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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

TRAUMA CRANIANO VIOLENTO: CONHECIMENTO

PARENTAL E AVALIAÇÃO DE MATERIAL INFORMATIVO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

TRAUMA CRANIANO VIOLENTO: CONHECIMENTO

PARENTAL E AVALIAÇÃO DE MATERIAL INFORMATIVO

Nahara Rodrigues Laterza Lopes

1

Orientadora: Profª Drª Lúcia Cavalcanti de Albuquerque Williams

São Carlos

Fevereiro de 2013

(3)

Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da Biblioteca Comunitária da UFSCar

L864tc

Lopes, Nahara Rodrigues Laterza.

Trauma craniano violento : conhecimento parental e avaliação de material informativo / Nahara Rodrigues Laterza Lopes. -- São Carlos : UFSCar, 2013. 130 f.

Dissertação (Mestrado) -- Universidade Federal de São Carlos, 2013.

1. Psicologia do desenvolvimento. 2. Violência

intrafamiliar. 3. Crianças – maus-tratos. 4. Trauma craniano violento. I. Título.

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“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender e, se podem aprender a

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SUMÁRIO

Agradecimentos ... 5

Resumo ... 8

Abstract ... 9

Apresentação ... 10

Trauma craniano violento pediátrico: Uma revisão da literatura ... 15

Avaliação do conhecimento sobre trauma craniano violento por pais brasileiros ... 40

Crenças sobre punição corporal em bebês: Um estudo sobre trauma craniano violento 69 Avaliação de material preventivo sobre o trauma craniano violento ... 85

Considerações Finais ... 118

Apêndices ... 122

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Agradecimentos

É curioso pensar que o mestrado não fazia parte dos meus planos no início da graduação, por acreditar que a vida acadêmica estaria muito distante de questões sociais com as quais gostaria de trabalhar e me envolver. Entretanto, após me envolver com o trabalho do Laprev pude perceber como, na realidade, a ciência e as tais questões sociais não precisavam, e nem deveriam, estar dissociadas. Decidi fazer o mestrado, então, muito mais pela oportunidade de trabalhar com a temática da violência contra criança, pensando sempre na possibilidade de sua prevenção, do que como um desejo de me tornar pesquisadora. Mas, ao longo dos últimos dois anos, passei a gostar cada vez mais desse trabalho de “só estudar”. Hoje, depois de muitos desafios, gostaria de agradecer a todos que me ajudaram a superá-los e alcançar mais um sonho.

Em primeiro lugar, agradeço aos pais que participaram da minha pesquisa, pela disponibilidade em um momento tão especial de suas vidas.

Agradeço, também, à Maternidade Dona Francisca Cintra Silva, especialmente às enfermeiras, sempre gentis e dispostas a contribuir para o estudo.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio financeiro que permitiu a realização desta pesquisa.

Aos funcionários da Universidade Federal de São Carlos, especialmente Amanda e Marinéia, que tornaram mais fácil a superação de todas as burocracias relacionadas à realização desse trabalho.

À minha orientadora Lúcia Williams pela orientação e pelo exemplo de pesquisadora comprometida com a luta contra a violência.

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Aos colegas de laboratório, Ana Carina, Gabriela, Jéssica, Rachel, Sabrina, Sheila, Sidnei, Paloma e Paolla, por estarem sempre disponíveis a me auxiliar e tornarem o trabalho mais divertido.

Ao Alexandre Maiorano pelas análises estatísticas e pela paciência em me explicá-las.

À Sabrina pelas inúmeras caronas, conversas e, especialmente, pelo carinho de uma grande amizade.

À Gabriela por compartilhar momentos tão especiais, pelas risadas e por estar sempre disposta à me ajudar.

À Nathalia por ser como uma irmã e estar ao meu lado em todos os momentos, sejam eles de choro ou sorrisos.

À Tatiana por, apesar da distância, estar sempre próxima para me apoiar.

Às amigas Camila e Luciana, com quem dividi não apenas o apartamento, como muitos momentos especiais.

Ao João, pela amizade inesperada, pelo carinho e preocupação com que sempre atendeu minhas ligações.

Ao André, por tornar os problemas mais leves e mostrar o valor do sorriso. Aos amigos “de São Carlos”, Andréa, Denise, Juliana, Lucas, Edson, Leonardo, Mariele, Tathianna, Simone, Vagner, Vinícius, Hernani, Thaís, Christiana, Henrique e Junior, por fazerem minhas estadias nesta cidade tão divertidas.

Aos amigos “de Valinhos”, Juliana, Luís, Eduardo, João, Deisy, Felipe, Lívia e Aldo por me fazer acreditar que amizades especiais não tem limite de tempo ou espaço.

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Resumo

Lopes, N. R. L. (2013). Trauma craniano violento: Conhecimento parental e avaliação de material informativo. Dissertação de mestrado, Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Universidade Federal de São Carlos, São Carlos – SP. 130p.

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Abstract

Lopes, N. R. L. (2013). Trauma craniano violento: conhecimento parental e avaliação de material informativo. Dissertação de mestrado, Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Universidade Federal de São Carlos, São Carlos – SP. 130p.

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Apresentação

As perguntas de pesquisa da presente dissertação foram originadas durante o I Simpósio Internacional Interdisciplinar sobre a Síndrome do Bebê Sacudido, organizado, em 2009, pelo Laboratório de Análise e Prevenção da Violência (Laprev) e Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGPsi). O simpósio contou com a participação da Ms. Sue Foley, assistente social no Hospital da Criança de Westmead, Austrália, da médica Drª. Vera Moreira do Instituto Zero a Seis e da profª Drª Lúcia C. A. Williams, que ministraram as palestras “Da inspiração à ação: Um projeto de prevenção da Síndrome do Bebê Sacudido”, “Considerações médicas sobre a Síndrome do Bebê Sacudido” e “Um projeto internacional de prevenção de maus-tratos em bebês: A contribuição brasileira”, respectivamente. Ainda nesta ocasião, foi lançado o vídeo

Lidando com o Choro do Bebê, material traduzido e adaptado para os idiomas português (Portugal), português (Brasil) e espanhol a partir do vídeo Responding to a Crying Baby, desenvolvido pela equipe do programa de prevenção da Síndrome do Bebê do Hospital da Criança de Westmead, Austrália.

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Neste sentido, considerando o baixo custo para divulgação do vídeo, uma vez que se encontrava traduzido e disponível gratuitamente na internet, e a necessidade de prevenção desses casos, dada à alta taxa de mortalidade associada a esta forma de maus-tratos, surgiu a pergunta de pesquisa que norteou a presente dissertação: o vídeo seria capaz de aumentar o conhecimento de pais de recém-nascidos sobre o trauma craniano violento pediátrico, de modo a auxiliar na prevenção desta forma de maus-tratos?

Antes de prosseguir, cabe destacar a ausência de consenso na literatura sobre a terminologia utilizada para designar esta forma de maus-tratos, sendo encontrados termos como síndrome do bebê sacudido, trauma craniano abusivo, trauma craniano não-acidental, trauma craniano violento ou trauma craniano infligido. Em uma tentativa de superar algumas limitações decorrentes dessa multiplicidade de termos e definições, em abril de 2012, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) recomendou a utilização do termo trauma craniano violento pediátrico (Parks, Annest, Hill & Karch, 2012). Em consonância a esta recomendação, no presente trabalho será empregada a terminologia trauma craniano violento (TCV), por ser uma versão reduzida do termo sugerido pelo CDC e permitir maior concisão do texto.

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crenças inadequadas dos pais relacionadas ao cuidado do bebê, auxiliando a elaboração de futuras intervenções.

A última etapa consistiu na avaliação da eficácia de três materiais informativos diferentes para o aumento do conhecimento de pais brasileiros sobre esta forma de maus-tratos. Os materiais consistiram em um vídeo sobre o trauma craniano violento, um panfleto sobre o TCV e um vídeo sobre segurança infantil, tendo este último funcionado como controle para a avaliação.

Cada uma destas etapas encontra-se descrita em quatro artigos que compõem esta dissertação. O primeiro artigo, intitulado “Trauma craniano violento pediátrico: uma revisão da literatura”, contempla a primeira etapa do estudo e tem como objetivo revisar a literatura científica sobre esta forma de maus-tratos, destacando algumas considerações sobre sua definição, prevalência, sinais e sintomas, consequências, fatores de risco para sua ocorrência e, principalmente, estratégias para sua prevenção.

Tal artigo foi escrito em conjunto com a pediatra Drª Evelyn Eisenstein, membro da Banca Examinadora da Qualificação e pesquisadora da área de prevenção da violência contra crianças e adolescentes, que trouxe contribuições valiosas para a construção do texto. Dada a escassez de publicações nacionais sobre esta temática e a necessidade de envolver os pediatras na prevenção desta forma de maus-tratos, este artigo foi submetido e aceito (encontra-se no prelo) para publicação na revista Jornal de Pediatria, periódico bimensal de grande circulação da Sociedade Brasileira de Pediatria.

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norteia esse estudo é que o conhecimento dos cuidadores sobre estas características podem influenciar na escolha de estratégias adequadas para lidar com o choro do bebê, prevenindo a ocorrência desta forma de maus-tratos (Altman et al., 2011, Dias et al., 2005).

O terceiro artigo, intitulado “Crenças sobre punição corporal: um estudo sobre o trauma craniano violento”, decorre da terceira etapa do estudo e objetiva investigar a crença de pais brasileiros sobre a punição corporal em bebês. A curiosidade em fazer um levantamento sobre essas crenças surgiu a partir da literatura internacional que aponta que a ocorrência do TCV pode não estar associada somente à tentativa do cuidador lidar com os sentimentos negativos gerados pelo choro do bebê, mas também à tentativa de disciplinar o bebê (Davies & Gardwood, 2001; Russell, 2010; Russel & Britner, 2006).

Por fim, a última etapa do estudo encontra-se descrita no quarto artigo intitulado “Avaliação de material preventivo sobre trauma craniano violento”. Este artigo foi escrito em parceria com a pesquisadora Sue Foley, que faz parte da equipe do Programa

The Shaken Baby Prevention Project do The Children’s Hospital at Westmead –

Austrália e possibilitou a tradução para o português dos materiais desenvolvidos pela sua equipe e utilizados no presente estudo, sendo eles o vídeo Responding to a crying baby e o panfleto Never shake a baby.

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Referências Bibliográficas

Altman, R.L., Canter, J., Patrick, P.A., Daley, N., Butt, N.K. & Brand, D.A. (2011). Parent education by maternity nurses and prevention of abusive head trauma.

Pediatrics, 128, e1164-e1172.

Davies, W. H. & Gardwood, M. M. (2001). Who are the perpetrators and why they do it? In: S. Lazoritz & V. J. Palusci (Eds.). The Shaken Baby Syndrome: a multidisciplinary approach (pp. 41-54). New York, NY: The Hawroth Maltreatment & Trauma Press.

Dias, M. S., Smith, K., DeGuehery, K., Mazur, P., Li, V., & Shaffer, M. L. (2005). Preventing Abusive Head Trauma among infants and young children: A hospital-based, parent education program. Pediatrics, 115(4), 470-477.

Parks, S. E., Annest, J. L., Hill, H. Á. & Karch, D. L. (2012). Pediatric abusive head trauma: Recommended definitions for public health surveillance and research.

Atlanta, GA: Centers for Disease Control and Prevention.

Russell, B. S. (2010). Revisiting the measurement of Shaken Baby Syndrome Awareness. Child Abuse & Neglect, 34(9), 671-676.

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Trauma craniano violento pediátrico: Uma revisão da literatura

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RESUMO

Objetivo: Fornecer uma revisão de literatura científica sobre trauma craniano violento

pediátrico enquanto uma forma de maus-tratos físicos contra bebês e crianças, ressaltando prevalência, sinais e sintomas, consequências, fatores de risco para sua ocorrência e, principalmente, estratégias de prevenção.

Fontes dos dados: Revisão nas bases de dados MEDLINE, SciELO, LILACS e Web of

Science no período de 2001 a 2012 utilizando os termos “síndrome do bebê sacudido” e “trauma craniano violento” em inglês, espanhol e português.

Síntese dos dados: O trauma craniano violento é definido como a lesão ao crânio ou ao

conteúdo intracraniano de um bebê ou criança menor de cinco anos devido a um impacto brusco intencional e/ou a uma sacudida violenta. Ocorre principalmente com bebês e crianças menores de 1 ano de idade, e pode resultar em consequências graves, desde deficiências físicas ou mentais, até a morte. Apesar de haver sinais específicos para esta forma de maus-tratos, eles podem se confundir com doenças comuns em crianças ou traumas cranianos acidentais, sendo imprescindível o preparo clínico dos profissionais envolvidos na avaliação dos casos para o diagnóstico correto. As estratégias de prevenção devem incluir tanto a identificação precoce dos casos, como a educação parental sobre o desenvolvimento infantil, especialmente sobre o padrão de choro do bebê.

Conclusões: Considerando a gravidade do trauma craniano violento pediátrico, é

fundamental que estratégias de prevenção sejam implementadas e avaliadas no contexto brasileiro. Sugere-se que indicadores de sua incidência sejam pesquisados nacionalmente.

Palavras-chave: Trauma craniano violento, Síndrome do bebê sacudido, Maus-tratos

(20)

ABSTRACT

Objectives: To provide a review of scientific literature on abusive head trauma as a

form of physical abuse against young children, emphasizing its prevalence, signs and symptoms, consequences, risk factors and prevention strategies.

Sources: A review of MEDLINE, SciELO, LILACS and Web of Science databases

covering the period from 2001 to 2012 was conducted. Studies with the keywords “shaken baby syndrome”, “abusive head trauma” and “pediatric abusive head trauma” in Spanish and Portuguese correlates were selected.

Summary of the findings: Pediatric abusive head trauma is defined as an injury to the

skull or intracranial contents of an infant or child under 5 years of age due to inflicted blunt impact and/or violent shaking. It occurs mainly in infants and young children, and results in serious consequences, like physical and mental disabilities, and death even. Although there are specific signs and symptoms for this form of abuse, they can be confused with common diseases in young children or accidental head trauma. Therefore, clinical training of professionals involved with the evaluation of cases for the correct diagnosis is important. Prevention strategies should include both early case identification, as well as parent training on child development, especially on the pattern of the crying baby.

Conclusions: Considering the seriousness of pediatric abusive head trauma, it is

essential that preventing strategies are implemented and evaluated in the Brazilian context. It is suggested that national prevalence indicators should be investigated.

Keywords: Pediatric abusive head trauma, Shaken baby syndrome, Child maltreatment.

(21)

A violência contra crianças e adolescentes é um problema frequente e grave em nossa sociedade. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da International Society for Prevention of Child Abuse and Neglect (ISPCAN – Sociedade Internacional para a Prevenção do Abuso e Negligência de Crianças) mostram que, no ano de 2002, mais de 53.000 crianças menores de 15 anos de idade morreram no mundo em decorrência de situações de maus-tratos1. Dentre as formas de maus-tratos, cabe

destacar por sua gravidade o trauma craniano violento pediátrico. Ainda no ano de 2002, estima-se que 1.400 crianças morreram devido aos maus-tratos nos Estados Unidos2, sendo que o trauma craniano violento pediátrico corresponde a 80% dessas mortes, sendo a principal causa de morte de crianças vítimas de maus-tratos3. Segundo

Lazoritz e Palusci, estima-se que, nos Estados Unidos, mais de 250 crianças morrem anualmente após serem submetidas a uma sacudida violenta3,4,5.

Apesar desta realidade, o trauma craniano violento pediátrico, doravante referido apenas por trauma craniano violento (TCV), pode ser prevenido, tendo o pediatra um papel importante nestas ações6,7,8. Frequentemente, os pediatras estão presentes em

momentos estressantes e desafiadores para a família, especialmente aqueles ligados ao cuidado da criança. Além disso, tais profissionais possuem o contato com os recursos comunitários que podem auxiliar a família a enfrentar suas dificuldades, o que os coloca em uma posição única para prevenir os maus-tratos e promover o bem-estar futuro da criança6.

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sua ocorrência e possíveis estratégias para sua prevenção, de modo a auxiliar o pediatra em sua prática clínica.

MÉTODO

Foi realizada uma revisão nas bases de dados MEDLINE, SciELO, LILACS e Web of Science no período de 2001 a dezembro de 2012, utilizando os termos “síndrome do bebê sacudido” e “trauma craniano violento” e seus correlatos em inglês e espanhol. Foram encontrados 238 artigos científicos, capítulos de livros ou livros com as palavras-chave. Desses, foram selecionados 173 artigos, uma vez que 65 foram desconsiderados por se tratarem de outra temática, estarem em idioma diferente do inglês, espanhol e português ou não disponibilizarem o texto completo.

Trauma craniano violento

De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doença dos Estados Unidos, o trauma craniano violento pode ser definido como uma lesão ao crânio ou ao conteúdo intracraniano de um bebê ou criança menor de cinco anos devido a um impacto brusco intencional e/ou a uma sacudida violenta. São excluídas dessa definição lesões não intencionais resultantes de supervisão negligente, feridas por arma de fogo ou facada e trauma penetrante10.

O uso do termo trauma craniano violento é recente e será utilizado no presente artigo de acordo com recomendação feita em abril de 2012 pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos. Entretanto, cabe destacar, que podem ser encontrados outros termos na literatura que descrevem a mesma condição, tais como síndrome do bebê sacudido, trauma craniano abusivo, trauma craniano não-acidental ou trauma craniano infligido.

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ou por uma extremidade e sacudi-la violentamente para frente e para trás, fazendo com que a cabeça chicoteie com acelerações e desacelerações repetidas em cada direção11. Entretanto, é importante ressaltar que ainda não há consenso na literatura se apenas sacudir o bebê pode gerar as lesões cerebrais observadas, ou se seria necessário o impacto da cabeça da criança em alguma superfície12,13,14, e qual seria a força necessária

a ser infligida no bebê para causá-las14,15.

Quando o trauma craniano violento ocorre em decorrência de sacudidas violentas, pode ser observado um padrão característico de ferimentos, que podem incluir hemorragias na retina, fraturas, principalmente nas costelas e no final de ossos longos e padrões reconhecidos de ferimentos cerebrais13,16,17,18,19. De acordo com a Joint

Statement on Shaken Baby Syndrome - Declaração Conjunta sobre a Síndrome do Bebê Sacudido16, quando há o impacto da cabeça do bebê contra algum objeto, podem ocorrer ferimentos adicionais, tais como contusões, lacerações ou fraturas16. Ressalta-se que,

mesmo no caso em que há impacto, os sinais das lesões podem não ser visíveis, uma vez que o choque pode ocorrer contra um objeto macio, como um colchão ou travesseiro16.

De acordo com Frasier, a idade média em que as crianças costumam ser sacudidas varia aproximadamente de 4 a 6 meses12, sendo que as crianças que sofreram

traumas cranianos em decorrência de acidentes são, em média, 10 meses mais velhas2. Estes dados vão ao encontro da literatura que indica que crianças menores de 1 ano de idade estão mais suscetíveis a sofrerem lesões cerebrais em decorrência de maus-tratos infantis do que de acidentes20,21.

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sobre sua história12. Além disso, o bebê é particularmente mais suscetível ao trauma

craniano violento devido ao fato de sua cabeça ser relativamente maior e ao seu cérebro ser relativamente mais pesado do que seu corpo e pelo fato de os músculos do pescoço ainda não estarem totalmente desenvolvidos e fortalecidos, já que a sustentação da cabeça acontece em torno dos 2 aos 4 meses de vida16.

Incidência do trauma craniano violento

A incidência do trauma craniano violento tem sido apontada por estudos recentes realizados na Escócia, Estados Unidos, Nova Zelândia e Suíça variando de 14,7 a 38,5 casos a cada 100.000 crianças, sendo a incidência maior para crianças menores de 1 ano22,23,24,25,26,27,28. Destaca-se que, no último levantamento realizado pelo Centro de

Controle de Doenças e Prevenção dos Estados Unidos, a incidência no país foi de 0,76 casos fatais de TCV a cada 100.000 crianças com até 4 anos de idade, aumentando para 2,14 quando foram consideradas apenas crianças menores de 1 ano21. No Brasil, ainda não existem estudos que avaliem a incidência do trauma craniano violento.

É importante ressaltar que estas taxas podem estar subestimadas, visto que muitos casos não são reconhecidos como decorrentes de episódios de violência ou sequer chegam aos serviços de saúde, para que sejam identificados12, 27. Nos Estados

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Outra estratégia para investigar a incidência do trauma cerebral violento pediátrico em determinada região pode ser o levantamento das principais estratégias utilizadas por pais ou outros cuidadores para disciplinar ou acalmar seus bebês12. Em

estudo realizado por Theodore e Runyan na Carolina do Norte e do Sul, 2,6% dos pais de crianças menores de dois anos relataram que já haviam sacudido seus filhos como forma de discipliná-los31. No Brasil, 10% das mães entrevistadas em um estudo

realizado em Embú-SP, relataram ter sacudido seus filhos menores de 2 anos de idade no último ano32.

Em outro estudo realizado com 142 profissionais de Unidades de Saúde da Família de uma cidade de pequeno porte de Pernambuco, 60,8% relataram já ter sacudido uma criança ou um bebê, sendo que 50,5% sacudiram para fazê-lo dormir e 25,7% para parar seu choro33. Neste sentido, apesar da ausência de estudos que investiguem a prevalência do trauma craniano violento no Brasil, estes estudos apontam para a ocorrência frequente desta forma de maus-tratos no contexto brasileiro.

Sinais do trauma craniano violento

A tríade de sinais que descreve o trauma craniano violento caracteriza-se por: hematoma subdural, edema cerebral e hemorragia na retina12,18,19,34. Apesar de nem

sempre ser decorrente de situações de violência, em crianças mais novas esta parece ser a principal causa de hematomas subdurais35. Além disso, esta lesão parece ser o

principal sinal encontrado em vítimas do trauma craniano violento2,18, sendo descrita em 83-90% dos casos diagnosticados9. Esses dados apontam a importância de se desconfiar

de maus-tratos diante de hematomas subdurais diagnosticados em bebês.

Outro sinal que tem sido fortemente relacionado ao trauma craniano violento é a hemorragia na retina18,19. Apesar da presença dessa lesão não ser exclusiva para o

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retina em 74% dos casos de TCV e em 82% dos casos fatais35. De acordo com Frasier,

se não há um histórico maior de trauma craniano acidental pediátrico, como acidente de carro ou queda de altura significativa, a hemorragia na retina deve ser um sinal de alerta para trauma cerebral violento pediátrico12. Reforçando esta ideia, o estudo de Keenan e colaboradores apontou que 80% das crianças vítimas do TCV apresentaram lesões oftalmológicas, porcentagem bem maior do que as crianças que sofreram trauma craniano acidental pediátrico, que variou de 6 a 8%36. Além disso, quando ocorre hemorragia na retina em decorrência de acidentes, ela se mostra mais moderada do que quando ocorre por situações de violência12. Neste sentido, ressalta-se a importância do exame oftalmológico para a identificação de casos de maus-tratos em bebês. Tal prática auxiliaria na diminuição do número de diagnósticos falhos e, consequentemente, na prevenção da reocorrência do trauma craniano violento.

Ressalta-se, porém, que nem todas as vítimas irão apresentar esta tríade, existindo outras repercussões que poderiam indicar a ocorrência de trauma craniano violento. Dentre eles estão: infecção das vias respiratórias superiores, vômitos incoercíveis, diarreia, diminuição do apetite, irritabilidade, letargia, apneia, convulsão, história de trauma menor37. Além disso, segundo o National Center on Shaken Baby Syndrome (NCSBS), a criança pode apresentar sinais de diminuição do tônus muscular, deglutição e sucção pobres, rigidez na postura, dificuldade na respiração, a cabeça ou a testa parecem maiores do que o normal, incapacidade de levantar a cabeça, incapacidade dos olhos de focalizar ou de seguir movimento, tamanho desigual das pupilas e ausência de sorrisos ou vocalizações17.

(27)

desenvolvimento (12%)9. De acordo com o NCSBS, são raras as marcas de pressões

fortes nos braços ou no peito17.

Muitas vezes, em casos menos graves, os sinais do TCV podem não ser reconhecidos, fazendo com que a mesma não seja diagnosticada corretamente17. Hennes, Kini e Palusci apontam que alguns dos sinais do trauma craniano violento podem imitar outras doenças comuns em crianças, tais como infecção viral, cólicas ou intolerância alimentar37. Tais dados apontam para a necessidade de uma avaliação apropriada da criança para que esta forma de maus-tratos possa ser identificada precocemente e tratada adequadamente9. De acordo com a Declaração Conjunta sobre a Síndrome do Bebê Sacudido, quanto mais sério for o ferimento neurológico da criança, mais severos são os sinais e mais curto o período entre a sacudida e o aparecimento dos sinais16.

Consequências do trauma craniano violento

Segundo Case, Graham, Handy, Jentzen & Monteleone ferimentos na cabeça correspondem a 80% dos ferimentos fatais decorrentes de maus-tratos infantis em crianças mais novas11. Em contraste, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção

de Doenças dos Estados Unidos, de 25 a 30% de crianças vítimas do TCV morrem e apenas 15% sobrevivem sem qualquer sequela38.

Em estudo realizado na Suíça, apenas 28,8% das vítimas recuperaram-se totalmente do TCV, sendo que 53,3% apresentaram deficiências severas ou moderadas em decorrência desta forma de maus-tratos28. Cabe ressaltar que as características

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avaliar desenvolvimento motor, visual e de linguagem em comparação às vítimas sem histórico de convulsões39.

Dentre as consequências imediatas desta forma de maus-tratos, podem ser citadas: parada ou comprometimento respiratório, irritabilidade, convulsões, rigidez na postura, diminuição do nível de consciência, vômito, diminuição da alimentação, inabilidade de sugar ou engolir, parada cardíaca ou morte17. As consequências a

longo-prazo incluem dificuldade de aprendizagem, problemas com a visão, incluindo cegueira, deficiência física e auditiva, paralisia cerebral, problemas com a fala, convulsões, déficit cognitivo e morte16,17. Dados canadenses indicam que bebês que aparentam estar bem quando recebem alta hospitalar, podem apresentar evidências de dificuldades cognitivas e de aprendizagem tardiamente, possivelmente na idade escolar16. É preocupante se

especular sobre a frequência das dificuldades de aprendizagem encontrada nas várias escolas brasileiras e a possível associação etiológica com maus-tratos, inclusive desde a primeira infância.

Fatores de risco para trauma craniano violento

Hennes, Kini e Palusci apontam a existência de diversas situações que aumentam a probabilidade do trauma craniano violento ocorrer, ou seja, que são fatores de risco para sua ocorrência. Dentre elas, os autores citam família monoparentais, mães menores de 18 anos, mães com escolaridade baixa, mães que não fizeram o acompanhamento pré-natal e famílias com baixo status socioeconômico37. Além disso, os autores ressaltam que há algumas características do bebê que parecem aumentar a probabilidade de ocorrência do trauma craniano violento, como a criança ser menor de um ano, ser do sexo masculino e ter nascido prematura ou com baixo peso37.

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craniano violento. Neste modelo, fatores relacionados ao bebê, fatores situacionais e fatores relacionados ao cuidador interagem e levam à ocorrência do TCV40. Os fatores relacionados ao bebê referem-se a características do desenvolvimento infantil, como o choro e a ansiedade de separação. Os fatores situacionais referem-se a situações de estresse, como desastres naturais, status socioeconômico da família, dificuldades durante a gestação e isolamento familiar. Por último, os fatores do cuidador podem envolver a falta do conhecimento sobre o padrão normal de choro do bebê e sobre os riscos de sacudi-lo, tolerância à frustração, falta de experiência como cuidador de outras crianças, psicopatologia e ciúme do relacionamento do bebê com outros cuidadores41. Dentre estes fatores, o choro do bebê têm sido referido na literatura como o principal gatilho para a ocorrência do trauma craniano violento11,37,41,42.

O choro do bebê

O choro é um meio importante de comunicação para os bebês, especialmente para os recém-nascidos43,44,45. Como nessa fase os bebês são quase inteiramente

dependentes de seu cuidador, o choro assume um importante papel na garantia da sobrevivência, da saúde e do desenvolvimento da criança43,44. Apesar da sua

importância, diversos estudos têm apontado propriedades específicas do choro que contribuem para o sentimento de frustração que muitos cuidadores podem sentir nos primeiros meses de vida de seu bebê46,47. Estas propriedades específicas estabelecem um

(30)

O padrão de choro encontrado por Brazelton caracteriza-se pelo aumento na média diária de duração do choro nas primeiras semanas de vida do bebê, atingindo um pico por volta do segundo mês (6ª semana) e uma diminuição na média diária de choro após o pico48. Após o quarto mês de vida ocorre uma diminuição nos períodos de choro inconsolável, o choro se torna mais intencional e mais relacionado com os eventos ambientais49.

Este mesmo padrão foi observado em replicações do estudo de Brazelton para uma população semelhante, ou seja, de bebês humanos ocidentais50,51,52,53,54 e em

populações diferentes, como em estudos com bebês humanos nascidos em uma sociedade caçadora no noroeste de Botsuana (!Kung San), com bebês humanos pré-termo e com bebês mamíferos não primatas55,56,57,58, sugerindo que este padrão é

robusto e universal. Além disso, o fato do estudo de Brazelton ter sido replicado em diferentes épocas é mais uma evidência de que este padrão de choro é universal, persistindo ao longo do tempo. Cabe ressaltar que, apesar de haver diferenças individuais na quantidade de tempo que cada bebê chora por dia, para todos há um aumento nesta média diária de choro, que, ao atingir seu pico, começa a diminuir novamente.

O padrão de choro inclui também episódios de choro prolongado, inconsolável e imprevisível, que ocorrem normalmente no final da tarde ou início da noite e são acompanhados por expressões faciais de dor e aumento do tônus muscular59,60. Estas

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episódios são específicos dos primeiros meses de vida do bebê, não sendo comum ocorrerem após este período46.

Apesar de o choro ser normal para esse período de vida do bebê, ele pode ocasionar frustração e estresse na família, fatores que parecem contribuir para a ocorrência do TCV59,60. Barr, Trent e Cross e Lee, Barr, Catherine e Wicks investigaram

se a curva de incidência de casos do trauma craniano violento de acordo com a idade da vítima correspondia à curva de duração média do choro de acordo com a idade do bebê, sendo que a única diferença entre os estudos é que no primeiro caso, foram investigados casos de TCV que foram registrados em hospitais da Califórnia59 enquanto no segundo estudo, foram investigados casos de TCV publicados pela mídia60. Os resultados de

ambos os estudos indicaram que as curvas de choro e de ocorrência do trauma craniano violento eram bastante similares, o que fornece evidências empíricas para a suposição de que o choro do bebê é um fator precipitante para a ocorrência desta forma de maus-tratos59,60.

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com os sentimentos negativos gerados pelo choro do bebê, ressaltando a importância da auto regulação emocional dos cuidadores para a prevenção de casos do TCV 61.

Prevenção do trauma craniano violento

Algumas peculiaridades do trauma craniano violento o colocam em uma posição especial para ações de prevenção, se comparado com outras formas de maus-tratos em crianças. Em primeiro lugar, o TCV apresenta um comportamento de risco evidente (sacudir) e um estímulo antecedente fortemente associado à sua ocorrência (choro do bebê), possibilitando que as ações preventivas sejam mais objetivas e direcionadas62. Outra característica importante desta forma de maus-tratos se refere às evidências empíricas da eficácia de programas breves de educação parental para prevenir o TCV25,63.

Além disso, dada a gravidade de suas consequências, o TCV está, geralmente, associado a custos econômicos significativos para o governo62. Em estudo realizado por Friedman, Sharpein e Kelly na Nova Zelândia, os gastos totais ao longo da vida com cada criança vítima do trauma cerebral violento é de aproximadamente NZ$ 1.008.344,00, o que equivale a US$ 796.591,7664. Em contrapartida, os custos para

implementação dos programas de educação parental variam de US$ 4,5063 a US$

10,0025 por criança. A diferença entre os custos associados às vítimas do TCV e aqueles associados às ações de prevenção, torna evidente a vantagem econômica dos programas de prevenção primária. Ressalta-se, ainda, que os levantamentos citados não consideram os impactos sociais e emocionais para as famílias de crianças vítimas do TCV, que, muitas vezes, se manterão ao longo de toda a vida.

Na literatura revisada foram encontrados oito estudos que descrevem e programas de prevenção do trauma craniano violento25,63,65,66,67,68,69,70. Todos os

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antes de receberem alta da maternidade. Em apenas um estudo esta intervenção foi realizada por residentes em medicina67, sendo em sua maioria realizada por enfermeiros25,65,66,67,68,60,70.

Os principais materiais utilizados incluíram vídeos e panfletos sobre os riscos de sacudir um bebê, o padrão de choro do bebê nos primeiros meses de vida e as estratégias que os pais poderiam utilizar quando se sentissem frustrados ou irritados com o choro do bebê25,63,65,66,67,69,70. Outros materiais utilizados incluem pôsteres25,69, cartões68 e imãs de geladeira67,70. Vale destacar que cinco estudos solicitavam aos pais a

assinatura de um termo de compromisso com os dizeres “Eu sei que sacudir um bebê é perigoso e concordo em compartilhar este conhecimento com outras pessoas”25,63,66,70.

De acordo com Stewart e colaboradores, a utilização deste termo é importante visto que estabelece um “contrato social” entre a comunidade e os pais, aumentando a participação ativa dos cuidadores na prevenção do TCV65.

Todos os programas descritos pela literatura apresentaram resultados positivos em suas avaliações, entretanto, cabe apontar que apenas três utilizaram medidas empíricas para avaliar mudança de comportamento ou conhecimento dos cuidadores25,63,70. Deyo, Skybo e Carroll utilizaram um questionário para avaliar o conhecimento dos participantes sobre o trauma craniano violento antes e após a intervenção, observando um aumento significativo no conhecimento sobre o padrão de choro do bebê nos primeiros meses de vida70. Dias e colaboradores e Altman e

colaboradores investigaram se a implementação do programa reduziria o número de casos de TCV, tendo encontrado reduções de 47% e 75%, respectivamente25,63. Vale

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Os demais estudos utilizaram medidas subjetivas para avaliação de seus programas, tais como: perguntar aos participantes se acreditavam que a intervenção havia sido útil; se indicariam os materiais a outra pessoa; ou se recordavam de ter passado pela intervenção após alguns meses65,66,67,68,69. Apesar desses resultados indicarem uma boa aceitação destes programas pelos pais e cuidadores, os mesmos não evidenciam a eficácia em alterar conhecimento ou comportamento.

Além da educação parental na maternidade, a literatura aponta a necessidade de capacitação de profissionais de diversas áreas, tanto para que eles sejam agentes de prevenção, implementando programas de prevenção em seus locais de trabalho e/ou identificando e notificando casos de trauma craniano violento, bem como prevenindo a ocorrência desta forma de maus-tratos por parte de profissionais que são responsáveis pelo cuidado de bebês ou crianças pequenas33,66,71,72. A capacitação e o treinamento constante de profissionais de saúde são extremamente relevantes, visto que profissionais capacitados para reconhecer precocemente possíveis sinais do TCV ajudam a prevenir que novos episódios, muitas vezes mais graves, ocorram12.

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O vídeo, originalmente desenvolvido pela equipe do programa de prevenção The Shaken Baby Prevention Project (SBSPP- Projeto de Prevenção da Síndrome do Bebê Sacudido) do Hospital da Criança de Westmead, Austrália, mostra um casal de cuidadores tentando lidar com um bebê choroso, sendo que ao longo da animação são apresentadas informações sobre o padrão do choro do bebê nos primeiros meses de vida, bem como algumas estratégias adequadas para utilizar nestas situações69. Este vídeo

consiste no primeiro material brasileiro para ser utilizado na prevenção do trauma craniano violento e está disponível e gratuito para visualização online pelo endereço eletrônico: http://www.youtube.com/watch?v=o0vASBX8CQ0.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trauma craniano violento é uma forma específica de maus-tratos contra bebês e crianças geralmente menores de 1 ano de idade, que gera consequências graves para o desenvolvimento de suas vítimas, bem como para toda a sociedade. O fato de haver um histórico de abusos anteriores à lesão que fez a criança chegar ao serviço de saúde, torna crucial a identificação pelo pediatra de casos potenciais de TCV16,36,73. Neste sentido, é

necessário que os profissionais de saúde fiquem atentos aos sinais e sintomas que a criança apresenta e verifiquem se as lesões correspondem com a história contada pelos pais ou outros cuidadores. Se a história se mostrar controversa, duvidosa ou falsa, o abuso deveria se tornar a principal suspeita para os profissionais envolvidos com o caso73.

(36)

desenvolvimento infantil estão mais propensas a gerar estes sentimentos, bem como quais estratégias podem ser utilizadas para enfrentar estas situações de maneira saudável6,74. A AAP recomenda, ainda, que os pediatras conversem com os pais sobre o

choro do bebê, explicando seu padrão nos primeiros meses e oferecendo recursos para os cuidadores lidarem com esta situação, bem como sobre as práticas disciplinares que os mesmos utilizam com seus filhos, incentivando o uso de estratégias alternativas à punição corporal6.

Ainda mais importante que a identificação precoce dos casos são as ações de prevenção primária e secundária, que objetivam diminuir a ocorrência primeira do TCV. Tendo em vista a escassez de estudos e estratégias de prevenção desta forma de maus-tratos no Brasil, considera-se extremamente relevante que ações preventivas, como as descritas no artigo, sejam implementadas e avaliadas empiricamente no contexto nacional. Em especial, ressalta-se a necessidade de se criar mecanismos de controle nacional da prevalência do trauma craniano violento, de modo que se possa verificar a amplitude desta questão no Brasil, bem como possibilitar um índice para o sucesso das estratégias preventivas.

Por fim, apesar de ações específicas para a prevenção do TCV serem importantes, não se deve desconsiderar o foco na prevenção das outras formas de maus-tratos e negligência contra crianças. Isto porque, muitas vezes, o trauma craniano violento situa-se no fim de um espectro de condições que incluem outras lesões abusivas não cerebrais, negligência e abuso emocional12, de forma que o conhecimento

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Avaliação do conhecimento sobre trauma craniano violento por pais brasileiros

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Título Abreviado: Conhecimento sobre trauma craniano violento

Resumo

A ocorrência do trauma craniano violento (TCV) pode estar associada à falta de conhecimento de cuidadores sobre o desenvolvimento infantil. Neste sentido, o presente estudo pretende investigar o conhecimento de pais sobre o padrão de choro do bebê, as estratégias para lidar com o choro e as consequências de sacudi-lo. Participaram da pesquisa 83 mães e 7 pais de recém-nascidos, que responderam ao instrumento

Questionário sobre o Choro do Bebê. Os resultados do estudo sugerem um

desconhecimento por parte dos pais e cuidadores sobre o TCV, principalmente no que se refere à sua gravidade. Além disso, 34.4% dos participantes relataram que sacudiriam seus bebês para fazê-los parar de chorar, ressaltando a necessidade de pesquisas e intervenções para prevenção do TCV.

Abstract

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O trauma craniano violento (TCV) é descrito pelo Centro de Controle e

Prevenção de Doença dos Estados Unidos como qualquer lesão craniana ou

intracraniana decorrente de impacto brusco ou sacudida violenta em um bebê ou criança

menor de 5 anos (Parks, Annest, Hill & Karch, 2012). Neste sentido, a criança é

submetida a severas e repetidas forças de aceleração e desaceleração com ou sem o

impacto direto da cabeça do bebê que resultam em um padrão característico de

ferimentos, podendo incluir hemorragias na retina, fraturas, principalmente nas costelas

e no final de ossos longos e padrões reconhecidos de ferimentos cerebrais (Health

Canada, 2001; National Center o Shaken Baby Syndrome, s.d.).

De acordo com Case, Graham, Handy, Jentzen e Monteleone (2001), dentre as crianças que sofrem do trauma craniano violento, de 7 a 30%, aproximadamente, morrem, de 30 a 50% apresentam déficits cognitivos e neurológicos significativos; e 30% têm chance de recuperação total (Case, Graham, Handy, Jentzen & Monteleone, 2001). Para o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (Center of Disease and Control, 2007), de 25 a 30% de crianças vítimas do TCV morrem e apenas 15% sobrevivem sem qualquer sequela, apontando para a gravidade desta forma de maus-tratos.

Uma característica relevante desta forma de violência é o fato de o choro do bebê ser referido como o principal gatilho para sua ocorrência (Brooks & Weathers, 2001; Case et al., 2001; Commitee on Child Abuse and Neglect of the American Academy of Pediatrics, 2001; Hennes, Kini, & Palusci, 2001). Apesar de ser um

(46)

Lehtonen, & Young, 2005; Barr, St. James-Roberts & Keefe, 2001). Estas propriedades podem ser resumidas por um aumento na média diária de duração do choro nas primeiras semanas de vida do bebê, que atinge um pico por volta do segundo mês (6ª semana), apresentando uma redução após o pico. Após o quarto mês de vida o choro se torna mais intencional e mais relacionado com os eventos ambientais (Brazelton, 1972). Além disso, o padrão de choro do bebê inclui ainda episódios de choro prolongado, inconsolável e imprevisível, que ocorrem normalmente no final da tarde ou início da noite e são acompanhados por expressões faciais de dor e aumento do tônus muscular (Barr, Trent & Cross, 2006; Lee, Barr, Catherine & Wicks, 2007). De acordo com Barr, Trent e Cross (2006) e Lee e colaboradores (2007) estas características contribuem de forma decisiva para a ocorrência do TCV.

Dada a especificidade do mecanismo de lesão desta forma de maus-tratos, bem como o fato de o choro do bebê ser seu principal fator de risco, diversos programas tem sido desenvolvidos e implementados exclusivamente para a prevenção do TCV (Deyo, Skybo & Carroll, 2008; Dias et al., 2005; Keenan & Leventhal, 2010; Runyan et al., 2009; Tolliday et al., 2010). Em sua grande maioria, estes programas objetivam fornecer informações sobre o padrão normal do choro do bebê e os riscos de sacudi-lo, bem como ensinar aos pais e cuidadores técnicas para lidar de forma saudável com seu bebê, principalmente quando ele chora (Deyo, Skybo & Carroll, 2008; Dias et al., 2005; Frasier, 2008; Keenan & Leventhal, 2010; Runyan et al., 2009; Tolliday et al., 2010).

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do interior de Pernambuco a respeito desta forma de maus-tratos. Dentre os resultados, destaca-se que 97% desses profissionais não conheciam o TCV e 60,8% relataram já ter sacudido uma criança.

O estudo de Runyan e colaboradores (2010) teve como objetivo investigar o uso de diferentes estratégias disciplinares por mães no cuidado de seus filhos em seis países diferentes, sendo eles Brasil, Chile, Egito, Índia, Filipinas e Estados Unidos. No Brasil foram entrevistadas 813 mães de um município do interior do estado de São Paulo. Noventa e seis por cento delas afirmaram utilizar estratégias disciplinares consideradas não violentas e apenas 2,3% relataram utilizar estratégias físicas avaliadas como severas, tais como queimar ou espancar a criança. Dentre as estratégias físicas severas utilizadas, destaca-se o sacudir uma criança menor de 2 anos de idade, com 10% das mães afirmando já terem utilizado esta estratégia no último ano (Runyan et al., 2010).

Ainda que estes estudos apresentem algumas limitações, seus resultados indicam que o sacudir é uma estratégia que tem sido utilizada por cuidadores e profissionais brasileiros no cuidado do bebê. Considerando o dado que 97% dos profissionais de saúde entrevistados não conheciam o TCV (Fernandes, Silva & Javorski, 2010), pode-se supor que este desconhecimento seja ainda maior na população em geral.

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Neste sentido, o presente artigo tem como objetivo investigar o conhecimento de pais e cuidadores sobre o padrão de choro do bebê nas primeiras semanas de vida, bem como as principais estratégias para lidar com o choro e as consequências de se sacudir um bebê.

Método

Participantes

Participaram do estudo 90 cuidadores, sendo 82 mães, 07 pais de bebês recém-nascidos (com idades de 1 a 3 dias) e uma gestante. Todos os cuidadores se encontravam na maternidade por ocasião do nascimento dos filhos. A idade dos participantes variou de 14 a 42 anos, sendo que a média foi de 26 anos.

A escolaridade dos participantes variou de Ensino Fundamental Incompleto a Ensino Superior Completo, sendo que 32% apresentavam Ensino Médio Completo e 21% Ensino Médio Incompleto. Em relação à condição socioeconômica, 49% dos participantes eram da classe C, que corresponde a uma renda familiar média entre R$ 962,00 e R$ 1.459,00.

Oitenta por cento dos participantes afirmaram ter tido experiência prévia no cuidado de bebês, sendo que desses, 91% afirmaram uma frequência de cuidado de cinco dias por semana ou mais.

Local

A coleta de dados foi realizada na maternidade de um município de médio porte do interior do Estado de São Paulo (221.950 habitantes)2.

Instrumentos

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Questionnaire (Questionário sobre o Choro do Bebê), desenvolvido por Tolliday e

colaboradores (2010), na Austrália, com o intuito de avaliar o programa de prevenção

Shaken Baby Prevention Project (Projeto de Prevenção da Síndrome do Bebê Sacudido) implementado no The Children’s Hospital at Weastmead (Hospital da Criança de Weastmead). Este questionário pretende avaliar o conhecimento de pais e cuidadores sobre as razões para o choro do bebê e as consequências de sacudi-lo, bem como avaliar o potencial de uso de diferentes estratégias para lidar com o choro do bebê. Cabe destacar que não foram encontradas informações sobre as propriedades psicométricas desse instrumento em sua versão original.

Para utilização no Brasil, o instrumento foi traduzido e adaptado após autorização dos autores. Este processo iniciou-se com a tradução literal de cada afirmativa e/ou questão dos questionários pela primeira autora e revisada pela segunda. Em seguida, cada item foi avaliado quanto à gramática, semântica, sintaxe e pertinência. O questionário foi, então, enviado a três juízes, sendo um pesquisador da área de violência contra criança e dois da área de desenvolvimento infantil, para que os mesmos analisassem a representatividade e a clareza dos itens. Cada juiz recebeu uma carta solicitando a colaboração na avaliação do instrumento, uma cópia do instrumento e um material escrito apresentando a descrição e especificidade teórica do material. As sugestões de cada juiz foram avaliadas e, quando consideradas pertinentes, incluídas no instrumento.

Além disso, foi realizado um estudo piloto com 52 estudantes universitários e profissionais da área da saúde e educação, durante a realização de um seminário sobre o trauma craniano violento. O questionário foi aplicado a todos os participantes do seminário antes e após a realização de uma palestra sobre o TCV e a exibição do vídeo

(50)

e a exibição do vídeo, os participantes passaram a atribuir a razão do choro menos a características do bebê e mais a fatores ambientais e a estimar de forma mais acurada a média de horas que o bebê costuma chorar por dia. Estes resultados forneceram indícios de que o instrumento conseguia medir alteração de conhecimento e atitude sobre o TCV, demonstrando-se útil para utilização no presente estudo.

Entretanto, o instrumento mostrou-se limitado para avaliação do conhecimento sobre as estratégias adequadas para lidar com o choro do bebê e sobre as consequências de se sacudir um bebê. Isso ocorreu em função de essas questões serem abertas, permitindo respostas evasivas e que dificultariam a análise estatística dos dados. Neste sentido, as questões foram reformuladas de modo que se tornassem fechadas.

Em sua versão final, o Questionário sobre o Choro do Bebê reformulado aborda

cinco aspectos relacionados ao trauma craniano violento: a) possíveis razões para o choro do bebê (20 itens), b) estratégias para lidar com o choro do bebê (23 itens), c) consequências de se sacudir um bebê (15 itens), d) número de horas que um bebê pode chorar por dia (1 item) e e) sentimentos associados ao cuidado do bebê (1 item). A Tabela 1 apresenta as questões de cada aspecto do instrumento, bem como um exemplo de item e suas opções de respostas.

Procedimento

Cuidados éticos.

(51)

Tabela 1

Exemplos de questão, item e opções de respostas para cada aspecto do instrumento Questionário sobre o Choro do Bebê.

Aspecto Questão Item Opções de Resposta

R

azõe

s

O que você acha que pode

fazer um bebê chorar? O bebê estar doente. FortementeDiscordo Discordo Não Sei Concordo TotalmenteConcordo

E

st

ra

tég

ias

Imagine que você está sozinho, cuidando de um bebê e este não para de chorar. Atribua uma nota de 0 a 5 para cada alternativa abaixo de acordo com o que você faria nesta

situação.

Alimentaria o

bebê novamente. Nunca Faria Provavelmente Não Faria Não Sei Provavelmente Faria Certamente Faria

C

onsequênc

ias

O que você acredita que pode acontecer com o bebê se ele

for sacudido?

O bebê pode

vomitar. Sim Não Não Sei

Senti

m

en

to

Cuidar de um bebê pode ser cansativo e estressante. FortementeDiscordo Discordo Não Sei Concordo TotalmenteConcordo

N

úme

ro

de H

oras Quantas horas por dia um bebê normal e saudável

(52)

Coleta de dados.

Após aprovação da pesquisa pelo Comitê de Ética, iniciou-se a coleta de dados na maternidade. Os nomes e os leitos das possíveis participantes eram fornecidos pelas enfermeiras do serviço de Banco de Leite da maternidade. Essas profissionais realizavam um levantamento diário de todas as mulheres que haviam tido filho no dia anterior para que pudessem passar as orientações sobre aleitamento. Este levantamento era passado para a primeira autora, que realizava o sorteio de duas mães para realizar a intervenção.

A primeira autora se dirigia até o leito da puérpera sorteada, convidando-a a participar da pesquisa. Em caso de recusa ou desistência, era sorteada outra mãe. Na maternidade onde ocorreu a coleta de dados havia três possibilidades de configuração dos quartos: 1) quatro leitos e um banheiro compartilhado; 2) dois leitos e um banheiro compartilhado com outro quarto com dois leitos; e 3) um leito com banheiro privado. Assim, quando as participantes eram internadas em quartos com mais de um leito, todas as outras mães internadas no mesmo quarto eram também convidadas a participar da pesquisa.

Ao lado do leito de cada participante, a primeira autora explicava os objetivos, o procedimento, os riscos e benefícios da pesquisa, bem como a garantia de seu anonimato. Quando o parceiro da puérpera estava presente no quarto, ele também era convidado a participar do estudo. Era, então, solicitado o consentimento da participação de ambos por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TLCE). Cada participante deveria assinar o seu próprio TCLE, ou seja, um para a puérpera e outro para o parceiro.

Imagem

Figura 1.  Frequência (%) de cada opção de reposta para a questão sobre o número de  horas diário do choro do bebê
Figura  1.  Porcentagem  de respostas para cada intervalo de tempo que um bebê pode  ficar chorando sozinho (n=90)
Figura 1. Média dos escores relacionados às razões do choro do bebê para cada grupo  em cada período avaliado
Figura 3.  Média dos escores relacionados às estratégias de afastar-se do bebê para cada  grupo em cada período avaliado
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Referências

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