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Open Significados e influências da violência de gênero e da lei maria da penha: relatos de experiências de mulheres em uma delegacia.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM -PPGENF

MARIA CIDNEY DA SILVA SOARES

SIGNIFICADOS E INFLUÊNCIAS DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO E DA LEI MARIA DA PENHA: RELATOS DE EXPERIÊNCIAS DE MULHERES EM UMA

DELEGACIA

JOÃO PESSOA – PB

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MARIA CIDNEY DA SILVA SOARES

SIGNIFICADOS E INFLUÊNCIAS DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO E DA LEI MARIA DA PENHA: RELATOS DE EXPERIÊNCIAS DE MULHERES EM UMA DELEGACIA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Enfermagem, Nível Mestrado, do Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal da Paraíba – Campus I, Vinculado a área de concentração: Enfermagem na atenção à saúde e a linha de Pesquisa: Políticas e Práticas em Saúde e Enfermagem inserida na pesquisa: intitulada “Políticas, saberes e práticas que subsidiam a Atenção Integral à Saúde da Mulher e Enfermagem”, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Enfermagem.

Orientadora: Profª. Dra. Cláudia Maria Ramos Medeiros

João Pessoa – PB

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM -PPGENF

MARIA CIDNEY DA SILVA SOARES

SIGNIFICADOS E INFLUÊNCIAS DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO E DA LEI MARIA DA PENHA: RELATOS DE EXPERIÊNCIAS DE MULHERES EM UMA DELEGACIA

Aprovada em ____/____/2012

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________________ Profª. Dra. Cláudia Maria Ramos Medeiros

Orientadora (UFPB)

______________________________________________________________ Profª. Dra. Solange Geraldo de Fátima Costa

Membro (UFPB)

_____________________________________________________________ Prof. Dr. Francisco Stélio de Sousa

Membro (UEPB)

_____________________________________________________________ Prof. Dr Eduardo Sérgio Soares Souza

Membro (UFPB)

_____________________________________________________________ Prof. Dra. Inácia Sátiro Xavier de França

Membro (UEPB)

João Pessoa - PB

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MENSAGEM

Maria, Maria

É um dom, uma certa magia Uma força que nos alerta Uma mulher que merece

Viver e amar Como outra qualquer

Do planeta

Maria, Maria É o som, é a cor, é o suor É a dose mais forte e lenta

De uma gente que rí Quando deve chorar E não vive, apenas aguenta

Mas é preciso ter força É preciso ter raça É preciso ter gana sempre Quem traz no corpo a marca

Maria, Maria Mistura a dor e a alegria

Mas é preciso ter manha É preciso ter graça É preciso ter sonho sempre Quem traz na pele essa marca

Possui a estranha mania De ter fé na vida....

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AGRADECIMENTOS

A Deus, nosso Pai, por ser a luz e a força maior que conduz os meus passos em todos os momentos da minha vida.

Aos meus pais Maria José da Silva Soares e José Severino Soares, meus maiores exemplos de vida, pela motivação, força e amor constantes.

A Maria Eduarda Soares Marinho, por ter compreendido que essa conquista é nossa e assim ter entendido a minha ausência quando mais precisou de um colo de mãe.

A Prof. Dra. Cláudia Maria Ramos de Medeiros, pela disponibilidade, apoio e incentivo, bem como pelos valiosos ensinamentos e importante contribuição na elaboração e análise deste trabalho.

Aos meus amigos Aleksandra Costa, Ana Rita Ribeiro e Jank Landy pela partilha de sentimentos e angústias vivenciados nessa trajetória.

Aos professores Dr. FranciscoStélio, Dr. Eduardo Sérgio e a professora Drª Solange Costa pelas contribuições e disponibilidade em participar da banca examinadora

As professoras, Dra. Maria de Fátima de Araujo Silveira,Ms. Ademilda Maria Gomes de Souza Garcia e Ms. Chirlaine Cristine Gonçalves, por ter me apresentado a técnica de coleta de dados através de oficinas.

A R. D., que embora tenha me abandonado em uma de minhas etapas mais difíceis da vida me impulsionou a concluir essa fase, mesmo sem saber.

A todas as minhas amigas aqui representadas por Richele Lima e Dayse Mattos, todas vocês sabem o valor dessa conquista.

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Às Delegadas Drª. Hertha e Drª. Suelane, bem como a Dona Vera e todo corpo de trabalho da Delegacia Especializada de Assistência a Mulher de Campina Grande. Agradeço a receptividade com a qual fui recebida.

Especial agradecimento as mulheres flores que mesmo cobertas de espinhos

continuam firmes e fortes como um caule de uma rosa, essas que contribuíram contando suas histórias de vida, tão marcadas e marcantes.

A todos aqueles que, de alguma maneira, tiveram sua parcela de contribuição para a realização deste trabalho.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 01 –Dados sócio demográficos das participantes (N=11). Delegacia Especializada da

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RESUMO

SOARES, Maria Cidney da Silva. Significados e influências da violência de gênero e da lei maria da penha: Relatos de experiências de mulheres em uma delegacia. 2012. 92f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) - Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa: 2012.

Sabemos que a violência contra a mulher existe desde os primórdios da humanidade, sendo resultado de relações de poder historicamente desiguais em relação aos homens, que avançaram para a dominação e discriminação da classe feminina, restringindo o pleno desenvolvimento da mulher. Implicações na saúde física, psicológica e social da mulher são algumas das consequências inerentes desse problema. Diante disso, o presente trabalho teve como objetivo geral investigar de que modo a violência é percebida por mulheres nessa situação e de que forma a Lei Maria da Penha modificou a denúncia feita pelas mesmas, além de averiguar se houve repercussões em sua saúde após a violência sofrida. Trata-se de uma pesquisa exploratória, descritiva com abordagem qualitativa, desenvolvida entre os meses de agosto e setembro de 2011, na delegacia Especializada da Mulher, no Município de Campina Grande – PB – Brasil. Participaram do corpus desta pesquisa 11 mulheres que denunciaram a violência sofrida, e que desejaram participar do estudo. O instrumento utilizado foi a entrevista semi-estruturada a partir de oficinas de sensibilização, com o auxilio da observação participante e um diário de campo. As falas das entrevistadas foram gravadas e posteriormente transcritas na íntegra, apresentadas de forma narrativa e analisadas de acordo com a análise categorial temática proposta por Laurence Bardin. Foram obedecidas as observâncias éticas dispostas na resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, o projeto de pesquisa teve anuência do Comitê de Ética e Pesquisa do Centro de Ensino e Desenvolvimento, sob o número de protocolo: 0078.0.405.000-11. Dos discursos das mulheres entrevistadas emergiram três categorias, sendo elas: Significando a violência; Significando a Lei Maria da Penha para a motivação da denúncia e Combate à Violência e Repercussões da violência na Saúde. Os resultados apontaram que a mulher, em situação de violência, tem seus sonhos cessados e os direitos humanos violados com a perda da liberdade, que há, ao mesmo tempo, credibilidade na Lei Maria da Penha e na sua aplicabilidade, porém, para que a mesma seja plenamente efetiva, tornam-se necessárias mudanças, com o intuito de diminuir as limitações burocráticas ainda impostas. O estudo mostrou que as experiências de violência de gênero trouxeram severas repercussões na saúde da mulher, evidenciado por problemas de ordem psicoemocionais, físicos e sexuais. Apesar desse estudo não se propor a generalizações, mas sim a compreender o tema estudado, consideramos que é necessário buscar a erradicação da violência e assumir o compromisso de não tolerá-la, reivindicando do setor público mudanças no que concerne ao tema aqui debatido. Dessa forma e diante de todos os problemas evidenciados neste estudo, observa-se a necessidade de uma melhor parceria e entrosamento entre as instituições de saúde e da justiça, pois estes representam a porta de entrada para trabalhar e minimizar a violência, um grande problema social que tem crescido a cada ano no país. Os gestores públicos precisam prestar melhores contribuições e fazer cumprir todos os direitos que regem o direito à vida, sem qualquer tipo de violência a mulher. Espera-se que este estudo venha contribuir para uma melhor reflexão do problema da violência no país, contribuindo também na assistência que os enfermeiros e outros profissionais envolvidos na política pública de saúde da mulher devem realizar, diante de qualquer tipo de violência contra mulher.

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ABSTRACT

SOARES, Maria Cidney da Silva. Meanings and influences of gender violence and the law of the Maria da Penha: reports of experiences of women in a police station. 2012. 92f. Dissertation (Master's in Nursing) - Centre for Health Sciences, Federal University of Paraíba. Joao Pessoa: UFPB 2012.

We know that violence against women has existed since the dawn of humanity, as a result of historically unequal power relations with men, who advanced to the domination and discrimination of the female class, limiting the full development of women. Implications for physical health, psychological and social status of women are some of the consequences inherent in this problem. Therefore, this study aimed to investigate how violence is perceived by women in this situation and how the Maria da Penha Law amended the complaint made by them, and see if there were repercussions on her health after violence suffered. This is an exploratory, descriptive qualitative approach, developed between the months of August and September 2011, the station Specialist Women in the city of Campina Grande - PB - Brazil. Participated in the corpus of this research 11 women who reported the assault, and who wished to participate. The instrument used was a semi-structured interview from awareness workshops, with the help of observation and a diary. The discourse was recorded and later transcribed and presented in narrative form and analyzed according to thematic category analysis proposed by Laurence Bardin. Study complied with the ethical rules laid out in Resolution 196/96 of the National Health Council, which operated only after approval of the Ethics and Research Centre for Education and Development, under the protocol number: 0078.0.405.000-11. Discourses of women interviewed revealed three categories, namely: The meaning of violence; Meaning Law Maria da Penha amotivation to the complaint and Combating Violence and Health Consequences of violence The results showed that women in violent situations, has terminated their dreams and human rights violated by the loss of freedom, which is at the same time, the credibility of Maria da Penha Law and its applicability, however, that it be fully effective, changes become necessary, with order to reduce the bureaucratic restrictions still imposed. The study showed that experiences of gender violence brought severe repercussions on women's health, as evidenced by problems in the psycho-emotional, physical and sexual. Although this study does not propose to generalize but to understand the topic, we consider it necessary to seek the eradication of violence and commit to not tolerate it, claiming the public sector changes with respect to the topic discussed here. Therefore, and before all the problems highlighted in this study, there is a need for a better partnership and integration between health institutions and justice, as they represent the gateway to work and minimize the violence, a major social problem that has grown each year in the country. Managers need to provide better public contributions and enforce all rights governing the right to life, without any kind of violence to women. It is hoped that this study will contribute to a better reflection of the problem of violence in the country, contributing assistance to nurses and other professionals involved in public policy women's health must take before any kind of violence against women.

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RESUMEN

SOARES, MariaCidney da Silva. Los significados e influencias de la violencia de género y la ley Maria da Penha: informes de experiencias de las mujeres en una estación de policía. 2012. 92F. Disertación (Maestría en Enfermería) - Centro de Ciencias de la Salud, la Universidad Federal de Paraiba. João Pessoa: UFPB 2012

Sabemos que la violencia contra las mujeres ha existido desde los albores de la humanidad, como resultado de las relaciones de poder históricamente desiguales con los hombres, que avanzaron a la dominación y la discriminación de la clase femenina, lo que limita el desarrollo pleno de las mujeres. Implicaciones para la salud física, psicológica y social de la mujer son algunas de las consecuencias inherentes a este problema. Por lo tanto, este estudio tuvo como objetivo investigar cómo la violencia es percibida por las mujeres en esta situación y cómo la Ley Maria da Penha modificado la denuncia presentada por ellos, y ver si hubo repercusiones en su salud después de la violencia sufrido. Este es un enfoque exploratorio, descriptivo cualitativo, desarrollado entre los meses de agosto y septiembre de 2011, las mujeres especializadas en la estación de la ciudad de Campina Grande - PB - Brasil. Participó en el corpus de esta investigación 11 mujeres que reportaron el asalto, y que deseaban participar. El instrumento utilizado fue una entrevista semi-estructurada a partir de talleres de sensibilización, con la ayuda de la observación y un diario. El discurso fue grabado y posteriormente transcritas y se presentan en forma narrativa y analizados de acuerdo con el análisis de la categoría temática propuesta por Laurence Bardin. Se cumplieron las normas éticas establecidas en la Resolución 196/96 del Consejo Nacional de Salud, que funcionó después de la aprobación de la Ética y el Centro de Investigación para la Educación y el Desarrollo, bajo el número de protocolo: 0078.0.405.000-11. Los discursos de las mujeres entrevistadas revelaron tres categorías, a saber: El significado de la violencia; Significado Ley Maria da Penha desmotivación a la denuncia y la lucha contra la violencia y sus consecuencias sanitarias de la violencia Los resultados mostraron que las mujeres en situaciones de violencia, tiene terminado sus sueños y los derechos humanos violados por la pérdida de la libertad, que es al mismo tiempo, la credibilidad de la Ley Maria da Penha y su aplicabilidad, sin embargo, que sea plenamente eficaz, los cambios que sea necesario, con a fin de reducir las restricciones burocráticas que siguen obstaculizando. El estudio mostró que las experiencias de violencia de género trajo graves repercusiones sobre la salud de la mujer, como lo demuestran los problemas de la psico-emocional, física y sexual. Aunque este estudio no se propone generalizar, pero para entender el tema, consideramos que es necesario buscar la erradicación de la violencia y se comprometan a no tolerar, alegando que los cambios del sector público ern relación con el tema tratado aqui. Por lo tanto, y ante todos los problemas puestos de relieve en este estudio, existe una necesidad de una mejor asociación y la integración entre las instituciones de salud y la justicia, ya que representan la puerta de entrada al trabajo y reducir al mínimo la violencia, un problema social importante que ha crecido cada año en el país. Los gerentes tienen que ofrecer mejores aportes públicos y hacer cumplir todos los derechos que rigen el derecho a la vida, sin ningún tipo de violencia hacia las mujeres. Se espera que este estudio contribuirá a un mejor reflejo del problema de la violencia en el país, contribuyendo con la asistencia a las enfermeras y otros profesionales involucrados en la salud de las mujeres de las políticas públicas deben tomar antes de cualquier tipo de violencia contra las mujeres.

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SUMÁRIO

1 CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS ... 14 

2 REVISÃO DA LITERATURA ... 19 

2.1 UM RECORTE HISTÓRICO SOBRE A MULHER NA SOCIEDADE ... 19 

2.1.1 Movimentos feministas e suas conquistas ... 23 

2.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A VIOLÊNCIA CONTRA MULHER NO CONTEXTO NACIONAL E AS IMPLICAÇÕES DE GÊNERO ... 29 

2.2.1 A violência contra mulher observada a partir da perspectiva de gênero ... 29 

2.3 A LEI MARIA DA PENHA ... 32 

2.4 REPERCUSSÕES NA SAÚDE DA MULHER A PARTIR DA VIOLÊNCIA VIVIDA ... 35 

3 ASPECTOS METODOLÓGICOS ... 38 

3.1 TIPO DE ESTUDO ... 38 

3.2 CENÁRIO E PERÍODO DO ESTUDO ... 38 

3.3 UNIVERSO EMPÍRICO DO ESTUDO ... 39 

3.4 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO ... 39 

3.5 PROCEDIMENTO E INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS ... 39 

3.6 PRODUÇÃO DO MATERIAL EMPÍRICO ... 39

3.7 O COMPARTILHAMENTO DAS EXPERIÊNCIAS – AS OFICINAS DE COLETA DE DADOS...39

3.8 ANÁLISE DOS DADOS E APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ... 42 

3.9 ASPECTOS ÉTICOS ... 43 

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 45 

4.1 MOMENTOS INTERPRETATIVOS DA REALIDADE ESTUDADA ... 45

4.2 CATEGORIA I - SIGNIFICANDO A VIOLÊNCIA VIVENCIADA 4.2.1 Subcategoria I – Sonhos Interrompidos e Privação de Liberdade após a violência sofrida ... 51 

4.2.2 Subcategoria II – Cicatrizes no corpo e na alma ... 54 

4.3 CATEGORIA II – SIGNIFICANDO A LEI MARIA DA PENHA PARA A MOTIVAÇÃO DA DENÚNCIA E COMBATE Á VIOLÊNCIA ... 56 

4.3.1 - Subcategoria I – Descrença na lei ... 59 

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4.4 CATEGORIA III - REPERCUSSÕES NA SAÚDE DA MULHER APÓS A

AGRESSÃO ... 65 

4.4.1 Subcategoria I – Repercussões psicoemocionais ... 65 

4.4.2 Subcategoria II – Repercussões físicas e sexuais ... 69 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 77 

REFERÊNCIAS ... 80 

APÊNDICES ... 87 

APENDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ... 87 

APÊNDICE B – Termo de Compromisso do Pesquisador ... 88 

APÊNDICE C – Instrumento para Coleta de Dados ... 89 

APENDICE D – Roteiro da Oficina ... 90 

ANEXOS ... 92 

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1CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS

A violência não é discutida unicamente pela área da saúde devido aos seus aspectos multidimensionais, como o jurídico, o social, o policial, condições de vida, acesso ao trabalho, à renda, à educação, etc. Representa a terceira causa de morte da população geral, entretanto, é responsável pela primeira causa de morte de 01-39 anos de idade, o que atribui ao problema certa magnitude e confirma sua complexidade, reafirmando a necessidade de uma atenção e um maior conhecimento das áreas responsáveis sobre o tema (BRASIL, 2010).

A esse contexto de violência, acrescenta-se a violência contra a mulher (ou de gênero), destacando-se aquela que ocorre no cenário familiar, e, sobretudo, nas relações maritais em que se registram casos cruéis de práticas de violência. Essa modalidade de violência é considerada de gênero e, muitas vezes, é denominada violência doméstica, intrafamiliar, porém, nesses casos em particular, devem ser nomeadas de violência conjugal, podendo ser praticada no ambiente doméstico ou não, intrafamiliar ou não, pelo (ex)marido, (ex)namorado ou (ex)noivo. Tal tipo de violência vem tomando proporções crescentes, pois já é reconhecida como um problema de saúde pública e vem sendo debatida pelas diversas áreas do conhecimento, tais como a Sociologia, a Psicologia, a Antropologia, as Ciências da Saúde, entre outras.

Nos últimos anos, pesquisas, trabalhos e publicações de vários estudiosos(SILVA, 2009; SOUTO, 2008; SCHRAIBER et al., 2002) evidenciam a importância que é dada à questão, tendo em vista implicações na saúde física, psicológica e social da mulher. Por outro lado, tal fenômeno tem suscitado o interesse dos profissionais da saúde, os quais têm dado maior relevância, buscando, mediante o aperfeiçoamento de pesquisas, uma melhor compreensão, com vistas a oferecer uma assistência qualificada.

A violência contra mulher,

é definida como aquela que engloba muitos tipos de comportamentos nocivos em que o alvo é a mulher, sendo definida como qualquer ato de violência de gênero que resulte ou possa resultar em dano físico, sexual ou psicológico que resultem em sofrimento para a mulher, inclusive ameaças de tais atos, coerção ou privação arbitrária das liberdades, quer isso ocorra em público, ou na vida privada (BRASIL, 2006, p. 06).

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O contexto domiciliar perfaz o cotidiano de mulheres e homens, e tem significativa influência em suas vidas, sendo, provavelmente, o contexto mais silenciado, no qual a violência se faz mais presente de modo mais naturalizado e sutil. O vínculo familiar e afetivo atribui a essa modalidade de violência uma especificidade, sendo este um fator que dificulta o processo de identificação e de enfrentamento da violência pelas mulheres(SOUTO, 2008).

Diversas são as modalidades ou práticas de violência doméstica exercidas contra a mulher no ambiente doméstico. No Brasil, na segunda metade do século passado, foram criados serviços voltados à questão, como as delegacias de defesa da mulher, as casas-abrigo e os centros de referência multiprofissionais que têm enfocado, principalmente, a violência física e sexual cometida por parceiros e ex-parceiros sexuais da mulher. Foram criados ainda os serviços de atenção à violência sexual para a prevenção e profilaxia de doenças sexualmente transmissíveis (DST), de gravidez indesejada e para realização de aborto legal, quando for o caso.

Dois milhões de mulheres sofrem algum tipo de violência por ano no Brasil. Para enfrentar a violência contra a mulher mais recentemente destaca-se a criação da Lei Nº 11.340 de 7 de Agosto de 2006 – conhecida como a “Lei Maria da Penha” – que rege sobre “DAS MODALIDADES DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER (CAPÍTULO II, Art.7º, INCISOS I, II, III, IV, V” (BRASIL, 2006, p. 20).

Entre os avanços obtidos com relação à legislação anterior citam-se: o agressor deve ser detido em flagrante ou tem sua prisão preventiva decretada, não pagamento de seus crimes com penas alternativas. Espera-se com a aplicação da lei, enquanto instrumento de natureza preventiva e educativa e não somente punitiva, a redução de práticas de violência doméstica e intrafamiliar, incluindo a conjugal. Esses resultados somente poderão ficar evidenciados se um conjunto de atores, dentre eles o governo, a sociedade civil, as organizações e movimentos sociais se lançarem nesse desafio de modo articulado, integrado e permanente.

O Fato é que a violência doméstica e familiar é uma questão histórica e cultural anunciada, que ainda hoje infelizmente faz parte da realidade de muitas mulheres nos lares brasileiros. Com a vigência da Lei Maria da Penha, criaram-se mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra as mulheres, sendo esta uma perspectiva de mudança da realidade, na qual as mulheres passam a ter instrumentos legais inibitórios, e não estão mais sujeitas à discriminação, violência e ofensas dos mais variados tipos.

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cefaléia, distúrbios gastrointestinais e sofrimento psíquico em geral. Em relação à saúde reprodutiva, a violência contra a mulher tem sido associada às dores pélvicas crônicas, às doenças sexualmente transmissíveis, como a síndrome da imunodeficiência humana adquirida (Aids), além de doenças pélvicas inflamatórias e gravidez indesejada (DESLANDES, etal., 2000).

Enquanto docente e aluna de pós-graduação e como participante do Grupo de Estudos e Pesquisa em Saúde da Mulher e Gênero, do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFPB reconhecemos a relevância desse tema, que têm gerado discussões e desenvolvimento de estudos. Isso nos instiga a buscar nos aproximar de casos de violência denunciados por mulheres que vivenciam esta realidade, e compreender fatores sociais associados, a aplicação da Lei e suas repercussões na saúde das vítimas.

A efetivação da política de saúde vigente, na prática profissional do enfermeiro, requer não apenas as habilidades técnicas inerentes à profissão, mas, sobretudo, que se reconheça o sujeito social e histórico, capaz de contribuir para a transformação do modelo dominante clássico de assistência à saúde. Para tanto, o enfermeiro precisa de uma formação que contribua para o domínio de argumentação e posicionamentos críticos, reflexivos e questionadores, de modo a estabelecer relacionamentos profissionais efetivos com os demais integrantes da equipe de saúde.

Uma discussão mais aprofundada sobre a violência, gênero e as repercussões da violência na saúde da mulher carece de maiores discussões e nos leva a refletir sobre a importância da temática dentro do contexto saúde e especificamente dentro da prática do(a) enfermeiro(a).

Diante do exposto, questionamos: De que modo a violência contra mulher vem configurando-se a partir dos avanços obtidos do ponto vista dos direitos humanos e das leis, no contexto atual e na realidade local? Que fatores podem ser apontados como motivadores de denúncia? Quais os fatores sociais associados?De que modo a Lei tem sido utilizada e quais as suas repercussões? E quais repercussões da violência na saúde da mulher? Numa tentativa de se aproximar da questão e de obter resposta para essas indagações, esse estudo se propõe a alcançar os objetivos descritos abaixo.

GERAL:

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ESPECÍFICOS:

a) Apreender os significados da violência segundo a percepção das mulheres;

b) Apreender os significados da Lei Maria da Penha para a motivação da denúncia e combate á violência;

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2REVISÃO DA LITERATURA

2.1 UM RECORTE HISTÓRICO SOBRE A MULHER NA SOCIEDADE

As diferenças entre homens e mulheres ultrapassam a anatomia e a genética humana. Ambos apresentam diversas diferenças comportamentais que datam de longo tempo, como a forma de se comunicar, a maneira de expressar os sentimentos, o enfrentamento de situações, a capacidade física, que refletem diretamente no seu convívio social. Ramos (2009) pontua que homens e mulheres viviam harmonicamente, até o ano de 4.000 – 3.500 a C. e as diferenças começaram a surgir devido ao aparecimento das primeiras civilizações e com a transição do meio de sustento, que passa da caça para a agricultura.

A participação da mulher na sociedade, desde a antiguidade, é objeto de estudo dos grandes pensadores. Sabe-se que a mulher começou assumir papel na sociedade no momento em que o homem passou a produzir seus alimentos, no período neolítico, época das sociedades (entre 8.000 a 4.000 anos atrás). Foi nesse período que se iniciaram as definições dos papéis masculinos e femininos, pois já naquela época existia a divisão sexual do trabalho, onde a mulher era responsável por gerar, amamentar e cuidar dos filhos, embora desenvolvesse também o trabalho de cultivar e criar animais (BARROS, 2001). Já no período colonial, a mulher era vista como propriedade, igual aos escravos. Quando nasciam, eram de propriedade do pai, que logo tratava de arranjar o casamento da filha, assim como uma transação comercial; logo depois, tornava-se propriedade do marido, que almejava ter uma mulher boa dona-de-casa, boa parideira e mãe, sendo dispensável a ela o conhecimento e cultura, o que facilitava a condição de submissão ao marido.

Durante toda a história da humanidade os preceitos de gênero indicaram ambientes e papeis.Acredita-se que a primeira civilização a surgir tenha sido a cidade de Jericó, na Palestina e, desde então, alguns ofícios deram origem a diferenças no trabalho entre homens e mulheres, o que é reforçado por Campos e Miranda(2005), quando pontua que são diferentes os papeis atribuídos a homens e mulheres, sendo ao homem atribuído o papel de produtor e às mulheres o de reprodutoras, fato esse observado desde o inicio das primeiras civilizações, como aponta (CAMPOS; MIRANDA)

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de casa, os homens começaram a assumir o papel dominante na sociedade (CAMPOS; MIRANDA, 2005, p. 22).

A marginalização da mulher na sociedade é marcada historicamente em todos os campos, suas atividades estavam restritas ao meio familiar e doméstico. No fim da República e início do Império, as esposas dos homens públicos de Roma contribuíam muito pouco, ou quase nada, na carreira política dos seus respectivos maridos. Seus relacionamentos com os maridos não eram de grande interesse para o mundo político, pois acreditavam que elas poderiam minar o caráter do seu cônjuge, através da sexualidade (ÁRIES;DUBY, 2004), sendo vista, dessa forma, como o pecado que poderia diminuir a força masculina.

A mulher não era vista com submissão somente nas sociedades formais, vários pontos da história em diversas sociedades indicam a subordinação feminina perante o masculino.As índias Tupinambás sofreram a mesma discriminação de gênero observado pelas autoras Pessoa, Silva e Apolinário (2008) que escreveramsobre a história das índias Tupinambá e práticas culturais no Brasil colônia afirmando que as índias Tupinambá com idade entre 7 e 15 anos começavam a aprender desde então os deveres que exercidos pela mulher como: fabricar farinha e vinhos, produzir redes, cuidar da roça, fiar algodão e a cozinhar enquanto que os rapazes se empenhavam em aprender atividades masculinas, ensinada pelos pais, como a caça. Depois de casadas elas acompanhavam seus maridos com material necessário para fazer comida sempre que eles precisassem se alimentar e era costume da época os homens serem admirados pelo número de mulheres que tinham.

Ainda na época do Brasil Colônia cabia a mulher desenvolver funções totalmente voltadas para o bom funcionamento do lar, deveria estar sempre submissa ao marido e “servir ao chefe da família com o seu sexo”, oferecendo-lhe toda proteção necessária. O amor dela pra ele era oferecido com respeito e dele pra ela com ternura, esse padrão era imposto com a finalidade de não fugir dos padrões morais da família, de forma que só quem poderia sentir desejo sexual era o homem, pois “a esposa poderia ser um veículo de perdição da saúde da alma de seu marido” (PRIORE, 2005, p. 22).

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Assim, as mulheres da elite começaram a frequentar locais públicos, passando a serem observadas pela sociedade como um todo.

Ainda no séc. XIX, segundo Hanhner (2003), as mulheres não tinham acesso à educação, e eram bastante submissas aos seus maridos. Porém, viúvas de fazendeiros passavam a tomar conta dos negócios da casa e fazenda, e algumas das mulheres pobres e livres da cidade de São Paulo buscavam seu sustento de vida, através de trabalhos pouco valorizados como lavadeiras, domésticas, cozinheiras, costureiras, amas-de-leite e vendedoras ambulantes.

Na sociedade industrial, o mundo do trabalho se divide do mundo doméstico, na qual as mulheres das camadas mais baixas foram submetidas ao trabalho fabril. A Revolução Industrial incorpora o trabalho da mulher, que acaba assumindo dupla jornada, aliando o trabalho fabril remunerado ao trabalho doméstico sem remuneração financeira. Porém, tal inserção da mulher no mercado de trabalho só ocorreu por sua mão-de-obra ser mais barata. Com isso, nascem os movimentos liderados mulheres, que lutam por direitos trabalhistas, igualdade de jornada de trabalho para homens e mulheres, direito de voto e reivindicação por escolas, creches e pelo direito da maternidade (AZEVEDO, 2001). Na sociedade capitalista, persistiu o argumento da diferença biológica como base para a desigualdade entre homens e mulheres, e ficava cada vez mais concreta a ideia que o corpo da mulher pertencia ao homem. No início do século XX houve uma pouca evolução do papel da mulher no Brasil, já queainda continuavam a desempenhar as mesmas funções de mãe e esposa, responsável por manter a honra e os bons costumes da família. Segundo Borsa e Feil (2008), revisando a literatura sobre a família no século XX, os homens eram vistos como os provedores do lar, ou seja, cabiam-lhes a responsabilidade de manter o sustento da casa. Assim sendo, as atividades executadas pelos homens tornaram-se mais reconhecidas na sociedade do que as exercidas pelas mulheres, dando-lhes também maior domínio na relação conjugal.

Segundo os autores supracitados, as donas de casa seriam as administradoras dos custos do lar e as responsáveis por ajudar o marido na contenção destas, e deveriam, ainda, produzir com as próprias mãos tudo que estivesse ao seu alcance, visando a redução de qualquer gasto. Dessa forma, era necessário pedir dinheiro para as despesas com frequência e prestar conta destas, enfatizando o caráter submisso que, por vezes, gerava insatisfações. Dentro deste olhar, percebe-se que não existia espaço para a mulher fora da casa, nem para o homem dentro dela.

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homens e mulheres. Uma das grandes conquistas femininas da história do Brasil é o direito de votar, já que até 1932 era prerrogativa apenas dos homens. Assim, em 1935, é eleita a primeira parlamentar mulher do nosso país: Carlota Queiroz. Outra vitória feminina foi a Lei do Divórcio, que representou para muitas mulheres a sua independência. Após a década de 40, cresceu a incorporação da força de trabalho feminina no mercado de trabalho, havendo uma diversificação do tipo de ocupações assumidas pelas mulheres. (WAGNER, 2010)

No Brasil, foi na década de 1970 que a mulher marcou o seu lugar definitivamente no mercado de trabalho. A mulher continuava a trabalhar em atividades que imperavam os serviços de cuidar como enfermeiras, atendentes, professoras, educadoras em creches, serviços domésticos e uma pequena parcela na indústria e agricultura. No fim de 1970 surgem no Brasil os movimentos sindicais e movimentos feministas. A desigualdade de classe que passou a imperar no período capitalista uniu os dois sexos na luta por melhores condições de vida. Onde os movimentos sindicais assumiram a luta em defesa dos direitos da mulher. (MURARO, 1983)

Na década de 1980, com o nascimento da Central Única dos Trabalhadores (CUT), a bandeira feminina é vislumbrada dentro do movimento sindical. Na década de 80 surge a Comissão Nacional da Mulher Trabalhadora, na CUT. A luta pela democratização das relações de gênero persistiu e, com a Constituição Federal de 1988, a mulher conquistou a igualdade jurídica, fazendo com que o homem deixasse de ser o chefe da família e ela passou a ser considerada um ser tão capaz quanto o homem. (COSTA, 2001)

Embora se tenha evoluído até então no que diz respeito ao papel do homem e mulher na sociedade ainda há certa divisão entre esses papeis, pois o patriarcado ainda é fortemente inserido no meio das relações de gênero. A mulher continua sendo responsabilizada pela educação dos filhos, pela coesão familiar e pelos afazeres domésticos, somado a isso a inserção da mulher no mercado de trabalho tem atribuído novas funções a esta, enquanto o papel masculino continua sendo em muitas situações o de dominador e “chefe” da família. A historiadora LoraineGiron(2008) em sua obra “Dominação eSubordinação: a mulher e trabalho na pequena propriedade”, acrescenta que

As mulheresacabaram garantindo sua própria exclusão de direitos, seja ela, nas relações familiaresou jurídicas. “São as próprias mulheres que garantem a exclusão de sua existência comomulheres, pois agiram sempre de forma a garantir o poder dos homens.” (GIRON, 2008, p. 103).

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de desempenhar bem suas atividades, por prazer) ou sociais (por alguma outra necessidade secular). Para que desenvolva, de forma hábil, todas as responsabilidades que lhe são atribuídas, a mulher passa a acumular funções e se excluir de seus direitos familiares e até mesmo jurídicos, como pontuou o autor acima.

No século XX, o Brasil passou por diversas mudanças sociais, culturais e demográficas, que resultaram no aumento do número de mulheres no mercado de trabalho. Dentre essas mudanças sociais, podemos citar: diminuição da taxa de fecundidade, maior expectativa de vida da população, aumento do número de casas que passam a ser chefiadas por mulheres (número que já vinha crescendo desde 1980), entre outros. No entanto, como afirma Bruschini (2007), as diferenças de remuneração entre homens e mulheres ainda existem, como podemos observar em uma pesquisa realizada por este mesmo autor, no ano de 2007, na qual se observou que os homens são melhores remunerados, mesmo apresentando jornada de trabalho igual à das mulheres.

Portanto, apesar de terem conquistado espaço de trabalho, as mulheres ainda sofrem distinção de gênero no que diz respeito à remuneração, o que reflete diretamente no reconhecimento do seu trabalho.

Assim, acrescenta-se que as diferenças entre homens e mulheres remetem muito mais a um caráter cultural do que biológico pois, historicamente, o papel da mulher na sociedade não tem mudado muito no decorrer dos séculos, já que ela é vista de forma geral como a pessoa responsável pelas atividades do lar, por manter a honra da família e por oferecer uma boa educação aos filhos, não deixando de lado a submissão ao seu marido ou pai.

Apesar das mulheres terem conquistado grande espaço na sociedade, os homens ainda assumem posição de controle e de destaque, ou seja, ainda existem fortes desigualdades de gênero, que fazem com que elas ainda exercem papel de submissão e medo em relação aos homens (BARBOSA, 2006).

A visibilidade e o reconhecimento que a problemática da violência adquiriu, por parte da sociedade, é fruto de um processo que se estende até hoje na mobilização e organização de movimentos, que não silenciam para a violência histórica, perpetuada contra as mulheres.

2.1.1 Movimentos feministas e suas conquistas

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surge, nas ultimas décadas do século XVII, os movimentos feministas visando combater a essa opressão (PINTO, 2004).

Ainda em relação ao Movimento Feminista, Barbosa (2006) acrescenta as desigualdades existentes entre os gêneros, como: difícil acesso ao mercado de trabalho, ausência de representatividade no poder, baixas remunerações empregatícias, impedimento de crescimento profissional, violência contra a mulher, entre outras. Esse processo foi necessário para que houvesse um olhar diferenciado para as mulheres, por parte do poder público. A reivindicação feminina foi primordial nesse contexto.

Como afirma Brymet al., (2006) o espaço hoje ocupado pela mulher na sociedade foi-lhe concedido através de políticas voltadas especificamente para estes propósitos, porém essas conquistas só se tornaram possíveis, em grande parte, pela força que foi dada pelos movimentos feministas.

Três correntes de pensamento preponderam no que diz respeito ao movimento feminista no Brasil, sendo elas: o Feminismo Liberal, que é um grupo de mulheres que objetivam somente acabar com as formas de desigualdades que limitam o desenvolvimento da mulher na sociedade; o Feminismo Radical, o qual afirma que os homens utilizam o sistema patriarcal e são dominadores do corpo e sexualidade feminina; e, por fim, o Feminismo Negro, que se aplicam as diferenças de gênero e raça (GIDDENS, 2006).

Conforme Duarte (2003) o termo feminismo criou em grande parte da sociedade brasileira um estigma, pois ser feminista passou a ser sinônimo de mulher mal amada, feia, gorda e o oposto de feminina, devido ao forte preconceito implantado pelos antifeministas.

Na década de 1970 o movimento de mulheres como um todo, estava na luta em busca de identidade política e na luta contra algumas formas de opressão, de forma que quanto mais opressão estas estivessem passando, maiores seriam suas reinvindicações o que as levaria a ocupação de cargos ainda mais elevados (BRAH, 2006).

O surgimento do movimento feminista no Brasil, no ano de 1970, buscava maior igualdade entre homens e mulheres, aumento do número de mulheres no mercado de trabalho e maiores políticas públicas, a busca por essas conquistas eram evidentes entre as mulheres da classe média que tinham algum grau de escolaridade e situação socioeconômica mais elevada que a grande maioria do país (SILVA, 2003).

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suas decisões e vida pessoal, lutavam pela autonomia dos direitos civis, pois percebiam que ainda havia descriminação, como por exemplo, a de raça, de gênero e do portador de transtorno mental (CARVALHO, 2004).

O termo empoderamento é traduzido do inglêsempowerment, que quer dizer aumento da possibilidade que um indivíduo ou população deve ter de controle acerca de sua própria vida, ou seja, sua capacidade de autonomia (MARTINSet al., 2009).

Podemos entender, conforme o texto a seguir, os objetivos dos movimentos na luta pelo empoderamento:

Pretende favorecer a efetiva participação dos cidadãos na vida social, econômica, política e cultural, e uma distribuição mais equitativa dos recursos. Para atingir este objetivo tem que haver também um processo de distribuição de poder. Uma visão estática do poder mostra-o como uma relação estruturada de dominação/submissão. Na abordagem do empowerment poder provém de várias fontes, sociais, econômicas, políticas e culturais, e pode ser gerado e disseminado através das interações sociais. É uma forma de interação com dois sujeitos (dominador/dominado), mas esta configuração pode ser alterada através duma redistribuição do poder (FAZENDA, [s.d.], p.2).

Podemos então, concluir que o termo empoderamento pode ser entendido como ações sociais que objetivam a participação do sujeito, de organizações e de comunidades, no controle de suas vidas de forma individual e coletiva.

Segundo Carvalho (2004), o indivíduo está “empoderado” quando apresenta capacidade de adaptar-se ao meio, se mostrando um sujeito autoconfiante, capaz de criar e influenciar o meio no qual se encontra inserido, e atuando neste de forma equilibrada. O termo “estar empoderado” significa ter “liberdade para tomar as suas próprias decisões” (NEVES; CABRAL, 2008, p.2).

As “raízes” do empoderamentodá-se nas lutas pelos direitos civis, exercida principalmente pelos movimentos feministas, que lutavam pelos direitos de informação e a liberdade de poder desenvolver suas habilidades, objetivando a participação na democracia (KLEBA; WENDAUSEN, 2009).

Segundo Costa (2010), ainda na década de 1970 esse termo já havia começado a ser usado pelos movimentos feministas, que entendiam esse processo como mudança radical na realidade das mulheres frente a subordinação de gênero, tornariam-se então empoderadas a partir de mudanças individuais e de tomada de decisões coletivas.

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Dessa forma, a educação feminina trouxe algumas mudanças como aumento da renda, autonomia em suas decisões e de sua fecundidade, além de maior participação nas decisões sociais, porém, esse processo de empoderamento acontece de forma gradativa e é relativo a situação social e cultural em que esteja engajada. Existem teorias que afirmam que a educação oferece maior impacto em sociedades onde a desigualdade entre gêneros sejam menos marcantes, pois ela por si só não conseguirá promover transformação enquanto não houve mudança nas relações e poder e nas normas, que privilegiem os homens (ALVES; CORRÊA, 2009).

O autor supracitado ainda concorda que os avanços da mulher em espaço social aumentaram muito no que diz respeito ao poder, porém, ainda existe uma mínima participação feminina nos poderes Legislativo, Judiciário e Executivo.

De forma geral podemos concluir que tanto os movimentos feministas como o

empowerment, objetivaram alcançar conquistas para a mulher na espera social bem como a

sua autonomia diante de suas decisões. Nessa perspectiva, conforme Hahner (2003) as mulheres acreditavam que a educação seria a chance de poderem alcançar esse objetivo.

Com a urbanização e a industrialização, no início do séc. XX, a educação feminina tornou-se uma necessidade para a sociedade, havia a necessidade de mão-de-obra qualificada e moderna, que lhes permitisse trabalhar e serem cidadãs, porém também lhes preparariam para o casamento e a maternidade, pelo medo de que essas inovações a desviassem da sua principal função (mãe e esposa) (SIQUEIRA, 2008).

No ensino superior, as mulheres também sofreram a desigualdade dos gêneros, pois não puderam ingressar no ensino dos primeiros cursos de Engenharia, Direito e Medicina. Somente no ano de 1881 houve a possibilidade de poderem se matricular no ensino superior, porém tiveram várias dificuldades, uma vez que os cursos além de serem voltados para o público masculino, também eram caros, e o preparo de base que era oferecido para as mulheres era fraco para a demanda de uma universidade (CORRÊA; ALVES, 2009).

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Segundo Hahner (2003), as escritoras do jornal o “Sexo Feminino” acreditavam que o voto feminino era um fato um tanto distante pois, no contexto em que se encontravam, poucos homens votavam e as mudanças políticas pouco afetavam as mulheres. Em 15 de novembro de 1889 houve a proclamação da República, que trouxe muitas inovações para o cenário político do país. O jornal acima citado passa a ser chamado de “O Quinze de Novembro do Sexo Feminino”, simbolizando o desejo de se tornarem independentes politicamente.

O autor acima citado ainda enfatiza que as mulheres nesse momento não se contentavam somente com o acesso a educação e ao respeito dentro da família, elas agora lutavam pelo direito de votar, pois através dele sua posição dentro e fora do lar seria bem mais valorizada.

Essa discussão chegou ao Congresso Nacional em 1891, com a proposta de que as mulheres que tivessem diploma de nível superior e que não estivessem mais sobre a tutela do pai. Poderiam ter direito ao voto, porém lhes fora negado, baseado nos argumentos que as mulheres são inferiores aos homens e que estaria promovendo o término do ideal de família proposto até então (ALKMIN; AMARAL, 2006).

Graças á atuação política do Partido Republicano Feminino, as mulheres casadas com autorização do marido, viúvas e solteiras com renda própria, conquistaram, no ano de 1932, o direito ao voto; essas restrições deixaram de existir em 1934 e em 1946 o voto tornou-se obrigatório para todos (BRYM et al., 2006).

Conforme Alkmin e Amaral (2006) no mês de maio de 1933 na Assembleia Nacional Constituinte, dá a mulher o direito de sufrágio, ou seja, direito de votar e ser votada e Carlota Pereira de Queiróz, foi eleita a primeira deputada brasileira.

No Código eleitoral de 2008, na parte quarta: dos direitos políticos o artigo 14, percebemos que hoje não existe mais nenhum tipo de distinção de gênero no que diz respeito ao direito de votar e ser votado, ele diz que: “A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei...” (BRASIL, 2008. p. 181).

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No ano de 1950, o Brasil passava por um processo de crescimento econômico pela rápida industrialização e urbanização que vinha sofrendo, havendo então, maiores possibilidades para mulher de enquadrar-se no campo trabalhista. Entre os anos de 1950 e 1970 seu trabalho era limitado, pois começaram a ocupar cargos menos valorizados e de baixa remuneração como: empregadas domésticas, costureiras, professoras de primário, trabalhadoras rurais, entre outros como afirma Mosaico (2009). Continua dizendo que mulheres abaixo de 25 anos tinham maior acesso ao mercado de trabalho, acredita-se que esse fato vinculado a maternidade e ao casamento. Também afirma que aquelas que ocupam maior nível de escolaridade ocupam cargos de maior prestigio social.

No século XX o Brasil passou por diversas mudanças sociais, culturais e demográficas que resultou no aumento do numero de mulheres no mercado de trabalho, dentre elas podemos citar: diminuição ta taxa de fecundidade, maior expectativa de vida da população, aumento do número de casas que passam a ser chefiados por mulheres (que já vinha crescendo desde 1980), entre outros. As trabalhadoras que até então eram mulheres jovens, solteiras e sem filhos, agora passa a ser composta por mulheres mais velhas, casadas e com filhos (BRUSCHINI, 2007).

Na década de 80 os movimentos feministas começaram a se focalizar na busca por políticas públicas como direito a saúde e ao trabalho. A partir de então a problemática da violência sexual começou a ser enxergada e então foram criadas delegacias específicas para queixas de violência contra a mulher (SILVA, 2003).

No ano de 1983 foi aprovado oficialmente, pelo Ministério da Saúde, o Programa de Atenção à Saúde da Mulher (PAISM), no qual o governo faz um direcionamento de verbas específico à saúde da mulher, que tem por objetivo geral oferecer-lhes uma assistência integral e gratuita(PERREIRA, 2005).

Nesse programa são abordados temas como: pré-natal, aleitamento materno, parto e puerpério, problemas obstétricos, sexualidade, vigilância epidemiológica de morte materna, descriminação, violência contra a mulher, prevenção do câncer de mama, ginecológico, planejamento familiar, tratamento da infertilidade, climatério, menopausa, vulnerabilidades e desemprego (OHARA; GONDARIZ, 2008).

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O autor supracitado ainda aponta a II Conferência Nacional de Políticas para Mulheres, que aconteceu no ano de 2007, nas quais foram abordados 11 temas centrais, dentre eles: saúde da mulher, direitos sexuais e direitos reprodutivos, enfrentamento de qualquer forma de violência contra a mulher, autonomia econômica, dentre outros. O que se pode inferir é que o processo de edificação da cidadania feminina não foi um trabalho fácil e tranquilo, e sim árduo e de longos anos. A busca pela equidade de gênero está conectada a esse processo, que arrastou muitas lutas pelo reconhecimento dos direitos femininos. Alguns benefícios foram galgados, no entanto, pouco se usufrui dessas conquistas, já que o sistema patriarcal ainda é forte e presente em diversas áreas sociais.

2.2CONSIDERAÇÕES SOBRE A VIOLÊNCIA CONTRA MULHER NO CONTEXTO NACIONAL E AS IMPLICAÇÕES DE GÊNERO

Desde o início da década de 70, a violência contra a mulher tem recebido crescente atenção e mobilização. O problema inclui diferentes manifestações, como: assassinatos, estupros, agressões físicas e sexuais, abusos emocionais, prostituição forçada, mutilação genital e violência racial. A violência pode ser cometida por diversos perpetradores: parceiros, familiares, conhecidos, estranhos ou agentes do Estado. Como questão de saúde, a violência contra a mulher passa a ter importância no Brasil na década de 80, com a implantação do Programa de Assistência Integrada à Saúde da Mulher (PAISM), que incorporou a violência doméstica e sexual como parte das necessidades a serem supridas.

Entretanto, esta iniciativa não significou, na época, mudanças expressivas na atenção à mulher em situação de violência, pois somente na década de 90 foram tomadas medidas mais efetivas, com a criação de serviços de atenção à violência sexual para a prevenção e profilaxia de doenças sexualmente transmissíveis, de gravidez indesejada e para a realização de aborto legal quando necessário (SILVA, 2009).

2.2.1A violência contra mulher observada a partir da perspectiva de gênero

Andrade e Fonseca (2008) explicam que gênero é uma categoria de análise acerca das relações de poder, procura explicar as diferenciações biológica e socialmente construídas entre homens e mulheres.

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padrão de violência doméstica das quais eram vítimas. Dessa forma, simultaneamente restringia à mulher a única ordem de ser passiva, onde lhe cabia a tarefa de ser mãe. Estavam nas mãos do homem o domínio financeiro, e a característica de provedor, direcionando a mulher para a submissão e os deveres conjugais. E é por perdurar o preceito de que o homem é o dominador que muitos até hoje se julgam assim e sentem-se proprietários de suas companheiras, culminando na violência doméstica.

A Conferência de Direitos humanos de 1993 formulou uma ampla definição, a qual é oficial das Nações Unidas sobre a violência contra mulher, e diz:

Todo ato de violência de gênero que resulte em, ou possa resultar em dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico da mulher, incluindo a ameaça de tais atos, a coerção ou a privação arbitrária da liberdade, tanto na vida pública como na vida privada. (CONFERÊNCIA DE DIREITOS HUMANOS, 1993, P. 47-48).

Schraiberet al (2002) afirma que o fenômeno que cerca a violência de gênero foi visibilizado nos últimos 20 anos, ou seja, recebeu durante esse tempo, no Brasil, um olhar mais amplo. Ele diz que isso ainda não acontece nos serviços de saúde, e ainda afirma que em outros países isso é semelhante. As mulheres, vítimas de violência, são mencionadas como pacientes poliqueixosas, hipocondríacas, e, na maioria das vezes, são vistas e tratadas de formas pejorativas. Porém, é de suma importância que os serviços básicos de saúde reconheçam-nas e acolham-nas antes da ocorrência de sequelas ou situações mais graves.

Violência é uma expressão muito utilizada nos dias atuais devido a barbaridades que são apresentadas todos os dias nos noticiários nacionais, porém não existe um consenso para definição de violência. A Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências do Ministério da Saúde (Portaria nº 737, de 16/5/2001) apresenta a violência como sendo um fenômeno de conceituação complexa, polissêmica e controversa (BRASIL, 2001)

A Organização Mundial da Saúde (OMS) conceitua violência como “a imposição de um grau significativo de dor e sofrimento evitáveis”, mas esse conceito é bem mais amplo que a mera imposição de dor, já que o conceito de dor é muito difícil de ser definido.

Desde os primórdios da humanidade a violência contra a mulher existe, resultado de relações de poder historicamente desiguais entre homens e mulheres, que avançaram para a dominação e discriminação da classe feminina, restringindo o pleno desenvolvimento desta.

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Mesmo levando-se em conta as consideráveis mudanças comportamentais da sociedade, ainda são dominantes os pensamentos e costumes machistas e discriminatórios. No entanto, hoje passamos por uma revolução silenciosa, onde as mulheres predominam em cursos de graduação, especialização, doutorado e pós-doutorado. Continuando assim, haverá um futuro de muitas conquistas e vitórias para ambos os sexos.

Cabe enfatizar ainda que a violência doméstica contra a mulher está associada a um sistema de poder, no qual o homem exerce o papel de dominador e a mulher o de dominada, a igualdade e a reciprocidade entre os sexos se excluem e a violência é utilizada como um método de controle social. Não é de estranhar que, quando a situação de subordinação da mulher é aceita, a violência passa a ser considerada como um ato legítimo e natural. Nesse sentido, a violência se torna um mecanismo que permite equilibrar a relação de poder, quando este equilíbrio se vê ameaçado. Por ser considerada normal, a violência doméstica permanece invisível e inquestionável, convergindo para uma subvalorização do fenômeno e de seus efeitos.

Conforme ressalta Watts e Zimmerman (2002) baseando-se em uma perspectiva de gênero, a violência contra a mulher vem sendo entendida como o resultado das relações de poder entre homem e mulher, tornando-se visível a desigualdade que há entre eles, onde o masculino é quem determina qual é o papel do feminino, porém esta determinação é social e não biológica. Assim, para distinguir este tipo de violência pode-se defini-la como qualquer ato baseado nas relações de gênero que resulte em danos físicos e psicológicos ou sofrimento para a mulher, entendendo-se que tal conduta é muitas vezes usada conscientemente como um mecanismo para subordinação, como o que ocorre nas relações conjugais.

A violência doméstica não é marcada apenas pela violência física, mas também pela violência psicológica, sexual, patrimonial, moral dentre outras, que em nosso país atinge grande número de mulheres, que convivem com esses tipos de agressões no âmbito familiar, ou seja, em casa, espaço da família. Esses ambientes, que geralmente são considerados como lugares de proteção, passam a serem locais de risco para mulheres e crianças.

As estatísticas apontam a violência doméstica como uma questão universal e um tipo de violência prevalente, praticada por parceiros ou pessoas muito próximas das mulheres. No contexto atual, a violência doméstica ganha visibilidade e começa a ser mostrada em dados numéricos, graças às conquistas obtidas nas duas últimas décadas voltadas para o enfrentamento do problema (SOUTO, 2008).

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como um todo, exigindo políticas públicas competentes” (SOUTO, 2008, p. 06). Dados recentes corroboram para essa afirmativa, uma vez que o Banco Mundial estima que um em cada absentismo no trabalho feminino decorre da violência doméstica. A mulher custa ao Canadá, 1,6 milhões de dólares por ano, somando-se atendimento médico e queda de produtividade.

2.3 A LEI MARIA DA PENHA

O governo brasileiro, na tentativa de implantar políticas de proteção à mulher e, consequentemente melhorias da qualidade de vida das mesmas, estabelece, em 7 de agosto de 2006, a Lei n° 11.340, que busca criar mecanismos para reduzir e precaver a violência doméstica e familiar contra a mulher. Para isso, a lei determina em seu Art. 5o que configura-se violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baconfigura-seada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial. A Lei busca diminuir ou até mesmo acabar com os casos de violência contra a mulher, a fim de que lhes sejam garantidos os direitos constitucionais de liberdade, de ir e vir e a saúde de qualidade (BRASIL, 2006).

Tal Lei se propõe a contribuir para que a mulher tenha um tratamento diferenciado, promovendo sua proteção de forma especial em cumprimento às diretrizes constitucionais e aos tratados ratificados pelo Brasil, tendo em vista que, a mulher é a grande vítima da violência doméstica, sendo as estatísticas com relação ao sexo masculino tão pequenas que não chegam a ser computadas.

O balanço do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) (2011) aponta avanços na implantação da lei no Brasil e assinala que, em quatro anos, 9.715 pessoas foram presas em flagrante com base na Lei Maria da Penha, que pune a violência doméstica contra a mulher. O balanço considera processos distribuídos nas varas e juizados especializados no tema desde a entrada em vigor da lei, agosto de 2006, até julho de 2010. No período, foram decretadas 1.577 prisões preventivas e gerados 331.796 processos envolvendo a lei, mas apenas um terço - 111 mil - resultou em decisão. Foram tomadas pela Justiça mais de 70 mil medidas de proteção à mulher.

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unidades especializadas, as varas criminais acumulam competência para processar e julgar os procedimentos da Lei Maria da Penha.

Os números podem ser maiores, já que os tribunais de muitos Estados catalogam processos e decisões de forma diferente. Para corrigir as distorções, o CNJ realiza estudos para padronizar as informações em todo o país.

No Brasil os juizados especiais para atender a mulher vítima de violência e que enfatize a lei “Maria da Penha” estão sendo criados, no ano de 2008 no estado de São Paulo foi criado o primeiro juizado Especial de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher voltado a aplicação da lei 11.340 (SÃO PAULO, 2008)

Em se tratando da região Nordeste, os estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco Alagoas e Bahia já tem juizados especiais de violência doméstica e familiar contra mulher, Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (2011) os únicos estados que ainda não tem estrutura para aplicação da lei Maria da Penha são os da Paraiba no nordeste e Rondônia na região norte do país, recentemente em fórum na Faculdade de Ciências Médicas de Campina Grande o então desembargador Abraham Lincoln da Cunha Ramos, presidente do Tribunal de Justiça da Paraíba, anunciou, em Campina Grande a instalação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher naquela comarca, em até dois meses (PARAIBA, 2011).

Outra possibilidade são as delegacias especiais à mulher, estas surgiram em resposta às demandas feministas e de mulheres na década de 1970, a partir de 2000 quando se intensificou a luta da violência contra a mulher o surgimento destas delegacias aumentou em todo o país. As primeiras delegacias da mulher datam do início da década de 80 com o apoio do então governador do estado de São Paulo Franco Motoro (MSD, 1982 – 1985)que:

[...] cuja administração pautou-se por uma política de “democracia participativa” através da criação de órgãos híbridos de representação de atores do estado e da sociedade civil, tais como, os conselhos estaduais, com o papel de formular propostas de políticas públicas com vistas à reconstrução da democracia e à ampliação da cidadania.(PASINATO; SANTOS, 2008, p. 10).

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A partir de então, outros grupos em todo o Brasil começaram a reivindicar a criação de outras delegacias pelo país. Porém, o desafio não acabara aqui, já que seria necessário capacitar policiais e demais profissionais envolvidos em uma perspectiva de gênero, o que ainda é um entrave, no que diz respeito ao enfrentamento da violência contra mulher no país (PASINATO, SANTOS 2008).

As modalidades de violência citadas na Lei Maria da Penha são, violência física, sexual, psicológica, patrimonial e moral. A Violência física acontece quando se causa ou tenta causar dano não acidental, através do uso de força física ou de algum tipo de arma que possa provocar ou não lesões externas, internas ou ambas. Segundo concepções mais recentes, o castigo repetido, não severo, também se considera violência física. Esta violência pode se manifestar de várias formas: Tapas, Empurrões, Socos, Mordidas, Chutes, Queimaduras, Cortes, Estrangulamento, Lesões por armas ou objeto, Obrigar a tomar medicamentos desnecessários ou inadequados, álcool, drogas ou outras substâncias, inclusive alimentos, Tirar de casa à força, Amarrar, Arrastar, Arrancar a roupa, Abandonar em lugares desconhecidos, Danos à integridade corporal decorrentes de negligência (omissão de cuidados e proteção contra agravos evitáveis como situações de perigo, doenças, gravidez, alimentação, higiene, entre outros) (ALMEIDA, 2009).

A violência psicológica se refere a “qualquer conduta que lhe cause a mulher dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação” (BRASIL, 2006, p. 20).

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necessidades”. Finalmente, a violência moral é entendida como “qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria” (BRASIL, 2006, p. 20).

2.4 REPERCUSSÕES NA SAÚDE DA MULHER A PARTIR DA VIOLÊNCIA VIVIDA

A saúde é um direito de todos e que vai muito além de ser definida como ausência de doençaé um equilíbrio entre o bem-estar físico, psíquico e social, que muitas vezes fica prejudicado devido às experiências vivenciadas no dia-a-dia (ALGERI; DIETER, 2005).

Existem varias formas para a quebra da integridade da saúde e, segundo Bertrand (2001), destacamos que a violência está entre os principais vilões dessa cisão, fazendo com que ocorra um desajuste no conjunto corpo, mente e espírito, ocasionando a perca de saúde da vítima, o que acarreta em problemas na vida.

Algeri e Dieter (2005) afirmam que a violência é considerada uma manifestação complexa, que ocasiona uma baixa qualidade de vida e vem somada de marcas visíveis ou não, além de que afeta a saúde tanto individual quanto coletiva, uma vez que o agressor, a vitima e pessoas próximas que vivem esse drama têm a saúde deficiente.

É sabido que quando um indivíduo apresenta algum problema em sua saúde, ele tem direito a um atendimento com profissionais da área, para um diagnostico preciso e em paralelo um tratamento adequado. Com a vítima de agressão – seja ela do tipo que for, - também se faz necessário esse atendimento, ressaltando que os profissionais da área de saúde devem ser sensíveis para identificar a agressão sofrida pela vítima, pois geralmente a mesma tem vergonha e não relata o que ocorreu, cabendo ao profissional da saúde, com um olhar clínico, identificar a dor do paciente.

Para uma recuperação da saúde e conseqüentemente uma melhor qualidade de vida se faz necessário que os profissionais da área de saúde realizem suas funções como manda o protocolo. How (2002) afirma que para acontecer esse atendimento é necessária uma educação continuada em relação ao reconhecimento aos sinais da agressão.

Há uma preocupação em torno desse contexto já que profissionais que atuam na área da saúde se mostram desinformados, com atitudes de indiferença e temor no que se diz respeito à violência e suas consequências, não tomando atitudes para ajudar às vítimas (DAY, 2003).

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estabelecer o equilíbrio bem-estar físico, psíquico e social, em busca da recuperação da saúde (ANDRADE, 2007).

O setor saúde nem sempre vem oferecendo uma resposta satisfatória para o problema que acaba diluído entre outros agravos, sem que se leve em consideração a intencionalidade do ato que gerou o estado de morbidade. Esta situação decorre da invisibilidade em alguns setores que ainda se limitam a cuidar dos sintomas das doenças e não contam com instrumentos capazes de identificar o problema. O resultado é que as intervenções terminam por mostrar respostas insuficientes dos serviços para as necessidades das mulheres. Uma vez que a situação de violência não se extingue, suas repercussões sobre o adoecimento do corpo ou o sofrimento mental ressurgem e voltam a pressionar os serviços para novas intervenções (SCHRAIBER et al., 2002).

Torna-se conhecido para os profissionais de saúde o fato de que a violência contra a mulher tem alta magnitude e relevância na saúde devido as consequências que acarretam à mulher. Sabe-se já que mulheres que vivem/viveram violência doméstica e sexual têm mais queixas, distúrbios e patologias, físicos e mentais, e utilizam os serviços de saúde com maior frequência do que aquelas sem esta experiência.

A violência contra a mulher constitui fator de risco para o surgimento de doenças físicas e mentais, podendo levar a pessoa agredida à invalidez parcial ou total, ou em muitos casos, até a morte. Destarte, o sucesso do controle da violência contra a mulher depende da participação social em entender a complexidade do problema, para que a sociedade fique meno omissa diante dos casos de agressão, já que, a violência contra a mulher é interesse e responsabilidade de todos. A adesão de todos no combate a esse tipo de violência implica em auxiliar o agredido a se posicionar de forma adequada em defesa a sua saúde e mudança do estilo de vida (MONTEIRO; SOUZA, 2007).

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3ASPECTOS METODOLÓGICOS

3.1 TIPO DE ESTUDO

Trata-se de um estudo de Campo, descritivo e exploratório de natureza qualitativa. Para Gil (2002), a pesquisa exploratória tem como objetivo permitir maior familiarização com o problema tornando-o mais explícito favorecendo a construção de hipóteses permitindo aprimoramento ou descobertas de novas idéias. Ainda para este autor as pesquisas descritivas têm por finalidade descrever as características de uma determinada população ou fenômeno, sendo, portanto, um recurso congruente ao que se propõe: Investigar de que modo a violência é percebida por mulheres em situação de violência e de que forma a Lei Maria da Penha modificou a denúncia pelas mesmas além averiguar se houve repercussões em sua saúde após a violência sofrida.

A abordagem qualitativa proporciona um relacionamento mais duradouro e flexível entre o pesquisador e os entrevistados, lidando com informações mais subjetivas, e amplas com maior riqueza de detalhes (MINAYO, 2007). Além de ressaltar a íntima relação entre o pesquisador e o que é estudado, ainda busca uma verdade mais profunda (DENZIM; LINCOLN, 2006).O enfoque qualitativo foi desenvolvido a partir da técnica de análise de conteúdo das mulheres envolvidas na violência doméstica.

Minayo (2000, p. 22), afirma que “o conjunto de dados quantitativos e qualitativos não se opõem. Ao contrário, se complementam, pois a realidade abrangida por eles interage dinamicamente, excluindo qualquer dicotomia”. Dessa forma, esse estudo utilizou a abordagem qualitativa sem desprezar a abordagem quantitativa, apesar de a qualitativa ser predominante, sendo apropriada para as respostas que foram buscadas.

3.2 CENÁRIO E PERÍODO DO ESTUDO

 

A pesquisa foi realizada na Delegacia Especializada de Assistência a Mulher, no município de Campina Grande – PB, durante mês de setembro de 2011. O município de Campina Grande está localizado no interior do estado da Paraíba no agreste paraibano, na parte oriental do Planalto da Borborema. Segundo o censo do IBGE, realizado no ano de 2010, possui aproximadamante 385.276 habitantes (BRASIL, 2010).

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delegadas, atendimento psicológico e de assistência social, procurando oferecer conforto, discrição e segurança à população feminina que necessita dos serviços.

3.3 UNIVERSO EMPÍRICO DO ESTUDO

Fizeram parte do universo2.761mulheres que denunciaram violência na delegacia. A amostra foi selecionada por conveniência não probabilística e composta por 11 mulheres, que participaram de forma voluntária das oficinas. Tendo em vista a opção pela pesquisa qualitativa, é importante ressaltar que o número de mulheres selecionadas para o estudo não se constitui num grupo representativo do ponto de vista estatístico, mas sim qualitativo. Nesse sentido, Minayo (2006) afirma que o objetivo da pesquisa qualitativa não é a generalização dos dados, mais sim, a análise em profundidade.

3.4 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

Foram incluídas no estudo mulheres com idade a partir de 18 anos, que procuraram a delegacia da mulher no período do estudo, que residiam no município de Campina Grande, por facilitar o acesso ao local da pesquisa, e que concordaram em participar voluntariamente do estudo, após assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido em atendimento à Resolução 196/96 (BRASIL, 1996).

3.5 PROCEDIMENTO E INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

Num primeiro momento se teve acesso a Delegacia Especializada da Mulher de Campina Grande com o objetivo de pactuar-se o acesso institucional e realização da pesquisa. Para a realização das oficinas foi disponibilizada uma sala de aproximadamente 4 metros quadrados. Em seguida foram convidadas 60 mulheres entre as quais foram selecionadas 11 a partir dos critérios de inclusão. A produção do material empírico que foi feita através de realização das oficinas.Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foi a entrevista semi-estruturada gravada e posteriormente transcrita na íntegra além da observação armazenada em um diário de campo.

Referências

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