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DO PLANEJAMENTO À GESTÃO: DESAFIOS AMBIENTAIS PARA O USO SUSTENTÁVEL DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DOS RECIFES DE CORAIS

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DO PLANEJAMENTO À GESTÃO: DESAFIOS AMBIENTAIS PARA O USO SUSTENTÁVEL DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DOS RECIFES DE

CORAIS

Andria Carla Araújo da Silva Universidade do Estado do Rio Grande do Norte Mestre em Geografia andriacarla@hotmail.com Ilton Araújo Soares Universidade do Estado do Rio Grande do Norte Faculdade de Ciências, Cultura e Extensão do RN Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente iltonet@yahoo.com.br Rosa Maria Rodrigues Lopes Universidade do Estado do Rio Grande do Norte Mestre em Geografia rosamrlopes@gmail.com

INTRODUÇÃO

A Área de Proteção Ambiental dos Recifes de Corais – APARC, foi criada pelo governo estadual do Rio Grande do Norte em 2001 e compreende uma área marinha de 136.344 hectares entre os municípios de Maxaranguape, Rio do Fogo e Touros, localizados no litoral oriental potiguar (RIO GRANDE DO NORTE, 2012). A criação da APARC surgiu a partir do início da exploração da área pela atividade turística que tem como principal atrativo o mergulho turístico de recreação e lazer numa área de recifes de corais e piscinas naturais localizadas a sete quilômetros da costa.

Neste contexto, diante da fragilidade ambiental dos ecossistemas de recifes de corais e da vulnerabilidade a que a área estava sendo exposta com a introdução da atividade turística, criou-se a unidade de conservação com o intuito de garantir a preservação dos ecossistemas aquáticos localizados em sua extensão e, ao mesmo tempo possibilitar sua utilização para prática turística em consórcio com a pesca artesanal.

Diante disso, o objetivo deste artigo é caracterizar os desafios ambientais para o uso sustentável da Área de Proteção Ambiental dos Recifes de Corais. Como objetivos específicos procurou-se identificar os atores envolvidos no planejamento,

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gestão e exploração da APARC, e discutir os aspectos teóricos que permeiam o entendimento acerca do planejamento e uso sustentável em unidades de conservação.

PLANEJAMENTO AMBIENTAL E UNIDADE DE CONSERVAÇÃO: ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

O Planejamento ambiental tem relação direta com a problemática entre a sociedade e a natureza à medida que pode vir a elaborar uma série de ações, medidas e regras que propiciem à utilização dos recursos naturais de uma forma sustentável e sem danos grandiosos e irreparáveis ao meio ambiente. O ato de planejar pode ser entendido, neste contexto, como o elemento que seria capaz de mediar as necessidades dos meios de produção pertencentes ao homem, e as formas de utilização desse meio. Santos (2004) aponta que o processo de planejamento é um meio sistemático de determinar o estágio em que se está, onde deseja chegar e qual o melhor caminho para chegar lá. A autora ainda acrescenta:

Um importante papel destinado ao planejamento é, ainda, o de orientar os instrumentos metodológicos, administrativos, legislativos e de gestão para o desenvolvimento de atividades num determinado espaço e tempo, incentivando a participação institucional e dos cidadãos, induzindo a relações mais estreitas entre sociedade e autoridades locais e regionais (SANTOS, 2004, p. 24).

À medida que segmentos da sociedade crescem e apropriam-se cada vez mais da natureza usando seu poder de transformação através daquilo que Santos (2009) chama de objetos técnicos, passa a haver um comprometimento do equilíbrio e surge uma série de prejuízos ambientais que mostram as problemáticas que podem existir dentro deste modelo de desenvolvimento da sociedade, quando este não visa o equilíbrio entre as necessidades humanas e a natureza. Assim, se faz necessária a existência de um tipo de ordenamento territorial que busque, mediante ações de caráter político, a harmonia entre usos e necessidades, por meio das Unidades de Conservação, como aponta Vallejo:

A criação das unidades de conservação no mundo atual vem se constituindo numa das principais formas de intervenção governamental, visando reduzir as perdas da biodiversidade face à degradação ambiental imposta pela sociedade (desterritorialização das espécies da flora e fauna). [...] O crescimento da consciência diante das questões ecológicas globais ampliou a participação popular em relação à qualidade de vida humana e o meio ambiente,

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representando outro aspecto relevante na análise das questões pertinentes às unidades de conservação (2002, p. 57).

A criação de uma UC geralmente se dá quando há uma demanda da sociedade para proteção de áreas de importância biológica e cultural ou de beleza cênica, ou mesmo para assegurar o uso sustentável dos recursos naturais pelas populações tradicionais. É importante que a criação de uma UC leve em consideração a realidade ambiental local, para que exerça influência direta no contexto econômico e socioambiental (BRASIL, 2000).

A Lei Federal 9.985 de 18 de julho de 2000, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), e estabelece critérios e normas para a criação, implantação e gestão das Unidades de Conservação no Brasil. A definição de UC trazida pela Lei número 9.985/2000 é a seguinte:

Espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção [...] (BRASIL, 2000).

As UC’s integrantes do SNUC estão divididas em dois grupos, com características específicas, que são: Unidades de Proteção Integral; e Unidades de Uso Sustentável. O objetivo básico das Unidades de Proteção Integral é preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos nesta Lei. No caso das Unidades de Uso Sustentável, o objetivo básico é compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais (BRASIL, 2000). Cada grupo destes abrange uma quantidade de categorias de UC’s, mas para os fins desta pesquisa serão destacadas as Áreas de Proteção Ambiental, que se inserem no grupo das Unidades de Uso Sustentável.

De acordo com o Artigo 15 da Lei Federal 9.985/2000:

A Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. (BRASIL, 2000).

Dentre os diversos tipos de uso que frequentemente são vistos nas áreas de proteção ambiental, a atividade turística vem ganhando destaque devido à sua

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representatividade econômica e a sua característica de se apropriar de espaços naturais. Este setor tem despertado cada vez mais o interesse do segmento empresarial para atuarem nas localidades que detêm atrativos naturais. Para tanto, se faz necessário o cuidado adequado através de medidas planejadas, sempre de modo responsável, e que favoreça a continuidade das paisagens, especialmente aquelas que são exploradas pela atividade turística.

TURISMO EM ÁREAS NATURAIS PROTEGIDAS

Conforme visto em informação supracitada, o crescente uso dos espaços da Área de Proteção Ambiental dos Recifes de Corais pela atividade turística foi um fator relevante para a criação da UC. Nesse sentido, faz-se importante encaminhar uma discussão que fundamente o entendimento acerca turismo e sua relação com o uso de áreas naturais protegidas.

O histórico do turismo enquanto atividade especializada, firmada e concretizada no seio da economia moderna tem demonstrado uma estreita relação com a exploração de áreas naturais. Com as discussões sobre conservação e preservação da natureza empreendidas a partir da década de 1970 na Conferência de Estocolmo (1972), na Suécia e os crescentes debates em torno do conceito de desenvolvimento sustentável, as áreas naturais e principalmente as áreas naturais protegidas, com enfoque para as UC’s se tornaram um potencial segmento do turismo.

Esse quadro corroborou, em especial a partir da década de 1990, para o surgimento de modalidades alternativas de turismo, em contraposição ao turismo de massa que vinha (e ainda vem) se firmando no período posterior à Segunda Guerra Mundial como atividade econômica caracterizada por importantes repercussões negativas, tanto do ponto de vista natural como cultural.

Essas modalidades alternativas de turismo guardam em sua filosofia uma preocupação referendada pelas concepções de sustentabilidade, conservação dos elementos naturais e culturais, qualidade de vida, planejamento e gestão participativos etc. Assim, se disseminam sob denominações diversas como: turismo ecológico, turismo verde, turismo sustentável e ecoturismo, tendo esta última se destacado nos estudos acadêmicos e nas práticas mercadológicas.

Assim sendo, na década de 1990 as práticas turísticas inspiradas na busca pela valorização de elementos naturais e culturais se expandiram, ganhando notoriedade

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e conformando, portanto, segmentos diferenciados do mercado turístico. Assim, no contexto de crescimento do número de ONG’s ambientalistas e de unidades de conservação, verificados nessa década, o turismo passou a ser entendido como uma atividade plenamente passível de aceitação em áreas protegidas, considerando as prerrogativas de conservação natural e cultural e a preocupação com a inserção e participação das comunidades locais. Em alguns casos, a atividade embasa a justificativa de criação de UC’s, tendo em vista o uso anterior de áreas naturais pelo turismo e as estratégias que objetivam o aumento dos seus impactos positivos, como ocorreu na área objeto desta pesquisa.

Contudo, no que pese a influência positiva do turismo na relação com a conservação de UC’s as evidências reais se resumem às exceções. Conforme salientam Poles e Rabinovici (2010) até a primeira década do século XXI, são poucos os casos concretos, bem sucedidos, coerentes e convincentes. Para essas autoras,

Nesse contexto, no qual os conceitos e princípios da sustentabilidade, do desenvolvimento e das sociedades sustentáveis permeiam ações e discursos dos diversos atores sociais e políticos, o turismo emerge quase como um consenso, uma atividade alternativa capaz de aliar desenvolvimento econômico à conservação ambiental. Além disso, o turismo tem potencial de divulgar ambientes naturais de forma a valorizá-los e atrair a opinião pública simpática à conservação ambiental. Feito de forma adequada, o turismo pode transformar atitudes, comportamentos e, consequentemente, a realidade dos que o praticam (POLES; RABINOVICI, 2010, p. 21-22).

É, portanto, a partir desse referencial de ideias teóricas, conceituais e históricas que será encaminhada a apresentação e discussão dos resultados obtidos no decorrer das pesquisas.

METODOLOGIA

Do ponto de vista de seus objetivos a pesquisa é classificada como exploratória, uma vez que “[...] busca apenas levantar informações sobre um determinado objeto, delimitando assim um campo de trabalho, mapeando as condições de manifestação desse objeto” (SEVERINO, 2007). Como técnicas de pesquisa foram utilizadas pesquisa bibliográfica, pesquisa documental, formulários semi-estruturados e observações in locu. Os formulários foram aplicados a dois membros do conselho gestor da APARC, sendo entrevistados um representante do Instituo de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte – IDEMA e suplente do conselho

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gestor da UC e o membro do conselho gestor representante do segmento da atividade de mergulho recreativo turístico e lazer. Também foi entrevistado um representante da comunidade de Maracajaú.

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A Área de Proteção Ambiental dos Recifes de Corais é uma unidade de conservação marinha estadual localizada entre os municípios de Maxaranguape, Rio do Fogo e Touros, no Rio Grande do Norte. Com uma área 136.344 hectares a APARC tem como principais usos, o mergulho recreativo e turístico e a pesca artesanal. A unidade de conservação está localizada numa área de plataforma rasa e contem vários bancos de corais, conhecidos na região como “parrachos” (RIO GRANDE DO NORTE, 2012).

Atualmente as atividades turísticas são desenvolvidas com mais intensidade nos parrachos de Maracajaú, no município de Maxaranguape, onde seis empresas têm a permissão do IDEMA para desenvolverem o mergulho recreativo e de lazer. Cada empresa tem uma cota de visitação diária de até 109 pessoas. Além das empresas existem 28 embarcações de pescadores nativos que têm autorização para levarem os turistas até os parrachos, com uma cota total diária de 220 pessoas.

A atividade turística nos parrachos de Maracajaú começou em 1994 com a chegada de uma empresa privada e só em 2005 os pescadores passaram a ter direito a cota. Atualmente o número máximo de pessoas que podem visitar os parrachos de Maracajaú é de 874 por dia, mas com a aprovação do plano de manejo este valor vai aumentar para 990 (RIO GRANDE DO NORTE, 2012).

RESULTADOS

A partir dos objetivos desta pesquisa e das entrevistas realizadas com os atores envolvidos na exploração e gestão da APARC consideraram-se sete como sendo os principais desafios ambientais para o planejamento e gestão da unidade da conservação, sendo eles: elaboração do estudo de capacidade de carga da área; tornar o uso turístico da APA um exemplo para o Brasil; seguir as regras de conduta da área; promover a gestão participativa da APARC; implementar uma fiscalização efetiva, padronizar as embarcações e proibir a pesca predatória.

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Segundo o membro do conselho gestor da UC representante do segmento da atividade de mergulho recreativo turístico e lazer, Marcelo Zsigmond, a elaboração do estudo de capacidade de carga é um dos principais desafios para o planejamento e gestão da APARC.

Nesse contexto, vale destacar que o plano de manejo da APA dos Recife de Corais foi aprovado em maio de 2012, somente 11 anos após a criação da UC. O documento propõe uma cota de visitas de 100 pessoas por dia para os parrachos de Rio do Fogo e Perobas, sendo 50% para a comunidade local e 50% para empresas privadas, e o aumento de 874 para 990 nos parrachos de Maracajaú, totalizando o máximo de 1190 visitas por dia em toda a APARC. Entretanto, não foi elaborado o estudo de capacidade de carga da área, que aponta a partir de estudos científicos e utilização de indicadores o limite de visitas que as áreas de corais suportam sem oferecer grandes alterações.

A área dos corais localizados na praia de Maracajaú recebe um fluxo contínuo de visitantes que aumenta bastante entre os meses de dezembro a fevereiro e no mês de julho, diferente das outras áreas, onde o turismo ainda é pouco expressivo, mas com potencial de crescimento. Sem um estudo de capacidade de carga assume-se o risco do aumento potencial de degradação daqueles ambientes, uma vez que não se sabe sua capacidade de resistir a pressão imposta pelas alterações provocadas aos corais devido o uso turístico para mergulhos recreativos e de lazer.

Não se pode admitir a aumento do número de visitas aos parrachos sem se conhecer a capacidade de carga daquele ambiente. Desta forma, esta ação vai em desacordo com o planejamento e gestão sustentável e responsável e também não observa os princípios de prevenção e precaução, fundamentais para a preservação dos recursos naturais e equilíbrio dos ecossistemas. Só a título de exemplo, entre janeiro e março de 2011, período de alta estação, 37.897 turistas visitaram os parrachos de Maracajaú (IDEMA, 2011).

No caso dos parrachos Perobas e Rio do Fogo, como a cota de visita diária é menor e como o uso turístico da área ainda é incipiente, acredita-se que o risco de degradação dos corais é menor, mesmo assim, a criação de cotas para estas áreas deveria ser precedida de um estudo de capacidade de carga.

O outro desafio apontado pelo conselheiro representante do segmento da atividade de mergulho recreativo turístico e lazer é tornar o uso turístico da UC um exemplo para o Brasil. Segundo ele, a atividade turística realizada na APARC e mais

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especificamente nos parrachos de Maracajaú poderia ser tornar um exemplo de turismo sustentável e de preservação ambiental para o país, com o uso turístico da área sem a degradação dos recifes de corais, ao contrário do que ocorreu em outros destinos turísticos onde a falta de controle e o uso indiscriminado da área levou a destruição dos corais, como, por exemplo, na Praia de Pirangi, no município de Parnamirim (RN). Entretanto, o mergulhador afirma que o aumento das cotas e a falta do estudo de capacidade de carga podem levar os corais de Maracajaú a ter o mesmo fim de outros destinos turísticos, onde o ambiente recifal foi degradado e a atividade turística teve um grande declínio, trazendo danos irreversíveis de ordem ecológico e socioeconômico.

Na percepção da técnica Maria José Olímpio Cabral e primeira suplente do IDEMA no conselho gestor da APARC, os desafios ambientais para a gestão da UC são seguir as regras de conduta da área, implementar uma fiscalização efetiva e promover a gestão participativa da APA. Em relação ao primeiro desafio apontado, é fundamental para a preservação da área observar as regras de conduta para uso da APARC. Como o plano de manejo ainda não está em vigor, estas regras de conduta foram estabelecidas em alguns termos de ajustamento de conduta, firmados entre as empresas que operam nos parrachos de Maracajaú, os municípios nos quais a APA está inserida, a colônia de pescadores de Maracajaú e o Ministério Público Estadual, além de algumas resoluções do Conselho Estadual de Meio Ambiente.

A maior fiscalização da área trará maior possibilidade de cumprimento das normas de uso dos recifes de corais. Atualmente a fiscalização se dá através da verificação de cumprimento das cotas em Maracajaú. Com a aprovação do plano de manejo e expansão da atividade turística para as demais áreas da APA, torna-se necessária a ampliação desta fiscalização referente às cotas, como também a adoção de outros mecanismos fiscalizatórios.

O outro desafio apontado pela representante do IDEMA é a gestão participativa da APA. Um dos principais avanços implementado no planejamento e gestão contemporâneo é a participação de todos os atores envolvidos nos processos e atividades do território que está sendo planejado ou gerido, rompendo com o processo burocrático e endógeno do planejamento praticado no Brasil até a primeira metade do século passado.

O desafio em alcançar a gestão participativa da APARC ocorre dentre outros fatores, pela pouca participação das prefeituras municipais nas decisões que envolvem a UC. Entretanto isto não ocorre por falta de espaço dado aos entes

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administrativos, pois cada uma das três prefeituras que tem parte da UC em seu território tem direito a um membro no conselho gestor da APARC. Entrementes, segundo a representante do IDEMA, uma das prefeituras ficou quase dois anos sem um membro no conselho gestor da APA.

Outro aspecto relativo à falta de gestão participativa é o envolvimento das comunidades locais. Como nos municípios de Rio do Fogo e Touros o turismo é pouco explorado, também não há interesse da população, visto que há um sentimento de distanciamento dos benefícios que o turismo pode trazer para a população. Em relação a Maracajaú, a participação da comunidade também é pequena. Nesta foi criada em 2010 a Associação de Turismo de Base Comunitária de Maracajaú, com objetivo de promover o turismo de base comunitária e o desenvolvimento local. A associação tenta conseguir uma das vagas no conselho gestor da APA, e com isso, reivindicar mais benefícios do turismo para a comunidade local.

Na ótica do coordenador da Associação de Turismo de Base Comunitária de Maracajaú, Jair Clemente, os desafios ambientais são a necessidade de padronização das embarcações dos nativos que fazem os passeios aos parrachos e maior fiscalização para coibir a pesca predatória. Em relação à padronização das embarcações, sua importância do ponto de vista ambiental está na necessidade delas se adequarem às normas impostas com objetivo de evitar ou minimizar os impactos ambientais aos corais, como, por exemplo, a utilização de motores recomendados pela por um termo de ajustamento de conduta firmado em 2005. Já a pesca predatória e irregular ocorre nas zonas de uso restrito, onde a pesca é proibida. Outro problema é a pesca nos períodos de defeso, época de reprodução dos peixes e crustáceos.

Diante dos desafios ambientais expostos, acredita-se que devem ser implementadas ações por parte das instituições públicas e privadas e das comunidades que atuam direta ou indiretamente na APARC, no sentido de reverter os problemas existentes e garantir a conservação dos corais e a sustentabilidade da UC.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As unidades de conservação são territórios estratégicos para a manutenção da biodiversidade, da qualidade de vida das sociedades e uma tentativa de relação harmoniosa entre a sociedade e a natureza. Em relação à Área de Proteção Ambiental dos Recifes de Corais, sua criação surgiu como uma tentativa de preservação dos

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ecossistemas coralinos e a possibilidade de seu uso sustentável pela atividade turística e pela pesca artesanal. Entretanto, percebeu-se com esta pesquisa a necessidade de superar alguns desafios para que a unidade de conservação possa realmente atender aos objetivos para os quais foi criada.

Esta pesquisa não esgota a temática e ratifica a necessidade de ampliar o debate sobre o tema em tela e, espera-se em trabalhos futuros investigar e analisar outros desafios para o planejamento e gestão sustentável da Área de Proteção Ambiental dos Recifes de Corais.

REFERÊNCIAS

BRASIL. 2000. Lei Federal Nº 9.985 de 18/07/2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC. Diário Oficial da União.

IDEMA. Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte. Programa de Monitoramento da Atividade de visitação Turística na APA dos Recifes de Corais. Projeto PROMAR: Relatório do Monitoramento Ambiental e de Visitação Turística nos Parrachos de Maracajaú apresentado mensalmente à

Coordenação do NUC/IDEMA: Março de 2011. Natal/ RN: IDEMA, 2011. [Relatório Interno Institucional].

POLES, Gabriela; RABINOVICI, Andréa. O ambientalismo, o turismo e os dilemas

do desenvolvimento sustentável. In: NEIMAN, Zysman; RABINOVICI, Andréa.

(Orgs.). Turismo e meio ambiente no Brasil. São Paulo: Manole, 2010.

RIO GRANDE DO NORTE. Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio

Ambiente. Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental dos Recifes de Corais -

APARC. Natal: IDEMA, 2012.

SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Edusp, 2009.

SANTOS, Rosely Ferreira dos. Planejamento Ambiental. Teoria e Prática. São Paulo: Oficina de Textos, 2004.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2007.

VALLEJO, L. R. Unidades de Conservação: uma discussão teórica à luz dos conceitos de território e de políticas públicas. Geographia, Rio de Janeiro, v.4, n.8, p.57 -78, 2002.

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