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A AMICITIA NA OBRA DE MARCO TÚLIO CÍCERO

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A AMICITIA NA OBRA DE MARCO TÚLIO CÍCERO

VILANOVA, Welington - PIC-UEM VENTURINNI, Renata Lopes Biazotto - DHI/PPH-UEM

Introdução

Nesta pesquisa, temos como objetivo compreender as relações políticas romanas fundamentadas na amicitia, e sua importância para a consolidação do poder político do homem romano. Para a realização desse estudo, utilizaremos a obra de Marco Túlio Cícero, intitulada “Da Amizade”.

A posição política de Marco Túlio Cícero confere um exemplo prático do temor diante dos conflitos característicos do final do período republicano. A res publica não significava, simplesmente, República ou Estado, mas “coisa pública”. Segundo o próprio Cícero tratava-se da res publica res populi, ou seja, a coisa pública é aquilo que pertence ao povo. Portanto, a República deveria ser a organização jurídica do povo romano e pertencente a ele, pertencente ao corpo de cidadãos.

Desde o ínicio até a crise do período republicano nos finais do século I a .C., o Senado foi o centro da vida política. Era um órgão soberano em diversos domínios e, um órgão permanente da aristocracia romana, graças à sua organização, à sua composição e à sua auctoritas. Seu apogeu foi o apogeu da República Romana, como nos revela a fórmula o senado e o povo romano – senatus populusque romanus-, abreviada pela sigla SPQR.

As últimas décadas do século I a .C. marcaram a passagem de uma Roma oligárquica, cuja aristocracia mantinha a hegemonia do Estado, para a consolidação do

imperium, cuja organização social e política encontrava-se amplamente transformada

pela extensão das conquistas. Como acontecimento oficial o Principado fundou um poder, fez nascer um regime instituído pela monarquia de um chefe intitulado princeps.

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A concentração de poderes – o poder consular e tribunício, a totalidade do comando militar, civil e religioso - nas mãos do princeps, fortaleceu a idéia de uma transformação política que levou o espírito de liberdade republicano sucumbir diante do poder imperial do Principado. A autoridade do senado diminui substancialmente em favor do príncipe.

Para Cícero, tal mudança significou uma transformação na maneira de viver dos cidadãos: a antiga igualdade entre os senadores foi rejeitada em favor do atendimento às ordens do primeiro cidadão. As mudanças políticas fortaleceram os laços pessoais para o exercício do poder em Roma.

Neste sentido, a recomendação dos amigos ao exercício da vida pública se apresentava como um veículo reprodutor da estrutura de poder, onde era essencial a capacidade e a habilidade que o indivíduo dispunha para a aquisição de amigos, visando a formação de grupos com interesses políticos comuns.

Autoridade e poder pessoal eram elementos essenciais nas formas de condução do governo romano e possuíam uma inegável força de coesão social, vindo reforçar a estrutura de poder na sociedade.

Assim, para participar da vida pública de Roma, era necessário em primeiro lugar ser um cidadão romano. Para Andrea Giardina , obter a cidadania, significava que a relação dos que a possuíam seriam reguladas por um direito comum. Nessa sociedade, participar do circulo político requeria também ter nascimento, riqueza e prestígio. Além disso, ter o apoio de um líder político virtuoso era essencial para inserir-se no mundo da política.

O Conceito de amicitia

È neste contexto, que se desenvolve a amicitia, que podemos explica-la como sendo um instrumento de ação política que sugere diversas formas de envolvimento social como coloca R.L.B Venturini. Segundo ela, a amicita não era somente um laço de afeição, mas

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uma ligação objetiva baseada na assistência mutua e na fides, ou seja, na lealdade entre os

amici. Nas palavras de Maria Helena R. Pereira a fides é uma espécie de um juramento que

compromete ambas as partes na observância de um pacto “bem firme”.

Deste modo, a fides garante a reciprocidade entre os amicis, que podem envolver-se com indivíduos da mesma posição social e com os mesmos objetivos políticos, ou com parentes, ou ainda, com pessoas de ordens sociais distintas, que tem seus laços de confiança baseado no sistema de patronagem e clientelismo. Segundo o historiador Géza Alfoldy

“As relações sociais entre diferentes pessoas e grupos de pessoas baseavam-se, durante a republica – à acepção da relação entre senhor e escravo – na AMICITIA, quando se tratava de indivíduos com a mesma posição social, ou, pelo menos, com uma posição social não muito diferente, e na relação patronus-ciens quando havia uma grande diferença nos respectivos poder, prestigio e fortuna”.(1989,p.19)

Podemos perceber que a complexidade da sociedade romana exigia do homem político a necessidade de apoio e por isso, ter um grande número de clientes era essencial para manter-se na vida pública. Cabia aos membros envolvidos nessa relação política uma série de obrigações recíprocas; ao patrono o dever de proteger e ao cliente o dever de ajudar o patrono em caso de guerra, prestar-lhe serviços, e saúda-lo. Giordani faz uma reflexão sob o assunto ao afirmar que

“ As obrigações assim contraídas, embora não fossem sancionadas por lei ou fixadas em contrato, nem por isso deixaram de ser levadas a sério, tornando-se, em certos casos, até mesmo hereditário. Encontra-se cliente de toda espécie; uns pobres, contavam apenas com socorro material (sportula), que compreendia distribuição de víveres e de dinheiro; outros, de melhor condição econômica, desejavam um protetor, um advogado, um patronus. Os clientes, em retribuição à proteção a ao auxílio recebidos, prestavam homenagens ao patrão: iam saudá-lo pela manhã, acompanhavam-no em cortejo pelas ruas, e, principalmente, empenhavam-lhe voto.”

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(1972, p.187).

Para Maria Luiza Corassin “(...) o cliente devia também prestação de jornada de trabalho ao patrono, sinal de subordinação econômica.”( 2001, p.13)

O laço de dependência que se estabelecia entre o patrono e seu cliente contribuía para a consolidação do status social e político do patrono, já que possuri clientes era sinônimo de notoriedade e riqueza.

Metodologia

O estudo sobre a importância das relações fundadas na amicitia, que foram essenciais para a consolidação do poder de Roma, será realizado por meio da análise da obra de Marco Túlio Cícero, intitulada “Da Amizade”. Trata-se de uma obra literária escrita no ano 44 anterior a era cristã.

Sabemos que Cícero nasceu em Arpino no ano de 106a .C., e que sua família era pertencente a ordem eqüestre. Marco Túlio concretizou seus estudos iniciais e ao completar a maioridade continuou seu aprendizado sob os cuidados do senador e jurista romano Múcio Cévola, que o conduziu ao conhecimento das leis e das instituições políticas romanas.

Cícero dedicou-se aos estudos filosóficos, entrando em contato com a filosofia grega. Atuou como advogado e desenvolveu grande poder de oratória. Sendo homo novus, isto é, não pertencendo à família de tradição senatorial, conseguiu com base na eloqüência, chegar aos mais altos cargos da vida pública romana. Plutarco afirma que “(...) rapidamente colocou-se na primeira fileira, não por progressos lentos e necessários, mas por lances brilhantes e rápidos, ultrapassando, em curto prazo, todos os seus rivais na advocacia”.(1956, p.47).

Maria Helena R. Pereira argumenta que a oratória alcançou cedo um esplendor na sociedade romana, o que não acontecia com a filosofia. Contudo, afirma que Cícero soube

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conciliar a oratória e a filosofia.

Como já mencionado, Cícero conseguiu grande sucesso na vida pública, chegando a ser cônsul, a magistratura mais elevada na carreira das honras, no ano de 63 ac. Destacou-se como grande defensor da República, que para ele, era o sistema político mais eficiente, pois assegurava a liberdade dos cidadãos.

Em “Da Amizade”, Cícero reproduz um diálogo onde a temática é a amicitia, e que envolve três interlocutores: Lélio, Fânio e Cévola, pertencentes a aristocracia. Para o fortalecimento dessa relação coloca a necessidade das virtudes. Para tanto, ele utilizou os conceitos da filosofia estóica. Acreditava que o fundamento da relação entre amigos estava na própria natureza e por isso, só entre os bons poderia haver amizade verdadeira. Os homens bons e virtuosos poderiam manter o ideal político da libertas republicana.

Conclusão

Assim, podemos concluir que durante o período republicano, Roma passou por inúmeras transformações que fez consolidar o poder da aristocracia. Assim, os romanos dominaram o mediterrâneo aumentando sua zona de influência e constituíram, portanto, um imperialismo. Nesta época, a vitória sob Cartago na Segunda Guerra Púnica, em um aumento na quantidade de terras agrícolas, uma maior oferta de escravos, pois era a situação na qual os prisioneiros de guerra eram submetidos, e ainda, desenvolveu-se uma forte atividade comercial e monetária.

Essas mudanças refletiram na vida social de Roma, exemplo disso foi a constituição de uma nova ordem, os eqüestres. Estando ligados principalmente à atividade comercial, os membros dessa nova ordem foram adquirindo importância, embora, as famílias senatorias constituíssem a ordem principal. Deste modo, adquirindo riquezas e também prestígio, os eqüestres foram conquistando importantes cargos públicos e assim, inseriram-se na vida política, como é o caso de Cícero. Portanto, os membros dessa nova camada social necessitaram do apoio de amigos políticos para pertencerem ao círculo político, e também

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tiveram que buscar apoio de seus clientes. Fica evidente, portanto, que o envolvimento político constituído nas relações entre os amici foi essencial para a estruturação do poder em Roma. Este sistema possibilitou a permanência da aristocracia senatorial romana no poder e sua grande influência na vida pública. A amicitia definida por Marco Túlio Cícero deve ser lida no quadro de tais relações políticas.

Referências

Fonte Impressa

CÍCERO, Marco Túlio. Da Amizade. Trad. De: Gilson C.C de Souza. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

PLUTARCO – Cícero in. Vida dos Homens Ilustres – São Paulo: Atena,1956.

Bibliografia

ALFOLDY, Géza. História Social de Roma. Trad de Maria do Carmo Cary. Lisboa: Presença,1989.

BALSDON, J.P.V.D (org). O Mundo Romano. Trad de Victor M de Moraes. Rio de Janeiro: Zahar ,1968.

BRUN, Jean. O Estoicismo.Trad de João Amado. Lisboa: Edições 70,1968. CORASSIN, M.L. Sociedade e política na Roma antiga. SP: Atual, 2001.

FUNARI, Pedro Paulo de Abreu. Roma: a vida política e vida privada. São Paulo: Atual,1993.

GIARDINA, Andréa (org). O homem romano. Trad de Maria Jorge de Figueiredo. Lisboa: Presença, 1992.

GIORDANI, Curtis Mario. História de Roma. Antiguidade Clássica 2. Petrópolis: Vozes, 1972.

HARVEY, P. Dicionário Oxford de literatura clássica grega e latina. Rio de Janeiro: Zahar,1987

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PEREIRA, Maria Helena Rocha. Estudos de história da Cultura Clássica: cultura romana. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenmk,1984 (volume 2) .

VENTURINI, RLB. Relações de Poder em Roma: o patronato na correspondência pliniana. São Paulo/USP, 2000 (Tese de doutorado).

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