política agrícola na década de 1970 esteve vinculada a expansão de crédito rural subsidiado e a facilidade para financiar a agricultura. No entanto, as taxas de juros internacionais aumentam com a segunda crise do petróleo em 1979 e internamente desencadeia a elevação da inflação.

Dessa forma, os créditos agrícolas em fins dos anos de 1970 sofreram profundos corte, principalmente aos pequenos e médios, conforme menciona Brum (2005, p. 38-39),

A partir do início da década de 1980, no contexto da crise econômica do país, a agricultura passou a ser fortemente atingida em decorrência da falta de recursos públicos. Ocorreu a retirada dos subsídios oficias, escassez de crédito agrícola, endividamento excessivo dos produtores e suas cooperativas, além de frustrações.

Alguns municípios se especializaram na exploração madeireira como Marcelândia e Itaúba, com o surgimento de serrarias e beneficiamento da madeira. O colono camponês na maioria dos casos vendia a propriedade, comprava uma casa na cidade e juntamente com a família foram trabalhar nas serrarias.

A partir do início da década de 1980, foi descoberto ouro no rio Peixoto de Azevedo e logo formou um aglomerado de garimpeiros vindos do Pará, estados do Nordeste e contagiou os pequenos camponeses vizinhos da região, em que muitos abandonaram a terra e passou a dedicar-se na atividade garimpeira, como foi o caso em Terra Nova do Norte, Nova Guarita, Mundo Novo, Matupá, Guarantã do Norte e Peixoto de Azevedo.

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corrida dos camponeses a extração do ouro, chegando ao ponto da colonizadora adotar medidas restritivas a garimpagem, utilizando de extrema violência e truculência. Justificando que os garimpeiros colorariam em risco o modelo de colonização implementado.

Diante as dificuldades na produção, falta de apoio do poder público em todas as esferas, as condições precárias de estradas, de saúde, de educação entre outras cerca de 50% no geral dos projetos de colonização os camponeses desistiram da terra. Alguns venderam e retornaram ao lugar de origem, outros foram para outros lugares e muitos foram para as cidades vizinhas.

Dessa forma, já tendo a presença de grandes propriedades instaladas na região, tem-se ainda uma reconcentração da terra pelo próprio sistema de colonização. Para constatar a presença de grandes propriedades na região do Portal do Amazonas existem atualmente três frigoríficos, em Alta Floresta, Nova Canaã do Norte e Matupá.

De acordo com os dados sobre a estrutura agrária no Portal da Amazônia, o Conselho Executivo de Ações da Agricultura Familiar (2010, p. 21) afirmam que,

Demonstram um cenário de profundo processo de concentração de terras na região. Considerando o recorte de 200 hectares, que poderia incluir grande parte dos agricultores familiares do Portal, verifica-se que a maioria dos municípios do território possui mais de 80% dos estabelecimentos enquadrados nesta categoria. Entretanto, estas propriedades ocupam menos de 15% da área do total dos estabelecimentos.

No entanto, é também no Portal da Amazônia um território onde há forte predomínio da agricultura familiar em que segundo dados do Conselho Executivo de Ações da Agricultura Familiar (2010, p. 25), “responde por mais de 84% dos estabelecimentos rurais do Portal da Amazônia e respondem também por mais de 70% dos trabalhadores ocupados no campo”.

Conforme apontou Olival, Spexoto e Rodrigues (2006),atualmente pode-se dizer que cerca de 80% das atividades agropecuárias são de pastagens, destacando que para os agricultores familiares cerca de mais de 80% desenvolvem a pecuária leiteira.

O processamento do leite é realizado em cinco laticínios existentes nos municípios no Portal da Amazônia, que são Alta Floresta, Nova Canaã do Norte, Colíder, Guarantã do Norte e Terra Nova do Norte.

Para compreender esse migrante camponês, condicionado a colono e hoje transformado em agricultor familiar carrega consigo toda uma luta pela permanência na terra, que pode ser resumido em relação aos aspectos econômicos pelo Conselho Executivo de Ações da Agricultura Familiar (2010, p. 26):

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V. 5, N. 2 (2016) 103 O Portal da Amazônia é um território no qual as atividades agrícolas desempenham papel econômico relevante, em especial a pecuária de leite e a produção de lavouras temporárias. A agricultura familiar ocupa neste cenário um espaço importante: representa grande parte dos estabelecimentos e é grande atividade empregadora da região. Entretanto, alguns importantes limitantes ainda precisam ser superados: a concentração de terras, a baixa renda do agricultor familiar devido principalmente pelos produtos de baixo valor agregado e os graves impactos ambientais ocasionados pelo avanço da fronteira agrícola são alguns exemplos que devem ser considerados.

Porém, concordamos com Oliveira (1997, p. 49) com referência a condição dos pequenos agricultores, em que “a apropriação camponesa da terra é fruto das contradições e da lógica do capital, o que vale dizer, o camponês é fruto da história atual do capitalismo no país”.

Com relação aos camponeses entrevistados que residem atualmente no Portal da Amazônia há várias opiniões: uns dizem que houve um projeto sólido de colonização, mas que não deu certo porque os colonos não tinham aptidão agrícola.

Em lugares que havia a cooperativa como colonizadora disseram que a mesma desempenhou um papel de uma colonizadora privada como um órgão ineficiente e de domínio; existem aqueles que defendem a cooperativa e afirmam que foi o governo federal que não deu condições suficientes para a colonização ser bem sucedida.

Algumas reflexões quanto o que deu certo e o que deu de errado nos projetos de colonização, alguns camponeses entrevistados disseram que o modelo do projeto era bom e sólido, era uma espécie de reforma agrária. Para aqueles camponeses que julgavam que não deu os projetos de colonização, afirmaram que faltou ação do governo em segurar o colono na terra e também os colonos não souberam compreender o projeto.

Para os colonos que ficaram na terra, eles dizem que foi uma lição de vida, pois conforme afirmou um camponês: “Foi uma aventura que deu errado, mas pensando em acertar”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Verifica-se que a região da Amazônia mato-grossense por promoveu a expansão de grandes propriedades e acumulação do investimento na compra de terras, ao mesmo tempo gerou no âmbito da colonização a formação de pequenos trabalhadores rurais ora na condição de proletários ora na pequena produção familiar.

Pretendeu-se neste estudo entender o pequeno agricultor no Território Portal da Amazônia inerente ao momento histórico dos processos de colonização, em que representou no primeiro impacto para os migrantes uma fronteira de esperança, depois a árdua realidade

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na região com as dificuldades enfrentadas, apresentada atualmente um novo enfoque para a agricultura familiar, porém sem alterar a estrutura fundiária.

Embora ainda parcial sobre o estudo do Território Portal da Amazônia observa-se que as políticas públicas pautadas no desenvolvimento territorial rural se constituem desenvolvimento local e o ajustamento do camponês na reprodução social como agricultores familiares com políticas para compensar o crescimento e concentração do lucro das grandes propriedades rurais..

Portanto, a criação dos Territórios da Cidadania tem como objetivo principal superar a pobreza no Brasil, de forma conjunta as políticas públicas para impulsionar o desenvolvimento dessas comunidades em que estão inseridas.

A pesquisa, na medida em que permitiu entender que a colonização implementada na região e o ordenamento territorial do Portal da Amazônia, constatou-se que as políticas públicas implementadas não garantem a e o modelo de uma reforma agrária conservadora realizada reproduz a condição de um pequeno agricultor empobrecido e dependente de medidas compensatóriassuperar a pobreza.

REFERÊNCIAS

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