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Experiências de Formação de Nutricionistas para o Sistema Único de Saúde

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Academic year: 2022

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Experiências de Formação de Nutricionistas para o Sistema Único de Saúde

Elaboração: Kelly Poliany de Souza Alves – PPGSC- IMS∕UERJ.

Revisão: Elisabetta Recine – OPSAN∕NUT-UnB; Estelamaris Monego - FANUT∕UFG; Andrea Sugai - FANUT∕UFG.

CASO 7: A ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR E PROBLEMATIZADORA PARA O DESENVOLVIMENTO DA PRÁTICA CRÍTICO-REFLEXIVA

Introdução

Neste Caso Didático será relatada a experiência do curso de graduação em Nutrição da Faculdade São Lucas (FSL), instituição educacional privada do estado de Rondônia, estando entre as maiores da região Norte. O curso de Nutrição foi implantado em 2001, sendo o primeiro curso de Nutrição de Rondônia. É responsável por formar profissionais para atender às demandas do Acre, cuja Universidade Federal formou a primeira turma de nutricionistas somente em 2014. Trata-se de um curso noturno, com carga horária de 3.595 horas, divididas em nove semestres.

O processo de reformulação curricular foi desencadeado a partir das reflexões do corpo docente e da Coordenação do curso sobre a realidade do território e da prática do profissional nutricionista nele inserido. A região Norte apresenta alguns gargalos quanto à ação do profissional nutricionista, dentre elas a precária inserção no mercado de trabalho, seja em serviços públicos ou privados, bem como uma falta de postura crítica e política, gerando conformismo e acomodação em sua prática, fato observado pelos docentes da FSL na interação com os profissionais.

Nesse contexto, uma avaliação realizada pelos docentes e Coordenação do curso mostrou ter o curso foco no ensino ‘do ideal’, não preparando o aluno para lidar com ‘o real’, ou seja, com os entraves identificados no exercício profissional na região. Nesta perspectiva, foram (re)definidos os objetivos, com vistas a buscar uma formação mais focada no mundo do trabalho e na realidade regional:

 Aproximar o aluno da prática profissional desde o 1º período do curso;

 Promover a interdisciplinaridade;

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 Trabalhar a consciência crítica a partir da resolução de problemas;

 Desenvolver o compromisso com a promoção da saúde e a sustentabilidade em todas as áreas de atuação profissional.

Nesse sentido, os períodos (semestres) do curso foram reorganizados e nomeados por temas que caracterizam o foco do ensino-aprendizagem do semestre, agrupando conteúdos afins em novas disciplinas mais abrangentes.

Nos primeiros quatro períodos do curso são trabalhadas as habilidades e competências básicas comuns às três grandes áreas de atuação do nutricionista (alimentação coletiva, clínica e saúde coletiva); do 5º ao 7º períodos são trabalhadas as habilidades e competências específicas em cada uma daquelas grandes áreas, respectivamente. No 8º e 9º períodos são realizados os estágios curriculares.

O quadro a seguir apresenta os temas que caracterizam o foco de ensino- aprendizagem de cada período do curso.

Período Tema

Introdutório

Homem, Alimento e Ambiente

Homem e Alimento

Homem, Alimento e Comunidade Alimento e Gerenciamento em Nutrição

Saúde e Nutrição

Saúde e Nutrição em Coletividade 8º e 9º O Profissional em Ação

Mas, para trabalhar a interdisciplinaridade, a inserção na prática e o desenvolvimento de competências e habilidades para a resolução de problemas foi necessário investir em metodologias ativas de ensino-aprendizagem e na integração dos docentes, aspectos imprescindíveis à nova proposta.

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3 Projetos integradores: articulação de conhecimentos a partir da problematização

Do 1º ao 7º períodos foram incluídas as disciplinas Atividades Práticas Integradas e Monitoradas I a VII. São as disciplinas integradoras do semestre.

Em cada uma delas é desenvolvida um atividade denominada “Projeto Integrador” que, utilizando a metodologia de problematização, visa propiciar ao aluno uma formação crítica e reflexiva para o exercício profissional autônomo e proativo.

As diretrizes do Projeto Integrador são definidas antes do início do semestre pelo conjunto de professores responsáveis pelas disciplinas do período.

Este é um momento importante e, com o passar dos semestres, tem estimulado a participação dos professores

O professor responsável pela disciplina Atividades Práticas Integradas e Monitoradas coordena o projeto junto aos alunos, mas precisa contar com o apoio e a participação dos demais professores, em todos os momentos do processo. O que não é fácil e demanda o acompanhamento e o apoio constantes da Coordenação do Curso.

Em cada período do curso, o Projeto Integrador tem um tema norteador, definido com base no foco de ensino-aprendizagem do semestre, sendo:

1º Período – A profissão de nutricionista e o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA);

2º Período - Aditivos químicos, agrotóxicos, informação nutricional e marketing de alimentos;

3º Período – Relação da economia com a Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) e as necessidades da sociedade na construção de uma relação de produção e consumo de alimentos;

4º Período - Inquéritos Nacionais de Saúde e Nutrição e de Povos e Comunidades Tradicionais prioritários para a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional;

5º Período - Gestão de Unidade Produtora de Refeições com foco na sustentabilidade (construção de uma linha de manejo de resíduos e de desenvolvimento de produtos, a partir de alimentos regionais para a realização de Feira Gastronômica);

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6º Período – Garantia do DHAA para os portadores de necessidades alimentares especiais;

7º Período - Atuação política na Alimentação Escolar e na Saúde Coletiva.

As atividades são executadas ao longo do período de forma que o aluno perceba a necessidade da integração de todos os conteúdos trabalhados nas diferentes disciplinas para atingir o objetivo final do projeto.

A experiência vivenciada é relatada formalmente pelos alunos em um formato de documento diferenciado a cada semestre (relatório de atividades, resumo, resumo expandido, artigo, relatório técnico, exposição de motivos para gestores, entre outros) e apresentada para uma banca avaliadora, em formato de banner, ao final do semestre. Esta estratégia objetiva desenvolver nos alunos diferentes habilidades de síntese e apresentação ao longo do curso.

Nas Atividades Práticas Integradas e Monitoradas são os alunos que definem os locais onde desenvolverão seus Projetos Integradores e são os mesmos que realizam as articulações necessárias. Diferente de outros estágios curriculares, onde a Faculdade é que realiza essa busca de campos de prática e firma convênios que definem o funcionamento das atividades supervisionadas.

Dificuldades e desafios

A implementação desta proposta tem sido um grande desafio, uma vez que exige dos professores uma postura diferente da usual, muito focada na metodologia tradicional e ainda hegemônica nas instituições de ensino, tanto em relação à troca da centralidade do professor pelo aluno no processo de ensino- aprendizagem, quanto em relação à prática da avaliação, que mudou da somativa para a avaliação formativa (contínua).

A mudança exige ainda sensibilidade por parte da gestão da instituição para compreender a necessidade de ampliação de carga horária, dentre outras mudanças necessárias para as novas disciplinas; parceria efetiva da coordenação do curso para minimizar e contornar problemas que surgem no decorrer do percurso de implantação, acompanhamento próximo da Coordenação Pedagógica da instituição para a qualificação dos professores, fortalecendo a mudança na postura profissional, e também conscientizando os alunos da necessidade das mudanças.

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Fonte: Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação (CAEd)∕Universidade Federal de Juiz de Fora. Disponível em: <http://www.portalavaliacao.caedufjf.net/pagina-exemplo/tipos-de- avaliacao/>.

Avaliação Somativa Avaliação Formativa

O que é?

É uma modalidade avaliativa pontual que ocorre ao fim de um processo educacional (ano, semestre, bimestre, ciclo, curso etc.). Atém-se à determinação do grau de domínio de alguns objetivos pré-estabelecidos, propondo-se a realizar um balanço somatório de uma ou várias sequencias de um trabalho de formação. É também chamada de avaliação das

aprendizagens.

Quais são seus objetivos?

A avaliação somativa está preocupada com os resultados das aprendizagens. Pretende-se, assim, fazer um balanço somatório de uma ou várias sequências do trabalho de formação.

Essa modalidade avaliativa sintetiza as aprendizagens dos alunos tendo por base critérios gerais.

Quais são as suas características?

Sua principal característica é a capacidade de informar, situar e classificar o avaliado, tendo a perspectiva de conclusão em evidência, pois acontece no final de um processo educacional.

Para que servem os seus resultados?

A avaliação somativa fornece informações sintetizadas que se destinam ao registro e à publicação do que parece ter sido assimilado pelos alunos. Ou seja, seus resultados servem para verificar, classificar, situar, informar e certificar.

O que é?

Tem seu foco no processo ensino-

aprendizagem. Alguns teóricos chegam a nomear essa modalidade com o nome de avaliação formativa diagnóstica. Não tem finalidade probatória e está incorporada no ato de ensinar, integrada na ação de formação. Seu caráter é especificamente pedagógico.

Quais são seus objetivos?

Pretende melhorar o processo de ensino- aprendizagem mediante o uso de informações levantadas por meio da ação avaliativa. Busca detectar dificuldades suscetíveis de aparecer durante a aprendizagem a fim de corrigi-las rapidamente. Todavia, seu foco está no processo de ensino-aprendizagem. Através dessa modalidade de avaliação, informações sobre o desenvolvimento do aluno são fornecidas ao professor, permitindo que a prática docente se ajuste às necessidades discentes durante o processo.

Quais são as suas características?

Uma das mais importantes características da avaliação formativa é a capacidade em gerar, com rapidez, informações úteis sobre etapas vencidas e dificuldades encontradas,

estabelecendo um feedback contínuo sobre o andamento do processo de ensino e

aprendizagem. Com esse tipo de avaliação é possível ter os subsídios para a busca de informações para a solução de problemas e as dificuldades surgidas durante o trabalho com o aluno. Na avaliação formativa, os fatores endógenos, ou seja, os fatores internos à situação educacional, são levados em conta para proceder à avaliação. Por acontecer durante o processo de ensino e aprendizagem, caracteriza-se por possibilitar a proximidade, o conhecimento mútuo e o diálogo entre o professor e o aluno.

Para que servem os seus resultados?

Servirão de base para identificar como o processo de aprendizagem tem acontecido. As informações que essa avaliação revela

permitem o planejamento, o ajuste, o

redirecionamento das práticas pedagógicas no intuito de aprimorar as aprendizagens dos alunos. Ou seja, seus resultados servem para apoiar, compreender, reforçar, facilitar, harmonizar as competências e aprendizagens dos alunos.

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6 A distância dos grandes centros urbanos faz com que haja uma dificuldade adicional em motivar docentes com titulação e experiência para o curso. Por esta razão, a maioria dos docentes são profissionais da região que apresentam atuação diferenciada que são convidados a ministrar aulas na instituição. Diante disso, a FSL assume a responsabilidade de formação desses profissionais para a prática docente, bem como o estímulo e apoio a sua titulação.

Há resistência por parte de professores e alunos na implementação da nova proposta curricular. A FSL tem investido em um processo contínuo de qualificação do corpo docente em virtude da necessidade de romper com a hegemonia da postura centralizadora do professor e para dar lugar a um professor-tutor do processo de ensino-aprendizagem que consiga apoiar o aluno a sair da sua posição passiva. Além da qualificação docente, percebe-se a necessidade de preparar os alunos que chegam à Faculdade para essa nova metodologia de ensino-aprendizagem. Estes ainda esperam e questionam a falta de aulas expositivas e apostilas com as quais estão acostumados.

Tratando-se de um curso noturno, também há a necessidade de encontrar estratégias didático-pedagógicas para acolher as particularidades do perfil dos alunos. Assim, é necessário ter alternativas na matriz curricular para garantir espaço para o estudo orientado e o desenvolvimento dos trabalhos acadêmicos, uma vez que os alunos, de uma forma geral, não realizam estudos prévios às aulas.

Já a integração ensino e serviços de saúde é bastante comprometida pela falta de profissionais nutricionistas atuantes na rede SUS do município, o que dificulta a inserção e a prática dos alunos, o que demanda da instituição a criação de espaços próprios. Uma parceria com a prefeitura de Porto Velho permitiu que a FSL assumisse uma Unidade Básica de Saúde (UBS) no modelo de UBS de ensino, na qual foi criado o ambulatório de nutrição com atuação de nutricionista contratado pela Faculdade. Assim, a prática dos alunos na Atenção Básica é desenvolvida em um 'serviço modelo” com toda a infraestrutura garantida pela Faculdade. Com isso, não vivencia a realidade da AB do município.

Questiona-se se essa experiência conseguirá promover as habilidades e competências necessárias para enfrentar a problemática dos serviços de Atenção Básica à Saúde da região.

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7 Para o aprimoramento da proposta curricular, são identificados novos desafios a serem superados: ampliar as estratégias interdisciplinares e fortalecer as disciplinas integradoras; incluir a oferta de estágios no meio do curso e implantar a avaliação por competências.

Apesar dos desafios e dificuldades, já é possível observar a mudança de postura dos alunos ao final do curso, mostrando-se com maior autonomia e posicionamento crítico. Esta mudança no saber e fazer tem repercutido na conquista de novos espaços de trabalho nos municípios do interior, a partir da sensibilização de gestores públicos, como por exemplo, no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

Leia a nota pedagógica complementar a este caso e reflita, considerando a sua realidade, sobre as questões apresentadas a seguir:

 É realizado algum planejamento e∕ou prática para uma abordagem integrada do conhecimento entre professores das diferentes disciplinas do curso de Nutrição? Caso isso não ocorra, o que você acha que poderia ser feito?

 Existe integração entre o curso de nutrição e os diferentes serviços da Rede de Atenção à Saúde do SUS do seu município e∕ou municípios vizinhos para o fortalecimento e a qualificação da formação dos discentes?

 Ao longo do curso, os estudantes de nutrição participam de atividades interdisciplinares com estudantes de outros cursos?

PARA SABER MAIS SOBRE ESSA EXPERIÊNCIA, ACESSE:

FACULDADE SÃO LUCAS. Curso de Nutrição. Disponível em:

<http://www.saolucas.edu.br/graduacao/nutricao>

Acesse também os outros Casos Didáticos sobre Experiências de Formação do Nutricionista para o SUS, disponíveis na Casoteca da

RedeNutri.

Referências

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