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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE DIREITO CURSO DE DIREITO NATHÁLIA SARAIVA NOGUEIRA

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE DIREITO

CURSO DE DIREITO

NATHÁLIA SARAIVA NOGUEIRA

A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DA MULHER NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO: REFLEXÕES QUANTO A SUB-REPRESENTAÇÃO NA POLÍTICA

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A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DA MULHER NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO: REFLEXÕES QUANTO A SUB-REPRESENTAÇÃO NA POLÍTICA

Monografia apresentada no curso de Direito, da Universidade Federal do Ceará, como requisito para obtenção do grau de bacharel em Direito.

Orientador (a): Professora Dra. Raquel Ramos Machado Cavalcanti

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N713p Nogueira, Nathália Saraiva.

A participação política da mulher no Estado Democrático de Direito : reflexões quanto a sub-representação na política / Nathália Saraiva Nogueira. – 2017.

95 f.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Direito, Curso de Direito, Fortaleza, 2017.

Orientação: Profa. Dra. Raquel Ramos Machado Cavalvanti.

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A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DA MULHER NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO: REFLEXÕES QUANTO A SUB-REPRESENTAÇÃO NA POLÍTICA.

Monografia apresentada no curso de Direito, da Universidade Federal do Ceará, como requisito para obtenção do grau de bacharel em Direito.

Aprovada em: ___/___/___

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________ Prof. (a) Dra. Raquel Ramos Machado Cavalcanti (Orientadora)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

__________________________________________ Prof. (a) Ma. Fernanda Cláudia Araújo da Silva

Universidade Federal do Ceará (UFC)

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Primeiramente, agradeço a Deus,por ser essencial em minha vida, por ter me dado força nos momentos de desânimo e por ter me iluminado durante esta caminhada.

Aos meus amados pais, Deusa e Flávio, que não mediram esforços mesmo diante de tantas dificuldades para que eu chegasse até esta etapa da minha vida, essa vitória também é de vocês.

Ao meu namorado, amigo e companheiro de todas as horas, Fábio Alves, pelo incentivo e auxílio, desde o início da faculdade.

À minha orientadora, Dra. Raquel Ramos Machado Cavalcanti, por ter aceitado de imediato, o convite para me guiar na realização desse trabalho. Obrigada pelas suas correções, incentivos e pela paciência na orientação que tornaram possível a conclusão desta monografia.

A esta Universidade, seu corpo docente, direção e administração que foram tão importantes na minha vida acadêmica e oportunizaram a realização de um sonho.

Aos amigos da 5ª Vara do Trabalho de Fortaleza, pelo aprendizado e suporte pelos últimos dois anos.

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No Brasil, as mulheres são a maioria da população, e consequentemente do eleitorado. Mesmo representando uma supremacia em diversos segmentos da sociedade, elas ainda se encontram sub-representadas na política brasileira. Devido à toda uma discriminação histórica que as mulheres sofreram, elas se tornaram distantes da vida política, levando-as a falta de experiência nessa área de atuação. A resistência dos velhos ocupantes do poder em compartilhar os espaços de decisão, dentre outros fatores, contribuiu para a pouca participação das mulheres na esfera pública. Diante das desigualdades enfrentadas pela mulher nos espaços de decisão política, mecanismos devem ser implementados como forma de superar todos esses obstáculos, de modo a fomentar a sua inclusão. Nesse ponto, as cotas eleitorais de gênero foram instituídas no Brasil, com o objetivo de igualar as relações jurídicas na política, ampliando a participação feminina como forma de aperfeiçoar a tão recente democracia brasileira. Após anos de implementação dessa ação afirmativa, foi verificado que ela não se mostrou totalmente eficaz, necessitando de outros mecanismos capazes de promover o seu fortalecimento se aplicados de forma simultânea, a fim de consolidar a mulher como cidadã atuante nos espaços de poder.

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Brazilian politics. Because of all the historical discrimination women have suffered, they have become distant from political life, leading them to lack of experience in this area. The resistance of the old power occupants to share the decision spaces, among other factors, contributed to the low participation of women in the public sphere. In the face of the inequalities faced by women in political decision-making, mechanisms must be implemented as a way to overcome all these obstacles in order to foster their inclusion. At this point, the electoral quotas of gender were instituted in Brazil, with the objective of equalizing legal relations in politics, increasing the participation of women as a way of perfecting the recent Brazilian democracy. After years of implementing this affirmative action, it was verified that it was not fully effective, requiring other mechanisms capable of promoting its strengthening if applied simultaneously, in order to consolidate the woman as a citizen acting in the spaces of power.

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1 INTRODUÇÃO ... 11

2 A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DA MULHER NOS ESPAÇOS DE PODER ... 16

2.1 Breve histórico da participação política da mulher no Brasil ... 16

2.2 O direito de participação política das mulheres ... 23

2.3 Elementos que demonstram os principais motivos para a inexpressiva participação da mulher na política ... 28

2.4 Avanços percebidos com a promulgação da Constituição Federal de 1988 ... 35

3 O SISTEMA BRASILEIRO DE COTAS ELEITORAIS DE GÊNERO: FRAGILIDADES, IMPORTÂNCIA E DESAFIOS ... 39

3.1 Perfil das parlamentares brasileiras ... 39

3.2 A fragilidade da lei de cotas frente a realidade brasileira ... 43

3.3 A importância da efetivação da lei de cotas para a ocupação das mulheres nos centros de poder ... 52

3.4 Desafios que devem ser enfrentados para a concretização das ações afirmativas ... 58

4 MEDIDAS QUE PODEM SER REALIZADAS PARA FOMENTAR A PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NA POLÍTICA ... 64

4.1 Sanções aos partidos como meio de efetivação das cotas ... 64

4.2. Outros mecanismos capazes de aumentar a participação ativa das mulheres ... 68

4.3 Experiências internacionais: reflexos na democracia e na igualdade ... 72

4.4 O Estado Democrático de Direito como um aliado na abertura de espaços na política formal... 77

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 80

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1 INTRODUÇÃO

A participação política da mulher atualmente é uma das maiores preocupações do Estado Democrático de Direito, tema relevante que tem como objetivo desvendar os mecanismos que podem possibilitar a ampliação da presença e o reconhecimento da mulher na estrutura política, como meio de garantir o exercício pleno da sua cidadania.

A pesquisa está inserida na temática da igualdade de gênero e representação política. A proposta deste trabalho é investigar, busca as razões para a sub-representatividade feminina no Brasil.

O tema da representação política das mulheres é um desafio para toda a sociedade, pois coloca em debate a qualidade da nossa democracia. Compreender quais são as consequências da manutenção das desigualdades entre os cidadãos é fundamental para o bom funcionamento de um regime democrático.

Lamentavelmente, inexpressividade é a palavra que define a representação da mulher no contexto da política brasileira. Mesmo sendo a maioria da população e consequentemente do eleitorado, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE, 2016), e além dos progressos e das garantias alcançados com a promulgação da Constituição Federal de 1988 com o reconhecimento da igualdade formal de direitos entre homens e mulheres, é notável a sub-representação da mulher nos espaços de poder.

As garantias obtidas neste momento tão significativo da história brasileira não foram suficientes para o alcance da efetiva igualdade. O preconceito e a discriminação em relação a mulher continuam presentes em nossa sociedade, e em uma democracia tão recente quanto a brasileira, ainda há muito por fazer em relação à conquista da igualdade entre homens e mulheres.

O processo é lento e em seu caminho vários erros se repetem corroborando para essa realidade, entre eles, a imposição às mulheres a padrões de comportamentos determinados por uma “moral” culturalmente esculpida por vários séculos por uma sociedade machista que discrimina aquelas que porventura enfrentam esses modelos.

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A busca pela efetividade da participação da mulher na política brasileira atravessou por diversas momentos ao longo do tempo, sendo, desde o princípio, uma busca pela condição da mulher como sujeito de direitos, não apenas político, mas também social e econômico.

Nesta perspectiva, encontramos diversos obstáculos na participação política da mulher, situação que está longe de ser resolvida visto os velhos valores que ainda são cultivados.

Diante desta triste realidade, se faz importante o conhecimento das causas que obstam a participação das mulheres para que elas sejam compreendidas e combatidas de formas mais eficazes, e assim sejam implementadas políticas adequadas para incentivar e incrementar a sua participação. De modo que, somente conhecendo as raízes desses obstáculos, será possível chegar a conclusões e extrair-lhes de maneira prática mecanismos que possam ultrapassar essas resistências.

A ideia repassada pelo patriarcalismo de que a mulher não é capaz de governar, enfatizada nas diferentes formas de exclusão mais o direito de sufrágio tardio, fez com que as mulheres conseguissem se inserir a pouco tempo na política. A repercussão de todo esse contexto histórico foi absolutamente grave e gera consequências que consistem até os dias de hoje com a sub-representação da mulher na política e na insuficiência de políticas públicas para elas.

Além dos fatores histórico-culturais, quais motivos podem ser apontados para a inexpressiva participação política da mulher nos organismos do legislativo, mesmo após a CF/88? Será que a mulher é desprovida de uma vontade política eleitoral? Quais são as ações afirmativas que existem no modelo brasileiro e quais desafios essas ações enfrentam para serem concretizadas? Quais ações afirmativas podem ser realizadas para fomentar a participação das mulheres na política e como o Estado Democrático de Direito pode ser um aliado na abertura de espaços na política formal? É importante refletir sobre esses questionamentos entre outros como forma de esclarecer o que realmente afasta a mulher brasileira da política e como também o Estado e a sociedade podem de alguma forma converter essa situação.

Em face desses questionamentos, surge o Direito como um facilitador e de importância fundamental na estabilização dessas relações, por meio da criação de normas jurídicas e políticas públicas pelo Estado que possam reverter esse processo de estigmatização das mulheres e fomentem a participação política destas.

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A criação de políticas públicas é um mecanismo de importância fundamental que visa assegurar direitos de cidadania, de forma difusa ou para determinado seguimento social, cultural, étnico ou econômico.

Nesta perspectiva, ela se enquadra como uma impulsionadora da participação feminina. Esse tipo de medida se faz indispensável em situações em que exista uma série de injustiças sociais, como forma de garantir direitos assegurados constitucionalmente, tais como a condição de marginalizada que a mulher foi submetida na esfera política.

A ampliação da participação da mulher na política com a abertura dos espaços formais de poder neste momento, torna-se imperativa, pois muito mais do que corrigir uma discriminação histórica, possui o papel fundamental na consolidação e aperfeiçoamento da democracia brasileira.

Sem desconsiderar os avanços significativos obtidos pelas mulheres ao longo desses anos, desde a conquista do direito ao voto, em 1932, percebemos que ainda existe um longo caminho a ser percorrido para que seja alcançada de forma efetiva a igualdade de direitos e de representação política por parte das mulheres.

Neste enfoque destacam-se as conquistas que são comemoradas até os dias atuais, entre elas três momentos de grande relevância para a participação da mulher na política brasileira:

O primeiro momento, refere-se a conquista do direito ao voto, ocorrida precisamente em 1932, oriunda de um intenso movimento das mulheres iniciado em 1919, conhecido como movimento sufragista. (BARANOV, online, 2014).

O segundo momento, trata-se do movimento feminista iniciado na década de 70 em plena a ditadura militar, através do qual a mulher pleiteou por direitos mais amplos, inclusive voltados para a redemocratização do país com o fim da ditadura.

E por fim, o terceiro momento e de longe o menos importante, haja vista a conquista de diversos direitos civis, políticos e sociais e garantias como a igualdade entre homens e mulheres presentes na carta constitucional, a promulgação da Constituição Federal de 1988. Evento que consolidou entre outros direitos, a presença de todos os cidadãos na esfera política institucional.

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que não se preocupava com os anseios de um grupo subordinado. Esse processo, demonstra a realidade que a nossa democracia enfrenta, marcada por profundas discrepâncias no que remonta à representação das mulheres.

Mas por que ainda é necessário falar em direitos humanos das mulheres em pleno século XXI? Bem, talvez pelo fato dos direitos políticos das mulheres não serem plenamente exercidos, embora elas façam parte de mais da metade do eleitorado brasileiro e não representem nem 10% das cadeiras do Congresso Nacional, conforme dados do TSE (PORTAL BRASIL, online, 2016).

Portanto, se faz necessário democratizar o acesso da mulher nos parlamentos e na política. Não bastando apenas a ocupação física, mas sim qualitativa, na qual elas possam, de fato, se fazerem representar, pleitear e efetivar suas demandas políticas, sociais e civis.

Neste sentido, temos as ações afirmativas, como ferramentas utilizadas para a diminuição das desigualdades de gênero. Existentes em vários países do mundo, como medidas para aumentar a participação das mulheres em cargos políticos, a eficácia do sistema de cotas eleitorais de gênero foi reconhecida, pois consequentemente, os países que a adotaram apresentaram um crescimento no número de mulheres no parlamento, ratificando a sua necessidade.

No Brasil, é reservado 30% das vagas de cada partido para as mulheres desde 1997 (Lei Geral das Eleições), portanto é facilmente identificada a necessidade da criação de mais ações afirmativas, como pressuposto que coloque a mulher em condição de igualdade com o homem, no sentido de ampliar a sua participação em cargos políticos, nos processos decisórios e no aperfeiçoamento da democracia, pela a luta contra a discriminação de gênero, pela igualdade e reconhecimento na sociedade, pela busca de uma cidadania plena e outros direitos sociais.

Os partidos políticos dão cumprimento a lei da forma que bem entendem, com o objetivo simples de compor a chapa sem pensar na função social da cota de 30%. O sistema político, acaba favorecendo essa desigualdade da forma pela qual está estruturado.

Com a criação de mecanismos, que de fato possibilitem uma participação democrática de toda a sociedade brasileira, com efetividade na representação da mulher no parlamento, algumas demandas que dizem respeito ao direito das mulheres serão priorizadas. Nesse sentido, as cotas são um instrumento necessário, que facilitam e fomentam a entrada das mulheres na política.

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que devem ser superados no ambiente político, como forma de garantir o pleno exercício da sua cidadania.

No primeiro deles, haverá uma breve explanação da trajetória da participação política da mulher no Brasil e serão expostos aspectos gerais da problemática em torno dos principais motivos para a inexpressiva participação política da mulher nos centros de poder, mesmo após a Constituição Federal de 1988, sem deixar de demonstrar os avanços trazidos pela carta constitucional.

Na segunda parte, serão estudadas as ações afirmativas que existem no modelo brasileiro, traçando o perfil das mulheres que compõem o parlamento. Após, será justificada a necessidade desse instituto e a apresentação de toda a sua importância para efetivação da cidadania da mulher e a ocupação destas nos centros de poder. Será demonstrada as fragilidades da lei de cotas brasileira, bem como, os desafios que essas ações enfrentam para serem concretizadas.

Após, serão apontadas e detalhadas as ações afirmativas que podem ser realizadas no Brasil e outros mecanismos que podem fomentar a participação das mulheres na política, como por exemplo a utilização de medidas sancionatórias aos partidos políticos como meio de efetivação das cotas.

Na terceira etapa, será demonstrada através de dados a ínfima participação política das mulheres no Brasil, de forma a fundamentar a necessidade de medidas especiais a serem tomadas pelo Estado e pela sociedade, utilizando como fontes inspiradoras as experiências internacionais, especificamente na América Latina, com o objetivo de reverter essa situação de injusta discriminação, de modo a apresentar o Estado Democrático de Direito como um aliado fundamental na abertura de espaços na política formal. Nesse capítulo, também será discutida a importância das sanções contra o fenômeno das “candidaturas laranjas”.

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2 A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DA MULHER NOS ESPAÇOS DE PODER

“O número significativo de mulheres que se candidatam na política, aumentou em menos de 20 anos, mas o número ainda é insignificativo em decorrência dos partidos políticos recorrerem a manobras, lançando candidatas mulheres só para preencher as vagas e cumprirem as cotas. ” Ministro do STF Dias Toffoli.

2.1 Breve histórico da participação política da mulher no Brasil

Muitas conquistas estão tão bem consolidadas em nossa sociedade que até esquecemos que elas são bem recentes, e foram frutos de uma grande batalha social, um exemplo a ser destacado é a conquista do voto feminino.

Em alguns países da Europa como a Suíça, a França e a Grécia esse direito foi implementado tardiamente. O Brasil foi um dos pioneiros no mundo, concedendo o sufrágio feminino em 1932, com uma ampliação em 1934, sendo facultativo até 1946 e tornando-se obrigatório para as mulheres após essa data.

A história da participação política da mulher no Brasil é atual e conta com um pouco mais de 80 anos, quando finalmente as mulheres conquistaram o direito de votar e serem votadas, uma luta que durou mais de um século, iniciada por volta do século XIX, com o início das discussões sobre o tema por parlamentares.

Com a inserção no mercado formal de trabalho e o acesso à educação foi possibilitado as mulheres ferramentas para compreender o sistema opressor em que viviam. A partir daí elas puderam questionar de forma mais categórica a estrutura patriarcal e a lutar pelos seus direitos e pela desconstrução dessa sistemática.

Nesta nova perspectiva, surgiram movimentos sociais das mulheres e dentre eles, destacaram-se os movimentos que buscavam o direito pelo sufrágio feminino, que foram ganhando repercussão no final do século XIX e início do século XX.

O direito ao voto feminino só ocorreu após a concessão de outros direitos. Os movimentos de mulheres contribuíram nas alterações de algumas estruturas sociais, como familiares e as de propriedade, porém o direito ao sufrágio sofreu uma grande resistência, sendo o último a ser obtido pois permitiria a disputa de forças entre homens e mulheres nas estruturas de poder com a participação ativa das mulheres na política (TRE-ES, online, 2014).

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condição social da mulher com mudanças nas regras impostas pela sociedade patriarcal, a partir desse contexto, compreende-se a razão da extrema resistência para a concessão do direito ao voto feminino.

O Brasil teve a chance de ser o primeiro país no mundo a aprovar o sufrágio feminino com a primeira constituição republicana. Durante a sua elaboração temas como sufrágio universal, projetos de inclusão da mulher como eleitora e sua participação efetiva na vida política foram suscitados, mesmo a passos curtos, a luta pelo voto já havia começado há bastante tempo (TSE, online, 2013).

No entanto a ideia de mulheres atuando na esfera política seria algo sobrenatural, que fugia à natureza feminina, visto a cultura patriarcal que fundamentava as relações sociais, seria um absurdo a presença das mulheres na política dividindo o espaço público com os homens pois elas eram tidas como incapazes e ridicularizadas no seio político, a mulher era colocada em condição de inferioridade em relação ao homem para o exercício do poder, pois como até hoje na época, política era tida como “coisa de homem”, homens de grande poder econômico, importante frisar.

Após a República, no dia 1º de janeiro de 1891, foi assinada uma emenda ao projeto da Constituição concedendo o direito de voto à mulher, manifestamente a emenda foi rejeitada, e diante disso foram necessárias algumas décadas para que os direitos mais básicos fossem obtidos de forma prática, e não só formal.

Em 1910, foi fundado o Partido Republicano Feminino mesmo diante da impossibilidade do exercício do direito de voto pelas mulheres por causa do insucesso da inserção do voto feminino na Constituição de 1891. A criação deste partido representou uma ruptura e um impacto na sociedade visto que na época da sua criação, as mulheres ainda não possuíam direitos políticos, portanto, sua atuação ocorreu fora da estrutura política até então estabelecida (FUJITA, online, 2016).

Com a criação de um partido político, as fundadoras demonstravam o quanto era importante a ocupação das mulheres nos espaços de poder. A partir desse momento, se aspirou a compreensão de que as mulheres poderiam representar suas demandas no cenário político, ocupando o espaço público de uma forma mais eficaz.

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Os movimentos sociais em busca dos direitos das mulheres continuaram diante da agitação social em que vivia a época com o fim da primeira guerra mundial. Com um grau de escolaridade maior as mulheres se reuniram e se organizaram, e em 1920 foram criados vários grupos, que tiveram papel primordial na conquista do voto.

Grupos como "Ligas para o Progresso Feminino” desempenharam papel fundamental na conquista das mulheres do direito ao voto. A Federação Brasileira pelo Progresso Feminino fundada em 1922 e liderada por Bertha Maria Júlia Lutz, foi um movimento importante para a conquista do sufrágio feminino (PEREIRA; DANIEL, online, 2009).

A discussão retornou com o Código Eleitoral provisório de 1932, adotado através do Decreto nº 21.076, assinado por Getúlio Vargas, de forma limitada se referia eleitor, o cidadão maior de 21 anos, sem distinção de sexo, alistado na forma deste Código.

No ano seguinte, as mulheres puderam participar da escolha dos seus candidatos para a Assembleia Constituinte em todo o país, mas o voto feminino ainda era facultativo, e além disso o voto feminino tinha a imposição de que só as casadas com o aval do marido ou as viúvas e solteiras com renda própria teriam autorização para exercer o direito de votar e serem votadas, situação que foi reformada com a consolidação do Código Eleitoral e da Constituição, ambos em 1934, passando a ser obrigatório o alistamento das mulheres apenas em 1946.

Estas formas de restrição contidas no Código Eleitoral assemelhavam-se as disposições contidas no Código Civil de 1916, vigente à época, pois tinha como requisito a autorização do marido para o exercício do voto semelhante aos ditames do Código Civil que considerava a mulher casada como relativamente capaz na esfera civil e, portanto, dependente do marido para uma série de atos.

Com o aumento da luta das mulheres por direitos iguais, foram surgindo novas questões a serem debatidas, e uma delas era a demanda por uma maior participação feminina na política, agora em cargos decisórios.

A mulher brasileira votaria e seria votada pela primeira vez em âmbito nacional, precisamente em 3 de maio de 1933, na eleição para a Assembleia Constituinte, sendo eleita como primeira deputada brasileira mulher a ocupar uma cadeira na Câmara, a médica paulista Carlota Pereira de Queiróz, reeleita em 1934. Até então, o Brasil só elegeu 220 deputadas, que mesmo que fossem reunidas seria ocupado apenas metade do plenário da Câmara (SARDINHA,

online, 2017).

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política das mulheres pois pela primeira vez, a Constituição brasileira consagrou, entre outros aspectos, o princípio de igualdade entre os sexos e o direito ao voto feminino. A distinção entre os sexos só foi superada com o Código Eleitoral atual, de 1965, pois não poderia ser afastado o sufrágio feminino diante da legislação vigente.

Com a influência dos movimentos feministas que na época lutavam pelo reconhecimento dos direitos políticos para as mulheres, a Constituição de 1934 previu o direito ao sufrágio feminino ao dispor que são “eleitores os brasileiros de um ou de outro sexo” (art. 108, caput). Importante destacar a ausência de vedação expressa nas constituições anteriores em relação ao voto da mulher pelo simples fato de ser imaginável a concessão desse direito, já que a mulher não tinha a cidadania reconhecida.

Celi Regina Jardim Pinto, expõe a intensidade desse fato em termos simbólicos em relação ao papel da mulher na sociedade da época:

A não-exclusão da mulher no texto constitucional não foi um mero esquecimento. A mulher não foi citada porque simplesmente não existia na cabeça dos constituintes como indivíduo dotado de direitos [...] Está aparente falta de cuidado em não nominar a exclusão da mulher deriva também do senso comum da época: a evidência de um natural exclusão da mulher, que para tanto não necessitava nem mesmo ser mencionada. Mesmo quando a Constituição aponta explicitamente quem não está apto a votar, a mulher não é citada. (PINTO, 2003, p. 16).

Esta omissão é mais grave, discriminatória e hostil do que a sua exclusão expressa, pois evidencia o desprezo da mulher enquanto sujeito de direitos, colocando uma capa de invisibilidade em relação a sua condição humana. Se ela não é um sujeito de direitos, é desnecessária a sua exclusão, ela seria subtendida.

O Rio Grande do Norte saiu em primeiro nessa conquista, antes mesmo do citado Código e da Constituição, em 1928 reconheceu o voto feminino e as mulheres das cidades de Natal, Mossoró, Açari e Apodi puderam se alistar-se como eleitoras. A professora Celina Guimarães Viana, aos 29 anos de idade tornou-se a primeira mulher habilitada a votar na América do Sul (TSE, online, 2013).

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Apenas em 1946 o voto feminino passou a ser obrigatório também para as mulheres. Com a consolidação da participação feminina nas eleições, a mulher passou a conquistar cada vez mais o seu espaço no cenário político brasileiro, atualmente elas passaram a ser maioria no universo de eleitores do país.

Anos depois, já em 1985, outro obstáculo foi superado em relação aos direitos políticos das mulheres: o voto do analfabeto. Na década de 80, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em torno de 27,1% das mulheres adultas eram analfabetas. Por conta dessa situação, a participação feminina era bastante restrita.

Nesta mesma década, ganharam visibilidade as lutas das mulheres com a aproximação da promulgação da Constituição Federal de 1988. De forma articulada e organizada, as mulheres participaram ativamente na elaboração da constituinte com uma ampla agenda política, pela reafirmação da identidade da mulher, com pautas voltadas para a superação das discriminações e desigualdades, conseguindo assegurar na Carta de 1988 o estatuto da igualdade na lei e por fim, tornando-se um sujeito político.

A “Carta das mulheres”, promovida pelo CNDM mas de autoriade um conjunto muit

o amplo de mulheres chamadas a Brasília, foi o

documento mais completo e abrangente produzido na época, e possivelmente um dos mais importantes elaborados pelo feminismo brasileiro contemporâneo. (PINTO, 2003, p. 75).

Através de uma ação direta de convencimento dos parlamentares, que ficou identificada na imprensa como o lobby do batom, o movimento feminista conseguiu aprovar em torno de 80% de suas demandas, se constituindo no setor organizado da sociedade civil que mais vitórias conquistou. A novidade desse processo foi a atuação conjunta da chamada “bancada feminina”. Atuando como um verdadeiro “bloco de gênero”, as deputadas constituintes, independentemente de sua filiação partidária e dos seus distintos matizes políticos, superando suas divergências ideológicas, apresentaram, em bloco, a maioria das propostas, de forma suprapartidária, garantindo assim a aprovação das demandas do movimento (COSTA, 2005, p. 09-35).

Os direitos estabelecidos na Constituição Federal de 1988, precisamente em seu art. 5º, garantiram a igualdade em direitos e obrigações entre homens e mulheres, a absoluta igualdade formal e material com a aquisição de uma cidadania plena, alçaram à categoria de preceito constitucional. Embora, na esfera política, dados estatísticos demonstrem que a mulher representa a maioria do eleitorado brasileiro, ela ainda é minoria no Congresso Nacional (TSE,

online, 2016).

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homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição [...] (BRASIL, 2017).

Clovis Gorczevski e Nuria Belloso Martin se referem à Constituição de 1988 como um marco em termos de igualdade, pois garante às mulheres, de forma expressa, o direito à igualdade e à titularidade da plena cidadania, deflagrando uma maior inserção feminina nos espaços sociais e na vida política da Nação (GORCZEVSK, C; MARTIN, N; 2011, p. 204). Apesar desta inserção estar prevista constitucionalmente, a exclusão das mulheres do espaço público por séculos fez com que a possibilidade de votar e ser votada não se traduzisse em uma participação política significativa.

O processo de inclusão foi seguido com a Lei nº 9.100/1995, Lei de Cotas que surgiu então como uma política afirmativa específica ocasionando uma grande conquista para a mulher na política ao determinar que pelo menos 20% das vagas de cada partido político ou coligação deveriam ser ocupadas por candidatas mulheres.

Na época, houve um "senso de oportunidade" e a agilidade política que parecem ter caracterizado a "Bancada do Batom". Estes elementos foram decisivos para a aprovação da legislação, e é provável que tenham inibido iniciativas de contestação. (ARAÚJO, online, 2001).

Em seguida, a Lei nº 9.504/1997 (Lei das Eleições) determinou que no pleito geral de 1998 a porcentagem mínima de cada sexo fosse de 25%. A atual redação do artigo 10, §3º da Lei n° 9.504/97, fixou em 30%, no mínimo, a candidatura de cada sexo, e assim estabeleceu a cota eleitoral de gênero:

Do número de vagas resultante das regras previstas neste artigo, cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% (trinta por cento) e o máximo de 70% (setenta por cento) para candidaturas de cada sexo (BRASIL, 1997).

A minirreforma eleitoral introduzida pela Lei n° 12.034/2009 (Lei dos Partidos Políticos) no ordenamento jurídico, trouxe alguns avanços na esfera política pois implementou novas disposições na Lei dos Partidos Políticos (Lei n° 9.096/1995) de forma a promover a participação da mulher na política.

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Os percentuais são calculados levando em consideração o número de registros de candidaturas que de fato foram requeridas pelos partidos e coligações partidárias. Diante dessa nova regra, a participação da mulher representou um bônus, pois o partido que não conseguir número suficiente de candidatos homens e mulheres, em obediência à cota eleitoral de gênero, não poderá preencher com candidatos de um sexo as vagas destinadas ao sexo oposto.

Entre essas mudanças, foi inserida a disposição de que os recursos do Fundo Partidário devem ser destinados a elaboração e a manutenção de programas de promoção e difusão da participação política das mulheres, conforme percentual a ser fixado pelo órgão nacional de direção partidária, considerando o mínimo de 5% do total transferido ao partido.

Essa mesma reforma, determina ainda que a propaganda partidária gratuita propague e estimule a participação política da mulher, oferecendo às mulheres o tempo que será fixado pelo órgão nacional de direção partidária, observado o mínimo de 10%, mesmo assim essas medidas não foram suficientes para que houvesse mudanças efetivas na questão da sub-representação feminina.

Uma grande conquista feminina foi sem dúvida, a primeira eleição de uma mulher para o cargo político mais alto da república, qual seja, a presidência. Em 2010, o Brasil elegeu Dilma Rousseff como a primeira presidenta mulher do país, com direito à reeleição em 2014, porém no segundo ano de mandato, ela acabou sofrendo um impeachment.

Atualmente, o grande destaque é a solicitação pela reforma política que surgiu como um movimento social de ampliação da democracia que busca diminuir os mecanismos de restrições, que entenda a necessidade da participação da mulher de forma efetiva nos centros de poder e que retire a influência do poder econômico sobre os processos eleitorais.

O poder sobre as decisões públicas, que deveria ser amplo e irrestrito, representativo e proporcional a toda a população, ainda é marcado por discriminações de gênero, raça e classe, o que abala a representatividade das instituições políticas e resulta em pouca sensibilidade no mundo político.

Diante desse pensamento, devem ser consideradas quais são as restrições que existem, como o sistema partidário-eleitoral, para que sejam alcançadas as mudanças que tanto as mulheres aspiram, é necessário a democratização do Estado como um todo com o objetivo de ampliar a participação das mulheres. Exige-se uma mudança sistemática que afaste os mecanismos clientelistas, de proteção em troca do apoio político que alimenta esse subsistema.

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frente do seu tempo, que lideraram as primeiras conquistas feministas a base de muitas lutas e durante muitos anos. Esses fatos se confundem com a história do Brasil, demonstrando que lugar de mulher é também nos centros de decisão do país.

Mas muito ainda há de ser feito, como por exemplo, a criação de programas educativos partidários ou como já foi suscitado uma ampla reforma política democrática que determine não só as cotas à candidatura feminina, mas sanções efetivas pelo não preenchimento das mesmas pelos partidos, de modo a impulsionar o engajamento feminino na política.

Na sociedade na qual vivemos, a mulher não se vê mais somente no papel de esposa recatada, mãe carinhosa e dona de casa exemplar, como coube durante um longo período de nossa história, a tripla jornada faz parte do seu dia a dia. Hoje, a mulher, além das atividades domésticas têm que dividir-se entre o ambiente de trabalho e de estudo, a sociedade e as próprias mulheres se cobram por isso.

Não que seja um desprestígio ou motivo de vergonha a mulher se dedicar a uma vida doméstica, aqui o que se defende é o poder de escolha, é a ampliação de forma significativa do seu protagonismo na sociedade, diante da necessidade de ocupação de todos os espaços, independentemente de qualquer percepção machista.

A discriminação, porém, ainda acompanha essas mudanças, o que faz com que as mulheres sigam lutando pelos seus direitos e, sem dúvidas, a grande batalha está relacionada à ocupação de espaços de poder na política institucional, o processo de inclusão está só no início, e é necessário avançar, se compararmos a participação política das mulheres em outros países no mundo, inclusive na América Latina.

2.2. O direito de participação política das mulheres

A política, por toda a sua dimensão social, possui uma importância decisiva na vida de um povo. Esse termo abrange um conjunto de decisões na gestão dos assuntos públicos e que comprometem a vida e o futuro de uma comunidade. Nesta perspectiva, colocamos a participação política como ferramenta essencial no desempenho dessas tomadas de decisões.

Contudo, somente a partir do século XIX, com o início das revoluções democráticas, foram se conquistando de forma progressiva o direito a participação política de todos os cidadãos. A igualdade entre todos os cidadãos era o que fundamentava a concretização desse direito.

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Se todos os seres humanos são essencialmente iguais, ou seja, se todos valem a mesma coisa e se, além disso, todos são dotados de inteligência e de vontade, não se justifica que só alguns possam tomar decisões políticas e todos os outros sejam obrigados a obedecer (DALLARI, 2004, p. 26).

É pelo fato dos indivíduos viverem em comunidade, que todos, sem qualquer exceção, de forma direta ou indireta, sofrerão as consequências de qualquer decisão política. E é exatamente por essa razão, lógica, racional e moral, porque todos sofrerão as consequências de qualquer ato, que se justifica que todos devam participar na tomada da decisão.

Diante dessa afirmativa, verifica-se a importância da acessibilidade dos cargos políticos à todos os cidadãos em igualdade de condições, pois só assim será construída uma democracia livre e efetiva, sobre o prisma da participação da mulher enquanto detentora de direitos.

O artigo XXI da Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1948 e assinada pelo Brasil na mesma data, expressa o seu seguinte:

§1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de seu país, diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos. §2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país. §3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto (DUDH, 1948).

Como se observa, está expressamente reconhecido, nos principais documentos internacionais e na maioria das constituições do Estados modernos, o direito de participação na política que influencia no destino da comunidade.

A Constituição Federal brasileira também abrange um conjunto de preceitos, os quais proporcionam ao cidadão a participação na via pública do país e além disso, a disposição da igualdade de obrigações e de direitos independentemente do gênero.

A afirmação dos direitos políticos para as mulheres tem a imprescindibilidade de ser analisada conjuntamente com as desigualdades sociais e de gênero que fazem parte da realidade brasileira, pois um dos principais desafios que devem ser encarados pela sociedade é a questão do enfrentamento para se alcançar a igualdade e a reafirmação dos direitos políticos das mulheres e sua progressiva universalização.

Esse processo tem como objetivo uma redistribuição do poder nas relações entre homens e mulheres com efeito de uma participação política feminina mais atuante.

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em termos sociais ainda é dificultado às mulheres o acesso aos cargos de direção política no Brasil.

O cenário contemporâneo demostra que as mulheres têm aumentado continuamente seus direitos políticos através de uma construção democrática de exercício da sua cidadania, com idênticas responsabilidades e direitos na formação e no acesso à participação nos espaços sociais, apesar disso a capacidade das mulheres ainda é subaproveitada e pouco expressiva nos foros de poder e decisão da vida nacional.

A importância da participação política está no poder de transformação do indivíduo, dando-lhe a possibilidade de determinar o seu próprio destino, quando lhe é oportunizado atuar nas principais decisões políticas do seu país. Atualmente, a participação política das mulheres é por esse motivo considerada essencial, uma vez que elas podem abordar de forma melhor as suas demandas.

Nos últimos anos, em todo mundo, mais mulheres alcançaram o direito do voto, de se candidatar e de ocupar cargos públicos. Cada vez mais é constada a presença de mulheres que procuram transformar a realidade política, se esforçando para aumentarem a sua representação nos pleitos eleitorais, com o intuito de revigorar a responsabilização política. No entanto, em todo o mundo, a igualdade de gênero nos governos democráticos continua a ser bastante limitada.

Independente das críticas e das variadas correntes e ideologias, algumas conquistas nas sociedades ocidentais foram de responsabilidade de diversos movimentos sociais que conseguiram importantes avanços na questão da igualdade entre os sexos. Foi através de reivindicações articuladas que as mulheres conquistaram o direito a participação política plena dentre outros direitos, como se viu no capítulo anterior.

No Brasil, inicialmente o movimento feminista buscava a inclusão das mulheres na vida política, não havendo, por enquanto, o desejo de alterar as relações de gênero, mas somente o direito ao sufrágio. Hoje em dia, o movimento busca a plenitude da participação política feminina, a fim de resguardar os direitos estabelecidos e possibilitar a ampla e livre participação cidadã, em fim os direitos políticos das mulheres.

Em uma democracia constitucional, a participação política de forma plena é um elemento de reciprocidade, é um direito que une diferentes grupos sociais em torno do mesmo processo. Os movimentos sociais em prol dos direitos das mulheres, buscam mais e melhores formas de participação cidadã, diferentes das típicas da democracia representativa.

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documentos internacionais que promovem essa participação, mas o que é demonstrado em nossa sociedade é que esse direito precisa ser reafirmado para que ele tenha mais expressividade, uma vez que só muito recentemente a mulher obteve a capacidade eleitoral ativa e passiva.

Essa participação vem sendo construída pelo direito brasileiro através dos ditames expressos na constituição federal de 1988 e pelas fontes do direito internacional como um inegável direito fundamental que deve ser tutelado por toda a sociedade.

A Convenção sobre os Direitos Políticos da Mulher, de 1953, o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e a Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, aprovada em 1979 (CONVENÇÃO, 1979) foram exemplos de progressos nesse sentido.

As instituições democráticas são questionadas a todo momento e diante desse fato demasiadamente perigoso chegamos à conclusão de que o Estado brasileiro necessita legitimar os seus sistemas políticos frente à baixa credibilidade dessas instituições. Uma forma de legitimação pode ser realizada através de políticas públicas que envolvam uma maior participação feminina com mecanismos que estejam alinhados à defesa dos interesses das mulheres.

A cidadania é um conceito em transformação e se relaciona com o direito fundamental de participação política, trazendo à luz os novos protagonistas na esfera pública democrática. Ela está entrelaçada aos direitos humanos, e são institutos que andam de mãos dadas e se complementam, porém ainda existe um abismo entre esses institutos e a realidade social.

Se apresenta então o surgimento de uma cidadania universal, que deve ser aplicada a todos com fulcro no princípio da dignidade humana:

Cidadania pressupõe democracia, liberdade de manifestação, de contestação, respeito a todos integrantes da comunidade, aos seus credos, aos seus valores, às suas culturas. Mas não somente os regimes autoritários inibem o exercício da cidadania. Mesmo nas democracias, o assistencialismo, o paternalismo e a tutela do Estado aceitos que são pela maioria das pessoas por comodismo, tampouco permitem o desenvolvimento de uma cidadania plena, porque a cidadania plena não pode dar-se ou outorgar-se, somente se alcança pela participação, pela luta e pelo empenho dos próprios indivíduos interessados. O paternalismo institucional desmobiliza e debilita a efetiva conquista desse status (GORCZEVSK, C; MARTIN, N; 2011, p. 110).

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Os principais obstáculos a serem superados para se atingir o direito de participação política da mulher de forma plena e efetiva são a exclusão social, cultural e o conservadorismo popular agregado a políticas públicas equivocadas e eleitoreiras a elas impostas.

Na nova ordem constitucional, o conceito de cidadania possui um sentido diferente daquele tradicional associado à ideia de eleitor. A cidadania tem agora um sentido mais amplo, que é o de reconhecimento e de construção da participação política de diversos grupos sociais, inclusive da mulher pela sociedade como um membro ativo (GORCZEVSK, C; MARTIN, N., 2011, p. 112).

Por evidente que nos referimos aqui a uma participação política autêntica, isto é, aquela que leva em consideração as relações de poder e a luta pela igualdade de direitos. Com uma participação autêntica, a mulher se desenvolve ainda mais como cidadã, beneficiando socialmente o funcionamento da comunidade através da democratização. Desta forma, em qualquer modelo, onde o indivíduo não participa de maneira efetiva da decisão política, não há cidadania.

As mulheres têm que ter a possibilidade de participar livre e ativamente da vida política, de um modo cada vez mais efetivo e sem qualquer discriminação, na gestão da coisa pública pois só teremos consequências benéficas dessa participação, como por exemplo, o fato da ampliação das oportunidades para as mulheres exercerem sua autonomia, provendo a realização de um maior número de participação feminina.

A configuração dessa nova cidadania exige a participação política de todos como um instrumento essencial e essa é a cidadania a qual almejamos.

Antes encarada como um fato inesperado ou meramente formal, tido apenas para cumprir as exigências da legislação eleitoral brasileira, a candidatura e o exercício de cargos públicos por parte das mulheres já se tornaram parte cotidiana nas organizações partidárias, sindicais e sociais do Brasil.

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2.3 Elementos que demonstram os principais motivos para a inexpressiva participação da mulher na política

Cada geração tem as suas lutas específicas, entretanto a questão do enfrentamento das mulheres pela igualdade de gênero, infelizmente, é umas das questões que não sai de pauta. A participação política das mulheres deve ser considerada de extrema importância, e diante dessa realidade mais mulheres procuram transformar a política e entendem a necessidade de se sentirem representadas neste cenário, visto que elas são capazes de abordar com mais propriedade as suas demandas, com um senso de responsabilização política maior.

Nos últimos 50 anos, cresceu o número de mulheres que alcançaram o direito de voto e de se candidatar e ocupar cargos públicos, mesmo com os progressos, é notável a sub-representação da mulher nos espaços de poder e a necessidade de ampliação desses espaços como condição para garantir o respeito aos seus direitos e a participação em igualdade de condições com os homens.

As mulheres parlamentares se identificam com os excluídos e trabalham como porta-vozes de suas necessidades, focando as suas atuações em questões sociais, culturais e de direitos dos cidadãos, especialmente naquelas que remetem aos papéis tradicionalmente delegados às mulheres no âmbito privado, com uma preocupação em legislar para grupos considerados mais vulneráveis, como crianças, idosos, portadores de deficiência e as próprias mulheres, como também assuntos relacionados a infância e adolescência, saúde, educação, cultura e habitação.

A política existente na nossa sociedade ainda é dominada pela presença dos homens que a conceberam e dela se apropriaram, fatos estes determinantes, histórico-culturais muito alicerçados na sociedade brasileira e que dizem respeito a cultura patriarcal. A questão cultural alimenta a redução da mulher que consequentemente comina na desigualdade na política. A sub-representação da mulher se reflete nos espaços de poder, tanto no Legislativo quanto no Executivo e no Judiciário.

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Portanto, se faz necessário democratizar o acesso da mulher nos parlamentos e na política. Não bastando apenas a ocupação física, mas sim qualitativa, na qual elas possam, de fato, se fazerem representar, pleitear e efetivar suas demandas políticas, sociais e civis, para se empoderar da política e ocupar os espaços na sociedade.

Como as mulheres vão decidir os seus anseios, sem representatividade político-partidária? Como discutir assuntos de fórum tão íntimo, como por exemplo, saúde da mulher, aborto, organização familiar, fortalecimento da cidadania e direitos sociais? Deve haver, uma legislação de comunicação, de unificação da ação parlamentar, independentemente de ideologia política, com estratégias definidas com o objetivo de ampliar a presença da mulher, visto que assim, facilitaria o processo de inclusão, com a difusão das experiências das mulheres já em posição de poder, para sensibilizar a sociedade a estimular a participação política delas.

Mas o que impede a mulher, além da herança cultural? Quais são os fatores que demonstram os principais motivos para a inexpressiva participação da mulher? Quais são os obstáculos para a inclusão política das mulheres nas instituições de representação? As respostas para essas questões não são tão obvias o quanto se pensa.

Historicamente, o espaço destinado a mulher era o privado, tudo relacionado a esfera pública, principalmente os espaços de poder e comando eram naturalmente destinados aos homens (BOURDIEU, 2012, p. 112).

Além da herança cultural devem ser superadas questões como a desigualdade de gênero, exemplificado na domesticalidade da mulher, que difunde uma falsa percepção de que o lugar da mulher é no lar, cuidando dos filhos e do marido, distanciando-a do espaço público pelo fato da política exigir um engajamento maior, como muitas vezes a mudança de cidade e a presença constante nos movimentos sociais, se opondo aos pensamentos da sociedade conservadora que cultua o machismo. As mulheres foram educadas e enquadradas em parâmetros que não são especialmente delas, o machismo afeta tal forma que as mulheres mesmo sendo a maioria do eleitorado brasileiro acabam “preferindo” votar em homens.

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Representando a maioria do eleitorado brasileiro, incluindo todas as faixas etárias votantes, as mulheres não conseguiram diminuir o abismo em relação aos homens referente a participação no parlamento, fazendo parte de estatísticas bastante pessimistas na América do Sul (BAPTISTA, online, 2015).

O patriarcado as afasta, propagando que lugar de mulher não é na política e isso é demonstrado nos centros de decisão de poder na qual são dominadas por homens, não havendo espaço para a participação das mulheres, dando a falsa impressão que as mulheres não se interessam por política, desconsiderando toda uma perspectiva histórica e social.

Os cargos, como por exemplo, deputada federal são mais difíceis de se ocupar pois são cargos que exigem a saída da cidade onde mora, muitas vezes as mulheres não estão dispostas a essa mudança por conta da família, da conhecida tripla jornada que têm que enfrentar, além do machismo diário.

Com a ideia de dominação dos homens sobre as mulheres expandida pelo patriarcalismo, foi incorporada e construída historicamente toda uma estrutura patriarcal que permeou todas as relações sociais, de uma forma tão imperativa que foi inclusive internalizada por algumas mulheres que reproduzem os argumentos do dominador.

Através de justificativas religiosas e biológicas, estavam lançadas as bases da sociedade androcêntrica na qual de acordo com esta visão as mulheres deveriam ser dominadas, controladas e vigiadas pelos homens e destinadas ao espaço doméstico, situação que perdurou por milhares de anos. Tudo foi muito bem estruturado, lenta e dolorosamente a mulher tenta sair dessa condição.

Essa realidade se reflete ainda de forma bastante contemporânea nos comportamentos sociais, pois no consciente da sociedade, a mulher ainda representa um grau de inferioridade em relação ao homem. E por conta desse histórico de invisibilidade da mulher no espaço público temos o desafio de reconhecê-la como cidadã plena, em gozo dos seus direitos sociais e políticos.

Hoje em dia, o que temos é uma rejeição evidente de forma que é totalmente discutível e inaceitável essa ideia de submissão. No mesmo sentido, Bourdieu (BOURDIEU, 2012, p. 106) afirma que “a maior mudança está, sem dúvida, no fato de que a dominação não se impõe mais com a evidência de que é algo indiscutível”. Ou seja, a dominação não é mais vista como algo natural, não há em nossa sociedade como justificar tais comportamentos.

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Estratégica 2014-2017, somente 8,6% de mulheres ocupam cargos legislativos ou executivos no país.

Legalmente não há nada que afaste as mulheres da política, porém os homens continuam a dominar o espaço público e a área de poder, ao passo que as mulheres ficam predestinadas, predominantemente ao espaço privado. Para muitos a participação da mulher na política ameaça a ordem social, muitos homens ainda têm pavor de dividir o ambiente de trabalho com as mulheres e diante desse sentimento, afunilam a entrada destas no mundo político através de barreiras sociais.

Há também o processo de criminalização da política, que tanto assombra essa geração de mulheres, na qual não encontram interesse em participar da política brasileira, com receio dos respingos da corrupção.

É um sistema político absolutamente corrompido, que não é possível ampliar o espaço democrático. Hoje, a política é apresentada, principalmente no Brasil, como algo instantaneamente ligado à corrupção.

É exigida uma conduta da mulher na sociedade como exemplo de honestidade e como os políticos são tachados de desonestos e corruptos isso acaba de um certo modo afastando e anulando o desejo de participação feminina. Com a crise política instalada no país, aumenta ainda mais a descrença nos políticos, e como resultado dela, uma menor adesão das mulheres e nesse aspecto dos homens também.

Outro entrave também percebido são dos próprios partidos políticos pois estes constituem uma das principais barreiras para a inserção da mulher no meio político com a persistência do forte elemento político tradicional, clientelista, conservador e patrimonial nos espaços político-partidários. Os partidos políticos brasileiros continuam sendo espaços onde as principais lideranças são exercidas, quase exclusivamente, por homens, funcionam de forma fechada e ignoram a importância das mulheres nos centros decisórios (MATOS, online, 2009). Diante disso, as mulheres apresentam dificuldades em ocupar posições de liderança dentro dos partidos, mesmo tendo atualmente uma presença significativa nos partidos políticos, as oportunidades são escassas pelo fato de não terem um financiamento de campanha capazes de reverter essa situação, e infelizmente o processo de representação política sai perdendo. Os partidos políticos devem fomentar uma cultura democrática e participativa que faça possível a incorporação das mulheres e não gerar ainda mais entraves a essa participação.

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meio televisivo, conforme a Lei n° 13.165/2015. Isso é no mínimo contraditório visto que vai de encontro ao objetivo do programa partidário, qual seja, o de fomentar a participação das mulheres em todos os setores da sociedade (RODRIGUES, online, 2017). A situação desse modo fica complicada pois nem mesmo esse partido que nasceu com esse ideal foi capaz de implementar a participação feminina de acordo com a legislação.

A visibilidade ainda é pouca em relação a mulher quanto aos programas eleitorais, muito partidos descumprem o tempo mínimo estimado ainda que sofram punições e não dão espaço suficiente ao sexo feminino para que haja igualdade na participação.

Os partidos pequenos, por sua vez, tanto nos intuitos ideológicos de direita, quanto de centro ou de esquerda, no geral os “nanicos”, tem uma maior abertura em relação a participação das mulheres como candidatas. Como esses partidos estão em fase de desenvolvimento ainda não possuem lideranças consolidadas e estabilizadas, e isso acaba ajudando de alguma forma na entrada de mulheres ocupando posições de liderança, mas quanto a ocupação de fato de um cargo político ainda há muito o que se considerar pois proporcionalmente pela falta de apoio econômico não é onde elas se saem melhor. Portanto é importante que todos os partidos políticos assumam a responsabilidade social e melhorem o recrutamento e a inclusão de mulheres em suas estruturas internas de poder.

O ambiente político assim como o social e o econômico é marcado pela hegemonia masculina, na qual a mulher é vista como subordinada e nunca em uma posição de autoridade. Os desafios específicos que enfrentam as mulheres ao integrar-se em uma organização cuja composição tem sido, historicamente, predominantemente masculina contribui para a discriminação e o isolamento da mulher na esfera política e partidária, bem como para exclusão do próprio eleitorado, pelo fato da própria restrição de oportunidades pelas direções partidárias. Na política brasileira existe um perfil do eleitor e do voto. Ele não é um voto de tendência ideológica. As pessoas ainda votam em pessoas, em pessoas que demonstram poder.

Essa violência simbólica implica na baixa representatividade feminina, como também em uma maior desigualdade de distribuição do poder partidário, significando em um desafio para um maior acesso de mulheres ao poder legislativo e no seio dos partidos políticos. O crescimento das candidaturas das eleições das mulheres na Assembleia Legislativa se deu realmente no início, sobretudo no primeiro ano de adoção das cotas, 1998, mas depois há um decréscimo e as mulheres não conseguem vir ampliando sua presença.

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desempenhar-se de maneira eficiente e para serem reconhecidas devem demonstrar rotineiramente a sua idoneidade, a fim de superar preconceitos e atuar de uma forma que não gere dúvidas de sua competência, mesmo quando muitas delas contam com antecedentes importantes no desempenho de cargos legislativos ou executivos prévios.

Essa falta de apoio acaba se refletindo no baixo número de representação feminina na disputa eleitoral, e consequentemente na efetiva ocupação dos cargos. Conforme constatação de uma pesquisa encomendada pela Procuradoria da Mulher no Senado e divulgada em 2014 pelo DataSenado, a falta de apoio dos partidos políticos é o principal motivo para mulheres não se candidatarem a cargos políticos, ou seja, a própria estrutura dos partidos promove essa desigualdade pois geralmente os partidos são conduzidos por homens, dificultando a liderança feminina em um ambiente masculino.

A obstrução por parte econômica também é clara, poder e dinheiro ainda falam mais alto. O investimento financeiro alto, que só o apadrinhamento político ou um patrocinador podem garantir ainda faz parte da conjuntura política atual e dificultam a realização de uma campanha limpa coma capacidade de competição de igual para igual.

Os altos custos das campanhas eleitorais são empecilhos que afastam a mulher pela falta de financiamentos e alianças políticas, pois em geral, as mulheres têm menos recursos, pelo fato de ainda serem inferiorizadas no mercado de trabalho, e vantagens financeiras do que os homens.

Ter um grande capital político ainda é um fator preponderante para o sucesso em qualquer candidatura, o dinheiro infelizmente é um dos maiores captadores de votos, além disso, o candidato tem a possibilidade de ter mais tempo na televisão, investimento em sua campanha, contar com apoio de artistas famosos, dependendo da sua rede de apoio e trajetória. Como o financiamento é um indispensável elemento de “competitividade”, as mulheres que se elegem têm um perfil dos grandes partidos e um capital familiar bastante considerável. Outro perfil que se destaca é das mulheres que já estão na luta há bastante tempo, que participam de movimentos sociais, que são líderes comunitárias, e que mesmo com poucos recursos financeiros enfrentam todo esse capital político.

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Com esse esclarecimento se quer demonstrar que a política de cotas não significa a entrada da agenda feminista de fato, da agenda de gênero nos espaços de poder, mas sim de uma maior participação da mulher, independentemente da sua trajetória política, por enquanto é isso o que se busca com esse sistema.

Outro fator que também é levado em consideração pelas mulheres e que acaba afetando o seu desejo de participar é a expectativa pelo resultado final da eleição. Diante de números poucos significativos de mulheres candidatas esse sentimento passa a ser de desesperança. O fato do ambiente político ser mais hostil para as mulheres acaba interferindo na decisão até mesmo de participar do pleito, e em consequência dessa hostilidade, as mulheres por sua vez se afastam ainda mais da vida pública.

Segundo os entendimentos de Bourdieu (BOURDIEU, 2012, p. 16), as diferenças entre homens e mulheres são observadas na sociedade em diferentes campos, e se apresentam como esquemas de pensamento, de aplicação universal, se registrando como diferenças de natureza, inscritas na objetividade. As diferenças biológicas são confundidas com as sociais e são transferidas para este campo, sendo neste naturalizadas. As diferenças são tidas como normal, natural e inevitável, sendo, portanto, legitimadas. Se concebe então uma naturalização dessa construção social que acaba legitimando a diferença histórica e a inferioridade da mulher em relação ao homem.

Falar em diferenças de comportamentos entre homens e mulheres no exercício de alguns cargos e funções trata-se de algo bastante relativo, pois aspectos como questões morais não necessariamente manifestam-se de forma diferente a depender do sexo, desse modo deve ser considerado um bom representante aquele que tem compromisso com a democracia e com a coletividade, seja homem ou mulher.

Sem sombras de dúvidas, a eleição da primeira presidenta do Brasil colaborou de alguma forma para alterar esse quadro de atrofia da participação feminina, motivando outras candidaturas femininas, fortalecendo a participação da mulher na política nacional e internacional. O significado desse evento do ponto de vista sociológico é de uma afirmação da figura de Dilma em um cenário absolutamente masculinizado ao longo da história pois o poder sempre esteve associado à figura do homem. Durante o seu mandato ficou estampado o seu desejo de ser tratada por presidenta, embora as normas da língua culta portuguesa autorizem as duas formas.

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pois acabou ocasionando a negação da figura feminina na política e um escancaramento da misoginia, segregando ainda mais a mulher dos centros decisórios.

2.4 Avanços percebidos com a promulgação da Constituição Federal de 1988

Na América Latina, após o período da ditadura militar, o crescimento da participação feminina no processo de abertura política foi visível, principalmente no Brasil, muitos movimentos sociais foram liderados por mulheres nesse momento político.

Após a ditadura militar e com um maior conhecimento acerca do movimento feminista europeu, proporcionado pelo exílio de algumas ativistas ou simpatizantes do movimento, o Brasil presencia na década de 1990 uma “efervescência na luta pelos direitos das mulheres” (PINTO, 2010, p. 17).

Passados esses tempos sombrios, agora vivendo em um período democrático, temos mulheres participando em vários setores na base da sociedade, porém mesmo diante da autonomia do empoderamento feminino ainda são necessários instrumentos para sensibilizar e desenvolver nelas a consciência de participação política.

Nos parece que a questão do tempo parece ser um fator importante nos países pós-ditaduras, já que se trata de um momento oportuno para tirar proveito deste período de transformação política, receptivo, de introdução de mudanças, especialmente durante as transições e os processos de planejamento de novas constituições.

A Constituição Federal de 1988, significou um importante marco para a transição democrática brasileira, denominada como “Constituição Cidadã”, ela trouxe avanços no tocante ao reconhecimento dos direitos individuais e sociais das mulheres, resultado do intenso trabalho de articulação dos movimentos feministas, conhecido como lobby do batom, que apresentou propostas para um documento mais igualitário (BARRETO, online, 2010).

Foi um momento histórico, que contou com a participação das mulheres, precisamente 26 deputadas federais, nenhuma senadora, redigiram propostas durante o Encontro Nacional do CNDM (Conselho Nacional dos Direitos da Mulher), em 26 de agosto de 1986, e encaminhadas aos Constituintes.

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Apesar da grande participação das mulheres na elaboração da CF88, na qual desencadeou no atendimento de grande parte das demandas, tais ações não foram suficientes para alterar o percentual de participação da mulher na política brasileira.

A constituição Federal de 1988 trouxe grandes avanços em relação aos direitos individuais e a garantia da igualdade e de direitos entre os homens e as mulheres, pela primeira vez, foi expressa.

Na época a maioria das mulheres que compunha o parlamento, eram próximas a políticos, eram filhas, netas e esposas. Atualmente, apesar dos números tão inexpressivos, é notável a importância da Constituição Federal de 1988 para o pleno exercício da cidadania da mulher.

A Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso I, explana que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações” (BRASIL, 1988). Esclareça-se, a lei infraconstitucional não pode estabelecer distinções, exceto quando se quer promover a redução das desigualdades. Como forma de alcançar uma verdadeira igualdade, uma lei está autorizada a desenvolver uma discriminação positiva, hipótese na qual estaria em busca da igualdade material.

Muito embora a inclusão da mulher esteja prevista no texto constitucional, a exclusão feminina do espaço público durante séculos fez com que a possibilidade de votar e ser votada não se traduzisse em uma participação política significativa. Em relação a isso, Joaquim Barbosa assevera:

O status de inferioridade da mulher em relação ao homem foi por muito tempo considerado como algo, decorrente da própria “natureza das coisas”. A tal ponto que essa inferioridade era materializada expressamente na nossa legislação civil. A Constituição de 1988 (art. 5º, I) não apenas aboliu essa discriminação chancelada pelas leis, mas também, por meio dos diversos dispositivos antidiscriminatórios já mencionados, permitiu que se buscassem mecanismos aptos a promover a igualdade entre homens e mulheres (GOMES, 2001, p. 142).

Sob o prisma da Constituição Federal de 1988, precisamente em seu artigo 5º, inciso I, temos a disposição constitucional de que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações” (BRASIL, 1988). Fica então presumido que a lei infraconstitucional não pode estabelecer distinções quanto ao gênero ou qualquer outro fato, exceto quando a lei está em busca da igualdade material, no caso da implantação da lei de cotas, ela quis almejar a concretização de princípios constitucionais, como o da igualdade.

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Os obstáculos persistem e apesar dos ganhos advindos com a promulgação da carta cidadã ainda existe um conjunto de barreiras para a participação da mulher na política. De uma maneira geral essas barreiras podem ser consubstanciadas em três níveis - micro, sociológico e político – que serão demonstrados didaticamente de forma separada, mas que atuam simultaneamente em grau complementar.

A dominação masculina do campo político gera a permanência de diversas barreiras de nível micro, sociológico e político-filosófico para a inserção e manutenção da mulher na política brasileira (MATOS, online, 2009).

O nível micro faz referência ao fato da limitação da autonomia feminina na disputa de um cargo eletivo, essa barreira dificulta a competição da mulher e o sucesso eleitoral pois está relacionado a limitação da abertura política prejudicando a ambição política das mulheres, como se o modo hegemônico de fazer política fosse masculino e as mulheres estivessem associadas as atividades domésticas, de ensino ou serviços (MATOS, online, 2009).

Marlise Matos, em seu escrito, Paradoxos da incompletude da cidadania política das mulheres novos horizontes para 2010, afirma que a consequência dessa situação é a falta de autoconfiança e estima da mulher para concorrer a um cargo eletivo, além da falta de apoio e sustentação familiar para a entrada e permanência em um cargo político (MATOS, online, 2009), há também a falta de recursos financeiros referentes ao poder econômico, muitas vezes provenientes da desigualdade salarial a que as mulheres ainda se submetem (BOURDIEU, 2012, p. 106). Estas barreiras estão relacionadas a decisão de se candidatar a um cargo político, que por sua vez acabam desestimulando a participação da mulher.

Nas barreiras de nível sociológico, se encontram as desigualdades na distribuição de poder e na possibilidade de tomada de decisão, por parte das mulheres, em diferentes âmbitos que vão desde o doméstico até o político-institucional (MATOS, 2009, online). A ações de discriminação e opressão no plano pessoal, social e institucional, destacando questões como machismo, assédio moral, ausência de voz, desinteresse, além da descrença acerca do sucesso das candidaturas femininas são definidas nesse nível.

Os obstáculos de nível sociológico tratam-se de questões referentes às relações sociais e na interação da mulher com terceiros, seja familiar, com a vizinhança, eleitorado e outros partidários ou candidatos.

Referências

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