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Autoria: Erika Penido Barcellos, Alvaro Bruno Cyrino

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Academic year: 2021

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Quão Internacionalizadas são as Nossas Multinacionais? Proposta de Metodologia e Resultados da sua Aplicação a Empresas Brasileiras com Atuação no Exterior

Autoria: Erika Penido Barcellos, Alvaro Bruno Cyrino

RESUMO

Modelos e indicadores para a medição do grau de internacionalização de empresas têm sido desenvolvidos por pesquisadores com focos em diferentes dimensões e variáveis.

Considerando a revisão da literatura e as práticas gerenciais observadas, este artigo propõe um instrumento para a medição do grau de internacionalização de empresas capaz de levar em conta a multidimensionalidade do fenômeno da internacionalização. O instrumento foi aplicado em 24 grandes empresas brasileiras com expressiva atuação internacional, com a observância das seguintes dimensões: mercados, ativos, recursos humanos, dispersão geográfica dos mercados, cadeia de valor, estrutura de governança e tempo de experiência internacional. A análise do estágio geral de internacionalização da amostra de multinacionais brasileiras, com base nos indicadores selecionados, mostra que essas empresas são

predominantemente de setores extrativistas e da indústria básica e indica que suas atividades internacionais possuem amplo respaldo em exportações, comandadas por ativos fixos e humanos nas respectivas matrizes.

INTRODUÇÃO

São dois os propósitos deste estudo. O primeiro é o de propor uma metodologia para avaliar o grau de internacionalização (“GI”) das empresas, à luz da literatura pertinente da área de negócios internacionais, que seja adequada às características das empresas brasileiras. O segundo é o de apresentar os resultados da pesquisa junto a 24 empresas brasileiras com expressiva presença internacional, a fim de verificar a validade e consistência da metodologia, bem como as características das multinacionais de origem brasileira.

O documento acha–se estruturado em quatro partes. A primeira busca discutir as diversas contribuições e métricas utilizadas na literatura para aferir o grau de internacionalização de empresas. As principais métricas propostas serão analisadas, bem como os seus pontos fortes e fracos e o seu grau de pertinência ao estágio de internacionalização das empresas brasileiras.

A segunda parte procura identificar o modelo conceitual e as dimensões utilizadas para a construção de um conjunto de indicadores destinados a avaliar o grau de internacionalização das empresas brasileiras. Serão identificados os critérios utilizados para a construção de um modelo de avaliação adequado às empresas brasileiras. O conjunto de variáveis operacionais e a definição das respectivas métricas também integram esta parte do documento. Na terceira parte serão descritas a metodologia de coleta dos dados e a estrutura dos indicadores. A quarta seção discutirá os resultados da aplicação dos sete indicadores à amostra de empresas

brasileiras, com a identificação do GI destas. A discussão final abordará os limites da pesquisa e as implicações futuras desse trabalho.

1- REFERENCIAL TEÓRICO

O conceito de grau de internacionalização corporativa

Medir o grau de internacionalização de empresas tornou-se um assunto discutido e

amplamente controvertido na literatura de negócios internacionais (Ramaswamy et al., 1996;

Sullivan, 1994, 1996). Ao mesmo tempo, o conjunto de teorias sobre internacionalização é tão amplo quanto o número de estudos empíricos realizados com o objetivo de testar o efeito do

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grau de internacionalização no comportamento e nos resultados das empresas. Como

argumentado por Sullivan (1994) e Hassel et al. (2003), os resultados insatisfatórios de alguns desses estudos podem ser atribuídos a métricas não confiáveis da internacionalização de empresas.

As discussões sobre o uso de métricas de internacionalização têm girado em torno de algumas questões. Uma delas é a necessidade de escolha de critérios com base em referenciais

teóricos, de tal forma que esses critérios possam ajudar a explicar causas e conseqüências da internacionalização das empresas. Outra questão bastante controversa, é a validade de se construir um índice unidimensional composto de internacionalização ou de se utilizar medidas individuais desagregadas.

Hassel et al. (2003) argumentam que a lógica para qualquer medida de grau de

internacionalização de empresas é seu potencial para ajudar a explicar importantes causas e conseqüências da expansão global de empresas. Assim, a validade das medidas depende do seu poder explanatório potencial. Além disso, segundo estes autores, ao invés de utilizar o grau de internacionalização das empresas como uma medida universal, ela deve vista dentro de um contexto de premissas teóricas utilizadas como base para o seu cálculo.

Por exemplo, teorias gradualistas presumem que o processo de internacionalização de empresas segue um padrão específico que começa por exportações, seguindo para atividades de vendas no exterior, e, então, para produção (Johanson e Vahlne, 1977). Neste caso, uma empresa com uma alta proporção de empregados no exterior deve ser considerada mais internacionalizada do que uma empresa com uma alta proporção de vendas internacionais.

Já no caso de se analisar os efeitos da internacionalização no desempenho da empresa, segundo estudo de Dunning (1996) a múltipla localização de atividades de valor agregado é considerada pelos seus dirigentes como um fator gerador de retornos positivos. Assim, seria esperado que a presença de uma empresa em vários países causaria um efeito linear positivo sobre o desempenho. Entretanto, os resultados de alguns estudos (por exemplo, Gomes e Ramaswamy, 1999) também indicam que o efeito da proporção de vendas externas é curvilíneo, com retornos decrescentes para empresas com uma alta proporção de vendas externas. Neste caso, a combinação de dois indicadores com diferentes efeitos esperados no desempenho poderia causar uma distorção na análise dos efeitos da internacionalização no desempenho da empresa (Hassel et al., 2003).

Entretanto, quando se pressupõe uma co-variância significativa entre as variáveis

selecionadas, alguns pesquisadores, como Hassel et al. (2003) e Sullivan (1994, 1996), acham justificável a combinação de indicadores para a construção de um índice agregado de

internacionalização. Segundo Hassel et al. (2003), a teoria gradualista de Johanson e Vahlne (1977), mencionada acima, suportaria a construção de um índice agregado, já que, por exemplo, a redução da proporção de vendas externas não significa uma redução na

internacionalização quando a proporção de ativos externos cresce. Pode-se argumentar, neste caso, que a empresa subiu um degrau no processo de internacionalização.

Esta posição é contestada por Ramaswamy et al. (1996), que criticam a proposta de Sullivan (1994) de construção de um índice unidimensional agregado de internacionalização, alegando que um índice composto reflete um efeito implícito de compensação, que equilibra baixos valores de algumas variáveis com altos valores de outras. Segundo estes autores, empresas com o mesmo índice composto não são idênticas em termos de internacionalização, pois

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registram valores diferentes para as variáveis escolhidas, o que conduz a diferentes

implicações para a coordenação, organização, estrutura, escolhas estratégicas e desempenho.

A conclusão desses autores é que índices compostos não aumentam o entendimento da internacionalização de empresas, pois o grau de internacionalização de uma empresa é um fenômeno multidimensional.

Em reação às críticas de Ramaswamy et al. (1996), Sullivan (1996) argumenta que o uso da técnica estatística de análise fatorial indica em seu estudo a existência de uma variável unidimensional latente para a aferição do grau de internacionalização. Ele explica também que seu índice composto melhora a qualidade da amostra, reduz erros aleatórios e

sistemáticos, fortifica a confiabilidade e a validade do conteúdo dos resultados, e contribui para a validação do construto. Seus argumentos a favor de um índice composto incluem a dificuldade de estabelecimento de um critério padrão e de clarificação da validade do conteúdo da medida, assim como a impossibilidade de se medir a confiança e de levar erros de medição em consideração quando se usa uma única medida (Campbell e Fiske, 1959).

Além disso, segundo Sullivan (1996), como uma variável unidimensional representa apenas uma porção limitada da medida analisada, ele tende a representar erroneamente o construto mais complexo. De maneira similar, quaisquer circunstâncias não usuais que venham a

distorcer a validade das medidas, contaminam, quando não arruínam, os resultados (Nunnally, 1978).

Ainda no contexto desta discussão, Hassel et al. (2003) defende o uso de um meio termo entre um índice universal e a medição de inúmeras variáveis individuais. Os autores argumentam que seria enganoso confiar em apenas uma variável singular escolhida para medir o grau de internacionalização de empresas. Além disso, alega que as medidas devem ser

multidimensionais para refletir o processo dinâmico de internacionalização, que conduz empresas para diferentes trajetórias nos mercados externos.

Por outro lado, Dorrenbacher (2000) afirma que há um consenso amplo que índices

compostos são mais adequados para a medição da internacionalização corporativa. Uma razão alegada é a multidimensionalidade da internacionalização, que leva à exigência da análise simultânea de diversas variáveis para o que fenômeno da internacionalização como um todo seja bem representado. Esta mesma razão sustenta que, dependendo do indicador utilizado, transações comuns podem gerar resultados ambíguos quanto ao grau de internacionalização.

Por exemplo, a modernização de uma fábrica no exterior conduz a um aumento da proporção de ativos externos, mas também, devido aos efeitos da modernização na redução de mão-de- obra, pode causar a diminuição da proporção de empregados no exterior. Outra razão expressa por Dorrenbacher (2000) a favor de índices compostos é que o uso de indicadores individuais não permite o controle sistemático de erros de medição, influências contingenciais e

manipulações de preços de transferência.

Dadas as diferentes teorias sobre internacionalização, pesquisadores da área de negócios internacionais desenvolveram diferentes métodos para medir e comparar o grau de internacionalização de empresas.

Os critérios e métricas adotados se baseiam em indicadores que podem ser classificados em três tipos: (1) estruturais, (2) de desempenho e (3) atitudinais. (Dorrenbacher, 2000; Sullivan, 1994) Além dessas três classificações, a literatura nos permite classificar um quarto tipo de indicadores: (4) de extensão. As características e métricas sugeridas de cada grupo

classificado de indicadores serão descritas a seguir:

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(1) Indicadores estruturais:

Indicadores estruturais buscam fornecer uma fotografia do envolvimento internacional de uma empresa em um determinado momento. Vários desses indicadores são relacionados às

atividades externas, como o número de países onde a empresa atua, o número ou proporção de subsidiárias no exterior, o número ou proporção de casos de envolvimento sem capital no exterior (ex. alianças estratégicas, franchising, etc.), o número ou proporção de ativos internacionais, o número ou proporção de valor adicionado no exterior e o número ou proporção de empregados no exterior (Dorrenbacher, 2000).

Outro grupo desses indicadores estruturais descreve a internacionalização da estrutura de governança da empresa através de indicadores como o número de mercados de ações nos quais uma empresa é listada, o volume/proporção de ações mantidas por estrangeiros, e o número ou proporção de estrangeiros no Conselho de Administração (Dorrenbacher, 2000).

(2) Indicadores de desempenho

Dorrenbacher (2000), distingue os indicadores de desempenho como aqueles que medem “o quanto o sucesso ou fracasso de uma atividade da empresa durante um determinado período (geralmente um ano) está relacionado à presença em países externos”. Segundo o autor, os dois principais indicadores de desempenho utilizados são vendas (geradas/destinadas a mercados externos) e lucro operacional (gerado pelas subsidiárias externas).

(3) Indicadores atitudinais

O terceiro grupo de indicadores, segundo Dorrenbacher (2000), busca identificar como as multinacionais enxergam os países externos e tratam as suas subsidiárias externas. O objetivo desses indicadores é aferir como de fato as decisões são tomadas em uma multinacional, e, conseqüentemente, como os executivos pensam ao realizar negócios ao redor do mundo.

Apesar do entendimento geral da importância desses indicadores na medição do grau de internacionalização de empresas, há dúvidas sobre a possibilidade de medição de aspectos atitudinais com a confiança estatística necessária. A literatura conta com vários indicadores atitudinais, cobrindo diferentes variáveis e utilizando diferentes escalas de medição.

Perlmutter (1969) desenvolveu um indicador qualitativo que distingue quatro orientações da diretoria da sede em relação às subsidiárias externas: etnocêntrica (orientação para o país de origem), policêntrica (orientação para o país destino), regiocêntrica (orientação regional) e geocêntrica (orientação global). Segundo Perlmutter e Heenan (1979), o grau de

internacionalização de uma empresa evolui da orientação etnocêntrica para a policêntrica, e, em seguida, da regiocêntrica para a geocêntrica. Os dois pesquisadores propõem um indicador composto de vários itens para a análise dessa orientação da empresa.

Um indicador atitudinal com uma maior capacidade de medição estatística foi desenvolvido por Sullivan (1994). Segundo ele, a orientação internacional de uma empresa aumenta com a experiência internacional dos altos executivos, medida através do número acumulado de anos de trabalho no exterior dividido pelo número total de anos de experiência de trabalho dos altos executivos da empresa.

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(4) Indicadores de extensão

Os indicadores estruturais, de desempenho e atitudinais descritos acima medem a intensidade da internacionalização das empresas, já que indicam o quanto as atividades estão

internacionalizadas em comparação com as atividades do país de origem (ou atividades totais). Assim, a maioria dos índices de intensidade medem, efetivamente, o grau de projeção externa de uma determinada dimensão considerada, independentemente do número de países nos quais a empresa atua.

Segundo Ietto-Gillies (2001), na análise do grau de internacionalização de empresas, além da intensidade das atividades internacionais, a extensão geográfica das mesmas deve ser

considerada. Para se medir o escopo geográfico do processo de internacionalização, geralmente são utilizados indicadores como o número de países onde uma empresa atua, o grau de concentração espacial das atividades da empresa e o grau de dispersão das atividades da empresa em torno de regiões e áreas específicas (Ietto-Gillies, 2001).

Por exemplo, Schmidt (1981) utiliza o índice de Herfindahl (índice de concentração) para avaliar as empresas numa escala entre distribuição completamente homogênea e distribuição completamente heterogênea das atividades externas em diferentes países. Uma segunda maneira de avaliar a variação geográfica da internacionalização corporativa é considerar o número de países nos quais uma empresa está presente. Assim, Ietto-Gillies (1998)

desenvolveu o chamado “índice de extensão da rede”, calculado como o número de países externos onde a empresa possui subsidiárias dividido pelo número de todos os países que recebem investimento direto externo, menos um (país de origem da empresa). Entretanto, com base na premissa que diferenças importantes entre países influenciam o comportamento das empresas na internacionalização, Kutschker (1994) propôs que fossem atribuídos pesos aos países externos de acordo com suas distâncias cultural e geográfica em relação ao país de origem. De maneira similar, Sullivan (1994) introduziu um indicador denominado “dispersão psíquica”. Para medi-lo, o mundo é dividido em dez zonas com diferentes mapas cognitivos relacionados a princípios gerenciais; a dispersão psíquica é calculada como o número de zonas nas quais a empresa está presente, dividido por 10 (número de zonas possíveis).

Índices de Internacionalização

Segundo Sullivan (1994), a avaliação do grau de internacionalização (GI) de empresas inclui trabalhos que, apesar de utilizarem teorias bem fundamentadas, caracterizam-se pela

arbitrariedade. Confiando em modelos indutivos pouco estruturados ou mesmo não

estruturados de abordagens instrumentais, alguns pesquisadores buscaram inferir o GI de uma empresa examinando a evolução, a estrutura e os relacionamentos entre as características demográficas, estratégicas, de mercado, organizacionais, de produto e atitudinais da expansão internacional (Johanson e Vahlne, 1977; Forsgren, 1989; Welch e Luostarinen, 1988).

Entretanto, tais medidas não documentam a confiabilidade das medições, ou a validade das interpretações (Phillips e Bagozzi, 1985). Esses trabalhos estão sujeitos a maiores erros aleatórios, dado que informantes, pesquisadores e assistentes fazem inferências sobre macro fenômenos, assumem motivações das pessoas envolvidas e realizam agregações de tarefas e eventos (Seidler, 1974). Por outro lado, quando um único pesquisador realiza as análises, o trabalho está susceptível a erros sistemáticos, devido à sua interpretação do processo (Ericsson e Simon, 1980). Em ambos os casos, há também a dificuldade de se reconstruir a seqüência de internacionalização das empresas, que requer a identificação de muitos eventos e

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relacionamentos. A falha em especificar, representar e controlar erros aleatórios e sistemáticos das medidas pode levar a estimativas inconsistentes (Cook e Campbell, 1979).

Ao longo dos anos, buscando uma maior objetividade e precisão, vários índices de

internacionalização foram desenvolvidos na literatura utilizando-se uma única variável, tais como vendas ou empregados ou lucros (Dunning e Pearce, 1981).

Entretanto, muitos acadêmicos concordam que o desenvolvimento de índices sofisticados para medir o GI corporativo ainda se encontra em seus estágios iniciais (Sullivan, 1994, 1996;

Perriard, 1995; Ramaswamy et al., 1996). Os índices compostos descritos a seguir são frequentemente citados na literatura sobre a aferição do grau de internacionalização:

- Índice de transnacionalização da UNCTAD. Este índice composto foi lançado no World Investment Report 1995, como a média das seguintes três proporções: vendas externas por vendas totais, ativos no exterior por ativos totais e empregados no exterior por empregados totais. A intenção ao utilizar a média das proporções é evitar o favorecimento de empresas de um determinado tipo de indústria no ranking do índice de transnacionalização, já que algumas indústrias são intensivas em termos de mão-de-obra, e outras em termos de capital ou

exportação.

- Índice de extensão da atividade transnacional de Ietto-Gillies. Este índice é uma combinação de dois índices: o índice de transnacionalização da UNCTAD e o “índice de extensão da rede” criado por Ietto-Gillies. O objetivo é levar em consideração não apenas a intensidade de atividades no exterior, mas também a sua extensão, ou diversificação regional.

Assim, é proposta a ponderação do índice de transnacionalização pelo índice de extensão da rede, medido como o número de países nos quais a empresa está presente, como proporção do número total de países onde existe investimento direto externo, menos um (país de origem).

- Escala de grau de internacionalização de Sullivan (1994). Este índice foi desenvolvido utilizando-se dados públicos de nove indicadores estruturais, de desempenho e atitudinais em uma amostra de 74 multinacionais. Através de análise fatorial (item-total análise) dos dados, cinco “bons” indicadores foram identificados: proporção de vendas externas por vendas totais, proporção de ativos no exterior por ativos totais, proporção de subsidiárias no exterior por subsidiárias totais, experiência internacional dos altos executivos (medida como a duração acumulada dos anos de experiência de trabalho no exterior dividida pelo total de anos de experiência dos altos executivos da empresa) e a dispersão psíquica das operações internacionais (medida como o número de zonas psíquicas onde a empresa está presente dividida por dez, que é o número total de zonas psíquicas do mundo identificadas por Ronen e Shenkar (1985)). Estes indicadores, todos ponderados pelo fator um, formam a escala do grau de internacionalização de Sullivan (1994).

- Índice de Hassel et al. (2003). Índice não totalmente integrado, que defende a existência de duas dimensões da internacionalização: uma referente às atividades de produção das empresas no exterior, denominada dimensão real, e outra referente à governança corporativa das

empresas, denominada dimensão financeira. Enquanto a primeira dimensão é bem conhecida na literatura de internacionalização, a segunda não havia sido abordada empiricamente antes do estudo de Hassel et al. (2003). Analisando uma amostra das 100 maiores empresas alemãs, o estudo demonstra através de análise fatorial e rank correlations que as dimensões real e financeira não co-variam e, portanto, não podem ser combinadas em um único índice. A escolha dos indicadores das dimensões foi baseada no seu objetivo de mensuração. Assim, a

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proporção externa de empregados e de vendas, e o número de países nos quais uma empresa opera foram utilizados para medir a dispersão física das atividades das multinacionais pelo mundo (dimensão real), enquanto o número de mercados de ações onde a empresa está listada, o uso ou não de padrões de contabilidade e a proporção de ações mantidas por estrangeiros foram utilizados para medir a proximidade da empresa aos mercados internacionais de capitais (dimensão financeira).

- Índice de Sérgio Forte e Elmo Sette Júnior (2005). Adaptado do índice de Sullivan para medir o grau de internacionalização de empresas exportadoras brasileiras. Formado pela soma linear dos seguintes indicadores: vendas externas/total de vendas; número de atividades exercidas no exterior/número total de atividades passíveis de serem exercidas; número de subsidiárias no exterior/total de subsidiárias; dispersão psíquica das operações internacionais;

e experiência internacional da empresa com o mercado internacionalizado (anos de atividade internacional/quantidade máxima de anos de fundação da amostra).

A vantagem do índice de transnacionalização da UNCTAD é a sua simplicidade aliada ao fato de incluir três dimensões essenciais para a análise do grau de internacionalização: mercados, pessoas e ativos internacionais. Dada a facilidade de acesso aos dados necessários, esse índice permite a análise e comparação de um grande número de empresas. Sua desvantagem é a não inclusão de outras dimensões críticas da internacionalização. O índice de extensão da

atividade transnacional de Ietto-Gillies já não é tão simples, gerando maior dificuldade de interpretação, mas possui maior abrangência do que o índice de transnacionalização da UNCTAD, pois acrescenta outra dimensão crítica para se analisar o grau de

internacionalização de empresas: o grau de extensão da presença internacional.

Sua abrangência e representatividade, entretanto, ainda é pequena em comparação com o grau de internacionalização de Sullivan (1994), que inclui, além de indicadores estruturais e de desempenho, um indicador atitudinal. Os cinco indicadores que compõem o índice de

internacionalização de Sullivan (1994) são de fácil medição e calculados com dados públicos de multinacionais de países desenvolvidos. Entretanto, no caso das empresas brasileiras o acesso às informações sobre a “experiência internacional dos altos executivos” é de difícil obtenção, pois em geral essas informações não são publicadas.

O índice de Hassel et al. (2003), apesar de não ser totalmente agregado, gerando dificuldades de comparação, demonstra a importância da análise da internacionalização da estrutura de governança das empresas, além dos critérios incluídos no índice de transnacionalização da UNCTAD.

Já o índice de Forte e Sette Júnior (2005) demonstra a aplicabilidade do índice de Sullivan (1994) a empresas brasileiras em estágios iniciais de internacionalização. A escolha de indicadores para analisar a posição na cadeia de valor e o tempo de experiência internacional das empresas pode ser justificada pelas teorias gradualistas de internacionalização, que destacam a aprendizagem das empresas na medida em que se expõem aos mercados internacionais e exercem atividades de maior valor agregado no exterior.

2 - CONSTRUÇÃO DO ÍNDICE DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS

A construção de um índice capaz de aferir o GI de internacionalização exige uma definição conceitual do que se entende pelo fenômeno de internacionalização, bem como a identificação

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das suas principais dimensões. A partir da clareza destas dimensões, é possível operacionalizar as métricas capazes de aferir e avaliar o GI das empresas.

O conceito de internacionalização

Neste documento, a internacionalização será definida como a seqüência de movimentos das empresas além das fronteiras de seu país de origem. Tais iniciativas transfronteiriças, ou seqüências de decisões e ações no tempo, podem ocorrer ao longo de diversas dimensões, de forma isolada ou simultânea, como veremos a seguir :

- Presença em mercados internacionais – Refere-se ao posicionamento geográfico e ao grau de participação nos mercados internacionais de produtos/serviços ou de fatores nos diversos países/regiões. Os indicadores que aferem o grau de internacionalização nessa dimensão geralmente incluem a diversidade de mercados atendidos e a intensidade de participação da empresa em cada um dos países/regiões em que ela atua. (Stopford e Dunning, 1983; Ietto-Gillies, 1998; Sullivan, 1994; UNCTAD, 1995;

Gupta e Govindaraja, 2001).

- Presença de ativos no plano internacional – Consiste na distribuição quantitativa e qualitativa dos ativos nos mercados internacionais. Envolve os investimentos diretos no estrangeiro (IDEs) e a abertura de subsidiárias, de escritórios próprios de comercialização, e de operações próprias ou em parceria com outras empresas, nas várias atividades da cadeia de valor da organização. As métricas nessa dimensão em geral referem-se ao grau de concentração ou distribuição dos ativos nos mercados internacionais. Nos ativos incluem-se:

o Ativos tangíveis: fábricas, estruturas de serviços, laboratórios e unidades de pesquisa. O avanço nessa dimensão em geral é aferido pelos valores dos imobilizados no exterior (Daniels e Bracker, 1989; UNCTAD, 1995).

o Pessoas: a importância dos recursos humanos para o sucesso das iniciativas de internacionalização sugere um tratamento diferenciado dos ativos. Nesse caso, as métricas incluem a distribuição qualitativa e quantitativa da força de trabalho nos vários países, a diversidade nas equipes, o número de expatriados/impatriados e outras medidas correlatas (Perlmutter, 1969;

Maisonrouge, 1983; UNCTAD, 1995; Ietto-Gillies, 1998).

- Internacionalização da cadeia de valor – Implica a natureza e distribuição geográfica das atividades primárias ou de suporte fora do país de origem. Razões de ordem econômica ou de gestão podem indicar posições geográficas diferentes para as diversas atividades que compõem a cadeia de valor da empresa (Porter, 1998;

Ghemawat, 2007; Gupta e Govindarajan, 2001; Ietto-Gillies, 2001; Schmidt, 1981).

o Posição nas cadeias produtivas globais – Indica a inserção da cadeia no conjunto e o grau de liderança exercido pela empresa. Organizações situadas a montante da cadeia produtiva tendem a focalizar produtos comoditizados, cujos mercados são globais, enquanto as situadas a jusante, mais próximas dos canais de distribuição e dos clientes finais, tendem a desenvolver maior compreensão do mercado e de formas alternativas de criação de valor. Essa dimensão também salienta a posição de liderança ou de poder das empresas sobre as ações dos outros elos da cadeia. Por exemplo, nas cadeias longas da

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indústria automobilística, é freqüente a influência da empresa líder (montadora) sobre os seus fornecedores de primeiro nível, para que estes acompanhem o movimento de internacionalização da montadora.

- Internacionalização da governança – Compreende a internacionalização: a) da base de capital e dos acionistas e b) da composição do conselho de administração. Métricas ligadas à governança incluem o grau de acesso a diferentes mercados de capital, bem como a diversidade geográfica e cultural dos acionistas e dos conselheiros da empresa (Hassel et al., 2003).

- Internacionalização do mindset ou da cultura dominante dos principais gestores da organização – O “mapa mental”, equivalente social do DNA no nível biológico, compreende o conjunto de concepções, valores e crenças compartilhado pela administração da empresa, que “filtra” a realidade exterior e serve como guia no processo de decisão. Valores, crenças e visões de mundo compartilhados, produtos da herança dos fundadores, da experiência e do aprendizado constituído ao longo do tempo, receberam a atenção da literatura sociológica e antropológica, tanto quanto da voltada à gestão internacional. Do ponto de vista da internacionalização, trata-se de saber até que ponto a cultura da empresa é centrada no país de origem, se é permeável a diversas culturas nacionais ou se procura transcender culturas nacionais específicas em suas estratégias de conquista e exploração dos mercados globais (Perlmutter, 1969;

Paul, 2000; Gupta e Govindarajan, 2002; Nummela et al., 2004).

Embora uma empresa possa privilegiar, em determinada época, uma dimensão específica da internacionalização, na prática os avanços se fazem simultaneamente em várias delas.

Essa multidimensionalidade do conceito chama a atenção para uma freqüente confusão feita entre o construto integrado de internacionalização e as suas partes. É freqüente, por exemplo, confundir a internacionalização com apenas um dos seus componentes como a exportação (uma das formas de presença em mercados). Contudo, à medida que a empresa avança no seu GI, ela adiciona outros esforços, ações e recursos na busca do aprofundamento e extensão das atividades transfronteiriças, que apresentam maior comprometimento, envolvendo outras dimensões do processo – ativos, pessoas, governança etc. – em ondas sucessivas ou paralelas.

A elaboração do índice de internacionalização

Alguns critérios foram aplicados nesse trabalho para a construção de um índice de internacionalização aplicável à situação das empresas brasileiras. Esses critérios são descritos a seguir:

- Abrangência do índice . As métricas devem ser capazes de levar em conta empresas de diversos setores e em vários estágios de internacionalização. Além disso, o índice deve incluir as principais dimensões de internacionalização, dado que o fenômeno de

internacionalização é multidimensional.

- Facilidade de coleta e confiabilidade das informações. As informações utilizadas devem ser facilmente acessíveis e assegurar um mínimo de confiabilidade.

- Simplicidade no entendimento e na interpretação. Os indicadores devem ser de fácil entendimento para os públicos a que se destinam, sem elaborações estatísticas sofisticadas.

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- Comparabilidade entre empresas. Os indicadores devem permitir a comparação entre empresas de diferentes setores e em diferentes estágios de internacionalização.

Os indicadores escolhidos para compor o índice de internacionalização basearam-se no conceito de internacionalização descrito na seção anterior. Foram incluídos indicadores para avaliar a maior parte das dimensões de internacionalização citadas: presença em mercados internacionais através de vendas ou operações internacionais, a presença da empresa com ativos tangíveis ou intangíveis no plano internacional, a internacionalização da cadeia de valor da empresa e a internacionalização da governança. A não introdução de indicadores de

mindset internacional e de “posição na cadeia de valor” deveu-se à dificuldade de medição, pois envolve aspectos qualitativos e de fontes não fácilmente acessíveis.

Outras dimensões abordadas foram a dispersão geográfica dos ativos internacionais e o tempo de experiência internacional da empresa (com produção ou realização de serviço no exterior).

Para cada indicador uma única medida foi escolhida, tendo em vista sua representatividade, a disponibilidade e a confiabilidade dos dados.

Coerente com a discussão anterior sobre a multidimensionalidade, procurou-se manter a avaliação e comparação independente de cada indicador. Não obstante os riscos do procedimento, procurou-se agregar as informações num índice composto de

internacionalização, com o objetivo de prover uma classificação geral das empresas.

3 - A REALIZAÇÃO DA PESQUISA – DETERMINAÇÃO DOS INDICADORES E COLETA DE DADOS

Em uma primeira etapa da pesquisa foram identificadas, através de fontes públicas, informações sobre as empresas brasileiras em estágios mais avançados de internacionalização.

Para tanto, definiu-se o universo como as empresas que possuem ativos no exterior (incluindo escritórios comerciais). Cinqüenta empresas brasileiras foram selecionadas, das quais foram solicitadas informações sobre atividades internacionais referentes ao ano de 2005. As informações básicas que integram os indicadores foram organizadas num questionário que serviu de base para a coleta das informações junto às empresas. Os questionários foram encaminhados aos principais executivos, em versão eletrônica e em papel. Dentre essas empresas contatadas, 24 empresas responderam o questionário, representando um retorno de 48%.

O índice é baseado na avaliação de sete indicadores de cada empresa pesquisada, que, agregados, compõem o grau de internacionalização das empresas brasileiras. A referência para a metodologia utilizada é o grau de internacionalização desenvolvido por Sullivan (1994), mas os indicadores foram adaptados à realidade brasileira, considerando-se também a disponibilidade/confiabilidade dos dados e buscando uma maior facilidade de interpretação.

Outros indicadores sugeridos na literatura foram introduzidos, a fim de abordar as principais dimensões de internacionalização.

Três dos sete indicadores (mercado, ativos e recursos humanos) foram determinados segundo os critérios do índice de transnacionalização da UNCTAD. O indicador de dispersão

geográfica dos mercados resultou da adaptação do indicador de dispersão psíquica das operações internacionais de Sullivan (1994). Os indicadores de internacionalização da cadeia de valor e de tempo de experiência internacional foram adaptados de critérios adotados no

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índice de Forte e Sette Júnior (2005). Já o indicador de governança foi escolhido com base no trabalho de Hassel et al. (2003).

Em cada um dos sete indicadores utilizados (explicados abaixo), as empresas receberam um valor entre 0 e 1, segundo os números fornecidos. Os seguintes indicadores de

internacionalização foram utilizados:

- Mercados (M): receitas brutas no exterior (receita de exportações + receitas das subsidiárias no exterior/receitas totais).

- Ativos (A): valor dos ativos permanentes no exterior que sejam parte da cadeia transformadora da empresa (incluindo investimentos, mesmo sem deter 100% do capital)/valor total dos ativos da empresa.

- Recursos humanos (RH): número de empregados no exterior/número de empregados total - Dispersão geográfica dos mercados (DG): número de regiões mundiais onde a empresa possui atividades além de exportações/número total de regiões mundiais (8, mostradas a seguir).

As regiões mundiais foram classificadas em: América do Norte; América do Sul e Central;

União Européia; Leste Europeu; Oriente Médio; Ásia; África e Oceania.

- Cadeia de valor (CV): número de atividades da cadeia de valor da empresa, executadas pelas subsidiárias externas/número total de atividades de uma cadeia padrão da empresa, classificadas segundo as seguintes atividades: vendas e pós-venda (assistência técnica e serviços de instalação e manutenção); marketing; manufatura/operações; procurement (compras e relações com fornecedores); pesquisa e desenvolvimento (Porter, 1998).

- Governança (GOV): número de mercados financeiros relevantes onde a empresa é listada/número de mercados de ações selecionados como importantes e mais acessíveis às empresas brasileiras (Bovespa, NYSE, Madrid, Nasdaq).

- Experiência (EXP): número de anos desde o estabelecimento da primeira subsidiária de produção (operações) da empresa no exterior/número de anos de estabelecimento da subsidiária de produção (operações) mais antiga dentre todas as subsidiárias da amostra de empresas pesquisadas.

Os sete indicadores foram agregados num índice denominado Grau de Internacionalização (GI) através da adição de cada um dos índices, conforme realizado de forma semelhante nos índices da UNCTAD (1995), de Sullivan (1994) e de Forte e Sette Júnior (2005). Adotou-se este procedimento visando, principalmente, a simplicidade da interpretação.

4 - RESULTADOS

A tabela 1 a seguir mostra os indicadores das empresas da amostra (Mercados (M); Ativos (A); Recursos Humanos (RH); Dispersão Geográfica dos Mercados (DG); Cadeia de Valor (CV); Governança (GOV) e tempo de experiência internacional (EXP)), e a classificação dessas empresas segundo o Grau de Internacionalização (GI).

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Tabela 1 – Ranking das empresas da amostra segundo o grau de internacionalização

Número Empresa M A RH DG CV GOV EXP

GI (de 0 a 7)

1 Gerdau 0,61 0,38 0,35 0,38 1,00 0,75 0,76 4,223

2 CNO 0,75 0,10 0,35 0,63 1,00 0,00 0,79 3,605

3 CVRD 0,77 0,02 0,04 0,75 1,00 0,75 0,18 3,512

4 Petrobras 0,10 0,07 0,11 0,63 0,80 0,75 1,00 3,454

5 Marcopolo 0,55 0,46 0,22 0,63 0,60 0,25 0,42 3,129

6 Sabó 0,57 0,28 0,30 0,63 0,80 0,00 0,39 2,969

7 AG 0,38 0,20 0,22 0,63 1,00 0,00 0,52 2,944

8 WEG 0,56 0,24 0,11 0,50 1,00 0,25 0,18 2,842

9 Embraer 0,92 0,01 0,14 0,38 0,80 0,50 0,09 2,838

10 Tigre 0,18 0,13 0,15 0,13 0,80 0,00 0,88 2,263

11 Sadia 0,49 0,00 0,00 0,63 0,20 0,75 0,00 2,064

12 Aracruz Celulose 0,96 0,00 0,00 0,38 0,20 0,50 0,00 2,035

13 Escolas Fisk 0,12 0,00 0,00 0,50 0,80 0,00 0,58 1,996

14 Votorantim Cimentos 0,29 0,45 0,18 0,13 0,80 0,00 0,12 1,964

15 Randon 0,16 0,01 0,01 0,38 0,80 0,25 0,33 1,939

16 Klabin 0,27 0,00 0,08 0,38 0,40 0,50 0,27 1,898

17 Votorantim Metais 0,44 0,08 0,08 0,13 1,00 0,00 0,03 1,759

18 Perdigão 0,48 0,00 0,00 0,50 0,20 0,50 0,00 1,681

19 Datasul 0,01 0,03 0,01 0,25 1,00 0,00 0,33 1,629

20 Braskem 0,14 0,00 0,15 0,13 0,20 0,75 0,00 1,369

21 VCP 0,38 0,00 0,00 0,25 0,20 0,50 0,00 1,328

22 Natura 0,03 0,00 0,13 0,38 0,40 0,25 0,00 1,187

23 Petroflex 0,35 0,00 0,01 0,38 0,20 0,25 0,00 1,185

24 Eliane 0,35 0,01 0,01 0,13 0,20 0,00 0,00 0,698

Análise do estágio de internacionalização das empresas brasileiras

Observamos que grande parte das empresas da amostra são de setores básicos da economia, com expressiva participação de empresas de indústria extrativa, de mineração, petróleo e petroquímica, agronegócio e bens intermédiarios). As exceções ficam por conta do setor de serviços, com importante presença da indústria de construção (Construtora Norberto Odebrecht (CNO), Construtora Andrade Gutierrez (AG)) além de empresas nos segmentos mais sofisticados de serviços (Datasul e as Escolas Fisk). Apenas uma empresa da amostra integra o segmento de bens de consumo final (Natura).

A análise do estágio geral de internacionalização das multinacionais brasileiras, com base nos indicadores acima, sugere que as atividades internacionais dessas empresas ainda possuem amplo respaldo em exportações, comandadas por ativos fixos e humanos nas matrizes. As porcentagens de ativos e de empregados no exterior representam os menores indicadores do grau de internacionalização das empresas brasileiras.

A Gerdau é apontada como a empresa brasileira mais internacionalizada, com um índice de 4,22 num máximo teórico de 7,0. Mais de 80% das empresas pesquisadas possuem indicadores de internacionalização de mercados, ativos, recursos humanos, cadeia de valor e de governança menores do que os da Gerdau. Por outro lado, a empresa possui baixa dispersão dos seus mercados externos, já que suas operações internacionais estão concentradas nas Américas, enquanto as empresas da amostra classificadas da 2a à 7a posição do ranking estão presentes com produção ou operações (no caso de empresas de serviço) em pelo menos cinco regiões mundiais.

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A Construtora Norberto Odebrecht (CNO) foi a segunda classificada, com um índice de 3,61.

Não obstante a baixa internacionalização da sua estrutura de governança, 75% de suas receitas brutas são provenientes dos mercados externos, enquanto 35% dos seus recursos humanos estão localizados em 5 diferentes regiões mundiais. Com uma estrutura descentralizada das atividades da sua cadeia de valor, a CNO realiza no exterior todas as atividades que desenvolve no Brasil.

A estratégia essencialmente exportadora da CVRD, a terceira empresa classificada da amostra, é evidenciada pela sua baixa porcentagem de ativos e empregados no exterior, apesar da sua diretoria de manganês possuir unidades de produção e de P&D na França desde 1999.

Listada nos mercados da Bovespa, NYSE e Madrid, o índice de internacionalização da sua estrutura de governança é alto. A CVRD está presente em 6 diferentes regiões mundiais com subsidiárias comerciais que dão suporte às suas exportações. (Os dados foram coletados antes da aquisição da INCO, não refletindo, portanto, a nova configuração internacional da CVRD) Na quarta posição do ranking da amostra está a Petrobras, a primeira empresa da amostra a iniciar atividades de produção no exterior, em 1972, na Colômbia. A empresa está listada em 3 mercados financeiros relevantes (Bovespa, NYSE e Madrid) e possui elevada dispersão de mercados. Atividades de vendas, marketing, procurement e manufatura são realizadas pela Petrobras no exterior, enquanto suas atividades de P&D são concentradas na matriz. Por ser a maior empresa brasileira, seus indicadores de mercado, ativos e recursos humanos no exterior são diluídos fase aos elevados valores de receitas, ativos e recursos humanos totais da empresa. As porcentagens de 10%, 70% e 11%, respectivamente, refletem, entretanto, o peso das operações brasileiras para a competitividade da empresa.

A quinta empresa do ranking é a Marcopolo, cujo indicador de porcentagem de ativos no exterior (46%) é o maior dentre as empresas pesquisadas. A empresa está presente em 5 diferentes regiões mundiais, com atividades de vendas, montagem final e procurement.

Listada na Bovespa, a Marcopolo possui alta internacionalização de suas receitas líquidas (55%) e dos seus recursos humanos (22%) em comparação com as demais empresas pesquisadas.

Também com destacada internacionalização de ativos, a Sabó, empresa familiar do ramo de autopeças, está na sexta posição, com índices relativamente altos de internacionalização de mercados e recursos humanos. Apesar da baixa internacionalização da sua estrutura de governança, ela atua em cinco diferentes regiões e executa no exterior todas as atividades classificadas, exceto P&D. Sua primeira unidade produtiva no exterior foi estabelecida em 1992, na Argentina.

Dentre as empresas com estratégias predominantemente exportadoras a partir do Brasil, suportadas por subsidiárias comerciais, destacam-se a mineradora CVRD e as empresas das indústrias de papel e celulose (Aracruz, VCP e Klabin) e do agronegócio (Sadia e Perdigão).

As vantagens comparativas do país nesses ramos produtivos explicam, em parte, a concentração de ativos produtivos dessas empresas no Brasil.

Outra grande exportadora é a Embraer, que possui o maior índice de internacionalização de mercados, com 92% de suas receitas brutas no exterior. Por outro lado, dada a natureza do seu modelo de negócios, seus ativos são muito concentrados no Brasil. Sua produção de

aeronaves no exterior iniciou-se em 2002, na China, predominantemente por exigências do

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governo chinês como contrapartida ao acesso ao mercado do país. Listada na Bovespa e no NYSE, a empresa possui subsidiárias em 3 diferentes regiões mundiais e só não executa atividades de P&D no exterior.

Já a Natura, também essencialmente exportadora, que estabeleceu subsidiárias comerciais na América do Sul no início da década de 90, ainda possui baixos indicadores de

internacionalização. Sua estratégia de expansão no exterior, entretanto, concentra esforços na internacionalização das suas marcas e na aquisição de experiências no mercado mais

competitivo do mundo no seu setor de atuação, a França, o que favoreceria o aumento posterior dos indicadores.

No setor de serviços, as construtoras CNO e Andrade Gutierrez (AG) destacam-se com elevados graus de internacionalização em termos de dispersão geográfica, cadeia de valor e tempo de experiência internacional. A CNO iniciou sua internacionalização em 1979 e a Andrade Gutierrez em 1988. Dentre as empresas pesquisadas, seus indicadores de

internacionalização de recursos humanos também são maiores do que os de 85% das empresas pesquisadas.

Com menores portes, empresas como Escolas Fisk e Datasul no setor de serviços possuem significativa experiência internacional, atuando no exterior há mais de 10 anos, apesar de as suas operações internacionais ainda representarem pequenas parcelas de suas receitas, ativos e recursos humanos. Também no setor produtivo brasileiro, empresas menores, como a Eliane, iniciam sua internacionalização. A empresa estabeleceu uma subsidiária de vendas nos EUA em 1997. Em 2005, 35% de suas receitas totais foram provenientes dos mercados externos.

5 – DISCUSSÃO

O principal objetivo da avaliação do GI das Multinacionais Brasileiras é verificar o impacto da internacionalização no desempenho das empresas, com base nos índices de

internacionalização ora desenvolvidos.

Esse estudo é o primeiro passo para uma análise histórica da evolução da presença

internacional e do desempenho geral das empresas brasileiras, podendo servir de importante input para empresários na formulação das estratégias internacionais das empresas brasileiras, e também para o governo brasileiro na formulação de políticas públicas de apoio à

internacionalização de empresas. As limitações desse trabalho estão relacionadas ao fato de a amostra de empresas brasileiras analisadas ser pequena e concentrada nos segmentos mais avançados na internacionalização, impossibilitando análises estatísticas que testem a consistência da combinação dos indicadores escolhidos em uma única medida de grau de internacionalização. Entretanto, a premissa principal é que esse estudo ajudará na

identificação de empresas que podem servir de exemplo para outras de seus setores, promovendo, assim, um efeito multiplicador de competitividade no Brasil.

6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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