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DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS São Paulo

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Academic year: 2019

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Cristina Maranhão

Imagens da Guerra:

Brasil, Palestina e Portugal.

DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Cristina Maranhão

Imagens da Guerra:

Brasil, Palestina e Portugal.

DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências Sociais na área de concentração em Política sob a orientação do Prof. Dr. Miguel Wady Chaia.

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Banca Examinadora

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Agradecimentos

Gostaria de agradecer a todos que de uma forma direta ou indireta fizeram com que este trabalho se tornasse possível. Pessoas e instituições que durante esta jornada se tornaram fundamentais e especiais para a concretização destes cinco anos de trabalho.

Inicio então estes sinceros agradecimentos às instituições financiadoras CNPq e Capes por concederem a mim a bolsa de estudos no Brasil e a Bolsa Sanduiche que me levou à cidade de Lisboa no ano de 2011, para o aprofundamento nas buscas de imagens de guerra.

Agradeço ao Professor Doutor Miguel Chaia por acreditar na força deste trabalho e de sua redatora, muito obrigada por ser uma grande alavanca para os meus delírios imagéticos.

À Professora Doutora Vera Chaia que me recebeu de braços abertos no programa ainda no mestrado e abriu as portas para a formulação do pensamento crítico dentro das Ciências Sociais.

Agradeço à Universidade Nova Lisboa e ao Professor Doutor Jacinto Godinho que me receberam na cidade de Lisboa e proporcionaram um ambiente propício de trabalho. Juntamente com a Hemeroteca Municipal da Cidade de Lisboa e todos os seus funcionários que foram extremamente atenciosos com a “menina brasileira” que pesquisava no segundo andar da instituição.

Gostaria de mencionar também meus companheiros de moradia da Praça Anicepto do Rosário, Sebastian, Helena, Constância e Nadja que fizeram a estadia muito agradável no inverno europeu.

Faço um agradecimento especial para Nadja Murta que foi minha grande companheira nesta jornada internacional e se transformou numa querida amiga-irmã sempre disposta a trocar confidências e experiências acadêmicas.

Ressalto também o carinho e companheirismo de Carla Cristina Storino nesta temporada europeia, amiga sempre alto astral que não deixava a saudade da “terra brasilis” persistir por muito tempo.

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Um agradecimento mais que especial para Ivete Miranda Previtalli. Além de uma pessoa especial, tornou-se uma companheira divertidíssima na estadia em Lisboa. Uma grande incentivadora dos meus sonhos e dos deveres que esta estrada sinuosa chamada vida nos impõe.

Aos meus irmãos e irmãs de santo, em especial Cidoca, Macotinha, Tia Lúcia, Mussum, Walter, Zé, Vivi, Krys, Thereza, Lúcia, Letícia, Sandra e Dani, um agradecimento do fundo do meu coração, pois a paciência e a descontração de vocês foram extremamente necessárias para que este trabalho chegasse ao final.

Um agradecimento aos meus companheiros do núcleo de pesquisa, NEAMP (Núcleo de Estudo em Arte, Mídia e Política) da PUC-SP. Em especial, Rosemary Segurado, Silvana Gobbi Martinho, Marcelo Burgos, Syntia Alves, Claudio Penteado, Telmo Estevinho e Rafael Araujo.

Um agradecimento especial a Syntia Alves que foi importante no processo inicial deste trabalho; a Silvana Gobbi que sempre esteve disposta a ouvir as “caraminholas” do pensamento e pela atenção dada ao meu texto; e a Rosemary Segurado que sempre ilumina o meu trabalho trazendo contribuições importantíssimas para o enriquecimento do meu pensamento crítico.

A Sandra Moreira um agradecimento especial pelo suporte durante este processo.

Aos alunos e companheiros do atelier, Julia e Isadora Fávero, Mario Gongora, Victor e Gabriela Onetto, Anahí Santos e Renata Porto e Henrique Coelho.

Aos amigos de uma vida toda, Veronica Evangelho, Mariana Magro, Priscila Gambarra, Paula Maranhão, Marcelo, Manuela Sá, Manu Ebert, Arandi Vasconcelos, Joana Cury, Fernando Thomaz, Iramaia Gongora, Javier Toro, Luísa Dias, Klaus M., Daniel Oliva, Henrique Neto, Romain Bragard, Maira Landulpho, Mel Lobato, Priscila Glaser, Ana Goldenstein, Deryn Pompéia e Majoi Gongora.

Um agradecimento especial a Ana Goldenstein por ter ajudado na correção do texto de qualificação com as suas colocações fundamentais para uma melhor compreensão do texto. E a Majoi Gongora amiga-irmã presente em todos os momentos deste trabalho dando o suporte mais que especial para a conclusão desta jornada.

Aos queridos amigos e parceiros que subiram o Monte Roraima, uma aventura para o corpo e mente que proporcionou a energia necessária para a reta final desta tese.

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À família querida que além de me acolher foi parte fundamental para a minha formação crítica na vida. Lilian Ulup, José Peixoto, Eduardo Rzezak Ulup, Ziléia Reznik, Mário Rodrigues, Nina Ulup, Fernanda Reznik, Raul Schalder, Roberta Dardeau e Sergio Marini.

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MARANHÃO, Cristina. Imagens da guerra: Brasil, Palestina e Portugal.

Resumo

Esta tese procura compreender a construção imagética das guerras contemporâneas veiculadas pela mídia nacional e internacional por meio do estudo de caso de dois conflitos atuais: a guerra travada entre policiais e traficantes nas favelas cariocas do Complexo do Alemão e o conflito armado entre israelenses e palestinos na Faixa de Gaza que envolve a Questão Palestina. Dividido em duas partes, guerra e imagem, o trabalho mostra como ocorreram mudanças significativas na forma de guerrear associadas a nova formulação econômica global proveniente da globalização e da mundialização. Estas mudanças refletiram-se na forma de representar os conflitos armados e consequentemente no fotojornalismo atual. A partir da constatação de diferenças significativas no campo da imagem, nos concentramos dois aspectos: a imagem como uma ação do imaginar e a imagem como produção excessiva e formadora de clichês provenientes da “sociedade do espetáculo”. A tese propõe a construção de um catálogo imagético ocidental elaborado a partir da relação entre as imagens analisadas dos conflitos e imagens coletadas seja na pintura, em gravuras ou na fotografia. A proposta deste ocorreu, pois percebemos que existe uma construção imagética da guerra esta que é responsável pela elaboração do imaginário do guerreiro e dos conflitos. As imagens de guerra na atualidade se modificaram juntamente com as alterações do universo dos conflitos armados, demonstrando uma reverberação de imagens e de temas específicos transformando em meros clichês imagéticos que em muitos casos não representa a violência vivenciada pela população que está envolvida. Reverberação, esta, que expressa a generalização das imagens de guerra na atualidade.

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MARANHÃO, Cristina. War Images: Brazil, Palestina and Portugal.

Abstract

This thesis seeks to comprehend the imagetic construction of contemporary wars transmitted by national and international media, through the case study of two current conflicts: the war between police and drug dealers at Rio de Janeiro´s favelas of Complexo do Alemão, and the armed conflict between israelis and palestinians in the Gaza Strip, involving the Palestine Question. Devided in two parts, war and image, this work shows how significative changes occurred in the form of the warfare, associated to new global economic formula, originated from globalization and mundialization. These changes reflected in the form of representing the armed conflicts and therefore in the current photojournalism. . From the observation of significative diferences in the field of images, we focus in two aspects: the image as an action of imagination, and the image as excessive production of clichés from the “society of the spectacle”. This thesis proposes the construction of a western imagery catalog, elaborated from the relationship between the analysed images of conflicts and the images collected from paints, engraving or photographs. This proposition occured because we realised that there is an imagetic construction of war, wich is responsable for the imaginary of the warrior and of conflicts. Images of war today have changed along with changes of the armed conflict universe, demonstrating a reverberation of images and specific subjects turned into simple pictural clichés, wich in many cases do not represent the violence experienced by the population envolved. This reverberation expresses the generalization of images of war today.

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Sumário

Introdução...01

Primeira Parte: Guerra Capitulo I: Sobre o Guerreiro e Situações de Guerra...21

1.1 Imagens de guerreiros, batalhas e guerras...37

Capitulo II: Os conflitos: Brasil, Palestina e Portugal...45

2.1 Os conflitos e a violência modificadora...53

Segunda Parte: Imagem Capitulo III: Sobre as imagens: do observador, da fotografia e da sociedade...69

3.1 Considerações sobre as imagens da guerra...86

Capitulo IV: A violência congelada – análise das imagens dos conflitos...93

Considerações Finais...135

Referência Bibliográfica...144

Anexos...148 

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Introdução

A presente pesquisa possui como preocupação geral o estudo e a análise da dimensão política da mídia, desdobrado no que chamamos de catálogo imagético ocidental. A escolha por compreender esta dimensão presente na mídia, a partir das imagens veiculadas por ela, ocorreu pela percepção da reprodução de clichês imagéticos frutos da Sociedade do Espetáculo, discutida por Guy Debord (1997). Nesta sociedade as relações passaram a ter um caráter espetacular. “O espetáculo é o capital em tal grau de acumulação que se torna imagem” (aforismo 34). Com a unificação dos mercados privilegiando a economia cristalizou-se nas relações sociais uma alienação do ser. O indivíduo que estaria apto para o questionamento, nesta formulação social não consegue apreender a realidade e suas relações passam a ser superficiais e moldadas pela reprodução de discursos cristalizados pelas instituições, principalmente as econômicas. As imagens, nesta sociedade fundamentada no espetáculo, possuem o papel de difundir tais discursos contribuindo para a cristalização de clichês e da alienação do ser social.

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(...) é (...) nesta área do sentir que se situa a imagem, já que a imagem é a impressão (o sentido) de algo que vemos ao olhar, de algo que sentimos/vimos, de algo que nos desperta (...) a imagem é, inicialmente, a memória de algo que foi sentido por alguém (...) alguém, alguma pessoa esteve diante deste fato, desta coisa, desta situação ou dessa luz e essa relação à memória nos configura a imagem (...) (LIMA, 1995: 424)

Logo, as imagens que são difundidas pela mídia, veiculadas na televisão, passadas nas telas cinematográficas, inseridas em redes sociais, pertencem a este catálogo imagético ocidental. Cada uma das fotografias publicadas tornara-se um rastro congelado do fato ocorrido.

Neste sentido, a pesquisa buscou no universo das imagens e na construção do catálogo imagético ocidental compreender as imagens de guerra veiculadas nos meios de comunicação nacional e internacional. Esta preocupação ocorreu, pois percebemos que as imagens são parte fundamental para a construção do imaginário social. Autores como Maria Rita Khel, Teixeira Coelho, Roland Barthes, Susan Sontag, entre outros, nos mostram que as imagens que transitam em nossa sociedade são em parte responsáveis pela produção do nosso imaginário, assim, criamos e cristalizamos conceitos a serem seguidos e reproduzidos. Já no século XVII artistas buscaram traduzir a dor e o horror das batalhas em seus murais e quadros sendo através de tais registros que a relação de poder e dominação no imaginário dos que olhavam tais narrativas começou a criar forma. (SONTAG, 2001).

(...) um horror tem seu lugar numa cena complexa (...) que dá conta do engenho visual e manual do artista. O outro horror é o registro de uma câmera, feito bem de perto, o registro da indescritível e horrenda mutilação de um ser humano; isso e mais nada. (SONTAG, 2001: 38)

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Para compreendermos melhor o caminho percorrido na modificação das narrativas imagéticas e, aqui, especificamente as imagens de conflitos armados na atualidade, foi necessário compreender as alterações ocorridas na forma de guerrear. Para isso nos baseamos em autores que buscavam investigar o ethos do guerreiro e as alterações na guerra clássica. Nossa investigação apoiou-se em textos sobre a guerra primitiva de Pierre Clastre (2004) e até em autores que buscaram compreender as questões políticas e econômicas das intervenções ocorridas na atualidade em diversos países do globo. Por hora vamos nos concentrar no trabalho de três autores. Estes nos indicam que a as relações econômicas, da globalização, da mundialização e da sociedade espetacularizada foram grandes responsáveis para uma mudança fundamental do ethos do guerreiro e da prática da guerra.

Os trabalhos de Michael Hardt e António Negri denominados Império (2001) e Multidão (2005) elucidaram um caminho nas alterações ocorridas na modernidade dos Estados-nação e sua soberania. As considerações apresentadas em ambos os trabalhos irão se agregar às questões apresentadas por Frédéric Gros em Estados de Violência – ensaio sobre o fim da guerra (2009), em que o autor apresenta o novo estágio das guerras na atualidade. Para estes autores, presenciamos um novo estágio e este seria um estado de violência constante e sem fronteiras fixas. Porém, antes de aprofundarmo-nos nestas reflexões é importante elencarmos alguns conceitos de Hardt e Negri.

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supranacionais numa economia global única tal qual um governo supremo do mundo (HARDT e NEGRI, 2001).

(...) o império se apresenta, sem seu modo de governo, não como um momento transitório no desenrolar da história, mas como um regime sem fronteiras temporais e, nesse sentido, fora da história ou no fim da história, Em terceiro lugar, o poder de mando do Império funciona em todos os registros da ordem social, descendo ás profundezas do mundo social (...) (HARDT e NEGRI, 2001: 15)

Logo, esta nova ordem global não só reorganiza os fluxos comerciais, mas também os fluxos militares, sociais e culturais. Na nova ordem imperial, segundo os autores, as democracias no mundo estariam “ameaçadas” por uma nova organização da prática de guerra, chamados aqui de estado global de conflito. Segundo os autores, em períodos de guerra a democracia é suspensa e passa à uma autoridade central os poderes políticos até que se instaure novamente a ordem e se possam restabelecer as propriedades democráticas. Porém no estado global de conflitos o que se presencia é uma deturpação desta suspensão de poderes transformando-se em indefinitiva e/ou permanente (HARDET e NEGRI, 2005).

(...) a guerra é tradicionalmente entendida como um conflito armado entre entidades políticas soberanas, ou seja, na modernidade, entre Estados-nação. Na medida em que a autoridade soberana dos Estados-nação, até mesmo os Estados-nação mais dominantes vem declinando, começando a se manifestar em sentidos inversos uma nova forma supranacional de soberania em Império global, as condições e a natureza da guerra e da violência política necessariamente estão mudando. A guerra transforma-se num fenômeno geral, global e interminável (...) (HARDT e NEGRI, 2005: 21)

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nova estruturação do que se considerava como o inimigo, isto ocorre devido ao estreitamento cada vez maior da distinção entre o que se considerava estar fora ou dentro de um Estado–nação. No estado global de conflitos sem fronteiras definidas e como consequência da indefinição do inimigo externo e interno, as atividades militares misturam-se com as questões policiais, proporcionando uma interface de violência. Assim, o que se poderia compreender como uma guerra de baixa intensidade vai ao encontro das ações policiais e passa a possuir um caráter de alta intensidade na ordem imperial. Esta simbiose entre os poderes de ação militar e ação policial esbarraram, segundo os autores, no que até então era considerado como política de defesa e política de segurança. As questões referentes à política de defesa e à política de segurança tornaram-se praticamente a mesma coisa já que as distinções entre o que se poderia considerar dentro e fora das fronteiras desparecem. No estado de conflito imperial, as formas de ataques também se modificam, o que até então era gerenciado pelas relações de Soberania e território de cada Estado-nação, ou seja, prevaleciam os ataques ditos reativos, só se atacava porque tal Estado-nação foi atacado, esta relação de ataque reativo desaparece na medida em que as políticas de invasões ganham força. Estas se respaldam na busca de um inimigo onipresente numa política que proporciona que qualquer nação tenha a legitimidade de invasão à outra (HARDT e NEGRI, 2005).

(...) a presença constante de um inimigo e ameaça de desordem são necessárias para legitimar a violência imperial. Talvez não deva surpreender o fato de que quando a guerra constitui a base da política o inimigo se torna a função constitutiva da legitimidade (...) (HARDT e NEGRI, 2005: 55)

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exército passa a ser pensado a partir da administração recebendo o status de instituição, e a disciplinarização (GROS, 2009).

(...) a guerra como fenômeno total deverá englobar um grande número de fatores: a cultura do inimigo, o objetivo político, a moral dos homens, o ambiente internacional. E tudo isso brotará de uma ciência superior, de um saber “sublime” (...) de uma combinação generalizada dos fatores físicos, morais, geográficos e culturais, políticos e históricos (...) (GROS, 2009: 54)

O autor, como Hardt e Negri (2001), diferencia a guerra moderna em partes, para assim investigar todas as alterações que ocorreram por anos de prática e conceituação do tema, porém aqui, em Gros (2009), o que se torna fundamental para o pensamento é a guerra ser uma relação de forças políticas que agem dentro e fora do Estado. Nas mudanças econômicas e belicistas da 2ª Guerra Mundial tem início a organização do que ele denomina de estados de violência. Esta nova estruturação das guerras nos estados de violência propicia o surgimento de uma variação de figuras que até então não existiam: o terrorista, o chefe de facção, o mercenário, o soldado profissional, o engenheiro de informática, o responsável da segurança que passaram a fazer parte da complexidade dos conflitos armados. Construindo exércitos disciplinados atuando como redes dispersas que entram em embates com a estrutura tradicional, ou como o autor coloca: tornam-se a profissionalização da violência. Estas alterações apontadas por Gros (2009) proporcionam estados constantes de violências, sem tempo e sem espaço tendo uma multiplicidade de atores envolvidos imperando princípios específicos de estruturação dos novos espaços de violência, como o estouro estratégico, a dispersão geográfica, a perpetuação indeterminada e a incriminação opondo-se ao estado de guerra tradicional ao qual conhecíamos gerando uma nova estruturação dos conflitos: criminalização, barbarização, privatização e desregulamentação (GROS, 2009).

(...) a guerra era pública e centralizada. Ela se organizava segundo estruturas hierarquizadas e piramidais de comando. Os estados atuais de violência parecem relativamente anárquicos e privatizados. Age-se por pequenos grupos que podem ser atomizados e aproveitar uma situação de enfraquecimento estatal para roubar recursos ou bem por redes ultras secretas internacionais como grupinhos terroristas, sem que haja verdadeiramente um comando central cujas senhas se esperariam ou ainda se age por reajustamento étnicos , religiosos, descartando as identidades cidadãs públicas. (...) (GROS, 2009: 229)

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pode mais ser encarado como um estado de guerra, mas de intervenção. Pois as relações morais e éticas dos códigos da guerra clássica desaparecem neste novo estágio dos conflitos armados no mundo, ou na ordem imperial. A nova forma estabelecida pelas potências de intervir e não mais declarar guerra, está diretamente relacionada com a nova determinação dos fluxos. Isto é, a globalização e a mundialização produziram novos fluxos econômicos populacionais e midiáticos. Assim, estas configurações e relações transformaram as fronteiras que antes eram delimitações visíveis em bordas móveis que passaram a depender do fluxo que se estabelece a cada nova reestruturação.

(...) hoje a capacidade de circulação em rede que faz o poder. A guerra dava outrora consistências (material e imaginária: solidez das fronteiras e fama de glória) ao Estado, como unidade política que deveria ocupar seu lugar entre outros. Ela criava e estabilizava ilhas de forças. Hoje a segurança como regulação contínua dos estados de violência assegura a fluidez dos escoamentos, o Estado não constituído senão um polo de segurança entre outros. A intervenção restabelece fluxos interrompidos, inverte movimentos, reconfigura redes. As ultrapassagens das fronteiras provocava a guerra. É a interrupção de um fluxo (ou a instauração de um novo) que decide a intervenção (...) (GROS: 2009, 248)

Até agora os pensamentos dos três autores são confluentes, porém nas investigações de Frédéric Gros (2009) nos são dados indícios de como a mídia possui papel fundamental para a perpetuação dos estados de violências na ordem global imperial. Na inscrição do estado de violência contemporâneo, a mídia, na sua cobertura dos conflitos e reprodução dos discursos oficiais dos atentados e com o jogo de distorções pertinente a esta instituição, altera a relação de violência no tempo e assim mistura as antigas oposições. Quando os meios de comunicação se apoderam dos estados de violência, não ocorrem mais perdas, passamos a nos relacionar com vítimas. Pois são reverberados nos noticiários, e em qualquer forma de mídia, fragmentos de histórias, todas particulares e trágicas, imagens de crianças de olhos sombrios e rostos em lágrimas. Desta forma são excluídas todas as reivindicações e deixam de possuir qualquer legitimidade e as justificações de uns e de outros restando somente um espetáculo da desgraça (GROS, 2009).

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Assim, percebemos que esta nova ordem dos conflitos armados no mundo, seja a denominação de Gros (2009) de estados de violência ou de Hardt e Negri (2001 e 2005) estado global de conflito na ordem do império, difundidos pelos meios de comunicação atuais afirmam a miséria imagética, além de alterarem as relações da guerra como nós compreendíamos até dado momento. Este intercâmbio promovido entre a globalização, mundialização, e sociedade espetacular, proporciona para o universo imagético de conflitos armados distorções das reais questões que estão envolvidas em cada caso. As imagens de conflitos armados na sociedade espetacular do estado de violência, além de reproduzirem e cristalizarem clichês, contribuem para a perda do imaginário da guerra, já que as narrativas épicas proporcionavam não só a construção de um imaginário, mas um tempo da guerra. Com a mídia isso se altera completamente não existindo espaço para esta construção e assim enfraquece o pensamento critico social.

Antes de prosseguirmos, gostaríamos de colocar mais uma questão apresentada pelos autores do Império (2001) e Multidão (2005). Hardt e Negri (2005) apontam que a guerra passou a organizar o corpo social e a reproduzir-se nele, ou seja, ela transformou-se na matriz de todas as relações de poder e dominação na ordem imperial, mesmo que ocorra derramamento de sangue. Assim, os autores colocam que a guerra transforma-se em um regime de biopoder, e esta característica de governo destina-se aqui não apenas a controlar a população, mas a produzir e a reproduzir todos os aspectos da vida social. Afirmam que a guerra na atualidade tornou-se dialética, pois também constrói a vida. (Hardt e Negri, 2005). Tais questões propostas pelos autores deixam uma questão para nós, e acreditamos que esta é respondida pela própria produção imagética dos conflitos. Será que tais afirmações são de fato coerentes com os novos espaços dos conflitos armados, por nós estudados? Cremos que as imagens nos colocam o contrário, a dominação e o poder que os novos espaços de violência produzem na ordem global imperial encontram na organização da teia espetacular, que discutiremos profundamente no terceiro capítulo desta tese, uma barreira para esta produção da vida social, assim, não haveria espaço algum para que esta organização da vida social seja produzida, somente exaustivamente reproduzida.

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Questão Palestina e à guerra contra o narcotráfico na cidade do Rio de Janeiro. O cerne da problematização que guia a presente pesquisa é, portanto, relacionada à difícil sociabilidade. Neste sentido, a guerra, entendida como resultado do conflito orgânico, supondo ocorrer em várias formas (até menos explicadas), é sua categoria explicativa fundamental da pesquisa. Logo, para a compreensão de cada conflito e da imagem da guerra reproduzida para caracterizar cada uma delas, propomos a criação de uma tipologia da guerra, na qual separamos os eventos em categorias: violência, tragédia, revolução; terrorismo, guerra colonial e guerra. Isolamos cada situação de guerra e compreendemos as especificidades e circunstâncias que nelas ocorrem.

As imagens de guerra apresentadas neste trabalho foram reproduzidas da mídia impressa brasileira e portuguesa nos anos já mencionados. A escolha em buscar as imagens publicadas no cenário internacional ocorreu por uma necessidade de compreender como as imagens de conflitos armados são trabalhadas no âmbito global. Assim, no segundo semestre de 2010, através do Programa de Doutorado no Brasil com Estágio no Exterior (PDEE) da Capes, fomos pesquisar na Hemeroteca Municipal da cidade Lisboa os principais jornais portugueses, com o auxilio do Professor Doutor Jacinto Godinho da Universidade Nova de Lisboa. É importante ressaltarmos a existência e importância na atualidade das agências internacionais de notícias na reverberação de imagens.

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Ao reproduzir as imagens destas mídias percebemos de imediato a utilização das agências de fotografia. E, a partir desta observação, uma das questões que buscamos compreender refere-se à construção pela mídia dos conflitos pesquisados já que em cada país utiliza-se em sua maioria o recurso de compra de imagens de agências de notícias. Como cada conflito com especificidades econômicas e políticas distintas é representado pelas mídias? A utilização das imagens das agências de notícias contribui para o esvaziamento do catálogo imagético ocidental? Este esvaziamento é proveniente da fluidez das relações da sociedade do espetáculo? Sendo estas algumas das questões que tentamos abordar e resolver neste trabalho.

O recorte temporal proposto aqui, 1961, 1967 e 2007, corresponde às guerras pesquisadas: Guerras Coloniais Portuguesas, Guerra dos Seis Dias (Questão Palestina) e guerra do narcotráfico na cidade do Rio de Janeiro. A escolha de analisar a maneira pela qual o conflito na então Província Ultramar de Angola foi retratado, no ano de 1961, se deu por dois motivos. Primeiramente, por se tratar de uma situação de guerra com características revolucionárias envolvendo questões coloniais no século XX. Esta guerra durou mais de uma década, e durante os anos de conflito existiram diversas configurações e interesses políticos envolvidos. O segundo motivo desta escolha se dá pela necessidade de compreendermos como a mídia portuguesa constrói sua produção imagética de guerra. Assim, teríamos um maior catálogo interno para produzir nossa análise das imagens da contemporaneidade naquele país. É importante ressaltar que durante todo o período em que as Guerras Coloniais aconteceram, os jornais portugueses vivenciavam censura do então governo Salazarista, o que dificultou a publicação de muitas imagens. Por outro lado, produziu uma questão interessante da falta do registro imagético da guerra. O que ocasionou numa exaltação através das imagens do então presidente e da vida nas Províncias Ultramarinas.

A existência da censura do Governo Salazarista, em 1961, e a escolha da Questão Palestina como objeto deste estudo fez com que incluíssemos as imagens publicadas nos jornais portugueses da Guerra dos Seis Dias no ano de 1967. Assim, investigamos como os jornais lusitanos produziriam a cobertura da crise no Oriente Médio ao mesmo tempo em que o próprio país vivenciava seis anos de guerra brutal em suas províncias no continente africano.

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Antes de iniciar os jogos na cidade, os Governos do Estado e Municipal da cidade do Rio de Janeiro, produziram uma mega-operação para isolar o tráfico de drogas das favelas que cercavam as principais vias de acesso à Vila do Pan, ao aeroporto e aos locais onde se realizariam os jogos. Em uma destas operações no conjunto de favelas da zona norte, denominado Complexo do Alemão, ocorreu uma das maiores operações militares da época, deixando uma quantidade de mortos e feridos que despertou o interesse da opinião pública. A mídia divulgou diversas matérias de uma guerra brasileira — inédita para muitos, porém cotidiana para milhares de cariocas.

No mesmo ano, completou-se 40 anos da Guerra dos Seis Dias (1967), que levou à consolidação do Estado de Israel em território antes ocupado pelo povo árabe e administrado pela Coroa Britânica. Esta guerra foi crucial para a truncada e turbulenta relação entre o Estado de Israel e o povo palestino — e passou a ser denominada como “A Questão Palestina” pela ONU (Organização das Nações Unidas).

Estes dois conflitos podem parecer desassociados e sem nenhuma relação imagética, porém, não foi o que despertou nossa atenção na época e levantou questões importantíssimas para este trabalho. Nos jornais brasileiros, no período em questão, foram publicadas estas duas imagens a seguir:

1

Jaafar Ashtiyeh- AP Marcelo Carnaval

      

1 Todas as imagens deste trabalho serão apresentadas sem suas legendas originais, estas estarão em nota

no final do trabalho. A escolha por esta forma de apresentação ocorreu para que a legenda explicativa não interfira na leitura da imagem.

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Colocadas assim, dispostas uma do lado da outra e sem legenda nem crédito, é possível associá-las e acreditar que compartilham do mesmo momento. Porém, não se trata do mesmo conflito. A primeira imagem retrata um oficial israelense na cidade de Nablus na Palestina. A segunda imagem é do comandante da mega-operação no Complexo do Alemão na cidade do Rio de Janeiro. Ambas foram publicadas em jornais brasileiros em junho de 2007. As imagens não possuem qualquer especificidade do conflito que estão retratando. A violência vivenciada em Nablus é a mesma que vimos na segunda imagem? Será que os palestinos e os israelenses que vivem nesta cidade convivem com a violência truculenta da entrada de um “Caveirão2” nas ruelas em que moram? Ou a violência vivenciada na situação de guerra instaurada nos morros cariocas pode ser comparada ao sofrimento da explosão de um homem bomba na região da Palestina? A resposta é imediata. Não, pois não são os mesmos conflitos, suas origens históricas e políticas são conhecidamente outras, no entanto, as imagens sugerem que fazem parte da mesma forma de violência. Isso ocorre devido à cristalização de um único padrão imagético para retratar e difundir qualquer forma de conflito armado. Assim, A Questão Palestina e a guerra contra o narcotráfico na cidade do Rio de Janeiro tornaram-se imageticamente o mesmo conflito armado, ignorando as especificidades de cada uma das situações de guerra. E a reprodução desta forma de representação imagética propicia o empobrecimento do catálogo imagético ocidental.

Para resolvermos as questões apresentadas a cima e as demais que foram desenvolvidas durante os cinco anos de pesquisa utilizamos como metodologia duas dimensões de análise. A primeira dimensão privilegiou os fatores externos de cada conflito. Isto é, nos debruçamos nas circunstâncias políticas e históricas que levaram à deflagração de cada situação de guerra apresentada, nesta etapa a tipologia proposta anteriormente nos norteou. Já a segunda dimensão refere-se exclusivamente às análises das imagens coletadas das mídias impressas estudadas. Trata-se, portanto, de uma análise interna que foca tanto a estrutura própria de cada imagem quanto uma abordagem comparativa entre imagens. Nossas análises não são norteadas pelos estudos da semiótica, esta distinção acontece por dois motivos, primeiramente não fazemos separação na imagem dos signos e significados que podem aparecer, isso não quer dizer que não consideramos os signos e as relações simbólicas, estas lá estão e, em segundo,

 

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por não colocarmos as questões relacionadas ao universo imagético à linguística. As imagens aqui analisadas necessariamente têm como ponto de partida a sua relação de poder e de disputa política nas instituições da sociedade que vivemos.

Este trabalho está dividido em duas etapas cada uma com dois capítulos. A primeira parte denominada Guerra, refere-se a investigação do universo dos conflitos armados e seus desdobramentos em relação às possíveis situações de guerra identificadas no objeto pesquisado. Já a segunda parte nomeada de Imagem, abarca questões do universo da imagem e sua especificidade como fotografias de conflitos armados. Nesta segunda parte, as questões metodológicas, da construção do um catálogo imagético ocidental serão trabalhadas e propomos uma tipologia para as imagens dos estados de violência.

O primeiro capítulo intitulado “Sobre o Guerreiro e Situações de Guerra”, está dividido em duas etapas. Aqui propomos a investigação sobre a guerra e o ser social a partir de duas formas de linguagem. Na primeira etapa, a escrita é utilizada para elaborar nossa discussão. Para isso utilizamos o trabalho de Thiago Rodrigues, Guerra e Política nas Relações Internacionais (2010), como fio condutor da nossa investigação. A partir das considerações apresentadas pelo autor focalizando as correntes realista e liberal que dividiram o pensamento das questões referentes à guerra no Relações Internacionais, partimos para a investigação do que seriam as situações de guerra na sociedade atual já com a configuração do Estado Moderno. Para isso, juntamos à nossa argumentação os autores Hannah Arendt (2010), Michael Wieviorka (1997) e Fréderíc Gros (2009), que buscaram no estudo da violência compreender os fenômenos ocorridos no mundo Pós-Segunda Guerra Mundial. Constatamos que, na atualidade, a guerra não é mais uma guerra justa como pensava Clausewitz e Keegan, onde o Estado e a ética prevaleciam. (RODRIGUES, 2010) Encontramos hoje o que Grós (2009) nos apresenta no seu livro, Estados de Violência, uma nova forma de configuração dos espaços e das próprias relações dos conflitos, assim cria-se o que chamamos de situações de guerra a partir das quais estudaremos as imagens. Na segunda etapa deste capítulo, propomos aos leitores que observem imagens do universo das artes plásticas de narrativas de guerras. Esta seleção está neste momento, pois cremos que nestas imagens as narrativas épicas e o tempo da guerra estão presentes.

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estudado para conseguirmos compreender a particularidade política e econômica que envolve cada uma dessas situações de guerra. Em seguida, propomos a partir das questões levantadas no primeiro capitulo e da tipologia da guerra proposta por nós, compreender os fatores que fazem cada um dos conflitos pesquisados ser uma situação de guerra diferente e específica dentro do que se configurou na atualidade, como colocou Hardt e Negri (2001), na nova ordem Imperial e dos estados de violência. Assim, agregamos aqui alguns autores que trabalharam especificamente com a violência na América Latina tal como Alba Zaluar (1994) e Muniz Sodré (2006), particularmente com a realidade carioca.

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Antes de entrarmos nas questões do último capitulo, gostaríamos de fazer algumas considerações que estão presentes no pensamento dos autores do Império (2001) e Multidão (2005), tais colocações irão corroborar as questões apresentadas do segundo aspecto da imagem. Hardt e Negri baseiam-se em pressupostos de Michael Foucault da biopolítica para mostrar como as relações entre a comunicação e o poder estão enraizadas na ordem Imperial e assim passam a determinar a construção do imaginário nesta nova ordem global. Na nova ordem mundial as novas redes de comunicação tornaram-se apoiadoras para sua perpetuação, ou seja, a comunicação na ordem imperial não somente difunde, mas organiza a globalização multiplicando e estruturando interconexões por intermédio das redes, proporcionando a assim, um grande domínio para a indústria da comunicação dentro da nova formulação da estrutura do império. (HARDT E NEGRI, 2005)

(...) o poder, enquanto produz, organiza, enquanto organiza fala e se expressa como autoridade. A linguagem à medida que comunica, produz mercadorias, mas, além disso, cria subjetividades, põe umas em relações às outras, e ordena-as. A indústrias de comunicação integram o imaginário e o simbólico dentro do tecido biopolítico não simplesmente colocando-os a serviço do poder mas integrando-os de fato em seu próprio funcionamento (...) (HARDT E NEGRI, 2005: 52)

Assim, a construção do imaginário social de cada povo é na nova ordem global corrompida e a todo instante reverbera-se discursos das instituições, impossibilitando uma formulação crítica. Porém, veremos no terceiro e quarto capítulo da tese que existem possibilidades de quebrar este circulo vicioso desta formulação imperial e espetacular para assim, possibilitar o resgate da consciência crítica e do imaginário social.

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Antes de penetrarmos no universo proposto neste trabalho e iniciarmos a leitura dos capítulos, propomos uma rápida observação das quatro imagens a seguir. Este exercício é uma tentativa de compreender como o catálogo imagético ocidental se constrói e se reproduz nas imagens fotográficas. E darmos uma indicação de como este se faz presente ao sabermos ver/sentir imagens. Para isso é preciso lembrar algumas questões que foram abordadas ainda na dissertação de Mestrado3 quando discutimos o fotojornalismo e a associação dos discursos pelas mídias nacionais. Na ocasião, já buscávamos compreender a produção do catálogo imagético, porém, de cada fotografo. Acreditamos que a imagem fotográfica é uma construção particular de cada fotógrafo que utilizando o seu repertório de vida, passa a olhar/ver o mundo e registra-o produzindo uma construção cíclica da formação do seu repertório particular imagético. A construção de uma fotografia, como nos coloca Boris Kossoy (1999) é uma estrutura complexa de aspectos subjetivos relacionados às questões pessoais/profissionais de cada fotógrafo. Cada construção imagética faz parte de uma relação cultural/estética/técnica que determina quais serão as escolhas do fotógrafo ao registrar a cena que está presenciando. A carga cultural no fotógrafo manifesta-se através das influências que cercaram sua vida, onde este nasceu e como viveu. A parte técnica reflete-se nas escolhas de objetiva, enquadramento e câmera. Por fim, a parte estética compreende a forma como a imagem será construída e as referências que serviram como base para construção da mesma. Acrescentamos à composição subjetiva proposta por Kossoy, o momento do “clic”: como o fotógrafo se posiciona perante o assunto escolhido e qual é a relação com o objeto fotografado no momento em que irá fotografar. (MARANHÃO, 2007)

A seguir apresentamos duas imagens que foram produzidas com uma diferença de aproximadamente 400 anos. Ambas expressam a mesma temática, com uma semelhança incrível na construção imagética na hora de representar o tema escolhido. A primeira imagem é uma pintura produzida pelo francês Enguerrand Quarton em 1455. A segunda imagem é uma fotografia da época áurea do fotojornalismo produzida por W. Eugene

 

3 O poder da imagem fotográfica uma analise das imagens publicadas nas revistas Veja e IstoÉ de Luiz

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Smith em uma de suas reportagens especiais como correspondente da revista Life4 no ano de 1945.

Enguerrand Quarton

Eugene Smith

A cena vista é uma passagem da Bíblia em que Maria mãe de Jesus Cristo o segura após retirarem-no da cruz onde foi crucificado e morto pelos romanos. Não podemos negar que esta representação faz parte do imaginário coletivo ocidental, e que, de certa

      

4 Publicação Norte- Americana que até hoje é referência no tratamento propiciado ao fotojornalismo.

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forma, já está internalizada por todos, seja ou não religioso. Seja qual for à escolha de suporte, ao vermos uma mãe segurando um filho como se esta embalasse seu rebento pela última vez, associaremos com a passagem bíblica.

Não afirmamos que necessariamente o fotógrafo W. Eugene Smith viu ou teve algum contato com a primeira imagem do século XIX. A forma escolhida de representar a mulher que segura seu filho é referência a todas as representações de “Pietás” produzidas até agora ou mesmo que virão a ser produzida no mundo ocidental. Em algum momento de sua vida, da sua construção do repertório imagético individual, o fotógrafo teve contato com esta forma de representação e pode assim, construir sua própria “Pietá”.

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Peter Paul Rubens

Gil Cohen Imagen/Reusters

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Capítulo I – Sobre o Guerreiro e Situações de Guerra

Eddie Adams

Antes mesmo de pensarmos as imagens de guerra, será necessário refletir sobre a guerra e como esta prática está presente na humanidade desde que esta existe. Uma atividade que, em certas regiões, se tornou corriqueira sendo a forma de resistência encontrada por partes de sua população.

Este tema é atualmente discutido no âmbito das relações internacionais e nas ciências políticas. Aqui partiremos de autores, tais como Pierre Clastres, Hannah Arendt, John Keegan, Thiago Rodrigues e Frédéric Gros, para construir nossa análise. Pretendemos, assim, clarear o entendimento da existência das políticas que se transbordam em conflito, da participação do guerreiro, ou do ethos do guerreiro neste processo. Este transbordamento está presente tanto na resistência Árabe (Intifada) quanto no “Exército dos Pés Descalços” no complexo do alemão no Rio de Janeiro no final do ano de 2010. Nossa preocupação é compreender por que as guerras que iremos trabalhar aqui5 com especificidades diferentes são registradas e representadas de formas

idênticas para o mundo midiático.

É necessário lembrar que estas imagens vinculadas na atualidade são fruto da Sociedade do Espetáculo, este conceito é trabalhado por Guy Debord. O autor apresenta uma nova perspectiva para se compreender a sociedade moderna. Coloca que as novas

      

5 Conflito israelense-palestino, conflito no conjunto de favelas do complexo do alemão no Rio de Janeiro

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aparece, dizendo sempre a mesma coisa com a finalidade d

der na época de sua gestão totalitária das condições de existência.

onstrução das imagen

e, o que detém a força, a violência constantemente presente nas situações de guerra.

       

relações cristalizadas após a Revolução Industrial juntamente com a consolidação da sociedade burguesa, criaram uma sociedade baseada na relação espetacular. Nesta, o espetáculo, tornou-se uma forma de unificação que produz uma falsa consciência da existência, uma unicidade na sociedade gerando somente a ilusão. Esta construção ilusória tem sua expressão na dominação econômica em que a realização humana passa do ser para o ter e a expressão do ter submerge no prestigio imediato. O espetáculo produz na sociedade uma alienação social, agindo através das imagens e dos meios em que estas são difundidas. As imagens tornaram-se a medida para esta sociedade. Não existe uma realidade e esta falsa realidade é expressa a partir da produção do espetáculo, o que aparece é bom, o que é bom

e ser sempre ele mesmo6.

A sociedade que se baseia na indústria moderna não é fortuita ou superficialmente espetacular, ela é fundamentalmente espetaculoísta. No espetáculo, imagem da economia reinante, o fim não é nada, o desenrolar é tudo. O espetáculo não deseja chegar a nada que não seja ele mesmo” (aforismo 14) (...) “O espetáculo é o discurso ininterrupto que a ordem atual faz a respeito de si mesma, seu monólogo laudatório. É o autorretrato do po

(aforismo 24) (DEBORD, 1997)

As imagens que estudaremos neste trabalho relacionam-se e são fruto desta forma de sociedade citada acima. Investigaremos em um primeiro momento as formas da guerra e de violência para, em um segundo momento, compreender a c

s neste mundo de um discurso imagético único de guerra/conflito.

Em toda a história da humanidade encontram-se conflitos seja entre os povos indígenas nas Américas ou nas passagens bíblicas e mitológicas. A guerra ou o ato de guerrear está presente nas relações humanas, e a figura do guerreiro está em todos os relatos de conflitos sejam épicos ou não. Mas será que existe uma diferença entre o ethos guerreiro nas sociedades primitivas e na atual? Colocamos esta primeira interrogação, pois encontramos nos autores trabalhados referencias ao ser guerreiro, o praticant

O guerreiro seja solitário ou parte integrante do corpo militar é o agente, a figura que possui as qualidades para se lançar através da força, dos sentimentos para a guerra e assim defender os objetivos traçados. Frédéric Gros nos mostra que a figura do

 

6 Para saber mais da relação da imagem fotográfica e a Sociedade do Espetáculo ver dissertação de

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constrói seu imaginário e conduta, é através da coragem que esta relação se f

onsabilidade: sta

formas discursivas: discurso naturalista/ discurs

e a guerra, segundo o autor, e

guerreiro independe da “cultura” e para este existe uma ética própria, além da pulsão para a morte. A sua postura ética se inscreve durante a guerra, nos diz o autor e a partir de uma relação mítica

ortalece.

(...) a coragem do guerreiro (...) é a força que se exalta e alimenta com sua afirmação, se comove. A guerra fresca e alegre (...) a coragem é sobretudo expor-se ao sentido em que há verdadeiramente coragem senão exteriorizada, coragem que se mostra (...) a ética guerreira é feita dessa resp

ela constrói a unidade de um sujeito como projeto de força, coloca em apo de si diante de um outro. (...) (GROS, 2009: 18-22)

Outro autor que nos dará um norte para esta discussão é Pierre Clastres que nos apresenta três visões iniciais para compreender a relação entre guerreiros/sociedade e guerra. Clastres divide seu argumento em três

o econômico/discurso relativo à troca.

No discurso naturalista, o autor procura desmistificar a associação entre o caçador e o guerreiro. Aqui acredita que para obter a sobrevivência através da caça é necessária certa dose de agressividade e saber manejar as armas. Assim, este que é o caçador possui e está imbuído de uma violência para assegurar sua sobrevivência tornando-se “naturalmente” um guerreiro. A combinação do manejo da arma/violência/agressividade possuiria a força necessária para exercer o poder político sobre a comunidade. Porém, Clastres adverte que esta forma de visão reducionista do social ao natural, do institucional biológico, pode provocar equívocos, pois a caça e a guerra são motivadas por fatores distintos. “(...) (o que) motiva principalmente o caçador é o apetite com exclusão de qualquer sentimento (...)”7

stá enraizada no ser social, na cultura das comunidades.

Para o discurso econômico as sociedades primitivas se relacionariam com uma economia miserável, onde não haveria recursos para todos seus integrantes proporcionando uma guerra pela sobrevivência. Porem o próprio autor desmistifica este discurso ao mostrar que estas sociedades procuram satisfazer as necessidades materiais produzindo conforme suas necessidades. Logo, relacionando-se muito mais com uma abundância do que com a miséria que o olhar europeu procurou classificá-la. “(...) a universalidade da abundância primitiva impede precisamente que possamos relacioná-la

      

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l entre os mesmos, estando no fracasso destes empreendimentos a dependência da paz ou da guerra.

se, realizar-se efetivamente quase sempre, salvo em casos de acidente. Então surge a violência e a guerra. (...) (CLASTRES, 2004: 239)

scenta que ambos, troca e guerra, existem mutuamente nas socieda

a. Seria, então, na unicidade d

que a soma de grupos que ela reúne, é esse mais a determina como unidade

principalmente se houver uma relação mal sucedida das transações comerciais ou não.

       

com a universalidade da guerra (...).”8 Para solucionar este ethos guerreiro e a relação da guerra n as sociedades primitivas o autor investiga a relação política entre as sociedades, ou melhor dizendo, a relação comercia

(...) a guerra não possui por si mesma nenhuma positividade, ela exprime não o ser social da sociedade primitiva, mas a não–realização desse ser-para-a-troca: a guerra é o negativo e a negação da sociedade primitiva na medida em que a troca é a essência mesma da sociedade primitiva (...) o que a sociedade primitiva quer é a troca (...) o qual tende constantemente

realizar-Para o autor esta afirmação torna-se reducionista, pois não se pode simplesmente associar a guerra com o fracasso das relações comerciais. Logo, o discurso da troca também se apresenta falho, mas já nos dá um indício importante para compreender o ethos guerreiro. E acre

des primitivas.

Assim, a guerra faz parte do ser social primitivo, mas possui um fim político. Há uma fragmentação dentro do corpo social e estaria nesta a causa que leva à violência e consequentemente à guerra. Se existe a escassez nos meios de subsistência, também existe uma concorrência entre as sociedades criando assim um círculo e um vínculo de dependência que se expressa muito além da relação de troca e guerr

a política que as sociedades primitivas ser relacionariam.

(...) a comunidade como conjunto, portanto, reúne e ultrapassa, interrogando-as, num todo, as diversas unidades que constituem e que na maioria das vezes, inscrevem-se no eixo do parentesco, famílias elementares, entendidas, linhagens clã, metades e etc., mas também, por exemplo, sociedades militares confrarias cerimoniais, classes de idade etc. Assim, a comunidades é mais

propriamente política (...) (CLASTRES, 2004: 251)

Logo, Clastres nos indica que nas sociedades primitivas o ato de guerrear está presente na organização do corpo social. Mesmo que esta busque uma relação de animosidade com sua sociedade vizinha, a guerra em alguns momentos acontecerá, pois existe a “vontade de guerrear” e esta pode irromper

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que o menor incidente logo transforme a diferença desejada em contenda real. Violação de território, agressão suposta

rnas esta questão apresentada por Pie

l, onde existiam dois blocos ideológicos fortes, socialistas liderados pela então U

criar o Estado através de um pacto social que garantiria a não agressão proveniente do estado de natureza humano, onde o medo iminente da

spaço internacional sem freios coercitivos, o que pode um stado dependerá da sua competência no planejamento e execução da política (...) a vontade de cada comunidade de afirmar sua diferença é suficientemente vigorosa para

do xamã do vizinho: não é preciso mais para que a guerra irrompa (...) (CLASTRES, 2004: 255-256)

Antes de continuarmos esta investigação do ethos guerreiro, levantaremos outra questão significativa. Será que nas sociedades mode

rre Clastres sobre as relações de troca/violência/guerra não poderiam ser maximizadas para as relações internacionais atuais?

Segundo Thiago Rodrigues(2010), atualmente existem duas correntes relevantes no âmbito das Relações Internacionais que discutem a existência de uma paz na guerra e entre as guerras. Buscamos este autor, pois ele nos dá alguns indícios interessantes para produzirmos uma correlação entre a guerra e a paz da atualidade. Existem diversas distinções entre as especificidades de governos tribais e os governos modernos (estas não serão contempladas aqui), mas em relação ao ato de guerrear não podemos ignorar que independe do Estado ser moderno ou não, a guerra está lá como parte do ser social.

Para sua investigação Rodrigues buscou distinguir duas das principais correntes de pensamento das Relações Internacionais, realista e liberal. Também mostrar como estas se firmaram no universo da RI, baseando suas teorias em autores que tinham como ponto de partida as relações entre os Estados o comércio, entre ambos e a moral política. É importante ressaltar que ambas correntes surgiram ainda num mundo Pós-Segunda Guerra Mundia

nião das Repúblicas Socialistas Soviéticas e capitalistas liderados pelos Norte Americanos.

Os adeptos da corrente do pensamento realista basearam-se nas teorias hobbesianas do estado de natureza humano. O homem viveria no estado de natureza sendo seu algoz e para isso seria necessário

morte violenta estaria presente.

(...) Em um e E

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entes, e a paz viria pela tensão entre os grupos afins, através de um equilíbrio de poder. Este equilíbrio se daria a partir de

interesses ganhos e

diminuição

dos à guerra seria iminente e iolent

rente de pensamento liberal nas Relações Internacionais também via na riação de um contrato social a preservação da paz, porém a partir do discurso de

Emanuelle uração de

federações.

vado esforço de negação da liberdade plena e de aceitação de limites à livre perseguição das vontades. Exigiria, por fim, outra aliança, versão

s, os Estados, através de acordos de Assim, extrapolando a teoria hobbesiana para o plano internacional, os realistas, apontaram a existência de uma possível insegurança entre os Estados devido à inexistência de uma única força para assegurar a coexistência dos mesmos. Logo ocorreria um equilíbrio tenso entre as forças exist

nacionais de cada Estado, em busca de uma maximização de de perdas entre suas nações aliadas.

(...) as relações de poder (...) pressupõem uma fonte da qual emana poder sobre um alvo a ela sujeitado. Trata-se de um modo de pensar as relações de poder a partir da lógica da soberania do estado com efeitos de poder sobre os súditos ou cidadãos. (...) (RODRIGUES, 2010: 56)

A falta de uma autoridade central para “mediar” os Esta

v a tendo a paz assegurada somente no equilíbrio de poder. Mas é importante ressaltar que essa relação do equilíbrio de poder para assegura a paz produz, uma tensão constante, armada como um frágil suspiro entre guerras.

A cor c

Kant do contrato social firmado por leis civis e da estrut

(...) o direito cosmopolita que Kant defende como primordial para a definitiva superação do estado de natureza se baseie na noção de hospitalidade universal por meio da qual todo homem teriam o direito de circular livremente e de serem acolhidos por toda Terra, entendida como patrimônio comum da espécie humana. Esse direito cosmopolita operaria como base de uma constituição civil universal que garantiria, com sua existência e pela observância de todos os Estados, a sobrevivência de cada experiência doméstica de estado de sociedade. Sua celebração exigiria, de cada Estado, um reno

potencializada do pacto social entre homens: um acordo novo, nunca antes celebrado que estabelecesse uma espécie particular de liga (bund, aliança, federação) que se pode chamar de aliança da paz(...) (RODRIGUES, 2010: 75-76)

Logo, para este grupo de pensadore

(37)

rdem econômica as garantias

social, já na modern

ão apresentada por Rodrigues sobre as correntes realista

generalizada como a paz civil do grupo liberal, nem m mo a guerra de todos contra todos, como o temor do grupo realista. Ambas

feririam um razão para

as guerras n

não pode consentir na paz universal que aliena sua liberdade, assim como

Porém, para ambas correntes existiria uma situação em que nenhum dos pactos conseguiria garantir a sobrevivência da paz, na anarquia. Há outro ponto de convergência das correntes. Ambas têm no pacto social a conservação da paz, tendo na preservação do Estado, no regime de propriedades e na o

necessárias para a não deflagração de guerra. Ambas conservariam a paz através do Estado, sendo assim, a guerra refere-se às relações interestatais, pois cabe a cada Estado soberano buscar a paz, tendo na política o exercício desta.

Tanto para Clastres como para Rodrigues é necessária a relação de amigo/inimigo para a concretização da guerra. Porém, é preciso frisar que há uma diferença primordial nas situações de guerra nas sociedades primitivas e moderna. No caso das sociedades primitivas a guerra pertence à organização

idade esta se relaciona ao Estado. Com o surgimento do Estado, este como um corpo social único e coeso a função da guerra se altera por completo tendo uma função política diferente da função social existente nas sociedades primitivas.

Mas antes de dissecarmos a relação entre a figura do amigo /inimigo, presente em ambos os autores, é preciso ressaltar outros aspectos discutidos por Clastres que virão corroborar nossa questão da extrapolação do ethos guerreiro nas sociedades primitivas para as situações de guerras na atualidade. O autor nos apresenta algumas colocações que remetem à relaç

s e liberais. Obviamente existem diferenças entre a organização social entre os chamados grupos primitivos e os Estados modernos. Porém propomos uma reflexão em torno do ato político de guerrear.

Dito isso, é preciso também lembrar que, nas sociedades primitivas, não é possível existir uma relação de amizade

es

princípio das sociedades locais. Não sendo estas as situações da estas organizações sociais.

(...)

(38)

roximar das relações de amigo e/ou inimigo, que se procura produzir uma al

anjo, entre os poderes de grau de independência”9.

Nas m outros

grupos oco

deixando de ser por necessi ade de sobrevivência. Assim, a forma com que cada Estado irá se organizar

comercialm omo uma

possibilidad

ssociados, tornando estas associações um tanto quanto voláteis e relacionadas

diretamente is autores

a as questões referentes aos conflitos associam-se às relações políticas e comerciais.

       

Porém estas relações, tanto da troca como da guerra ocorrem em esferas distintas que poderíamos ap

iança no primeiro caso e com o segundo existe sempre a iminência de conflitos. Sendo então esta relação um negócio de “calculo ou arr

sociedades primitivas, segundo Clastres, as aproximações co rreriam por necessidades e não por desejo.

(...) não é a troca que tem a primazia, é a guerra (...) a guerra implica a aliança, a aliança conduz a troca. (...) A guerra não é um fracasso acidental da troca, a troca é que é um efeito da guerra. (...) (GROS, 2009: 120)

Esta relação de amigo/inimigo encontramos também na argumentação das Relações Internacionais atuais, já que se associa a esta questão a relação de troca entre os grupos. Nas sociedades primitivas estas trocas estão ligadas à sobrevivência de cada povo. Já na atualidade — de forma generalizada — esta relação de troca pode ser entendida como relações comerciais entre cada Estado, não

d

ente com cada nação amiga e/ou inimiga também aparece c e para os pactos de guerra e/ou de paz na atualidade.

(...) o inimigo, assim é um grupo politico situado em oposição e em relação de exterioridade irredutível que leva à guerra. (...) o inimigo é apenas público, posto que se refere a semelhante agrupamento, e em particular a um povo integro, por isso mesmo faz-se público(...) (RODRIGUES, 2010: 89)

Acrescenta-se ainda a esta questão, a relação comercial entre nações amigas que por momentos podem se tornar inimigas e “travar batalhas nas relações comerciais”10 sem que uma guerra efetiva seja declarada. É importante ressaltar aqui que nos Estados modernos, os tratados — no caso comercial, político — passariam por convenções e o seu cumprimento dependeria da vontade e/ou da capacidade de cada um dos Estados a

com a sobrevivência destes no âmbito internacional. Para estes do

 

(39)

a guerra é quase tão antiga quanto o homem e atinge lugares mais tos do coração humano em que o ego dissolve os propósitos racionais,

entação” da guerra oderia ser apresentada como uma “guerra civilizada” onde a presença do Estado regulament

uerra, ou melhor, e dita civilizada, a agressão ao próximo (em termos de violência e guerra) é permitido pelas leis

do esta regulamentação ocorrer em várias

o ódio entre os povos. “A guerra em seu princípio elementar seria um ato de violência

(...) secre

onde o orgulho, onde a emoção é suprema, onde o instinto é rei (...) (KEEGAN, 1995: 19)

É preciso lembrar que nas situações de guerra o homem está submetido a leis e códigos quando se travam as batalhas. Para Keegan11 esta “regulam

p

aria o que seria ou não permitido em situações de guerra.

(...) nossas instituições e leis, dizemos para nós mesmos, estabeleceram tantas restrições à potencialidade humana para a violência que, na vida cotidiana, nossas leis irão puni-la como criminosa, enquanto sua utilização pelas instituições de Estado tomará a forma particular de “guerra civilizada, ou seja, o Estado promove leis que possibilita a g

justificativas e normas para a guerra, assim na sociedad

do Estado eximindo o homem a civilização de uma relação de proximidade com a destruição do próximo. (...) (KEEGAN, 1995: 21)

Assim, acrescentemos a esta relação da ordem regulamentada pelo Estado, a criação da figura do pacificador, ou mesmo de um ou mais Estados pacificadores. No momento em que a guerra é aceita como parte das relações entre Estados (federações), cria-se uma normatização para a prática. Poden

instâncias, seja através de leis internacionais que restringem abusos de guerra ou mesmo na utilização da tecnologia nos combates.

Um autor trabalhado tanto por Keegan quanto por Rodrigues é Clausewitz, que também discute a guerra e a política. A ideia, apresentada por Rodrigues, deste pensador militar prussiano refere-se ao sentimento do ódio e da hostilidade entre os Estados. Esta relação surge da concepção da guerra como um duelo de grandes proporções. A partir desta configuração poderíamos compreender a animosidade nos conflitos. Para que haja o conflito, segundo os autores seria necessário ódio, ou como Rodrigues coloca “uma animosidade”, na relação entre os Estados deve existir uma “intenção hostil” que acenda

      

11 É importante ressaltar que no livro Uma história da Guerra, John Keegan apresenta uma posição

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como a essência da guerra, ou como o militar prussiano a denomina, “guerra absoluta”.

ue ela nunca se deflagra subitamente sulta e sobre a qual reage. (...) (RODRIGUES, 2010: 104)

a para a relação entre os Estados dependendo do fim olítico que cada parte deseja.

como inteligência de Estado personificado que estabelece os objetivos da guerra, estes que são traduzidos em fins políticos. (RODRIGUES, 2010: 108)

nal procura

stado a questão da violência. Esta foi trab

excitado pelo ódio que levaria à derrota completa do oponente (...)”12. E esta ideia de ódio apresentada por Rodrigues aparece em Clausewitz

(...) a guerra absoluta, apesar de constituir a prática guerreira que se desenrolaria se as paixões humanas (...) não tivessem freios, não ocorre de fato, ficando circunscrita ao plano abstrato. Na prática, a guerra não é um duelo porque não é um ato completamente isolado, que surge bruscamente e sem conexão com a vida anterior do Estado e, tampouco, consiste numa decisão única ou em várias decisões simultâneas. A guerra não é um ato isolado nem de imediata resolução porq

e desponta sempre de uma situação política da qual re

Porém, mesmo a guerra em termos abstratos (absolutos) é regida por fatores relacionados à vida do Estado, subordinada à ordem militar e consequentemente à política. A guerra passa ser o meio em forma de estratégia militar para se conseguir o que a política de cada Estado determina. Compreendida, aqui como um “Ato Político”, “uma ação de origem política, que é conduzida pela política visando fins políticos”13.

Sendo a guerra uma alternativ p

(...) os atos de guerra prosseguem enquanto as metas pela política, pelo poder politico, não foram atingidas; assim, a guerra dura apenas o tempo suficiente para permanecer submetida à vontade de uma inteligência condutora (...) ou seja, o gabinete civil, ou soberano que comanda o Estado. É a politica

É necessário que exista um retorno político para os Estados que estejam em guerra, podendo ser este da ordem de criar maior visibilidade no campo internacio

ndo construir novas relações inter-Estatais no futuro. (RODRIGUES; 2010) Iniciamos este capítulo buscando compreender o ethos do guerreiro. Para isso buscou-se autores que nos norteassem neste sentido. A significação da guerra tornou-se algo natural para entendermos este ethos. Pois é na guerra ou na situação de conflito que ele aflora. Encontramos uma relação com o Ato Político e a vontade de guerrear. É preciso compreender dentro deste “guerreiro” e do E

alhada por Arendt, Wieviorka e entre outros.

      

(41)

cionam a pulsão da violência ao ser rimiti

ussão sobre as relações de poder. O poder seria onstituído por uma multiplicidade de correlações e estaria em vários âmbitos, não somente hie

não se fixaria em um ponto, mesmo que pudesse cristalizar nódulos, como o Estado. O poder não é uma

poder estaria no âmbito da ação e estaria sempre se relacionando à outras

conceitos. Em um primeiro omento são apresentados como sinônimos de poder e violência para, em seguida, diferenciar

enas enquanto o grupo se conserva unido. Quando dizemos que alguém “está no poder” na

       

O homem, tanto em Keegan como em Clastres, é apresentado como um ser violento por natureza, e ambos os autores rela

p vo. Já Arendt e Wieviorka buscam a compreensão desta pulsão no homem atual, e nas situações que abarcam o Estado moderno.

Na guerra e no ato de guerrear há uma relação de poder. Neste sentido, é preciso discutir sua definição a partir de Rodrigues e em Arendt. A perspectiva de Rodrigues parte dos estudos de Foucault e sua disc

c

rárquico como o soberano.

(...) seria possível entender o poder como onipresente (...) porque ele se produz a cada instante, em todos os pontos, ou melhor, em toda relação entre um ponto e outro (...) o poder estaria em toda parte porque seria relacional, existindo no embate constante entre os indivíduos, grupos e vontades. (...) o poder (...) seria uma relação de força que

instituição (...) é nome dado a uma situação estratégica numa sociedade determinada. (RODRIGUES, 2010: 268)

A relação de

ações, porém esta buscaria sempre alterar o estágio em que as relações políticas se encontram.

Para Arendt o poder relaciona-se com a “capacidade humana de agir em conjunto”14. A autora busca compreender o poder para desassociá-lo da questão da violência. Produzir sua argumentação diferenciando

m

vigor, força, autoridade, violência e poder15.

(...) o poder corresponde à habilidade humana não apenas para agir, mas também para agir em concerto. O poder nunca é propriedade de um indivíduo, pertence a um grupo e permanece em existência ap

realidade nos referimos o fato de que ele foi empossado por certo numero de pessoas para agir em seu nome (...) (ARENDT, 2010: 60-61)

 

14 ARENDT, Hannah. Sobre a violência, Pág 11.

15 Para saber mais sobre as diferenças propostas por Arendt vide pg 60-62 do livro Sobre a Violência.

(42)

a se utilizem as mais modernas tecnologias. A vontade do Estado procurará uscar seus objetivos e terá a guerra como um fim, fazendo do poder parte desta trama de vontade

níveis.

a sustentam, tais como os ditos para seus reis, ou mesmo nos governos burocráticos, “(...) o poder é de fato a

essência de trumental;

como todos

ra-se a si mesma em um apelo do passado, enquanto a justificação remete a um fim que jaz no futuro. A

e e esafia a base do poder constituído, e em certos momentos pode destruí-lo por

completo. P chamados

de Primave 2011.

(...) Poder e violência são opostos; onde um domina absolutamente, o outro

       

Crê que o poder pertence às relações humanas e se faz necessário para que a guerra aconteça. Consecutivamente esta é uma das formas através da qual o poder se manifesta. Existirá sempre nas relações de poder a participação do indivíduo, ainda que na guerr

b

s, sendo por ele que as relações entre os indivíduos ocorram em diferentes

(...) a guerra seria (...) um principio de leitura das relações políticas, econômicas, sociais, enfim, das relações entre homens e das unidades políticas constituídas por elas e não uma propriedade do Estado. (RODRIGUES, 2010: 336)

Arendt alerta que poder e violência possuem naturezas muito distintas. O poder necessita da legitimidade que lhe é dada pelas partes que

todo o governo e não da violência. A violência é por natureza ins os meios (...)”16 e esta necessita ser legitimada.

(...) a legitimidade, quando desafiada, ampa

violência pode ser justificável, mas nunca legitima. Sua justificação perde em plausibilidade quanto mais o fim almejado se a distância do futuro (...) onde quer que estejam combinados, o poder é, como descobrirmos o fator primário e predominante. (...) (ARENDT, 2010: 69)

De certa forma a violência é o carrasco do poder, ela reproduz ou mesmo se insurg d

odemos ilustrar estas colocações com os últimos acontecimentos ra Árabe em países da África Mulçumana no primeiro semestre de

está ausente. A violência aparece onde o poder está em risco, mas, deixada a seu próprio censo, conduz à desapropriação do poder. (...) a violência pode destruir o poder; ela é absolutamente incapaz de criá-lo (...) (ARENDT, 2010: 73-74)

A discussão sobre a violência remete às questões ocorridas no mundo no Pós-Segunda Guerra Mundial e as relações ideológicas das décadas de 60 e 70. Uma das

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