A R R E N D A N T E S E A R R E N D A T Á R I O S NO C O N T E X T O DA SOJA REGIÃO DE C A S C A V E L ; PARANÁ - 1960-1980
D i s s e r t a ç ã o a p r e s e n t a d a para ob- tenção de título de M e s t r e em H i s t ó r i a do B r a s i l , opção H i s t ó - ria Social. Setnride Ciências Hu- m a n a s L e t r a s e Artes. D e p a r t a m e n -
to de H i s t ó r i a da Un ive rs idade Fe- deral do P a r a n á .
C U R I T I B A 1982
A M a i t e e D a n i e l , a m i g o s que es- p e r o , p o s s a m c o n s t r u i r uma so- ciedade m e l h o r .
A G R A D E C I M E N T O S iii-
L I S T A DE T A B E L A S v
LISTA DE M A P A S vii L I S T A DE A N E X O S viii L I S T A DE F I G U R A S x
LISTA DE G R Á F I C O S : . . xi
INTRODUÇÃO 2 M E T O D O L O G I A E T É C N I C A S DE P E S Q U I S A 9
ARQUIVOS E F O N T E S 23 1 REVISÃO CRITICA DA L I T E R A T U R A 27
1.1 0 SURGIMENTO DA H I S T Ó R I A E C O N Ô M I C A 28 1.2 BASES PARA H I S T Ó R I A DA A G R I C U L T U R A 29 1.3 A A G R I C U L T U R A NA H I S T O R I O G R A F I A B R A S I L E I R A 33
1.3.1 Tendências I n t e r p r e t a t i v a s a t u a i s 37 1.3.2 A g r i c u l t u r a e pequena p r o d u ç ã o : o e n f o q u e
da sociologia h i s t ó r i c a 41 1.4 AGRICULTURA NA H I S T O R I O G R A F I A P A R A N A E N S E :
0 ENFOQUE DA H I S T Ó R I A R E G I O N A L 43
2 A REGIÃO DE C A S C A V E L 52 2.1 F O R M A Ç Ã O S Ó C I O - E C O N Õ M I C A DO OESTE E S U D O E S T E
PARANAENSE 5 3
2.2 MIGRAÇÕES NA REGIÃO DE C A S C A V E L 57 2.3 A POPULAÇÃO RURAL P E R M A N E N T E NA R E G I Ã O DE
CASCAVEL 6 2
3 A SOJA E SUAS D E T E R M I N A Ç Õ E S S Ó C I O - E C O N Ô M I C A S 67
i
4 A L T E R A Ç Õ E S NA D I V I S Ã O E NO D S O DA TERRA A P A R T I R
DA INTRODUÇÃO DA SOJA NA R E G I Ã O DE C A S C A V E L 90
4.1 A TERRA COMO M E R C A D O R I A 91 4.2 O PROCESSO DE C O N C E N T R A Ç Ã O E V A L O R I Z A Ç Ã O DAS
TERRAS NAS REGIÕES E X T R E M O - O E S T E E S U D O E S T E
PARANAENSE 93 4.3 OS A R R E N D A M E N T O S R U R A I S E SUAS A L T E R A Ç Õ E S
RECENTES 101 CONCLUSÕES 114 A N E X O S 117 R E F E R Ê N C I A S 165
FONTES M A N U S C R I T A S 166 REFERÊNCIAS B I B L I O G R Á F I C A S 167
i i
As exigências a c a d ê m i c a s o b r i g a m a a u t o r a a a s s i n a r es- te trabalho i n d i v i d u a l m e n t e ; e n t r e t a n t o , ele é fruto de inúme- ras discussões e debates r e a l i z a d o s com d i v e r s o s p r o f e s s o r e s e colegas desta e de outras á r e a s , a quem desejo e x p r e s s a r m e u s sinceros a g r a d e c i m e n t o s .
P r i m e i r a m e n t e , ao P r o f e s s o r O r i e n t a d o r Carlos R o b e r t o Antunes dos Santos, que se ocupou desde os p r i m e i r o s m o m e n t o s de definição da temática até as ú l t i m a s fases da p e s q u i s a ; com ele, espero poder p r o s s e g u i r o c a m i n h o que tenho pela f r e n t e , a saber, o a p r e n d i z a d o da ciência h i s t ó r i c a em sua função crí- tica da realidade.
Ao Professor D i t m a r B r e p o h l , por sua i n e s t i m á v e l con- tribuição c r í t i c a , p r i n c i p a l m e n t e no que tange ao d i á l o g o en- tre a História e a E c o n o m i a .
A g r a d e c i m e n t o s também são d e v i d o s ao P r o f e s s o r H e n r i q u e Soares K o e h l e r , pela c o o p e r a ç ã o d e c i s i v a na análise e s t a t í - tica e p r o c e s s a m e n t o dos dados desta d i s s e r t a ç ã o .
Aos P r o f e s s o r e s Ana M a r i a B u r m e s t e r , F r a n c i s c o M o r a e s Paz e Roseli Maria Rocha dos S a n t o s , por se d e d i c a r e m ã leitu- ra e discussão desta p e s q u i s a , dando ênfase aos instrumentais da D e m o g r a f i a , da G e o g r a f i a H u m a n a e de S o c i o l o g i a .
Ao Professor Jayme A n t ô n i o C a r d o s o , pelo a u x í l i o no tra- tamento grafico da I n f o r m a ç ã o .
À Professora Lucila Maris B r o e t t o , pelo a u x í l i o no tra-
i i i
F i n a l m e n t e , cabe m e n c i o n a r que esta d i s s e r t a ç ã o se rea- lizou sob o apoio da U n i v e r s i d a d e F e d e r a l do Paraná em seu cur- so de pós-graduação em H i s t ó r i a e s o b o f inane iamento dado , no período de realização de créditos pelo CAPES - C o o r d e n a ç ã o de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível S u p e r i o r , e na fase de pes- quisa, pelo CNPq - Conselho N a c i o n a l de D e s e n v o l v i m e n t o C i e n t í - fico e T e c n o l ó g i c o .
Distribuição dos migrantes residentes nas Micro- regiões Extremo-Oeste e Sudoeste do Paraná. Se- gundo os Estados de procedência. Acumulada até
1970 - numeros absolutos ..•••.••••••••••••••...•.•••... 52 2 Evolução da população do Sudoeste no Paraná ••••.••.••.• 53 3 Volume da produção de soja, milho, trigo e feijão
Paraná, 2 Microrregiões Extremo-Oeste e Sudoeste
paranaense e município de Cascavel - 1960-1980 . . . . • • • . . • 85 4 Área colhida em ha de soja, milho, trigo e feijão
Paraná, 2 Microrregiões Extremo-Oeste e Sudoeste
paranaense e município de Cascavel - 1960-1980 . . . • • . • 86 5 Preços médios recebidos para feijão, milho, soja
e trigo - 1966-1980 ..•.•.••••••..••.•.••••••••.••••.••• 86 6 Evolução da Estrutura Fundiária no Paraná -
1940-1975 . . . 94
7 Distribuição da posse da terra pelos estabeleci-
mentos r u r a : L s . . . 95
8 Percentagem da área cultivada com soja, superior
a 20, 50 e 100 ha . . . 96
9 Distribuição de propriedades transacionadas por
classe de área . . . 98
10 Evolução do preço da terra em cruzeiros, de 1960 a 1980, segundo os Contratos de Compra e Venda de
lotes rurais - Cascavel - Paraná . . . • • . . . • • • • . . . . • • . • . 100
v
produto e renda em d i n h e i r o - 1 975 102 12 Total de a r r e n d a m e n t o em dinheiro e em produto no Paraná,
duas microrregiões H o m o g ê n e a s . E x t r e m o - O e s te e Su-
doeste p a r a n a e n s e , e Cascavel - 1 970 e 1 9 7 5 . . . . 1 03 13 Finalidade de e x p l o r a ç ã o nas áreas a r r e n d a d a s , se-
gundo os contratos de A r r e n d a m e n t o - C a s c a v e l ,
1960-1980. 106 14 Obrigações entre as partes c o n t r a t a n t e s nos ne-
gócios de A r r e n d a m e n t o r u r a l , C a s c a v e l , 1 960-1 980 ... 1 08 15 Relação Preço da T e r r a / A r r e n d a m e n t o , nos anos de
1969 , 1 976 e 1980. 1 1°
v i
1 Municípo de Cascavel 11 2 Regiões do E x t r e m o - O e s t e e Sudoeste p a r a n a e n s e 53
v i i
Municípios que compõem as Microrregiões Extremo-
Oeste e Sudoeste paranaense . . . • • . . . 118 2 Exemplos de preenchimento da Ficha Modelo B -
Contratos de Compra e Venda . . . • . . • . . . • . . . . 120 3 Tabela utilizada para Deflação dos valores em
cruzel.ros. . . . . 123
4 Contratos de Compra e Venda - Ficha Modelo B - Codificação dos dados para seu Processamento e análise a partir do "Statistic Package for Social
S c i e n c e s t i : ( S P S S) • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • 1 24
5 Exemplos de preenchimento da Ficha Modelo A -
Contratos de Arrendamento.. • . . . . . . • . . . • • . . . 127 6 Contratos de Arrendamento - Ficha Modelo A -
Codificação dos dados para seu processamento e análise a partir do tlStatitisc Package.' for Social
Sciences" ( S P S S ) . . . 132 7 Entrevista com o Presidente da Federação da
Agricultura do Paraná, Mário Stadler de Sousa. . . . . . . 138 8 Entrevista com o Presidente do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Cascavel, Nicanor
Schumacher . . . 152 9 Categorias sócio-profissionais dos Adquirentes
segundQ o Registro de Contratos de Compra e Venda - Município de Cascavel, 1960-1969 e
1970-1980 • . • • . • • • • • . • • . • • • • • • • • • . • • • • . • • • • • . • . • • . . • • • • • • 159
viii
gundo os contratos de Compra e V e n d a - M u n i c í -
pio de C a s c a v e l , 1 9 6 0 - 1 9 8 0 160 11 Correlações entre v a r i á v e i s r e l e v a n t e s nos con-
tratos de Compra e V e n d a 161 12 Distribuição em p o r c e n t a g e m de p r o p r i e d a d e s tran-
sacionadas por classe de área. Anos de 1960, 1969, 1976 e 1980, segundo contratos de Compra e V e n d a —
Cascavel 162
13 Arrendamentos rurais em Cascavel. Tipos de A r r e n -
damentos, formas e tipos de p a g a m e n t o 163 14 Categorias s ó c i o - p r o f i s s i o n a i s dos a r r e n d a n t e s e
arrendatários 164 15 Correlações entre v a r i á v e i s r e l e v a n t e s para
os contratos de a r r e n d a m e n t o 165
i x
1 Ficha M o d e l o B - C o n t r a t o s de Compra e V e n d a 15 2 Ficha M o d e l o A - C o n t r a t o s de A r r e n d a m e n t o 20
x
1 M i g r a n t e s no P a r a n á , segundo a p r o c e d ê n c i a .
A c u m u l a d a até 1 970 51 2 Volume da produção de soja em C a s c a v e l , M i c r o -
regiões E x t r e m o - O e s t e e Sudoeste p a r a n a e n s e ,
Paraná e Brasil - 1960-1 980... 76 3 Volume de produção de soja, m i l h o , trigo e feijão
no Paraná - 1 960-1980 78 4 Volume da produção de soja, m i l h o , trigo e feijão
nas M i c r o r r e g i õ e s E x t r e m o - O e s t e e Sudoeste p a r a -
naense 80 5 Volume da produção de soja, trigo, m i l h o e feijão
no m u n i c í p i o de Cascavel - 1960-1 980 82 6 Análise comparativa entre p r e ç o , área colhida e
produção de soja. Paraná 84 7 Evolução em p o r c e n t a g e m da E s t r u t u r a F u n d i á r i a
no Paraná por classes de área - 1960-1 980 93
x i
A recente introdução da c u l t u r a da soja no P a r a n á é re- conhecido como um fator d e c i s i v o no que c o n c e r n e à evolução só- cio-econõmica do E s t a d o .
De fato, por se tratar de uma a t i v i d a d e t i p i c a m e n t e ca- p i t a l i s t a , a cultura da soja d e s e m p e n h o u um papel f u n d a m e n t a l no que se possa conceber por m a t u r a ç ã o do c a p i t a l i s m o na A g r i - cultura.
0 presente trabalho o b j e t i v a dar um e n f o q u e h i s t ó r i c o ã evolução acima m e n c i o n a d a , onde se p r o c u r a r á a r t i c u l a r às es- truturas de maior f ô l e g o , as t r a n s f o r m a ç õ e s internas de curto e médio prazo de uma r e g i ã o , a s a b e r , o E x t r e m o - O e s t e e S u d o e s - te p a r a n a e n s e , onde se localiza o p r i n c i p a l c e n t r o p r o d u t o r de soja no P a r a n á .
Para conhecer a p e r s o n a l i d a d e h i s t ó r i c a que a d q u i r i u tal p r o c e s s o , optou-se pela m e n s u r a ç ã o das p r i n c i p a i s a t i v i d a d e s econômicas na região c o n s i d e r a d a , onde v a r i á v e i s como preço da terra, volume de p r o d u ç ã o , área c u l t i v a d a e preço do p r o d u t o foram analisados em seu c o n j u n t o . Ao lado deste p r o c e d i m e n t o , importou detectar duas formas e s p e c í f i c a s de acesso ã p r o p r i e - dade rural, a saber, a compra e o a r r e n d a m e n t o da terra. Isto porque c o n s t a t o u - s e durante a p e s q u i s a que as formas como se
iniciaram a ocupação e u t i l i z a ç ã o da terra (nos anos de 60 a 69) são e x t r e m a m e n t e d i f e r e n t e s das a t u a i s . A l é m d i s s o , a pró- pria paisagem h i s t ó r i c o - r e g i o n a l em questão sofre p r o f u n d a s transformações sociais, e c o n ô m i c a s e p o l í t i c a s .
Se a m e t o d o l o g i a de trabalho adotada b u s c o u e x p l o r a r um pequeno espaço g e o g r á f i c o , não se propôs em nehum m o m e n t o a
"destacá-lo" do contexto g l o b a l . Pelo c o n t r á r i o , ele se d e s t i - na ã apreensão de m o v i m e n t o s p r o f u n d o s de uma s o c i e d a d e , m o v i - mentos estes ainda não p e r c e p t í v e i s numa p r i m e i r a o b s e r v a ç ã o , mas que c o n t r i b u e m para a d e t e r m i n a ç ã o da vida m e s m a da socie- dade a que c o r r e s p o n d e .
A função da ciência h i s t ó r i c a é a de ser uma forma de conhecimento de e para o h o m e m .
A l i á s , como toda a c i ê n c i a , a H i s t ó r i a p o s s u i u m a ínti- ma relação com a vida. À História cabe situar o h o m e m , que é o fim último de toda a ciência. Onde e como está este h o m e m ã História cabe r e s p o n d e r .
Quando se c o g i t a , p o r t a n t o , q u a n t i f i c a r uma a t i v i d a d e e c o n ô m i c a , quando se procura a v a l i a r a p r o d u ç ã o social - sob novas técnicas de i n v e s t i g a ç ã o c i e n t í f i c a - em n e n h u m m o m e n t o se permite ao h i s t o r i a d o r abrir mão de seu c o m p r o m e t i m e n t o pri- m e i r o : o homem em sociedade (Bloch). E não será outra a n o s s a a m b i ç ã o , senão a de p e r s e g u i r o "homem da soja" em um E s t a d o agrário como é o caso do P a r a n á .
Este h o m e m não se c o n f i g u r a r á , e n t r e t a n t o , n u m h e r ó i em- p r e e n d e d o r , como talvez se p u d e s s e e s p e r a r . Ele se e x p r e s s a antes de mais n a d a , um t r a b a l h a d o r em luta pela d e t e n ç ã o da
terra, sua d e f i n i t i v a forma de e x i s t ê n c i a e i n c o r p o r a ç ã o na sociedade.
A N Á L I S E DA P R O B L E M Á T I C A
A região que p r e t e n d e m o s e s t u d a r , é formada pelas 2 Mi-
crorregiões H o m o g ê n e a s Oeste e E x t r e m o - O e s t e p a r a n a e n s e (de acordo com a d e l i m i t a ç ã o do Instituto B r a s i l e i r o de Geografia e
Estatística - IBGE), das quais o Polo Central a d o t a d o foi o município de C a s c a v e l . Este espaço g e o g r á f i c o c o n t i t u i - s e uma das mais recentes regiões a a d q u i r i r e m r e p r e s e n t a t i v i d a d e eco- nômica internacional no p r o c e s s o de ocupação do E s t a d o .
0 período que se p r e t e n d e a b r a n g e r é de 1960 a 1980, on- de a extração da m a d e i r a como a t i v i d a d e p r i n c i p a l e a p o l i c u l - tura, aliada ã s u i n o c u l t u r a vão sendo g r a d a t i v a m e n t e s u b s t i - tuídas pela produção agrícola e s p e c i a l i z a d a , onde a soja de- sempenha um papel f u n d a m e n t a l .
Este período se impõe p o r t a n t o como uma fase de transi- ção de uma. economia tradicional para uma e c o n o m i a m o d e r n a , com bases c a p i t a l i s t a s . De fato, estas t r a n s f o r m a ç õ e s fazem parte de um processo v o l t a d o à r e p r o d u ç ã o e e x p a n s ã o do sistema ca- pitalista. P o r é m , este p r o c e s s o não se deu de forma linear e h o m o g ê n e a . Para a região e s t u d a d a , ele se v i a b i l i z o u a t r a v é s de m o v i m e n t o s c o n t r a d i t ó r i o s , quais sejam, a f o r m a ç ã o de uma camada p r i v i l e g i a d a de e m p r e s á r i o s ligados às a t i v i d a d e s co- merciais de mate e m a d e i r a (responsáveis pelas p r i m e i r a s fases
de acumulação de c a p i t a l ) . Ao lado d e s t a , levas m i g r a t ó r i a s oriundas das regiões m e r i d i o n a i s do país i n s t a l a r a m - s e n a q u e l a localidade, r e s p o n s a b i 1 i z a n d o - s e pela formação de uma economia de s u b s i s t ê n c i a , t i m i d a m e n t e a r t i c u l a d a ao m e r c a d o r e g i o n a l .
Esta sociedade que c o n c e b e m o s como t r a d i c i o n a l , ao pas- sar pela e x p e r i ê n c i a da s o j i c u l t u r a , deixou m a r c a s p r o f u n d a s - que nos interessam estudar em sua i n t e r i o r i d a d e .
Estas c o n t r a d i ç õ e s são ainda m a i s p e r c e p t í v e i s quando se constata a significativa i m p o r t â n c i a da p e q u e n a p r o d u ç ã o no Oeste e E x t r e m o - O e s t e p a r a n a e n s e , i m p o r t â n c i a esta que c o n t r a - ria a concepção tradicional - de ser a pequena p r o d u ç ã o signi-
ficativa e viável apenas em regiões m e n o s f é r t e i s , como d e f e n - dem Caio Prado Jr. e A n t ô n i o C â n d i d o , entre outros a u t o r e s .
Para contestar este p r e s s u p o s t o , d e s t a c a - s e para a Re- gião E x t r e m o - O e s t e e S u d o e s t e , três c a r a c t e r e s p r i n c i p a i s :
a) fertilidade do solo;
b) p o p u l a ç ã o e s t a b e l e c i d a em p e r í o d o s r e c e n t e s , c o n s t i - tuída em sua m a i o r parte por uma faixa etária jovem
(migrantes c a t a r i n e n s e s e g a ú c h o s ) ;
c) a pequena p r o p r i e d a d e em suas origens h i s t ó r i c a s . Neste s e n t i d o , os m e c a n i s m o s de d o m i n a ç ã o e s u b o r d i n a - ção existentes na a g r i c u l t u r a , p r i n c i p a l m e n t e no p r o c e s s o his- tórico b r a s i l e i r o , p r e c i s a m ser a n a l i s a d o s em suas e s p e c i f i - cidades, pois elas se c o m p o r t a m de m a n e i r a d i f e r e n c i a d a - no tempo e no espaço.
Os o b j e t i v o s a serem a l c a n ç a d o s neste t r a b a l h o v i s a m ao conhecimento das p r i n c i p a i s t r a n s f o r m a ç õ e s sofridas na região Extremo-Oeste e Sudoeste p a r a n a e n s e , a partir da i n t r o d u ç ã o da cultura da soja. P r o c u r a r - s e - á v e r i f i c a r o p r o c e s s o de c o n c e n - tração da p r o p r i e d a d e e p a r a l e l o a e l e , a e s p e c i a l i z a ç ã o agrí- cola. Para atender a tais p r e o c u p a ç õ e s , i n t e r e s s a d e t e c t a r o comportamento da pequena p r o p r i e d a d e em uma região onde o pro- gresso técnico se impõe como a l t e r n a t i v a lógica de e x p l o r a ç ã o agrícola, com v i s t a s ao d e s e n v o l v i m e n t o do sistema capitalista.
A análise aí r e a l i z a d a p e r m i t i u que se o b s e r v a s se a emer- gência de uma nova p e r s o n a l i d a d e h i s t ó r i c a nos arrendamentos ru- rais, onde esta forma de e x p l o r a ç ã o deixa de ser u t i l i z a d a por trabalhadores d e s p o s s u í d o s de terra e passa a ser a d m i n i s t r a d a por médios e grandes p r o d u t o r e s , que detêm a t e c n o l o g i a quími- ca e mecânica i n d i s p e n s á v e i s para as culturas d i n â m i c a s espe- cial izadas.
A questão que se coloca n e s t e trabalho sobre estas trans- formações diz respeito ao destino m e s m o desta p o p u l a ç ã o que ainda detém uma pequena p a r c e l a de terra: até que ponto esta
inserção em um sistema p r o d u t i v o t i p i c a m e n t e c a p i t a l i s t a en- gendra (ou n ã o ) uma situação s u b o r d i n a d a em r e l a ç ã o aos d e t e n - tores de capital na a g r i c u l t u r a ? E n t e n d e r a tarefa revolucioná- ria diante da situação de classe desta camada é trabalho para o h i s t o r i a d o r .
Estas i n q u i e t a ç õ e s não se deram sem a clara c o n s c i ê n c i a de que a c o n c e n t r a ç ã o da p r o p r i e d a d e no Paraná se realiza atra- vés da v a l o r i z a ç ã o da terra como uma m e r c a d o r i a a ser incor- porada pela produção agrícola t i p i c a m e n t e c a p i t a l i s t a ; n e s t e contexto, a pequena p r o p r i e d a d e sofre uma g r a d a t i v a perda de r e p r e s e n t a t i v i d a d e , mas não chega a ser e l i m i n a d a . Ela se re- define enquanto f o r n e c e d o r a de a l i m e n t o s b á s i c o s ã p o p u l a ç ã o
(ainda que v í t i m a de grande i n s t a b i l i d a d e ) mas também se pres- ta ã ampliação da área de cultivo dos p r o d u t o s exportáveis,tais como a soja e o trigo. Isto se tem r e a l i z a d o p r e d o m i n a n t e m e n t e através do a r r e n d a m e n t o r u r a l , onde o p e q u e n o p r o d u t o r se trans- forma em a r r e n d a n t e , e cede suas terras a quem tenha recursos para nela cultivar os chamados p r o d u t o s " n o b r e s " . E s t e s a r r e n - damentos aumentam ou d i m i n u e m sua r e p r e s e n t a t i v i d a d e de acordo com as oscilações de m e r c a d o a que estão sujeitas tais culturas.
Neste s e n t i d o , importa i n v e s t i g a r e x a u s t i v a m e n t e as cau- sas de alteração na p e r s o n a l i d a d e h i s t ó r i c a dos a r r e n d a m e n t o s , pois estas a l t e r a ç õ e s de caráter r e c e n t e , e x p l i c a m o c o n s e n s o que existe entre p e q u e n a e grande p r o d u ç ã o na r e g i ã o e s t u d a d a . Não se d e i x a r á , c o n t u d o , de se levar em conta a e x i s t ê n c i a de outros destinos ã classe t r a b a l h a d o r a r u r a l , como a p r o l e t a r i -
zação e os d e s l o c a m e n t o s c o l e t i v o s .
A ênfase dada na pequena p r o p r i e d a d e v i s a o c o n h e c i m e n t o mais profundo deste segmento da sociedade r u r a l , a p a r e n t e m e n t e
em situação de maior e s t a b i l i d a d e que as d e m a i s . Tal e q u í v o c o importa ã H i s t ó r i a e l u c i d a r .
A v i a b i l i d a d e da a b o r d a g e m de uma temática recente é re- sultado de inquetações de p e s q u i s a d o r e s , ligados ã r e n o v a ç ã o m e t o d o l ó g i c a das Ciências Sociais.
Tais inquietações são devidas aos a v a n ç o s o c o r r i d o s no interior da H i s t ó r i a , o que levou seus e s t u d i o s o s a se e n t e n - derem no dever de ampliar seus p r ó p r i o s h o r i z o n t e s de a n á l i s e .
A influência m a r x i s t a no d e s e n v o l v i m e n t o da H i s t ó r i a e a postura m e t o d o l ó g i c a do grupo de A n n a l e s c o o p e r a r a m para a decisiva d e s m i s t i f i c a ç ã o das f r o n t e i r a s c r o n o l ó g i c a s do h i s t o - riador não só na F r a n ç a , mas também na h i s t o r i o g r a f i a latino- americana .
Em primeiro lugar, o r e c o n h e c i m e n t o da n e c e s s i d a d e de uma síntese g l o b a l , quando se parte da c o n s t a t a ç ã o de que a história humana reflete uma t o t a l i d a d e o r g â n i c a , m u t á v e l ape- nas a longo p r a z o , mas p e r m e a d a de a c o n t e c i m e n t o s de curto e médio prazo, que trazem consigo a d i n â m i c a de .transformações mais amplas.
Em segundo lugar, o peso que m u i t o s h i s t o r i a d o r e s (não todos) têm dado ao econômico como fator e x p l i c a t i v o ; e por fim, a n e c e s s i d a d e de a p r o x i m a ç ã o da H i s t ó r i a com as demais ciên- cias humana s.
Ha que se c o n s i d e r a r ainda o a r g u m e n t o que aponta o pe- rigo de p a r c i a l i d a d e do h i s t o r i a d o r ao analisar o p r e s e n t e ; t a l risco não só o h i s t o r i a d o r i n c o r r e , mas também o s o c i o l ó g o , o
a n t r o p o l ó g o , o e c o n o m i s t a . A d e m a i s , i n c o r r e - s e o m e s m o risco ao se estudar o p a s s a d o . 0 que se a s s e g u r a sim, por parte do historiador c o n t e m p o r â n e o , é o c o m p r o m i s s o que este m a n t é m com as estruturas de maior f ô l e g o , uma noção que p o s s i b i l i t a en- globar o passado a análise e x p l i c a t i v a do p r e s e n t e . A s s i m , o tratamento h i s t ó r i c o de qualquer r e a l i d a d e c o n t e m p o r â n e a , emes- mo do p a s s a d o , exige que a v a r i á v e l tempo seja c o n s i d e r a d a em
todo seu rigor. E é n e s t e sentido que se p r e t e n d e e n c a m i n h a r esta p e s q u i s a .
0 presente trabalho tem um caráter interdiscip1inar. Ne- le, b u s c a r - s e - á o encontro da H i s t ó r i a com a E c o n o m i a , a Esta- tística, a I n f o r m á t i c a , a S o c i o l o g i a , e a l g u m a s v a r i á v e i s da Demografia. À H i s t ó r i a , c o n t u d o , caberá a função de síntese, on- de se procurará detectar as p e r m a n ê n c i a s e r u p t u r a s r e s p o n s á - veis pelos avanços de uma sociedade d e t e r m i n a d a .
A idéia de se t r a b a l h a r com um espaço e c o n ô m i c o e so- cial d e f i n i d o , a saber, o E x t r e m o - O e s t e e Sudoeste paranaense,*
concretizou-se p r i n c i p a l m e n t e por três fatores p r i n c i p a i s :
a) alta r e p r e s e n t a t i v i d a d e destas regiões no que tange â p r o d u ç ã o de s o j a ;
b ) sua h o m o g e n e i d a d e h i s t ó r i c o - r e g i o n a l , p r i n c i p a l m e n t e no que se refere ao c o n t i n g e n t e p o p u l a c i o n a l aí ins- talado ;
c) sua e v o l u ç ã o r e c e n t e , no que diz r e s p e i t o ãs suas a t i v i d a d e s a g r í c o l a s .
Esta d e l i m i t a ç ã o , contudo não esteve isolada em m o m e n t o algum de seu c o n j u n t o : durante todas as n o s s a s i n v e s t i g a ç õ e s ,
* 0 s m u n i c í p i o s q u e c o n s t i t u e m e s t a s 2 M i c r o r r e g i õ e s H o - m o g ê n e a s , s e g u n d o o I B G E , e n c o n t r a m - s e no A n e x o n ° 1, p . 1 1 8
estiveram p r e s e n t e s tanto a realidade de um Estado c a r a c t e r i s - ticamente agrário (como é o caso do P a r a n á ) como o p r ó p r i o con- texto da formação e c o n ô m i c a do B r a s i l . De f a t o , em um país con- cebido h i s t o r i c a m e n t e como a g r í c o l a , a g r a n d e p r o p r i e d a d e ru- ral constituiu-se um dos elementos e x p l i c a t i v o s das r e l a ç õ e s econômicas i n t e r n a c i o n a i s , por um lado, mas também r e s p o n s a - b i l i z o u - s e pela estrutura e c o n ô m i c a interna deste p a í s ; ambos os a s p e c t o s , r i g i d a m e n t e c o n d i c i o n a d o s pelo c o m p o r t a m e n t o es- pecífico do Sistema C a p i t a l i s t a no B r a s i l .
Para as i n v e s t i g a ç õ e s junto às f o n t e s p r i m á r i a s d a q u e - la região, optamos por analisar o m u n i c í p i o de Cascavel por tratar-se este de um pólo r e g i o n a l de e x t r e m a i m p o r t â n c i a para ãs atividades e c o n ô m i c a s r e l a c i o n a d a s ã soja.
0 m u n i c í p i o de C a s c a v e l c o n s t i t u i - s e uma cidade de m é - dio porte, a b r a n g e n d o uma área rural b a s t a n t e s igni f icativa, con- forme nos ilustra o Mapa n9 1. F u n d a d a em 1930, p a s s o u ã con- dição de m u n i c í p i o apenas em 1952. C o m e ç o u a ter e x p r e s s i v i d a - de . econômica com a e x t r a ç ã o do mate e da m a d e i r a , t o r n a n d o - s e um dos núcleos de p o v o a m e n t o mais p r o c u r a d o s pelos t r a b a l h a - dores, e mais tarde também pelas e m p r e s a s m a d e i r e i r a s .
Ao lado destas duas a t i v i d a d e s , d e s e n v o 1 v e r a m - s e também a suinocultura e a lavoura de m i l h o , r e a l i z a d a s pelos m i g r a n - Jzevs cuja atividade de s u b s i s t ê n c i a nos p e r m i t e c a r a c t e r i z a r co- .nyp uma produção a g r í c o l a t r a d i c i o n a l .
Mas será com a soja que ela a d q u i r i r á a personalidade que tem h o j e : v o l t a d a às funções r u r u r b a n a s , sofreu um c r e s c i m e n - to extremamente v i o l e n t o , não só em termos p o p u l a c i o n a i s , mas principalmente no setor de serviços.
Além d i s t o , as p r i n c i p a i s a t i v i d a d e s c o o p e r a t i v i s t a s da
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CAP. L EÔNIDAS MARQUES
LEGENDA FONTE: PREFEITURA MUNICIPAL DE CASCAVEL ~ SEDE DE DISTRITO
• POVOADOS
~ E STRADA PAVIMENTADA _.- LIMITE DE DISTRITO
nar tal espaço de região de C a s c a v e l ; de f a t o , principalmente no que tange ã s o j i c u l t u r a , o centro de C a s c a v e l é o m a i s impor- tante de toda a r e g i ã o .
0 enfoque da H i s t ó r i a Regional exige que se lance mão de investigações e m p í r i c a s , o que foi r e a l i z a d o a partir de dois tipos de fontes p r i n c i p a i s : os dados e s t a t í s t i c o s do Ins- tituto Brasileiro de G e o g r a f i a e E s t a t í s t i c a (IBGE) e os docu- mentos n o t a r i a i s - junto ao I Cartório de Registros de Imóveis, Títulos e D o c u m e n t o s da Comarca de C a s c a v e l .
Ainda em um caráter c o m p l e m e n t a r , importou lançar mão dos testemunhos orais e também da Imprensa P e r i ó d i c a , pois que muitas lacunas p r e c i s a v a m ser p r e e n c h i d a s com estes r e c u r s o s .
A análise dos l e v a n t a m e n t o s o f i c i a i s do IBGE (Instituto Brasileiro de G e o g r a f i a e E s t a t í s t i c a ) tiveram dois o b j e t i v o s principais:
a) avaliar o v o l u m e da p r o d u ç ã o a g r í c o l a da soja (e de alguns outros c e r e a i s ) na região e s t u d a d a , e também no Estado do P a r a n á . L e v o u - s e também em c o n s i d e r a ç ã o o volume de p r o d u ç ã o da soja a nível n a c i o n a l , para que se deixasse claro a r e p r e s e n t a t i v i d a d e a g r í c o l a deste Estado ;
b) analisar a e v o l u ç ã o da e s t r u t u r a f u n d i á r i a no Estado e nas 2 M i c r o r r e g i õ e s h o m o g ê n e a s , bem como as alte- rações nas formas de a d m i n i s t r a ç ã o da terra, dando ênfase p r i m o r d i a l aos a r r e n d a m e n t o s a g r í c o l a s . A par- tir destes dados, põde-se calcular o índice de G I N I1 1 HOFFMANN, R. Medidas de concentração de uma distribuição e a de- sigualdade econômica em uma sociedade. Piracicaba, Universidade de São Pau- lo. Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz". Departamento de Ciên- cias Sociais Aplicadas, 1976. 88p.
para m e l h o r compreender o processo de concentração da pro- priedade durante o período analisado, a saber, de 1960 a 1980.
Os gráficos c o n s t r u í d o s com o a u x í l i o da S e m i o l o g i a grá- fica, pôde acompanhar a transição de uma a t i v i d a d e a g r í c o l a di- versificada para uma fase de e s p e c i a l i z a ç ã o a g r í c o l a ; outra ca- racterística ficou b a s t a n t e e v i d e n t e : a i m p o r t â n c i a dos a r r e n - damentos agrícolas para as pequenas p r o p r i e d a d e s , bem como sua tendência à diminuição a nível m u n i c i p a l , v e r i f i c a - s e um sig- nificativo aumento - j u s t a m e n t e na cidade de C a s c a v e l , bem co- mo nas 2 M i c r o r r e g i õ e s c o n s i d e r a d a s , onde a p r o d u ç ã o de soja á extremamente r e l e v a n t e .
Estes dados, no e n t a n t o , p r e c i s a m ser c r i t i c a d o s . Se por um lado eles nos p e r m i t e m a v e r i g u a r a r e p r e s e n t a t i v i d a d e da
soja (e conseqílentemente a e s p e c i a l i z a ç ã o a g r í c o l a ) , quanto ao processo de c o n c e n t r a ç ã o da p r o p r i e d a d e n e s t e s ú l t i m o s 20 anos, não se pode esperar um rigor m e t o d o l ó g i c o s a t i s f a t ó r i o .
A m e t o d o l o g i a a d o t a d a pelo IBGE o b s c u r e c e as formas de concentração a s s u m i d a s na Região Sul, pois que suas origens estão p r e d o m i n a n t e m e n t e nas pequenas p a r c e l a d a s . Na m e d i d a em que se considera um e s t a b e l e c i m e n t o rural a partir da área con- tínua, sujeito a uma ú n i c a a d m i n i s t r a ç ã o ,2 não se leva em con- ta a existência de p a r c e l a s esparsas sob a a d m i n i s t r a ç ã o e pro- priedade de um só i n d i v í d u o .
A s s i m , é p o s s í v e l que os r e s u l t a d o s obtidos nos Censos (ainda que e v i d e n c i e m um alto p r o c e s s o de c o n c e n t r a ç ã o ) não correspondam e f e t i v a m e n t e â c o n c e n t r a ç ã o e f e t i v a da terra (su- postamente maior para o caso p a r a n a e n s e , nestes últimos 10 anos).
2F U N D A Ç Ã O I N S T I T U T O P A R A N A E N S E DE D E S E N V O L V I M E N T O E C O - N Ô M I C O E S O C I A L - I P A R D E S . S u b d i v i s ã o , p o s s e e u s o d a t e r r a no P a r a n á . I P A R D E S , C u r i t i b a , 1 9 7 5 . p . 1 8 .
obtidos junto às fontes p r i m á r i a s , obtidas no "I C a r t ó r i o de Registros de I m ó v e i s , Títulos e D o c u m e n t o s da Comarca de Cas- cavel".
A v a l i d a d e de se lançar mão de um c o n j u n t o de documentos como estes é i n c o n t e s t á v e l , de vez que se pode d e t e c t a r quan- tativa e q u a l i t a t i v a m e n t e a evolução que sofreu a m o d e r n a pro- priedade fundiária em C a s c a v e l .
Para o l e v a n t a m e n t o e a r r o l a m e n t o dos " C o n t r a t o s de com- pra e v e n d a " optou-se por fazer uma a m o s t r a g e m d u r a n t e este pe- ríodo, já que o n ú m e r o de d o c u m e n t o s n e s t e s 20 anos é extre- mamente vasto. Por se tratar de um trabalho artesanal do pesquisador estabeleceu-se como critério a escolha de datas baliza de m a i o r impor-
importância para:os interesses desta p e s q u i s a , de onde se ^ r e t i - raram 1946 dados para a a m o s t r a g e m . Os anos e s c o l h i d o s foram portanto os s e g u i n t e s :
1960 - Onde nada ou quase nada se p r o d u z i a com v i s t a s
ao m e r c a d o i n t e r n a c i o n a l (com e x c e ç ã o de um raro con- tato com regiões e países v i z i n h o s ) . Até esta época, to- da a atividade estava v o l t a d a para a p o l i c u l t u r a e sui- n o e u l t u r a . A í , o b s e r v a - s e o r e s u l t a d o da p o l í t i c a ofi- cial de c o l o n i z a ç ã o a g r í c o l a .
A" soja começa a ser p l a n t a d a em c a r á t e r experimental, não chegando sequer a ser citada nos l e v a n t a m e n t o s o f i c i a i s
(a nível m u n i c i p a l ) ;
1969 - Este é um ano que se c a r a c t e r i z a pela queda de produção de diversos cereais (entre eles o trigo e o m i - lho) no m u n i c í p i o de C a s c a v e l . Q u a n t o a soja, ela pros- segue a tendência c o n t í n u a . d e a u m e n t o de p r o d u ç ã o . Po-
f·t:x1elo B - Cont:ratoS de C011pN li Venda
ArquiVO: I eazotório de Ftristro de Imóveis, T-ttuws e doownentos da- Cotrm'oa de Cascavel.
Tttuto: Livro do Cartório de Registro de Imóveis, xttulos e Doc~ntos
Livro ---
Lote
Nome
---
PrOfiSSdo
---
Origem~ __________________ __
EstaàD Civil. ---
Ti tuZo de Propriedade do Livro de
Titulos e Lotes CoZ.oniais DGTC[]
Ti. tuto de Dormnio Pl.eno de terras do Livro de Ti.tu"lo de.:corrpra e - venda de terras devolutas pe'Lo DGTe Cl
Escritura PúbUoa de oonpra e venda O
Outl'aB O
---
Zona
GZeb-a--- Área
MUni-o~~·~--·---
Nr; de Ordem - - - Lata _ _ _
Nome
---
Profissd.o
---
Origem~ ____________________ _ Estado Oivil
---
Vaz'or do contrato ---
Corldü;oes: As dõTi tu Lo
Outras ---,---,-":"":--
Finalidade de E:r:ploração --,....,..---
Benfeitoria8 ______________ ~---
de-se deferir daí que a p r o d u ç ã o d i v e r s i f i c a d a já come- ça g r a d a t i v a m e n t e a ser substituída pela p r o d u ç ã o espe- cializada;
1976 - 0 ano que r e p r e s e n t a o q ü i n q ü ê n i o r e s p o n s á v e l pe-
lo take-off da soja no Paraná e no B r a s i l ( 1 9 7 3 - 1 9 7 7 ) , somando-se ainda para este período o início do p r o c e s - samento da soja no país (1974). A í , a c o n j u n t u r a dos n e g ó c i o s tende a sofrer uma s i g n i f i c a t i v a a c e l e r a ç ã o ;
1980 - R e s p o n s á v e l pela safra r e c o r d e de soja, d u r a n t e o período a n a l i s a d o .
Neste mesmo a n o , o b s e r v a - s e uma queda de preços deste produto no m e r c a d o .
Tal p r o c e d i m e n t o levou à n e c e s s i d a d e de h o m o g e n e i z a ç ã o dos dados, através da e l a b o r a ç ã o de uma ficha (conforme figura n9 1), onde se desse atenção aos seguintes itens p r i n c i p a i s : *
- P r o f i s s ã o , O r i g e m e E s t a d o Civil dos C o n t r a t a n t e s . Es- tes dados se p r e s t a m a v e r i f i c a r a o r i g e m destes p r o d u - tores, bem como se os v e n d e d o r e s p e r t e n c i a m ao m e i o agrícola ou se eram externos a ele; i m p o r t a n t e também ê detectar as empresas c o l o n i z a d o r a s de t e r r a , bem como a ação estatal neste mesmo sentido.
- F o r m a s de Título:. . E s tão d i r e t a m e n t e ligadas ã q u e s t ã o da política estatal para a r e g u l a m e n t a ç ã o de t e r r a s . - Ã r e a e Preço dos I m ó v e i s . São de r e l e v â n c i a c e n t r a l , dado o objetivo da p e s q u i s a . Aqui p o d e r e m o s o b s e r v a r o c o m p o r t a m e n t o dos preços nos dois p e r í o d o s d i s t i n t o s - anterior ã soja ( 1 960 - 1 969) e c o n j u n t u r a da soja(1970-
* A l g u n s e x e m p l o s da f i c h a M o d e l o B - c o n t r a t o s d e " C o m - p r a e V e n d a " e n c o n t r a m - s e no A n e x o n 9 2. p. 1 2 0
1980), e também v e r i f i c a r a evolução do tamanho m é d i o das p r o p r i e d a d e s . Para que se r e a l i z a s s e esta c o m p a r a - ção, foi n e c e s s á r i o d e f l a c i o n a r os v a l o r e s d e c l a r a d o s em cada c o n t r a t o . *
- B e n f e i t o r i a s - Se estão c i t a d a s , quais as m a i s cons- tantes, e se elas e n c a r e c e m ou não o preço das p r o p r i e - dades.
Após a o r d e n a ç ã o e c o d i f i c a ç ã o de tais d a d o s , * * r e a l i - zou-se se p r o c e s s a m e n t o junto a um programa e s p e c i a l m e n t e des- tinado a pesquisas em Ciências S o c i a i s .3 Em tal p r o g r a m a , p Õ d e - se verificar no conjunto das i n f o r m a ç õ e s o c o m p o r t a m e n t o dopre- ço da terra, bem como c o m p r o v a r as a l t e r a ç õ e s na e s t r u t u r a fun- diária. Também a ação estatal e p r i v a d a foram r e l a c i o n a d a s ao conjunto dos dados. As c a t e g o r i a s p r o f i s s i o n a i s dos c o n t r a t a n - tes (bem como sua o r i g e m ) puderam completar o quadro de infor- maçõe s .
C o n t u d o , também para estas f o n t e s , e x i s t e m severas crí- ticas a f a z e r .
Em primeiro lugar, os c o n t r a t o s nem sempre t r o u x e r a m to- das as informações e x i g i d a s , como por e x e m p l o , o item " p r o f i s - são" e "origem" dos c o n t r a t a n t e s são b a s t a n t e e s c a s s o s .
A e x i s t ê n c i a ou não de b e n f e i t o r i a s nas p r o p r i e d a d e s nem sempre está c i t a d a , o que d i f i c u l t a a a v a l i a ç ã o de sua impor- tância no valor da p a r c e l a .
Alguns v a l o r e s e x p r e s s o s nos c o n t r a t o s de compra e v e n -
* E s t e s c á l c u l o s se b a s e a r a m no í n d i c e G e r a l d e P r e ç o s , c o n f o r m e A n e x o n? 3 [ m e d i d a a d o t a d a p a r a t o d o s o s v a l o r e s em c r u z e i r o s a n a l i s a d o s n e s t a p e s q u i s a ] , p. 1 2 3
**üs c ó d i g o s u t i l i z a d o s p a r a o p r o c e s s a m e n t o d e s t a f i c h a e n c o n t r a m - s e no A n e x o n? 4 . p. 1 2 4
U n i v e r s i d a d e F e d e r a l do P a r a n á . " S p e c i a l P a c k a g e f o r S o - c i a l S c i e n c e s " . C u r i t i b a , C e n t r o d e C o m p u t a ç ã o da U n i v e r s i d a d e F e d e r a l do P a r a n á . 1 9 8 2 .
da (principalmente r e a l i z a d o s após 1970) não são dignos de to- tal c r e d i b i l i d a d e . Pela d e f a s s a g e m de tais preços (10 a 100 ve- zes menor do que o valor r e a l ) o b s e r v a - s e que tal e x p e d i e n t e é adotado para diminuir ou eliminar a incidência t r i b u t á r i a e o controle do f i s c o , e x p e d i e n t e este adotado p r i n c i p a l m e n t e por pessoas j u r í d i c a s , ligadas a n e g ó c i o s de terras e de m a d e i r a . Toda a checagem sobre a v a l o r i z a ç ã o da p r o p r i e d a d e em função da soja fica em parte c o m p r o m e t i d a - pois em t r a t a m e n t o esta- tístico mesmo que não se c o n s i d e r e todo o u n i v e r s o de dados co- mo fictício, sabe-se que os v a l o r e s falsos d i s t o r c e m os parâ- metros da amostra.
No que tange aos anos de 1976 e 1980, e n c o n t r o u - s e um problema com relação aos r e g i s t r o s . A partir de 1975, e x t i n - guiu-se a escritura m a n u s c r i t a , p a s s a n d o - s e a r e g i s t r a r os imó- veis a partir do critério de m a t r í c u l a s , tornando impossível a partir desta data a c o n t i n u i d a d e do a r r o l a m e n t o através da m e - todologia adotada. De f a t o , o r e g i s t r o por m a t r í c u l a dá-se a cada p r o p r i e d a d e um n ú m e r o fixo, para qualquer efeito de tran- sação. Desta m a n e i r a , não se pode a c o m p a n h a r tais dados pela data do n e g ó c i o , mas somente pelo seu n ú m e r o .
Por este m o t i v o , lançamos mão (a partir de 1975) dos
"Contratos de C o m p r o m i s s o de Compra e V e n d a " , que embora m e n o s n u m e r o s o s , possuem e s p e c i f i c a ç õ e s m a i s d e t a l h a d a s de cada par- cela (o que foi m a i s i n t e r e s s a n t e para n o s s o s o b j e t i v o s ) .
Outro p r o b l e m a é com r e l a ç ã o â análise da c o n c e n t r a ç ã o da p r o p r i e d a d e . Tal p r o c e s s o não se deu via compra e v e n d a em sua totalidade, mas o r i g i n o u - s e de a g l u t i n a ç õ e s de pequenas par- celas, via eliminação de p o s s e i r o s que ali se i n s t a l a r a m . In- felizmente, estes fatos não são a r r o l á v e i s , pois m e s m o que fos-
se possível inquirir aos f a z e n d e i r o s sobre a origem de suas p r o p r i e d a d e s , a p o n t a - s e a p o s s í v e l e x i s t ê n c i a de e s cr i turas. con- seguidas, na m a i o r i a fora do próprio E s t a d o , com o intuito de legitimar tais e s t a b e l e c i m e n t o s .
Os d o c u m e n t o s da p r e f e i t u r a e do Fórum foram incendiados (por volta de 1970), o que i m p o s s i b i l i t a uma v e r i f i c a ç ã o mais cuidadosa das e x p u l s õ e s de g r i l e i r o s , p o s s e i r o s e i n t r u s o s .
Mesmo com todas estas 1 imitações ,.põde-se o b s e r v a r prin- cipalmente a v a l o r i z a ç ã o da p r o p r i e d a d e em função da sojicul- tura, fator este que d i f i c u l t a i m e n s a m e n t e o acesso de camadas mais baixas à p r o p r i e d a d e da terra, e também aos p e q u e n o s pro- dutores em aumentar suas p a r c e l a s . Pelo c o n t r á r i o , o b s e r v a - s e nesta camada um r e f r a c c i o n a m e n t o da t e r r a , não apenas por m o - tivo de h e r a n ç a , mas porque o m é d i o p r o d u t o r passa a se d e s f a - zer de parte do seu e s t a b e l e c i m e n t o no m o m e n t o em. que os cus- tos de produção acabam por lhe trazer p r e j u í z o s incontroláveis.
Aí, a terra é v e n d i d a na m a i o r i a das v e z e s , para saldar dívi- das b a n c á r i a s ou p e s s o a i s . A s s i m sendo, ambos os p r o c e s s o s evi- denciados, a saber, o de c o n c e n t r a ç ã o e o de f r a c c i o n a m e n t o es- tão articulados à introdução de c a p i t a i s na a g r i c u l t u r a , que pressionam as a t i v i d a d e s t r a d i c i o n a i s junto às o s c i l a ç õ e s do mercado. As i n v e s t i g a ç õ e s junto aos dados sobre o a r r e n d a m e n t o agrícola foram e x t r e m a m e n t e i m p o r t a n t e s para a a m p l i a ç ã o dos quadros desta p e s q u i s a . Sua e x p r e s s i v i d a d e quanto às p e q u e n a s e médias p r o p r i e d a d e s se c o n s t i t u i u objeto de n o s s a s p r e o c u p a - ções, p r i n c i p a l m e n t e em função da s o j i c u l t u r a .
0 conjunto de c l á u s u l a s e n c o n t r a d a s nestes d o c u m e n t o s merecem maior c r e d i b i l i d a d e do que nos c o n t r a t o s de compra e venda, pois em qualquer caso de litígio entre os c o n t r a t a n t e s , o único documento existente com as c o n d i ç õ e s a c e r t a d a s é o"Con-
trato de Arrendamento". Além d i s t o , eles trazem m a i o r e s e s p e c i f i - cações no teor do C o n t r a t o , tais como as o b r i g a ç õ e s entre as partes, as condições de p a g a m e n t o , e as f i n a l i d a d e s de explo- ração - embora não d i s c r i m i n a d a s na t o t a l i d a d e dos c o n t r a t o s .
Os m a i o r e s p r o b l e m a s que se e n f r e n t a com este c o n j u n t o são basicamente dois:
a) escassez dos c o n t r a t o s r e g i s t r a d o s em C a r t ó r i o no pe- ríodo de 60 a 70. Estes a c e r t o s eram até então usual- mente r e a l i z a d o s de forma c o n s e n s u a l , não havendo por- tanto d o c u m e n t a ç ã o e s c r i t a . Também para este p e r í o - do o b s e r v a - s e ainda a e x i s t ê n c i a de terras não regu- l a m e n t a d a s , o que f a c i l i t a v a a o c u p a ç ã o sem Ônus
(exercício de p o s s e ) ;
b ) i m p o s s i b i l i d a d e de v e r i f i c a ç ã o da p r o p o r c i o n a l i d a d e dos a r r e n d a m e n t o s a nível m u n i c i p a l . Embora: e s t e j amo s trabalhando com o u n i v e r s o dos c o n t r a t o s de a r r e n d a - mento junto a este c a r t ó r i o , m u i t a s v e z e s o c o r r e a
suspensão do c o n t r a t o , ou ainda a b u s c a de outras formas de r e g u l a m e n t a ç ã o que não v i a c a r t ó r i o . Por isto, lançamos mão dos dados o f i c i a i s para v e r i f i - car sua r e p r e s e n t a t i v i d a d e .
De qualquer m a n e i r a , a s i g n i f i c â n c i a da F o r m a de E x p l o - ração por a r r e n d a m e n t o é m u i t o g r a n d e , pelas r e s p o s t a s m e s m a s que se tem encontrado no decorrer desta p e s q u i s a .
Para o a r r o l a m e n t o destes d a d o s , que somaram 1 264 con- tratos, elaborcu-se também uma ficha que s i n t e t i z a s s e as in- formações a serem c o l e t a d a s (conforme figura 2),* levando em
* A l g u n s e x e m p l o s de p r e e n c h i m e n t o d e s t a f i c h a e n c o n - t r a m - s e no A n e x o 5. p - 1 2 7
FIGURA N9 2 - FICHA MODELO A. CONTRATOS.DE ARRENDAMENTO
Modelo A - Contratos âa Arrendamento
Arquivo: I Cartório ãe "Registro de ImóveisTttxílos e documentos âa Comarca de Cascavel Txtulo: Registro de Títulos, documentos e outros papéis
Livro Folha h'Ç de Ordem Data
Noms
Profis8Õo_
Origem_
Estado Civil <s>
Nome
Profissão_
Origem Estado Civil
Produto • Trabalho • Dinheiro •
Prazo Preço
Tipo de Pagamento Ben feitorias
Lote Zona Gleba Área Município
Obrigações do Arrendante Obrigações do Arrendatário
conta os p r i n c i p a i s itens, tais como:
- P r o f i s s ã o , O r i g e m , E s t a d o C i v i l dos C o n t r a t a n t e s . Es- tes dados importam para o r e c o n h e c i m e n t o da a t i v i d a d e eco- nômica destes c o n t r a t a n t e s . Q u a n d o p e r t e n c e n t e s ao Se-
tor P r i m á r i o , d e d u z - s e que t r a b a l h a r ã o d i r e t a m e n t e com a terra. Também importa aqui avaliar o c o n t i n g e n t e de explorações e m p r e s a r i a i s e ainda a p o s s í v e l e x i s t ê n c i a de e s p e c u l a ç ã o i m o b i l i á r i a ;
- Tipo de A r r e n d a m e n t o . As formas de p a g a m e n t o encon- tradas são b a s i c a m e n t e três: em trabalho (as m a i s inco- m u n s ) , em dinheiro e em p r o d u t o (a grande m a i o r i a após
1970). Esta t e n d ê n c i a em se pagar em p r o d u t o traz con- sigo um c o n d i c i o n a n t e : os a r r e n d a t á r i o s devem trazer con- sigo os ins t rument a i s para a p r o d u ç ã o (tecnologia quí- mica e m e c â n i c a , bem como e m p r e g a d o s , se n e c e s s á r i o ) .
Quanto a forma de p a g a m e n t o em t r a b a l h o , estas estão ligadas a formas t r a d i c i o n a i s de a r r e n d a m e n t o , onde o a r r e n d a t á r i o trabalha para si e r e a l i z a serviços espe- cíficos ao p r o p r i e t á r i o , tais como arar a t e r r a , cons- truir casas, zelar pela p r o p r i e d a d e , cuidar do g a d o . S u a pouca r e p r e s e n t a t i v i d a d e n u m é r i c a i m p o s s i b i l i t o u - n o s de analisá-lo de forma m a i s p r o f u n d a .
- Prazo de A r r e n d a m e n t o . À esta p e s q u i s a , tal item servi- rá como dado complementar, pois ele se c o n d i c i o n a a par- tir da finalidade de e x p l o r a ç ã o . A í , e n c o n t r a m o s a du- ração m á x i m a de 25 anos (nos casos de r e f l o r e s t a m e n t o ) , até uma duração m í n i m a de 3 m e s e s (para safras de cul- turas e s p e c í f i c a s ) .
- Custo do A r r e n d a m e n t o . E m b o r a para este caso ele não
ocupe r e l e v â n c i a central (como o era nos c o n t r a t o s de compra e v e n d a ) , importa a n a l i s á - l o à luz dos p r e ç o s médios de compra e v e n d a e n c o n t r a d o s na a n á l i s e ante- rior. A l é m d i s t o , p r i n c i p a l m e n t e quando em d i n h e i r o , f o i possível inquirir sobre a v a l o r i z a ç ã o ou não desta for- ma de e x p l o r a ç ã o a g r í c o l a .
- O b r i g a ç õ e s do A r r e n d a n t e e do Arrendatário. Serviu-nos para que t i v é s s e m o s dados c o m p l e m e n t a r e s a r e s p e i t o des-
te tipo de n e g ó c i o .
Para a ordenação e p r o c e s s a m e n t o destes d a d o s , a p l i c o u - se o mesmo p r o g r a m a citado no caso a n t e r i o r . *
A semelhança de tratamento nos dois casos p o s s i b i l i t o u uma análise comparativa entre estas duas formas de e x p l o r a ç ã o , onde se pôde d e m o n s t r a r as p r i n c i p a i s r e l a ç õ e s entre p e q u e n a e grande p r o p r i e d a d e .
As técnicas de H i s t ó r i a Oral e os dados da Imprensa Pe- riódica foram u t i l i z a d o s n e s t e trabalho em um c a r á t e r c o m p l e - m e n t a r . * * Sem exagero, os t e s t e m u n h o s orais e o m a t e r i a l dos diversos jornais e r e v i s t a s c o n c e r n e n t e s ao tema dariam subsí- dios para uma outra d i s s e r t a ç ã o . Em que pese não se ter esgo- tado tais f o n t e s , foi p o s s í v e l e l u c i d a r um grande n ú m e r o de dú- vidas através destas i n v e s t i g a ç õ e s . P r i n c i p a l m e n t e no que tan- ge ao processo m i g r a t ó r i o (a r e s p e i t o dos quais não se p o s s u i levantamentos no IBGE) foi de extremo interesse os dados da
* 0 s c ó d i g o s u t i l i z a d o s p a r a o p r o c e s s a m e n t o d e s t e s d a - d o s e n c o n t r a m - s e no A n e x o B, p. 132. P a r a o s v a l o r e s e x p r e s s o s em d i n h e i r o , a d o t o u - s e o e x p e d i e n t e d e d e f l a c i o n a m e n t o , c o m o no c a s o a n t e r i o r .
* * D o c o n j u n t o d e e n t r e v i s t a s r e a l i z a d a s , s e 1 e c i o n o u - s e d u a s d e n t r e a s m a i s s i g n i f i c a t i v a s , p a r a i l u s t r a r o p r o c e d i - m e n t o m e t o d o l ó g i c o aí a d o t a d o ( A n e x o s 7 e 8 ] . p. 138-1-52