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O ENSINO DE HISTÓRIA DA AMÉRICA LATINA A PARTIR DAS NOVAS ABORDAGENS HISTORIOGRÁFICAS. 1

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Academic year: 2021

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O ENSINO DE HISTÓRIA DA AMÉRICA LATINA A PARTIR DAS NOVAS

ABORDAGENS HISTORIOGRÁFICAS.1

Daniela Vallandro de Carvalho2

Elisabeth Weber Medeiros3

Resumo

Nesta comunicação, apresentamos discussões iniciais sobre o projeto desenvolvido pelo Curso de História da Unifra e professores da rede pública estadual e municipal, pensado como um local de elaboração e produção de formas alternativas do ensino de História da América a partir das novas abordagens teórico-metodológicas. Com esse projeto, o objetivo é fazermos o diálogo e a interação entre ensino fundamental e pesquisa universitária a fim de tentar romper essa dicotomia, tão presente no universo educacional brasileiro, que é a distância entre o que se produz academicamente e o que se tem ensinado nas escolas, sobretudo nas públicas. A escolha de História da América, como eixo central, deve-se não só à constatação da pequena presença de tais conteúdos nos programas de história das escolas de ensino fundamental, mas também pela necessidade que percebemos de um olhar mais aprofundado da realidade em que estamos inseridos como sujeitos históricos. A proposta está sendo desenvolvida através da construção de projetos de trabalho, para o ensino de História da América, que estejam ancorados nas novas abordagens historiográficas. Essa construção está sendo realizada em de discussões no Laboratório de História da UNIFRA e, posteriormente, concretiza-se na sala de aula das escolas participantes. Relegar o estudo de nossa realidade latino-americana, é retirarmos a oportunidade de reflexão e possibilidade de formação de espíritos críticos dos alunos sobre o espaço em que vivem, negando-lhes uma formação educacional que tem primado pela autonomia do indivíduo.

Palavras-chave: Ensino-pesquisa, História da América, Novas abordagens teórico-metodológicas

INTRODUÇÃO

O ensino da História da América tem sido, sistematicamente, relegado a um segundo plano no currículo do Ensino Fundamental e no Ensino Médio. A História ensinada nas escolas apresenta a civilização ocidental como padrão de referência em termos civilizatório e o eurocentrismo tem vigorado de forma unânime como modelo de ensino da História. A História da América, sobretudo da América Latina Contemporânea e Pré-colombiana, encontram-se no currículo, muitas vezes, diluída na própria História Geral ou na História do Brasil, sem ocupar

1 Projeto de Ensino . UNIFRA - 2006. 2 Professora de História UNIFRA. 3 Professora de História da UNIFRA

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um espaço específico, impossibilitando o seu aprofundamento. Estudamos com muito maior profundidade a antigüidade dos mesopotâmicos, dos gregos, dos egípcios, dos romanos e permitimos a ausência em nossos currículos de muitas culturas da América pré-colombiana, povos que, sabidamente, exerceram influências culturais sobre nós de forma indiscutível. Todavia, continuamos a refutá-los, em um ato consciente de negação de nossa identidade. Torná-los invisíveis significa abrirmos possibilidade para uma nova construção identitária que contemple apenas aspectos por nós previamente selecionados, como a construção histórica de nosso passado eurocêntrico, conquistador e vitorioso. O conhecimento histórico-escolar desconhece, ou conhece ainda muito pouco, a organização e complexidade dos povos que aqui existiam antes da chegada dos conquistadores. Assim, há uma carência de elementos que possam contribuir para uma reflexão crítica sobre as transformações provocadas pela chegada do homem europeu no contexto colonizador, o processo de exploração e opressão ocorridas. Poucos historiadores, principalmente aqueles que se dedicam à produção de materiais didáticos voltados para a Educação Básica, trabalham com as últimas descobertas da pré-história brasileira, descobertas que contribuem para uma discussão atualizada sobre a realidade que nos cerca.

É necessário refletir sobre o esquecimento histórico das culturas americanas, resultado dos séculos de colonização/exploração, marginalização e exclusão. Há, além disso, a necessidade de contemplar no currículo uma visão atual e mais completa da história dos povos americanos, contribuindo para o entendimento das dificuldades e possibilidades do continente diante da visão globalizante. As novas abordagens historiográficas se constituem em um terreno fértil para que a

“história de todos” aconteça4. O grande desafio é provocar discussões e novas experiências

didático-pedagógicas para que o ensino da história da América ocupe um maior espaço do currículo do Ensino Básico e se apresente dotado de um novo significado, tanto para os que ensinam como para aqueles que aprendem.

4 A História “vista de baixo” ou ainda a “história dos marginais” ou “dos excluídos”, proposta teórico-metodológica

que desse vez e voz a todos os grupos sociais que complexificam o jogo social em que estamos inseridos, começou a tomar corpo, historiograficamente falando, nos anos 60, através de um movimento dissidente da esquerda inglesa, denominada Nova Esquerda Britânica ou Neo-marxismo Inglês. Suas publicações foram de suma importância mundial para as gerações seguintes para propor reformulações na prática dos historiadores. Muitos reformularam suas ações, antes cristalizadas e ancoradas em um discurso forte, mas em uma prática muito pouco consistente. São expoentes desta geração E. P. Thompson, Dorothy Thompson, George Rude, Raymond Williams, Christhoper Will, e Eric Hobsbawm. Ver: THOMPSON, E. p. , 2001.

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O professor e as novas exigências

Vivemos, nos dias atuais, um clima de constante transformação que acarreta mudanças no nosso cotidiano e cria a imagem de que nada é definitivo. Ao mesmo tempo, percebemos um mundo menos sensível e humano. Acostumamo-nos a ler diariamente as manchetes sobre violência, guerras, miséria e fome e nos sentimos impotentes nesse mundo irracional que não se comove mais diante dessas questões. O sofrimento do povo iraquiano, os conflitos entre árabes e judeus, a miséria e a fome dos africanos, a violência nas grandes cidades latino-americanas e os poderes ilimitados das grandes potências são problemas até questionados, discutidos, mas sem perspectivas de superação.

Por sua vez, a sociedade passa também por um clima de insegurança social. O terrorismo e a violência levaram as pessoas a viverem “atrás das grades” como um mecanismo de defesa para enfrentar essa realidade que se torna cada vez mais extremada. Os acontecimentos dos últimos anos transformaram também as relações internacionais e o sistema de poder mundial. Os organismos que ontem definiam políticas e ações, mantendo um equilíbrio nas forças mundiais, hoje passam por um processo de deterioração e descredibilidade em decorrência da arrogância de algumas potências. O medo faz parte do cotidiano das pessoas. Os tempos são de violência e de exclusão: o consumismo e o individualismo parecem ter vencido a grande batalha. Pertencemos a um mundo em que ter se sobrepõe a ser e quem não consome é um excluído, se tornando um pária social.

Nesse mundo é que vive o professor. Essa é a realidade na sala de aula, em casa, nos diversos grupos a que estamos ligados. As nossas escolas estão repletas de crianças que sofrem a ação dos conflitos sociais, que vivem nas ruas, de jovens que enfrentam de forma precoce o mercado de trabalho e chegam sem muitas perspectivas, descrendo que a escola possa modificar seus horizontes. Vivemos, diariamente, essa realidade e as nossas incertezas se avolumam diante da complexidade dos problemas apresentados pelo mundo atual e real.

As mudanças culturais, sociais e econômicas ocorrem diante dos nossos olhos e debaixo de nossos pés, tiram muitas vezes o nosso chão, mostrando profundas fendas no nosso modo de vida. Como professores e educadores, precisamos conhecer a direção dessas mudanças, para ajustá-las às nossas necessidades. Nunca as pessoas tiveram tantos recursos à disposição de seu desenvolvimento, no entanto, nunca o homem se sentiu tão inseguro e descartável como nos dias atuais.

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Por outro lado, vivemos num mundo em que o dinamismo da economia internacional nos envolve num processo de globalização que torna difícil o entendimento sobre os valores que permeiam o mundo do trabalho e as relações de poder, assim como também os novos conceitos de tempo e de espaço.

Esse cenário atinge também o campo da educação que passa por intensas mudanças, verificando-se a crescente difusão de teorias que se desenvolvem em torno da problemática do conhecimento. A perspectiva construtivista exerce hoje grande influência nas práticas pedagógicas, trazendo para os processos de construção do conhecimento novas contribuições. A questão curricular, foco de novos estudos, sofre intensos questionamentos com o objetivo de discutir a validade dos conhecimentos transmitidos pela escola. A formação de professores é, provavelmente, nesse contexto uma das áreas mais sensíveis às mudanças. Nóvoa (1995), quando trata deste tema, assim se refere:

Os valores que sustentaram a produção contemporânea da profissão docente caíram em desuso, fruto da evolução social e da transformação dos sistemas educativos; os grandes ideais da era escolar necessitam de ser reexaminados, pois já não servem de norte à ação pedagógica (p. 28).

Como resposta às transformações, surgem inúmeras propostas de renovação pedagógica, incluindo-se aqui o ensino da História da América, objeto de debate e polêmica, colocando em xeque a identidade e validade do ensino praticado.

Os cursos de formação de professores, especialmente de História, têm procurado adaptar-se às exigências atuais, aos novos debates historiográficos e aos novos desafios que uma educação do século XXI exige. O Curso de História da UNIFRA, com uma proposta ainda em construção, tenta superar dois pontos considerados críticos: a dicotomia licenciatura/bacharelado e a relação teórico-prática, ou seja, desencadear ações que visem à produção do conhecimento histórico e uma maior relação com as escolas de Educação Básica.

A excelência de ensino, finalidade institucional e peça fundamental buscada pelos Centros Universitários, é entendida aqui como o ensejo de um ensino que compreenda os conhecimentos básicos e complementares de História como os referentes ao processo de ensino e de aprendizagem da Educação Básica. Além disso, implica também um processo de formação profissional e científica que articule, na prática e para além da mera formulação retórica, as dimensões do ensino, da pesquisa e da extensão, de forma reflexiva e criativa.

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Uma proposta para o ensino de História da América: considerações iniciais

O ensino de História da América esteve durante séculos ancorado em fontes narrativas de cronistas europeus, criando uma imagem de sujeição e de impotência dos americanos em narrar ou construir a própria história. Da constatação dessas bases e da pequena presença dessa história nos livros didáticos e nas aulas de História da Educação Básica, sentiu-se a necessidade de aprofundar o tema através de uma proposta de trabalho.

A proposta está sendo desenvolvida através de sessões de estudos e da construção de projetos de trabalho para o ensino de História da América que estejam ancorados nas novas abordagens historiográficas. Essa construção é realizada, em discussões preliminares no Laboratório de História da UNIFRA e, posteriormente, será concretizada nas salas de aula das escolas participantes.

Os participantes são professores do Curso de História da UNIFRA, acadêmicos voluntários do curso para acompanhamento e auxílio aos docentes do Ensino Fundamental, no que se refere à alcance de recursos bibliográficos, confecção de recursos didáticos e professores

do Ensino Fundamental da rede pública estadual e municipal5.

Para o desenvolvimento do projeto, são realizadas reuniões quinzenais no Laboratório de História. Num primeiro momento, foram realizadas sessões de estudo e discussões sobre as novas abordagens teórico-metodológicas, a fim de pensar as renovações que vêm ocorrendo no campo historiográfico, em particular em História da América, a fim de auxiliar no embasamento e na construção de instrumentos mais eficazes e didaticamente mais compatíveis com a realidade atual apresentada não só pelas renovações que citamos mas também pelas mudanças operadas no seio do conhecimento histórico; mudanças essas que o ensino fundamental e as escolas não podem prescindir, se temos o ensino básico como pressuposto da formação cidadã e crítica dos alunos.

Posteriormente, foram feitas discussões sobre os planos de ensino trabalhados nas escolas pelos professores que integram o grupo, a fim de verificarmos as possíveis ausências e/ou inconsistências no que se refere a conteúdos de História da América contemplados por estes

professores em suas aulas, no ensino fundamental, de 5o a 8o série. Nessa análise, constatamos as

ausências de alguns temas julgados importantes. Desses conteúdos, dois deles foram

5 Os participantes do projeto são: Acadêmicos voluntários: Fernanda Daroda Dellaméa, Denise de Fátima Oliveira,

Alexandre dos Santos Bento, Carolina Bitencourt Becker, Cristiane Daruma; Professores de Ensino Fundamental: Margareth Razzera Stefanon e Liliane Jornada de Oliveira; Professores da UNIFRA: Elisabeth Weber Medeiros e Daniela Vallandro de Carvalho.

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selecionados: História dos Povos Pré-colombianos e Estado Oligárquico na América Latina. Nesse sentido, iniciou-se a construção propostas que contemplem os conteúdos selecionados e estejam vinculados às novas abordagens teórico-metodológicas.

Contudo, tal processo de construção de propostas não poderia ser levado adiante sem termos presentes alguns problemas existentes no ensino de História nos anos fundamentais de formação dos alunos. Assim, a existência de uma pequena carga horária para o ensino de História, bem como a extensa carga de conteúdos programáticos a serem trabalhados com os alunos, se colocam como questões pertinentes a serem solucionadas na hora de elaboramos recursos que tentem suprir as inconsistências antes postas. Nesse sentido, passamos a pensar tal produção de recursos e métodos didáticos sob a forma de “grandes temáticas” relacionadas ao dois conteúdos que verificamos serem os mais prejudicados no ensino de História da América, no Ensino Fundamental. Assim, tendo em vista o problema “tempo” e “extensos conteúdos” tentamos criar recursos mais eficientes levando em conta a realidade dos professores, bem como a idéia que nos norteia, isto é, novas abordagens teórico-metodológicas que apresentem alternativas ao ensino tradicional, sabidamente superado e refutado pelos alunos.

Nesse sentido, também nos vemos realizando um de nossos objetivos fundamentais, a interação da realidade escolar com o universo acadêmico, fazendo-se cumprir um dos elementos fundamentais na constituição da idéia de uma universidade, isto é, a universalização do saber e troca constante de problemas e soluções com a sociedade na qual está inserido e não o encastelamento do saber, como constantemente se verifica.

Atualmente encontramos-nos no estágio de definição de temáticas para cada um dos dois conteúdos selecionados. Como atividade final, as propostas construídas serão experienciadas pelos professores participantes e divulgadas através de um CD-ROM.

Não pretendemos encerrar aqui tais discussões por se tratarem de considerações iniciais de um projeto em desenvolvimento, sobretudo, por ser a educação um tema, um problema e um desafio que deve e merece ser constantemente debatido em nossa sociedade cada vez de forma mais ampla e aberta, impingindo aos educadores o compromisso diário com as mudanças que se operam em nossa sociedade e às quais nós, educadores, não podemos fechar os olhos.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

NÓVOA, Antonio (Org.). Profissão Professor. Portugal: Porto Editora, 1995.

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. História. Secretaria de Educação Fundamental.

Brasília : MEC/SEF, 1998.

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DO CURSO DE HISTÓRIA – UNIFRA. 2002.

THOMPSON, E. P. As Peculiaridades dos Ingleses e outros artigos. Campinas, São Paulo: Ed. Unicamp, 2001.

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