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PROCESSO-CONSULTA CFM nº 61/2016 PARECER CFM nº 15/2017 INTERESSADO: Sra. L.M.F.F.A. Cirurgia de Alzheimer Cons. Hideraldo Luis Souza Cabeça

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PROCESSO-CONSULTA CFM nº 61/2016 – PARECER CFM nº 15/2017 INTERESSADO: Sra. L.M.F.F.A.

ASSUNTO: Cirurgia de Alzheimer

RELATOR: Cons. Hideraldo Luis Souza Cabeça

EMENTA: A DBS no controle da doença de Alzheimer é tratamento experimental, somente podendo ser realizado sob protocolos clínicos, de acordo com as normas do sistema Cep/Conep.

DA CONSULTA

Encaminhado questionamento pela consulente por meio do portal médico com os seguintes aspectos:

- Assunto: “Questionamento solicitação: Li uma matéria na Internet, de

27/12/2015, sobre uma cirurgia de Alzheimer feita pelo médico R.M. da Paraíba, no jornal Correio da Paraíba. Gostaria de saber o que o CRM fala sobre isso, quais têm sido os resultados. Tenho um irmão de 55 anos e com Alzheimer em estágio inicial, decorrente - segundo os médicos, de um AVC hemorrágico que ele teve há 9 anos.”

- Justificativa: Se realmente isso for aprovado, gostaria que meu irmão pudesse

fazer essa cirurgia também.

DO PARECER

I. Considerações gerais:

A doença de Alzheimer (DA) é a mais frequente doença neurodegenerativa na espécie humana. A doença de Alzheimer acarreta alterações do funcionamento cognitivo (memória, linguagem, planejamento, habilidades visuais-espaciais) e muitas vezes

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profissionais, sociais, de lazer ou mesmo atividades domésticas e de autocuidado. O quadro clínico descrito acima caracteriza a “demência”.

No caso acima referido, em João Pessoa, foi realizado um procedimento neurocirúrgico, com uso de um marca-passo cerebral, que tem o nome de DBS - Estimulação Cerebral Profunda. Essa técnica foi utilizada com o propósito de frear a evolução da doença.

II. Do uso da DBS:

A Estimulação Cerebral Profunda (DBS) é uma forma de neuromodulação cerebral em que estímulos elétricos são levados a áreas profundas do cérebro por meio de eletrodos implantados cirurgicamente; esse marca-passo cerebral envia impulsos elétricos a partes específicas do cérebro, visando alterar a atividade cerebral de modo controlado. O equipamento é formado por eletrodos, extensão e neuroestimulador. A FDA aprovou a DBS para Tremor Essencial em 1997, para uso na Síndrome de Parkinson em 2002 e para Distonia em 2003. Tem sido usada nos Estados Unidos ainda para Dor Crônica e doenças afetivas como Depressão Maior (nos casos de resistência aos tratamentos medicamentosos e à eletroconvulsoterapia).

Em artigo de revisão no Arquivo Brasileiro de Neurocirurgia (2011), Krueger e colaboradores informam que a DBS é aplicada não somente em transtornos motores, mas também psiquiátricos, como no tratamento de transtornos de desordem obsessivo-compulsiva, depressão e ansiedade. Em núcleos profundos do tálamo, a DBS serve para tratamentos somatossensoriais, como em dor crônica, paralisia cerebral, epilepsia e espasticidade.

A estimulação encefálica profunda apresenta alguns riscos , como: acidente vascular cerebral hemorrágico, alterações psíquicas, infecção da ferida operatória e infecção do sistema nervosa central.

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III. Das evidências sobre o uso da DBS e demências:

O departamento científico da Academia Brasileira de Neurologia emitiu parecer em março de 2016 sobre o assunto, e destaco:

"A experiência acumulada com a DBS na última década e o conhecimento atual da fisiopatologia da Demência de Alzheimer não sugerem que esse procedimento represente uma cura desta doença. A estimulação cerebral não parece agir sobre os mecanismos causais da doença, a saber, o acúmulo anômalo de proteínas como a beta-amiloide e tau em estado hiperfosforilado, associadas à morte progressiva de neurônios. As evidências atuais indicam que o efeito da DBS, ainda não suficientemente comprovado, seja sintomático e durante um prazo limitado de tempo".

Agências internacionais de saúde como a FDA não a autoriza para tratamento da Demência de Alzheimer, sendo permitida apenas sua investigação em protocolos de pesquisa rigidamente controlados. No Brasil, a ANVISA também segue essa conduta. A cirurgia para este fim ainda está em fase experimental.

Alguns trabalhos de pesquisa sobre a aplicação da DBS na Doença de Alzheimer encontram-se em andamento, dentre os quais no Canadá, onde ocorre um estudo multicêntrico denominado A Twelve Month Double-blind Randomized Controlled

Feasibility Study to Evaluate the Safety, Efficacy and Tolerability of Deep Brain Stimulation of the Fomix (DBS-t) in Patients with Mild Probable Alzheimer's Disease

(estudo multicêntrico, duplo-cego e randomizado), estando este estudo em fase inicial.

IV – Da legislação:

No artigo 102 do Código de Ética Médica (2009) encontra-se:

“É vedado ao médico: deixar de utilizar a terapêutica correta, quando seu uso estiver liberado no país.

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representante legal, adequadamente esclarecidos da situação e das possíveis consequências.”

O Conselho Federal de Medicina editou a resolução CFM nº 1.982/2012, estabelecendo as normas para o reconhecimento de novos procedimentos ou terapias médicas.

CONCLUSÃO

Fica claro que no presente momento não está indicado o uso da DBS no controle da Doença de Alzheimer. Relatos pontuais da indicação do procedimento cirúrgico não apresentam sustentação científica no estado atual da arte médica.

Pelo exposto, a DBS no controle da doença de Alzheimer é tratamento experimental, somente podendo ser realizado sob protocolos clínicos, de acordo com as normas do sistema CEP/Conep.

Esse é o parecer, S.M.J.

Brasília, DF, 27 de abril de 2017.

HIDERALDO LUIS SOUZA CABEÇA Conselheiro Relator

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

1. http://www.abneuro.org.br/comunicados/detalhes/713/nota-de-esclarecimento.

2. The Neurosurgical Treatment of Alzheimer's Disease: A Review. Adrian W. Laxtona Scellig Stoneb Andres M. Lozanob. Received:lanuary 7,2014
 Accepted after revision: May 30, 2014 Published online:Septe 2014. Stereotact Funct Neurosurg 2014;92:269-281.

3. Deeb W et al. Proceedings of the Fourth Annual Deep Brain Stimulation Think Tank: A Review of Emerging Issues and Technologies. Front Integr Neurosci. 2016 Nov 22;10:38.

4. Krueger E, et al. Estimulação encefálica profunda. Arq Bras Nourocir 30(4): 169-77,

Referências

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