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O DESVIO ESTILÍSTICO: O CASO DOS METÁGRAFOS RESUMO

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Academic year: 2021

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O DESVIO ESTILÍSTICO: O CASO DOS METÁGRAFOS

Michelle Andressa Vieira Vanessa Damiati (G – CLCA-UENP/CJ) Vera Maria Ramos Pinto (Orientadora – CLCA-UENP/CJ) RESUMO

Metágrafos são infrações às regras ortográficas que têm função estilística. Muitos escritores sentem uma necessidade interior, de caráter emotivo, (MONTEIRO, 2005) em desrespeitar as normas do sistema ortográfico em suas composições. Sendo assim, nesta comunicação, temos como objetivo explicitar desvios estilísticos em anúncios publicitários, em tirinhas de HQ, na prática generalizada da cacografia dos oniônimos ou marcas de produtos industrializados e na de antropônimos a fim de esclarecer que os metágrafos não aparecem só nos textos literários, mas também no uso diário da língua.

1 Introdução

Para realizar uma análise estilística, não podemos nos ater em apenas identificar quais são as figuras de linguagem ou outros recursos que estão sendo utilizados (intencionalmente) pelo autor de uma obra. Há a necessidade de se avaliar o motivo que leva o autor a empregá-las naquele lugar específico da obra, naquele momento e descobrir o seu potencial estilístico.

No desvio estilístico, desvio que, segundo Bechara (p.668 ), é um desvio ocasional da norma gramatical vigente, a figura importante é a que obedece a uma mudança de sentido, atribuindo à obra novos significados.

Monteiro (2005) afirma que, quando um falante ou um escritor se comunica, se tem conhecimento da norma, ele respeita ou a transgride conscientemente, usando a sua criatividade.

Sendo assim, neste artigo, temos como objetivo estudar e analisar um desvio estilístico muito utilizado em tiras, em conversas virtuais e em imagens na internet em geral e também em letras de músicas, denominado “Metágrafo”.

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Os autores, quando escrevem e querem ser criativo, sentem a necessidade de expressar suas emoções, nesses casos, muitas vezes, desrespeitam, inclusive, as normas do sistema ortográfico, que deveriam ser cumpridas uniformemente (MONTEIRO, p.2005).

Para explicitar essa assertiva, Monteiro cita Raquel de Queiroz, que deu o título de um de seus romances de Dôra Doralina. Na época, o acento diferencial havia sido abolido por lei, mas, a autora, temendo que lessem o nome com o (ó) aberto Dóra, preferiu mantê-lo, Dôra.

Raquel de Queiroz quis associar o nome da personagem às conotações do lexema dor, por isso, a vogal tônica de Dora teria que ser fechada.

Essa e outras infrações à regra ortográfica têm função estilística e recebem a designação de Metágrafos, que se incluem entre os metaplasmos (alterações ou desvios que incidem na forma das palavras, na sua constituição fonética).

Um metágrafo pode ser também o alongamento da vogal, com valor superlativo ou intensivo, marcada graficamente pela repetição sucessiva da mesma letra. A repetição também pode ser do hífen ou de uma consoante, ou ainda com o acréscimo ou retirada de acentos gráficos, porém com o mesmo caráter expressivo citado anteriormente: de enfatizar a pronúncia.

2.1 Análise de metágrafos Texto 1

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O anúncio publicitário do aplicativo “Muu”, retirado do site

http://www.kiui.com.br/blog/2011/09/23/um-novo-aplicativo-na-appstore/, apresenta o

metágrafo “Muuito”.

No contexto, o Muu é o nome do modelo de aplicativo baseado no "TV Everywhere", que disponibiliza conteúdos de algumas programações que podem ser assistidas na íntegra em computadores fixos, laptops e dispositivos móveis como smartphones e tablets.

No anúncio, “muuuito” temos o metágrafo UUU, pois aparece com a vogal “u” repetida várias vezes, dando ênfase à pronúncia da mesma e levando o leitor a entender que esse aplicativo é muitíssimo bom, é muito mais TV do que qualquer outra já existente. É usado para efeito de marketing e também como forma de brincadeira entre o nome do aplicativo e a qualidade do produto.

Texto 2

Já, nesta tirinha da Mafalda, retirada do site http://clubedamafalda.blogspot.com.br/, há a presença do metágrafo “aaaaah!”, na interjeição AH!

Nesta tira, Mafalda está refletindo sobre a importância do dedo indicador e, ao aparecer em sua fala, 3º quadrinho, o metágrafo na interjeição “aaaaah!”, podemos entender que se trata do momento em que ela percebe o significado do dedo indicador, e o compara ao indicador de desemprego.

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Assim, na interjeição “Aaaaah!”, encontramos um metágrafo, pois a vogal “a” é repetida diversas vezes para auxiliar o leitor a entender o estado emocional de Mafalda no momento em que a mesma chega a uma conclusão, expressando surpresa, admiração.

Texto 3

A tirinha do Calvin, retirada do site http://alentejosolidario.blogspot.com.br, temos metágrafo na palavara “Mããe!”.

No contexto, a palavra “mãe” é um substantivo no qual aparece com a vogal “a” redobrada, constituindo-se em um metágrafo, que foi utilizado para dar a impressão de que Calvin está falando alto, está gritando pela sua mãe, para que ela venha até a porta ver o que ele deseja. Emprega-se esse metágrafo para que o leitor perceba o tom que Calvin está utilizando em sua fala, e também identifique a expressividade da tira.

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Na tirinha acima, do site http://tiras-snoopy.blogspot.com.br/, Lucy seduz Charlie Brown a realizar seu pedido, utilizando-se de uma voz “encantadora”.A menina fala “cantando”, como podemos perceber pelos desenhos de cifras musicais e pelo metágrafo em “ favoooorrr”, no terceiro quadrinho. A repetição da vogal “o” foi utilizada para enfatizar a pronúncia da palavra pela personagem.

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Neste anúncio publicitário do medicamento “Naldecon”, temos o metágrafo na palavra “Naldééécon”.

No contexto apresentando, Naldecon é o nome do medicamento utilizado para o combate à gripe. O uso do metágrafo e, “Naldééécon” ,tem a intenção de causar expressividade, pois o anúncio apresenta uma ovelha segurando os remédios. A repetição das letras “e” e a utilização do acento gráfico nas letras repetidas, “Naldééécon”, são recursos utilizados para representar o som que as ovelhas fazem: “méééé”, ou seja, o autor também emprega uma espécie de onomatopeia para atingir o efeito esperado. Esses recursos são empregados para efeito de marketing e propaganda para o medicamento, como também em forma de jogo, de brincadeira com as palavras.

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Nos quadrinhos acima, a personagem está cantando uma cantiga popular, porém o final da cantiga é alterado: “NÃO CAI NÃO, NÃO CAI NÃO, NÃO CAI NÃÃÃOOO”.

Primeiramente, podemos salientar o emprego de letra maiúscula no terceiro quadrinho, que representa a elevação de voz da personagem. No mesmo quadrinho, a última palavra, “NÃÃÃOOOO” é escrita com as vogais “a” e “o” repetidas, caracterizando-se como metágrafo, e nesse caso está demonstrando o desespero que o menino estava sentindo ao ver que o balão realmente estava caindo em sua mão, como mostra esse quadrinho e a sequência. A reduplicação das vogais é usada para mostrar o desespero e o perigo que a queda de um balão pode acarretar às pessoas e ao meio ambiente.

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Esta tira da turma da Mônica, retirada do site

http://www.monica.com.br/comics/tirinhas.htm, apresenta o metágrafo “iááááá´”.

Cebolinha está praticando karatê, enquanto Cascão segura uma tábua. Cebolinha, ao tentar quebrá-la, grita “iááááá”. Esse metágrafo foi utilizado para representar o grito de lutador da personagem, e para demonstrar que o mesmo foi longo e estridente. Podemos, como leitores, deduzir isso através da repetição da vogal “a” e pelo acento gráfico empregado na mesma.

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A música “É Tenso”, de Fernando e Sorocaba, disponível no site

http://www.youtube.com/watch?v=YCFxT3DDscI, apresenta a utilização de metágrafos, principalmente no refrão:

“É meu defeito, eu beebo mesmo, beeijo mesmo, peego mesmo

E no outro dia nem me leembro. É teenso demais!”.

A repetição da vogal “e” nas palavras “beebo", “beeijo", “peego”, “leembro" e “teenso" representam a entonação utilizada pelos cantores ao proferirem essas palavras, de forma a enfatizar a pronúncia das mesmas, alongando a vogal em questão, querendo afirmar que realmente fazem tudo o que estão dizendo.

3 Considerações Finais

Após analisar diversos gêneros textuais, foi-nos possível constatar quão importante o recurso do metágrafo se faz para a expressividade da mensagem que se deseja passar ao leitor.

A utilização de metágrafos, além de demonstrar criatividade por parte do autor, também causa a impressão de modernidade à obra e acaba por valorizar a mesma.

Podemos dizer que os desvios estilísticos em geral têm essa função expressiva e estilística, e no caso dos metágrafos, enriquecem o texto, tornando a leitura mais inteligível.

4 Referências

LAPA, M. Rodrigues. Estilística da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Acadêmica, 1970. MARTINS, Nilce S. Introdução à estilística: a expressividade na língua portuguesa. São Paulo: Queiroz, EDUSP, 1989.

MONTEIRO, José Lemos. A estilística: manual de análise e criação do estilo literário. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.

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599 Para citar este artigo:

DAMIATI, Vanessa; VIEIRA, Michelle Andressa. O desvio estilístico: o caso dos metágrafos. In: IX SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA SÓLETRAS - Estudos Linguísticos e Literários. 2012. Anais... UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná – Centro de Letras, Comunicação e Artes. Jacarezinho, 2012. ISSN – 18089216. p. 590-599.

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