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POVO HEMSHIN: ENTRE A IDENTIDADE ARMÊNIA E A ASSIMILAÇÃO TURCA 1 Aline Serra Teixeira 2

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Academic year: 2021

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POVO HEMSHIN: ENTRE A

IDENTIDADE ARMÊNIA E A

ASSIMILAÇÃO TURCA

1

Aline Serra Teixeira2

Hemshin, genocídio armênio, identidade cultural.

Durante o período que compre-ende a Primeira Guerra Mundial, o Im-levou ao seu gradativo esfacelamento e, concomitantemente, aos massacres de dezenas de milhares de indivíduos pertencentes a minorias étnicas do país. Nesse processo acredita-se que cerca de

um milhão e meio de armênios foram mortos pelas autoridades otomanas e muitos outros migraram, em um

fenô -nia.

noção de que durante o armenicídio, o primeiro genocídio do século XX, além também um processo de transformação

1Trabalho apresentado no

Simpósio Internacional religião e Migração, rea-lizado na PUC-SP, fruto

-alizada entre agosto de 2013 e agosto de 2014, sob orientação da profes-sora Sandra Maria Silva Palomo.

2Graduando de Letras

pela Faculdade de Filoso -manas da Universidade de São Paulo.

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de minorias em parte da cultura hege-mônica da República da Turquia, nação Na atualidade, contudo, observa-se a presença residual de alguns armênios ao longo do território da República da Turquia. Pensando nestas minorias é que surge esta pesquisa, que busca ve-sofrido pela população armênia ao lon-go do tempo, num processo conhecido da população Hemshin, um dos grupos -ligião islâmica sunita, ao mesmo tempo em que a língua própria é muito similar ao armênio ocidental, as festividades mitos de origem mostram uma mistura entre os povos turco e armênio.

-melhantes à cultura turca hegemônica e em que medida remontam a um passado armênio.

Para isso, foram observados as-pectos linguísticos, religiosos, ritualísti-cos, culturais diversos e mesmo da auto

-dade Hemshin com as outras duas cul-turas que em alguma medida interagem com sua própria.

Foram analisados trechos de en-trevistas feitas com a população

He-mshin por pesquisadores falantes de

feita a leitura de diversos artigos, livros e outros textos acadêmicos sobre identi-dade cultural, limpeza étnica, cultura ar-mênia, cultura turca e cultura Hemshin.

-to como os próprios Hemshin pensam sobre si mesmos e sobre seus vizinhos, como foi possível conhecer o que

etnó -sobre o tema.

Durante as leituras acerca de iden-tidade cultural, limpeza étnica e genocí-dio, foi possível perceber que, por mais que ocorra alguma manutenção da cul-tura dos antepassados, inevitavelmente ocorrem trocas entre as diferentes cul-inerentes à própria cultura em questão. Contudo, estas trocas não são mútuas, uma vez que a cultura de um grupo ten-de a ser hegemônica em um ten- determi-nado território. As chances de que esta são muito maiores do que a possibilida-de possibilida-de uma troca equilibrada entre os di-ferentes grupos culturais. Dependendo do contexto histórico, a cultura hege-mônica pode ser de um grupo perten-cente à elite local, potência colonial ou imperialista. Nos casos da Turquia e do -ca é a hegemôni-ca, o que leva a acreditar

Além da questão cultural, tam-bém existe a questão histórica e a ques

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-mais aparente, posto que muitas vezes foi preciso esconder ou abrir mão da própria identidade para que fosse pos-sível sobreviver em períodos xenofó-bicos, como na decadência do Império seguiu o esfacelamento do Império, no início da República da Turquia, coman-dada pelo militar Mustafa Kemal, na as-censão dos partidos religiosos islâmicos e nos muitos períodos de ditaduras.

Para manter-se enquanto He-mshin, este povo teve como aliada a pois este grupo ocupou e permaneceu relativamente isolado do restante do país, numa região entre montanhas cer-cadas por neblina durante grande parte do ano, que foi revisitada por turcos e -tica, que era vizinha ao oriente da Tur-quia, e com o aumento do ecoturismo e de esportes radicais, como alpinismo, na região.

Por meio das entrevistas é possí-vel perceber que os indivíduos deste pe-queno grupo de cerca de 150 mil habi-tantes possuem uma identidade própria, uma vez que estes moradores do distrito de Hemshin, na província de Rize, re-gião noroeste da Turquia, mantiveram grandes metrópoles turcas, georgianas e armênias. Contudo, esta identidade transcende o território mencionado, uma vez que alguns não têm consciência clara de que falam uma língua próxima ao idioma armênio e com costumes se-melhantes aos armênios, outros negam o passado em comum com os povos próximos, outros ainda preferem

identi-a mesmidenti-a fé muçulmidenti-anidenti-a e, tidenti-ambém, identi- al -e Istambul, num proc-esso mundial d-e êxodo rural, onde acabam tendo que se em contextos nos quais ter um sotaque estrangeiro é motivo de preconceito lin-guístico.

Além da cultura Hemshin, tam-bém foi observada uma diminuição da população armênia em centros urbanos como em Istambul, grande cidade na região ocidental da Turquia, conhecida por fazer parte tanto da Ásia quanto da

visitou a família armênia na Turquia e na Geórgia, em uma entrevista concedida em 2014 e ainda inédita.

Apesar desta aparente inexistên-cia de armenidade dentre os Hemshin, foi possível constatar a existência de aspectos linguísticos e de tradição em povo Hemshin se divide em dois

gru-os Hemshin Hopa falam homshetsma, uma língua que nos anos 60 do século XX foi estudada como um dialeto do armênio ocidental, o idioma falado pe-los armênios da região da atual Turquia

Apesar de utilizar o idioma turco, o Hemshin Rize também se aproximam -Vartevor, um ritual originalmente feito em homenagem à deusa pagã da Armê-uma boa colheita, e que atualmente faz

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Armênia, que é cristã, como celebração pelos armênios de Vardavar. Apesar de manter o festival nos mesmos moldes e com nome similar, ambos os grupos Hemshin são islâmicos sunitas, mesmo tanto por religião, assim como ocorre em diversas partes do mundo.

Alguns Hemshin, para evitar o dilema entre negar o passado armênio uma nação homogênea, acabam se auto

um destes mitos, dois irmãos Hemshin estavam vagando pela região quando fo-ram feitos prisioneiros por um senhor de terras armênio, que acabou casando deixando suas terras para eles, tornando os descendentes uma mistura, inclusi-ve cultural, entre os Hemshin e as

ar-uniu suas terras às terras de um senhor turco chamado Kelesh, nesta versão, to-dos os habitantes das vilas Hemshin se-riam descendentes destas duas famílias. Por um lado, é extremamente ne-gativo para os Hemshin assumir que Apostólica Armênia para se tornar mu-çulmanos sunitas, pois, segundo uma informante, isto os tornaria menos dig-inclusive povos cristãos. Por outro lado, existe certo receio por parte dos indi-víduos entrevistados em assumir algum vínculo cultural com os armênios.

Ape-culturais não-turcas na Turquia, elas muitas vezes são vistos socialmente como piores em favorecimento da cul-tura dominante.

-ca é o funcionamento das políti-cas da esquerda e da direita da Turquia: a

es -do considera-dos como cidadãos turcos todos aqueles nascidos na Turquia; en-quanto a direita religiosa tende a margi-nalizar as minorias não-muçulmanas e a os descendentes de turcos nascidos em outros países ainda seriam turcos, do mesmo modo que descendentes de gre-gos, por exemplo, nascidos na Turquia, ainda seriam gregos e não turcos. Neste sentido, independentemente do parti-do que governar o país, a República da Turquia parece não ter uma política que aceita as diferenças culturais, étnicas e religiosas de uma nação que deveria in-e africanos, quin-e circulavam livrin-emin-entin-e pela região durante o período anterior ao início da decadência do Império

com a morte de intelectuais armênios em Istambul, ocorrido especialmente na parte oriental da Turquia e de diversas políticas nacionalistas e anti-minorias de -tos culturais armênios ainda permane-cem latentes no território turco, inclusi-ve na região leste, local em que a limpeza étnica dos armênios foi mais efetiva e

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onde vive a população Hemshin.

A população Hemshin possui sua própria cultura, com aspectos em comum com os compatriotas turcos, como a religião e a língua, e também com fortes traços culturais compartilha-dos com os vizinhos armênios presen -outras culturas podem variar de acordo com cada indivíduo e com o momento político.

-DUMÉZIL, G. Notes sur le parler d un Arménien musulman de Hemshin. Bruxelas: Palais des

Aca-(org.). The Hemshin: His-tory, Society and Identity in the Highlands of Nor-Routledge, 2007. Prof. Dr. RICHARD (2013). Disponível em: <http://armeniaeterna. com.br/ugab-do-brasil- promoveu-a-palestra-em- -busca-da-armenia-oci-dental-historica/>.

Referências

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