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Concretização do direito internacional tributário por meio da aplicação do federalismo como princípio estruturante da nova ordem internacional

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Academic year: 2017

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Universidade

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito

CONCRETIZAÇÃO DO DIREITO INTERNACIONAL

TRIBUTÁRIO POR MEIO DA APLICAÇÃO DO FEDERALISMO

COMO PRINCÍPIO ESTRUTURANTE DA NOVA ORDEM

INTERNACIONAL

Brasília - DF

2012

(2)

ANTONIO GONÇALVES HONÓRIO

CONCRETIZAÇÃO DO DIREITO INTERNACIONAL TRIBUTÁRIO POR MEIO DA APLICAÇÃO DO FEDERALISMO COMO PRINCÍPIO ESTRUTURANTE DA NOVA

ORDEM INTERNACIONAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito Internacional Econômico da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Direito.

Orientador: Prof. Dr. João Rezende Almeida Oliveira

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Dissertação de aUloria de Antônio Gonçalves Honório. intitulada ··Concretização do Direito Internacional Tributário por meio da Aplicação do Federalismo como Principio Estruturante da 0\'3 Ordem Internacional", apresentada como requisilo parcial para obtenção do grau de Mestre em Direito da Universidade Católica de Brasília. em

30 de março de 2012 defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:

Prol. Dr. João

QFG←kj[ッkエTャB。MBG￳oセilゥセM。セゥイM。MMᆳ

Orienlador

P

r. Arnald Sampaio

as

セク。ュゥョ。、ッイ I terno

Prot. Dr. Rossini Campos do Couto Corrêa

E\aminador

Externo

Brasília

(4)

AGRADECIMENTOS

A Deus e aos Meus Pais pela vida.

À minha mulher, Maria do Amparo, e aos nossos filhos, Guilherme e Rodrigo, razão de minha luta por uma sociedade justa, solidária e democrática.

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RESUMO

HONÓRIO, Antônio Gonçalves. Concretização do DireitoInternacional Tributário

por meio da aplicação do federalismo como princípio estruturante da nova ordem internacional. 104 folhas. Dissertação de Mestrado em Direito, Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2012.

A globalização do sistema tributário decorre da internacionalização da sociedade e da economia iniciado após a Segunda Guerra Mundial, sendo intensificada nas décadas de setenta e oitenta do século passado. Ela acabou por impulsionar a incorporação de legislações nacionais que trouxessem ao bojo tal temática. Exemplo clássico disso são as regras tributárias da Comunidade Européia e do MERCOSUL . Por outro lado, a viabilização de uma organização tributária internacional, só está sendo possível, graças ao espírito federalista que acompanha a evolução política do homem desde a Antigüidade Oriental, isso porque a evolução do Estado passa também pela organização da contribuição tributária, pela definição de seu território e pela forma como se relaciona com outros Estados e consigo mesmo. É por meio deste ideário federalista que os Estados membros criaram, em 1945 do século XX, a Organização das Nações Unidas – ONU, dando um caráter unitário ao sistema político global sem afetar a autonomia e a soberania dos Estados-Membros. Com a criação da ONU temos o aperfeiçoamento do sistema político internacional tão reclamado pelos jusfilósofos desde o final do século XIX, mas, por outro lado, a criação da ONU, permitiu o equilíbrio financeiro internacional por meio de órgãos reguladores como é caso do Fundo Monetário Internacional e a instituição do dólar como moeda referência cambial. O que favoreceu a formação de tratados internacionais, assim regulando a organização tributária internacional. É, portanto, o aperfeiçoamento das concepções federalistas que envolvem a centralização versus a descentralização, a autonomia versus a soberania e o espaço versus o território, que vamos ter um sistema tributário internacional que atenda as necessidades políticas dos Estados atuais e da sociedade internacional.

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ABSTRACT

HONÓRIO, Antônio Gonçalves. Implementation of the International Tax Law by implementing the Federalism as a structuring principle of the New World Order. 104 paper. Dissertation in Law, Catholic University of Brasilia, 2012.

The globalization of the tax system derives from the internationalization of society and the economy started after the Second World War, being intensified in the seventies and eighties of last century. She ended up driving the incorporation of national laws to bring this issue to the bulge. A classic example of this are the tax rules of the European Community and MERCOSUR. On the other hand, the feasibility of an international tax organization, is only possible thanks to the federalist spirit accompanying the political developments of man since ancient East, which is why the evolution of the state also includes the organization of tax contribution, the definition of its territory and how it relates to other states and with himself. It is through this federalist ideology that member states set up in 1945 of the twentieth century, the United Nations - UN, giving a unitary character of the global political system without affecting the autonomy and sovereignty of Member States. With the creation of the UN have the improvement of the international political system a sclaimed by jusfilósofos since the late nineteenth century, but on the other hand, the creation of the UN, international financial stability allowed by regulators as is the case Monetary Fund International institutions and the U.S. dollar as reference currency. What favored the formation of international treaties, thus regulating international tax organization. It is, therefore, the improvement of federal ist concepts that involve the

centralization versus decentralization, autonomy versus the

sovereignty and territory versus space, we have a system that meets international tax policy needs of current states and international society.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...9

2 HISTÓRIA DO FEDERALISMO ...16

2.1 O Federalismo na Antigüidade Oriental ...16

2.1.1 As civilizações do “poder descentralizado” ...18

2.2 O Federalismo na Antigüidade Clássica...21

2.2.1 A união da civilização grega ...21

2.2.2 O direito comum de Roma e a idéia de federalismo ...23

2.2.3 Influência de Roma na formação da modernidade...25

3 A FEDERALIZAÇÃO DO PODER NA EUROPA MEDIEVAL...27

4 A FORMAÇÃO DO FEDERALISMO MODERNO...31

4.1 Antecedentes...31

4.2 Soberania internacional...34

4.3 Influência do pensamento racional liberal clássico...36

4.4 A construção do federalismo nos Estados Unidos...38

4.4.1 Elementos coloniais que contribuíram para união americana...38

4.4.2 A divisão territorial em pequenas nações...40

4.4.3 O exemplo do império clássico...41

4.4.4 O federalismo moderno...43

4.4.5 Ideologia que impulsionou a formação da união americana...45

4.4.6 A ameaça interna: A Guerra de Secessão...47

4.4.7 O federalismo cooperativo...47

5 FEDERAÇÃO: CONCEITO E DINÂMICA ...52

5.1 Os Federalismos...52

5.1.1 Federalismo e soberania nacional...54

5.1.2 União e indissolubilidade...57

5.1.3 A complexidade da distribuição de competências ...58

6 A ESPECIFICIDADE DO BRASIL: OS MUNICÍPIOS...65

6.1 Federalismo e Democracia...68

6.1.2 Federalismo versus Liberalismo...69

6.1.3 O poder estatal no federalismo democrático...70

(8)

6.1.5 Controle de constitucionalidade e a dinâmica federativa...76

7 DIREITO INTERNACIONAL TRIBUTÁRIO POR MEIO DA APLICAÇÃO DO FEDERALISMO E A NOVA ORDEM INTERNACIONAL...79

7.1 Considerações iniciais sobre a internacionalização do direito tributário por meio do federalismo...79

7.1.2 Território...80

7.1.3 Religião...85

7.1.4 Autonomia...86

7.2 Autonomia e organização tributária internacional...89

7.3 Fundo Internacional para proteção ao Meio Ambiente ... 92

7.4 Fundo Internacional para Previdência Social ... 93

7.5 Unificação do Sistema Financeiro Internacional... 95

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS...98

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A presente pesquisa apresenta o federalismo delineado em três fases ou etapas: a fase antiga e medieval, a fase moderna e a fase contemporânea.

A primeira parte do trabalho se propõe a tratar da fase antiga e medieval que contempla de forma minuciosa um estudo sobre as manifestações dos valores federalistas desde as primeiras sociedades organizadas até a formação do Estado-nação ocorrida no século XVII da Era Cristã. O objetivo é mostrar que o sentimento federalista é universal e esteve presente em todos os tempos e em todas as sociedades.

O federalismo nasceu como concepção política em que permite a relação permanente entre centralização e descentralização, entre regiões ricas e regiões pobres, em uma primeira perspectiva, vinculam-se às idéias, valores e concepções do mundo, que exprimem uma filosofia compreensiva da adversidade na unidade1. Para José Alfredo Baracho, federação é entendida

como forma de aplicação concreta do federalismo, objetivando incorporar as unidades autônomas ao exercício de um governo central sobre as bases constitucionais rigorosas.

Nota-se que existe diferença entre federalismo e federação, o que implica dizer que nem todo federalismo resulta em federação, mas toda federação é federalista. Tal proposição ocorre, porque a forma de Estado federalista, ou com tais valores, foi desenvolvida em sociedades complexas como: a Grécia Antiga, em seu período arcaico e clássico; em Roma, na fase republicana; na Europa, na Baixa Idade Média; nos Estados Unidos da América e na União Européia atual. Tais sociedades incorporaram dentro de um mesmo espaço territorial, o pluralismo e o monismo de forma salutar. Por outro lado, muitas vezes estas relações autonomistas são marcadas pelo domínio político-econômico dos grandes Estados, como, por exemplo, ocorreu no Brasil republicano, onde os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, e

1 BARACHO, José Alfredo de Oliveira. A federação e a revisão constitucional. As novas

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em plano secundário, Rio Grande do Sul, Bahia e Pernambuco, acabaram por dominar o resto Brasil. Outro exemplo são os Estados Unidos da América quando os Estados do Norte dominavam e que resultou na Guerra de Secessão. Outro exemplo é a antiga República Romana. Todavia, os exemplos têm o cunho meramente ilustrativo.

Neste contexto, o federalismo traduz uma concepção teórica ideal para superar o conflito monismo versus pluralismo constituído dentro da sociedade moderna. O que, de certa forma, apesar das dúvidas, entendemos ser viável para implementação, na atualidade, do modelo democrático, em escala internacional, por meio dos conceitos propostos pelo federalismo que objetiva: I – construir uma sociedade nacional e internacional livre, justa e solidária, garantindo-se a autonomia das nações por meio do direito a participação e voto nos organismos internacionais;

II – garantir o direito ao desenvolvimento nacional e internacional de todas as nações; III – celebrar a paz, erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais em escala regional e internacional; e IV – promover a integração econômica entre os povos com disciplina tributária justa e equilibrada, visto que a globalização e internacionalização dos mercados e da sociedade é um fato real.

Este trabalho compactua com a idéia de Baracho ao considerar o federalismo como sistema a política de toda humanidade citando Sánchez Agesta:

Sánchez Agesta, ao ver o federalismo como organização universal, salienta a diminuição das distâncias materiais e espirituais entre os diversos povos, motivada pelas contínuas comunicações. As ideologias políticas atravessam as fronteiras e estabelecem lealdades diversas daquelas projetadas pelo sentimento nacional. O enfraquecimento do sentimento nacional, frente a ideologia internacional, gera a decadência do impulso nacional. A guerra moderna, de intensidade e poder de destruição bem maiores, desnivelou, ainda mais, os Estados, que antes poderiam considerar-se como iguais juridicamente, ainda que com baconsiderar-se em uma ficção.2

A segunda parte do trabalho contempla o Estado moderno, com destaque especial para federação e suas vicissitudes, no contexto dos Estados

2BARACHO, José Alfredo de Oliveira. Teoria Geral do Federalismo. Rio de Janeiro: Forense,

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frente à tutela dos valores do federalismo. Essa parte está sendo muito discutida nos meios acadêmicos, em geral, em conseqüência a crise do modelo político que se instalou frente ao fracasso do modelo de Estado nacional implantado pelas democracias liberais que sucumbiu em meio às duas guerras mundiais, a crise do direito e a globalização.

Como bem nota Henry Kissinger, o sistema internacional moderno nasceu da Paz de Westphalia e durou 150 anos; o sistema criado pelo Congresso de Viena (1815) persistiu por 100 anos prosseguindo até a primeira Guerra Mundial3. O século XX, denominado por Eric Hobsbawm como breve

século4, foi marcado por uma excepcional fluidez no balanço internacional de forças. Vejamos:

Contudo, não é propósito deste livro contar a história da época de que trata, o Breve Século XX entre 1914 e 1991, embora todo aquele que já tenha ouvido um estudante americano inteligente perguntar-lhe se o fato de falar em “Segunda Guerra Mundial” significa que houve uma “Primeira Guerra Mundial” saiba muito bem que nem sequer o conhecimento de fatos básicos do século pode ser dado por certo. Meu objetivo é compreender e explicar por que as coisas deram no que deram e como elas se relacionam entre si. Para qualquer pessoa de minha idade que tenha vivido todo o Breve Século XX ou a maior parte dele, isso é também, inevitavelmente, uma empresa autobiográfica.

Nas palavras de Roberto Campos ‘após o Tratado de Versalhes, em 1919, sonhava-se com uma ‘nova ordem internacional’ fulcrada no idealismo dos quatorze princípios do presidente Wilson e na formação da Liga das Nações’5.

Toda realidade acima está calcada na sedimentação histórica dos conceitos de liberdade de mercado, em que o Estado não interfere diretamente no processo de desenvolvimento econômico criado pelas democracias liberais-burguesas, assim como na definição do espaço territorial de atuação econômica de cada estado-nação alicerçado no conceito de soberania política internacional.

3KISSINGER.,Henry. Diplomacia. 3ª.ed..Gradiva: Lisboa, 2007. p. 11-65.

4 HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos - O breve século XX : 1919 – 1991. Rio de Janeiro:

Companhia das Letras, 1996. p. 11-26.

5 CAMPOS, Roberto. A Lanterna na Popa: memórias 1. 4ª ed. Rio de Janeiro, Topbooks,

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Por outro lado, no século XIX os preceitos da democracia liberal fizeram emergir várias correntes ideológicas contrárias ao liberalismo clássico, dentre elas merecem destaque o socialismo marxista e o anarquismo. O socialismo marxista fez uma leitura acurada da época e passou a defender o que se denomina na atualidade de controle da economia pelo Estado, sendo este o gestor do processo de desenvolvimento nacional e internacional.

As críticas dos anarquistas e dos socialistas não foram suficientes para impedir o avanço da doutrina liberal durante o século XIX, que se consolidou como ideologia dominante na Europa com os movimentos revolucionários após 1848. Com isso, cada Estado definiu seu espaço territorial e sobre ele exerceu a plenitude de sua soberania. No entanto, após 1848, as necessidades das relações internacionais entre os Estados Nacionais se tornaram mais intensas, fato que era dificultado pela ausência de regras internacionais de direito econômico, além de um direito internacional capaz de assegurar a estabilidade e a segurança internacional, pois os conceitos de Estado e de soberania nacional entravavam tais pretensões. Tal fato provocou conflito entre o direito internacional econômico e o direito internacional em geral, pois enquanto o direito internacional econômico assegurava direito aos Estados de se desenvolverem, o direito internacional garantia seu território e sua soberania, como afirma a lição de Carreau e Julliard, em citação de Larissa Ramina6.

Observa-se que existe contradição interna no conjunto das idéias liberais, pois se por um lado prega-se o livre mercado e a não-intervenção estatal, por outro cria barreiras (leis) protecionistas produzidas pelo Estado, com base no conceito de unidade jurídica nacional e supremacia do interesse nacional. Estava, então, colocado o conflito entre a necessidade das relações econômicas internacionais e os interesses nacionais. De princípio, preponderaram-se os interesses nacionalistas em detrimento da coletividade internacional, contudo, todas as tentativas de construção de regras internacionais estáveis fracassaram, como, por exemplo, os tratados após a Primeira Guerra Mundial. É visível e latente que o modelo jurídico nacional e internacional no inicio do século XX estava desconexo com a produção dos

6RAMINA, Larissa. Direito Internacional dos Investimentos. Curitiba: Juruá Editora, 2009. p.

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inovadoras ante ao pragmatismo proporcionado pelo avanço científico.

O resultado dessa política nacional e internacional que subjugava a ordem internacional às ordens nacionais, foi à brutal pauperização das massas proletárias já na primeira metade do século XIX. Ela acabou, enfim, por suscitar a indignação dos espíritos bem formados e a provocar a indispensável organização da classe trabalhadora tanto no centro do sistema, como na periferia do sistema, que incentivados pelas elites nacionais, acendia a resistência ao desenvolvimento econômico internacional, pois dentro das regras internacionais postas, os Estados nacionais industrializados estavam levando vantagem diante dos países agrícolas que não tinham como garantir o livre mercado.

É quase consenso entre os cientistas políticos e entre os juristas que a forma de organização política mais adequada para a construção de uma democracia em uma nação com grande espaço territorial e grande diversidade regional, é a federativa, bem como é o modelo mais condizente com o espírito da globalização atual. Esse consenso se deve ao fato de que o federalismo proporciona a formação de uma União com descentralização política interna, ou seja, centralização do poder em torno da União e autonomia política dos Estados-membros. Dessa forma, as diferenças regionais se equilibram em torno da União, que tem como uma de suas missões a redução das desigualdades regionais.

Com a crise política dos Estados modernos o mundo começou a se organizar em blocos dentro do modelo federalista de Estado, como é o caso na União Européia, MERCOSUL e outros. Logo, após a Segunda Guerra, tais organizações tinham fins políticos e militares, mas com o tempo passaram a ter outros objetivos como: circulação de riquezas, questões cambiais e, sobretudo, a definição das questões fiscais entre os diversos estados que compõem o bloco. Essa situação é latente em todo mundo ocidental e é encontrada com menos intensidade na África e na Ásia.

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Nesta parte, veremos que a formação política do homem civilizado passa sempre pela definição de três questões fundamentais e intrinsecamente relacionada: território, religião e autonomia política. Buscando entender como o homem politicamente já superou suas relações existenciais em relação ao território e a religião, já que a autonomia política é a pedra angular na definição da organização estatal e, que, em via de regra, é ela elemento determinante do sistema tributário nacional e internacional.

Ao final, aspira-se concluir que o federalismo é a forma adequada para os desafios que a sociedade moderna nos coloca: diferenciação, indeterminação, complexidade, ausência de legitimidade, racionalismo, direito positivo, transnacionalização, globalização, e, sobretudo, mais adequado para a implementação do direito tributário internacional.

As bases metodológicas e teóricas da presente pesquisa vêm sustentadas pelas propostas apresentadas e fundamentadas por vários autores e em diversas épocas, em aceite a sugestão de revisão de literatura proposta pelo Professor e Orientador, Dr. João Rezende. Na pesquisa utilizou-se de doutrinadores catedráticos da academia como: Roberto Campos, José Alfredo de Oliveira Baracho, Paulo Bonavides, Dalmo Dallari, Bernad Schwartz, Alexis De Toqueville, Augusto Zimmermann, Alexandre Hamilton, Madison, J.J. Canotilho, Ney Bello, Eros Grau, Ivo Dantas, Eric Hobsbawm, Henry Kissinger, NilKlas Luhmann, Noberto Bobbio, Jonh Rawls, Ronald Dwork, Fernando Resende, Arnaldo Godoy, Heleno Taveira Tôrres, Alberto Xavier, Antônio de Moura Borges, Alfredo Augusto Becker, Maria do Rosário Esteves e outros que estão contemplados nas referências.

O método empregado trata-se de uma interpretação sistemática e aberta da ordem jurídica. Tal opção reside no fato do direito ser uma ciência que se expressa por meio da linguagem construída pelo imaginário pessoal e social e por fazer parte do cotidiano da vida jurídica das sociedades politicamente organizadas. Dessa forma, enquanto ciência o direito busca constantemente a verdade, posição que contraria muitos juristas, entre eles Eros Roberto Grau, para quem o objeto da ciência jurídica é o estudo da norma jurídica na forma proposta por Kelsen7.

7 GRAU. Eros Roberto. Ensaio e Discurso sobre a Interpretação/Aplicação do Direito. São

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pesquisa que primam pela verdade, argumentam que a verdade científica resiste a qualquer tentativa de demonstrar sua falsidade. As críticas ao conhecimento do direito por meio de uma produção de conhecimento cientificam de forma rigorosa, que não tem razão de ser, pois as verdades científicas, não são absolutas, portanto, não resistem ao tempo, e a própria dialética da produção do conhecimento.

Dessa forma, como a ciência jurídica se expressa por meio linguagem, cabe aos operadores do direito, especialmente nos meios acadêmicos, analisar criticamente a linguagem jurídica dos textos normativos, da norma jurídica e, principalmente, da linguagem jurídica que permeia as relações de produção de conhecimento, pois, hoje, o direito é mais um conjunto de opiniões que se digladia em jogo de poder, do que produção científica. Portanto, a interpretação da linguagem jurídica não deve ser resumida a norma jurídica estatal como exercício dogmático como defende Kelsen e seus seguidores, mas, deve estar aberta as circunstâncias da interdisciplinaridade e aos problemas da vida em sociedade.

Interpretar um texto não só é conhecê-lo da forma como se mostra ao observar, mas também é criá-lo, uma vez que o observador intérprete também agrega ao texto sua formação pessoal e cultural. A arte de interpretar adere-se à teoria do conhecimento, mas também dela se aparta, na medida em que por intermédio da interpretação há também uma tomada de postura toda ela própria do intérprete, em uma atitude de artesão. O resultado da interpretação deixa de ser apenas um objeto facilmente e eternamente delineável, e passa ser um objeto da experiência, uma fusão entre o objeto e o sujeito.8

Em conclusão, é a linguagem científica que estabelece sentido ao mundo do direito, especialmente se for bem fundamentada desde a pré-compreensão do objeto, pois por meio dela interpretamos, interferimos, transformamos e criamos a realidade. Ultima-se, também, que se utilizarmos uma teoria do conhecimento que aprimore a relação entre sujeito e objeto, a ciência jurídica vai superar muitas discussões dogmáticas, como, por exemplo, as discussões sobre autonomia versus soberania, monismo versus pluralismo jurídico, assim como entre o direito nacional e o direito internacional.

8 BELLO FILHO, Ney de Barros. Sistema Constitucional Aberto. Del Rey: Belo Horizonte,

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2 HISTÓRIA DO FEDERALISMO

2.1 O Federalismo na Antigüidade Oriental

Pode parecer uma audácia de nossa parte em considerar que possa ter existido federalismo na Antigüidade Oriental, quando o homem dava seus primeiros passos em direção a construção da instituição que hoje denominamos de Estado9. Em um momento onde não se conhecia nem

mesmo a palavra ‘Estado’. No entanto, um estudo bem mais aguçado das civilizações Mesopotâmicas, Fenícia e Pérsia, nos leva a crer que essas sociedades até certo ponto viveram em uma espécie de federalismo sem ter clareza de sua consistência política como temos hoje. Não havia, é claro, pensadores políticos com conceitos elaborados sobre federação na Antigüidade Oriental nem acerca da teoria do ‘pacto social’ que proporcionou a construção do Estado Moderno e do Federalismo dos Estados Unidos (1787). Contudo, a aproximação que se observa entre o mundo antigo e o mundo moderno estão para conceitos que foram construídos e aprimorados a partir do entendimento do federalismo, que fora desenvolvido desde o final do século XVIII até a atualidade. É dessa leitura que resolvemos ousar. Por que ao observarmos algumas civilizações antigas perceberemos que havia um ‘pacto social’ entre diversos povos em torno de um Deus, que era simbolizado pelo rei. Mas, longe de ser um pacto social assim como fora preconizado por Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau, mas um pacto social que possibilitou a convivência política entre os homens por muitos séculos.

No entanto, o grande problema que percebemos em nossa conjectura é a grande centralização política que existia na Antigüidade Oriental. Esse

9 O mais antigos centro de poder foram formados há milênios antes de Cristo e surgiram na

Baixa-Mesopotâmia. Neles e nos grandes impérios que surgiram no Oriente não existiam doutrinas democráticas, mas, sim, a forma monárquica e teocrática-absolutista de governo. Como contribuições relevantes destes antigos impérios orientais fundados na escravidão, salientamos o antigo “Código de Hamurabi”, que vigorou na Babilônia ( cerca de 2.2200 ªC.), o “ Livro dos Mortos” do Egito, as “Leis de Jeová” de Israel, onde poderemos encontrar princípios sociais e fontes inspiradoras de incontáveis legislações posteriores. ZIMMERMANN, Augusto.

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federalismo, que é alicerçado na descentralização, no pluralismo e na subsidiariedade. Esse centralismo real criou uma unidade política de diversos povos, resultando em grandes impérios teocráticos, como ocorreu na época de Ciro e de Darío na Pérsia. No entanto, Ciro, primeiro grande rei da Pérsia, não conseguiu suprimir a pluralidade cultural dos povos dominados, optando pela autonomia religiosa que de certa forma é uma característica do federalismo.

Na Antigüidade Oriental não podemos falar em autonomia política, em divisão de competências constitucionais, em política de equilíbrio regional, mas podemos falar em autonomia religiosa e cultura. Isso porque, nem mesmo os grandes reis, conseguiram suprimir o poder dos deuses locais que eram dominados pelos grandes proprietários de terras, pelos sacerdotes de cada região e dos pelos deuses familiares. Com isso havia necessidade de negociações entre o rei e as elites dos povos dominados, como ocorreu entre a elite da Babilônia e os reis Ciro e Darío do Império Persa. Vejamos:

Darío I, ou o Grande, como é muitas vezes chamado, governou o império de 521 a 486 a.C. Os primeiros anos de seu reinado foram ocupados na supressão de revoltas de povos subjugados e na melhoria da organização administrativa do estado. Completou a divisão do império em satrapias, ou províncias, e fixou o tributo anual devido por cada uma delas. Padronizou as moedas e o sistema de pesos medidas. Reparou e completou um primitivo canal do Nilo até o mar Vermelho. Seguiu o exemplo de Ciro na tolerância e proteção das instituições dos povos subjugados. Não só restaurou templos antigos e fomentou os cultos locais, como determinou ao sátrapa do Egito que codificasse as leis egípcias, em consulta com os sacerdotes nativos. No entanto, em algumas de suas proezas militares Dario foi longe demais.10

Os Estados antigos surgiram em torno das divindades reais, o que de certa forma é contrário a formação do federalismo, pois geralmente o Estado Federal se forma através da vontade soberana das partes e não de uma imposição ou de uma força cósmica. Um exemplo, claro, são os hebreus, que se mantiveram juntos pela imposição das declarações de patriarcas como Abraão e Moisés. Mas, as tribos, mesmo unidas pela força dos patriarcas, mantiveram suas individualidades até o reinado de Salomão. De certa forma, a percepção da dimensão de um modelo federalista na Antigüidade Oriental, não

10 BURNS, Edward Mcnall. História da Civilização Ocidental. 30ª ed. Rio de Janeiro: Globo,

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é um dos exercícios intelectuais mais simples, mas perfeitamente realizável no nível das concepções religiosas e políticas da época. Assim, quando os homens permaneciam juntos sob inspiração divina, estavam exercitando um dos princípios do federalismo que é a união para atingirem seus objetivos fundamentais, mas, por outro lado, mantinham seus valores regionais firmados aos deuses locais e aos familiares. No caso específico, todos deveriam se unir em torno dos deuses nacionais, locais e familiares na luta contra as forças da natureza, na superação dos traumas da existência humana e na salvação da alma.

2.1.1 As civilizações do ‘poder descentralizado’

As Civilizações Mesopotâmicas (sumérios, amoritas, assírios e caldeus), apesar de se encontrarem, em alguns momentos, sob o domínio de um poder teocrático e personalista, de alguns reis, como Hamurabi, quem criou um Código de Leis de extraordinária capacidade metodológica11; de Assurpanipal,

quem dominou exercendo a força por meio das armas; e de Nabucodonosor, quem dominou parte do Oriente Antigo. Esses reis na condição de figura central tiveram a capacidade de impor um Deus supremo para toda população da Mesopotâmia, como foi o caso do Deus Marduc, dos babilônios, mesmo assim esses deuses centrais não conseguiam aniquilar os deuses locais. Os deuses locais eram dominados pelos sacerdotes de cada região e pelos grandes proprietários de terras. Nem mesmo no Egito onde os faraós eram deuses, se conseguiu aniquilar o poder dos senhores de terras, dos sacerdotes e dos deuses locais. Os deuses locais, portanto, tinham autonomia em relação aos deuses centrais para determinadas atribuições. Em relação à autoridade dos patriarcas e de seus deuses a soberania era plena, como bem ilustra Fustel Colegens em sua obra clássica a ‘Cidade Antiga’. Entre os fenícios a

11 Hammurabi, rei da Babilônia no século XVIII A.C., estendeu grandemente o seu império e

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a centralização entre os fenícios. No entanto, os fenícios tinham deuses comuns e deuses com dimensão nacional, como foi o caso do deus Adónis e do deus Ball. As cidades-estados tinham vida cultural semelhante e eram autônomas do ponto de vista político. Em alguns momentos, o poder de uma cidade, chegou a influenciar na ordem política de outras cidades, como ocorreu com a cidade de Tiro na sua fase de apogeu. Disso decorre que o melhor termo para ser utilizado para as cidades da fenícia não é independência, mas autonomia. Termo, portanto, condizente com o princípio federalista.

Entre os persas a idéia ‘federalista’ foi clara. Quando Ciro conquistou o Oriente deu autonomia religiosa aos povos conquistados, inclusive aos hebreus que eram nacionalistas, puderam adorar o Deus Iavé, mas tinham que contribuir com tributos para o tesouro real. Foi, no entanto, com Darío, que a dimensão federalista teve contornos mais nítidos, quando ele criou as Satrapias para facilitar a administração do Império. Mas, por outro lado, não se deve esquecer que as províncias não tinham autonomia política e administrativa, o que estrangula o federalismo, que tem como princípio básico a autonomia das partes que compõe o todo por meio da distribuição de competências constitucionais. Em relação aos persas nossas convicções são maiores, já que Heródoto no século V a. C, idealizou uma célebre discussão entre persas - Otanes, Megabises e Darío – sobre a melhor forma de governo adotar em seu país depois da morte de Cambises.

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Por outro lado, mesmo quando se fala que as uniões ou unidades políticas da Antigüidade, se processaram por conta das forças das armas, não se deve estranhar, haja vista, que os Estados Unidos da América, também consolidaram os princípios básicos do seu federalismo dual, pelo meio da força das armas, depois da Guerra de Secessão, na segunda metade do século XIX.

O estudo da Antigüidade Oriental nos permite entender que o homem foi construindo modalidades políticas que permitiram a convivência das diversidades nacionais ao longo do tempo histórico. Um exemplo disso foram os hebreus que brigaram internamente até Salomão formar um grande Império dentro da diversidade entre as tribos nacionais e os povos conquistados. De fato, isso fica como lição, de que mesmo em tempos mais remotos, os homens tinham em seu âmago o princípio da subsidiariedade.

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2.2.1 A união da civilização grega

Os gregos, assim como a Antigüidade Oriental, não formaram um Estado composto por Estados-membros, ou seja, os gregos não constituíram uma União de Estados para formar o Estado Federal. No entanto, no transcorrer das Guerras Médicas as cidades-estados da Grécia sob o comando de Atenas formaram a Confederação de Delos. Essa Confederação tinha a função de fortalecer as cidades gregas diante do poderio imperialista do Império Persa. O objetivo principal da Confederação de Delos era unir as diversidades para vencer o inimigo comum representado pelos persas, quem era tido quase como invencível. A Guerra termina com a vitória inesquecível dos gregos e Atenas que fora beneficiada com a Confederação de Delos não vê motivos para extingui-lo, forçando a cidade de Esparta, a formar outra espécie de Confederação, com a denominação de Liga do Peloponeso. Finley observa que ‘organizou-se uma coligação sob a hegemonia de Atenas, com um centro administrativo na ilha de Delos (daí ser denominada pelos historiadores como Liga Délia). Arquitetada pelo ateniense Aristides com base num sistema de contribuições em barcos e marinheiros um em dinheiro, a Liga afastou a frota Persa do Egeu no espaço de uma década. À medida que o perigo se foi atenuando, renasceu o velho desejo de total autonomia, mas Atenas não permitiu qualquer retirada, esmagando qualquer revolta. Desse modo, a Liga tornou-se um império. E o símbolo da transformação foi à mudança de sede e tesouros de Delos, em 545, para Atenas’.12

A Confederação de Delos e a Liga do Peloponeso demonstram que os gregos conheciam outras formas de organização política, e que, cada cidade era autônoma, não por desconhecimento de novas formas de viver em comunidade, mas sim por opção individual de cada cidade. Finley observa que a Liga de Peloponeso era uma rede de tratados que ligava os estados-membros a Esparta e não uma dominação sem limites de Esparta sobre seus

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membros, mas apenas uma coligação muito tênue sob a hegemonia de Esparta.

Depois da fase das Guerras Médicas que resultou na hegemonia de Atenas e, em seguida, da Guerra do Peloponeso, que resultou na hegemonia de Esparta, a Grécia caiu nas mãos dos macedônios que criaram uma organização política que aniquilou a autonomia das cidades gregas.

Foram os gregos, portanto, que criaram a primeira instituição mais próxima do conceito de federação moderna.

A doutrina é unânime em denominar essa fase de Confederação, que é a forma de Estado que mais se aproxima da Federação. Pelas palavras de Finley podemos observar que os gregos se adiram com objetivos definidos, que era derrotar os persas e com um sistema de contribuição tributária controlado por um poder central por meio de Atenas. No entanto, como diz Aristóteles (2001): ‘um Estado composto de excesso... não será uma verdadeira polis

porque dificilmente poderá ter uma verdadeira constituição. Quem pode ser o general de uma massa tão grande excessivamente grande?’13. Pode-se perceber a dificuldade que os gregos tiveram de se perceber como uma nação orgânica, capaz que criar um Estado centralizado que pudesse explorar todas suas potencialidades. Segundo o pensador inglês Goerge Grote, citado por Finley, ‘a desunião absoluta estava entre seus princípios mais estimados’ dos gregos, o que não implica em dizer que os helênicos desconheciam a união de Estados soberanos e a unidade política, pelo contrário, pelo fato de conhecê-los de forma nítida, é que rechaçavam como fez Aristóteles.

Observa-se que, mesmo a vitória dos gregos sobre os persas não foi suficiente para criar entre eles o espírito de união e de unidade. Ao Contrário, a cidade de Atenas era das poucas que defendia a manutenção da Confederação, isso porque, fora beneficiada com a administração dos tributos arrecadados para guerra. Esse comportamento de Atenas após as Guerras Médicas reforça o pensamento de George Grote, para quem o ‘padrão grego era simplesmente desconcertante’14.

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inconsciente, o mesmo não se pode dizer dos gregos. Entre as experiências gregas de federação, podemos citar a Liga das cidades à época das Guerras Médicas e as ligas das cidades na época das guerras civis. Muitos não consideram essas ligas como exemplo de federação, mas, sim, como exemplo de confederação. Também achamos que essas experiências são mais semelhantes aos conceitos de confederação, no entanto não devemos desconhecer que elas foram primordiais para o aperfeiçoamento político de federação, especialmente, se levarmos em conta que é entre os gregos que surgem os primeiros conceitos aprimorados de autonomia política da humanidade, já que ninguém antes dos gregos teve tanta clareza de suas potencialidades quantos os gregos.

2.2.2 O direito comum de Roma e a idéia de federalismo

A idéia básica do federalismo surgiu na República Romana, quando em sua expansão territorial, Roma anexa uma heterogeneidade muito grande de povos. No início, o poder de Roma sob os demais povos, era mantido pela força do exército. Segundo diz Pierre Grimal (1993):

(...) a concórdia interna assegurada pelas leis licinianas permitiu que Roma superasse a crise externa que colocou o exército em confronto com os vizinhos, os Etruscos de Tarquínios e de Caere, e também como os Latinos. O seu território encontra-se rapidamente orlado por uma série de cidades federadas, ligadas a Roma por tratados de aliança; na foz do Tibre, a colônia de óstia (talvez fundada no reinado de Ancus Martius) desempenha um papel importante e o povoamento romano... as cidades latinas federadas acabaram pura e simplesmente por ser anexadas e subordinadas ao ordenamento político, jurídico e religioso de Roma15.

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Com a conquista de toda Itália e do Mediterrâneo, ‘o velho Estado-cidade está a torna-se uma nação, a nação italiana’. Com isso, os povos conquistados foram adquirindo alguns direitos, chegando a uma espécie de autonomia. Não autonomia política, no sentido que se tem hoje, como atributo da distribuição de competências entre os entes federativos, mas, sim, autonomia para poder ter um governo em cada província fiel ao rei de Roma.

No Império Romano, onde o rei é concebido como Deus, as Províncias prosseguem com muito poder, chegando a influenciar e até a escolher os reis. Esse poder das províncias cresceu quando a expansão de Roma começou a diminuir a partir do século III da era cristã, provocando uma queda substancial da economia imperial e deixando a economia do Império dependente das províncias. Desse modo, o poder central não conseguia aniquilar o poder local, ao contrário, as províncias aumentavam cada vez mais sua autonomia em relação ao centro.

Essa pluralidade política e jurídica produziu em Roma uma ordem jurídica magistral caracterizada em três dimensões: o direito civil (jus civile), o

direito das gentes (jus gentium), e o direito natural (jus naturale). O direito

natural era o direito do cidadão da cidade de Roma. O direito das gentes era o direito comum a todas as pessoas, independentemente de sua nacionalidade, incluindo-se nesse caso os povos conquistados pelo exército de Roma e a criação de liames jurídicos de afinidade que os prendiam a um poder central, sem, no entanto, pretender a unidade jurídica, já que os cidadãos de Roma tinham leis civis diferentes das demais nações do Império. E, por último, o direito natural foi construído sob influência dos filósofos e dos estóicos, entre eles o mais renomado foi Cícero.

Fica patente que os romanos serviram de inspiração filosófica e doutrinária para a construção do conceito de federalismo criado nos Estados Unidos e depois disseminado pelos países da América Latina. Essa influência de Roma sobre a sociedade moderna é resultado da influência que o jus naturale exerceu na formação do Estado moderno, especialmente as correntes

filosóficas dos séculos XVII e XVIII.

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forma de governo que tinha como proposta o centralismo político e o arbítrio de um governante pessoal. Um exemplo clássico foi à fúria da aristocracia senatorial contra as pretensões de Júlio César em criar um governo centralizado.

Após a morte de Julio César, Marco Antonio e Otávio disputam o poder, mesmo vitorioso, Otávio foi cauteloso e não aceitou qualquer título sobre ele que acendesse a idéia de que era rei de Roma. Aceitou, no entanto, o título de Augustus e depois de príncipe ou de primeiro senador. Com ele nasce o Principado. Segundo Grimal (1993) na passagem da república para o império Augusto procurou disfarçar a implantação do novo regime, cauteloso em relação à possível reação dos patrícios. Nesse sentido infere que:

A fraqueza do sistema, contudo, residia no que permitira os sucessos pessoais de Augusto: por direito, subsistia a República com suas engrenagens tradicionais; de fato, tudo dependia do Imperador. Assim, ao terminar um reinado, encontrava-se novamente em causa. Augusto tivera consciência do problema; por várias vezes, preocupara-se em designar o seu sucessor, mas o seu longo reinado fizera com que, um após outro, os homens em que pensara tivessem desaparecido antes do momento da sucessão.

Augusto sempre reconheceu o direito interno das províncias, e mesmo na fase áurea do Império, onde os imperadores eram sacerdote supremo dos direitos locais foram desprezados. Segundo Reale (2000) ‘a magnitude do Estado romano, unitária e poderosamente constituído sem prejuízo dos usos e costumes e das instituições vigentes nas províncias incorporadas’16. Dessa

forma, a Grécia produziu grandes pensadores e Roma o respeito à lei e ao direito que resultou no corpus júris.

2.2.3 Influência de Roma na formação da modernidade

A formação dos Estados Modernos tem suas raízes nas estruturas de poder da Baixa Idade Média e se processou através de um poder absoluto que tinha como pano de fundo a ideologia do direito divino. Nesse período nascia

16 REALE. Miguel. Horizontes do Direito e da Historia. 3. ed, Ver. Aumentada. São Paulo:

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na Europa um movimento denominado de humanismo que vangloriava o direito romano. Entre eles estavam os glosadores que têm sua força original ao método exegético que fora adotado pelos lombardos. Por meio desse método, os glosadores penetraram nas entrelinhas do Corpus Júris Civilis. A exaltação

dos valores romanos terminou influenciando vários reis, que passaram a se inspirar na filosofia política de Roma e no exercício de sua administração, como foi o caso dos reis do Sacro Império Romano Germânico, como bem cita Amílcar de Castro:

Na segunda metade do século XII, desde o ano 1152 até o ano 190, imperou Frederico I, de Hohenstaufen, cognominado Barba-ruiva, e seu reinado nada mais foi que uma contínua luta contra as referidas cidades italianas. Estas, desde o século anterior, haviam começado a manifestar a tendência a autonomia, reagindo não só contra os desmandos dos senhores feudais , como também contra a insegurança geral, resultante da falta de poder efetivo do imperador. Por diversos modos, legais ou não muitos legais, por mera usurpação, ou por qualquer espécie de compensação, começaram a eleger seus magistrados, a cuidar de sua administração, e reger suas relações externas, umas com as outras. E o processo de emancipação dessas cidades tanto foi se acentuando que, no ano 1158, o imperador Barba Ruiva julgou necessário providenciar e respeito. Experimentou primeiro uma conferência, convocando a dieta de Roncaglia; e aí sua jurisdição foi definida, com assistência de quatro dos mais célebres juristas de Bolonha (...). 17

Com a expansão dos valores da burguesia no final da Idade Média e no transcorrer de todo período moderno o Estado delineou suas fronteiras e definiu seu poder em grande parte inspirado no modelo romano. O ápice desse movimento de centralização política ocorreu com os jusnaturalistas e com os contratualistas, nos séculos XVII e XVIII.

Foram os humanistas e os renascentistas, quem no final da Baixa Idade Média, fizeram renascer os princípios do direito romano na Europa Ocidental, e que, abriu espaço para criação da Escola de Natural por parte de Hugo Grócio, que por via de conseqüência acabou por superar o direito escolástico centrado nas concepções divinas, mas, que, por outro lado, procurava fundamentos eminentemente humanos e terreno para o Estado e para o Direito.

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3 A FEDERALIZAÇÃO DO PODER NA EUROPA MEDIEVAL

François Châtelet, em seu livro História das Idéias Políticas, faz colocações lúcidas e muito úteis para entendermos os conflitos entre o poder político de Roma e as concepções do cristianismo em expansão. Ele atesta que desde seus primeiros séculos, o cristianismo põe – notadamente por meio de São Paulo, que comenta e ordena a palavra de Cristo – um problema decisivo: o da relação entre o crente e a ordem temporal. ‘Dar a César, o que é de César e a Deus, o que é de Deus:

(...) fórmula feliz, mas que desconhece os numerosos casos em que o serviço do imperador entra em conflito com o serviço do Criador. São Paulo não deixa de elucidar que a obediência civil é uma virtude cristã, assim como a submissão aos dados sociais e naturais. Todavia, no século II, o pensador Celso recrimina duramente os cristãos que recusam se submeter aos deveres que cabem aos cidadãos. O crente está dividido, dilacerado entre a coletividade a que pertence de fato e a comunidade de fé à qual adere: tanto mais dividido quando essa comunidade lhe exige ação e evangelização. A aceitação santa do martírio, os delírios eremíticos, não podem mais que soluções excepcionais.18

Essa angústia entre o céu e a terra termina por afetar diretamente a autoridade estatal que passa a perder sua referência de mando diante de seus súditos. Constantino e Teodósio procuraram solucionar o problema ao oficializarem a nova doutrina religiosa, o que não foi possível por problemas de ordem interna e externa. Um dos grandes problemas, de ordem externa, são as invasões bárbaras, e as de ordem interna, decorridas da crise monetária motivada pela escassez monetária, da crise escravista e do domínio das províncias por outros povos. Frente a isso o direito romano entra em crise sendo substituído em muitas regiões dominadas pelo direito germânico.

Com as grandes correntes migratórias que invadem a Europa na Alta Idade Média (V – X), o modelo de Estado preconizado por Otávio Augusto, na época do Principado, vai a bancarrota, destroçando o bem formado Império

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Romano e o direito. Com a derrocada do poder imperial de Roma, há uma verticalização progressiva do poder político na Europa ocidental, especialmente após a quebra da unidade política do Império Carolíngio com o Tratado de Verdun (843).

Outrossim, ousamos em afirmar que a Antigüidade Oriental viveu uma espécie de federalismo inconsciente, sem, no entanto, conceituar esse estamento político, o mesmo podemos dizer, que na fase de apogeu dos Estados Feudais, tivemos uma federalização do poder. O termo federalização

do poder é cabível, porque com a descentralização política, o poder local, dos senhores feudais, ganhou grande autonomia em relação ao rei. Não por opção política do rei, mas por conta de uma força centrípeta, que impulsionou à descentralização do Estado, a ponto dos senhores feudais se constituir em verdadeiros chefes de Estado, com o status de poder soberano dentro de um determinado espaço territorial. Não há porque se falar em soberania externa dos senhores feudais, mas, sim, soberania política interna em relação a seus súditos que são os mesmos súditos da realeza, súditos esses que estão obrigados pela relação suserania-vassalagem, ao poder direto do senhor feudal.

Há, no entanto, no período medieval, uma centralização em torno dos princípios do monoteísmo cristão e uma forte descentralização política em torno da autoridade real. Um dos elementos culturais que contribuíram para a disseminação do pensamento cristão foi a obra a Cidade de Deus (413 – 427)

de Santo Agostinho, que orienta os homens a obedecer às regras cristãs de vida para triunfo da Igreja e a glória do Criador.

Um grande exemplo da federalização do poder medieval que resultou das grandes invasões bárbaras e da verticalização do poder político central foi a criação, em 1291, da Confederação Helvética, que teve como fundamento inicial para sua criação, o fim específico da autodefesa. Esse fundamento da autodefesa é compreensível em uma Europa que vive a avalanche das invasões bárbaras, as guerras feudais e os conflitos constantes entre a poder temporal e o poder religioso.

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As fases desse federalismo são procuradas através de longa evolução jurídica, que possibilitam explicar as características mais importantes da Confederação Helvética. Aponta-se o final do século XIII como assinalador do esforço empreendido por pequenas comunidades que aspiravam a libertar-se de toda sujeição, através da afirmação de sua autonomia para trabalhar sobre seus próprios assuntos. Os cantões ditos primitivos de Uri, Schwyz, Obwald e Nidwlad, mediante o pacto de 1291, confirmado em 1315, formalizaram essa aliança para limitar as pretensões dos Habsburgos, assinalando-se aí as origens da Constituição Helvética. Esse início possibilitou vários tratados que dão nascimento a uma Confederação com oito cantões. Nos anos de 1841 e 113, cinco novos membros passaram a integrar essa associação. Nesse período, a confederação dos 13 cantões não constituía um conjunto homogêneo. Não havia definição dos direitos dos diversos Cantões, da mesma maneira que o órgão comum, a Dieta, era considerado como uma espécie de assembléia de embaixadores, com poderes limitados. Apesar do desentrosamento que ocorria entre as unidades, a Confederação dos 13 cantões manteve-se até o final do século XVIII. Cada cantão mantinha sua autonomia, sem pretender aceitar qualquer autoridade superior, ao passo que o laço confederal permanecia, devido à solidariedade frente aos perigos externos. 19

Sem sombra de dúvidas, as relações sobre a federalização do poder

durante o final da Alta Idade Média e o início da Baixa Idade Média, são consistentes, não só pelas citações de autores renomados da literatura jurídica, mas pela existência factual de uma realidade que se concretizou aos olhos de historiadores e filósofos como Santo Tomás de Aquino.

Outro grande exemplo que ilustra bem a federalização do poder medieval, foi a luta entre o rei Frederico Barba Ruiva e as cidades italianas de

Módena, Milão, Pisa, Bolonha, Pavia, Perusa, Florença e Veneza, as quais lutavam por autonomia política. Vencido, Barba Ruiva teve que reconhecer a

Liga Lombarda. Amílcar de Castro, em seu livro Direito Internacional Privado, diz que a princípio Barba Ruiva controlou a tendência autonomista, no entanto,

no ano 1167, sob os auspícios do Papa Alexandre III, dezenove cidades

italianas formaram a Liga Lombarda, esta derrotou Barba Ruiva na batalha de

Legnano, no ano 1176. Segundo o mesmo autor, em agosto de 1177, o vencido concluiu com Alexandre III o tratado de Veneza e, ao mesmo tempo,

pactuou uma trégua com a Liga Lombarda por seis anos. Após esse descanso,

19 BARACHO, José Alfredo de Oliveira. Teoria Geral do Federalismo. Rio de Janeiro:

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4.1 Antecedentes

Os antecedentes do federalismo moderno remontam a experiência política medieval. Não porque no período feudal houvesse federalismo na acepção política atual, mas, sim, porque é das bases do Estado Moderno, que nasce a primeira experiência federalista. Ora, o Estado Moderno, redunda dos escombros das experiências políticas feudais, as quais resultam das relações de fidelidade entre suserano e vassalo. Apesar do poder político medieval não apresentar uma configuração estatal definida em relação ao espaço de atuação da soberania política de cada poder, é da relação de fidelidade entre suserano e vassalo, que surge a relação de fidelidade entre o povo e o governante, a partir da Baixa Idade Média. Dessa forma, há o ressurgimento da autoridade real em função de seus súditos por meio da lei. O termo ressurgimento serve como elemento que define uma nova realidade cultural que busca na antiguidade clássica referenciais para sua afirmação política e cultural. É, portanto, no período final da Baixa Idade Média que começa a formação dos primeiros Estados modernos, como foi o caso de Portugal em 1383, com a Revolução de Avis.

Para Del Vecchio (1979) o fato concretizou-se na segunda metade do século XVI, cronologicamente, já na fase moderna, momento em que Jean Bodin organizou sua tese acerca do Estado como potência soberana. Segundo

sua tese, o Estado exerce um poder soberano sobre seus súditos francos ou

súditos livres que não são nem escravos e nem servos. Del Vecchio assinala

que ‘sua obra corresponde ao momento em que se consolidada a monarquia na França’.20 O conceito de soberania, construído a partir de Jean Bodin, é

importante porque o federalismo se irrompe no momento em que dois ou mais Estados se unem com a renúncia da soberania de um deles para formar um novo Estado, denominado de Estado Federal. O texto abaixo ilustra a realidade

20 DEL VECCHIO, Giorgio. Lições de Filosofia do Direito. 5ª ed. Coimbra: Armênio Armado,

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dos dois Estados em que o feudalismo se fez de forma mais nítida: Inglaterra e França.

Enquanto no seio da ordem cristã o papado afirma incessantemente (por exemplo, como Bonifácio VIII ) uma primazia da autoridade espiritual, que implica a subordinação dos poderes temporais, impõe-se nos reinos uma prática jurídica administrativa que garante a autonomia de um poder que se exerce em virtude de princípios profanos: o poder real. Deve-se ver nisso uma ressurgência do direito

Romano ou a influência da tradição germânica? Não será o caso, ao contrário, de interpretar o fato como uma invenção dos elementos que estão na origem da modernidade? Muito cedo, na Grã-Bretanha, surgem instituições que tendem a impor uma jurisdição única sobre o conjunto do território real, fundada sobre o que já se deve chamar de “direitos da pessoa”; na França, a partir do século XIII, o rei e os legisladores empenharam-se em destruir as cidadelas feudais e religiosas a preeminência do poder central. Em todo o Ocidente cristão, opera-se uma transformação na natureza do poder: Os laços pessoais organizados em torno da idéia de suserania são progressivamente substituídos por uma hierarquia jurídico-administrativa centrada num princípio que anuncia a própria noção a própria noção moderna de soberania.21

Fica evidente, portanto, que as primeiras experiências políticas que redundaram no Estado Moderno, se alicerçam dentro do mundo feudal. Foi assim na Inglaterra, na época da Dinastia Plantageneta, onde foi criada uma Constituição em 1215, no Governo de João I de Inglaterra ou João Sem Terra. Foi a assim, também, na França, na Dinastia Capetíngea, onde o rei Filipe, o Belo, desafia o Papa Bonifácio VIII e, foi assim, em Portugal em 1383, quando a Dinastia de Avis chega ao poder e implanta um Estado centralizado. Nesses Estados, pela primeira vez, se forma a soberania territorial que se enquadra no conceito de Jean Bodin.

Sendo assim, pode-se afirmar que o federalismo foi se constituindo conjuntamente com a modernidade e, que, seu aperfeiçoamento enquanto forma de Estado, é resultado da expansão da racionalidade, do conceito de liberdade, construída pelos jusnaturalistas da Escola de Direito Natural durante os séculos XVI a XIX e, sobretudo, dos conceitos de democracia do século XIX e XX.

21 CHÂTELET, François; DUHAMEL, Oliver; PISER-KOUCHNER. História das Idéias

Políticas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.

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da modernidade, a saber:

a) o cisma do cristianismo ocidental fez com que em determinadas regiões o próprio rei fosse o mentor da reforma religiosa, como ocorreu com rei Henrique VIII, da Inglaterra. Com a formação das igrejas nacionais houve um crescimento acelerado concepções nacionalistas e um fortalecimento da autoridade sobre um determinado território e sobre uma determinada nação. Forma-se o que Thomas Hobbes denomina de ‘poder irresistível’;

b) a formação do exército nacional permanente com a função de defender o território e o poder real;

c) o direito natural defendido por autores como Jean Bodin ( teoria da soberania) e Thomas Hobbes ( teoria do contrato social e do poder irresistível do Estado); d) os tratados internacionais que começam a crescer

com a expansão marítima comercial, como, por exemplo, o Tratado de Tordesilhas e o Tratado de Westfália, ambos os em 1848, os quais se tornaram marco do direito internacional; e

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4.2 Soberania internacional

É dentro desse contexto de guerras religiosas e guerras entre as grandes famílias feudais para definir o espaço da soberania de cada poder, que vai se formando o Estado Moderno. Um exemplo clássico é a Guerra dos Trinta Anos, que chegou ao fim com o Tratado de Westfália em 1648. Com o fim da Guerra dos Trinta Anos, o princípio do equilíbrio e da igualdade jurídica entre os Estados passa a triunfar. Ao término da guerra houve o fortalecimento dos princípios básicos dos vários conceitos de soberania política internacional. Vários pensadores da época contribuíram para que isso ocorresse por meio de seus postulados filosóficos do direito natural, como foi o caso de Francisco de Vitória, Domingos Soto, Fernando Vázquez Menchaca, Baltazar de Ayala, Francisno Suaréz, Jean Bodin, Hugo Grócio (com sua teoria do Direito Internacional) e Thomas Hobbes (com sua teoria do Contrato Social). De certa forma essa horizontalização do poder contribuiu para o fortalecimento do Estado Moderno em termos nacionais e internacionais. Todos esses filósofos defenderam a soberania absoluta do governante e a obediência dos súditos em relação às leis e ao poder legítimo do rei. No entanto, o Estado moderno só vai se consolidar com as idéias liberais, que superam os conceitos políticos do Estado absolutista, em alguns pontos: 1) a soberania passa a ser una, indivisível e inalienável; 2) todo poder passa a emanar do povo (Estados Unidos da América) e nação (França); 3) dentro de um mesmo espaço todos os homens têm as mesmas leis; 4) separação entre quem faz e quem executa as leis; 5) os homens têm direitos universais e inalienáveis; 6) a liberdade é bem fundamental na busca da igualdade e felicidade; e 7) o Estado deve garantir os direitos naturais do homem.

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conhecimento religioso, que as grandes mudanças se processam, abrindo espaço para outras discussões como liberdade, felicidade, vida e direito de propriedade. Dentro desse contexto, os grandes pensadores, não poderiam ficar de fora, entre eles podemos citar: Nicolau Maquiavel, Jean Bodin, Hugo Grócio, Thomas Hobbes, René Descartes, Spinoza, Punfendorf, John Locke, Montesquieu, Jean-Jacques Rousseau e Emmanuel Kant. Esses homens são os artífices teóricos do Estado Moderno. De Maquiavel a Hobbes, defensores do Estado absoluto, e de Descartes a Kant, defensores do liberalismo clássico. São eles, os mentores intelectuais da modernidade política do Ocidente.

A definição do conceito clássico de soberania foi de fundamental importância para formação das federações. Como resultado da definição deste conceito clássico de soberania pode-se destacar:

Primeiro, a comunidade internacional passa a reconhecer a personalidade jurídica de apenas um dos entes da federação. Este comportamento global permite estabilidade das Federações que se formaram, e, por conseguinte, impede que algum Estado Federado descontente por questão fútil venha querer se constituir em um novo Estado soberano. A Constituição atual do Brasil estabelece que o Estado brasileiro é uma República Federativa, formada pela união indissolúvel. Nesse aspecto, o poder constituinte foi sábio, porque a palavra indissolúvel sinaliza em direção da estabilidade e da eternidade, que foi o pressuposto básico da celebração do contrato social.

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4.3 Influência do pensamento racional liberal clássico

Nos séculos XVII e XVIII os grandes filósofos voltam seus estudos, em grande parte, para Grécia e Roma, a exemplo disso temos: Montesquieu, John Locke e Rousseau, os quais se debruçaram a estudar Roma. Esses estudos foram importantes para que esses filósofos fizessem uma leitura política de seu tempo. Leitura esta, alicerçada, sobre as bases do Direito Natural. Ela foi de fundamental significância para que se organizassem os fundamentos da crítica contra o Antigo Regime. Essas críticas se processam, sobretudo em três pontos básicos: 1) autocracia absolutista do poder; 2) privilégios de classe; e 3) falta de participação política. Esses iluministas conseguiram fazer algumas

transmutações semânticas, de alguns conceitos políticos, que foram

construídos no período clássico. Dentre esses conceitos, podemos perceber o conceito da teoria clássica das formas de Estado construídas por Aristóteles.

É o caso, precisamente, do conceito grego de politeia que só nos fins

do século XVVII e XIX passou a entender-se como “constituição” (constitutio) enquanto anteriormente ela era traduzida através de conceitos como “policie”, “government” e “Commonwealth” (também como “commonwealhts or government” ou “policy or government”). 22 Isso é de suma importância, porque a constituição será o elemento que proporcionará a formação do pacto social em torno dos Estados Federados, como ocorreu nos Estado Unidos da América.

O pensamento desses filósofos juntamente com o pensamento de Kant, expandiu-se pelo mundo no século XIX e serviu de base ideológica para a construção de um Estado liberal contemporâneo na Europa e na América. O Estado liberal, enquanto instituição juridicamente organizada passou a se fundar em três princípios básicos: instituição de direito internacional que

racionalizou as relações modernas; institucionalização do pacto social, que tem

na constituição formal um dos seus elementos centrais de racionalização do

poder; e instituição do Estado deDireito.

O Estado que se formou da crítica dos iluministas em relação ao antigo regime, foi inspirado na filosofia sociocontratualista, na descentralização

22 CANOTILHO, J.J Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 3ª ed. Coimbra:

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uma constituição formal. No tocante Zimmermann (1999) dispõe:

Inclui-se a Constituição escrita como necessidade de consubstanciação do pacto social, de maneira que ela então seria a sua expressão contratual e renovação da mesma. Neste caso, a racionalidade, clareza e firmeza da lei formal, ficaria entendida como um princípio de maior proteção contra as possíveis deformações constitucionais de caráter arbitrário.23

Paralelo as mudanças no campo político temos as mudanças no Direito. Assiste-se, nesse contexto, ao fortalecimento da teoria da divisão de poderes, do filósofo Montesquieu, o fortalecimento os direitos civis, como, por exemplo, o direito de propriedade, o fortalecimento dos direitos políticos como a liberdade de pensamento, a aceitação da teoria do princípio da representatividade popular; e o fortalecimento da soberania popular como indivisível e inalienável, do filósofo Jean-Jacques Rousseau. Essas mudanças são produto da vontade coletiva em ver o poder das monarquias absolutas controlado pelo povo, pela lei e pelo direito. E, também, da necessidade histórica do Estado em se adequar a nova realidade subjacente internacional, provocada pelas mudanças dos meios de produção com a Revolução Industrial e com as mudanças sociais provocadas pelo movimento imigratório no sentindo campo-cidade, que começou no século XVII na Inglaterra, e que ganhou vulto no século XVIII.

É dentro dessa realidade, que dar-se o início politicamente na Inglaterra, no século XVII, a Revolução Puritana (1648) e a Revolução Gloriosa (1688), bem como com as garantias de direito de 1628 (Petition of Rights), de 1679

(Habeas Corpus) e de 1689 (Bill of Rigts) e que se expandiu com a filosofia

iluminista no século XVIII, a qual se formou a partir dos conceitos básicos do federalismo. Dessa forma, como se percebe, na indicação anterior dos pensadores que construíram a mentalidade da modernidade. O federalismo se alicerçou no postulado dos jusnaturalistas. Um exemplo é a Declaração de Independência de Thomas Jefferson.

23 ZIMMERMANN. Augusto. Teoria Geral do Federalismo Democrático. Rio de Janeiro:

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