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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

1.0024.13.078966-2/002

Número do Númeração 0789662-

Des.(a) Aparecida Grossi Relator:

Des.(a) Aparecida Grossi Relator do Acordão:

22/06/2016 Data do Julgamento:

01/07/2016 Data da Publicação:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - PRELIMINAR DE JULGAMENTO CITRA PETITA - NÃO CONFIGURAÇÃO - LEGITIMIDADE PASSIVA - GRUPO ECONÔMICO - REJEIÇÃO - AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL - CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA - ATRASO NA ENTREGA DO IMÓVEL - RESPONSABILIDADE DA PROMITENTE VENDEDORA - COMPROVAÇÃO - DEVOLUÇÃO INTEGRAL DOS VALORES PAGOS - POSSIBILIDADE - MULTA COMPENSATÓRIA - IMPOSIÇÃO CONTRATUAL APENAS AO PROMISSÁRIO COMPRADOR - APLICAÇÃO EM FAVOR DO CONSUMIDOR - POSSIBILIDADE - EQUILÍBRIO CONTRATUAL - SIMILITUDE DE DIREITOS E DEVERES - DANOS MORAIS DEMONSTRADOS - SUCUMBÊNCIA.

- Não há que se falar em julgamento citra petita se o magistrado proferiu sentença em obediência aos limites da lide, apreciando todos os pleitos formulados pelas partes.

- A jurisprudência é uniforme no sentido de que, em se tratando de empresas de um mesmo grupo econômico, não há de se falar em ilegitimidade passiva, quando o autor da ação indica como réu uma das pessoas jurídicas componentes do conglomerado.

- O inadimplemento do contrato por parte da construtora que não logrou êxito em promover a entrega do imóvel na data prevista, além de autorizar a sua rescisão, também confere à consumidora o direito à restituição integral das parcelas pagas, evitando-se, assim, o enriquecimento ilícito da Construtora.

- Vale destacar que os percalços enfrentados na obtenção das licenças

administrativas pela construtora, conhecedora do ramo da construção

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civil, relacionam-se ao risco do empreendimento e certamente são questões já sabidas, que devem ser previamente consideradas ao se fixar o prazo de entrega do empreendimento.

- A responsabilidade da promitente vendedora pela rescisão do contrato dá azo à aplicação da multa compensatória em favor do consumidor, por equiparação, a fim de se garantir o efetivo equilíbrio contratual.

- Comprovado de forma satisfatória que houve descumprimento pela Construtora do prazo estabelecido para a entrega do imóvel, deve o promissário comprador receber indenização por danos morais, pois a conduta da construtora não gerou meros dissabores.

- A fixação do quantum indenizatório a título de danos morais deve obedecer aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, observados o caráter pedagógico, punitivo e reparatório.

- Tendo os autores decaído de parte mínima do pedido, fica a Ré obrigada ao pagamento integral dos honorários de sucumbência e das custas processuais.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0024.13.078966-2/002 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - 1º APELANTE: INPAR PROJETO LAGOA DOS INGLESES SPE LTDA - 2º APELANTE: FELIPE WAGNER ANDRADE ABREU E OUTRO(A)(S), FLAVIA VALLORY FIGUEIREDO - APELADO(A)(S): FELIPE WAGNER ANDRADE ABREU E OUTRO(A)(S), FLAVIA VALLORY FIGUEIREDO, INPAR PROJETO LAGOA DOS INGLESES SPE LTDA A C Ó R D Ã O

Vistos etc., acorda, em Turma, a 16ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de

Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,

em REJEITAR AS PRELIMINARES DE NULIDADE DA SENTENÇA E DE

ILEGITIMIDADE PASSIVA, NEGAR PROVIMENTO AO PRIMEIRO

RECURSO E NEGAR PROVIMENTO AO SEGUNDO RECURSO.

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DESA. APARECIDA GROSSI RELATORA.

DESA. APARECIDA GROSSI (RELATORA)

V O T O

Trata-se de recursos de apelação interpostos contra a sentença de fls.

230/234-v, integrada pela decisão de fl. 244, proferida nos autos da ação de rescisão contratual c/c indenização por danos morais e materiais, ajuizada p o r F E L I P E W A G N E R A N D R A D E A B R E U e F L Á V I A V A L L O R Y FIGUEIREDO em face de INPAR PROJETO LAGOA DOS INGLESES SPE LTDA., que julgou parcialmente procedentes os pedidos iniciais para i) declarar a rescisão do contrato de promessa de compra e venda de imóvel, com a devolução integral aos Autores dos valores pagos, corrigidos monetariamente desde o efetivo desembolso e acrescido de juros de mora de 1% desde a citação; ii) condenar a Ré a pagar aos Autores multa equivalente a 30% sobre o valor a ser devolvido, corrigido monetariamente desde a propositura da ação e acrescida de juros de mora de 1% ao mês desde a citação.

Por fim, ante a sucumbência recíproca, o julgador condenou ambas as partes ao pagamento das custas e dos honorários, fixados em 20% sobre o valor da condenação, na proporção de 20% para os Autores e 80% para a Ré, autorizada a compensação da verba honorária.

Inconformada, a Ré apresentou recurso de apelação nas fls. 245/258

suscitando preliminar de nulidade da sentença porque não foi apreciada a

preliminar de ilegitimidade passiva aventada em sede

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de contestação.

Segue discorrendo sobra a sua ilegitimidade passiva, tendo em vista que o contrato foi celebrado com INPAR PROJETO 122 SPE LTDA e pugna pela extinção do feito.

No mérito, argumenta que o atraso do órgão administrativo em lhe conceder as licenças necessárias para iniciar a construção do e m p r e e n d i m e n t o , c o n f i g u r a s i t u a ç ã o f o r t u i t a q u e a f a s t a a s u a responsabilidade pelo atraso da entrega da unidade adquirida pelos Autores.

Acrescenta que a rescisão imotivada do contrato não autoriza a devolução integral dos valores pagos, razão pela qual devem ser abatidas as verbas indenizatórias referentes aos custos administrativos, de promoção de venda e os gastos referentes à tributação. Conclui dizendo que somente 70%

do valor apurado deverá ser restituído, conforme cláusula 4.2.3 do instrumento contratual.

Discorre sobre a impossibilidade de se aplicar a multa de 30% em favor dos Autores, ante a ausência de previsão contratual nesse sentido.

Os Autores também recorreram da sentença nas fls. 265/275 pleiteando, em síntese, a condenação por danos morais e, também, de forma exclusiva a condenação da Ré ao pagamento dos ônus sucumbenciais.

Contrarrazões pela Ré nas fls. 277/283.

Decorreu o prazo sem que os Autores apresentassem contrarrazões (fl.

288-v).

É o relatório.

1ª APELAÇÃO: INPAR PROJETO LAGOA DOS INGLESES SPE LTDA.

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Conheço do recurso, presentes os pressupostos de admissibilidade.

PRELIMINAR DE JULGAMENTO CITRA PETITA

Pretende a Ré ver cassada a sentença porque não teria o magistrado apreciado a preliminar de ilegitimidade passiva suscitada em sede de contestação.

Insta consignar que compete ao Magistrado decidir a lide nos limites em que foi proposta, sendo vedada a prolação de sentença "extra petita", "citra petita" ou "ultra petita", ou seja, que decide fora, aquém ou além do pedido, conforme estabelecem os artigos 128 e 458 do CPC/73:

Art. 128. O juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige iniciativa da parte.

Art. 458. São requisitos essenciais da sentença:

(...)

III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões que as partes lhe submeterem.

Sobre o tema leciona Fredie Didier Jr.:

Citra petita (ou infra petita) é a decisão que deixa de analisar (i) pedido formulado, (ii) fundamento de fato ou de direito trazidos pela parte ou (iii) pedido formulado por ou em face de um determinado sujeito do processo.

(...)

Se na decisão ultra petita o juiz exagera e, na extra petita, ele inventa, na

decisão citra petita o magistrado se esquece de analisar algo que tenha sido

pedido pela parte ou tenha sido trazido como fundamento do seu pedido ou

da sua defesa. Daí vê que citra/infra petita é decisão

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em que houve omissão quanto ao exame de uma questão, seja ela incidental ou principal. (Curso de Direito Processual Civil. 2ª ed. Bahia: Jus Podivm, 2008. p. 289-290, Vol. 2).

Compulsando os autos, verifica-se que a sentença não apresenta o supracitado vício de julgamento.

Primeiramente, insta consignar que em momento algum da contestação foi suscitada a preliminar em comento, como alegado nas razões recursais.

Releva ressaltar, também, que o julgador observou atentamente os limites da lide e apreciou todas as preliminares aventadas e os pedidos formulados pelas partes.

Além disso, ainda que inexistisse manifestação do julgador singular sobre a questão, a suposta omissão poderia ser suprimida por este Tribunal por se tratar de matéria de ordem pública.

Porém, como dito, no caso específico, não fora aventada a preliminar de ilegitimidade passiva.

Com tais considerações, REJEITO A PRELIMINAR DE NULIDADE DA SENTENÇA POR JULGAMENTO CITRA PETITA.

DES. PEDRO ALEIXO - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. OTÁVIO DE ABREU PORTES - De acordo com o(a) Relator(a).

PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA

Suscita a Apelante a aludida preliminar sob o fundamento de que o

contrato de promessa de compra e venda foi celebrado entre os autores e a

INPAR PROJETO 122 SPE LTDA., sendo certo, portanto, que a Apelante

INPAR PROJETO LAGOA DOS INGLESES SPE LTDA. não

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participou da relação jurídica em apreço.

A respeito da legitimação para agir, José Frederico Marques leciona:

"A legitimação para agir (legitimatio ad causam) diz respeito à titularidade ativa e passiva da ação. É a pertinência subjetiva da ação, como diz Buzaid.

A ação somente pode ser proposta por aquele que é titular do interesse que se afirma prevalente na pretensão, e contra aquele cujo interesse se exige que fique subordinado ao do autor. Desde que falte um desses requisitos, há carência de ação por ausência de legitimatio ad causam.

Só os titulares do direito em conflito têm o direito de obter uma decisão sobre a pretensão levada a juízo através da ação. São eles portanto os únicos legitimados a conseguir os efeitos jurídicos decorrentes do direito de ação."

(Instituições de Direito Processual Civil. Vol. II. 3ª ed. rev Forense, Rio de Janeiro, 1966, p. 41.).

Em que pese as alegações da Recorrente, a jurisprudência já consolidou entendimento no sentido de que empresas do mesmo grupo econômico têm legitimidade para responder por obrigação contraída por outra pessoa jurídica integrante do referido grupo, aplicando-se à hipótese, a teoria da aparência.

A propósito, a jurisprudência desta 16ª Câmara Cível:

EMENTA: EMBARGOS DO DEVEDOR. AÇÃO DE EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. EMPRESAS DO MESMO GRUPO ECONÔMICO.

LEGITIMIDADE ATIVA CONFIGURADA. Na hipótese de empresas pertencentes ao mesmo grupo econômico consolidou-se o entendimento de que resta configurada a legitimidade ativa de qualquer um delas para propor demanda. (TJMG - Apelação Cível 1.0400.14.000317-1/001, Relator(a):

Des.(a) Otávio Portes , 16ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 02/03/2016,

publicação da súmula

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em 11/03/2016)

Este é exatamente o caso em exame.

Compulsando os autos, verifica-se que o mandado citatório foi recebido na sede da Ré INPAR PROJETO LAGOA DOS INGLESES SPE LTDA., mas quem contestou o feito foi a INPAR PROJETO 122 SPE LTDA. (fls.110/111 e 112/142).

Naquela oportunidade, a Contestante requereu a mera retificação do polo passivo, reconhecendo, assim, que ambas as empresas, muito embora possuam CNPJ diversos, pertencem ao mesmo grupo econômico, o que permite concluir pela ausência de prejuízo quanto ao exercício da ampla defesa e do contraditório, como também, concluir pela responsabilidade de qualquer uma delas para figurar no polo passivo da presente lide.

Em razão do exposto, REJEITO A PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA.

DES. PEDRO ALEIXO - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. OTÁVIO DE ABREU PORTES - De acordo com o(a) Relator(a).

MÉRITO

Quanto ao mérito, cinge-se a controvérsia em apurar a responsabilidade da Demandada pela rescisão contratual, bem como a possibilidade de retenção do percentual equivalente a 30% dos valores até então recebidos.

Pretende a Apelante, por fim, ver afastada a multa aplicada em favor dos Autores, ante a ausência de previsão contratual nesse sentido.

Compulsando os autos, verifica-se que as partes celebraram contrato de

Promessa de Compra e Venda em 16/09/2010, tendo por

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objeto a unidade autônoma do apartamento 903, bloco 02, Edifício Atlântico, do empreendimento "Bora Bora Residencial Club", pelo preço de R$316.173,03, com prazo previsto para a conclusão das obras em maio de 2013. Porém, até a data do ajuizamento da ação, em 08.02.2013, a construção do imóvel não havia sido iniciada.

Os Apelados pretendem a rescisão do pacto sob o argumento de que a Apelante não respeitou o cronograma de construção e, à época da distribuição da ação, sequer havia iniciado as obras no local.

Cumpre salientar, inicialmente, que neste caso, a responsabilidade imposta no art. 14 do CDC pelo fato do serviço, é objetiva, independente de culpa, baseando-se no defeito, dano e nexo causal entre o dano ao consumidor-vítima e o defeito do serviço prestado, só não sendo responsabilizado o fornecedor quando o defeito inexiste ou se houver culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

No caso vertente, afere-se que a entrega do imóvel prometido à venda pela Apelante deveria ter ocorrido até maio/2013, e, considerando o prazo de 180 de carência, o prazo poderia se estender até novembro/2013 (fls. 31 e 47).

É fato incontroverso - assumido pela Ré em sua contestação, inclusive, - o descumprimento do cronograma de construção.

Lado outro, a justificativa apresentada pela Requerida, de que o atraso do CODEMA na expedição das competentes licenças de instalação não lhe poderia ser imputada, não é suficiente para afastar a sua responsabilidade.

Isso porque a ausência de expedição de licença por órgão administrativo não configura força maior ou caso fortuito capaz de eximir a responsabilidade da Construtora.

Trata-se, outrossim, de fortuito interno.

Ora, os percalços enfrentados na obtenção das licenças

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administrativas pela Construtora, conhecedora do ramo da construção civil, relacionam-se ao risco do empreendimento e certamente são questões já sabidas, que devem ser previamente consideradas ao se fixar o prazo de entrega do empreendimento.

Nesse sentido, é a jurisprudência deste Sodalício:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. CONTRATO DE COMPRA E VENDA.

IMÓVEL. ATRASO NA ENTREGA. SENTENÇA EXTRA PETITA. PRAZO DE TOLERÂNCIA. CLÁUSULA PENAL. INVERSÃO. DANOS MORAIS.

QUANTIFICAÇÃO. 1. Não caracteriza sentença extra petita a determinação contida em pedido autoral. 2. Não há abusividade na estipulação de prazo de tolerância para entrega do imóvel. 3. O atraso na entrega do imóvel em virtude da ausência de expedição de licença por órgão administrativo não configura força maior ou caso fortuito a eximir a responsabilidade da construtora, pois se trata de fortuito interno. 4. Se o contrato de compra e venda de imóvel prevê cláusula penal para o caso de descumprimento apenas em desfavor do consumidor, é medida de equidade a aplicação da mesma penalidade para o caso de mora atribuível ao fornecedor. 5. Gera indenização por danos morais o sofrimento imposto a um cidadão, que a par das dificuldades financeiras, reúne todas suas economias para a aquisição de um imóvel destinado a sua moradia, pagando com dificuldades o valor exigido, e depois vê o empreendimento ser-lhe entregue muito além do prazo ajustado, impondo-lhe inegável frustração no sonho de aquisição da casa própria. V. v. p. Não é facultado ao Poder Judiciário dar interpretação ao contrato de forma a criar obrigações não estipuladas pelas partes, devendo o contrato ser interpretado restritivamente, sendo forçoso reconhecer que a fixação da penalidade em favor do promissário comprador face à rescisão contratual por culpa da promitente vendedora mostra-se incabível, por não haver previsão expressa no instrumento. (TJMG - Apelação Cível 1.0024.13.218248-6/001, Relator(a): Des.(a) Estevão Lucchesi , 14ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 29/10/2015, publicação da súmula em 18/11/2015)

AÇÃO ORDINÁRIA - ATRASO NA ENTREGA DO IMÓVEL -

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PRORROGAÇÃO DO PRAZO - BUROCRACIA - INEXISTÊNCIA DE CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR - LUCROS CESSANTES - AUSÊNCIA DE PROVA. Não se pode considerar como causa para dilação de prazo de entrega do imóvel o fato de a construtora ter passado por dificuldades administrativas com a Prefeitura do município para liberação de alvará de construção, uma vez que o prazo de prorrogação é estipulado no contrato justamente por existir burocracias e imprevistos no decorrer da obra. (...) (TJMG - Apelação Cível 1.0024.13.398077-1/001, Relator(a): Des.(a) Marco Aurelio Ferenzini , 14ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 14/05/2015, publicação da súmula em 22/05/2015)

A partir daí, a ilação que se extrai é no sentido de que houve efetiva falha na prestação dos serviços pela Requerida, a qual não cumpriu, satisfatoriamente, as obrigações assumidas no contrato celebrado com os Requerentes, dando azo à rescisão do pacto.

Também sem razão a Recorrente ao pretender a retenção de quantia equivalente a 30% sobre os valores pagos pela Recorrida.

Isso porque a cláusula quarta prevê a retenção de valores apenas nos casos de rescisão motivada por culpa dos promissários compradores, como se vê da fl. 45, o que não é o caso dos autos.

Ademais, a pretensão dos Autores (compradores) de ser integralmente ressarcidos encontra amparo no art. 475 do Código Civil, uma vez que não estavam obrigados a aceitar a alteração unilateral do contrato para ver postergada a data de conclusão do empreendimento.

Neste sentido a Jurisprudência do TJMG:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA. CONTRATO DE COMPRA E VENDA. BEM IMÓVEL. DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL.

RESCISÃO DE CONTRATO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.

SENTENÇA MANTIDA. I - Verificado o ostensivo descumprimento de

cláusula contratual pela construtora, consubstanciado na alteração unilateral

do prazo de entrega da obra, a qual sequer saiu do projeto, ou seja,

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nem mesmo foi iniciada, legitima o pedido de rescisão contratual formulado pelo promissário comprador. II - O inadimplemento contratual por parte da construtora que não logrou promover a entrega do imóvel na data prevista em contrato, além de autorizar a rescisão da promessa de compra e venda, também conferi ao consumidor o direito em ser integralmente restituído das parcelas por ele pagas. III- O simples inadimplemento contratual não é suficiente para ensejar a reparação por danos morais; entretanto, se a espera pelo imóvel se mostra longa, perdurando por mais de um ano, aliada ao fato de que a obra sequer foi iniciada, ou seja, não saiu do projeto, por patente a insegurança gerada ao consumidor, não há como negar a ofensa ao patrimônio imaterial do promitente comprador que viu o sonho de aquisição da casa própria ruir juntamente com as suas economias vertidas em pagamento das prestações assumidas. IV - Deve ser mantido o valor da indenização por danos morais arbitrado em obediência aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade. RECURSO NÃO PROVIDO. (TJMG - Apelação Cível 1.0024.13.165657-1/001, Relator(a): Des.(a) Vicente de Oliveira Silva , 10ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 16/12/2014, publicação da súmula em 28/01/2015)

Quanto à aplicação da multa prevista na cláusula 4.2.3 em favor dos Autores, mais uma vez, agiu acertadamente o d. Magistrado sentenciante.

Ora, em se tratando de uma relação eminentemente consumerista, a necessidade de se buscar o equilíbrio contratual encontra amparo nos direitos do Consumidor insculpidos no art. 6º, inciso IV e V, de modo que é dever do Estado intervir na relação jurídica para controlar o conteúdo do contrato, ex vi do art. 5º, inciso XXXII e art. 170, inciso V, da CF/88.

Seguindo esta linha de raciocínio, ainda que não haja previsão contratual

de multa compensatória em favor do promissário comprador, tenho que tal

penalidade - cabível, segundo o contrato, apenas em benefício da promitente

vendedora - deve ser aplicada em favor do consumidor, em decorrência do

princípio do equilíbrio

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contratual, ínsito nas relações de consumo.

Sobre o tema, já se manifestou este Tribunal:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - RESPONSABILIDADE CIVIL - PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL - TAXA EVOLUÇÃO OBRA - LEGITIMIDADE PASSIVA DA CONSTRUTORA - PRAZO DE ENTREGA - CLÁUSULA DE PRORROGAÇÃO INCONDICIONADA - PREVISÕES LIVREMENTE PACTUADAS - VALIDADE - PRINCIPIO DA FORÇA OBRIGATÓRIA DO CONTRATO - DIVERGÊNCIAS PACTUAIS SOBRE A E X T E N S Ã O D O P R A Z O - I N T E R P R E T A Ç Ã O E M F A V O R D O CONSUMIDOR - NECESSIDADE - FORTUITO INTERNO - NÃO CONFIGURAÇÃO - ATRASO INJUSTIFICADO - OCORRÊNCIA - CONDUTA ILÍCITA - CONFIGURAÇÃO - DEVER DA CONSTRUTORA DE INDENIZAR OS DANOS SOFRIDOS PELO COMPRADOR - PREJUÍZOS MATERIAIS - COMPROVAÇÃO - JUROS INCLUIDOS NA TAXA DE EVOLUÇÃO DE OBRA - RESPONSABILIDADE DA CONSTRUTORA DURANTE O PERIODO DE MORA - RESSARCIMENTO - CABIMENTO - REGISTRO DO MEMORIAL DE INCORPORAÇÃO - ATRASO - MULTA LEGAL - IMPOSIÇÃO - INDENIZAÇÃO POR LUCROS CESSANTES - COMPROVAÇÃO - MULTA MORATÓRIA - IMPOSIÇÃO CONTRATUAL A P E N A S A O P R O M I S S Á R I O C O M P R A D O R - E Q U I P A R A Ç Ã O - POSSIBILIDADE - EQUILÍBRIO CONTRATUAL - SIMILITUDE DE DIREITOS E DEVERES - DANOS MORAIS - NÃO CONFIGURAÇÃO - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - PARAMETROS LEGAIS.

A legitimidade ad causam deve ser analisada com base nos elementos da lide, à luz da situação afirmada da demanda, relacionando-se com o próprio direito de ação, autônomo e abstrato.

São legais as disposições contratuais, aceitas pelo promissário comprador, que prevêem, de forma clara, prazo de entrega específico para a hipótese de pagamento do preço do imóvel através de financiamento habitacional com termo inicial a partir da assinatura do contrato com o agente financeiro.

Do mesmo modo, é válida a cláusula pactual que prevê a prorrogação

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incondicionada do prazo para entrega do imóvel, em observância ao princípio da força obrigatória do contrato.

Entretanto, constata ambiguidade e contradição nos termos do contrato de promessa de compra e venda, relativamente à extensão do prazo de entrega, a interpretação conjunta das av enças deve ser feita em favor do consumidor, conforme art. 47, da Lei nº 8.078/90.

A escassez de mão-de-obra, materiais e maquinários constitui risco natural e inerente à atividade econômica de construção civil, caracterizando-se como fortuito interno inábil a afastar a configuração da mora e, via de conseqüência, a excluir a responsabilidade civil.

Deve ser reconhecida a responsabilidade da construtora pelo adimplemento dos juros insertos na taxa de evolução de obra cobrada pela instituição financeira do devedor/comprador durante o período de atraso na entrega do imóvel, mormente se existente cláusula na avença de financiamento na qual ela figura como fiadora do comprador perante o agente financeiro.

Imperiosa a aplicação da multa prevista no art. 35 da Lei 4.591/64 quando a venda do imóvel se efetivou antes do registro da incorporação imobiliária, por si só, já leva à incidência do encargo no exato importe fixado pelo legislador.

A não fruição do imóvel pelo promissário comprador enquanto perdurou a impontualidade da promissária vendedora configura lucros cessantes passiveis de indenização.

É possível e encontra fundamento no artigo 170, inciso V, da CF/88, e artigos 6º, V, e 51 do Código de Defesa do Consumidor, a intervenção do estado-juiz no âmbito das relações contratuais, de modo a se garantir o efetivo equilíbrio contratual.

A mora na entrega do imóvel, decorrente de culpa do promitente vendedor

caracteriza inadimplemento contratual hábil a atrair a

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incidência, por equiparação, da multa moratória fixada na avença apenas em desfavor do promissário comprador consumidor.

O atraso que não excede aos limites da razoabilidade, não é capaz de ocasionar séria e fundada angústia no espírito dos Adquirentes, tampouco de ensejar indenização compensatória por dano moral.

Os honorários advocatícios devem ser fixados de acordo com os parâmetros estabelecidos pelo art. 20, §3º, do CPC. (TJMG - Apelação Cível 1.0024.12.262833-2/001, Relator(a): Des.(a) Leite Praça , 17ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 31/03/2016, publicação da súmula em 12/04/2016) Inexistem, portanto, fundamentos que autorizem a reforma da sentença, que determinou a devolução integral aos Autores dos valores pagos e aplicou, em favor deles, a multa contratual.

Com tais considerações, NEGO PROVIMENTO AO 1º RECURSO.

DES. PEDRO ALEIXO - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. OTÁVIO DE ABREU PORTES - De acordo com o(a) Relator(a).

2ª APELAÇÃO: FELIPE WAGNER ANDRADE ABREU E OUTROS

Pretendem os Autores tão somente a reforma pontual da sentença para ver a Ré condenada ao pagamento de danos morais e ao pagamento integral das custas e dos honorários de sucumbência.

Impende salientar a indiscutível responsabilidade da Ré que atrasou significativamente a entrega do empreendimento imobiliário adquirido pelos Autores.

E, ao contrário do alegado pela Ré, não se trata de um mero

descumprimento contratual, mas sim da imediata frustração do

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consumidor de realizar o sonho de ter sua casa própria.

É inegável a angústia, os transtornos, dissabores e o sofrimento dos Recorrentes, que certamente envidaram esforços para adquirir a casa própria. Porém, na data determinada para a entrega do imóvel, a construtora não cumpriu o prometido, fazendo com que eles se vissem obrigados a morar em local com condições adversas por tempo indeterminado.

Necessário, portanto, o reconhecimento dos danos morais indenizáveis, uma vez que provado o ato ilícito, o dano e o nexo causal entre ambos.

Respeitante ao valor da reparação, o art. 944, caput, do Código Civil, dispõe que a indenização mede-se pela extensão do dano, e deve ser suficiente exclusivamente para reparar o dano.

CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA observa que há uma ideia de punição na indenização por danos morais, "mas não vai aqui uma confusão entre responsabilidade penal e civil, que bem se diversificam", assinalando em seguida que "a punição do ofensor envolve uma sanção de natureza econômica, em benefício da vítima, à qual se sujeita o que causou dano moral a outrem por um erro de conduta"; que a reparação por dano moral "é sanção civil direta ao ofensor ou reparação da ofensa, e, por isso, liquida-se na proporção da lesão sofrida". Conclui adiante que "mais do que nunca há de estar presente a preocupação de conter a reparação dentro do razoável, para que jamais se converta em fonte de enriquecimento" (Aut. Cit.

Instituições de Direito Civil, v. II, 19ª ed., São Paulo: Forense, 1999, p. 218 e 219).

Destarte, a indenização por danos morais serve à compensação

econômica pelas agruras sofridas em razão de conduta do ofensor e deve

ser balizada pelos critérios da razoabilidade e proporcionalidade, não

podendo ensejar o enriquecimento ilícito, tampouco pode ser irrisória, de

forma a perder seu caráter de justa composição e prevenção.

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No presente caso, tenho que o valor de R$10.000,00 (dez mil reais) atende de modo adequado aos objetivos da lei e aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade e está em conformidade com o parâmetro adotado por esta Câmara em casos similares.

Por fim, quanto aos ônus da sucumbência, deve ser observado o disposto no art. 21 do CPC/1973, de modo que a distribuição observe o êxito das partes.

Nesta linha de raciocínio, considerando que os Autores decaíram de parte mínima do pedido relativo à multa contratual, a qual foi limitada pelo julgador singular, aplicável o disposto no parágrafo único do supracitado dispositivo, ficando a Ré obrigada a arcar com a integralidade das custas e dos honorários estabelecidos na sentença.

Em razão do exposto, DOU PROVIMENTO AO 2º RECURSO para (i) condenar a Ré ao pagamento de danos morais no valor de R$10.000,00 (dez mil reais) em favor de cada um dos Autores, a ser corrigido monetariamente desde a data deste julgamento, acrescido de juros de mora de 1% desde a citação; (ii) e condenar a Ré ao pagamento integral das custas, inclusive recursais, e dos honorários de sucumbência fixados na sentença.

DES. PEDRO ALEIXO - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. OTÁVIO DE ABREU PORTES - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "REJEITARAM AS PRELIMINARES DE NULIDADE DA

SENTENÇA E DE ILEGITIMIDADE PASSIVA, NEGARAM PROVIMENTO

AO PRIMEIRO RECURSO E NEGARAM PROVIMENTO AO SEGUNDO

RECURSO"

Referências

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