NOTICIARIO
BRASILEIRO
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A Historia da Saude Publica no Brasil
A primeira organizs@o sanitaria official que realmente existiu no Brasil, diz Fontenelle,l foi a de 1808, estrictamente unitaria e centralizada, pois o physico- m6r do Reino enfeixava nas máos todas as autoridades nessa materia, exten- dendo-se seu poder pelas capitanias, por intermedio de delegados de saude. Mais tarde, a reforma de 1828 passou para as camaras municipaes as rudimentares inspec@es de que estavam incumbidos o physico-mór e seus delegados. Essa munieipaliza@o dos servicos de saude teria sido de certa vantagem si a instruccáo ja estivesse mais espalhada, permittindo crear multiplos centros de actividade sanitaria. A articula@0 de todos esses centros por urna uniformidade de direcgáo technica teria facilitado o estabelecimento de urna organizacáo nacional de saude publica. Infelizmente, porém, as condicóes eram ainda muito .precarias e tornaram sem valor essa descentralizacáo, apesar da legislacáo relativamente acceitavel, para o tempo, como a que foi decretada em 1832. Reconhecida a incapacidade das administracões locaes para desenvolverem os servicos, comecou um esforco em sentido contrario, visando centralizar a obra de saude publica. 0 primeiro acto nessa direccáo foi a desmunicipalizacáo dos servicos sanitarios do porto do Rio de Janeiro, em 1833, mais tarde seguido de providencias analogas para todos os outros portos, passando, em 1843, para a jurisdicgáo privativa do ministro do Imperio (Interior). 0 apparecimento da febre amarella no Rio de Janeiro, em 1849, levou o Governo imperial a assumir por si mesmo a direccáo dos servicos sanitarios terrestres na capital do paiz, por intermedio de urna organizacão provisoria, transformada, depois, em 1850, em Junta de Hygiene Publica. No anno seguinte foram creadas commissóes de Hygiene Publica nas provincias, terminando desse modo o esforco de centralizacáo, que paz todos os poderes nas mãos da Junta, mais tarde transformada em Inspectoria Geral de Hygiene, de que deveria haver representantes em todos os municipios.
Com o estabelecimento do regimen federativo creado pela Republica, deter- minou a constituicão caber aos estados e municipios a administra$Zo publica local, aliás sem que as palavras “hygiene” ou “saude publica” tenham figurado, urna vez s6, na Constituicáo de 1889. Em consequencia disso, da antiga Inspec- toria de Hygiene da capital do paiz originou-se urna forte reparticáo sanitaria federal, que, pouco a pouco, foi absorvendo todas as funccóes de saude publica da respectiva municipalidade local, emquanto que nos estados e municipios continuou tudo no abandono quasi completo em que ja vinha do tempo do Imperio.
Substituindo-se B organiza@0 sanitaria local, a reparticáo federal de saude publica gastou com isso todas as suas energias, náo desenvolvendo accáo em campo que logicamente era de sua incumbencia, a náo ser a chamada defesa sanitaria dos portos, constitucionalmente dentro de sua jurisdiccáo. Após a organizacáo do Departamento Nacional de Saude Publica, em 1921, a Directoria de Saneamento Rural comecou a fazer accordos com os estados, para a coope- racáo em materia sanitaria, o que tem resultado em certa centraliza@0 dc direccso dos trabalhos de saude publica. Isso está tendo resultados muito variaveis, mas de permanencia sobremaneira precaria, pela fragilidade desses accOrdos, que
1 Fontenelle, J. P.: Conkrencis pronunciads pera& o 3’ Congreso Brasileiro de Hggiene, em 5. Paulo, a 5 de novembro de 1926.
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OFICINA SANITARIA PANAMERICANA
ccssam automaticamente logo que o estado deixa de pagar as respectivas con- tribuicões.
Evidentemente, em Pernambuco, por exemplo, nao se podem attribuir as vantagens obtidas para a organiza@0 estadual ao puro facto da influencia da collaboracáo federal, porque a personalidade daquelle que teve a possibilidade de chefiar simultaneamente os servicos sanitarios estaduaes e os servicos de sane- amento, em collaboracáo federal e estadual, exerceu certamente influencia decisiva. Por outro lado, sem nenhuma cooperacão federal, Sao Paulo vem
constituindo urna organizacáo sanitaria de valor incontestavel. R
A Estatistica Obituaria de Alegrete
Das molestias mais responsaveis pelos obitos na cidade de Alegrete, Rio Grande do Sul, Brasil, que tem uns 8,000 habitantes, occupam o primeiro logar com media de 101 obitos annuaes, os fallecidos sem assistencia medica; em segundo, a tuberculose com a media de 61 obitos annuaes; em terceiro vem as gastro- enterites com a media de 48 obitos annuaes; em quarto, as nati-mortos com a media de 29 obitos annuaes; em quinto, a meningite com a media de 16 obitos annuaes; em sexto lagar a febre typhoide com a media de 14 obitos annuaes e finalmente o cancer com a media de 12 obit,os annuaes2 As pneumopathias e a syphilis figuram tambem com medias annuaes elevadas. De facto, morrem realmente em Alegrete muito poucas pessôas sem assistencia medica. Isto assim dito, parece paradoso, entretanto, não o é se attendermos que em Alegrete grassa a mais vergonhosa licenciosidade da profissáo medica. Existe quasi um numero infinito de pessôas que fazem a medicina mas nao pagam impostos, não assignam attestados, exercendo a profissáo medica activamente nas suas diversas formas. As pessoas que tal mis@ exercem, devem todas sem excepcáo pagar impostos, afim de serem controladas de pert,o e punidas severamente no caso do erre. Aforá o coefficiente de mortos sem assistencia medica e os da syphilis, que náo tem ligacáo alguma com o problema de hygiene de Alegrete e sim com a administracáo, permanecem tres factores preponderantes, aos quaes a hygiene tem de encarar muito de perto mesmo pela importancia indiscutivel: a tuberculose, a gastro- enterite das criancas e a typhoide.
No quadro estatistico do obituario de Alegrete figura a tuberculose em segundo lagar com a media annual de 59 obitos. Incluindo os que morrem sem assistencia
medica, vem a dar urna porcentagem de 25 por cento de mortos pela tuberculose r; no obituario geral. Sendo assim, Alegrete está na vanguarda do mundo no
tocante á mortalidade pela tuberculose, excedendo em muito B Suecia e 5, Noruega que, segundo as estatisticas de Calmette, apresenta a cifra de 19 por cento do obituario. Contrario a todas as opiniões, os negros em Alegrete, sao particular-
mente poupados, representando elles 6.5 por cento dos obitos por esta doenca. b A raca brama é dentre todas a preferida, figurando com 44.5 por cent,o. Seguem-se
os de côres duvidosa, compostos de indiaticos e mulatos com 29.6 por cento restando ainda 19.1 por cento sem declaracáo de raca. Com relacáo it edade, o numero de obitos augmento a partir dos 10 annos para attingir o seu maximo entre 20 e 30 annos. Em quasi todas as edades o sexo feminino tem a “leader- anca ” contrario 4 regra geral que da sempre para o sexo masculino maior per- centagem de obitos pela tuberculose.
Para felicidade dos habitantes da cidade de Alegrete, o problema das febres typhoide e paratyphoide fica muito aqucm da fama que tem fóra do municipio e até mesmo da espectativa do carpo clinico local, pois, figura com a percentagem de 3.2 por cento do obituario geral e com a percentagem 3.6 deduzindo de todos os obitos os sem assistencia medica e natimortos. A typhoide é incontestavelmente . depois dos problemas administrativos, relativos aos mortos sem assistancia medica,