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HISTÓRIA DA MATEMÁTICA E O ENSINO DA RAZÃO ÁUREA: UMA SEQUÊNCIA DE ATIVIDADE

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HISTÓRIA DA MATEMÁTICA E O

ENSINO DA RAZÃO ÁUREA:

UMA SEQUÊNCIA DE ATIVIDADE

Ana Caroline Frigéri Barboza (UEM)

Erica Gambarotto Jardim Bergamin (Unicesumar)

Lucieli M. Trivizoli (UEM)

O presente texto tem por objetivo apresentar uma possibilidade de inserção da História da Matemática para a sala de aula, abordando o ensino do conteúdo Razão Áurea. É válido ressaltar que essa proposta tem o intuito de elucidar que é possível abordar um conteúdo matemático por meio da História da Matemática como um recurso pedagógico. Desse modo, o presente texto concerne ao enfoque da História na Educação Matemática, um campo de investigação da História da Matemática que procura corroborar com propósitos destinados à formação de professores, ao processo de ensino e aprendizagem, bem como a relação entre professor, aluno e ambiente escolar (MIGUEL; MIORIM, 2004).

De acordo com Mendes e Chaquiam (2016, p. 12), o contexto histórico envolvendo a matemática desenvolvida em determinado(s) período(s) contribui para “desafiar a capacidade dos alunos para exercitarem estudos, pesquisas e problematizações que estimulem suas estratégias de pensamento e, daí culminar na sua produção de conhecimento durante a atividade de estudar”. Ressalta-se que é nesta

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perspectiv a que se embasa este escrito, pois busca-se apresentar uma proposta de atividades que enfatiza o contexto histórico do desenvolvimento da Razão Áurea para ensinar e proporcionar reflexões sobre alguns aspectos desta razão. A seguir, apresenta-se uma sugestão de sequência de atividades e direcionamentos relacionados ao conteúdo supracitado.

Para a introdução do tema tem-se como sugestão fazer questionamentos como: “Vocês já ouviram menções sobre a Razão

Áurea?”, “O que vocês conhecem sobre a Razão Áurea?”. Assim, tem-se

a possibilidade de valorizar os conhecimentos que os alunos já possuem, relacionando-os ao modo como a Razão Áurea é retratada por muitos historiadores e propiciando uma interação entre professor e alunos.

Em seguida, uma possibilidade é realizar uma contextualização histórica abrangendo que “a primeira definição clara do que mais tarde se tornou conhecido como a Razão Áurea foi dada por volta de 300 a.C. pelo fundador da geometria como sistema dedutivo formalizado, Euclides de Alexandria” (LIVIO, 2006, p. 13). Sendo assim, o primeiro registro histórico sobre a Razão Áurea se encontra no VI Capítulo do Livro “Os Elementos” de Euclides, em que o autor aborda a construção do pentagrama, símbolo demasiadamente utilizado pelos antigos pitagóricos.

Conforme indicado na citação anterior, nesta época a denominação “Razão Áurea” ainda não era conhecida e, para denotar um segmento dividido de modo a conter esta razão, era utilizada a expressão “dividir um segmento em média e extrema razão” (BOYER, 2010, p. 35). Essa ação de explicar sobre a origem do conceito e de deixar claro que sua denotação nem sempre foi a mesma, contribui para mostrar aos alunos que os conceitos matemáticos passam por evoluções e se desenvolvem conforme as necessidades humanas.

Para esclarecer a expressão mencionada, de acordo com o Clube de Matemática da OBMEP, pode-se apresentar a seguinte definição:

Seja C o ponto que divide um segmento 𝐴𝐵 em média e extrema razão.

Chamamos de Razão Áurea, a razão entre os comprimentos do maior e do menor segmentos resultantes da divisão inicial do segmento 𝐴𝐵, ou

seja, a

b .

Assim, os alunos poderão perceber que segmentos divididos em média e extrema razão atendem à seguinte proporção: a razão do comprimento de 𝐴𝐵 para o comprimento de 𝐴𝐶 é igual à razão do

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comprimento de 𝐴𝐶 para o comprimento de 𝐶𝐵 (LIVIO, 2006). Sugere-se a utilização do software Geogebra como apoio para construir um segmento que contém a Razão Áurea e assim possibilitar que os alunos tenham uma noção geométrica desta razão.

Para construir um segmento que contém esta razão, Boyer (2010) apresenta que Euclides construía primeiro sob o segmento 𝐴𝐵 um quadrado 𝐴𝐵𝐶𝐷, e então construía o ponto médio 𝐸 sobre o lado 𝐴𝐶, traçava o segmento 𝐸𝐵 e prologava a reta que contém os pontos 𝐶, 𝐸 e 𝐴 até 𝐹, de modo que 𝐸𝐹 = 𝐸𝐵. Assim, co mpletava-se o quadrado 𝐴𝐹𝐺𝐻 e o ponto 𝐻 no segmento 𝐴𝐵 é o ponto procurado.

Na continuidade, pode ser proposta a Atividade 11, que tem como

objetivo proporcionar que os alunos encontrem o número irracional que é gerado pela Razão Áurea (também chamada de Razão Dourada), bem como sua representação decimal e fracionária, a partir da definição já apresentada.

Atividade 1: Se |AB| = 1 e |AC| = x, encontre o valor numérico para a razão dourada.

Conforme definição apresentada, uma possível estratégia de resolução para a Atividade 1 pode ser: 1

𝑥= 𝑥 1−𝑥⇒ 𝑥

2 + 𝑥 − 1 = 0 ⇒ 𝑥 = −1±√5

2 . Selecionando o valor positivo, temos . E,

considerando, por exemplo, a razão 1

𝑥, a razão dourada será

.

Na continuidade, após os alunos conhecerem o Número de Ouro, ou seja, o valor numérico relacionado à Razão Áurea, é relevante propiciar discussões acerca da presença de representações deste número na natureza, uma vez que há muitos mitos acerca deste assunto. Assim, na sequência, sugere-se solicitar aos alunos que realizem a Atividade 22, em que o objetivo é construir um Retângulo de Ouro e verificar onde se encontra a razão dourada em tal retângulo.

1 Atividade retirada do livro “Learning Activities from the History of Mathematics” de

Swetz (1994).

2 Atividade retirada do livro “Learning Activities from the History of Mathematics” de

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Atividade 2: Um retângulo cujo lados estão sob a medida da razão dourada é conhecido como retângulo de ouro. Utilizando a régua e compasso, construa um retângulo de ouro seguindo os seguintes passos:

a. Construa um quadrado ABCD. b. Construa o ponto médio 𝑀 de 𝐶𝐷̅̅̅̅.

c. Construa o ponto E que está no prolongamento do segmento 𝐷𝐶⃡ tais que 𝑀𝐵̅̅̅̅̅ ≅ 𝑀𝐸̅̅̅̅̅.

d. Encontre o ponto 𝐹 que situa na perpendicular traçada por 𝐸 a 𝐴𝐵⃡ . e. O retângulo AFED é o retângulo dourado.

Fazer a validação.

Para a socialização acerca do modo como identificam a Razão Áurea no Retângulo de Ouro, é interessante promover uma discussão para que os alunos indiquem quais segmentos do retângulo construído devem ser utilizados a fim de encontrar a razão dourada e, conforme as indicações, tem-se como sugestão que o professor vá realizando a verificação no software Geogebra. Após essa discussão, o professor deve esclarecer que o Retângulo de Ouro é um retângulo cuja razão entre a medida do lado maior e a medida do lado menor é a razão dourada, razão esta que resulta no Número de Ouro.

Em seguida, o professor pode solicitar aos alunos que pesquisem, com seus celulares e notebooks, objetos do cotidiano e construções históricas que “contém” a Razão Áurea. Esta ação pode ser um momento muito rico da aula, pois tem-se a oportunidade de desconstruir com os alunos alguns mitos referentes à presença da Razão Áurea em construções, monumentos, pinturas e objetos. Para promover uma reflexão com relação à veracidade de algumas informações contidas na internet, o professor poderá utilizar as próprias informações históricas, por exemplo, presentes em Livio (2006), como apoio para explicar o porquê de algumas indicações sobre a presença da Razão Áurea não poderem ser comprovadas cientificamente. Indica-se, como direcionamento, reflexões e discussões acerca de duas situações: o monumento histórico Partenon e a obra de arte Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, pois estes são comumente associados à Razão Áurea.

No que diz respeito ao primeiro monumento histórico, muito autores afirmam que a sua parte frontal se enquadra impecavelmente em um Retângulo Áureo. No entanto, alguns historiadores vão contra essa asserção, indicando que partes do Partenon vão além do Retângulo, como

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por exe mplo, as extremidades do pedestal; outra contestação indica que as dimensões do Partenon variam conforme determinadas fontes (LIVIO, 2006).

Com relação à Mona Lisa, há indícios de que no formato de seu rosto possa-se encaixar um Retângulo Áureo, todavia, faltam-se indicativos sobre qual lugar em específico o Retângulo poderia se localizar, ou seja, não há comprovações científicas que garantem a presença deliberada da Razão Áurea na Mona Lisa, e de maneira semelhante, no Partenon (LIVIO, 2006). O autor supracitado ainda reitera que as ideias apresentadas refletem mais um “forçar para se encontrar” a Razão Áurea do que de fato constatar a presença desta razão nestes monumentos históricos.

Na sequência, tem-se a sugestão da Atividade 33, que tem como

objetivo propiciar que os alunos conheçam e explorem a representação de um objeto histórico que usa deliberadamente a Razão Áurea em sua construção.

Atividade 3: Os pitagóricos usavam o pentagrama como seu símbolo secreto. Dado um pentágono regular, se todas as diagonais possíveis são desenhadas dentro desse pentágono, então temos formada uma estrela pentagonal regular. Esta estrela é chamada de pentagrama. Um pentagrama possui muitas propriedades incomuns, uma delas é a que ele gera um outro pentágono no qual outra estrela

pentagonal pode ser formada, então o pentagrama gera ele mesmo. Além disso o pentagrama contém muitas razões douradas. Dado um pentagrama, verifique onde se localiza a Razão Áurea.

Conforme mencionado no enunciado, a razão entre vários dos segmentos que compõem o pentagrama contém a Razão Áurea. Sendo assim, para realizar a verificação (com precisão) de que a divisão entre

3 Atividade retirada do livro “Learning Activities from the History of Mathematics” de

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determinados segmentos resulta n o Número de Ouro, indica-se que seja feito o cálculo da divisão no software Geogebra.

Após este momento, é interessante explicar aos alunos que, no pentagrama, a razão entre o comprimento da diagonal do pentágono que o compõe e o comprimento do lado desse mesmo pentágono é igual ao Número de Ouro. Cabe ressaltar que Boyer (2010) levanta a hipótese de que talvez este símbolo possa ter sido o “causador” do descobrimento da incomensurabilidade (e não a diagonal de um quadrado, conforme a maioria de nós conhecemos), uma vez que quando se traçam as cinco diagonais de um pentágono, elas formam um pentágono regular menor e a diagonais desse segundo pentágono, por sua vez, formam o terceiro pentágono ainda menor. “Esse processo pode ser continuado indefinidamente, resultando em pentágonos tão pequenos quanto se queira e levando a conclusão de que a razão da diagonal para o lado num pentágono regular não é racional” (BOYER, 2010, p. 50).

Outra constatação interessante nas medidas dos segmentos que compõem este símbolo histórico está no fato de que se considerarmos cada segmento do pentagrama em ordem decrescente de comprimento, a razão entre cada segmento e seu antecessor é igual à Razão Áurea, ou ao Número de Ouro (LIVIO, 2006). Ou seja, utilizando algumas medidas de segmentos do pentagrama da Atividade 3, podemos ter:

A partir desta atividade, pode-se discutir com os alunos a respeito da influência da civilização grega para o desenvolvimento do conteúdo Razão Áurea. Depois disso, avançando na cronologia histórica, o professor poderá explicar que após esta civilização houve outras civilizações que contribuíram para o desenvolvimento do conteúdo Razão Áurea, mas que estudos conhecidos e que se destacaram surgem com Leonardo de Pisa (conhecido como Leonardo Fibonacci) no século XII. Assim, pode-se apresentar uma breve biografia deste matemático para propor a Atividade 44, que tem como objetivo apresentar uma solução para o problema dos coelhos presente no livro “Liber Abacci”, de Leonardo Fibonacci, para posteriormente investigarem os números da sequência de Fibonacci e descobrir o porquê da sequência de Fibonacci estar relacionada ao Número de Ouro.

4 O enunciado da atividade foi retirado do livro “História da Matemática” de Boyer

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Atividade 4: “Quantos pares de coelhos serão produzidos num ano, começando com um só par, se em cada mês cada par gera um novo par que se torna produtivo a partir do segundo mês?” (BOYER, 1974, p. 186)

O número de pares de coelhos de cada mês no problema apresentado forma os primeiros termos da sequência de Fibonacci. Essa sequência possui a propriedade de que a partir do terceiro termo, cada termo é igual à soma dos dois termos precedentes (os 12 primeiros termos dessa sequência são apresentados no quadro 1). Dessa forma, assim que os alunos resolverem o problema e conhecerem os primeiros termos da sequência de Fibonacci, o professor poderá instigá-los a responderem a seguinte pergunta: Qual a relação entre o problema dos coelhos de

Fibonacci e a Razão Áurea? Para respondê-la, os alunos terão que

investigar mais propriedades dos termos que compõem a sequência de Fibonacci.

Espera-se, com a exploração dos termos da sequência e com a condução do professor, que os alunos percebam que a divisão entre um número de Fibonacci e seu precedente leva a aproximações do Número de Ouro quando se avança para valores cada vez maiores na sequência, conforme é apresentado no quadro abaixo.

N 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Fn 1 1 2 3 5 8 13 21 34 55 89 144 Fn/ Fn-1 1/ 1= 1 2/ 1= 2 3/ 2= 1, 5 5/3 = 1,66 67 8/ 5= 1, 6 13/ 8= 1,6 25 21/1 3= 1,61 538 34/2 1= 1,61 905 55/3 4= 1,61 765 89/5 5= 1,61 818 144/ 89= 1,61 798

Quadro 1 – Divisão de um número de Fibonacci por seu antecessor Fonte: Belini (2015, p. 38)

A partir disso, explica-se que em termos matemáticos significa que 𝐹𝑛

𝐹𝑛−1

tende para 1+√5

2 quando n tende a infinito (BELINI, 2015), ou seja,

Para finalizar a sequência de atividades acerca do tema Razão Áurea, sugere-se uma apresentação cronológica com momentos históricos

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que caracterizam a evolução do tema retratado, desde especulações sobre sua origem até os dias atuais.

Ao apresentar esta linha do tempo é relevante retomar com os alunos as discussões feitas sobre o contexto histórico em que surge a Razão Áurea, os diferentes momentos da história que caracterizam as evoluções da Razão Áurea, bem como a influência de determinadas obras (por exemplo, Divina Proportione, de Luca Paccioli) para o surgimento de alguns mitos referentes à presença desta razão na natureza.

Espera-se que com essa sequência de atividades e direcionamentos pedagógicos, possa-se desfrutar do conteúdo Razão Áurea de forma mais rica e produtiva, contemplando a contextualização histórica do desenvolvimento do tema elencado de modo a destacar contribuições já presentes em produções científicas e oportunizar o encaminhamento de futuras propostas para o ensino de Matemática por meio da História da Matemática.

É válido ressaltar sobre o auxílio do software Geogebra para o desenvolvimento da sequência de atividade apresentada, no que diz respeito ao tempo destinado às atividades, bem como a precisão nas medições solicitadas, uma vez que o Número de Ouro é um número irracional. Ainda, reitera-se que esta sequência de atividades pode ser desenvolvida desde o Ensino Básico ao Ensino Superior, cabendo ao professor adaptá-la de acordo com o nível de ensino e seu objetivo.

Referências

BELINI, M. M. A razão áurea e sequência de Fibonacci. 2015. 67 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional). Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação. Universidade de São Paulo. São Carlos: SP.

BOYER, C. B. História da matemática. 3ª ed. São Paulo: Blucher, 2010. LIVIO, M. Razão Áurea: a história de Fi, um número surpreendente. Tradução de Marco Shinobu Matsumura. Rio de Janeiro: Record. 2006. MENDES I. A.; CHAQUIAM, M. História nas aulas de matemática: fundamentos e sugestões didáticas para professores. Belém: SBHMat, 2016.

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MIGUEL A.; MIORIM M. A. História na Educação Matemática: Propostas e Desafios. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

SWETZ, F. J. Learning Activities from the History of Mathematics. Portland: J. Weston Walch Publisher, 1994.

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