O que comprar?
s estúdios já têm quase todos os componentes em forma de programas de computador. Já não são ape- nas os gravadores, as mesas de mixagem e os efeitos, mas instrumentos musicais muito complexos com enor- mes coleções de timbres de altíssima qualidade, simuladores de amplificadores, de microfones e de ambientes acústicos, ferramentas revolucionárias para produção de música ele- trônica e programas de
edição de vídeo. É ló- gico que os computa- dores que rodam tudo isto têm configurações mais complexas do que as máquinas domésticas.
Ao mesmo tempo, continuamos precisan- do de certos itens que vão continuar existin- do ‘fora’ do computa- dor, conectados a ele.
São microfones, instru- mentos controladores, monitores de áudio. Po-
Sergio Izecksohn backstage@backstage.com.br
O
Montar um estúdio em casa, hoje, é muito mais barato do que a maioria das pessoas imagina. Além da forte valorização do real diante do dólar, o governo reduziu bastante as taxas dos produtos de informática. Ao levar computadores à maioria da população, a medida também incentiva todos os profissionais e empresas que dependem da tecnologia da informação
HOME STUDIOS
demos, talvez, precisar de pré-amplificadores, mesas de som, efeitos analógicos, superfícies de controle, trata- mento acústico e instrumentos musicais diversos. Esses investimentos precisam ser levados em conta antes de irmos às compras.
Os produtos que vamos adquirir agora e os que deixa- mos para comprar depois têm que ser bem escolhidos des- de já, para não desper- diçarmos a grana toda em itens desnecessári- os ou que já estão fi- cando obsoletos, abdi- cando de outras ferra- mentas fundamentais para o trabalho.
Assim, precisamos primeiro pensar no que queremos fazer e quais as técnicas que vamos adotar. Só então pode- mos configurar nosso estúdio, sempre levan- do em conta os custos e
Básico
para todos os orçamentos
benefícios. Um exemplo tradicional é a questão da bateria. Com os timbres fan- tásticos de baterias reais gerados por certos instrumentos virtuais já popula- res, conseguimos uma qualidade sonora muito maior do que se gravarmos o nos- so baterista em boa parte dos estúdios comerciais. No entanto, alugar o estú- dio para uma gravação dessas pode cus- tar mais caro do que comprar todo o equipamento para produzir um som que, afinal, vai ficar melhor. Então, é melhor aprender a programar e superar certos conceitos. Há muitos bons bate- ristas que são também bons programa- dores, mesmo os que têm estúdios bem completos. Por que será?
É importantíssimo que o computa- dor seja montado por profissionais especializados em máquinas para áudio ou por um integrador experiente e estu- dioso, que consulte a documentação de todos os fabricantes, por exemplo. Es- sas máquinas não são para internet nem escritórios. Respondem por cerca de noventa por cento do estúdio e não podem se dar ao luxo de travar.
Os programas devem ser configura- dos para gravar o áudio no segundo disco rígido, além de receber o som das entradas e enviar para as saídas da pla- ca de áudio. É muito útil ler as reco- mendações dos fabricantes.
Atividades dos estúdios
Os home studios podem gravar e mixar áudio e masterizar CDs ou di- vulgar na internet. Também podem produzir trilhas sonoras e música ele- trônica. Podem ainda combinar ins- trumentos virtuais e gravação de áudio, mixando e masterizando todo
o material. Podem sonorizar vídeos ou até mesmo produzir vídeos, exibi- los na internet e autorar um DVD.
Esses estúdios usam equipamentos bem diferentes uns dos outros.
Categorias de estúdios
Para facilitar nossas configurações, classificamos os estúdios como bási- cos, médios e avançados. Não há recei- ta; cada usuário deve saber o que quer fazer no seu estúdio e vai precisar de uma configuração exclusiva. Vamos observar os modelos usados com mai- or freqüência nas diversas categorias.
E adaptar nossas listas de compras até encontrarmos o que for mais adequa-
do e estiver disponível no mercado.
Não precisamos seguir todas as ten- dências, mas tirar o melhor som.
Home studios básicos.
É impressionante como um siste- ma de poucos milhares de reais pode ser mais poderoso do que era um es- túdio milionário de uma gravadora multinacional alguns anos atrás.
Com criatividade, conhecimento e atitude, a mágica se realiza.
A bateria bem programada é um dos pulos do gato. Instrumentos vir- tuais como EZ-Drummer e BFD têm sons pré-gravados com uma qualida- de difícil de se conseguir, mesmo em estúdios maiores. Alguns trazem inú-
Para facilitar nossas configurações, classificamos os estúdios como básicos, médios e avançados. Não há receita; cada usuário deve saber o que quer fazer no
seu estúdio e vai precisar de uma configuração exclusiva
meros ritmos para auxiliar na progra- mação. Assim, economizamos diver- sos microfones, uma mesa grande, noise gates, interfaces de áudio e mui- tos gigabytes do disco rígido.
Pistas de áudio de vozes e instru- mentos acústicos e elétricos são grava- das através de uma pequena mesa ou um pré-amplificador, que envia os sons para a placa de áudio. É comum, em es- túdios de todos os níveis, gravarmos uma guia e adicionarmos as partes uma a uma, dispensando as mesas maiores.
As placas da M-Audio são as mais usadas hoje, pela compatibilidade e cus- to. O melhor custo/benefício é da Delta
1010 LT, que vem com duas entradas para microfones e seis de linha, servin- do até para quem não tem uma mesa.
Esqueça as soundblasters e as placas on board (som da placa-mãe). Placas de multimídia têm qualidade sonora in- ferior e não têm processamento para rodar os programas de áudio e música.
O computador precisa de um pro- cessador veloz, compatível com uma boa placa-mãe, muita memória de boa marca, dois HDs grandes e rápi- dos, gravador de DVD e uma placa de vídeo com bastante memória. Até um bom e velho Pentium 4 pode fazer bonito e resolver tudo, mas, quanto mais processamento, mais instru-
Médio
mentos e efeitos podemos usar. O sistema operacio- nal é o Windows XP Pro.
Em pleno 2008, o Win- dows Vista ainda não tem todos os programas, drivers (controladores) e plug- ins desenvolvidos para ele, e gasta quase a meta- de da memória.
Quem grava áudio e MIDI usa versões de me- nor custo dos programas Sonar, Cubase, Nuendo
ou ProTools. Os primeiros são preferi- dos nesta categoria pela maior facilida- de de se obterem plug-ins VST e maior compatibilidade dos sistemas. A edição do áudio é feita com Sound Forge ou
Wave Lab. Os complementos são o Reason, plug-ins VST como os efeitos da Waves ou da Sony e os instrumentos como os da East West, Native e Ilio. O CD Architect, da Sony, para mas-
terização, completa a lis- ta de software.
O microfone do estú- dio básico é dinâmico, como o Shure SM58 ou SM57. Não dá para usar microfones a condensa- dor numa sala ou quarto sem tratamento acústico.
A acústica dos pequenos estúdios, quando se faz al- guma coisa, é resolvida com tapetes, cortinas e si- milares. Os cabos devem ser balanceados. Quando isto não for pos- sível, devem ter menos de três metros.
Um teclado controlador MIDI ou USB e o melhor som doméstico ou pe- quenos monitores de referência fecham
a lista. Com um equipamento desses, ta- lento e um bocado de conhecimento em MIDI e áudio, dá para produzirmos CDs e trilhas de ótima qualidade.
Home studios médios
Além de um computador com hard disks maiores que os do estúdio básico, in- clusive caixinhas USB para trocarmos os discos rígidos como quem trocava a fita do gravador, o estúdio médio tem uma mesa de som ou bons pré-amplificadores Behringer, PreSonus ou M-Audio. Mesas com interface de áudio integrada, como as da M-Audio e da Behringer, com conexão Firewire ou USB 2.0, são uma opção práti- ca. Se a mesa não tiver esse tipo de ligação com o PC, interfaces de áudio com conec- tores P10 balanceados ou XLR evitam o ruído dos cabos.
O processador é um Intel Core 2 Duo ou Core 2 Quad usando Windows XP Pro ou um Apple Power Mac G5 usando Mac OS-X, com pelo menos dois gigabytes de memória. Os progra- mas são os mesmos usados nos estúdi- os básicos. Com HDs maiores, grava- mos mais áudio e mais instrumentos virtuais podem ser instalados.
O estúdio médio pode criar trilhas sonoras com mais memória na placa de vídeo (256 ou 512 MB), usando os próprios programas Sonar ou Cubase.
Com o Vegas, da Sony, e uma conexão Firewire, esse estúdio captura e edita vídeos em grande estilo. Para usar mi- crofones a condensador, como os da MXL ou da Behringer, o home studio intermediário precisa investir em pa-
inéis acústicos, absorvedores e arma- dilhas de graves.
Home studios avançados
A gravação de bateria e de grupos ins- trumentais e vocais é um diferencial dos maiores estúdios. A presença da mesa grande, das medusas e dos multicabos é uma conseqüência natural desta opção.
É claro que vamos gravar a bateria em um outro cômodo da casa. De preferên- cia, que não tenha uma parede em co- mum com a técnica, para não confun- dirmos o som dos monitores com os va- zamentos, já que a bateria produz muita pressão sonora, especialmente o bumbo.
Uma casa com paredes grossas tem mui- to mais chance de sucesso que um apar- tamento novo com o pé direito baixo.
Divisórias acústicas, geralmente du-
Avançado
www.homestudio.com.br/links
Fabricantes citados
Computador com placa ou interface de som Programas de áudio e música
Monitores de áudio Cabos
Instrumentos musicais
Acessórios (pedestais e filtros para micro- fones, fones de ouvido, móveis e outros) Se grava vozes e instrumentos, o estúdio também precisa ter:
Todo estúdio precisa ter
Um ou mais microfones
Pré-amplificador ou mesa de som Produzindo arranjos ou música eletrôni- ca, o estúdio também tem:
Teclado ou outro controlador MIDI Home studios mais sofisticados têm ainda:
Superfícies de controle Efeitos analógicos Tratamento acústico
plas, à base de madeira, lã de vidro e gesso acartona- do podem dar ótimos re- sultados. Painéis, absor- vedores e armadilhas de graves também devem ser distribuídos pelas salas.
Mas só faça essas obras com projetistas e marce- neiros experientes que conheçam os problemas e as soluções da acústica, tanto para o tratamento quanto para o isolamen-
to. Eles podem fazer também todos os móveis do estúdio, como estantes e ou- tros. Esta vai ser a maior despesa e vai va- lorizar muito o seu empreendimento.
Os computadores mais indicados neste nível de configuração são Intel Core 2 Extreme Quad-Core e Apple Mac Pro (com Quad-Core Intel Xeon), este 2,6 vezes mais rápido que o velho Macintosh G5 em aplicações de áudio. É um investimento também várias vezes maior do que em um PC “topo de linha”.
Os programas usados nos PCs (com Windows XP Pro) são o Cubase, o Nuendo, o Sonar e o Pro Tools LE, que é adquirido com a interface Digidesign 003, ou mesmo o Pro Tools HD com os
seus periféricos, usados também nos grandes estúdios. Nos Macs, usamos Logic, Performer, Cubase ou Pro Tools sobre o sistema operacional Mac OS-X.
Os microfones devem ser capazes de abranger toda a gama de instru- mentos e vozes que serão captados.
Usamos modelos diversos de marcas como Neumann, AKG, Sennheiser, Shure e Electro-Voice, entre outras, para gravar tambores, pratos, per- cussões, vozes, cordas, sopros, piano e tudo mais.
O som destes microfones pode ser valorizado por pré-amplificadores de diversas grandes marcas, como Ava- lon, Apogee, Focusrite ou Universal
Audio, especialmente os valvulados. Do pre- amp, o som vai direto para o computador por cabos balanceados. Al- guns desses estúdios avançados usam efeitos analógicos como com- pressores valvulados e outros. O direct box ser- ve para balancear o si- nal de, por exemplo, ins- trumentos elétricos.
Controladores MIDI para os instrumentos virtuais podem ter a forma de qualquer instrumento musical. É útil ter dois teclados, um de ação pesada (tipo piano) com 88 teclas e outro com 61 ou 76 teclas leves. Po- dem ser vistos vários outros formatos de controladores MIDI, como guitar- ras, violões, violinos, tambores e con- troladores para música eletrônica em forma de bateria MPC.
Uma superfície de controle é com- patível com o porte desse estúdio. Es- colha uma que opere com seus progra- mas favoritos e configure-a à vontade para dar uma folga para o mouse.
Conclusões
Na verdade, nenhum estúdio é exatamente como as sugestões acima.
Como já vimos, as opções citadas ser- vem de referência, mas a sua escolha deve sempre se pautar pelas suas ne- cessidades específicas, tanto musicais quanto de orçamento. Planeje bem e boas compras!