MAGNITUDE DA POLIOMIELITE PARAL!TICA NO BRASIL, 1969-1979
Albert B. Sabin, M.D.
Antes de iniciar qua1quer camBanha para e1iminar uma seria amea9a ao bem-estar de uma na9ao (inimigo mi1itar ou do eri9a) e importante ter 0 maximo "conhecimento do inimigo". Nes- te caso 0 inimigo e a po1iomie1ite para1itica que anua1mente a1eija irreversivelmente milhares de crian9as e igua1ment€ mata cerca de 10 por cento durante a fase aguda da doen9a.
A pergunta que eu devo tentar responder aqui e quan- tas crian9as ficaram rea1mente com para1isia e morreram por P£
1iomie1ite no Brasil nos u1timos 10 anos. Experiencia em muitos outros paises mostraram que 0 numero de casos notificados para e pe10s servi90s oficiais de saude e freqUentemente uma variavel e pequena fra9ao do total. Pesquisas recentes de paralisia res~
dual e atrofia ern crian9as de idade escolar em Gana, Birmania , Indonesia e Filipinas reYelararn de 7 a 60 vezes mais poliomiel~
te paralitica do que foi oficialmente notificado, e que em re- gioes tropicais esta alta incidencia e encontrada sem epidemias, tanto ern areas urbanas como rurais. (Sabin, A.B., Bull, W.H.O., January, 1980).
No Brasil a poliomielite paralitica tornou-se uma do en9a notificavel em 1968. De 1968 a 1974 uma'fonte do numero de casos notificados era base ada nos dados coletados por funciona rios da Funda9ao Instituto Brasileiro de Geografia Estatistica~
(IBGE) dos Servi90s Oficiais de Saude Publica (arIDulat6rios,ho~
pitais) nos municipios e capitais de cada Estado e do Distrito Federal, dos "Casos confirmados". Uma outra fonte deinforma9ao de 1968 ate 0 presente tern sidoa Funda9ao Servi90s de Saude Publica (SESP) cujos dados sao baseados no nUrnero de casos noti ficados pelas Secretarias de Saude.
De 1968 a 1972, as notifica90es oficiais transmiti- das pelo governo brasi1eiro ~ Organiza9ao Mundial da Saude(OMS) foram os dados do IBGE, e de 1973 para ca os dados do SESP. Com base nos dados do IBGE, 0 Brasil notificou urn total de 60.758 casos paraliticos nos quatro anos de 1969 a 1972. Nos quatros ~ nos subsequentes de 1973-1976, baseado nos dados do SESP, 0 nu-
mere total foi. somente 8.575, que sugere uma notavel redu~ao de 86% que poderia ter side relacionada com os pz'oqrama s de v~
cina~ao.
Quando, durante 0 curso de minha presente visita (fevereiro de 1980) ao Ministerioda Saude em Brasilia,fui in formado da mudan~a no sistema de notifica~ao, decidi comparar o nGmero de casos notificados pel0 IBGE e pelofSESP e os sur-
c
preendentesresultados sao mostrados na 1abela 1. Desta forma ern 1971, quando os dados do IBGE mostraram 31.111 casos para- liticOS/OS dados do SESP mostraram somente 2.208 casos. De acordo com os dados do SESP, 0 numero total de casos do pario do de quatro anos de 1969-1972 foi somente 7.043 (ao inve$ de 60.758) comparados com os 8.575 do periodo de quatro anos de 1973-1976, representando urn aurnento de 1.532 casos e nao urn decrescimo de 52.183 (60.758 - 8.575). Ha obviamente algo er- rado~
Para determinar se 0 model0 de notifica~ao pel0 IBGE em diferentes ~stados para diferentes anos pode lan~ar algurna luz na diferen~a no nGmero de casos notificados pel0 IBGE e pel0 SESP, eu coletei os dados dos 10 Estados mostra- dos na Tabela 2. Quaisquer erros que pudessem ter havido nos dados do IBGE, nao poderiam explicar uma varia~ao de 621 ca- sos em 1969 para 6~156 casos em 1971 no Parana, ou de 1.642 casos em 1969 para 572 casos em 1971 no Ceara, ou de 79 casos em 1971 para 4.297 casos em 1973 em Goias, etc. A incongruen- cia entre os dados do IBGE e do SESP e evidente nao apenas na marcante diferen~a no numero total (exceto para Guanabara e Rio de Janeiro), mas no aurnento e queda em diferentes anos,c~
mo no seguinte:
IBGE SESP Sao Paulo
... . ...
1971 19.532 3361973 6.811 420
Ceara
... . ... . ..
1969 1.642 381971 572 120
Paraiba
...
1971 1.029 231973 70 43 .
Goias
... . ... .. . .
1971 79 1691973- 4.297 116
Rio de Janeiro
...
1971 237 851973 116 128
Guanabara
...
1971 121 2701973 101 191
2.
3.
Minha inc1ina9~0, por ~sto, i de dar mais cridito aos dados do IBGE e n~o dar 0 menor cridito aos dados do SESP.
A1em disto, 0 fate de 10 Estados, 1istados na Tabe1a 2, corn 67% da popu1a9~0 total do Brasil, terem tido 94%,97%e 85%
de todos os casos notificados pe10 IBGE ern 1969, 1971 e 1973 re~
pectivamente, sugere que meswo 0 mitodo do IBGE pode ter omitido muitos casos para1iticos nos demais Estados, especia1mentenonoE
te tropical do pais.
Minha primeira conc1u~~0 i de que nao i possive1 di- zer quanta poliomie1ite para1itica tern ocorrido no Brasil nos u1 timos 10 anos ou quanta ha hoje.
Minha segunda conc1us~0
e
que como parte do novo es-for90 anua1 de vacina9~0 ern massa que 0 Brasil esta agora conte~
p1ando,
e
imperativo que urn sistema de notifica9~0 mais apurado deva ser desenvo1vido imediatamente, e outros procedimentos (p.exemp10 pesquisas clinicas de paralisia residual corn atrofia ern esco1ares) devem tambim ser usados para,ava1iar a magnitude do problema da po1iomielite nos'u1timos 10 anos.
Tabela 1 - NUrnerode casos notificados de Po1iomielite Paraliti- ca - Brasil: 1969 - 1979
Discrepincia entre numerode "c~sos confirmados" noti ficados pe1a Funda9~0 Instituto Brasi1eiro de Geografia e .Esta- tistica (IBGE) baseado ern informa90es co1etadas dos Servi90s Of~
ciais de Saude Publica (i.i. ambulatorios, hospitais) dos. munici.
pios e, pela Funda9~0 Servi90s de Saude Publica (SESP)representa~
do "casos de poliomielite informados pe1as Secretarias de Saude."
AND Casos paraliticos notificados por
IBGE SESP
1969 1970 1971 1972 1973 1974
11.832 11.545 31.111 -6.270 15.336 6.063
1.136
2.270
2.208
1.429
~.610 1.074 1975
1976 1977 1978 1979
3.433 2.458 2.398 ,1.711
2.234*
*
provisoriotil
'00 M
nj r- 0 C!'
..-l M
I.H
..-l Q)
+J
0 M
Z r-
C!'
Q) M
+J..-l M 0'\
Q) \0
-r-! 0'1
8 r-l
..-l0 M Pol0 M
..-l
"~
til nj l-l til j:!l 0
0 0
-r-! '0
lor-!+J til
M 0
nj '0
l-l nj
"nj +J
Pol til M til
0 0
til r-l
nj
CJ 8
Q) Q)
"'0N
Pol 0 til l-l M
Q) til
,3
0z
r-lQ)
Q) 0..
l-l
+J Q) C
Q) M nj M 0- o
C j:!l
Q) H
l-l
Q) nj
I.H r-l
..-l Q)
Cl 0..
M
~I
l!'l MI r- co M r-l~l
M N \D 0r- 0 Ml N 0'1 M q< M M
0'\ M M M MI N • \D
M
. .
M M
Pol
I
tilM Mr-0'\r-l~I
If)q<N~l
MI If)\0 If)co 0r--N 0NM C!'\DM MINI r-llr-lj NMq<.
co0N.
M N
til l-l
00.. 0'\
§I
\D qo qo r- I" col co M If)~I
\D M M \0 M If) Mi 0'\ M I M
0'\ M M M r--
til M
0 MI
'0nj .r-!U I.H -r-l +J
0 C
M r-l 0'\
~l
0 \D M 0 I" 0 r- 0'\ \Dtil I" r-l M M 0 0 0'\ I" M \D M
0 C!' co If) 0'\1 M M M N 0'\ M
til M
· . · ·
m \0 q< N If)
U M M
M
Q)
'0 t!l M NM r-q< \DIf) co0'1 r--M MN NI" 0'\I" N0'\ r-\0 coI"
~I
0 I" If) N M M N r-i If) 0 co N r-i
l-l I:Q 0'\
· · · · · ·
Q) M 0'1 \D M M 0 r-i
,3
H r-l M MZ
0'1 0 M M r- \D N 0'\ If) co 0 N
0'\ r- qo N N M r-l qo co \D \0 co M
\D r-l co \D M \0 N 0 co
0'\
· · · ·
M I" M M M
M M
0 8
lIti Q) til
0-0 Q) co If) 0'\ I" I" M qo 0'\ qo 0'1 If) M
nj 10
· · · · · · · · · · · ·
M .1" ..c: I" M \D \0 q< q< qo N N 0 N M
~ 0'\ r-l r-l M \D 0'1
o..M .r-!
0 8 8
p., Q)
· · · · · · · · · · 0
M· · · ·
'0 .r-!· · ·
M· · · · · ·
nj til· · ·
~· · · · · ·
+J nj· · ·
til· · · · ·
til l-l· · ·
0· · · · ·
~ I:Q· ·
0 l-l· · · · ·
·
til·
'0 -r-!· · · · ·
0 0·
-r-!nj· ·
Q) Q)C· · · · · · · · ·
M njtil 0 l-l
·
'0 nj m· · ·
l-l l-l0 r-i Q)
·
r:: ~ l-l· ·
0 nj~ ~nj o ,nj ml-l a> .Qnj
· ·
..Qm Q)0.. 0.. 0..8 Pol til r:: o '0 m ItO (/) ~.-I -.-I r-i r-i
til m nj c l-l 1m m tJl nj nj
~i1 0 r:: l-l 0 0 m nj -.-I l-l l-l +J +J
Inj .r-! nj -.-I -.-I ~ Q) 0 nj Q) 0 0
til ::E: Pol 0::: p:; o CJ o p., (J) I 8 8
4.
til .r-!0 l-l ,nj
>
Q)
'0
til 0 '0nj +J
Q) r-i
0 Q)
U '0
I~
(/) nj
0 til
'0nj Q)
'0 '0
til
nj nj
U -r-!
-r-! l-l
+J nj
(/) +J
".-I Q)
+J l-l
nj U
+J Q)
til til
~
(/)
Q) nj
'0
nj -.-I
.
tilI.H (/) 0 m 0 '0 l-l-.-I m
tJ'Io.. '0
0".-1
Q) U
t!l -.-I m c U
Q) ~" •.-1 '08 r-l..Q
o (/)I~
l-l 0 p., .r-!'0
Q) Q)
r-lnj '0
•.-1 U I~
(/) •.-1 nj njr-i til l-l..Q
I:QI~ Q)
0.. '0
+J0 Q) (/)
~'O 0
+JI~ 0-
.r-! nj -r-!
+J(/) >
til l-l
-c Q) Q)
H'O til
o til 0 1m 0 1m
0-0- 0-
nj .r-! nj
'0> '0 C l-l r::
~ Q) ~
~ til ~
II • II
~ Pol
o til
rn ~
H (J)
r-l N
,/
( EM LUGAR DE EPIDEMIAS SEMELHANTES AS OBSERVADAS EM PAISES DE CLIMA TEMPERADO OCORRIDOS NO BRASIL DE 1975-1976 ATt 0 INIcIO DE FEVEREIRQ DE 1980.
(BASEADO EM DADOS SEMANAIS INFORMADOS PEU FSESP)
UNIDADES DA FEDERACAO
PERIoDOS DE AUMENTO DA INCID~NCIA
REGIOES POPULA<;AO-1979
Rondonia 156,619
283,781 1,230;895 55,481 2,939,406 182,337
1977 1977
1976?; 1979; 1979-80?
1976 1975?-1976
o
Acre }.mazonas Roraima Para Amapa
ALERTA
Maranhao Piaui Ceara
Rio Grande do Norte Paraiba
NORDESTE 3,569,732
2,224,170 5,677 ,891 2,079,374 2,825,402 6,378,194 1,954,531 1,057,999 9,467,163
01; Dez 1979-1980?
1977; 1978-1979 1976-1977; 1978-1979 1975-1976; 1977; 1979?
ALERTA
?
Pernambuco 1975-1976; 1977-1978;
1975-1976; 1979-1980*
1976
1975-1976; 1977-1979
1979-1980 ALER~
ALERTA
*A1agoas Sergipe
Bahia ALERTA I
II I
·iI
I
~CENTRO-OESTE Mato Grosso
Mato Grosso do SuI Goias
Distrito Federal
1979-19801 1979
1975-1976; 1978-1979 1975-1976; 1979
ALERTA 2,667,620
4,289,193 1,768,272
· I, i
II
· I
I
SUDESTE Minas Gerais Espiri to Santo Rio de Janeiro Sao Paulo
13,199,092 1,797,651 11,803,688 23,685,543
1975-1976;
1975-1976;
1975-1976;
1975-1976;
1976-1978; 1978-1979' 1979
1977; 1978-197.9 1978-1979
*
Parana*Santa Catarina
SUL 10,670,690
3,821,416 8,064,721
1975-1976; 1976-1977; 1979-1980*
1977?~ 1979-1980*
1975-1976; 1977 Rio Grande do SuI
!
40 periodos de aumento da incidencia 121,650,297Total
ALERTA aten~ao especial para 0 aumento do numero de casos de janeiro a junho de 1980.