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LUANA CRISTINA PEREIRA ROCHA

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LUANA CRISTINA PEREIRA ROCHA

AVALIAÇÃO DE RISCOS EM REÚSO DE ÁGUA

Bauru 2013

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LUANA CRISTINA PEREIRA ROCHA

AVALIAÇÃO DE RISCOS EM REÚSO DE ÁGUA

Trabalho apresentado à disciplina de Reúso das Águas do Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Área de concentração Saneamento.

Prof. Dr. Eduardo Luiz de Oliveira

Bauru 2013

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Índice de Figuras

Figura 1: Diagrama de Venn triplo, caracterizando os componentes do risco. ... 4 Figura 2: Representação esquemática dos processos de transporte ambiental para liberação líquida. ... 10 Figura 3: relação dose resposta para diferentes tipos de efeitos toxicológicos. ... 14

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Sumário

1 INTRODUÇÃO... 1

2 OBJETIVOS... 2

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA... 3

3.1 AVALIAÇÃO DE RISCOS EM REÚSO DE ÁGUA... 3

3.1.1 Aspectos Conceituais ... 3

3.1.1.1 Riscos ... 3

3.1.1.2 Avaliação de riscos... 4

3.1.1.3 Classificação de riscos... 4

3.1.1.4 Comunicação de riscos ... 5

3.1.2 Metodologias de avaliação de riscos para a saúde humana ... 6

3.1.2.1 Avaliação de risco ambiental... 6

Identificação do perigo... 8

Avaliação da exposição... 9

Avaliação dose-resposta... 12

Quantificação do risco ... 15

3.1.3 Incertezas na avaliação de riscos ambientais ... 17

3.1.4 Gerenciamento dos riscos... 19

4 CONCLUSÃO ... 20

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1 INTRODUÇÃO

A água é um bem cada vez mais precioso e mais demandado, seja em aglomerados urbanos, áreas industriais ou agricultura. Além da quantidade, os demandantes requerem água em qualidade compatível ao uso.

Por outro lado, corpos hídricos estão cada vez mais poluídos e deteriorados, seja pela falta de controle e investimentos na coleta, tratamento e disposição de esgotos e de resíduos sólidos, seja pela falta de consciência ambiental de usuários industriais que lançam efluentes com carga poluidora em corpos hídricos. Além da poluição hídrica que afeta a qualidade da água, novos mananciais, necessários para suprir essas demandas encontram-se cada vez mais distantes dos centros consumidores.

Uma das alternativas que se tem apontado para o enfrentamento do problema é o reúso da água, importante instrumento de gestão ambiental do recurso água e detentor de tecnologias já consagradas para sua adequada utilização (Nardocci, 2003).

O ponto de partida de qualquer projeto de reúso de água, independente do ponto de aplicação, é a consideração de aspectos relacionados à saúde dos usuários e a preservação do ambiente, fazendo com que a avaliação e o gerenciamento de riscos sejam um dos principais desafios para o reúso de água.

O objetivo da avaliação de riscos é assistir aos tomadores e decisões com critérios e processos, os mais claros e precisos possíveis. Tais características são fundamentais para a elaboração de políticas de gerenciamento social dos riscos (Nardocci, 2003).

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2 OBJETIVOS

Este trabalho tem como objetivo principal apresentar uma revisão bibliográfica sobre a avaliação de riscos em relação ao reúso da água: conceitos, metodologias e gerenciamento.

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3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Avaliação de riscos em reúso de água

3.1.1 Aspectos Conceituais 3.1.1.1 Riscos

A palavra risco faz parte do nosso cotidiano e a empregamos de diversas formas e sentidos, sendo o sentido predominante o de representar uma certa chance de algo acontecer. Não é difícil intuir que “a chance de algo acontecer” está relacionada com um certo efeito observável sobre um bem que se quer proteger, podendo ser esse bem o homem, uma espécie vegetal ou animal, ou ainda propriedades e equipamentos (CETESB, 2013).

De acordo com a definição da United States Environmental Protection Agency (EPA), risco ambiental é “a possibilidade de que a saúde humana ou o ambiente sofram danos em resultado da presença de perigos ambientais” (EPA, 2009); e, acrescenta uma outra definição, esses riscos ambientais podem ser “produzidos pelo homem ou derivados de causas naturais”. Os riscos ambientais ligam-se, assim, de forma direta, à saúde ambiental, entendida como “o aspecto da saúde pública que se preocupa com todos os fatores, circunstâncias e condições no ambiente ou proximidades dos seres humanos que podem exercer uma influência na sua saúde e bem-estar”.

Para a caracterização de um risco é necessária a existência simultânea de dois elementos uma fonte (perigo) e um sujeito. A existência isolada de apenas um desses fatores não torna possível caracterizar um risco (Nardocci, 2003).

Considerando o Diagrama de Venn triplo (Figura 1), um perigo somente pode causar dano se existir um receptor, e, necessariamente, existir uma via de exposição que ligue efetivamente tal perigo ao receptor ou sujeito.

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Figura 1: Diagrama de Venn triplo, caracterizando os componentes do Risco.

(Fonte: Berrêdo Viana, 2010).

A partir desta concepção de risco, como um tripé, se um de seus componentes for eliminado, o risco em si será nulo.

Os sujeitos de interesse em uma avaliação de risco são o ser humano e/ou qualquer outro elemento de um ecossistema do qual o homem evidentemente faz parte, separando-se assim apenas por razões didáticas (Nardocci, 2003).

As fontes de risco são diversas, variando desde um simples objeto, uma ação, atividade, mudanças ambientais globais ou o próprio estilo de vida das pessoas.

3.1.1.2 Avaliação de riscos

A avaliação de riscos pode ser entendida como um conjunto de metodologias que calculam e avaliam a probabilidade de um efeito adverso ser provocado por um agente (químico, físico ou biológico), ou por um processo industrial, ou por uma tecnologia ou processo natural, que possa prejudicar a saúde humana ou o ambiente (Nardocci, 2003).

De acordo com a Agência de Proteção Ambiental Americana (Environmental Protection Agency - US EPA), a Avaliação de Risco é definida como um processo qualitativo e quantitativo conduzido para descrever os potenciais efeitos adversos à saúde pública decorrentes da exposição a substâncias perigosas.

Essencialmente a definição de efeito adverso é um julgamento de valor, podendo se constituir de mortes, doenças, diminuição da qualidade de vida, prejuízos econômicos, danos ambientais e outros.

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Os riscos podem ser divididos em riscos objetivos e riscos subjetivos, sendo os primeiros estimados com base em cálculos estatísticos e metodologias quantitativas, enquanto os riscos subjetivos são aqueles avaliados com base em julgamentos intuitivos (Nardocci, 2003).

Entre os riscos objetivos encontramos uma grande quantidade de designações tais como: riscos para a saúde humana, riscos ambientais, tecnológicos, epidemiológicos, industriais, acidentais, ecológicos, nucleares, etc (Nardocci, 2003).

Considerando as metodologias de avaliação quantitativa de riscos existentes, Nardocci classifica os riscos para a saúde humana em:

• Riscos tecnológicos: decorrentes de eventos acidentais não naturais e caracterizados essencialmente por efeitos imediatos (mortes ou efeitos irreversíveis à saúde humana);

• Riscos ambientais: causados por fatores ou mudanças ambientais induzidas por atividades antropogênicas e associados a efeitos crônicos.

Segundo o Ministério da Saúde, o risco ambiental é definido mediante o surgimento de uma lesão, doença, morte ou outra consequência, como resultado da exposição humana a um fator ambiental perigoso.

• Riscos naturais: causados por fenômenos naturais como enchentes, terremotos, vulcões, etc., podendo estar associados a efeitos imediatos ou de longo prazo.

Existem ainda os riscos ecológicos que procuram avaliar os efeitos adversos não para a saúde humana, mas para outros elementos do ecossistema.

A avaliação dos riscos subjetivos procura conhecer como a percepção e os julgamentos individuais ou sociais influenciam e/ou determinam as escolhas relacionadas a risco e à sua aceitabilidade social. Os estudos de riscos subjetivos incluem: os estudos de percepção de risco também chamados de estudos psicométricos de risco; as teorias sociais; a teoria cultural do risco; e os estudos de amplificação social dos riscos.

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Foram essencialmente os riscos ambientais tecnológicos das sociedades contemporâneas que fizeram surgir a necessidade de uma “comunicação de risco”, utilizada como ferramenta para resolução de conflitos entre especialistas e o público, e tem se consolidado como ferramenta indispensável, ao ajudar os cidadãos a participarem mais bem informados das decisões que podem afetar sua vida e saúde.

3.1.2 Metodologias de avaliação de riscos para a saúde humana

As metodologias de avaliação de riscos tecnológicos e ambientais têm enfoques distintos. A avaliação de riscos tecnológicos analisa essencialmente a segurança industrial, com técnicas que visam identificar possíveis cenários acidentais, avaliar seus efeitos físicos e estimar a frequência de ocorrência desses eventos. O material de estudo compreende todas as informações técnicas e operacionais dos sistemas existentes na planta em estudo. Já a avaliação de riscos ambientais tem um enfoque epidemiológico (Nardocci, 2003).

A presença de agentes químicos e biológicos na água destinada ao reúso é a preocupação central de seus potenciais usuários. Esses agentes estão presentes, na maioria das vezes, em decorrência de contaminantes originários de usos anteriores da água, mas podem também ter sido introduzidos por fenômenos naturais (Nardocci, 2003).

A remoção de contaminantes dependerá da eficiência dos sistemas de tratamento, cuja tecnologia, por sua vez, dependerá da qualidade desejada para a água a ser produzida para reúso (Nardocci, 2003).

3.1.2.1 Avaliação de risco ambiental

Entende-se como os riscos associados aos fatores ou agentes não-endógenos, ou seja, os fatores externos ao organismo, sendo empregada especialmente na epidemiologia.

A epidemiologia é o estudo da distribuição na população humana de uma doença ou condição adversa e de fatores que influenciam na sua distribuição (Ministério da Saúde, 2007).

O conceito é amplo e abrange fatores que causam doenças ou que afetam a saúde e a qualidade de vida, incluindo a exposição a produtos químicos perigosos, o estilo de vida das pessoas, o cigarro, os hábitos alimentares, a poluição ambiental e outros.

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As etapas de avaliação dos riscos ambientais são: • A identificação do perigo;

• A avaliação da exposição; • A avaliação dose-resposta; • A quantificação do risco.

A proposta de atuação pode ser resumida da seguinte maneira: “Identificação e quantificação do risco resultante do uso ou da presença de uma substância química, considerando os possíveis efeitos danosos aos indivíduos ou à sociedade por usar tal substância na quantidade e na forma proposta, levando em conta todas as rotas de exposição possíveis. Teoricamente a quantificação exige o estabelecimento de relações dose-efeito e dose-resposta nos indivíduos e populações em questão”.

Essa abordagem, ilustrada no Quadro 1, tem sido amplamente utilizada nos problemas relacionados à poluição ambiental.

Quadro 1 – Metodologias para avaliação de riscos ambientais (adaptado de Nardocci,

2003).

Método Vantagem Desvantagem

Observações clínicas Os casos são cuidadosamente

definidos Não quantificam riscos

Estudos epidemiológicos As evidências são diretas. São

métodos quantitativos.

São caros, demandam tempo

prolongado e exigem qualificação do perigo.

Difícil detecção de pequenos riscos incrementais e de caracterização da exposição.

Bioensaios, experimentos com animais.

Dispensam o envolvimento de pessoas, são relativamente baratos e as exposições são controladas.

São obtidas evidências indiretas que requerem extrapolações e limitam-se a doenças que incidem

primordialmente em animais.

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• Calcular as doses resultantes para um grupo de pessoas ou a população de forma geral, referente a um determinado agente;

• Efetuar a previsão dos riscos aos quais aquele grupo está exposto.

O Quadro 2 resume as etapas da metodologia inerente à proposta apresentada pela USEPA.

Quadro 2 – Etapas constituintes da metodologia de avaliação de risco

(Ministério da Saúde, 2007).

Identificação do perigo

É a etapa inicial de um estudo de risco e consiste na identificação do agente ou agentes envolvidos e no levantamento de suas propriedades físico-químicas e/ou toxicológicas, importantes pelos seus efeitos na saúde humana. Esta etapa subsidiará as etapas seguintes e deve ser concomitante com o levantamento dos estudos epidemiológicos e toxicológicos já realizados sobre estes mesmos agentes (Nardocci, 2003).

A identificação do perigo consiste em dispor a melhor descrição possível da periculosidade da substância. Trata-se da etapa em que se obtém e se avalia o máximo de informação válida e de qualidade sobre as propriedades tóxicas inerentes à substância, o potencial de causar danos, doença ou morte. Esse tipo de informação pode ser oriundo de

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quatro fontes distintas: estudos experimentais em animais, estudos epidemiológicos, provas de curta duração in vitro e estudos de relação entre estrutura química e atividade biológica (Ministério da Saúde, 2007).

Ainda segundo o Ministério da Saúde, a avaliação epidemiológica identifica as populações afetadas, as características da exposição e os fatores de risco envolvidos, buscando demonstrar associações estatísticas sólidas e significativas entre os níveis médios de poluentes e a frequência de eventos como adoecimento ou morte na população exposta, quer seja por períodos curtos ou longos. O tipo de desenho epidemiológico a ser usado depende da natureza do problema, do conhecimento prévio oriundo tanto de bases científicas como da situação local e dos recursos disponíveis, entre outros.

As informações obtidas na etapa de identificação do perigo têm por objetivo fundamentar as seguintes decisões:

• O agente não é perigoso e, portanto, não será necessário efetuar análises posteriores; ou

• O agente é certamente perigoso e será necessário prosseguir com as etapas seguintes; ou

• As informações existentes a respeito do agente não permitem concluir se este é ou não perigosos e mais estudos serão necessários.

Avaliação da exposição

A exposição é o contato do agente químico presente em no ambiente com os limites exteriores do organismo. A avaliação da exposição consiste em determinar os padrões de magnitude, frequência, duração e a via pela qual ocorre a exposição (Ministério da Saúde, 2007).

Segundo Nardocci, 2003, a avaliação da exposição tem por objetivo a determinação da dose recebida pelos indivíduos expostos aos agentes identificados. Essa avaliação poderá ser feita diretamente pela coleta e análises de amostras ambientais, ou mesmo diretamente na população exposta, por meio de bioensaios. Nesse último caso, é necessário que a população já tenha sido exposta ao agente.

A avaliação da exposição também pode ser efetuada pela modelagem matemática, que poderá ser usada para prever a dose para uma determinada população, antes de ela ser efetivamente exposta. Para essa abordagem é necessário o conhecimento do

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comportamento ambiental de cada agente, ou seja, quais os caminhos ambientais que esse agente pode percorrer até alcançar o ser humano. O comportamento ambiental é característico de cada agente (fonte). No caso de produtos químicos esse comportamento dependerá entre outros parâmetros, da quantidade liberada, do estado físico, da solubilidade em água, do estado de oxidação, das características do corpo receptor (que em última análise receberá o material descartado de cada particular tipo de reúso).

Esses parâmetros influenciarão os processos pelos quais sofrem estas substâncias no meio ambiente, tais como a bioacumulação, a degradação ambiental, as transformações químicas e outros. Substâncias que se degradam facilmente e não são bioacumulativas provavelmente trarão consequências menores do que compostos mais persistentes, tais como dioxinas e metais pesados.

Além disso, é necessário compreender todas as interações entre os diferentes compartimentos ambientais a fim de determinar os processos de transferência dos agentes, prevendo seu transporte ambiental.

De forma esquemática, a Figura 2 mostra os processos de transporte ambiental possíveis para um agente liberado em um corpo hídrico.

Figura 2: Representação esquemática dos processos de transporte ambiental para liberação líquida.

(Fonte: Nardocci, 2003).

Os meios de contaminação são todos os compartimentos ambientais que podem carregar os agentes e fazer que entrem em contato com seres humanos. Os principais meio de contaminação geralmente são o ar, a água, as plantas, os alimentos a e poeira.

O caminho de exposição é frequentemente entendido como o caminho que o agente percorre até alcançar um determinado meio e provocar uma exposição. Os modos de

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exposição referem-se às vias de entrada de um determinado agente no organismo. Para agentes químicos presentes no meio ambiente, os principais modos de exposição são a ingestão, a inalação e a absorção pela pele.

Para a avaliação da exposição, é necessária a identificação da população exposta. As características que mais diretamente afetam a exposição devem ser conhecidas, tais como: localização, hábitos alimentares, distribuição por faixa etária e presença de grupos sensíveis.

Para avaliar a extensão dos efeitos de uma determinada exposição para a saúde humana é necessário determinar a dose recebida. Dose é um termo familiar muito usado, especialmente na medicina, estando associado não somente a quantidade de substância ingerida, mas também a relação entre a quantidade ingerida e o peso corpóreo.

Como exemplo, vamos supor que a água consumida por um determinado grupo de pessoas apresente uma contaminação de 2 microgramas de tricloroetileno por litro (2µg/L). Para o cálculo da dose, vamos supor que a população adulta consuma 2 litros de água por dia e que crianças, em média, consumam 1 litro de água por dia. Os valores para a ingestão diária são:

• Adultos: 2L/dia * 2µg/L = 4µg/dia = 0,004mg/dia; • Crianças: 1L/dia * 2µg/L = 2µg/dia = 0,002mg/dia.

Considerando que o peso médio dos adultos seja de 80kg e que o da criança seja de 10 kg, as doses diárias serão respectivamente:

• Adultos: 0,004mg/dia/80kg = 0,00005mg/kg (b.w)/dia ; • Crianças: 0,002mg/dia/10kg = 0,0002mg/kg (b.w)/dia; Sendo b.w = body weight.

Dessa forma, embora um adulto consuma, em média, o dobro da quantidade de água consumida por uma criança, a dose recebida por uma criança é quatro vezes maior do que a dose recebida pelo adulto.

Além da dose recebida, outro parâmetro de grande importância para a quantificação do risco é a duração da exposição.

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Avaliação dose-resposta

A avaliação de dose-resposta é considerada a etapa mais importante na determinação do risco para a saúde humana, pois propicia o conhecimento dos níveis de concentração das substâncias no ambiente que possam vir a ser perigosos para as populações humanas e estabelecer níveis seguros de exposição (adaptado de Ministério da Saúde, 2007).

Essa etapa consiste na associação das doses avaliadas com os efeitos esperados para a saúde de um indivíduo ou de uma população. De forma geral, quanto maior a dose, maior será a resposta, em termos de severidade e de incidência do efeito (Nardocci, 2003).

As substâncias químicas diferem significativamente na sua capacidade de produzir efeitos adversos à saúde (sua toxicidade). As condições de exposição para as quais os efeitos tóxicos são produzidos – intensidade da dose e duração da exposição – variam significativamente entre os produtos químicos. Da mesma forma, a natureza e a gravidade dos efeitos tóxicos são altamente variáveis, não apenas para substâncias diferentes como também para uma mesma substância, mas para condições de exposição distintas (Nardocci, 2003).

Se para todo o produto químico presente no ambiente for conhecido um intervalo de doses, as quais não apresentam efeitos para a saúde humana e os níveis nos quais esses efeitos começam a aparecer, será, então, possível agir preventivamente de modo a evitar a ocorrência de exposições em níveis tais que efeitos prejudiciais à saúde humana sejam causados. Essa é, entretanto, a etapa mais difícil da avaliação de risco, pois os dados de toxicidade e dose-resposta foram avaliados apenas para uma pequena fração dos produtos químicos aos quais as pessoas estão expostas. Além disso, a quantidade e a qualidade dos dados variam muito.

As informações de dose-resposta são obtidas por meio de estudos epidemiológicos e estudos experimentais com organismos (animais), células ou parte das células. Estudos experimentais, em geral, fornecem informações quantitativas para a construção das curvas dose-resposta mais precisas, uma vez que as exposições são controladas. Os estudos epidemiológicos também podem ser capazes de identificar intervalos de exposição nos quais determinados indivíduos estiveram expostos, e assim, construir uma curva dose-resposta aproximada. Entretanto, a aquisição de dados históricos relativamente precisos é

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muito difícil, o que não significa que as curvas derivadas destes estudos não sejam úteis, mas, apenas, que suas limitações são maiores.

Dados derivados de estudos experimentais com animais apresentam as seguintes limitações importantes: extrapolação dos dados obtidos de animais para os serem humanos e extrapolação de dados obtidos de altas doses para baixas doses.

Segundo a USEPA, 1986, a extrapolação de animais para humanos é muito controversa. A proposição de que os resultados de toxicidade obtidos em estudos experimentais com animais podem ser aplicados a serem humanos aplica-se somente no sentido qualitativo, ou seja, se uma determinada substância química apresenta efeitos tóxicos para animais, então é esperado que ela também apresente efeitos tóxicos para seres humanos. Entretanto, não há razões para que os limites de dose para os quais foram observados efeitos para os animais, sejam extrapolados para seres humanos (quantitativa).

A extrapolação de altas doses para baixas doses é particularmente importante para a avaliação de riscos decorrentes de produtos químicos presentes no ambiente em geral e também na água em especial. Isso porque, na maioria das vezes, os valores de exposição humana a estes produtos de situam na faixa de doses baixas, cujos níveis de riscos associados não são suficientemente altos para ser detectados, epidemiologicamente ou em estudos com animais, especialmente para produtos químicos carcinogênicos.

É importante ressaltar que ambos os procedimentos de extrapolação introduzem incertezas importantes no processo de avaliação de riscos para saúde humana.

A Figura 3 mostra curvas dose-resposta para diferentes tipos de efeitos toxicológicos (A, B e C). A região da curva que marca a transição entre a “toxicidade” e a “não-toxicidade” é chamada de limite ou limiar de efeitos. Isso significa uma dose acima da qual as respostas causadas pelo agente começam a se manifestar.

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Figura 3: Relação dose resposta para diferentes tipos de efeitos toxicológicos.

(Fonte: Nardocci, 2003).

A toxicidade de uma substância pode ser classificada em razão da duração da exposição ou do tipo de efeitos produzidos.

Com relação as doses, as exposições são classificadas em:

• Agudas: envolvem uma única dose. Existem produtos químicos que podem produzir efeitos severos ou mesmo a morte, mesmo que para doses muito baixas;

• Crônicas: referem-se a doses recebidas durante longos períodos, praticamente o tempo de vida do indivíduo.

• Sub-crônicas: referem-se a exposições repetidas em determinados períodos durante o tempo de vida.

Considerando os efeitos causados, a toxicidade pode ser classificada em carcinogênica e sistêmica: a carcinogênica está associada aos efeitos da modificação celular e à indução de tumores de qualquer tipo no organismo. A sistêmica está associada a outros efeitos que não o câncer e a mutação genética.

Os efeitos podem ainda ser classificados em reversíveis, que cessam após o fim da exposição, ou irreversíveis, que continuam mesmo após o fim da exposição. A exposição á amônia, por exemplo, pode causar irritação da pele e dos olhos, entretanto essa irritação cessa após o fim da exposição.

A toxicidade sistêmica apresenta um limiar de dose, isto é, um valor de dose abaixo do qual não são observados efeitos. Para a toxicidade carcinogênica, não são admitidos

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valores limiares, ou seja, não são definidos valores de dose abaixo do qual não são esperados os efeitos de carcinogenicidade. Isso implica dizer que não há uma dose totalmente segura, de forma que não é possível definir um valor de exposição para agentes carcinogênicos que não resulte em uma probabilidade, ainda que pequena, de efeitos carcinogênicos.

Quantificação do risco

Sendo risco uma probabilidade, ele é sempre expresso como uma fração, sem unidades, podendo assumir qualquer valor entre 0 e 1, sendo que o valor “zero” representa a absoluta certeza da não existência de risco. O valor “um” é a certeza de que o risco efetivamente ocorrerá.

Se, por exemplo, o risco de câncer decorrente da exposição a um determinado carcinogênico for de 1 em 1.000.000 (ou 0,000001) para uma população que receba, em média, uma dose diária daquele carcinogênico, uma pessoa em cada 1.000.000 de pessoas expostas terá câncer durante o seu tempo de vida. O risco, entretanto, nem sempre é quantificável, em termos de probabilidade, existindo outros critérios aplicáveis às substâncias carcinogênicas e não-carcinogênicas.

O risco associado à toxicidade sistêmica não é expresso em termos de probabilidade, mas pela comparação das doses calculadas com valores de referência. Um dos valores de referência adotado pela agência de proteção ambiental dos Estados Unidos (Usepa) é a chamada Dose e Referência (RfD).

A RfD é definida como a dose diária total de uma substância química, em miligramas por quilograma de peso corpóreo que, provavelmente, não causará efeito adverso à saúde, ainda que o indivíduo esteja exposto ao longo de todo o seu tempo de vida. A RfD origina-se da expressão:

Sendo:

• NOAEL – “No Observed Adverse Effect Level” - “dose em que nenhum efeito adverso foi observado”; e LOAEL – “Lowest Observable Adverse-Effect Level” - “dose mínima em que foi observado um efeito adverso”.

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O “LOAEL” e “NOAEL” são instrumentos essenciais para se perceber se os efeitos observados variam consoante a dose e o tempo de exposição, e se têm influência na a saúde humana (Ministério da Saúde, 2007).

• UF – “fator de incerteza” que reflete a incerteza associada aos estudos para determinar o NOAEL; e

• MF – é o “fator de modificação”, que varia de 1 a 10 e representa um fator de incerteza adicional. Sua definição é subjetiva, a partir do julgamento dos profissionais envolvidos.

A dose de referência (RfD) é usualmente expressa em mg/kg (b.w)/dia. Exemplificando:

Para o mercúrio, a Usepa definiu a RfD com base em algumas formas de toxicidade renal observada em ratos. Por exemplo, para calcular a ingestão diária de mercúrio para um indivíduo hipotético de 70kg de peso:

RfD para o mercúrio 0,0003mg/kg (b.w)/dia.

A ingestão de mercúrio pelo indivíduo poderá ser de até 0,0003 x 70 = 0,021 mg/dia.

Se a água de consumo contiver mercúrio e se o indivíduo consumir habitualmente 2 litros de água/dia, a concentração máxima de mercúrio na água não poderá ser superior a:

0,021 mg/2L ou 0,01mg/L.

Portanto, uma concentração de mercúrio na água potável de 0,01mg/L corresponde a uma incorporação de 0,21mg/dia e uma dose de 0,0003mg/kg de peso corpóreo/dia. No exemplo, a água potável foi considerada o único meio de exposição ao mercúrio, o que em geral não é verdadeiro. Na prática, a contribuição de todos os demais meios de exposição deve ser considerada para que a RfD não seja excedida.

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Para toxicidade aguda, a medida de dose padrão é a dose letal-50 (LD50 – lethal dose), a qual representa a dose única de uma substância química que provocará, em média, a morte de 50% do grupo de indivíduos expostos. Em outras palavras, a dose na qual os indivíduos expostos têm 50% de probabilidade de morte.

Para substâncias carcinogênicas, o risco é calculado multiplicando-se a dose estimada por um fator potencial – FP. O FP é a inclinação da reta obtida pela extrapolação dos dados de altas doses para baixas doses, considerando-se uma relação linear entre dose-resposta. Desta forma o risco para carcinogênicos é dado por:

Risco = D x FP Onde:

- D é a dose diária de carcinogênico recebida ao longo de toda a vida do indivíduo (70 anos), em mg/kg (b.w.) / dia.

- FP é o fator potencial para o carcinogênico.

Como exemplo vamos supor que o fator potencial para o clorofórmio seja de 0,006risco/MG/kg peso corpóreo/dia e que uma determinada fonte de água potável apresente uma CONCENTRAÇÃO DE 0,05 MG/l. Se uma pessoa consome 2 litros de água por dia, um total de 0,10 mg de clorofórmio será ingerido diariamente. Se a pessoa média tem 70 kg de peso, então a dose diária de clorofórmio será:

0,10 mg/dia ÷ 70 kg b.w = 0,0014 mg/kg peso corpóreo/dia

Se esta pessoa ficar exposta durante toda a sua vida, então o risco adicional de câncer é de:

0,006 risco/mg/ kg b.w. / dia x 0,0014 mg/kg b.w. /dia = 0,000008

Esse valor significa que aproximadamente 8 de cada 1.000.000 de pessoas expostas a dose diária de 0,0014 mg/kg desenvolverão câncer no período de 70 anos.

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As incertezas envolvidas em uma avaliação de riscos são muitas, seja pela grande quantidade de parâmetros envolvidos, pela complexidade da relação entre eles, e, principalmente pela limitação do conhecimento científico atual acerca dos modelos e mecanismos envolvidos.

A análise das incertezas, no entanto, pode muitas vezes ser tão ou mais complexas o que a própria avaliação de riscos. As incertezas são causadas basicamente por três fatores: a variabilidade dos parâmetros, os erros de medida e a falta de conhecimento.

A variabilidade está associada à variação de um mesmo parâmetro. Por exemplo, a quantidade de água que um indivíduo consome diariamente é relativamente simples de determinar, mas essa quantidade varia tanto no dia-a-dia quanto de um indivíduo para o outro.

Os erros de medida surgem da definição inadequada da amostra, dos erros de amostragem e das imprecisões na medição. A falta de conhecimento envolve parâmetros qualitativos e quantitativos, os quais incluem o desconhecimento dos processos físicos e químicos envolvidos, tais como modelos de dispersão, modelos de transporte ambiental, mecanismos de toxicidade e dose-resposta, além dos cenários futuros de uso o solo, distribuição e hábitos populacionais dentre outros.

A maioria dos parâmetros utilizados em uma avaliação de risco contém todos os fatores de incerteza.

Existe atualmente uma série de métodos e ferramentas para análises de incertezas em avaliações de riscos, tais como análise de incerteza e sensibilidade, simulação de Monte Carlo, análise bayseana, modelo multiplicativo, etc.

As incertezas exercem uma influencia importante no gerenciamento dos riscos, porque os resultados das avaliações são critérios orientadores e normativos de decisões sociais importantes, como:

- o que fazer quando as evidências de carcinogenicidade não são estatisticamente significativas?

- os níveis de riscos são aceitáveis? - quantas mortes poderão ser toleradas? - onde investir os recursos disponíveis? - benefícios compensam os riscos impostos?

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3.1.4 Gerenciamento dos riscos

O gerenciamento dos riscos é o conjunto de procedimentos, normas e regras, tendo como objetivo controlar e minimizar riscos, sendo abrangente de todas as atividades técnicas, legais, decisórias, de escolhas sociais, políticas e culturais que se encontrem associadas, direta ou indiretamente, com as questões de risco em nossa sociedade (Nardocci, 2003).

Um dos maiores desafios dos gerenciadores de risco, de uma forma geral, é julgar se um determinado nível de risco é aceitável. Essa decisão envolve questões técnicas, sociais, políticas e éticas muito relevantes.

O objetivo é a tomada de decisões que resultem em adequados níveis de proteção à saúde humana e ao meio ambiente, considerando-se a viabilidade econômica e tecnológica das medidas de controle.

Um conceito importante para o gerenciamento de riscos é o da segurança. É evidente que a avaliação dos riscos não permite traçar uma linha clara entre o que é “seguro” e o que “não é seguro”. Se segurança for entendida como a ausência de riscos, para a maioria dos casos, é impossível provar que os riscos efetivamente não existem. Isso soe possível se, e somente se, a exposição não existir. A garantia só ocorrerá se o agente não for utilizado para nenhum fim.

Partindo do princípio que o objetivo principal de uma avaliação de risco é propiciar os subsídios necessários e, por vezes, imprescindíveis para a tomada racional de decisão por parte do poder público. A compreensão da complexidade do problema é o primeiro passo fundamental para um melhor gerenciamento do risco. Freitas et al.(2002), consideram a relação entre os vários atores sociais envolvidos na questão, uma condição essencial para o efetivo gerenciamento do risco e governança.

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4 CONCLUSÃO

Considerando o grande número de possíveis agentes contaminantes em água de reúso, a avaliação de risco é essencial e indispensável para a tomada de decisão e gerenciamento de riscos, mesmo diante das incertezas envolvidas no processo.

(25)

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Referências

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