EFEITO DO NÍVEL DE SUPLEMENTAÇAO ENERGÉTICA SOBRE O CONSUMO DE
MATERIA ORGÂNICA DIGESTÍVEL DE BOVINOS1
A
UTORESHAROLD OSPINA PATINO2, FABIO SCHULER MEDEIROS3, GIOVANNI MATEUS MALLMANN4, MIKAEL NEUMANN5
1 Trabalho financiado com recursos da FAURGS
2 Zootecnista, D.Sc. Professor adjunto do Departamento de zootecnia, Faculdade de Agronomia - UFRGS. Av. Bento Gonçalves, 7712. Cep: 91.540-000. Porto Alegre- RS. Email: Ospina@orion.ufrgs.br
3 Méd. Veterinário, Aluno do Programa de Pós Graduação em Zootecnia, UFRGS. Email: fabiom.voy@terra.com.br 4 Eng. Agrônomo, Aluno do Programa de Pós Graduação em Zootecnia, UFRGS.
5 Eng. Agrônomo, M.Sc. Aluno do Programa de Pós Graduação em Zootecnia, UFRGS.
R
ESUMOFoi conduzido um experimento com o objetivo de avaliar a influência de diferentes níveis de suplementação energética sobre o consumo de materia orgânica digestível. Foram utilizados 15 bezerros da raça Hereford com peso médio de 226 kg, num delineamento em blocos casualizados. Os tratamentos avaliados foram:T1 - feno de Alfafa (Medicago sativa) + sal mineralizado;T2-feno de Alfafa + concentrado energético ao nível de 0,4% peso corporal (PC);T3 -feno de Alfafa+concentrado energético ao nível de 0,8% PC e T4 -feno de Alfafa +concentrado energético ao nível de 1,2% PC. Foi conduzido um ensaio de digestibilidade convencional. A degradabilidade ruminal da proteína e da matéria orgânica do feno e dos suplementos foi determinada através da incubação in situ nos tempos 0, 1, 3, 5, 12, 24, 48, 72 e 96 para o feno e 0, 1, 3, 5, 12, 14 e 48 horas para os concentrados. O nível de suplementação aumentou linearmente o coeficiente de digestibilidade da MO (p<0,001) sem que a digestibilidade dos componentes da parede celular fosse afetada (p>0,01). O consumo de MO do feno diminuíu linearmente com o nível de suplementação (p<0,01) gerando um coeficiente de substituição de 0,81.Contudo o consumo de matéria orgânica digestível aumento linearmente (p<0,01) mostrando que a suplementação energética pode ter otimizado a relação entre o nitrogênio e a energia disponíveis a nível ruminal, para o crescimento dos microrganismos que digerem a fibra.
P
ALAVRAS-
CHAVEMilho, Alfafa, Feno, Consumo, Digestibilidade, Suplementação
T
ITLEEFFECT OF THE ENERGETIC SUPPLEMENTATION LEVEL ON THE DIGESTIBLE ORGANIC MATTER INTAKE OF BEEF STEERS
A
BSTRACTAn experiment was led with the objective of evaluating the influence of different levels of energy supplementation on intake of digestible organic matter. he material was composed by 15 Hereford steers, average weight of 226 kg, in a randomic block design. The treatments evaluated were:T1 Lucern hay (Medicago sativa) + minerals;T2 -Lucern hay + cracked corn at the level of 0,4% live weigh (LW);T3--Lucern hay + cracked corn at the level of 0,8% LW and T4 -Lucern hay + cracked corn at the level of 1,2% LW. A conventional digestibility assay was led. Hay and supplemens ruminal degradability were determined by in situ incubation at the times of 0, 1, 3, 5, 12, 24, 48, 72 and 96 for the hay and 0, 1, 3, 5, 12, 24 e 48 hours for the supplements. The supplementation level linearlly increased the organic matter digestibility coefficient (p <0,001) without affecting the digestibility the cell wall components (p>0,01). Organic mater intake of the hay decreased lineally with the supplementation level (p <0,01) producing a substitution coefficient of 0,81.Likewise digestible organic mater intake increased (p <0,01) showing that energy supplementation might have optimized ruminal relationship between nitrogen and available energy, for the growth of the fiber digesting microorganisms
K
EYWORDSCorn, Lucern, Hay, Intake, Digestibility, Supplementation
I
NTRODUÇÃOA suplementação tem como principal objetivo melhorar o desempenho e manter a qualidade dos produtos obtidos (carne e leite) com animais consumindo dietas ricas em volumosos. O grande desafio é otimizar o ambiente ruminal de modo a maximizar a diponibilidade de nutrientes metabolizáveis para geração de produto animal. Via de regra isto não ocorre porque as respostas a suplementação não são aditivas como consequência dos efeitos associativos existentes entre os ingredientes que compoem as dietas dos ruminantes. Estes efeitos tornam-se evidentes devido a mudanças no consumo (efeito substitutivo) e/ou na digestibilidade dos componentes fibroso do volumoso. A suplementação de volumosos de alta qualidade com ingredientes
energéticos causa maiores efeitos sobre o consumo do que sobre a digestibilidade (DIXON E STOCKDALE,
1999),sendo o inverso verdadeiro para volumoso de baixa qualidade (PATERSON ET.A L.,1994). O efeito associativo
mais procurado na suplementação energética é a substituição com adição, pois apesar de ococrrer uma diminuição no consumo de volumoso observa-se um aumento no consumo total de energia. Este tipo de resposta pode ocorrer por alterações nas condições do ambiente ruminal (pH, amônia, etc.) que otimizam o
crecimento de microrganismos fibrolíticos (ELIZALDE, 1999).O objetivo deste trabalho foi avaliar a influênc ia de
diferentes níveis de suplementação energética sobre o consumo de materia orgânica digestível (energia) numa situação onde a disponibilidade de volumoso de alta qualidade não foi limitante.
M
ATERIAL E MÉTODOSO trabalho foi conduzido no Laboratório Nutrição de Ruminantes (LANUR) do Deptº de Zootecnia-UFRGS.
Foram utilizados 15 novilhos da raça Hereford, inteiros, com idade média de 18 meses e peso médio de 226 kg
. Antes do inicio do experimento os animais foram everminados com 5 ml de ivermectina e receberam uma
dosificação de 5 ml de complexo vitamínico ADE. Durante todo o experimento os animais foram estabulados em
gaiolas metabólicas individuais com comedouros para volumoso, concentrados e sal mineralizado. Foi
conduzido um ensaio de digestibilidade convencional composto por três períodos de 5 dias cada: período de
adaptação às dietas, período de determinação do consumo máximo e período para determinação da produção
fecal. Os animais foram pesados a cada 5 dias e sua dieta ajustada. A alimentação dos animais consistiu no
fornecimento ad libitum de feno alfafa (Medicago sativa) e suplementação conforme o tratamento. Foram
avaliados os seguintes tratamentos:T1-feno de Alfafa+sal mineralizado;T2-feno de Alfafa+concentrado energético
(0,4% peso corporal (PC); T3-feno de Alfafa+concentrado energético (0,8% PC); T4-feno de Alfafa+concentrado
energético (1,2% PC). Nas amostras de feno, sobras e fezes foram determinados os teores de matéria seca,
matéria orgânica, proteína bruta (AOAC, 1995), FDN, FDA e LDA (V
ANS
OEST ER
OBERTSON, 1985). A
digestibilidade do suplemento foi calculada conforme metodologia proposta R
YMER(2000). A degradabilidade
ruminal da proteína e da matéria orgânica do feno (moído a 3 mm) e dos suplementos foi determinada através
da incubação in situ nos tempos 0, 1, 3, 5, 12, 24, 48, 72 e 96 para o feno e 0, 1, 3, 5, 12, 14 e 48 horas para
os concentrados (G
ONZALES ET AL., 1990). Foi utilizado um bovino Hereford de aproximadamente três anos e
meio de idade, com 450 kg, fistulado no rúmen e alimentado com uma dieta de feno de alfafa ad libitum e milho
moído ao nível de 0,4% do PC. A incubação foi realizada em ordem inversa com retirada simultânea utilizando
uma quantidade de amostra ajustada a relação de 0,12 g/cm2 . Após a retirada do rúmen os sacos de náilon
foram lavados mecanicamente e secos em estufa de ventilação forçada durante 72 horas a 60 ºC. Os dados
sobre degradabilidade ruminal da MS, MO e PB foram ajustados ao modelo proposto por O
RSKOV EM
CD
ONALD(1979) para calcular a degradabilidade efetiva a uma taxa de passagem de 0,05/h. O delineamento experimental
utilizado foi o delineamento em blocos casualizados com número desigual de repetições, pois o tratamento
testemunha contou só com 3 animais enquanto o resto de tratamentos contaram com 4 animais. Os dados
foram submetidos a ANDAVA e analise de regressão.
A degradabilidade efetiva da proteína bruta estimada (taxa de passagem: 5%) foi de 67,33% para o feno de
alfafa e 64,67% para o milho. A adição de níveis crescentes de suplemento energético na dieta aumentou
linearmente a digestibilidade da MO da dieta (Y= 57.67 + 7.96X; r2 = 0.84), sem que a digestibilidade da FDN
fosse afetada (p>0,01) (TABELA1). Resultados similares tem mostrado que a suplementação energética até
níveis próximos a 35% em dietas com volumosos de alta qualidade não afetam a digestibilidade da FDN,
permitindo aumentos no consumo de nutrientes digestíveis. (Garcia et al., 2000). Aparentemente a alta
disponibilidade de N degradável permite que a suplementação energética otimize o ambiente ruminal para o
crescimento dos microrganismos fibrolíticos do rúmen (Bodine et al., 2000).O consumo de MO e FDN da dieta
não foi afetada pelo nível de suplementação energética (P>0,01) porém o consumo de MO do feno diminuiu
linearmente com o nível de suplementação (Y = 2,53 – 0,81X; r2 =0,64)(TABELA2). M
INSON(1990) revisando
19 experimentos em pastejo cita coeficientes de substituição próximos a 0,69, porém outros autores tem
encontrado valores entre 0,50 e 0.97 (S
ILVEIRA, 2002).O coeficiente de substituição (0,81) encontrado no
presente trabalho reflete o fato dos animais estarem estabulados permanentemente. Elevadas taxas de
substituição podem ser encontradas em forragens nos quais a relação NDT:PB seja menor do que 7, pois
indica uma forragem de alta qualidade que não apresenta déficit de N em relação a energia disponível (M
OOREET AL
., 1999). No presente experimento esta relação foi igual a 2,97.O consumo de MO digestível (g/UTM),
aumentou linearmente com o nível de suplementação (Y = 58,28 + 13,55X; r2: 0,47). o CMOD é a resposta que
integra os fatores determinantes do consumo e da digestibilidade, estando estreitamente ligado ao consumo de
energia metabolizável (C
OCHRAN ET AL., 1998) e ao melhor desempenho dos animais. Os níveis de
suplementação energética utilizados geraram um efeito substitutivo, porém este foi aditivo em termos do
consumo de energia. Simulações do desempenho animal feitas através do NRC (1996) resultaram em ganhos
de peso de: 0,52, 0,65, 0,65 e 0,87 kg/dia paro os níveis de suplementação de 0, 0,4, 0,8 e 1,2% do peso vivo.
A suplementação energética de volumosos de alta qualidade permite melhorar a utilização da proteína
rapidamente degradável presente no volumosos melhorando a síntese de proteína microbiana, diminuindo a
excreção de N na urina e o custo de sua excreção e conseqüentemente melhorando o desempenho animal
(V
ANV
UUREN ET AL., 1993). A relação entre o consumo de proteína degradável no rúmen e o consumo de
matéria orgânica digestível (CPDR/CMOD) diminuiu linearmente com o nível de suplementação (Y = 24,78 –
6,17X; r2: 0,93). A maior eficiência na síntese de proteína microbiana pode ser obtida em dietas onde o
CPDR seja igual 13% do consumo de NDT (NRC, 1996). Apesar das relaçoes entre CPDR/CMOD estarem entre
25 e 17%, muito longe do valor de 13% proposto pelo NRC, propiciaram aumentos no consumo de MOD
provavelmente como conseqüência da otimização do ambiente ruminal.
C
ONCLUSÕESNas condições em que foi realizado este experimento a suplementação com níveis crescentes de milho não
afetou a digestibilidade da fração fibrosa da dieta porém exerceu um efeito substitutivo aditivo que permitiu
aumentar o consumo de MOD, provavelmente como conseqüência da otimização do ambiente ruminal para o
crescimento microbiano.
R
EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. A.O.A.C. . Official methods of analysis. 16th Ed. Association of Official Analytical Chemist. Washington, D.C., 1995
2. BODINE, T.N.; PURVIS, H.T.; ACKERMAN, C.J. e GOAD, C.L.. Effects of supplementing prairie hay with corn and soybean meal on intake, digestion and ruminal mesurements by beef steers. Journal of Animal Science. Champaign, v. 78, p. 3144 – 3154. 2000.
3. COCHRAN,R.C.; KOSTER, H.H.; OLSON, K.C.; HELDT, J.S.; MATHIS, C.P.; WOODS, B.C.. Supplemental protein sources for grazing beef cattle. Proceeding of 9th Annual Florida Ruminant Nutrition Symposium. Gainesville. 123-136. 1998.
4. DIXON, R.M.; STOCKDALE, C.R.. Associative effects between forages and grains: consequences for feed utilization. Aust. J. Agr. Res. 50: 757-773.1999
5. ELIZALDE, J. C.; MERCHEN, N.R.; FAULKNER, D. B.. Supplemental cracked corn for steers fed fresh alfafa: I. Effects on digestion of organic matter, fiber and starch. J. Anim. Sci., 77: 457 – 466. 1999. 6. GARCIA, S.C.; SANTINI, F.J.; ELIZALDE, J.C.. Sites of digestion and bacterial protein synthesis in dairy
heifers fed fresh oats with or without corn or barley grain. J. Dairy Sci. 83: 746-755. 2000. 7. MINSON, P.J. . Forage in Ruminant Nutrition. Academic Press. 1990.
8. NRC. 1996. Nutrient requirement of beef cattle. National Academy Press, Washington, DC.
9. RYMER, C. The measurement of forage digestibility in vivo. In: GIVENS, D.I. et al. Forage evaluation in ruminant nutrition. CABI Publishing, p.113 – 134. 2000.
10. SILVEIRA, A. L. F. Avaliação nutricional da adição de uréia ao feno suplementado com milho moído. Porto Alegre, 2002, 79f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2002.[Demais Dados Da Publicação]
11. VAN SOEST, P.J.; ROBERTSON, J.B. . Analysis of forages and fibrous foods. A laboratory manual for animal science. Cornell University. 202p. 1985.
12. VAN VUUREN, A.M.; VAN DER KOELEN, C.J.; VROONS DE BRUIN, J.. Raygrass versus corn starch or beet pulp fiber diets effects on digestion and intestinal amino acid in dairy cows. J. Dairy sci. 76: 2692-2700.1993.
TABELA1: Composição bromatológica do feno e dos concentrados energéticos utilizados Feno 0% PV Concentrado 0,4% PV Concentrado 0,8% PV Concentrado 1,2% PV Milho Moído 0,00 96,00 97,09 97,96 Premix 2,10 2,10 1,82 1,31 NaCl 1,16 1,16 0,67 0,45 Enxofre 0,74 0,74 0,42 0,29
TABELA2 – Digestibilidade da matéria orgânica da dieta (DMO), digestibilidade estimada do feno (DMOfeno), digestibilidade da FDN (DFDN), digestibilidade estimada da FDN do feno (DFDNf), digestibilidade da celulose (DCEL) e digestibilidade da hemicelulose (DHEMI), consumo de matéria orgânica %PC (CMO), consumo de matéria orgânica do feno %PC (CMOf), consumo de FDN %PC (CFDN) e consumo de matéria orgânica digestível por unidade de tamanho metabólico (CMOD/UTM).
T1 0%PC T2 0,4%PC T3 0,8%PC T4 1,2%PC Efeito L Q DMO 57,4 59,9 63,8 64,7 < 0,001 NS DMOf 57,5 57,2 58,0 57,5 NS NS DFDN 52,8 54,0 56,2 55,2 NS NS DFDNfeno 53,0 54,5 57,9 57,7 NS NS DCEL 72,0 70,7 71,0 70,2 NS NS DHEMI 68,8 71,0 73,5 70,0 NS NS CMO %PC 2,55 2,62 2,50 2,78 NS NS CMOf %PC 2,55 2,32 1,90 1,86 <0,001 NS CFDN %PC 1,52 1,45 1,30 1,31 NS NS CMOD/UTM 57,67 63,47 63,58 72,41 <0,001 NS