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Falhas de Comunicação nos Movimentos de Representatividade Social nas Mídias Audiovisuais: Um Estudo a partir da Ótica da Comunidade LGBTQ+ 1

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Academic year: 2021

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Falhas de Comunicação nos Movimentos de Representatividade Social nas Mídias

Audiovisuais: Um Estudo a partir da Ótica da Comunidade LGBTQ+1

Paulo Alves de Sá Júnior2 Rosângela Barbosa da Silva3

Centro Universitário UniProjeção - Brasília

RESUMO

O objetivo desse estudo é apresentar uma reflexão acerca da inclusão social e compreender os motivos que conteúdos audiovisuais inclusivos são rejeitados pelas minorias representadas, a partir da ótica do movimento LGBTQ+. Para atingirmos nosso fim, elaboramos uma pesquisa com caráter bibliográfico, qualitativa e técnica de grupo focal com oito participantes LGBTQ+. A partir do levantamento de dados, concluímos que as redes sociais tornaram o movimento LGBTQ+ mais crítico e exigente quanto a suas demandas de representatividade, negando os formatos e narrativas inclusivas tradicionais.

PALAVRAS-CHAVE: Representatividade. Audiovisual. LGBTQ+. Comunicação.

Comunicação Audiovisual.

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos as mídias digitais, enquanto artefato de integração social, tem atuado como um canal para que grupos sociais marginalizados demandem representação nos conteúdos produzidos pela cultura de massa. Diante dessas novas mídias, determinados grupos estão tendo mais visibilidade e mobilizações que muitas vezes

1 Trabalho apresentado no DT 4 – Comunicação Audiovisual, da Intercom Júnior – XVI Jornada de Iniciação

Científica em Comunicação, evento componente do 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.

2 Graduado em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda pelo Centro Universitário – UniProjeção, e-mail: paulo.jr.alves96@gmail.com

3Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda no Centro Universitário - UniProjeção, Mestra em Comunicação Pela Universidade Católica de Brasília e-mail: rosangelabsg@gmail.com

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chegam às ruas. Estamos diante de novos campos de luta que caracterizam a representatividade em busca de refletir manifestações em prol da inclusão e igualdade.

Esse movimento mais recente de inclusão tem sua origem na democratização do lugar de fala nas redes sociais, onde minorias se fizeram cada vez mais visíveis e se apresentaram como público rentável para venda e consumo de conteúdo. Graças a isso, as minorias encontraram espaço para ter postura crítica e exigente quanto a qualidade da representatividade nos conteúdos que consomem.

Diante do mencionado, podemos destacar o clipe do cantor Nego do Borel, lançado em 2018, cujo nome é “Me solta”. Neste videoclipe, o cantor encena uma personagem travesti, é possível notar teor apelativo. Como agravante, o Nego do Borel declarou apoio e afinidade ideológica a grupos que reprovam as ideologias do movimento LGBTQ+4.

Assim, o clipe que se tratava de representatividade, se tornou o vídeo com o maior grau de rejeição no Youtube nacional. A personagem travesti, executada por um cantor que não se compromete com a causa foi vista como um esforço para arrecadar o

Pink Money5 da comunidade LGBTQ+.

Várias questões estão sendo estudadas e levadas em conta à medida que o fenômeno da representatividade social se desenvolve. Essa pesquisa, traz o seguinte questionamento: O que leva a comunidade LGBTQ+ a rejeitar certos conteúdos audiovisuais que se propõem a ser inclusivos?

A hipótese levantada para explicar esse fenômeno é que as falhas de comunicação entre o público representado e o produto ocorrem a partir do fato de que a movimento LGBTQ+, usar as redes sociais como canal de amplo debate democrático e reivindicante, se tornou mais exigente quanto a representação nos conteúdos que consome. Em tese, os produtores de conteúdo não acompanham esse processo, usando estereótipos antiquados e reducionistas que mais prejudicam do que auxiliam o movimento. Além disso, as minorias representadas agora exigem um engajamento claro e legítimo dos envolvidos com a peça em questão, para que a mesma não seja acusada de ser hipócrita, apelativa ou superficial.

4 LGBTQ+: Lesbicas, Gays e Bissexuais. O T pode significar tanto Transexuais, Trangêneros ou Travestis. A letra Q, por sua vez, significa Queer , e o símbolo “+” simboliza a inclusão das demais variedades de gênero ou orientação sexual.

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Por sua vez, este estudo tem como objetivo geral compreender os motivos que causam certos conteúdos audiovisuais inclusivos serem rejeitados pelas minorias representadas, a partir da ótica do movimento LGBTQ+.

A escolha desse tema se deu a partir da necessidade de se compreender melhor o fenômeno da representatividade social no que se refere à comunicação de massa, especialmente na plataforma audiovisual. Em uma perspectiva mais voltada a função social, esse estudo se faz importante para compreender como os grupos minoritários, ao se apresentarem cada vez mais como vozes ativas e integradas no processo de comunicação, influenciam todo o ecossistema de produção de conteúdo, ao adicionar na cultura de massa suas demandas, individualidades e opiniões.

Para alcançarmos o objetivo proposto, este artigo tem caráter bibliográfico, pesquisa qualitativa e a técnica de grupo focal com oito participantes LGBTQ+.

1 O movimento LGBTQ+: um breve histórico

O movimento LGBTQ+ é um grupo social de motivação política, ideológica e principalmente identitária. Apesar de que há registros históricos da existência de indivíduos LGBTQ+ desde tempos muito remotos, é aceito que a história do movimento em si tem seu início na revolta de Stonewall Inn, em 1969, em Nova Iorque. O protesto contra violência policial teve a participação de cerca de 600 integrantes da comunidade LGBTQ+, prostitutas e aliados e rendeu 13 prisões e diversos feridos, entre manifestantes e policiais. O protesto durou 5 dias, marcando o dia 28 de junho como o dia do Orgulho Gay.

Já no Brasil os movimentos de minorias tiveram sua efervescência na década de 70. O cessar de um regime opressivo e o retorno dos plenos direitos constitucionais reaqueceu debates sobre igualdade, trazendo para o movimento gay a esperança de uma sociedade mais justa em que a homossexualidade poderia ser celebrada sem restrições (FERRARI, 2004).

Nesse período, houve as primeiras formas de organização política da comunidade LGBTQ+. A princípio, as organizações focavam esforços em homens gays, mas motivou a criação de grupos voltados a outras variações sexuais e de gênero. Um exemplo foi o jornal Lampião de Esquina, publicado pela primeira vez em 1978, no Rio de Janeiro. Sobre o Lampião de Esquina, Conde (2004, p. 253) afirmou:

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Inicialmente, a proposta do jornal Lampião de Esquina consistia em tratar, de modo unificado, questões relativas às mulheres, aos negros, aos ecologistas e aos homossexuais e, muito embora tenha publicado diversas matérias relativas ao feminismo, como aborto e estupro, bem como ao lesbianismo, tendo sido até um dos promotores do movimento lésbico durante a sua existência, o jornal manteve seu foco predominantemente em assuntos relativos à homossexualidade masculina.

Mais tarde, com a epidemia do vírus HIV na época de 80, as associações voltadas para a proteção dos indivíduos LGBTQ+s se popularizaram, assim como as primeiras políticas públicas a respeito e, apesar da estigmatização da epidemia como sendo “O câncer gay”, o contexto propôs pela primeira vez um debate da social em relação aos LGBTQ+, causando um reaquecimento do movimento na década de 90.

E foi na década de 90 que foi criada em Curitiba a ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros), fortalecendo a institucionalização do movimento e, em 1997, ocorreu a primeira parada do orgulho GLBTT, em São Paulo. Desde então, a comunidade LGBTQ+ tem se feito vista e ganhado um espaço sem precedentes na cultura de massa, principalmente nas redes sociais.

1.1 A comunicação de massa

A revolução tecnológica do século XX e o advento de veículos de comunicação de massa trouxeram mudanças nas estruturas verticais que regiam o papel do indivíduo comum na sociedade (GERACE, 1973). Ao enfrentar suas limitações materiais, a natureza integradora da comunicação abriu espaço para fenômenos sociais sem precedentes.

E é nesse contexto que se introduz o que os comunicólogos chamam de Comunicação de massa. O termo, que de acordo com McQuail começou a ser utilizado na década de 1930, se refere ao produto comunicacional difundido por meio de aparatos mecânicos, elétricos ou digitais e por regra geral direcionado a um público relativamente numeroso, heterogêneo e anônimo (RABAÇA, 2002).

Um dos efeitos da integração dos meios de comunicação de massa na sociedade contemporânea foi a criação do que a escola de Frankfurt denominou como indústria

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cultural6. Ao democratizar o acesso à cultura e arte, mas, de acordo com Adorno, diluir seu aspecto crítico e intelectual ao transformá-las em mercadoria, torna a indústria cultural objeto de debates quanto a seus efeitos na sociedade de massa.

E assim, o advento do fenômeno da comunicação de massa estimulou a criação das primeiras teorias voltadas ao campo de comunicação, abordando seus meios de propagação e seus efeitos no meio social (HOHLFELDT, 2010). A CM promoveu maior consolidação da comunicação como campo teórico e não como objeto de estudo de outras áreas, possibilitando o acervo teórico atual da área e motivando estudos posteriores.

1.2 A Teoria das Representações sociais

A teoria das representações sociais busca discorrer sobre como ocorre o processo de atribuir significação a objetos e conceitos, e como isso ocorre a partir de uma espécie de indução social, de forma a dar prioridade a uma cognição coletiva ao invés de apenas processos empíricos individuais (SÊGA, 2000).

Para melhor compreender e interagir com a realidade, cada indivíduo tende a atribuir significados aos estímulos que recebe, criando representações e rótulos e, de acordo com Sêga (2000, p.1), “fixar suas posições em relação a eventos, objetos e comunicações que lhes concernem”.

Em seu trabalho “Representações Sociais - Um Domínio em Expansão” (2001), Jodelet estuda os boatos e ramificações das opiniões públicas a respeito da epidemia de AIDS7 da década de 80 para avaliar o fenômeno das representações sociais. Ao abordar menções da transmissão da AIDS como resultado de um estilo de vida pecaminoso, e a desinformação a respeito dos métodos de transmissão, faz paralelo com os métodos de aprender e comunicar de Moscovici: O consensual e o científico.

O primeiro método se relaciona com as socializações informais e cotidianas que aproximam significações entre indivíduos como em um processo de osmose.

O segundo, científico, trata de um campo onde especializações são necessárias para se ter local de fala e participar dos debates em um ambiente social simbólico, uma

6 Termo sugerido por Adorno e Horkheimer em 1940 para substituir o termo “cultura de massa”, uma vez que esse último sugeriria uma cultura democrática, criada pelas massas e direcionada as mesmas, quando na verdade o monopólio dos meios de comunicação não pertence às massas e sim a uma indústria. 7 Ou SIDA, Síndrome da Imuno Deficiência Adquirida.

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vez que a esfera científica é criteriosa e exporta para o coletivo conhecimentos com credibilidade social pré-estabelecida (ARRUDA, 2002).

Assim, levando a natureza mista que a sociedade tem de absorver e categorizar as informações no seu acervo antes de atribuir carga simbólica, Jodelet (2001) esclarece que a representação social deve ser estudada articulando elementos mentais e sociais, se atentando ao fato de que a representação social não é como uma fotografia da realidade, mas sim um método de tradução da mesma.

1.3 A representação social na comunicação de massa

Vale reforçar que a representação social é um fenômeno que envolve mecânicas da comunicação, uma vez que Moscovici (2000) aborda a consensualidade na relação de trocas de símbolos entre grupos, internamente e reciprocamente.

A comunicação de massa, como Beltrão (1986) afirma, tomou o oligopólio das relações primárias - família, comunidade - como formador de valores e instituições sociais, substituindo uma relação de emissor e receptor conhecidos e intercambiáveis para uma relação vertical e relativamente unilateral de um emissor para sua audiência.

No seu estudo, Jordelet expôs o papel da imprensa na criação de paradigmas a respeito da AIDS. Seja por ativamente criar representações que fogem da realidade factível, seja ao se omitir diante da desinformação da sociedade, os meios de comunicação demonstram seu potencial de influenciar o pensamento da população ao criar símbolos e usar linguagens que promovam ideias ou que apenas façam a manutenção do status quo da sociedade.

A teoria crítica de Adorno e Horkheimer defende que a indústria cultural também tem mecanismos para fabricar necessidades de consumo e status nas massas, sendo assim um forte instrumento de controle e dominação social, ao transformar a cultura em mercadoria e assim sabotar o senso crítico da população (HOHLFELDT, 2010).

Enquanto a teoria crítica foca seus esforços em demonstrar como os meios de comunicação de massa pervertem a cultura e a torna em um instrumento de passividade social, a teoria agenda setting se concentra mais no que exatamente a indústria cultural condiciona o seu público a pensar (FERREIRA. 2010). Essa teoria, criada por Maxwell McCombs e Donald Shaw em seu artigo intitulado The Agenda Setting Function of Mass

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Media (1972), propõe um diálogo especialmente próximo aos conceitos da teoria da

representação social, como esclarece Pavarino (2003, p.4):

A hipótese da Agenda Setting e a Teoria das Representações Sociais têm em comum o interesse na relação do indivíduo com a sociedade, com seu grupo e com sua identidade e o papel de organizador social que dos mass media. E se diferenciam pela forma como analisam os efeitos dos mass media: a primeira tem os mass media como objeto principal e a segunda os observa como mais um elemento influenciador e não seu objeto principal.

De acordo com Maxwell McCombs e Donald Shaw (1972), a agenda setting estuda o poder dos meios de comunicação de massa de estabelecer as pautas em debate na sociedade, os assuntos e as notícias mais relevantes em dado momento. Ou seja, as mídias estabelecem os temas selecionados para estarem no imaginário do público em determinados períodos, o que reforça a tese de Moscovici que as representações na contemporaneidade não duram o suficiente para se tornarem tradição de pensamento.

Ao mesmo passo que a agenda setting norteiam que tipo de pautas vá ser debatidas na sociedade, guiando a produção de significados e representações em dados momentos, o fenômeno é auxiliado por uma terceira teoria: A espiral do silêncio.

Neumann, ao criar a teoria da espiral do silêncio em 1977, percebeu o forte aspecto social que permeia a seleção dos assuntos em debate na sociedade. Por uma questão de aceitação, minorias tendem a orbitar sua atenção a temas que estejam em destaque na opinião pública, ignorando outros assuntos e gerando um ciclo onde certas pautas passam a ser cada vez mais marginalizadas.

Na perspectiva da cultura de massa isso determina não só a capacidade dos meios de comunicação – em especial a televisão – de determinar a ignorabilidade de um tema ou de um ponto de vista, como também a capacidade de induzir a opinião pública a adotar certos preceitos a respeito de um assunto ao fazer uso da exposição seletiva.

E assim, levando em conta as principais teorias a respeito dos meios de comunicação de massa, fica evidente seu efeito nas estruturas que regem a produção das representações sociais atualmente, ao passo que as pautas, posicionamentos e símbolos que fazem parte da opinião pública em dado momento é vulnerável ao conteúdo endossado pelas mídias de massa, gerando um agente social que pode ser tanto integrador como marginalizador, e tanto informativo quanto alienador.

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2 Metodologia

Para o desenvolvimento de uma pesquisa satisfatoriamente executada a respeito da problemática por trás das falhas que envolvem a narrativa das peças audiovisuais focadas no público LGBTQ+, se faz necessário o uso de metodologias credíveis de análise e interpretação de dados.

Visando cumprir esse critério, esse estudo se propõe a analisar o fenômeno a partir de uma pesquisa qualitativa do atual perfil da comunidade LGBTQ+ enquanto consumidores de conteúdo. O método selecionado para testar a hipótese proposta se trata de estabelecer um grupo focal de oito participantes LGBTQ+ e estabelecer um debate metodologicamente direcionado para promover a credibilidade dos dados e sua coleta efetiva. O roteiro será o seguinte:

Primeiro, os indivíduos selecionados preencherão um formulário para melhor caracterizar seu perfil, bem como dados da sua relação com o movimento LGBTQ+. Em seguida ocorrerá o debate em si, que terá um mediador e ocorrerá em fases, sendo que cada uma dessas fases se iniciará com uma pergunta-tema. As perguntas encorajarão, através de estímulos da mediação, não só a resposta individual de cada pergunta, como a criação de um debate multilateral e abrangente.

E assim, comparando os dados coletados entre si com a bibliografia encontrada, será possível desenvolver um panorama geral do fenômeno, bem como descobrir suas especificidades e implicações no campo teórico da comunicação.

Os oito participantes do grupo focal se dispuseram na sala de pesquisa, que contava com cadeiras, gravadores e um data show para a melhor exibição de cada pergunta. Houveram apresentações e uma espécie de happy hour para os deixar mais à vontade para expor seus questionamentos e vivencias. Após isso, foi lhes apresentado o formulário de caracterização de perfil e, com este preenchido, o debate prosseguiu com normalidade. O debate transcrito está disponível entre os anexos.

2.1 Perfil dos participantes

A partir do formulário aplicado ao início do debate, é possível obter o perfil de cada participante dentro da comunidade LGBTQ+. Os participantes serão denominados

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trans. Uma das questões do formulário pedia que o participante julgasse numericamente a qualidade da inclusão de personagens LGBTQ+s em conteúdos audiovisuais voltados para o público geral com notas de um a cinco, e as pontuações dadas resultaram na média aritmética de 2,75. Segue abaixo o perfil dos participantes:

Quadro 01: perfil dos participantes

Participante 1

▪ Homem gay, 25 anos.

▪ Usa Instagram todo dia e Facebook e Twitter menos frequentemente.

▪ Acompanha, mas não se envolve diretamente nas pautas LGBTQ+ ▪ Acredita ser bem representado nas

mídias, mas com ressalvas.

▪ Avalia a representatividade LGBTQ+ geral como 4/5

Participante 2

▪ Homem gay, 28 anos.

▪ Usa Instagram, Facebook e Twitter todo dia.

▪ Acompanha, mas não se envolve diretamente nas pautas LGBTQ+ ▪ Acredita ser bem representado nas

mídias, mas com ressalvas.

▪ Avalia a representatividade LGBTQ+ geral como 2/5

Participante 3

▪ Homem gay, 26 anos.

▪ Usa Instagram o tempo todo. Usa Facebook e Twitter todo dia.

▪ Acompanha, mas não se envolve diretamente nas pautas LGBTQ+ ▪ Acredita ser representado de forma

negativa nas mídias.

▪ Avalia a representatividade LGBTQ+ geral como 2/5

Participante 4

▪ Homem bissexual, 23 anos.

▪ Usa Instagram todo dia. Usa pouco Facebook. Não usa Twitter.

▪ Toma postura ativa nas pautas LGBTQ+: debate e participa.

▪ Acredita ser representado de forma negativa nas mídias.

▪ Avalia a representatividade LGBTQ+ geral como 2/5

Participante 5

▪ Homem gay, 21 anos.

▪ Usa Facebook o tempo todo. Pouco usa Instagram e não usa Twitter.

▪ Acompanha, mas não se envolve diretamente nas pautas LGBTQ+ ▪ Acredita ser bem representado nas

mídias, mas com ressalvas.

▪ Avalia a representatividade LGBTQ+ geral como 3/5

Participante 6

▪ Mulher bissexual, 22 anos.

▪ Não usa Facebook. Usa Instagram e Twitter todo dia.

▪ Acompanha, mas não se envolve diretamente nas pautas LGBTQ+ ▪ Acredita ser representada de forma

negativa nas mídias.

▪ Avalia a representatividade LGBTQ+ geral como 3/5

Participante 7

▪ Homem gay, 23 anos.

▪ Não usa Facebook, Instagram ou Twitter.

▪ Acompanha, mas não se envolve diretamente nas pautas LGBTQ+ ▪ Acredita ser representado de forma

negativa nas mídias.

▪ Avalia a representatividade LGBTQ+ geral como 3/5

Participante 8

▪ Mulher bissexual, 22 anos.

▪ Usa Facebook e Instagram todo dia. Usa Twitter o tempo todo.

▪ Acompanha, mas não se envolve diretamente nas pautas LGBTQ+ ▪ Acredita ser representada de forma

negativa nas mídias.

▪ Avalia a representatividade LGBTQ+ geral como 3/5

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3 ANÁLISE DOS DADOS

Durante as 1h15 de debate foi possível discorrer sobre os principais temas que permeiam e envolvem a problemática, bem como a descoberta de novas variáveis que incidem diretamente sobre o fenômeno proposto. Para melhor sintetizar os dados, será feito abaixo o uso de tópicos que resumam em termos gerais os pontos onde o debate mostrou maior concentração e engajamento pelo grupo focal.

3.1 Estereótipos e narrativa

Quando questionados a respeito dos estereótipos e narrativa, houve um consenso que as representações LGBTQ+ nas mídias audiovisuais tem se tornado mais frequentes, no entanto, os participantes trouxeram diversos pontos diferentes quanto aos problemas que elas ainda enfrentam. Os participantes quatro, cinco e seis, ressaltaram em diversos pontos que personagens gays tendem a serem construídos somente ao redor de sua homossexualidade, tanto em personalidade quanto em trajetória, muitas vezes se limitando à chamada “narrativa da revelação” (COLLING, Leandro. 2007). Já o participante cinco mencionou conteúdos pontuais onde sexualidade LGBTQ+ já foi tratada como característica secundária dos personagens, e o fortalecimento da cultura Drag8.

Todos os envolvidos concordaram na narrativa de que ainda prevalece uma dicotomia entre personagens gays: existe o heteronormativo discreto e o gay caricato e afeminado. O participante dois explica que não há nada de inerentemente ruim nessas representações, exceto que elas são as únicas a ganhar destaque em uma comunidade muito mais diversa. Essa exposição seletiva, acaba por marginalizar progressivamente as camadas menos representadas da comunidade gay. Esse posicionamento se assemelha a espiral do silencio, de Noelle Neumann (1977), quando observa que a aceitação das minorias tendem a orbitar sua atenção a temas que estejam em destaque na opinião pública, ignorando outros assuntos e gerando um ciclo onde certas pautas passam a ser cada vez mais marginalizadas.

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Ao serem questionados sobre a importância de se incluir mais atores, roteiristas e diretores de arte LGBTQ+s em produtos que se tratem de representatividade, o participante seis disse que isso é muito importante para a peça tratar o tema com maior sensibilidade, enquanto participante dois mencionou que parte de apoiar a comunidade envolve oferecer emprego e espaço para profissionais LGBTQ+. Enquanto o entrevistado um fez um paralelo entre personagens cis9 heterossexuais atuando em papeis LGBTQ+s como sendo uma espécie de Blackface10.

3.2 Comunidade LGBTQ+ e sociedade

Quando o grupo foi questionado sobre o impacto das redes sociais na comunidade LGBTQ+, participante 2 salientou que a novidade de um ambiente onde um grupo segregado com o LGBTQ+ poderia se expressar sem medo de violência possibilitou uma certa fermentação ideológica, pois agora se podia não só acessar informações novas, como também debater e disponibilizar suas próprias vivencias. Os participantes um e seis demonstraram que seu processo de autodescoberta envolveu o acesso pela internet de novelas, fóruns e canais no YouTube voltados ao público LGBTQ+.

Ainda nesse âmbito, o participante três afirmou que a comunidade tornou se mais crítica por conta das redes sociais, porém que isso era uma faca de dois gumes, pois por vezes a comunidade acaba por cometer injustiças. O entrevistado quatro afirmou que as redes sociais fizeram um grande papel na desconstrução de todo mundo, e que hoje só se pode chegar ao ponto de se ser desconstruído por meio da internet.

Um ponto recorrente do debate, mencionado pelos participantes dois, cinco, seis e oito, foi que os esforços de representação estão focados quase que exclusivamente em homens gays. O participante cinco vai além e menciona que em boa parte eles são brancos e, quando negros, são periféricos ou caricatos.

A narrativa de que, mesmo entre homens gays, apenas os heteronormativos e os afeminados são retratados, preocupou os participantes cinco e oito, pois acreditam que as mídias audiovisuais e a cultura de massa hoje servem uma função didática de ensinar, normalizar e quebrar tabus da sociedade em geral a respeito das individualidades da

9 Cis: abreviação de cissexual ou cisgênero. Oposto de trans. Refere-se as pessoas que se identificam com o seu sexo biológico ou a identidade de gênero proposta pelo mesmo.

10 Blackface: Ato de pessoas não-negras se fantasiarem de negras, geralmente pintando o rosto. É visto como racismo e satirização da comunidade negra.

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minoria LGBTQ+, uma vez que esse tipo de exposição nem sempre se encontra nas relações sociais imediatas. Isso vai ao encontro de Beltrão (1986), quando afirma que a comunicação de massa tomou o oligopólio das relações primárias como formadoras de valores.

Ainda nessa questão de importância social de uma representação audiovisual LGBTQ+ diversa, a questão de auto identificação foi levantada. O participante seis observa que: “é importante você ver personagens que nem você nas telas e pensar: eu

sou válido. Tem gente que é assim também”. Os participantes um, quatro e oito

acrescentaram a relevância de modelos de referência LGBTQ+ para o processo de autodescoberta de crianças e jovens, e exaltaram vários personagens queer de desenhos animados que se tratavam de uma representação sensível, didática e satisfatória.

3.3 Mercado e ativismo coorporativo

Ao longo do debate os participantes mostraram consciência de que a comunidade LGBTQ+ tem sido mais representada ultimamente por conta de seu potencial enquanto nicho de mercado. O participante oito adicionou que LGBTQ+s são um dos públicos que mais gastam com entretenimento, justificando o apelo comercial. Indo além, participante dois e cinco adicionaram que representar uma minoria também acaba gerando visibilidade e publicidade gratuita para artistas e corporações, porque as pessoas vão falar a respeito. Ao questionar a importância das redes sociais nessa equação, participante um adiciona que “o debate está mais ativo. A cobrança para que essas empresas ou marcas falem sobre o assunto ou que abracem a causa, é maior”. Mostrando que o movimento LGBTQ+ não se comporta igual a um nicho de mercado que passivamente recebe apelos comerciais, e sim como um grupo que reivindica um espaço nas mídias.

O participante dois revela que é difícil separar em uma peça o que é um engajamento social legitimo de uma tentativa de arrecadar Pink Money. Quando questionados a respeito, houve no grupo certo consenso na compreensão que não faz sentido reprimir uma representação apenas pelo fato de ela ser voltada para lucro comercial, e que outros critérios são muito mais relevantes para avaliação. Participante 6 destaca, entre esses critérios, a importância de se causar um impacto social positivo para a comunidade, enquanto participante 8 destaca a importância de um histórico e um

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Houve concordância coletiva quanto ao fato de a representatividade no Brasil estar atrasada diante do mundo. Participante oito menciona que apenas personagens LGBTQ+s estereotipados e caricatos atingem as grandes mídias brasileiras, e o participante cinco destaca que os personagens LGBTQ+ mais bem representados estão isolados em produções cult, distantes da população geral.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da reflexão dos dados obtidos, este estudo permitiu compreender que ss dados do debate e do formulário preenchido pelo grupo, bem como o fato de que nenhum dos participantes deram a nota mínima ou máxima no formulário para o estado da representação atual, demonstra que a sociedade LGBTQ+ está ciente de que está no meio de um processo gradativo de evolução quanto a suas representações. Todos os participantes - com a exceção do 7, que se absteve durante o debate - admitem o avanço da linguagem e narrativa ao longo do tempo, e também percebem que essa evolução acontece simultaneamente com uma evolução cultural, intelectual e organizacional da comunidade LGBTQ+ em si.

Ao comparar os dados coletados com a hipótese apresentada no início da pesquisa, é possível afirmar que a mesma se prova correta: as redes sociais promoveram de fato uma revolução substancial no senso crítico da comunidade LGBTQ+. Neste novo ambiente seguro para debate e troca de experiencias, os modelos de representatividade estereotipados e reducionistas passaram a ser criticados, e a falta de representatividade lésbica, bissexual e transgênero nas mídias audiovisuais foram evidenciadas.

No contexto do cenário do século XXI, os LGBTQ+s percebem que, além para a construção de uma autoestima enquanto grupo social, a representatividade didática e sensível de personagens e narrativas LGBTQ+ servem a outros propósitos importantes: primeiro, para com a própria comunidade, serve para ajudar jovens queer a passarem pelo processo de descoberta da melhor forma possível e, em um segundo momento, demonstra para a sociedade em geral a realidade de uma pessoa LGBTQ+, ajudando a diminuir preconceitos e tabus.

Apesar de que apenas um dos indivíduos afirmou tomar postura ativa nas pautas LGBTQ+ enquanto os restantes se afirmaram expectadores passivos, todos os participantes mostraram pleno domínio de várias questões como Pink Money, cultura

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drag como expressão artística, os benefícios de uma representatividade LGBTQ+ plural

para a sociedade heterossexual, entre outros. Levando em conta a fala do participante quatro endossando como as mídias sociais foram responsáveis por essa desconstrução, mais uma vez se reforça como a internet foi um verdadeiro separador de aguas para o ativismo LGBTQ+, tendo em vista que possibilitou tanto que a comunidade se apresentasse como rentável para consumo de conteúdo audiovisual, quanto que a mesma pudesse influenciar ativamente na melhoria de qualidade da representação desse conteúdo.

Graças as mídias socias, a comunidade LGBTQ+ está ciente do seu poder enquanto nicho de mercado e não só exige representações de personagens queers diversos e realistas nas peças audiovisuais que consomem, como também buscam narrativas que não os centralizem somente à condição de LGBTQ+. Indo mais longe, agora questões como histórico, posicionamento político e engajamento legitimo dos envolvidos na produção da peça audiovisual com o movimento LGBTQ+ estão sendo levados em conta, implicando em exigências que vão além de representação, como medidas afirmativas de inclusão de LGBTQ+s e outras ações que gerem impacto social positivo tangível na comunidade.

REFERÊNCIAS

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Referências

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