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Processo C-727/21. Pedido de decisão prejudicial

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Tradução C-727/21–1 Processo C-727/21

Pedido de decisão prejudicial Data de entrada:

30 de novembro de 2021 Órgão jurisdicional de reenvio:

Visoki trgovački sud Republike Hrvatske (Tribunal de Comércio de Recurso da República da Croácia)

Data da decisão de reenvio:

10 de novembro de 2021 Recorrente:

UDRUGA KHL MEDVEŠČAK ZAGREB

[Omissis]

Objeto: Pedido de decisão prejudicial – Cooperação judiciária em matéria civil Órgão jurisdicional de reenvio:

Visoki trgovački sud Republike Hrvatske (Tribunal de Comércio de Recurso da República da Croácia) [omissis]

Partes no processo principal [omissis]:

UDRUGA KHL MEDVEŠČAK ZAGREB (Associação Clube de hóquei no gelo Medveščak de Zagreb) [omissis]

Recorda-se que, no processo Pž-2311/2019 perante o órgão jurisdicional de reenvio, foi apresentado um pedido de decisão prejudicial (registado com o número C-361/21 no Tribunal de Justiça da União Europeia), mas que, por articulado, o advogado do recorrente informou o órgão jurisdicional de reenvio da desistência do seu cliente. O artigo 193.º, terceiro parágrafo, do Zakon o parničnom postupku (Código de Processo Civil, Narodne novine, br. 53/91, 91/92, 112/99, 88/01, 117/03, 88/05, 2/07, 84/08, 123/08, 57/11, 148/11-texto consolidado, 25/13, 89/14 e 70/19, a seguir «ZPP») prevê: «O pedido pode igualmente ser retirado com o acordo expresso do demandado, após o encerramento da audiência, até ao momento em que a decisão que põe termo ao

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processo perante o órgão jurisdicional de primeira instância tenha transitado em julgado. Nesse caso, o demandado deverá pedir a condenação da outra parte nas despesas o mais tardar no momento em que dá o seu relativamente à desistência».

Por conseguinte, o demandado é consultado e, se aceitar a desistência, é emitido um despacho de anulação da sentença proferida em primeira instância e a desistência é registada; além disso, o pedido de decisão prejudicial submetido ao Tribunal de Justiça da União Europeia é retirado, uma vez que já não é pertinente para a resolução do litígio.

Exposição sucinta do objeto do litígio no processo principal e dos factos pertinentes, teor das disposições nacionais suscetíveis de se aplicar e exposição das razões que levaram o órgão jurisdicional de reenvio a interrogar-se sobre a interpretação de disposições do direito da União:

No caso em apreço, o Trgovački sud u Zagrebu (Tribunal de Comércio de Zagreb, Croácia) proferiu, em 10 de maio de 2021, no processo P-1118/2019, um despacho pelo qual nega provimento ao pedido da devedora, Udruga KHL Medveščak Zagreb [omissis], de abertura de um processo de insolvência. A devedora interpôs recurso do referido despacho com fundamento na violação de uma formalidade essencial, na exposição errada e incompleta dos factos e numa aplicação errada do direito material, pelo que o órgão jurisdicional competente, o Visoki trgovački sud (Tribunal de Comércio de Recurso, Croácia), foi chamado a pronunciar-se sobre o processo.

Na sessão de deliberação da secção de três juízes do Visoki trgovački sud (Tribunal de Comércio de Recurso, Croácia) que teve lugar em 15 de junho de 2021, foi decidido negar provimento ao recurso e confirmar o despacho proferido em primeira instância, com o fundamento de que uma posição jurídica idêntica também tinha sido adotada no anterior processo Pž-63/2021, no qual o órgão jurisdicional de reenvio se tinha pronunciado. A secção composta por três juízes proferiu por unanimidade a decisão em questão. Em conformidade com a decisão proferida, foi redigido um exemplar escrito da decisão, a decisão foi assinada e notificada, em aplicação do artigo [177.º], n.º 3 do Sudski poslovnik (Narodne novine, br. 37/14, 49/14, 8/15, 35/15, 123/15, 45/16, 29/17, 33/17, 34/17, 57/17, 101/18, 119/18, 81/19, 128/19, 39/20 e 47/20; a seguir

«Regulamento de Processo dos Tribunais»), ao serviço de registo das decisões judiciais. Este artigo dispõe, designadamente: «Perante um órgão jurisdicional de segunda instância, um processo é considerado encerrado à data do envio da decisão pelo gabinete do juiz, após a devolução do processo pelo serviço de registo. A contar da data da receção dos autos, o serviço de registo deve reenviá-los ao gabinete do juiz o mais rapidamente possível. Em seguida deve proceder-se ao envio da decisão num novo prazo de oito dias».

Por conseguinte, perante os órgãos jurisdicionais de segunda instância, a decisão não está finalizada no momento em que a secção competente a adota e assina um exemplar da mesma; o juiz designado pelo presidente do órgão jurisdicional no mapa anual de afetação de juízes deve ainda confirmar essa decisão.

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Resulta das mesmas disposições do artigo [177.°], n.° 3, do Regulamento de Processo dos Tribunais que o juiz do registo não tem a possibilidade de não

«registar» os autos; esta hipótese não se coloca porque, se assim for, a decisão não pode ser notificada às partes. O juiz do registo examina, assim, a decisão proferida em segunda instância e pode aprová-la ou remetê-la (acompanhada de observações escritas ou orais) para que seja proferida nova decisão.

As partes no processo judicial não são informadas de que a decisão foi proferida nem do facto de o juiz do registo a ter remetido para que fosse proferida nova decisão, sendo evidente que o nome do juiz do registo não é indicado na cópia da decisão enviada às partes.

Isso figura na aplicação eSpis, que contém igualmente uma rubrica «Registos» na qual são inseridas informações sobre o autor e a data do registo, e onde se precisa que se trata de uma «confirmação pelo serviço de registo».

Além disso, existia, até dezembro de 2020, um relatório de gestão oficial dos registos [artigo 82.°, n.° 2, ponto 34, do Pravilnik o radu u sustavu eSpis (Regulamento de Utilização do Sistema eSpis, Narodne novine, br. 35/15, 123/15, 45/16, 29/17, 112/17, 119/18, 39/20, 138/20 e 147/20), com base no qual são gerados os dados relativos ao número de processos atribuídos ao juiz do registo durante um determinado período, ao número de processos que registou E AO NÚMERO DE PROCESSOS QUE REMETEU AOS JUÍZES. Apesar de esse artigo do regulamento ter sido suprimido pelas alterações publicadas no Narodne novine, br. 138/20, que entraram em vigor em 11 de dezembro de 2020, os relatórios de gestão em questão continuam a poder ser consultados em eSpis.

Prova: exemplar impresso do relatório de gestão de 12 de novembro de 2021, do qual resulta que, no período de 1 de janeiro de 2021 a 11 de novembro de 2021, foram remetidos aos juízes 610 processos [omissis] e foram registados 5922 processos.

A aplicação eSpis mostra (rubrica Operações de registo) que o processo foi remetido ao juiz, o qual deve examinar as instruções do serviço de registo e previsivelmente alterar a decisão em conformidade com estes comentários, após o que será feita uma nova transcrição da decisão. Caso o processo seja da competência de uma secção, DEVE ser remetido à mesma, a qual profere nova decisão sobre o mesmo processo (o que pode sempre ser determinado pela consulta dos dados constantes dos registos oficiais das secções e, se for caso disso, também é possível pedir ao órgão jurisdicional de reenvio os números exatos dos processos nos quais a secção adotou, na sequência de uma indicação do serviço de registo, uma decisão diferente em conformidade com as instruções do serviço de registo), e é redigida uma nova decisão, a qual é objeto de transcrição e é assinada pelos juízes.

A rubrica Operações de registo da aplicação eSpis mostra, assim, que o processo foi remetido ao juiz referido na transcrição e que a decisão foi comunicada pelo

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juiz ao serviço de registo. Só quando o serviço de registo coassina a decisão num exemplar em papel e na aplicação eSpis sob a rubrica «Confirmação da decisão pelo serviço de registo» é que o processo pode ser oficialmente declarado encerrado, sendo então emitida uma cópia da decisão e enviada ao órgão jurisdicional de primeira instância para notificação às partes.

Prova: extrato da eSpis relativo às operações de registo.

O artigo 44.º do ZPP [omissis] prevê que, quando um órgão jurisdicional decide em segunda instância em formação colegial, a secção que decide é composta por três juízes, salvo disposição legal em contrário. O órgão jurisdicional superior decide também com a mesma composição em todos os outros casos, salvo disposição legal em contrário. Um juiz singular do órgão jurisdicional superior decide dos recursos interpostos de uma sentença em matéria de pagamento de um crédito pecuniário quando o valor do objeto do litígio não exceda 100 000,00 HKN, ou em matéria comercial quando o valor do objeto do litígio não exceda 500 000,00 HKN, salvo disposição legal em contrário. Um juiz singular do órgão jurisdicional superior conhece dos recursos interpostos de um despacho, salvo disposição legal em contrário.

Ora, a decisão é efetivamente proferida por uma secção de três juízes ou por um juiz singular, sob condição de o juiz do registo subscrever essa decisão.

No presente processo, o Despacho de 15 de junho de 2021 foi comunicado ao serviço de registo das decisões judiciais, que o remeteu sem registo. O juiz do registo enviou o presente processo fazendo-o acompanhar de uma carta de 23 de junho de 2021, na qual indicava que não partilhava do ponto de vista jurídico expresso na decisão em causa (a carta em questão é comunicada em anexo).

A menção escrita não especificava que uma decisão diferente tinha sido proferida sobre a mesma questão jurídica e não mencionava a existência da Decisão Pž-63/2021.

Em conformidade com as regras imperativas, a secção de reenvio, na sua sessão de deliberação de 24 de junho de 2021, reapreciou o recurso e o parecer escrito supramencionado do juiz do registo; proferiu um despacho negando provimento ao recurso e o processo foi novamente enviado ao serviço de registo em 25 de junho de 2021.

Atendendo às disposições da Stečajni zakon (Lei da Insolvência), o prazo para decidir no presente processo é de 60 dias a contar da data de receção dos autos pelo órgão jurisdicional, e no caso em apreço este prazo terminou em 9 de agosto de 2021.

As partes no presente processo desconhecem que se trata já da segunda decisão proferida no caso em apreço.

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Uma vez que a posição jurídica do juiz do registo divergia, enviou o processo à unidade de contencioso comercial e outros litígios, para que esta questão jurídica fosse colocada numa reunião da unidade.

O artigo 40.° do Zakon o sudovima (Lei Orgânica dos Tribunais, Narodne novine, br. 28/13, 33/15, 82/15, 82/16, 67/18 e 126/19) dispõe:

«(1) Quando se verifique que há diferenças de interpretação entre unidades, secções ou juízes quanto às questões relativas à aplicação da lei ou quando uma secção ou um juiz de uma unidade se afasta da posição jurídica anteriormente adotada, é convocada uma reunião de uma unidade ou de magistrados.

(2) A posição jurídica adotada na reunião do coletivo de juízes ou de uma unidade do Vrhovni sud Republike Hrvatske (Supremo Tribunal, Croácia), do Visoki trgovački sud Republike Hrvatske (Tribunal de Comércio de Recurso, Croácia), do Visoki upravni sud Republike Hrvatske (Tribunal Administrativo de Recurso, Croácia), do Visoki kazneni sud Republike Hrvatske (Tribunal Criminal de Recurso, Croácia), do Visoki prekršajni sud Republike Hrvatske (Tribunal Correcional de Recurso, Croácia) e da reunião de uma unidade de um Županijski sud (Tribunal Regional, Croácia) é vinculativa para todas as secções ou juízes de segunda instância desta unidade ou órgão jurisdicional.

(3) O presidente de uma secção pode, se for caso disso, convidar professores da faculdade de direito, académicos eminentes ou peritos num determinado domínio do direito a participar na reunião da unidade.»

Embora essa carta não mencione uma decisão diferente do órgão jurisdicional de reenvio sobre a mesma questão jurídica ou a existência de uma decisão anterior que reflita o mesmo ponto de vista jurídico, a atribuição do processo à unidade do contencioso comercial e outros litígios foi mantida, só em 26 de outubro de 2021 tendo sido realizada uma reunião da unidade, sendo proposta a adoção da seguinte posição:

«Quando, no pedido de abertura de um processo de insolvência, o devedor tenha indicado o crédito do credor na parte relativa à lista dos elementos do ativo e do passivo, sob a rubrica “Processos perante os órgãos jurisdicionais e os organismos de direito público nos quais o devedor é parte, bem como montante e descrição do crédito objeto do processo”, sem o indicar igualmente na rubrica “Elementos do passivo do devedor registados nos livros do devedor” ou na rubrica “Outros elementos do passivo, monetários e não monetários, do devedor”, o crédito será considerado declarado.

A ausência de uma referência ao crédito do credor na parte da lista dos elementos do ativo e do passivo intitulada “Elementos do passivo do devedor registados nos livros do devedor” ou na parte intitulada “Outros elementos do passivo, monetários e não monetários, do devedor” não constitui fundamento para negar provimento ao pedido de abertura de processo de insolvência previsto no artigo 32.º da Lei da Insolvência, se o crédito estiver incluído na parte da lista dos

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elementos do ativo e do passivo intitulada “Processos perante os órgãos jurisdicionais e os organismos de direito público nos quais o devedor é parte, bem como montante e descrição do crédito objeto do processo”.

Não há que indeferir o pedido de abertura de processo de insolvência ao abrigo do artigo 32.º da Lei da Insolvência quando o devedor tiver indicado todos os processos pendentes nos quais seja parte e essa lista contenha igualmente todas as outras informações que lhe foram exigidas, segundo o texto do formulário estabelecido pelo Pravilnik o sadržaju i obliku obrazaca na kojima se podnose podnesci u predstečajnom i stečajnom postupku (Regulamento relativo ao conteúdo e à forma dos formulários para a apresentação de observações escritas em processos de insolvência e falência), isto apesar de os ter indicado, não na parte do formulário constituído pela lista dos elementos do ativo e do passivo, mas numa lista específica dos processos num documento separado, anexado ao pedido de abertura de um processo de insolvência.»

Esta regra foi igualmente considerada, na doutrina croata, contrária ao princípio da independência dos juízes, como indica, designadamente, o Professor Alan Uzelac na sua publicação intitulada «Jedinstvena primjena prava u hrvatskom parničnom postupku : tradicija i suvremenost », in Barbić, J. (sob a direção de), Novine u parničnom procesnom pravu, Zagreb: HAZU, 2020, p. 111-168 (v.

http://www.alanuzelac.from.hr/pubs/A72UzelacJedinstvena%20primjena%20prav a HAZU.pdf, consultado em 5 de abril de 2021):

«Atendendo ao conjunto das suas características, as “posições jurídicas” na aceção da Lei Orgânica dos Tribunais não correspondem à atribuição das funções assim estabelecida: não são atos de alcance geral, nem legislativos nem regulamentares, apesar da sua estrutura geral e abstrata; embora tenham estrutura de regras abstratas, não são adotadas pelo legislador. No entanto, não revestem caráter puramente abstrato, uma vez que são adotadas ao interpretar as disposições legais e regulamentares à luz de casos concretos nos quais surgem – ou podem surgir –, interpretações diferentes (“posições” diferentes) mesmo que as posições jurídicas não sejam adotadas pelas autoridades judiciais competentes para conhecer destes casos concretos. Por conseguinte, as posições jurídicas não são totalmente desprovidas de retroatividade, pois certas interpretações do direito em que se devia basear a decisão nos processos em curso são suscetíveis de alterar o teor e a interpretação da norma jurídica, e com efeitos retroativos. Em suma, no plano conceptual, as “posições jurídicas” têm uma composição mista; constituem uma categoria que, atendendo à quase totalidade das suas características, pode ser considerada uma espécie híbrida radicalmente contrária à conceção atual do papel e das funções dos órgãos jurisdicionais e do poder judicial.»

Em conformidade com o artigo 40.°, n.° 2, da Lei Orgânica dos Tribunais, a secção de reenvio deveria neste momento pronunciar-se em conformidade com o parecer adotado na reunião, a saber, no caso em apreço, conceder provimento ao recurso e anular o despacho recorrido.

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Na sessão de deliberação da secção de reenvio que teve lugar em 10 de novembro de 2021, a secção analisou todas as circunstâncias do presente processo relacionadas com a aplicação das disposições do artigo [177.°], n.° 3, do Regulamento de Processo dos Tribunais e do artigo 40.°, n.° 2, da Lei Orgânica dos Tribunais, bem como do artigo 19.° do Tratado da União Europeia (a seguir

«Tratado UE»), o qual prevê o seguinte:

«O Tribunal de Justiça da União Europeia inclui o Tribunal de Justiça, o Tribunal Geral e tribunais especializados. O Tribunal de Justiça da União Europeia garante o respeito do direito na interpretação e aplicação dos Tratados.

Os Estados-Membros estabelecem as vias de recurso necessárias para assegurar uma tutela jurisdicional efetiva nos domínios abrangidos pelo direito da União.»

e do artigo 47.° da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia (a seguir

«Carta»), que prevê o seguinte:

«Toda a pessoa cujos direitos e liberdades garantidos pelo direito da União tenham sido violados tem direito a uma ação perante um tribunal nos termos previstos no presente artigo.

Toda a pessoa tem direito a que a sua causa seja julgada de forma equitativa, publicamente e num prazo razoável, por um tribunal independente e imparcial, previamente estabelecido por lei. […]»

e concluiu que é possível que uma disposição que associa à adoção de uma decisão judicial um juiz do registo que não é do conhecimento das partes, que não está previsto nas regras processuais seguidas no âmbito do processo que conduz à adoção da decisão do recurso e que, não sendo um órgão jurisdicional superior, pode, no caso em apreço, levar um juiz a alterar a decisão proferida, seja suscetível de ter uma incidência significativa sobre o respeito do Estado de Direito e da independência dos juízes, designadamente por ser aplicável a todos os processos perante todos os órgãos jurisdicionais de segunda instância na Croácia, independentemente da questão de saber se o direito da União é ou não aplicado no caso em apreço.

Por outro lado, também podem surgir dúvidas no que respeita à regra relativa ao facto de todos os juízes de um órgão jurisdicional estarem vinculados pela posição de princípio adotada numa reunião da unidade, e isto porque, em primeiro lugar, o juiz não pode, por si próprio, inscrever uma questão na ordem de trabalhos da reunião da unidade, decisão que é da competência dos juízes do registo e do presidente de uma determinada unidade, todos eles nomeados pelo presidente do órgão jurisdicional. Em particular, suscitam-se dúvidas pelo facto de a independência do juiz em causa [ser] assim reduzida a nada e de a decisão ser tomada ao nível de um «órgão inexistente», a saber a reunião da unidade, órgão que não é previsto pelo ZPP, o código de processo que rege a atuação dos tribunais em matéria de processo civil.

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Considerando que estas questões relativas à natureza da independência da justiça são importantes e depois de ter examinado a jurisprudência do Tribunal de Justiça da União Europeia (Acórdão C-896/19), o órgão jurisdicional de reenvio decidiu submeter questões prejudiciais para que pudesse ser proferida uma decisão definitiva, no presente processo, quanto ao recurso interposto do Despacho do Trgovački sud u Zagrebu (Tribunal de Comércio de Zagreb, Croácia) de 10 de maio de 2021 no processo P-1118 /2019.

Com efeito, a regra fundamental é que uma decisão judicial proferida só pode ser alterada em resultado de recursos interpostos pelas partes perante o órgão jurisdicional competente, no quadro de um processo judicial do qual tenham conhecimento. Contudo, no caso em apreço, a decisão judicial adotada deveria ter sido alterada, em primeiro lugar no entender do juiz do registo (que por duas vezes impediu o envio da decisão judicial proferida) e, em segundo lugar, no entender de uma reunião geral.

Por conseguinte, é necessária uma decisão do Tribunal de Justiça da União Europeia sobre esta questão para que o Visoki trgovački sud (Tribunal de Comércio de Recurso, Croácia) possa decidir no presente processo e o reenvio revista o interesse geral que constitui a aplicação uniforme do direito da União e o respeito do Estado de Direito, da independência dos juízes de um Estado-Membro e da proteção jurisdicional efetiva.

Atendendo ao reenvio prejudicial, deve ser suspensa a instância no presente processo, em aplicação do artigo 213.°, n.° 1, ponto 2, do ZPP [omissis], até à prolação da decisão do pedido de decisão prejudicial.

I. Primeira questão

A primeira questão diz respeito à intervenção do serviço de registo das decisões judiciais. Antes da adesão da República da Croácia à União Europeia, o artigo 35.°, n.° 2, da Lei Orgânica dos Tribunais [omissis] dispunha: «Quando, num determinado processo, uma secção ou um juiz profere uma decisão que não está em conformidade com a posição jurídica que resulte de uma decisão proferida anteriormente por outra secção ou por outro juiz, o presidente da secção ou o presidente do órgão jurisdicional pode ordenar que o envio da transcrição da decisão seja suspenso e que as diferenças entre as posições jurídicas sejam objeto de um debate numa reunião da secção. Se, neste caso, a reunião da secção adotar uma posição contrária à decisão de uma secção ou de um juiz [omissis], a secção ou o juiz que proferiu a decisão devem proferir nova decisão sobre o processo».

Por força dessa competência, os presidentes dos órgãos jurisdicionais deixaram, em substância, ao serviço de registo a incumbência de decidir quando havia que conservar os autos, ou seja, suspender o envio de uma transcrição da decisão. A Lei Orgânica dos Tribunais [na sua redação de 2013] não inclui, no entanto, tal disposição, uma vez que se verificou, no decurso das negociações de pré-adesão que precederam a entrada da República da Croácia na União Europeia, que essa

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disposição, por força da qual uma pessoa podia impedir o envio de uma decisão judicial proferida, era contrária à independência dos juízes. Com efeito, a decisão proferida só pode ser reexaminada no âmbito de um processo de recurso [por conseguinte, as decisões dos órgãos jurisdicionais de segunda instância podem ser apreciadas pelo Vrhovni sud (Supremo Tribunal), pelo Ustavni sud (Tribunal Constitucional, Croácia) e, atualmente, pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem e pelo Tribunal de Justiça da União Europeia], e não no âmbito de um processo interno que não é transparente em relação às partes e não se encontra previsto na lei.

Apesar de desprovido de base legal, o Regulamento de Processo dos Tribunais prevê, por força das disposições controvertidas do artigo 177.°, n.° 3, que, num processo em segunda instância, o desempenho da função jurisdicional só se considera completo quando o processo é remetido pelo serviço de registo, ou seja,

«registado». Isto significa que só nesse momento é que o processo se considera findo e a decisão pode igualmente ser consultada por terceiros e enviada às partes.

Na falta de autorização de um juiz do registo, a decisão proferida no âmbito do processo de recurso não pode ser enviada às partes; deve ser proferida outra decisão a aprovar pelo juiz do registo

Consequentemente, a decisão judicial não está finalizada não obstante o facto de o juiz ter redigido e assinado essa decisão e, caso o processo seja da competência de uma secção, não basta que esta tenha proferido decisão sobre o processo, que a minuta da decisão tenha sido redigida e que tenha sido assinada pelos juízes; o processo deve em seguida ser enviado ao serviço de registo e só se este serviço a aprovar é que a decisão é considerada finalizada e é emitida uma cópia, a qual será igualmente recebida pelas partes. Se, como o seu nome indica, o serviço de registo das decisões judiciais se limitasse a «registar» o facto de ter sido proferida uma decisão, não seria necessário aguardar, antes de enviar uma cópia da decisão, até que esta tivesse sido «registada», na medida em que esse envio também pode ser feito mediante transmissão de uma cópia da decisão proferida (em formato eletrónico ou em papel). Não há dúvidas de que é possível, e que efetivamente acontece, que a decisão seja remetida pelo serviço de registo sem estar registada e, embora a decisão proferida não seja enviada às partes, é remetida à secção/ao juiz singular para que profiram uma decisão em conformidade com as indicações do serviço de registo.

O anteriormente exposto não está legalmente previsto como requisito da adoção de uma decisão judicial, mas verifica-se na prática dos órgãos jurisdicionais de segunda instância na República da Croácia por força da disposição regulamentar controvertida.

O exame da prática e do funcionamento de outros órgãos jurisdicionais na União Europeia não revela a existência de leis ou práticas semelhantes que exijam que a decisão proferida seja aprovada por um juiz que não faz parte da secção e que sujeitem o envio (pelo órgão jurisdicional de primeira instância) da decisão (sentença ou despacho) às partes ao procedimento de contra-assinatura desse juiz.

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Por conseguinte, é submetida uma primeira questão: A regra enunciada na segunda parte do primeiro período e no segundo período do artigo 177.°, n.° 3, do Sudski poslovnik (Regulamento de Processo dos Tribunais, Narodne novine, br. 37/14, 49/14, 8/15, 35/15, 123/15, 45/16, 29/17, 33/17, 34/17, 57/17, 101/18, 119/18, 81/19, 128/19, 39/20 e 47/20), que prevê que «[p]erante um órgão jurisdicional de segunda instância, um processo é considerado encerrado na data do envio da decisão pelo gabinete do juiz, após a devolução do processo pelo serviço de registo. A contar da data da receção dos autos, o serviço de registo deve reenviá-los ao gabinete do juiz o mais rapidamente possível. Em seguida, procede-se ao envio da decisão num novo prazo de oito dias», está em conformidade com o artigo 19.°, n.° 1, TUE e com o artigo 47.° da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia?

II. Segunda questão

O presente processo suscita, além disso, uma questão relativa ao facto de os juízes que se pronunciam sobre um caso em concreto estarem estritamente vinculados, do ponto de vista formal, pela posição jurídica de princípio adotada na reunião do coletivo de juízes ou da secção. Com efeito, essa autoridade formal estrita não existe para efeitos da aplicação do Tratado UE, da Constituição croata ou de uma lei; neste âmbito, as decisões são proferidas tendo em conta o conjunto da legislação em vigor e a interpretação teleológica, a fim de aplicar estas disposições e de proferir uma decisão adequada e tendo em conta todas as circunstâncias do caso em apreço. Portanto, poder-se-ia perguntar em que medida esta responsabilidade formal estrita tem incidência sobre o Estado de Direito, a independência dos juízes dos Estados-Membros, o Estado de Direito e a proteção jurisdicional efetiva.

A referida posição jurídica adotada na reunião dos juízes dos órgãos jurisdicionais de segunda instância não vincula os órgãos jurisdicionais hierarquicamente superiores [o Vrhovni sud (Supremo Tribunal), o Ustavni sud (Tribunal Constitucional), etc.] e, em muitos casos, os órgãos jurisdicionais superiores adotaram uma posição jurídica diferente no âmbito de processos de recurso.

Por conseguinte, submete-se uma segunda questão: a disposição do artigo 40.°, n.° 2, do Zakon o sudovima (Lei Orgânica dos Tribunais), que prevê que «[a]

posição jurídica adotada na reunião do coletivo de juízes ou de uma secção do Vrhovni sud Republike Hrvatske (Supremo Tribunal, Croácia), do Visoki trgovački sud Republike Hrvatske (Tribunal de Recurso de Comércio, Croácia), do Visoki upravni sud Republike Hrvatske (Tribunal Administrativo de Recurso, Croácia), do Visoki kazneni sud Republike Hrvatske (Tribunal Criminal de Recurso, Croácia), do Visoki prekršajni sud Republike Hrvatske (Tribunal Correcional de Recurso, Croácia) e da reunião de uma unidade de um Županijski sud (Tribunal Regional, Croácia), é vinculativa para todas as secções ou juízes de segunda instância desta secção ou órgão jurisdicional» é conforme com o

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artigo 19.°, n.° 1, TUE e com o artigo 47.° da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia?

Questões prejudiciais

1. A regra enunciada na segunda parte do primeiro período e no segundo período do artigo 177.°, n.° 3, do Sudski poslovnik (Regulamento de Processo dos Tribunais, Narodne novine, br. 37/14, 49/14, 8/15, 35/15, 123/15, 45/16, 29/17, 33/17, 34/17, 57/17, 101/18, 119/18, 81/19, 128/19, 39/20 e 47/20), que prevê que

«[p]erante um órgão jurisdicional de segunda instância, um processo é considerado encerrado à data do envio da decisão pelo gabinete do juiz, após a devolução do processo pelo serviço de registo. A contar da data da receção dos autos, o serviço de registo deve reenviá-lo ao gabinete do juiz o mais rapidamente possível. Em seguida, procede-se ao envio da decisão num novo prazo de oito dias», está em conformidade com o artigo 19.°, n.° 1, TUE e com o artigo 47.° da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia?

2. A disposição do artigo 40.°, n.° 2, do Zakon o sudovima (Lei Orgânica dos Tribunais), que prevê que «[a] posição jurídica adotada na reunião do coletivo de juízes ou de uma secção do Vrhovni sud Republike Hrvatske (Supremo Tribunal, Croácia), do Visoki trgovački sud Republike Hrvatske (Tribunal de Recurso de Comércio, Croácia), do Visoki upravni sud Republike Hrvatske (Tribunal Administrativo de Recurso, Croácia), do Visoki kazneni sud Republike Hrvatske (Tribunal Criminal de Recurso, Croácia), do Visoki prekršajni sud Republike Hrvatske (Tribunal Correcional de Recurso, Croácia) e da reunião de uma unidade de um Županijski sud (Tribunal Regional, Croácia), é vinculativa para todas as secções ou juízes de segunda instância desta secção ou órgão jurisdicional» é conforme com o artigo 19.°, n.° 1, TUE e com o artigo 47.° da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia?

Este pedido é acompanhado de cópias do Despacho do Trgovački sud u Zagrebu (Tribunal de Comércio de Zagreb) [omissis] de 10 de maio de 2021, da petição de recurso de Udruga KHL Medveščak Zagreb de 24 de maio de 2021, da ata da reunião de juízes de 15 de junho de 2021, o Despacho do Visoki trgovački sud (Tribunal de Comércio de Recurso, Croácia) [omissis] de 15 de junho de 2021, da carta do Presidente da secção de acompanhamento e estudo da jurisprudência de 23 de junho de 2021, através da qual o processo foi reenviado, da ata da reunião dos juízes de 24 de junho de 2021, do Despacho do Visoki trgovački sud (Tribunal de Recurso de Comércio, Croácia) [omissis] de 24 de junho de 2021, da carta do Presidente da secção de acompanhamento e estudo da jurisprudência de 1 de junho de 2021, de uma cópia impressa do relatório de gestão de 12 de novembro de 2021, da convocação para a reunião da unidade do contencioso comercial e outros litígios de 26 de outubro de 2021 e da ata da referida reunião.

Zagreb, 10 de novembro de 2021 [Omissis]

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