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Rev. esc. enferm. USP vol.49 número4

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Academic year: 2018

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EDITORIAL

© Marcia Regina Cubas

1 Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Programa de Pós-Graduação em Tecnologia em Saúde, Curitiba, PR, Brasil.

m.cubas@pucpr.br

DOI: 10.1590/S0080-623420150000400001

Universal e transcultural: desafios para

a terminologia de Enfermagem

Marcia Regina Cubas¹

A construção de uma terminologia de enfermagem exige comprometimento entre pares e trabalho coletivo. Propor que ela seja universal é um desaio justii-cado pela diversidade dos cenários das práticas e contextos culturais, seja no âm-bito nacional, num país heterogêneo como o Brasil, ou no âmâm-bito internacional. Uma terminologia universal é formada em culturas distintas e deve estender-se

a todos os contextos. De fato, essa foi uma ousadia do International Council of

Nurses, entidade responsável pela Classiicação Internacional para as Práticas de

Enfermagem (CIPE®).

O desejado consenso para denominações de termos e seus signiicados é de-terminado pelas especialidades proissionais dos enfermeiros desenvolvedores, os quais, em primeira instância, são inluenciados pela cultura, organização da sociedade e pelo modelo hegemônico de atenção à saúde.

A utilização de uma terminologia adequada a uma linguagem universal deve considerar a cultura, a organização social, a prática clínica e as particularidades proissionais no uso de termos técnicos(1).

Como é o caso de outras terminologias, a língua-fonte do conjunto de

ter-mos e signiicados incluídos na CIPE® é a inglesa. A língua é um sistema de

representação de palavras e regras, entendido por uma determinada comunidade linguística em seu processo de comunicação. Quando a classiicação é utilizada em países que não compartilham a língua-fonte, faz-se necessária a tradução e adaptação transcultural. Essa tarefa não é fácil e sua operacionalização, por vezes, é pouco compartilhada.

Ora, inúmeros são os termos empregados pela enfermagem que são comuns a todos os contextos e domínios proissionais. Os termos comuns não geram dú-vidas quando submetidos a processos de tradução. Ao incluir numa terminologia

da área da saúde uma palavra relacionada a um local do corpo, como o braço, o

mesmo será denominado, representado e compreendido como parte do membro superior humano em todas as culturas e contextos das práticas, tornando desne-cessária a adaptação transcultural, bem como o detalhamento de sua deinição

na terminologia, bastando dizer que o braço é uma região corporal.

Entretanto, para outro conjunto de termos esta lógica não se aplica. Em países que compartilham de um mesmo idioma, a exemplo do Brasil e Portugal, uma única tradução do inglês para o português pode não abrigar diferenças de senti-do, originárias das transformações históricas da linguagem e da cultura. Existe a necessidade, portanto, de adaptação transcultural, pois a historicidade e as raízes culturais particulares resultam em diferentes formas de compreender e aceitar proposições de termos, que não são traduzidos e entendidos da mesma maneira.

Fenômenos que são fortemente inluenciados pela cultura e organização de grupos sociais são imersos em complexidade. Estudos, que se dedicaram à

ava-liação da aplicabilidade do subconjunto terminológico da CIPE® para promoção

de uma morte digna, apontam para este fato(2-4).

Esperar que as intervenções de enfermagem para um fenômeno como a morte sejam contempladas em um padrão universal pode não levar em conta uma cultura, como a Tailandesa: nela o budismo é a religião da quase totalidade

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www.ee.usp.br/reeusp

EDITORIAL

da população, sendo a morte um fenômeno bem-vindo, cabendo aos enfermeiros proporcionar dis-cussões de assuntos de família e incentivar os familiares a se despedirem(2).

No contexto da assistência a uma morte digna, os enfermeiros tailandeses indicam que integrar o

conhecimento religioso e cultural em sua prática clínica é de suma importância(2); os enfermeiros

hin-dus sugerem inserir o cuidado holístico e a ioga para o manejo da dor(3); e os enfermeiros sul-coreanos

apontam que estabelecer coniança é essencial(4).

Para que ocorra a adaptação transcultural também é necessário o conhecimento do sistema de saúde e dos modelos assistenciais que o constitui, pois as práticas são determinadas pelas políticas e pelos movimentos, hegemônicos e contra-hegemônicos que ocorrem em distintas realidades.

As-sim, se a pesquisa que se dedicou a avaliar o subconjunto para promoção de uma morte digna fosse

replicada no Brasil, uma das hipóteses é que enfermeiros indiquem como prioritárias as intervenções oriundas da política nacional de humanização.

No Brasil, espera-se que as práticas de enfermagem no espaço da atenção primária estejam anco-radas nos princípios do Sistema Único de Saúde e nas bases conceituais da saúde coletiva, no sentido de superar o modelo assistencial biomédico. Desta forma, uma terminologia universal e transcultural capaz de representar a prática da enfermagem brasileira deve ser fortalecida com a presença de fenô-menos oriundos dessa prática e da visão de mundo da saúde coletiva. Levanta-se, como exemplo, a

questão de que a CIPE®, ao relacionar apenas uma vez a palavra vulnerabilidade em toda a extensão

das deinições de seus termos, pode estar limitada no sentido de contextualizar fenômenos determi-nados socialmente.

Não menos importante, um dos objetivos das terminologias é apoiar o processo de raciocínio

clínico do enfermeiro e ancorar a nominação de fenômenos de interesse da disciplina(5). Portanto,

propiciar a amplitude da CIPE® para apoiar o raciocínio epidemiológico e ancorar a nominação

de fenômenos socialmente determinados poderá contribuir para sua representatividade universal e transcultural.

No início deste editorial, airmou-se que a construção de uma terminologia é fruto do compro-metimento entre pares e de um trabalho coletivo, portanto, para responder ao desaio aqui discutido, a

Enfermagem deve criar movimentos eicazes para contribuir com a inclusão de termos à CIPE®, bem

como discutir a amplitude ou limitação das deinições apresentadas nessa terminologia.

REFERÊNCIAS

1. Clares JWB, Freitas MC, Guedes MVC, Nóbrega MML. C��stru�ti�� �� ter�i��l�g� subsets� ���tributi��s t� �li�i�C��stru�ti�� �� ter�i��l�g� subsets� ���tributi��s t� �li�i� �al �ursi�g pra�ti�e. Rev Es� E��er� USP. 2013;47(4)�962�6.

2. D��re�b�s AZ, Ju�tas�peepu� P, Eat�� LH, Rue T, H��g E, C�e�e� A. Palliative �are �ursi�g i�terve�ti��s i� Thaila�d. J Tra�s�ult Nurs. 2013; 24(4)�332�9.

3. C�e�e� A, D��re�b�s AZ, Wils�� SA. Nursing Interventions to Promote Digniied Dying in Four Countries. Oncol

Nurs F�ru�. 2007;34(6)�1151�6.

4. Jo KH, Doorenbos AZ, Sung KW, Hong E, Rue T, Coenen A. Nursing interventions to promote digniied dying in

S�uth K�rea. I�t J Palliat Nurs. 2011;17(8)�392�7.

5. Carvalh� EC, Cruz DALM, Herd�a� TH. C��tribuiçã� das li�guage�s padr��izadas para a pr�duçã� d� ���he�i� �e�t�, ra�i��í�i� �lí�i�� e práti�a �lí�i�a da E��er�age�. Rev Bras E��er�. 2013;66(�.esp)�134�41.

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