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Prazer e sofrimento no Trabalho de Professores dos Anos Finais do Ensino Fundamental em uma Escola Pública do DF

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Academic year: 2017

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Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia

Prazer-Sofrimento no Trabalho de Professores dos Anos

Finais do Ensino Fundamental em uma Escola Pública do DF

Autora: Gicileide Ferreira de Oliveira

Orientadora: Dra. Lêda Gonçalves de Freitas

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PRAZER E SOFRIMENTO NO TRABALHO DE PROFESSORES DOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL EM UMA ESCOLA PÚBLICA DO DF

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Psicologia.

Orientadora: Prof.ª Dra. Lêda Gonçalves de Freitas

Brasília

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intitulado “Prazer e sofrimento no Trabalho de Professores dos Anos Finais do Ensino Fundamental em uma Escola Pública do DF”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Psicologia pela Universidade Católica de Brasília, em 25 de junho de 2014, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:

__________________________________________________

Prof.ª Dra. Lêda Gonçalves de Freitas

Membro Interno – Orientadora - UCB

__________________________________________________

Prof. Dr. Vicente de Paula Faleiros

Membro Externo - UCB

___________________________________________________

Prof. Dr. Emilio Peres Facas

Membro Externo - UFG

___________________________________________________

Prof. Dr. Benedito Rodrigues dos Santos

Suplente - UCB

Brasília

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Quero, de forma especial, agradecer a Deus e a minha mãe Hermínia, que, por meio de seu exemplo de luta, de coragem e de garra, mostrou-me que eu seria capaz de concretizar o meu sonho de fazer o mestrado.

Às minhas filhas Mainara e Cristiane que se privaram de minha companhia em muitos momentos, demonstrando atitudes de incentivo diante da minha ausência.

Ao Paulo Fettermann, companheiro e amigo que foi um admirador do meu trabalho, e por acreditar que eu conseguiria vencer mais essa etapa, apesar de tantos afazeres ao mesmo tempo: trabalhar, estudar e psicanalisar.

A todos os professores do curso, que foram extremamente solícitos e disponíveis diante dos cenários que se apresentaram, no sentido de fazer com que eu pudesse desconstruir/construir novos caminhos no percurso da teoria dejouriana.

À minha orientadora Lêda Gonçalves de Freitas, que, entre minhas buscas, desafios, erros, conflitos, avanços e expectativas, demonstrou competência e capacitação acadêmica na orientação desta dissertação.

Às professoras Erenice Natalia Soares de Carvalho e Lêda Gonçalves, e ao professor Ricardo Spindola Mariz, que fizeram parte do processo de qualificação desse projeto, contribuindo de forma ímpar em relação a considerações pertinentes à melhoria do meu trabalho.

À Mara Ezequiel, por facilitar, com muita eficiência, as questões logísticas na UCB.

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Finais do Ensino Fundamental em uma Escola Pública do DF. 2014.115f. Dissertação de Mestrado (Psicologia) - Universidade Católica de Brasília, Brasília. 2014.

Este estudo objetiva investigar a dinâmica de prazer e sofrimento no trabalho de professores de uma escola pública do Guará, Distrito Federal, referentes aos anos finais do ensino fundamental. Buscar-se-á caracterizar o contexto de trabalho, investigar as vivências de prazer e sofrimento no desempenho da atividade profissional e identificar os mecanismos utilizados pelos professores para enfrentar o sofrimento laboral. Tem-se como aporte teórico a Psicodinâmica do Trabalho, abordagem que busca compreender os aspectos psíquicos e subjetivos que são mobilizados pelo sujeito que trabalha frente a organização do trabalho. Os participantes do estudo foram dez professores do ensino fundamental, anos finais, do quadro da Secretaria de Educação do Distrito Federal. Foram realizadas três sessões de entrevistas semiestruturadas coletivas, as quais foram gravadas, transcritas e submetidas à análise de núcleos de sentido. Os sujeitos pesquisados apontam que o trabalho do professor tem um impacto muito grande na saúde da categoria. Tendo como fatores determinantes: sobrecarga, estresse, angústia, frustração, esgotamento físico, emocional e principalmente o não reconhecimento por parte da sociedade. As relações socioprofissionais entre os pares, a equipe gestora, assim como com a maioria dos estudantes, são satisfatórias, sendo fortalecidas pela mobilização subjetiva como: interesse, cooperação e confiança. A relação com a maioria dos pais dos discentes não é satisfatória vez que estes são ausentes, e é marcada pelo descrédito de sua função. As condições de trabalho revelaram-se insatisfatórias no que tange ao suporte técnico pedagógico, principalmente, às tecnologias deficitárias e a iluminação do ambiente. O sofrimento surge das condições enfrentadas, da desvalorização da profissão pela sociedade, o não reconhecimento da profissão pelo governo local (GDF/SEDF) e pais dos estudantes. O prazer advém da realização profissional, do reconhecimento pelos discentes, entre os pares, da interação entre os profissionais da escola e do profissionalismo da gestão escolar. Os sujeitos pesquisados buscam estratégias defensivas de proteção, adaptação e exploração para lidar com o sofrimento. No entanto, nem sempre os professores constroem estratégias eficientes para enfrentar os desafios do exercício de sua função, não tornando significativo, o que gera um processo de sofrimento permanente.

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Teachers’ Work of the

of Elementary Education in a Public School located at DF. 2014. 115f. Dissertation (Mestering in Psycology) - Universidade Católica de Brasília, Brasília. 2014.

This study aims to investigate the dynamics of pleasure/suffering in the teachers’ work of a public school located in Guará, Federal District, related to the final years of primary school. It will seek to characterize the work context, investigate the experience of pleasure/suffering during the professional activity performance and identify the mechanisms used by teachers to confront the labor suffering. It has as theoretical contribution of the Psychodynamics of Work, an approach that seeks to understand the psychic and subjective aspects that are mobilized by the subject who works in front of the organization work. The study participants were ten teachers of elementary school, final years, belonging to the staff of Department of Education in the Federal District. It was realized three sessions of collective semistructured interviews, which were taped, transcribed and submitted to units of meanings’ analysis. The researched subjects indicate that the teacher's work has a very large impact on the category’s heath. It has as determining factors: overcharge, stress, anguish, frustration, physical or emotional exhaustion and, especially, the non-recognition by society. The social and professional relationships among peers, the management team, and also as the most of students, are satisfactory, strengthened by the subjective mobilization as: interest, cooperation and trust. The relationship with most of pupils’ parents is unsatisfactory because they used to be absent, and it is also marked by discredit in its function. The working conditions have proved unsatisfactory related to the pedagogical technical support, especially the deficient technologies and ambient lighting. The suffering arises from the faced conditions, of the devaluation of the profession by society, the profession non-recognition by the local government (GDF / SEDF) and students’ parents. The pleasure comes from professional accomplishment, recognition by students, and between peers, by the interaction between school professionals and from the school management professionalism. The surveyed subjects seek defensive protection strategies, adaptation and exploration to deal with suffering. However, it is not always that the teachers build effective strategies to confront the challenges of their function’s exercise, not making it significant, which generates a process of ongoing suffering.

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APM - Associação de Pais e Mestres

APF - Associaton Psychanalytique de France BV- Baixa Visão

CF - Constituição Federal CT - Condições de Trabalho

CERCES - Centre de Recherche: Sens, Ethiqueet Societé DI - Deficiência Intelectual

DF- Deficiência Física

CNAM - Conservatoire Nationaldes Arts ET Métiers CREG/DF - Coordenadoria Regional de Ensino do Guará GDF - Governo do Distrito Federal

IES - Instituição de Ensino Superior

ISO - Organização Internacional para Padronização

IPSO - Institut de Pscychosomatique de Paris

ITRA - Inventário de Trabalho e Riscos de Adoecimento LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação

LPTA - Laboratório de Psicologia do Trabalho e da Ação LPTC- Laboratório de Psicodinâmica e Clínica do Trabalho NRH - Núcleo de Recursos Humanos

ON - Outras Necessidades

OIT - Organização Internacional do Trabalho OT - Organização do Trabalho

PDAF - Programa de Descentralização de Administração e Financeiro RSP - Relações Socioprofissionais

SEDF - Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal SINPRO/DF - Sindicato dos Professores do Distrito Federal SciELO - Scientific Eletronic Library Online

TC - Transtorno de Conduta

TDH - Transtorno de Déficit de Atenção

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1 INTRODUÇÃO, 10

2 OBJETIVOS, 17

2.1. OBJETIVO GERAL, 17

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS, 17

3 REFERENCIAL TEÓRICO, 18

3.1 O MUNDO DO TRABALHO, 18

3.2 FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO NA SOCIEDADE CAPITALISTA, 20

3.2.1. Taylorismo, 20

3.2.2 Fordismo, 22

3.2.3 Toyotismo, 24

3.3 PSICODINÂMICA DO TRABALHO, 26 3.4 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO, 33 3.5 VIVÊNCIAS DE PRAZER, 36

3.6 SOFRIMENTO E MEDIAÇÃO DO SOFRIMENTO, 37 3.7 PESQUISAS COM PROFESSORES, 39

4. METODOLOGIA, 50

4.1 CONTEXTO DA PESQUISA, 52

4.2 ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA – MATERIAL, 53 4.3 DEPENDÊNCIAS DA ESCOLA, 53

4.4 ESTUDANTES MATRICULADOS, 54 4.5 ORGANIZAÇÃO CURRICULAR, 55 4.6 PARTICIPANTES DA PESQUISA, 56 4.7 INSTRUMENTO DA PESQUISA, 57

4.8 PROCEDIMENTOS E COLETA DE DADOS, 60 4.9 ANÁLISE DOS DADOS, 62

5 RESULTADOS, 63

5.1 DESCRIÇÃO, 64

5.1.1. Discussão, 67

5.2 Este núcleo da análise da seguinte explanação:, 71 5.2.1 DESCRIÇÃO, 71

5.2.2 DISCUSSÃO, 74 5.3.1 DESCRIÇÃO, 80 5.3.2 DISCUSSÃO, 81 5.4.1 DESCRIÇÃO, 85 5.4.2 DISCUSSÃO, 87 5.5.1 DESCRIÇÃO, 90 5.5.2 DISCUSSÃO, 93 5.6.1 DESCRIÇÃO, 96 5.6.2 DISCUSSÃO, 99

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS, 101

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1 INTRODUÇÃO

A sociedade contemporânea vem sofrendo transformações rápidas, especialmente nas últimas décadas, as quais são fruto, sobretudo, das mudanças do mundo capitalista, contribuindo para a manutenção da dialética de alterações na atual comunidade de consumo, cujas organizações de trabalho buscam cada vez mais a competitividade, dinâmica e inovação, assim como qualidade dos produtos e serviços prestados. A rapidez destas transformações ocorridas pela globalização e o desenvolvimento de novas tecnologias afetam diretamente as relações econômicas e principalmente as sociais, particularmente em relação à organização do trabalho, resultando na incapacidade de controlar alguns dos efeitos indesejados do progresso.

Considerando essa nova organização e disposição, principalmente o contexto laboral ocasionado por estas transformações contemporâneas, pode-se verificar o surgimento de novas demandas, cobranças, esforços e dedicação, bem como a sobrecarga do profissional. Este fenômeno induz aos questionamentos, numa perspectiva educacional. Por exemplo: Por que os professores adoecem com frequência no exercício da sua função? Por que o inevitável, muitas vezes, é a construção de uma relação de sofrimento com o trabalho? Por que muitos desistem ou permanecem a custos emocionais extraordinários?

Diante dessas indagações reflete-se sobre a pressão imposta pela sociedade ao professor para que dê conta das práticas pedagógicas, mesmo que tenha sofrido por não ter realizado o que idealizou profissionalmente, provocando assim frustração, medo e ansiedade por estar inserido em uma sociedade mutável.

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Este sofrimento pode ser agravado quando confrontado com as questões motivacionais, bem como das relacionadas à subjetividade, tais como os sonhos, projetos e desejos idealizados, podendo ainda desencadear sofrimento psíquico e deixar o indivíduo cada vez mais privado da liberdade de criação. Tal mazela se manifesta no âmbito subjetivo e social do ambiente escolar, sob a forma recorrente de depressão, estresse e abandono da sala de aula, fatores que ocorrem, principalmente, em virtude da percepção por parte do docente, decorrente da incapacidade em responder as demandas contraditórias presentes no cotidiano escolar.

Nesse contexto, os docentes tendem a se sentirem insatisfeitos e incapazes por mais que se esforcem, com todas as exigências profissionais que lhes são impostas. Assim, não conseguem alcançar o nível de excelência exigida pela sociedade e recusam-se a abrir mão dos ideais de excelência caracterizados pelo profissional compromissado. Este conjunto de fatores, muitas vezes, chega a afetar a saúde do docente, que acaba adoecendo. Além disso, muitas escolas carecem de planejamento, assim promovem ações compartilhadas para a execução de estratégias defensivas que possibilitem melhorias nas condições do exercício pedagógico, uma das prerrogativas do professor.

Contudo, houve uma época em que o ofício do professor era prestigiado, respeitado e bem reconhecido por toda a sociedade. Tempo em que a educação era privilégio dos filhos das classes mais abastadas e bem colocadas na hierarquia socioeconômica. O magistério era exercido por pessoas muito bem qualificadas e absolutamente vocacionadas para a sala de aula. A figura do mestre era, sobretudo, muito respeitada por todos. Os estudantes se identificavam sobremaneira com aquele que lhes transmitia ensinamentos acerca do mundo, da vida, literatura, geografia, história, ciências, matemática, boas maneiras, higiene, línguas estrangeiras, filosofia, bordado, canto, declamação, culinária, economia doméstica, jardinagem e vários outros ensinamentos preparatórios para o trabalho e o lar.

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Concomitantemente com a ocorrência de uma desvalorização da profissão, verifica-se um aumento das atividades a serem exercidas pelos docentes, ressaltando ainda mais esta contradição.

Historicamente, conforme o país vivenciava um crescimento da população, indústria, comércio, agricultura e exportações, evidenciava-se uma enorme pressão social para que cada vez mais a educação abarcasse números maiores de educandos. Consoante a este aumento de demanda, a oferta de cursos de licenciatura ampliavam-se por todo o território nacional. O número de professores aumentava, em especial, para acompanhar o quantitativo de estudantes. Graças às políticas públicas de educação, face à pressão pela oferta de estudo para um contingente cada vez maior, combinado com a tímida supervisão dos cursos de licenciatura, espalhada pelo país, formaram-se expressivos quantitativos de docentes sem a devida preparação acadêmica para o exercício da função de professor-regente. Iniciava-se, assim, a grande desvalorização dos profissionais do magistério.

Década após década, o que se pode verificar foram sucessivas manobras e articulações dos governos federais e estaduais para suprir as necessidades da população quanto à oferta de vagas. Sem o esperado investimento para a construção de unidades de ensino e programas de ampliação da rede oficial de escolas por toda a nação, sobrecarregando sobremaneira as salas de aula existentes, com número excessivo de estudantes, favorecendo enormemente o mau desempenho dos professores em função da superlotação das salas. Estabeleceu-se, então, a desvalorização da carreira de magistério, com crescente desrespeito ao ofício do docente.

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de formar uma articulação entre a escola e a comunidade, buscando uma parceria entre o ambiente escolar e a família.

O autor ESTEVE (1999), em seu livro intitulado: O mal-estar docente: a sala de

aula e a saúde dos professores - conceitua: “A acelerada mudança do contexto social acumulou as contradições do sistema de ensino. O professor, como figura humana desse sistema, queixa-se de mal-estar, cansaço e desconcerto”.

Percebe-se que as políticas públicas de ensino movem-se e transformam-se a cada mudança de governo, num eterno recomeçar. Salvo poucas unidades da federação, o investimento na construção de escolas e capacitação de professores ainda é absolutamente tímido e não alcança as necessidades básicas da população objetivando a educação e passa longe da modernidade exigida pela globalização, cujas ações e movimentos jamais retrocederão.

Vários estudos têm sido realizados com intuito de identificar em que aspectos as transformações sociais estão repercutindo no trabalho do professor. Nesse sentido, autores internacionais, como ABRAM (1987) e ESTEVE (1995,1999), além de autores e pesquisadores brasileiros, como BUENO e LAPO (2003), GASPARINI (2005) e LEMOS (2005), OLIVEIRA (2003), CODO (1999) e DELCOR (2003), apontam que as modificações no contexto social das últimas décadas alteraram significativamente o perfil do professor e as exigências pessoais e do meio em relação à eficácia de sua atividade.

As mudanças ocorridas no mundo do trabalho provocam impactos nos trabalhadores e no modo como se relacionam com o contexto laboral, podendo levar à sobrecarga física e psíquica, constituindo-se em causa de sofrimento. Premidos por situações que levam ao sofrimento, os indivíduos desenvolvem formas de resistência e estratégias de mediação, que tanto levam ao prazer quanto ao sofrimento e adoecimento.

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Tais situações vivenciadas proporcionam tensões na prática cotidiana, e, somadas a outras dificuldades, podem favorecer o desencadeamento do adoecimento dos professores. A função de docente apresenta certas especificidades que se diferenciam dos demais trabalhadores, que implicam em variáveis que as outras categorias não contemplam. A partir disto, surgem inquietações, que provocam a busca do entendimento a respeito dos fatores na relação do trabalho que tendem a promover o desenvolvimento de patologias e que afetam os docentes, levando-os ao afastamento de suas atividades laborais.

Segundo um relatório de pesquisa encomendado pelo SINPRO e SEDF sobre a inter-relação trabalho e saúde dos professores da rede pública do DF, diz-se que o sofrimento no trabalho é compreendido por meio de vivências simultâneas de esgotamento emocional e falta de reconhecimento.

O esgotamento se expressa por vivências de frustração, insegurança, inutilidade e desqualificação diante das expectativas de desempenho, gerando desgaste e estresse. A falta de reconhecimento se traduz pela vivência de injustiça, indignação e desvalorização pelo não reconhecimento do seu trabalho. (RELATÓRIO DE PESQUISA, SINPRO e SEDF, 2008, p.5).

No trabalho do professor há uma exigência de responsabilidade que deve ser compensada pelo reconhecimento da função e atividades desempenhadas. Se o docente não percebe o reconhecimento de seu trabalho, a responsabilidade exigida passa a ser percebida como uma sobrecarga, geralmente experimentada como um conflito, que acaba por repercutir negativamente na saúde. A relação saúde x trabalho não se limita apenas ao adoecimento, aos acidentes e ao sofrimento psíquico e físico, mas também nas relações do trabalho, ou seja, no alcance das metas impostas pela situação hierárquica em que o docente está inserido, que é estabelecida sem considerar as condições laborais adequadas para responder demandas complexas ou carências de planejamento, podendo desencadear sintomas e patologias.

Quando o rearranjo da organização do trabalho não é mais possível ou quando a relação do trabalhador com a organização da atividade laboral é bloqueada, o sofrimento começa: a energia pulsional que não acha descarga no exercício do trabalho se acumula no aparelho psíquico, ocasionando um sentimento de desprazer e tensão. (DEJOURS, 1993, p.29)

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trabalho coletivo, o desenvolvimento de regras de ensino e o reconhecimento por parte dos estudantes, constituindo forma de estímulos positivos, possibilidades de construção de saúde e prazer no âmbito do trabalho.

ANTUNES (1999) e LANCMAN (2008) explicam que, em consequência do novo cenário, o trabalho passou a ter como principais características a flexibilização, a precariedade, a vulnerabilidade e a fragmentação. Sob a justificativa de assegurar a sobrevivência das organizações e de garantir a manutenção dos empregos e a sobrevivência do sistema econômico, o trabalho vem perdendo valor na sociedade, ora de natureza econômica ora moral. Este novo cenário, com relações fluidas e vulneráveis, produz alterações importantes no sujeito trabalhador, ao mesmo tempo em que institui novas formas de inserção e de exclusão social.

SOUZA (2002) aponta que todos os que são professores sofrem a demolição, tanto profissional quanto pessoal, fruto da experiência devastadora do confronto com o desinteresse dos discentes, o que, de certa forma, os destitui do lugar de mestres e dos estudantes, que por não aprenderem denotam tanto o próprio fracasso quanto o do professor.

O saber fazer do professor é confrontado com o prescrito pelo trabalho estabelecido pela instituição: ser responsável pela educação de até cinco turmas de quarenta discentes (número médio de estudantes por turma) e ter como prerrogativa a ministração de duas ou mais disciplinas diferentes durante o ano letivo. Para atender a realidade do trabalho, o professor recorre a esforços extras para atualizar conhecimentos e instrumentalizar-se em novas tecnologias didático-pedagógicas, cumprindo uma jornada de trabalho que extrapola em horas semanais a jornada prevista no contrato de trabalho. Os problemas, que afligem a profissão docente são antigos e estão ligados à própria origem, ao desenvolvimento histórico e à desvalorização social da profissão.

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A consequência de tudo isso se reflete de maneira prejudicial à saúde física e mental dos professores, transformando o trabalho, que deveria gerar prazer, em sofrimento. No entanto, DEJOURS (1994) faz uma análise das relações entre trabalho, prazer e sofrimento com base na organização do trabalho. Para o autor, existe um paradoxo psíquico do trabalho: este é, para uns, fonte de equilíbrio e, para outros, causa de fadiga e sofrimento.

DEJOURS (1994), partindo da análise da psicodinâmica das situações de trabalho, considera que o trabalho torna-se fonte de tensão e de desprazer, gerando um aumento da carga psíquica e sem a possibilidade de alívio, dá origem ao sofrimento e à patologia. Assim, a insatisfação no trabalho é uma das causas fundamentais de sofrimento no desempenho das prerrogativas laborais.

Segundo a psicodinâmica do trabalho, ao buscar no labor a fonte de prazer e realização, o trabalhador encontrar uma fonte de sofrimento e desgaste, entrando em conflito com a organização, pois, no contexto laboral, a organização é a vontade do outro que se impõe sobre si. Na medida em que as pessoas internalizam suas expectativas, confrontando-as com uma realidade discrepante, surge o conflito que incide negativamente no seu equilíbrio emocional (DEJOURS, 1994).

A utilização do referencial teórico da Psicodinâmica do Trabalho, em inúmeros estudos e pesquisas brasileiras, tem dado visibilidade ao sofrimento de diferentes categorias profissionais, oriundo das condições ergonômicas do trabalho prescrito e do trabalho real, de aspectos relacionados à dimensão organizacional centralizada na divisão de tarefas, nas relações de produção e na organização do trabalho. A psicodinâmica do Trabalho concentra-se em autores como: DEJOURS (1992, 2001, 1993, 2004, 2007, 2008, 2009, 2012); MENDES (2002; 2004); BORGES (2002); FERREIRA (2002; 2004); LANCKMAN (2004, apud DEJOURS); ABDOUCHEL e JAYET (1994) e FREITAS (2006; 2012).

As questões que surgiram da leitura dos textos sobre prazer e sofrimento psíquico do professor foram as seguintes: Qual a dinâmica de prazer e sofrimento no trabalho de professores das séries finais do ensino fundamental? Como se caracteriza a organização de trabalho dos professores? Como os professores mediam o sofrimento?

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trabalho dos professores, descrever as vivências de prazer e sofrimento no trabalho e identificar as estratégias de mediação utilizadas pelos professores para enfrentar o sofrimento.

A pesquisa constitui-se da seguinte maneira: o primeiro capítulo, introdução - visa contextualizar a noção de trabalho no decorrer do tempo, objetivo geral e objetivos específicos. O segundo capítulo é dedicado ao referencial teórico, por oferecer suporte a este estudo, mostrando à Psicodinâmica do Trabalho, os principais conceitos utilizados nesta dissertação e pesquisas acadêmicas sobre prazer e sofrimento que têm aporte teórico na Psicodinâmica do Trabalho. O terceiro capítulo delineará os aspectos metodológicos da pesquisa, os participantes, contextualização, os instrumentos de pesquisa (os procedimentos da coleta e análise), bem como, a definição das categorias. O quarto capítulo apresenta a análise e a discussão dos dados à luz da Psicodinâmica do Trabalho, com os relatos orais dos professores, sujeitos da pesquisa.

As considerações finais propõem à reflexão dos resultados obtidos na esperança de sensibilizar a criação de políticas públicas no que tange a valorização e reconhecimento social da profissão docente, principalmente a prevenção dos riscos de adoecimentos relacionados ao trabalho.

2 OBJETIVOS

2.1. OBJETIVO GERAL

Investigar a dinâmica de prazer e sofrimento no trabalho, de professores de uma escola pública, dos anos finais do ensino fundamental, do Distrito Federal.

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Caracterizar o contexto de trabalho dos docentes;

Descrever as vivências de prazer e sofrimento no trabalho;

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3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 O MUNDO DO TRABALHO

Ao longo da história, a forma predominante do trabalho foi à escravidão (trabalho forçado), em que um homem domina outro, impedindo-o de tomar decisões livremente. Ao falar em escravidão retome-se a histórias dos portugueses, espanhóis e ingleses que superlotavam os porões de seus navios negreiros africanos, colocando-os à venda de forma desumana e cruel por toda a região da América.

A escravidão percorre os primórdios da história, quando os povos vencidos em batalhas eram escravizados por seus conquistadores. A exemplo, os hebreus, que foram vendidos como escravos, desde os primórdios da humanidade, criando uma relação de trabalho pré-existente desde então. Assim, muitas civilizações se beneficiaram do trabalho escravo para a execução de tarefas mais pesadas e rudimentares. Grécia e Roma detinham grande número de escravos e alguns tiveram a chance de comprar a liberdade.

A partir de meados do século XIX se preocupou em diminuir a escravidão até ser declarada ilegal. Desde então, o trabalho assalariado passou a ser a forma dominante no contexto global, tendo em vista que, a partir desta concepção, o indivíduo que realizar certa atividade produtiva receberá em troca um salário, isto é, um montante valorativo pela atividade desempenhada dentro do mercado laboral.

O mundo do trabalho e das organizações vem sofrendo mudanças significativas. No século XVII a burguesia, oriunda dos segmentos dos antigos servos, começa a modificar o sentido do trabalho, pela primeira vez na história, que era considerado uma atividade inferior e sem valor algum destinado aos escravos. A partir dos avanços científicos do século XVII, da passagem do feudalismo ao capitalismo e de todas as mudanças sócio-históricas, o trabalho se consolida na sociedade, fazendo parte integrante da vida de qualquer pessoa.

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Para alguns, o trabalho é visto como causa de incômodo e desprazer, mera fonte de subsistência ou de grande realização e prazer, até “mola” propulsora da vida. Neste sentido, o indivíduo passa a agir, tomar iniciativas, desenvolver ações e habilidades. O trabalho promove o aprendizado, a convivência social e gera habilidades para o melhor desempenho na articulação coletiva.

Estudiosos têm se debruçado, neste final de século, sobre as transformações no mundo do trabalho e no campo ideológico. Entre eles estão NETTO (1990,1995), TONET (1997), FORRESTER (1997); EVANGELISTA (1997), LESSA (1998), DIAS (1998), BRENNER (1999), ANTUNES (1998, 1999, 2000).

O trabalho deixou de ser apenas meio de subsistência e tornou-se, para um número cada vez maior de pessoas, elemento constitutivo de identidade:

O trabalho é mais do que o ato de trabalhar ou de vender sua força de trabalho em busca de remuneração. Há também uma remuneração social pelo trabalho, ou seja, o trabalho enquanto fator de integração a determinado grupo com certos direitos sociais. O trabalho tem, ainda, uma função psíquica: é um dos grandes alicerces de constituição do sujeito e de sua rede de significados. Processos como reconhecimento, gratificação, mobilização da inteligência, mais do relacionados à realização do trabalho, estão ligados à constituição da identidade e da subjetividade (LANCMAN, 2008, p. 31).

Para Marx (1982), o trabalho é uma dimensão ineliminável da vida humana, isto é, uma dimensão ontológica fundamental, pois, por meio dele, o homem cria, livre e conscientemente, a realidade, bem como, o permite dar um salto da mera existência orgânica à sociabilidade. Sendo também pelo trabalho que a subjetividade se constitui e se desenvolve constantemente num processo de autocriação.

Compreenda-se que o homem possui a capacidade potencial de realizar-se como ser livre e universal, ao efetivar-se, no curso histórico, e, ao mesmo tempo, dar novos rumos à sua existência. Nesta lógica, o homem está em constante processo de autoconstrução, tanto em sua dimensão subjetiva quanto intersubjetiva, possibilitada pela atividade essencial: o trabalho.

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acelerado e complexo, do modo de produção capitalista, o trabalho ultrapassa esse conceito de relação entre homem e natureza e passa a ter como grande característica a atribuição de valores a tudo que é produzido, gerando assim, o acúmulo de capital.

A expansão do capitalismo carrega um processo permanente de transformação das relações de produção, modificando as formas de trabalho para torná-las adequadas à expansão, e, portanto, às relações sociais. Em cada momento de desenvolvimento das forças produtivas, as relações de trabalho correspondentes criam e recriam o campo de batalha dos detentores dos meios de produção e vendedores de força de trabalho, com novas formas de opressão e resistência.

3.2 FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO NA SOCIEDADE CAPITALISTA

Com o advento do capitalismo e o desenvolvimento da indústria, a organização do trabalho ganhou novos contornos, com maior produtividade, redução dos preços e impulsionou o consumo e os lucros, contribuindo para um controle rigoroso da mão de obra. Assim, o trabalho passou a ser planejado com rigor científico, surgindo novas formas de organizá-lo, tais como o Taylorismo, o Fordismo e o Toyotismo, provocando mudanças importantes na compreensão do trabalho.

3.2.1. Taylorismo

O modelo de administração produtiva desenvolvido pelo norte-americano Frederick Taylor, no início do século XX, buscava responder ao desafio maior para o capitalismo americano, impondo limites à expansão e consolidação, qual seja: uma classe trabalhadora organizada em torno de ofícios, com domínio e monopólio do saber produtivo.

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O dia de trabalho de cada operário deveria ser “completamente planejado pela direção” (TAYLOR, 1990). Ao chegar à fábrica, o funcionário receberia as instruções sobre o trabalho do dia e o tempo que teria para realizá-lo. O contato era com a tarefa isolada e com o superior imediato. Taylor acreditava que o aperfeiçoamento se conquistava com a especialização. E, nesse sentido, propôs a divisão do trabalho em tarefas específicas, com execução repetitiva e contínua, no ritmo da máquina - motivo que o levou a receber críticas por robotizar o operário, limitar drasticamente a expressão, impedi-lo de criar e participar do processo de produção.

Note-se a dissimulação dos efeitos do trabalho parcelado sobre o trabalhador, a animalização e adestramento:

A tarefa é sempre regulada, de sorte que o homem, adaptado a ela, seja capaz de trabalhar durante muitos anos, feliz e próspero, sem sentir os prejuízos da fadiga [...] à primeira vista parece que o sistema tende a convertê-lo em mero autômato, em verdadeiro boneco de madeira [...] o treinamento do cirurgião tem sido quase idêntico ao tipo de instrução e exercício que é ministrado ao operário sob a administração científica, e permite realizar trabalhos elementares de mecânica em ambiente mais agradável, de interesse mais variado e recebendo salários mais elevados [...] Este trabalho é tão grosseiro e rudimentar por natureza que acredito ser possível treinar um gorila inteligente e torná-lo mais eficiente que um homem no carregamento de barras de ferro. [...] Um dos primeiros requisitos para um indivíduo que queira carregar lingotes de ferro como ocupação regular é ser tão estúpido e fleumático que mais se assemelhe em sua constituição mental a um boi (TAYLOR, 1990, pp. 42; 92; 43; 53).

Essa forma de gestão que se desenvolvia visava diminuir os salários e desqualificar as profissões através de uma nova composição entre trabalho vivo e o trabalho morto. Cada trabalhador passaria a operar máquinas e ferramentas desenhadas e organizadas, para maior produção, acelerando o projeto capitalista e findando a influência dos trabalhadores de ofício, especialmente, sobre os recém-admitidos.

A preocupação de Taylor também incluía o desperdício, visando, sobretudo, a exploração do trabalho em seu limite máximo. Daí o estudo minucioso do tempo e movimentos, sendo um dos pontos fundamentais a separação entre os momentos de planejamento e execução do trabalho.

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dentro de uma empresa com o objetivo de otimizar o trabalho; adoção de métodos para diminuir a fadiga e os problemas de saúde dos trabalhadores; implantação de melhorias nas condições e ambientes de trabalho; uso de métodos padronizados para reduzir custos e aumentar a produtividade; criação de sistemas de incentivos e recompensas salariais para motivar os trabalhadores e aumentar a produtividade; supervisão humana especializada para controlar o processo produtivo; disciplina na distribuição de atribuições e responsabilidades e o uso somente de métodos de trabalho que já tenham sido testados e planejados para eliminar o improviso.

3.2.2 Fordismo

Em meados da década de 1910 surge o Fordismo, que consiste num conjunto de métodos voltados para produção em massa, em quantidades nunca vistas. O Fordismo absorveu algumas técnicas do Taylorismo, mas foi além: tratou de organizar a linha de montagem de cada fábrica para produzir mais, controlando melhor os movimentos dos trabalhadores, que eram fixados ao lado da esteira por onde passava o produto em processo de montagem; controlando melhor as fontes de matérias-primas e de energia, a formação da mão de obra, os transportes, o aperfeiçoamento das máquinas para ampliar a produção e o consumo (BRAVERMAN, 1987).

Antunes (2005) aponta as características desde sistema de produção:

Entendemos o fordismo como a forma pela qual a indústria e o processo de trabalho consolidaram-se cujos elementos constitutivos básicos eram dados pela produção em massa, através da linha de montagem e de produtos mais homogêneos: através do controle dos tempos e movimentos pelo cronômetro taylorista e da produção em série fordista; pela existência do trabalho parcelar e pela fragmentação das funções; pela separação entre elaboração e execução no processo de trabalho; pela existência de unidades fabris concentradas e verticalizadas e pela constituição/consolidação do operário em massa, do trabalhador coletivo fabril. (ANTUNES, 2005, p.25)

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O sistema de produção fordista objetivava a produção industrial elevada; o aumento da produção no menor espaço de tempo, buscando vender para o maior número possível de consumidores; a redução máxima dos custos de produção, para baratear o produto, e utilizar o trabalhador na reprodução mecânica, da mesma ação, durante todos os dias. Os veículos eram colocados na esteira e passavam de um operário a outro para que cada um fizesse sua parte do serviço. Logo, os funcionários não precisavam sair do seu local de trabalho, resultando em maior velocidade de produção. Também era desnecessária a utilização de mão-de-obra especializada, pois cada trabalhador executava apenas uma pequena tarefa de cada etapa da produção.

Pode-se assimilar melhor o sistema fordista/taylorista no filme “Tempos Modernos” de Charles Chaplin, que representa a vida urbana nos Estado Unidos, dos anos 30, época seguinte à crise de 1929, que levou grande parte da população ao desemprego e à fome. O filme é uma crítica à "modernidade" e ao capitalismo, representado pelo modelo de industrialização, em que o operário é engolido pelo poder do capitalismo, tornando o trabalho humano mecanizado.

O Fordismo foi o sistema produtivo que mais se desenvolveu no século XX, responsável pela produção em massa e diversidade de mercadorias. Este modelo universalizou-se e passou a ser combinado com as técnicas tayloristas, ao passo que foram ampliados diversos direitos sociais, suavizando, temporariamente, o conflito inerente à relação capital e trabalho até a crise de seu padrão de acumulação (BRAGA, 1995, p. 96). O Estado arrecadava os impostos e assegurava certos direitos trabalhistas, o patronato se comprometia com o pagamento dos altos salários inspirados no modelo produtivo de Ford e os trabalhadores suportavam as formas fordistas/tayloristas de exploração.

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inicial do método cientifico taylorista de parcelamento das atividades. Consequentemente, Ford conquista o mercado norte-americano e depois o mundo.

Enquanto para os empresários o fordismo deixou marcas positivas, para os trabalhadores gerou problemas, tais como: trabalho repetitivo e desgastante, falta de visão geral sobre todas as etapas de produção e baixa qualificação profissional. O sistema também se baseava no pagamento de baixos salários como forma de reduzir custos de produção.

A forma organizacional de trabalho marcou o período de crescimento e expansão do pós-guerra (1945-1973), conhecida como a “Era de Ouro” do capitalismo. Época do surgimento de uma nova institucionalidade que garantisse a reprodução do capital e a manutenção do capitalismo. Neste período foi necessário oferecer garantias aos trabalhadores, tais como a estabilidade, direitos previdenciários, saúde e educação.

No período posterior à II Guerra Mundial intensificou-se o repúdio da classe operária pela ortodoxia do trabalho de corte taylorista/fordista, devido às formas de produção mais plásticas experimentadas durante a Guerra. Este fato associado à queda do poder aquisitivo dos países consumidores, que se envolveram na Guerra, e a necessidade de produção em lotes menores para atender demandas personalizadas, desencadeou a crise dessa forma de organização de trabalho (HARVEY, 1992).

O modelo fordista passa, assim, pelo declínio mundial na década de 1970, perdendo espaço para um novo modelo: o Toyotismo, que veio imbuído de uma nova gestão de trabalho e produção, promovendo investimento maciço em ciência e tecnologia. O capital investido engendrou uma progressiva mudança nos métodos de produção e trabalho, no consumo, relações entre as empresas e funcionários e entre as empresas e consumidores.

3.2.3 Toyotismo

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O Toyotismo, surgido no Japão, seguia um sistema enxuto de produção, fundamentado em três pilares: aumentar a quantidade produzida, reduzir os custos e garantir melhor qualidade e eficiência no sistema produtivo. Foi implantado pela empresa automobilística japonesa Toyota Motor Company. Este método de organização da produção e do trabalho originou-se com o intuito de solucionar os problemas econômicos que o Japão enfrentava no pós-guerra (PINTO, 2007).

O modelo surgiu na década de 1950, no Japão, idealizado por Taiichi Ohno, na fábrica da Toyota, mas só a partir da década de 1970 foi introduzido em outros países e em escala global. A produção era conduzida diretamente pela demanda. A produção variada, diversificada e pronta para suprir o consumo, determinava o que seria produzido, processo inverso ao do Fordismo, que primava pela produção em série e de massa. A dinâmica do sistema consistia em: primeiro efetuar a venda do produto para depois determinar a compra de matéria-prima para a produção. Assim, a reposição dos produtos se realizava depois da venda para não acumular estoque (SANCHEZ, 1999, p.62).

De acordo com Sanchez e Antunes (1999) estas são as características principais do Toyotismo: a) a flexibilização da produção – produzir apenas o necessário e reduzir os estoques e automação, – utilizar máquinas que desligavam automaticamente caso ocorresse qualquer problema, – diminuir os gastos com pessoal; b) just in time (na hora certa) – sem espaço para armazenar matéria-prima, produzidos após a venda; c) kanban (etiqueta ou cartão) – método para programar a produção, de modo que o just in time se efetivassee; d)

teamwork (trabalho em equipe) – os trabalhadores passavam a trabalhar em grupos, orientados por um líder, cujo objetivo visava ganhar tempo, ou eliminar os “tempos mortos” e controle de qualidade total, – todos os trabalhadores, em todas as etapas da produção, deveriam se responsabilizar pela qualidade do produto e a mercadoria só poderia ser liberada para o mercado após uma inspeção minuciosa de qualidade. A ideia de qualidade total também atingiu diretamente os trabalhadores, que deveriam ser “qualificados” para serem contratados. Dessa lógica surgiram os certificados de qualidade ou ISO.

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Vale ressaltar que, aparentemente, o modelo toyotista de produção tendia à valorizar o trabalhador, mais que os modelos anteriores (fordista e taylorista), mas, tal impressão era mera ilusão. Efetivamente, ocorria que o modelo aumentava a concorrência entre os trabalhadores, que disputam melhores índices de produtividade e geravam sofrimento, exigindo cada vez mais do trabalhador, com o aumento da produtividade, para alcançar as metas propostas em detrimento do desemprego.

O Sistema Toyota de Produção aprimorou e ampliou as dimensões da exploração da força de trabalho ao sistematizar as técnicas de apropriação da subjetividade do trabalhador. Com o resultado de todas as transformações, a polivalência, flexibilização, descentralização, otimização dos recursos humanos e enxugamento do quadro, tornaram-se palavras de ordem, mundialmente conhecidas no meio de produção, cujo desemprego estrutural do proletariado e a crescente precarização das condições de trabalho, fortaleceu a tendência para a flexibilização das leis e do mercado em relação às atividades laborais.

Estudos desenvolvidos na França por Dejours (1987) criticam o modelo taylorista e demonstram que a organização do trabalho é responsável pelas consequências penosas ou favoráveis para o bem-estar psíquico do trabalhador. O autor afirma que podem coexistir vivências de prazer e/ou de sofrimento no trabalho, expressas por meio de sintomas específicos relacionados ao contexto sócio profissional e a própria estrutura da personalidade (MENDES, 1995).

A informática foi o fator central deste novo padrão tecnológico, tornando possível processar e armazenar informações em grande quantidade e em tempo real. Segundo Antunes (2009) as mudanças proporcionadas dessa tecnologia produziram impactos significativos na organização do trabalho e na classe trabalhadora, concomitantemente maior produtividade e desemprego, devido à redução da quantidade necessária de trabalhadores para produzir o mesmo trabalho.

3.3 PSICODINÂMICA DO TRABALHO

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Com a polivalência, flexibilização, descentralização, otimização dos recursos humanos, enxugamento de quadro, jornadas prolongadas de trabalho, ritmo acelerado da produção, fadiga física, a abstenção no processo produtivo, parcelamento das tarefas, condições de trabalho, e, sobretudo, a automação, os trabalhadores foram acometidos por adoecimento psíquico.

Christophe Dejours, médico francês, formado em Psicossomática, psiquiatra, psicanalista, diretor-científico do Laboratório de Psicologia do Trabalho e professor do

Conservatoire Nationaldes Arts ET Métiers (CNAM), em uma instituição pública ligada ao Ministério da Educação francês, delineou ensinamentos sobre os impactos da organização do trabalho e a saúde mental do trabalhador, especialmente utilizados por sociólogos, filósofos, estudantes, sindicalistas, entre outros interessados nas questões da saúde do trabalhador. Dejours é professor titular da cátedra de Psychanalyse-Santé-Travail no Conservatoire

Nationaldes Art set Métiers, diretor do Laboratório de Psicologia do Trabalho e da Ação

(LPTA), do CNAM e da revista Travailler. É membro associado do Centre de Recherche:

Sens, Ethique et Societé (CERCES), do CNRS-IRESCO, do Institut de Pscychosomatique de Paris (IPSO), e da Associaton Psychanalytique de France (APF).

O estudo da organização do trabalho se deu com a publicação, na França, de

Travail: usure mental e Essai de Psychopathologie du travail, em 1980, publicado no Brasil com o título de A Loucura do Trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho, em 1987. A Psicodinâmica do Trabalho deriva da Psicopatologia do Trabalho, intitulada com base no estudo da normalidade em detrimento do estudo da patologia. Apesar de Dejours desconsiderar a psicanálise como recurso para a compreensão entre a relação indivíduo x trabalho, ainda buscava conceitos para propor a mudança do termo psicopatologia para psicodinâmica do trabalho, Dejours (1992). As origens da Psicodinâmica do Trabalho são disponibilizadas nos estudos de Le Guillant (1984) que, durante os anos 50, realizou as primeiras observações sistemáticas, que lhe permitiram estabelecer relações entre trabalho e Psicopatologia. A produção mais conhecida relata sobre a atividade de telefonistas, em Paris, em que o autor diagnosticou um distúrbio, nomeado por ele como Síndrome Geral de Fadiga Nervosa, caracterizada por um quadro inclusivo de alterações de humor e caráter, alteração do sono e manifestações somáticas diversas.

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Fadiga Nervosa. Esta última síndrome caracterizava-se pela manutenção do ritmo de trabalho durante as férias, manifestado pela sensação de irritação, por uma grande dificuldade para ler em casa e pela repetição incontrolável de expressões verbais do trabalho (LE GUILLANT, 1984).

A Psicodinâmica do Trabalho tem fundamentalmente os conceitos ergonômicos do trabalho prescrito e real. No espaço entre o prescrito e o real pode ocorrer ou não a sublimação e a construção da identidade no trabalho. Segundo Daniellou e colaboradores (1983) há, sempre, na atividade Laboral “taylorizada”, uma separação entre trabalho prescrito e real, consequente à separação entre concepção e execução.

Assim, a principal crítica, direcionada ao taylorismo, é a existência do impedimento da conquista da identidade no trabalho, que ocorre, precisamente, no espaço entre trabalho prescrito e trabalho real. A Organização Científica do Trabalho não se limitaria apenas à desapropriação do saber, mas proibiria, também, toda a liberdade de organização, de reorganização e de adaptação, pois tal adaptação exigiria uma atividade intelectual e cognitiva, inesperada pelo taylorismo.

Em 1984, C. Dejours participou da realização do I Colóquio Nacional de Psicopatologia do Trabalho, iniciando posteriormente a organização do Seminário Interdisciplinar de Psicopatologia do Trabalho (1986 –1987, publicado em 1988) cuja temática foi “Sofrimento e Prazer no Trabalho”. Para o autor o sofrimento é um espaço clínico intermediário que marca a evolução de uma luta entre funcionamento psíquico e mecanismo de defesa, por um lado: as pressões organizacionais desestabilizadoras e do outro: o objetivo é conjurar a ausência de compensação e conservar um possível equilíbrio, que satisfaça aos critérios sociais de normalidade.

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Ao pesquisar a normalidade, a psicodinâmica do trabalho abre caminho para perspectivas mais amplas, que não abordem apenas o sofrimento, mas o prazer no trabalho: não somente o homem, mas também o trabalho, não somente a organização do trabalho, mas também as situações desta atividade nos detalhes de sua dinâmica interna (DEJOURS, 2008).

A psicodinâmica do trabalho busca compreender os aspectos psíquicos e subjetivos mobilizados com base na organização e nas relações estabelecidas no ambiente de trabalho. Compreende as dimensões menos visíveis da experiência de trabalho, os mecanismos de cooperação, reconhecimento, sofrimento, mobilização da inteligência, vontade e motivação, estratégias defensivas criadas e estabelecidas, bem como os processos identificadores forjados nas vivências laborais. Utiliza-se de metodologia específica, denominada clínica do trabalho, que interage entre intervenção e pesquisa, permitindo compreender os processos psíquicos envolvidos: transformar o trabalhador e não o trabalho. (HELOANI; LANCMAN, 2004).

De acordo com Mendes e Morrone (2010) em uma análise longitudinal, demarca pela construção dessa recente abordagem da Psicodinâmica do Trabalho, sinalizam-se três etapas bem características de definição e reformulação de conceitos e ampliação das abordagens e novas integrações de vertentes conceituais.

A primeira foi em 1980, cujo foco era o sofrimento psíquico. A gênese e transformação derivavam do confronto entre o psiquismo e a organização do trabalho, as pesquisas empíricas concentravam-se em análise dinâmica do sofrimento e estratégias defensivas suscitadas pelo sofrimento.

A segunda foi na década de 1990, com ênfase na saúde, abordando o estudo do prazer e dos mecanismos utilizados pelos trabalhadores para que o trabalho fosse saudável. Fase em que as pesquisas buscavam a análise do papel do trabalho na construção da identidade por meio da investigação da dinâmica do reconhecimento.

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Do ponto de vista epistemológico, a psicodinâmica do trabalho é teoria crítica, que envolve dimensões da construção e reconstrução das relações dos sujeitos/trabalhadores e a realidade concreta do trabalho, apontando a crítica do trabalho prescrito, que desestabiliza o que está posto e refaz, a partir dos processos de subjetivação, um novo entendimento dos sujeitos/trabalhadores (MENDES, 2007).

A Psicodinâmica do Trabalho possibilita uma compreensão contemporânea sobre a subjetividade no trabalho, assim também encontra interesse particular no estudo sobre o prazer, autonomia, liberdade, reconhecimento, identidade, sublimação e principalmente no processo criativo e sofrimento, ligados à falta de reconhecimento, sobrecarga e patologia da solidão, estudados por Dejours. A abordagem trouxe novo olhar às ciências do trabalho ao propor a criação de espaços de discussão, em que os trabalhadores possam expressar sua voz, sentimentos e contradições do contexto do trabalho, respondendo pela maioria das causas geradoras de prazer e de sofrimento (DEJOURS, 1992).

A psicodinâmica do trabalho de Dejours (1992) compreende as dimensões objetiva e subjetiva, pois envolve uma visão da particularidade do trabalhador, com a história e singularidade da vivência de trabalho. Para Dejours (1992) o trabalho é desgaste mental e nem sempre é fonte de crescimento, reconhecimento e independência profissional, podendo gerar, muitas vezes, insatisfação, irritação, exaustão e adoecimento.

Contudo, o sujeito ao desempenhar suas funções está permanentemente buscando a melhor forma de trabalhar. À medida que contribui para a realização das atividades laborais, qualquer que seja o produto, sempre buscará o reconhecimento. Mais do que isso, o indivíduo deseja que o reconhecimento ocorra não somente por uma contribuição, mas que ela seja julgada pelos pares como boa contribuição. O reconhecimento torna-se um elemento importante para compreender a psicodinâmica do trabalho. Segundo Dejours (1993, 2008) o reconhecimento perpassa pelos julgamentos a respeito do trabalho realizado e proferido pelos outros engajados na gestão coletiva da organização do trabalho.

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organização do trabalho em que os indivíduos sejam inseridos e não os atos terapêuticos individuais.

Desta forma, os trabalhadores podem recorrer às soluções coletivas para evitar ou amenizar os sentimentos de sofrimento. Para a psicodinâmica, através do processo subjetivo é possível gerir a gestão social de interpretações do trabalho real pelos indivíduos, a criação de novos conhecimentos, fazeres e atividades, que possam contribuir para uma identificação mais lógica entre o trabalho prescrito, real e os investimentos pulsionais do trabalhador.

Dejours (1992) também destaca o esforço exigido na execução de uma tarefa sem envolvimento material ou afetivo, que em outras circunstâncias pode ser suportado pelo jogo de motivação e desejo. Afirma ainda a inexistência de um trabalho “vivo” sem sofrimento, destituído de afeto ou envolvimento pessoal. Segundo Dejours, o sofrimento seria o fator mobilizador da inteligência, capaz de guiar a intuição e não o trabalho, que permitiria chegar à solução procurada.

As atuais condições e exigências do mercado de trabalho naturalizam o sentido da vida, ao deixar marcas de sofrimento, que se manifestam nas mais variadas doenças ocupacionais, até mesmo da saúde mental dos trabalhadores. Com base na psicodinâmica do trabalho e na metodologia voltada para questões coletivas dos trabalhadores, Dejours desenvolveu seus estudos contemplados nas Organizações de Trabalho: vivências de prazer, sofrimento, mecanismos de defesa, banalização da injustiça e outros temas relacionados à subjetividade.

Na visão de Ferreira e Mendes (2003), à luz da psicodinâmica do trabalho, a saúde é compreendida como um processo permanente da busca pela integridade psíquica, física e social no ambiente de trabalho, tornando imprescindível o estudo da análise detalhada dos pontos positivos e negativos, presentes no contexto do ambiente laboral, com vistas a evitar o adoecimento e promover a saúde do trabalhador.

Assim, saúde e trabalho são processos movidos por conquistas e avanços, vez que o trabalhador não é totalmente passivo diante de dificuldades e injustiças atribuídas pela organização, contrariamente busca mecanismos de enfrentamento diante de situações desfavoráveis à saúde.

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patologias relacionadas ao trabalho. Segundo o Ministério da Saúde do Brasil, são denominadas patologias relacionadas ao trabalho àquelas que têm o desempenho de atividades laborais como fator de risco adicional ao adoecimento, determinadas a partir de dados epidemiológicos e de Características interseccionais.

(MARTINS, 2009).

A Psicodinâmica do trabalho objetiva estudar de um lado: as relações entre condutas, comportamentos, vivências de sofrimento e de prazer e, de outro: a organização do trabalho e as relações sociais de trabalho. Dejours e Jayet (1994) enfatizam que:

[...] o objetivo da psicodinâmica do trabalho é fazer progredir a análise da relação subjetiva ao trabalho, portanto, de fazer os sujeitos avançarem em suas interpretações da organização do trabalho. Se os sujeitos transformam, elaboram suas vivências do trabalho, eles construirão uma análise mais precisa, mais aprofundada e mais heurística da organização do trabalho; eles estarão assim em melhor condição de propor e de conduzir ações adequadas em vista de transformar a organização do trabalho (DEJOURS; JAYET, 1994, p. 83).

A psicodinâmica do trabalho se articula bem com a psicanálise ao analisar as situações de trabalho, vez que a relação com o real não é real, nem natural, mas mediada por uma ação sobre a realidade simultaneamente, em que a experiência com o real não é dominada somente pela técnica e conhecimento, mas perpassada pelo poder criativo e pensamento imaginativo do sujeito. Nesta perspectiva, a palavra torna o sujeito visível à dinâmica da gestão dos trabalhadores com relação às adversidades impostas pelo modelo de organização do trabalho. A objetivação do vivido intersubjetivamente se dá por meio da palavra (MENDES, 2007).

Freud (1928, 1974) considerava que o homem era guiado pela busca de ausência de sofrimento e pela experiência de prazer. Acreditando que o sofrimento não se originava na realidade exterior, mas com a forma com que o sujeito se relacionava no meio externo. Ou seja, o trabalho como representativo de fonte de sofrimento ou prazer, dependendo do atendimento ou não, da satisfação dos desejos inconscientes frente às condições externas.

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As teorias psicodinâmicas veem o comportamento como produto de forças psicológicas interagindo no indivíduo, frequentemente, fora de seu estado de consciência. Freud fundamentou-se na física, de sua época, para cunhar o termo psicodinâmico, que é o estudo da energia psíquica e de sua transformação e manifestação no comportamento. A psicodinâmica se insere no campo das teorias críticas do trabalho, objetivando principalmente compreender a mobilização subjetiva no trabalho, ou seja, o engajamento afetivo dos sujeitos trabalhadores (MENDES; ARAÚJO, 2012, p.15).

Inspirado na Psicanálise, Dejours passa a compreender as angústias vividas no ambiente de trabalho, propondo uma atividade de escuta à fala dos trabalhadores, tanto individual quanto coletiva, sugerindo a criação de um espaço público para a circulação da palavra. Propiciando assim, através da fala e da escuta, o espaço da articulação significante, rompendo com identificações imaginárias, elucidando alguns efeitos subjetivos e intersubjetivos e dando visibilidade ao sofrimento psíquico.

Apesar da abordagem recente, a psicodinâmica do trabalho vem aprofundando o estudo sobre o papel do trabalho na relação saúde x adoecimento (MENDES; ARAÚJO, 2012). Dejours tem pesquisado a vida psíquica do labor há mais de 30 anos, preocupando-se com o sofrimento psíquico e as estratégias de enfrentamento, utilizadas pelos trabalhadores, para a superação e transformação do trabalho como fonte de prazer (DEJOURS, 2004).

3.4 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Entende-se, pois, por organização a divisão do trabalho, isto é, a divisão de tarefas entre os operadores, os impostos e os modos operatórios prescritos, bem como a divisão de tarefas representadas pelas hierarquias, as repartições de responsabilidade e os sistemas de controle (DEJOURS, 1992). Esse modo operatório é o que Dejours denomina de trabalho (1997).

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Para Dejours, Abducheli e Mendes, a organização do trabalho se define em duas dimensões: divisão do trabalho cadenciado e divisão dos homens. A divisão do trabalho se relaciona à divisão de tarefas, repartição, cadencias, ao modo operatório prescrito. A divisão dos homens, às relações poder, ao sistema hierárquico e às responsabilidades. E, de acordo com Mendes, a divisão dos homens pode ser denominada de relações socioprofissionais.

A realidade do trabalho é muito complexa. Nenhuma regra ou manual consegue abranger todas as situações. Pois, há uma infinidade de possibilidades, previstas pela prescrição, que podem acontecer durante a execução: ineditismos, imprevistos, contradições, ambivalências, falhas, etc. E, como variável, de ajuste, dessa engenharia: o trabalhador. É ele quem se depara com a realidade e julga as condições de trabalho para execução e o alcance dos resultados esperados.

A prescrição, caso seguida à risca, inviabiliza o trabalho (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994). As greves do zelo, ou operações-padrão, correspondem à obediência estrita das regras. Para alcançar os objetivos, o trabalhador faz uso de artimanhas e estratégias “fraudulentas”. Isso, no entanto, constrange o trabalhador por desrespeitar as regras, ao mesmo tempo em que se sente recompensado, por recorrer à criatividade, gerando todo um sentido pessoal do trabalho. A função do trabalho real, segundo Dejours (2001) é coordenar, de forma cooperativa, os savoir-faire dos trabalhadores para complementar a prescrição do trabalho.

No entanto, é importante salientar que a inserção do sujeito entre o trabalho prescrito e o real é sempre conflitiva e não se dá fora do contexto das relações sociais no trabalho. É nesse ponto que aparece outro elemento fundamental para que o sofrimento no exercício das atividades profissionais ganhe sentido e se transforme em prazer e saúde: o reconhecimento. A organização do trabalho torna-se rígida, dificultando ou barrando a expressão criativa e autonomia dos sujeitos, ou ainda, quando o reconhecimento não se faz presente e emerge o chamado sofrimento patogênico (DEJOURS, 1994).

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Para atender aos objetivos da produção, com modos mais eficazes do que o prescrito, o trabalhador contribui pessoalmente para a construção da organização do trabalho real. Além de mobilizar, na situação de trabalho, os processos subjetivos e de investimento do desejo, da inteligência em ação e da personalidade, os trabalhadores contribuem ao criar regras para alcançarem a qualidade.

Dentro da mobilização subjetiva aplica-se inteligência prática. Enquanto estratégia de enfrentamento coletiva, podendo auxiliar o trabalhador a resistir ao que é prescrito, utilizando recursos próprios e capacidade inventiva, pressupondo a ideia de astúcia e mobilizando-se a partir do surgimento de situações imprevistas. Que, a partir do enfrentamento destas situações, desenvolve um saber particular que, ao tornar-se coletivo, transforma-se em ação de cooperação. Este recurso tem finalidade de minimizar o sofrimento e transformá-lo em prazer.

O trabalho exige total mobilização/cooperação/contribuição pessoal e coordenada, tendo como principal característica a regulação coletiva dos homens e das mulheres frente ao que não é suprido pela organização, supondo, assim, uma ação moral. A cooperação, como estratégia de mobilização coletiva, representa uma ação de um grupo de trabalhadores, atribuindo outro significado ao sofrimento, contribuindo para a gestão das contradições do contexto de trabalho e transformando em fonte de prazer a organização, sendo possível a realização através do espaço público de discussão e pela cooperação entre os sujeitos.

O espaço público de fala significa construção de um espaço de expressão e escuta em que podem ser opiniões julgadas como contraditórias e/ou baseadas nas crenças, valores e posicionamento ideológico dos participantes, devendo dar margem de liberdade para conciliar a intimidade necessária na construção da personalidade e exigência para a mobilização de uma coordenação cooperada voltada à construção e elaboração de regras. Tendo em vista que, através dessa construção coletiva de regras, estabelecem-se relações de confiança e, também, um espaço público para debate, caracterizado pela convivência e pela confrontação das opiniões em encontros como a hora do cafezinho, ou do almoço (MARTINS,2009).

(36)

3.5 VIVÊNCIAS DE PRAZER

Um construto importante e relacionado ao prazer é o conceito de bem-estar, que se refere ao senso comum considerado como felicidade, satisfação e realização. É um tema que tem atraído pesquisadores, que está relacionado à necessidade de prazer, bem-estar e de tentativa de evitar a dor. Conforme a teoria Dejouriana, a dinâmica das relações entre o ser humano e o trabalho tem suas consequências. Neste caso se apresenta a psicopatologia do trabalho (DEJOURS, 1992) cujos estudos vêm se consolidando desde os anos de 1980, precisamente na França.

O conceito de prazer tem relação direta com o conceito de carga psíquica, pois “o prazer do trabalhador é resultado da descarga de energia psíquica, que a tarefa autoriza, correspondente a uma diminuição da carga psíquica do trabalho” (DEJOURS, 1994). Para obtenção do prazer, é preciso que a organização do trabalho proporcione condições para que o trabalhador possa relaxar suas tensões e que as relações sejam saudáveis, o que normalmente é possível verificar nos trabalhos livremente escolhidos, e, quando possibilitam o reconhecimento pelo resultado do esforço. Portanto, o prazer é vivenciado quando o homem é valorizado e reconhecido pelas atividades que desenvolve.

O equilíbrio é extremamente importante na organização do trabalho, que está fundamentado no caráter positivo, quando a relação trabalho x organização é favorável, ou seja, “as exigências intelectuais, motoras ou psicossensoriais da tarefa estão, especificamente, de acordo com as necessidades do trabalhador” e “o conteúdo do trabalho é fonte de uma satisfação sublimatória” (DEJOURS, 1992, p.134). Assim, o trabalhador tem a liberdade de adequação à organização do trabalho relativa aos desejos e necessidades, podendo variar conforme seus próprios ritmos biológicos, endócrinos e psicoafetivos.

O trabalho, visto como uma fonte de prazer (identidade, realização, reconhecimento e liberdade), permite que o trabalhador torne-se sujeito da ação, criando estratégias e dominando o trabalho, portanto não sendo mais dominado por ele, embora nem sempre seja possível, em função do poder do contexto de produção, para desarticular as oportunidades do uso das estratégias (MENDES, 2007).

(37)

fortalecimento da identidade pessoal, a partir do contato com a produção e o ambiente social. Em contrapartida, o sofrimento aparece como sintoma de alerta para o trabalhador, indicando que algo não está bem.

Assim, é importante que aconteçam as mudanças na dinâmica de interação do indivíduo com o trabalho, para que exista um espaço público e evolutivo do trabalho. O prazer no trabalho é um dos caminhos para a saúde porque cria identidade pessoal e social. O ser não é dissociado do fazer.

O trabalho não se reduz à tarefa em si, ou ao emprego, é algo que transcende o concreto e se instala numa subjetividade, na qual o sujeito da ação é parte integrante e integrada do fazer, o que resulta na realização de si mesmo (MENDES, 1999, p.32).

Portanto, as vivências relacionadas ao prazer são identificadas por fatores de gratificação e liberdade. As vivências de sofrimento, pelos fatores da insegurança e desgaste. Nesta visão, as duas vivências (prazer e sofrimento) estão presentes concomitantemente nas experiências dos trabalhadores, podendo prevalecer uma ou outra, na dependência da relação que o trabalhador estabelecerá com a organização do trabalho. Compreender a dinamicidades das vivências de prazer e sofrimento torna-se útil, não só para ampliação do conhecimento científico, mas também para a elaboração de propostas às organizações, promovendo saúde aos trabalhadores.

Para Dejours (1992, 1994) e Mendes (1999), o trabalho também pode ser gerador de sofrimento. E, começa quando o trabalhador fracassa em suas potencialidades, nas atividades que realiza, não compreendendo o significado do que produz. Neste caso, não estabelece uma integração entre as suas realidades psíquicas e àquelas impostas pela organização e divisão do trabalho. Dessa forma, para enfrentar o sofrimento desencadeado pela inadequação do profissional à organização do trabalho, os trabalhadores se utilizam de mecanismos de defesa, em sua maioria, de forma coletiva, buscando atenuar as vivências de sofrimento e aumentar as de prazer, para que se torne suportável a permanência dentro das organizações.

3.6 SOFRIMENTO E MEDIAÇÃO DO SOFRIMENTO

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