Um, dois, três, quatro somos nós desempregados por meses sem escutar a fábrica a apitar
as ferramentas esquecidas por ferrugem consumidas pelas ruas caminhar como um rico a vadiar como um rico a vadiar Um, dois, três, quatro somos nós desempregados sem roupas e sem um lar cama, a terra há de bastar tendo algo que o valha dividimos as migalhas
água, o nosso vinho escasso descendo goela a baixo descendo goela a baixo
Um, dois, três, quatro somos nós desempregados por duros anos trabalhar pra o ciclo recomeçar
palácios, casa, campos, cidades pra um punhado de imprestáveis como eles vão nos pagar?
Miséria e fome a castigar Miséria e fome a castigar Um, dois, três, quatro
marchamos nós desempregados passo a passo avançamos
e uma canção cantamos
de uma terra, um mundo novo onde livre é o povo
toda mão é preciosa nesta livre terra nova nesta livre terra nova
Marcha dos desempregados
Poema de Mordechai Gebirtig, tradução do iídiche de Hanna Deutscher
Não Quero Temer
Clovis Ribeiro
Não quero temer O futuro que vem aí Não quero temer Você vai ter que sair.
Não quero temer
Nem golpe nem retroceder Não quero temer
Nem suas privatizações.
Quero mais Cultura E as Mulheres no Poder Educação para Povo Casa, Comida e Saber.
Não quero temer Suas razões de trair Não quero temer Você vai ter que sair.
Nosso Shtetl queima!
Poema de Mordechai Gebirtig,
tradução do iídiche de Hanna Deutscher
Está queimando! Irmãos, está queimando!
Nosso pobre Shtetl, desamparado, está queimando!
Ventos maus, cheios de fúria Assopram, espalham a agrura Luz, apenas a da chama- E tudo ao redor já queima!...
Vocês parados, olham uns aos outros Com braços cruzados
E vocês parados, olham uns aos outros- Nosso Shtetl sendo queimado!…
Está queimando! Irmãos, está queimando!
Nosso pobre Shtetl, desamparado, está queimando!
As labaredas furiosas
Já engolem as casas que eram nossas E o vento maligno sopra-
O Shtetl inteiro queima!…
Vocês parados, olham uns aos outros Com braços cruzados
E vocês parados, olham uns aos outros- Nosso Shtetl sendo queimado!…
Está queimando! Irmãos, está queimando!
Oh, Deus não permita, o momento está chegando:
Nosso Shtetl com nós junto Em cinzas transformado
Como em um campo de batalha- Apenas paredes, vazias, queimadas!…
Vocês parados, olham uns aos outros Com braços cruzados
E vocês parados, olham uns aos outros- Nosso Shtetl sendo queimado!…
Está queimando! Irmãos, esta queimando!
A ajuda apenas em nós se encontrando:
Se o Shtetl nos é precioso
Pegue as ferramentas, apague o fogo Apague com seu próprio sangue- Mostre a eles, você pode!
Não fiquem irmãos, como estão Com os braços cruzados!
Não fiquem, irmãos, apaguem o fogo- Nosso Shtetl sendo queimado!...
Posse espúria
Ades Nascimento Pós golpe de estado consumado, dia cinzento e de frio carregado, a classe golpeada em silêncio, pensa na melhor alternativa, busca intensa.
Semanas e meses os conspiradores disfarçados, de togas, uns senhores portadores de prolixa linguagem, os melhores no quesito rapinagem.
Estranha sensação, penso em exílio, já não reconheço o país onde vivo tampouco o novo conselho armado - pesa-me nos ombros - golpe selado.
E vocês? Apoiadores dessa infâmia, mistura de estrume, lixo e muita lama, por que defendem essa posse espúria se não desejam contra si nossa injúria?
Dia Morgado com céu de chumbo e sol no talo
Augusto Soares
A fanfarronice de nosferatus E o pé que arredou E arrendou o feijão, o arroz, e o Xingu.
Gonçalves Dias em Dias Gomes Uma faca só Na antena e no gabinete.
São tempos de fúrias no estômago Embrulhado e com fome De futuros avulsos E com reajustes - demarcação de prosperidade!?!?
Quando fizerem faltar até pão Pra chamar o povo de ladrão Está feito o convite:
Ocupemos o mato E deixemos as ruínas vazias Para os parasitas.
Cego suicídio
Martina Sohn Fischer Daqui debaixo
Toda areia, que mar já foi Voltará à forma de pedra
E pedras cortarão nossas cabeças Rolando de cima
De onde eles
E só eles, vêem o mar Todo crispado de ondas Onde hão de navegar
Com todas as cristas em riste Bem alto a gracejar
Das cabeças cortadas
De olhos bem abertos, contra os que nunca viram seu próprio coração.
Poema do golpe
Rodrigo Novaes de Almeida
Tem aqueles que sempre vão lutar Tem aqueles que não se importam Tem aqueles que nunca vão acordar Tem aqueles que nunca vão esquecer
Tem os hipócritas e tem também os cínicos
Tem os anestesiados, tem os tolos, os inocentes úteis Mas tem ainda os doces e sonhadores
Tem os loucos que se abraçam Tem os que apenas batem
Tem os que mandam bater e esses são os covardes Tem os que apanham
Tem os que sangram e tem os que mandam flores Tem os oprimidos, que não é você hoje
Mas que logo poderá ser
E tem um nome para tudo isso Um único nome para tudo isso
E não importam os muitos outros nomes que queiram dar O nome para tudo isso é golpe
E o golpe tem 516 anos
Calatetástrofe
Joana D’Arc Aleijada O pastor apascenta as ovelhas tupiniquins
O pastor apascenta as ovelhas de bem.
Protegendo contra lobos de mal.
Metam-lhes focinheiras!
& cortem-lhes as patas.
Façam sangrar-lhes os olhos, Que não se recusam a enxergar O rebanho tupiniquim
A deus dará.
Pasta na grama sempre verde sob céu estrelado de uma pátria abençoada por famílias.
vamos brindar os cálices confortavelmente e rindo de memes
à nossa própria catástrofe
A dor do golpe
Cilene Rohr
Ódio? Não sinto!
Raiva, também não!
Mas sinto medo!
E sinto o vômito a se aproximar...
Toda vez que vejo imoralidades golpeando-a como uma faca que entra pela costa l-e-n-t-a-m-e-n-t-e rasgando a esperança, causando a náusea...o nojo...o gosto amargo da
dor do golpe!
(Aqui não há mais rapsodo, só resta Cilene)
Nas barricadas
Luciano Ramos Mendes
Em poucos dias terei trinta anos -
já pensei
que seria velho quando isso acontecesse. Descobri
que não:
são lobos os velhos são lobos os ricos são lobos os brancos
e querem vender meu cu na bolsa de valores querem privatizar meus
rins meu sangue meus glóbulos
vermelhos e brancos. Querem arrancar
minha pele ainda em vida cortar minha língua e meus dedos. Querem
que não gritem
os que sofrem os que morrem.
Eu fui a todo lugar e falei todas as línguas disse prece nenhuma -
e nem direi. Em poucos dias terei trinta anos:
nunca fui tão jovem
nunca completei trinta anos nas barricadas. E não tenho medo a me flagelar o corpo não tenho medo das raposas velhas dos cães raivosos só da tristeza sem fim
que assola os corações.
Cale-se, por favor
Guilherme Haus
Pimenta amarga
Nos olhos da cidade desumana Um bebum homérico
Não pense em crise, engula a labuta De que me vale proclamar a santa Melhor seria proclamar a outra De que adianta ter boa vontade
Dissimulado ardil, instiga a nata ao centro da cidade.
Ah, meu amigo...
Angelo Malka
Meus amigos perdem amigos em redes sociais;
Meus amigos são chamados de esquerdopatas;
Meus amigos apanham da polícia;
Meus amigos são chamados de chatos por não ficarem quietos;
Meus amigos não esquecem da crise;
Meus amigos me dão a mão em tempos difíceis;
Meus amigos incomodam quem tem muito dinheiro;
Meus amigos incomodam quem promove a desinformação;
Meus amigos informam outros amigos quando a mídia não o faz;
Meus amigos nunca seriam informantes da CIA;
Meus amigos gostam de cultura;
Meus amigos acham que merenda é um direito;
Meus amigos incluem, não excluem;
Meus amigos, assim como eu, sofrem nos dias de hoje;
Meus amigos não rimam por não terem tempo de rimar;
Meus amigos não perdem a esperança;
Meus amigos as vezes erram o português por não terem uma educação melhor;
Meus amigos não são amigos do Cunha e do Moro, eles não suportam tais figuras parciais;
Meus amigos perdem falsos amigos em redes sociais, eles sabem que no fundo, essas pessoas só pensam nelas mesmas e não em todos;
Meus amigos não tem medo de perder amigos ou ofender seu patrão, pois sabem que defendem uma causa justa;
Meus amigos, nos livros de história, serão lembrados como uma brava resistência;
Meus amigos, nos livros de história, não serão chamados de golpistas;
Meus amigos, eu amo meus amigos.
Angelo Malka
“Não sou nem de direita nem de esquerda!” - Esbravejou o isentão pragmático de direita.
E a sua esquerda caíram as escolas públicas, a sua direita os hospitais públicos. No centro, não sobrou nada.
E ser pobre, virou um problema central.
O monstro acordou
Rodrigo Tomé
1988 eles vivem john carpenter
filme que a terrível trama
podia ser nosso drama aqui agora nessa hora que enfim o gigante despertado se mostrou o monstro famigerado que mesmo adormecido parecia ainda acordado
a nos espreitar com olhos e olhos e olhos e olhos e olhos e olhos e olhos e olhos
e olhos e olhos e olhos famintos ave de rapina
& cobiça
que se apoderou vorazmente da carniça projeto abandonado boicotado sistematicamente pela câmara & senado
com patrocínio de Bílbia & Gado o crime perfeito
lá estavam eles o tempo todo todo o tempo
eles nos dizem não pense obedeça acredite consuma trabalhe faça mau sexo compre compre compre reproduza-se precisamos de mais lenha para queimar em nossas caldeiras
e são múltiplas bocas e línguas e são
múltiplos
olhos e olhos e olhos they are alive / eles vivem o monstro o mostro do golpe noturna e diuturnamente a inflingir sucessivos ataques investindo na carne tenra jovem da democracia que há pouco nascia e agora
ferida de morte se contorce à luz do sol
DITADURA
Joana Assis
A ditadura é uma dura realidade Foi uma verdadeira e cruel tortura O país viveu o inferno uma loucura Tudo isto aconteceu no passado Espero que não volte nunca mais Tem gente que defende este ato Se a maldita ditadura voltar Os poetas vão ter que se exilar E agora que eu estou a poetizar Preciso a minha mensagem deixar Meus versos a verdade relatar
Criticar o sistema, ter liberdade e gritar Ditadura não, nunca mais
Você não vai me impedir De sonhar, amar e acreditar O meu pais é livre e permite Dizer a verdade sem repreensão Então eu digo,tortura não, não e não.
Rufem os Tambores
Bia de Barros
Rufem os tambores Prenúncio das guerras Como a ascensão que Antecede as quedas Que caiam os anjos Cheios de pecado Que caiam paredes Em todo palácio Derrubem os muros Que se chamam pontes Para um futuro
Feito só de ontem
Que caiam tiranos Autoproclamados Que caiam os reis Auto-coroados
Marche quem tem fome E sede da verdade Lutar contra o golpe É ato de coragem Marchem os sem-terra Marchem os sem-água Marchem os sem-teto
Marchem os sem-pátria Rufem os tambores Pelo fim da espera.
Quando queima a pele, os pulmões
Henrique Dídimo
não aprendemos ainda a cada dia um pouco fugir do gás
parar de respirar até três patas de cavalo
raspar de asfalto as caras o salto se amplia
abre caminhos, exu vinde força, ancestrais a pele arisca se abre
ocupa espaços fora do corpo o corpo é mais que um ressurge aos tentáculos
quando o ar foge dos pulmões somos a mesma palavra
regurgitada na hora do corre perder-se e ser agora tantos
Francisco Augusto professor vira alvo
aluno vira corpo trabalhador se vira
burguês em todos põe vigia pobre cada dia mais empobrece paga o centavo que não tem
pra sobreviver, fome vem, fome fica luta diária de todos, somos alvos todos que lutam contra a maré cada voto virou lágrima de dor
da mãe que não pode alimentar a cria da família que hora sofre hora dorme cada título virou mais um comprovante do atestado de inutilidade do pobre que só serve pra prestar serviço
o mínimo se tornou a isca na armadilha e nós, brasileiros, as pragas caçadas apesar de vocês burgueses, resistimos
Francisco Augusto viste então
que alguns dos teus filhos fugiram da luta
classe arrebatadora
a que opera na melhoria única como quem compra
o próprio sol e deixa o resto no próprio escuro no próprio futuro deitado eternamente
em leito esquecido nos hospitais o fulgor uma vez de esperança chora o sangue vermelho
pela grande falta de humanidade ó pátria comprada
idolatrara pela mídia não se salve
resista.
REGRESSO PARA O FUTURO
Augusto Pinheiro
I
Eu vi o mundo em chamas causadas por um anjo de terno e ouvi rojões celebrando e eu vi militares sendo trocados por engravatados e ouvi as panelas da elite e eu vi sangue negro escorrendo nas canaletas e ouvi os gritos das favelas e eu vi a proibição do vermelho e eu vi uma mulher nua e eu vi ela ser sacrificada pelo futuro e ouvi a risada de demônios milionários e ouvi um falso deus profetizar e eu vi fogueiras queimando o passado e ouvi a bala ricocheteando pele inocente e eu vi um país ser redecorado e ouvi festa e ouvi gemidos e eu vi homens bebendo vinho e vodca e uísque e champanhe e ouvi morte Inocente e eu vi meninos fumando maconha e sangue e esterco e ouvi batuques dos casse- tetes e eu vi águias assassinas atacando beijos proibidos e ouvi músicas censuradas e eu vi teatros fechados e ouvi o gatilho e eu vi dinheiro ser regado com sangue e ouvi a ordem e eu vi pastores guiando ovelhas cegas e ouvi sins e eu vi minhas mãos amarradas e eu te ouvi.
II
CÊ GRITAVA DISPARAVA MATAVA DESPIA-ME PROIBIA-ME SURRAVA-ME CUSPIA NA MINHA CARA NO MEU AMANTE NA MINHA MÃE NA MINHA VIZINHA EM VOCÊ MESMO BATIA PANELA PINTAVA A CARA BEBIA CHAMPANHE E VINHO E VOD- CA E UÍSQUE COMIA A GENTE CHEIRAVA FUMAVA E PROIBIA E SE ESCONDIA E PROIBIA VESTIA UM TERNO E TINHA BOLSOS CHEIOS E RIA E RIA E RIA PRESIDIA
III
Seu reinado acabará e os passarinhos cantarão e o povo dançará e os beijos serão liberados e viver será liberado e a maconha não terá mais sangue negro e poder-se-á beber vinho e champanhe e uísque e vodca para celebrar porque se poderá celebrar porque os pastores terão juízo e Deus terá juízo (QUEM SABE) e as ovelhas não serão mais cegas e o dinheiro perecerá e não existirá nem militares nem engravatados porque estes serão julgados e os demônios não serão mais milionários e reinará olodum e Gil e Ney e As Bahias e Drummond e Gal e Ziraldo e Faxineiras e Cozinheiras e Mães e Operárias e Travestis e Cineastas e Secundaristas e Afeminados e o teatro abrirá as portas e as bibliotecas contarão o passado e o passado não se repetirá. amém.
SÚBITA PROFECIA
Leudo Jr.
VAI ROLAR DITADURA VAI ROLAR GUERRA CIVIL TEM GENTE QUE VAI FUGIR PRA EUROPA OU PRA CUBA QUE PARIU A DIREITA TÁ GANHANDO O TIO SAM APOIANDO TODOS GOLPES SE INSTALANDO NA CARA DE PAU E A MÍDIA CRIANDO OS TOLOS VAI ROLAR A DITADURA E É NO MUNDO INTEIRO AGORA É HORA DE LUTA HORA DE VER QUEM É VERDADEIRO LIBERAIS VENDENDO A ALMA EMPRESÁRIOS DEPRESSIVOS O COLAPSO DO CAPITAL E O MERCADO CORROSIVO O PLANETA JÁ NÃO AGUENTANDO O ECO SISTEMA GORFANDO NO PRATO O PREÇO AGORA ESTÁ SE MOSTRANDO A FALTA DE ÁGUA, UM PREÇO BARATO JUNTEM-SE JOVENS LUTEM JOVENS POIS A DITA É DURA, VAI TER FRATURA VAI ACABAR A FALSA LIBERDADE TODOS VÃO VER O QUE É CENSURA ALGUNS JÁ LERAM GEORGE OWELL O GRANDE IRMÃO E TODOS LÁ BABANDO UMA ALIENAÇÃO QUASE GENERALIZADA A MISÉRIA E A INDIGÊNCIA REINANDO VALORES E DIREITOS HUMANOS JÁ ERA OBSERVEM A GUERRA E MAIS CONQUISTAS ALGUMAS ÁREAS SOLTAM BOMBAS QUIMICAS FAZENDO ALGUNS MUTANTES SOCIEDADE ACORDE E LUTE LUTE PELO OUTRO LUTE LELO IRMÃO
LUTE PELA COMUNIDADE LUTE PELA UNIÃO LUTE CONTRA ESSA DITA EXPLORAÇÃO A DITADURA TÁ ROLANDO
E VAI FICAR BEM MAIS PESADA
A MAIORIA ACHANDO QUE TÁ TUDO NORMAL A GRANDE MASSA ALIENADA
MAS PRA TER MUDANÇA
TUDO ISSO VAI SE FAZER NECESSÁRIO SAIA DE CASA, VAMOS PRA RUA
SAIA DE SEU MICRO MUNDO SAIA DO ARMÁRIO UM NOVO TEMPO VEM VINDO
PASSAREMOS PELO NOSSO ÚLTIMO OBSTÁCULO O SISTEMA SINISTRO
VAI MOSTRANDO SEUS TENTÁCULOS A MUDANÇA É DE CONSCIÊNCIA DE UM MUNDO BOM PRA TODOS
MAIS PRA ISSO VAI TER A TURBULÊNCIA E SERÃO PASSADO OS RODOS
FICARÃO NO BARCO DEPOIS DA TEMPESTADE
OS MAIS ASTUTOS COM O AMOR A PAZ E A CARIDADE FICARÃO OS POUCOS QUE FARÃO DIFERENTE
O AMOR VEM, MAS AGORA... TRINQUE OS DENTES.
Natália Faustino Marques Sempre esperto!
que a rua é lugar de todos lá, os furiosos já ocupam deixam rastros e marcas de pneu mas cobram caro o ir e o vir
música na calçada pra quê?
pra quem sai dos buracos atrás de ar nessa cidade poluída de maus humores buracos cheios enchem os trens de vários lugares o destino é um só A rua é de todos paratodos!
rasgue o papel da caixa Saiam dos buracos em busca de ar não para o mesmo lugar de todos os dias viva o ar tenha tempo ganhe tempo ocupe o que é seu de direito.
Dedos e carnes tremem
Catarina, 5 anos.
De monstros com prazeres sem fim com um montinho de palavras o que há?
não estão bem.
pesam os dedos pintados de vermelho a cor da pele
ouro de tolo
machucam os filhos dos filhos o que estão fazendo?
ela deve ficar sem fim.
pois os passarinhos estão cheios.
Natália Faustino Marques Mulher sob a ótica dos homens de bem:
bela, recatada e do lar.
Poesia como arte insurgente (eu te faço sinais através das chamas)
Laurence Ferlenghetti, tradução do inglês de Luciano Ramos Mendes
Eu te faço sinais através das chamas.
O Pólo Norte não é mais onde costumava ser.
O Destino Manifesto deixou de se manifestar.
A civilização se autodestrói.
Némesis bate à porta.
Pra que servem os poetas, numa época dessas?
Qual a serventia da poesia?
O estado do mundo pede pra que a poesia o salve.
Se você fosse um poeta, criasse trabalhos capazes de re- sponder o desafio de tempos apocalípticos, mesmo que significassem algo que soasse apocalíptico.
Você é Whitman, você é Poe, você é Mark Twain, você é Emily Dickinson e Edna St. Vincent Millay, você é Neruda e Mayakovsky e Pasolini, você é americano ou não-americano, você pode conquistar os conquistadores com palavras...