A CRISE
MIGRATÓRIA
NO SÉCULO XXI
Mobilidade
Humana: fenômeno natural, ou
Migração: um fenômeno natural?
O ser humano move-se pelo globo desde o início dos tempos, e isso foi o que nos possibilitou a dispersão às regiões mais inóspitas. No mundo moderno, composto por Estados nacionais delimitados por fronteiras artificialmente construídas, diversos
impedimentos ao deslocamento humano
estabeleceram-se - o controle de
entrada e saída de pessoas é
determinado pelo governo de cada um desses Estados.
Assim, hoje a nossa realidade é a de políticas
migratórias, necessidade de visto, controle de fronteiras, etc.
Apesar desses impedimentos, a mobilidade humana sempre esteve e continua presente na história da humanidade e migrar é um direito inerentemente humano.
Migrações forçadas e a questão do refúgio, apesar de existirem há muito tempo, somente receberam enfoque no século XX, quando tornaram-se um problema europeu. Era preciso tomar medidas frente a acontecimentos que chocaram o continente, como o genocídio armênio cometido pelo Império Otomano na 1ª Guerra Mundial.
Cerca de duas décadas depois, na 2ª Guerra Mundial, as perseguições e extermí- nios da Alemanha Nazista com base em raça e religião, além da alta rejeição a migrantes do leste europeu no continente, denotaram a urgência de uma regula- mentação quanto a questão do refúgio.
Por isso, houve a criação do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugia- dos (ACNUR), a agência da ONU para refugiados, e a posterior aprovação do Estatuto dos Refugiados, na Convenção de 1951. A convenção estabeleceu as normativas base para o instituto de refúgio, os conceitos e os princípios que regulam a conduta dos países, porém era restrita temporal e geograficamente.
Para estender a proteção a pessoas de todo o mundo, foi criado o Protocolo Adicional de 1967, que retirou tais limitações e tornou a instituição do refúgio global. Dentre as cláusulas mais importantes desses documentos estão:
O INSTITUTO DO REFÚGIO
- O conceito de refugiado: pessoas que se encontram fora do seu país de origem devido a um fundamenta- do temor de perseguição por motivos de raça, religião, nacionali- dade, opinião política ou partici- pação em grupos sociais, e que não podem ou não querem retornar ao seu país de origem por correrem riscos graves de vida;
- Princípio do non-refoulement:
nenhum Estado pode expulsar um refugiado para as fronteiras do
território onde ele sofre perse- guição;
- Direitos assegurados aos refugia- dos: os Estados devem garantir a não discriminação dos refugiados seja por raça, religião ou país de origem, dar a eles o mesmo tratamento que é dado aos seus nacionais em matéria de assistência e de serviços públicos e também o mesmo ensino primário disponível aos nacionais na rede pública de educação.
CONVENÇÕES REGIONAIS
Apesar de feitas no âmbito da ONU, as convenções citadas anteriormente têm um caráter extremamente ocidentalizado, pois foram feitas em resposta a um problema europeu em um determinado período. Assim, as realidades específicas de diversas zonas do planeta e de seus fluxos de mobilidade humana foram deixadas de lado. Por isso, foram realizadas convenções regionais buscando uma melhor adequação a essas realidades.
A Convenção Africana sobre Refugiados aumentou o escopo da definição do refúgio, adicionando agressão externa e ocupação e dominação estrangeira, enquanto a Declaração de Cartagena, relativa a países latino americanos, foi a primeira a incluir a violação maciça de direitos humanos como um motivo legítimo de refúgio.
MAIS DA METADE DE TODOS OS REFUGIADOS DO MUNDO (53%) SÃO PROVENIENTES DA SÍRIA, DO AFEGANISTÃO E DA SOMÁLIA. COMO É POSSÍVEL PERCEBER, OS PRINCIPAIS PAÍSES RECEPTORES DOS FLUXOS DE REFUGIADOS SÃO AQUELES EM DESENVOLVIMENTO, POR SEREM AQUELES FRONTEIRIÇOS OU PRÓXIMOS AO LOCAL DE ORIGEM DESSES MIGRANTES FORÇADOS. EM 2015, OS PAÍSES QUE MAIS ACOLHERAM REFUGIADOS FORAM TURQUIA, PAQUISTÃO E LÍBANO. ESSES ESTADOS, PORÉM, MUITAS VEZES NÃO TÊM CONDIÇÕES DE ABRIGAR E DAR CONDIÇÕES BÁSICAS A SEUS PRÓPRIOS NACIONAIS, QUEM DIRÁ AOS REFUGIADOS.
DESLOCAMENTOS HUMANOS
MIGRAÇÕES FORÇADAS
Podem ser causadas por conflitos ou algum tipo de perseguição no local de origem da população deslocada, ou mesmo desastres climáticos e naturais.
O mandato do ACNUR abrange 3 categorias: refugiados, deslocados internos e apátridas.
- Os deslocados internos são aqueles que se deslocam por motivos
semelhantes aos refugiados, contudo permanecem no seu próprio país, ou seja, não cruzam fronteiras nacionais.
- Os apátridas que, geralmente por conflitos de legislações, não são
cidadãos de qualquer Estado e, assim, não têm direito à proteção e aos serviços públicos, se encontram numa situação de vulnerabilidade e constante perigo.
Além desses, há dois outros tipos de migrantes forçados: as vítimas de tráfico humano, que se enquadram no escopo de proteção do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) e os migrantes ambientais, numa
categoria intermediária entre a migração forçada e a voluntária e sem proteção definida.
MIGRAÇÕES VOLUNTÁRIAS
São características dos migrantes, os quais deixam o seu local de origem por razões de conveniência, usufruindo do seu livre
arbítrio, não devido a uma obrigação por fatores externos. Tal classificação, no entanto, parece ignorar o fato de que
muitos desses imi- grantes, como é o caso dos de
ordem econô- econô mica, têm a
saída de seu país
como a única
alterna- tiva a uma situ- situação ação de
humilhação e miséria, co- mo uma verda- deira necessidade.
CRISE DE REFUGIADOS NO SÉCULO XXI
Até o final de 2015, mais de 65 milhões de pessoas foram forçadas a deixar suas regiões de moradia, em função de perseguição, conflitos armados, violência
generalizada ou violações de direitos humanos,
configurando-se uma
verdadeira crise de refugiados.
Esse é o maior número de pessoas forçadamente
deslocadas desde a Segunda Guerra Mundial. Na população mundial, 1 a cada 113 pessoas são solicitantes de refúgio, deslocados internos ou refugiados, a maioria dos refugiados sendo proveniente do Oriente Médio e da África.
DE ONDE VÊM OS REFUGIADOS?
LOCAIS DE MAIOR REFÚGIO MOTIVO DA MIGRAÇÃO
Nº DE REFUGIA- DOS (2015)
PAÍS DE ORIGEM
Turquia, Líbano, Jordânia, Iraque
e Egito
Paquistão
e Irã Iêmen, Quênia e Etiópia
Guerra civil e ameaça terrorista
Diversos conflitos armados desde 1978; terrorismo
4,9 milhões
Guerra civil e miséria
Síria Afeganistão Somália
2,7 milhões 1,1 milhão
ANTECEDENTES DA CRISE MIGRATÓRIA
A crise migratória tem suas raízes num sistema de dominação profundamente eurocêntrico, que considera os valores ocidentais como universais.
O imperialismo, o colonialismo e o neocolonial- ismo praticados pelas nações europeias esta- beleceram laços de dependência política e econômica perante os quais o Terceiro Mundo saía sempre em desvantagem, constituindo-o assim com base numa realidade de alta
desigualdade e subordinação. Até hoje são mar- cados os interesses dos países desenvolvidos no Oriente Médio e no Norte da África - região con- hecida como mundo árabe - por motivações geopolíticas, sua privilegiada localização e a abundância de jazidas de petróleo no local, le- vando à introdução dos ideais e pensamentos econômicos ocidentais e, em certos casos, da presença militar. Esse processo de subordinação tem forte influência no atual fluxo de refugiados, iniciado com as insurreições da Primavera
Árabe.
Primavera Árabe
Foi um conjunto de manifestações pop-
ulares contrárias a regimes autoritári- os no mundo árabe,
que teve início na Tunísia, em 2011.
Mesmo sendo vista inicialmente como a chegada da “de- mocracia” à região,
deixou como legado guerras civis, conflitos étni- co-religiosos e gov- ernos autoritários,
como no Egito, na Líbia e na Síria.
Ademais, houve o surgimento de vários grupos fun-
damentalistas is- lâmicos, como o Estado Islâmico.
Na Líbia, por exem- plo, antes um dos
países de maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da África, a guerra civil, após a derrubada do governo de Muam-
mar Khadafi, provocou a incidên-
cia de massivos
deslocamentos in-
ternos e o país tor-
nou-se local de
passagem de imi-
grantes que se diri-
gem à Europa.
A QUESTÃO EUROPEIA
DESDE O FINAL DE 2014, É CRES- CENTE O NÚMERO DE REFUGIA- DOS E MIGRANTES, EM SUA MAIO- RIA SÍRIOS, IRAQUIANOS E
AFEGÃOS, QUE SE DIRIGEM À UNIÃO EUROPEIA, CRUZANDO O MAR MEDITERRÂNEO OU AT- RAVESSANDO PELAS ROTAS DO LESTE EUROPEU, CONFIGURANDO UMA CRISE DE REFUGIADOS EU- ROPEIA. A PARTIR DO MOMENTO EM QUE O PROBLEMA TOCOU A EUROPA, A CRISE MIGRATÓRIA TORNOU-SE UMA QUESTÃO DE SUMA IMPORTÂNCIA PARA A MÍDIA INTERNACIONAL E DEIXOU O CON- TINENTE EM SITUAÇÃO DE
ALARME. A RETÓRICA JUSTIFICA- VA QUE ERA INSUSTENTÁVEL AOS EUROPEUS RECEBER TÃO GRANDE CONTINGENTE DE PESSOAS,
TANTO DEVIDO A PROBLEMAS ECONÔMICOS COMO POLÍTICOS. A REALIDADE, NO ENTANTO, É QUE A EUROPA, RICA E DESENVOLVIDA, SOMENTE RECEBE 6% DOS REFU- GIADOS MUNDIAIS.
PARA FINS DE COMPARAÇÃO, ATÉ 2015, O REINO UNIDO ACOLHEU APENAS 8 MIL REFUGIADOS DA SÍRIA. EM CONTRAPARTIDA, A JORDÂNIA ABRIGA NO SEU TER- RITÓRIO 655 MIL SÍRIOS, MESMO TENDO UMA POPULAÇÃO QUASE 10 VEZES MENOR QUE A BRITÂNI- CA E O SEU PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB) SENDO EQUIVALENTE A 1,2% DA PRODUÇÃO DE
RIQUEZAS DO REINO UNIDO.
Os questionamentos à União Europeia detêm um papel crucial no tratamento aos refugiados, logo que a instabili- dade da zona de euro, a fraca liderança
política da organização e a ineficiência do sistema de fronteiras abertas provocaram um sentimento anti-eu- ropeísta, colocando a integração como
causadora da desordem vigente e do grande afluxo de migrantes. A tendên- cia geral do Ocidente tornou-se a rad- icalização das posições políticas, vide
a ascensão da extrema direita e dos movimentos ultranacionalistas e xenó-
fobos, como resposta à crise da União Europeia e à reivindicação de direitos por partes das minorias.
Coloca-se o diferente, o estrangeiro, como culpado da falta de empregos, da situação política e da retração econômica. Não obstante, a dura política migratória remonta a um pensamento eurocêntrico que ignora as consequências da dominação da Europa sobre grande parte do mundo, como a imensa disparidade entre Norte e Sul e a constituição multicul-
tural e diversa no próprio continente.
Zona Schengen
Permite a livre circu- lação de pessoas sem a
necessidade de vistos entre 22 membros da UE e 4 não-membros.
De acordo com as suas normas, postuladas pelo Regulamento de Dublin, a responsabili-
dade pelos pedidos de asilo recai sobre o pri-
meiro país da Zona a que os refugiados che-
garem. Segundo tal regulamento, países como Grécia e Itália, as portas do Mediterrâneo, e outros do Leste Euro-
peu, entrada pela rota terrestre, seriam responsáveis por um número muito maior de refugiados do que os países mais centrais.
Na realidade, esses países não conseguiram manejar o grande con-
tingente de pessoas e, por isso, permitiram a sua livre circulação, fazendo-os migrar para outros países, como Alemanha, Suécia e Áustria. A grande questão que se esta- belece com esse pro- cesso é um choque de legislações: ao mesmo tempo que a Zona Schengen permite a livre circulação de pes-
soas, o Acordo de Dublin restringe o des-
locamento de refugia- dos, colocando assim o princípio básico do mer-
cado comum europeu e a própria União Euro-
peia em cheque.
Muito embora a
Declaração Universal dos Direitos Humanos esta- beleça que todos os in- divíduos devem gozar de direitos básicos inerentes a todo ser humano, a ga- rantia de tais direitos está altamente atrelada ao pertencimento a um Estado, à posição de ci- dadão. Tendo isso em mente, os refugiados, em geral, fogem de seus países porque não têm condições básicas de se- gurança e bem estar provido por seus Estados - muitas vezes é o
próprio governo o cau- sador da perseguição - e, ao deixarem seus
países, deparam-se com a situação de não ter quem se responsabilize por eles.
Apesar de, por muito tempo, o Direito Interna- cional dos Direitos Hu- manos e o Direito Inter- nacional dos Refugiados terem sido considerados separadamente, cada vez
mais se percebe o en- trelaço entre esses dois ramos do Direito Interna- cional. São vinculados por partirem dos
mesmos fundamentos, princípios e finalidades, como, por exemplo, a aplicação do refúgio em situações de grave e gen- eralizada violação de di- reitos humanos. A prem- issa de que todas as pes- soas devem poder des- frutar dos direitos hu- manos tem uma relação direta com a legitimação do instituto do refúgio.
Sendo assim, a relação entre os Direitos Hu- manos e o refúgio é a de complementaridade.
Uma pessoa não perde seus direitos por ser re- fugiada, pelo contrário, seu direito de sair do seu país é legitimado pelos seus direitos humanos e ela continua a tê-los na situação de refúgio.
DIREITOS HUMANOS E DIREITOS DOS
REFUGIADOS
COMO LIDAR COM A
QUESTÃO DOS REFUGIADOS?
Muito do que vemos hoje em dia é o endurecimento de políticas migratórias a fim de impedir a entrada de re- fugiados em países mais desenvolvidos. Esse movi- mento vem na esteira do crescimento da xenofobia e intolerância em tais países, o que prejudica enorme- mente a admissão e a poste- rior adaptação dos refugia- dos no país de destino.
Questiona-se assim a retóri- ca dos governos de diversos países, que é a de defender a liberdade de expressão, a igualdade, os direitos hu- manos e a dignidade da pessoa humana, mas cuja prática é de contribuir para a instabilidade em certos países em razão de inter- esses geopolíticos, como a atuação dos Estados Unidos, Reino Unido e França na Guerra da Síria.
A conciliação da retórica com a prática seria assim uma solução para a questão dos refugiados, como se vê nas políticas canadenses, o discurso e as ações tomadas refletem uma preocupação com direitos humanos de forma geral e irrestrita.
Impossível não destacar também o trabalho do ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) na proteção de refugiados. A agência da ONU funciona como o bastião na defesa dos direitos dos refugiados e na busca de soluções duradouras para a sua diáspora. O ACNUR trabalha com três soluções duradouras:
Integração local: significa não apenas o recebimento do refugiado no país de destino, mas o seu acolhimento, ou seja, a integração no novo ambiente e a obtenção de condições básicas para que ele possa reconstruir sua vida.
Reassentamento: quando um refugiado não se adapta ao país de recebimento ou nele continua correndo risco de vida, o ACNUR busca um terceiro país que possa recebê-lo.
Repatriamento voluntário: é o
retorno do refugiado ao seu país de
origem, por livre e espontânea
vontade, quando a situação causadora
do refúgio cessa. Essa é a opção
desejada pela maioria dos refugiados,
o que mostra mais uma vez o quanto o
refúgio é uma situação indesejada.
O ACNUR também presta as- sistência aos refugiados ao prover programas de geração de renda, ensino do idioma local, programas educacionais e assistência legal e jurídica. O Alto Comissariado é uma das agências da ONU de menor orçamento e é mantida pri- mordialmente por doações dos países membros.
O ACNUR trabalha em consonân- cia com parceiros locais, como ONGs, órgãos governamentais e grupos de assistência, que tornam a proteção ao refugiado mais eficaz. Aqui no Brasil, o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE) é responsável por anal- isar pedidos de refúgio e trabalha em paralelo ao ACNUR. Institu- ições religiosas como a Cáritas
Brasileira e a Associação Antônio Vieira (ASAV) cumprem papel im- portantíssimo na prestação de as- sistência a refugiados e mi- grantes; a ASAV é inclusive parcei- ra do ACNUR no Programa Bra- sileiro de Reassentamento Solidário.
Em Porto Alegre, onde vivem muitos haitianos e senegaleses, temos o CIBAI Migrações na Igreja Pompeia, também uma entidade religiosa, que ajuda migrantes e refugiados e o GAIRE (Grupo de Assessoria para Imigrantes e Re- fugiados), grupo do SAJU (Serviço de Assistência Jurídica) da Facul- dade de Direito da UFRGS, que presta assistência jurídica, social e psicológica a essa população vulnerável.
O TRABALHO DO ACNUR
NA PRÁTICA
O documentário “Vidas Deslocadas”
retrata o programa de reassentamento de refugiados palestinos no Rio Grande do Sul. O filme abriu em 2010 a 5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos em Brasília e retrata os desafios e conquistas do dia a dia.
O livro e filme de animação “Persépo- lis” conta a história real de uma menina iraniana chamada Marjane que vê seu mundo mudar com a Revolução Iraniana de 1979. Já adolescente, os pais a mandaram para a Europa para que ela tivesse uma educação ociden- tal de acordo com os ideais da própria família, divergentes do novo governo.
Na Europa, ela se depara com grandes dificuldades de se adaptar e enfrenta, nos anos 80, intolerância e islamofo- bia.
O livro e filme “Flor do Deserto” trata da autobiografia de Waris Dirie, uma somali que foge de seu país após ter sofrido mutilação genital feminina quando criança e ser prometida em casamento a um homem muito mais velho. Ela percorreu o deserto a pé para chegar a capital do país, Mogadi- shu, e depois conseguiu ir para Londres. Lá ela foi descoberta por um fotógrafo e se tornou uma super modelo. Desde 1997, Waris não atua mais como modelo e se dedica à luta contra a mutilação genital feminina no mundo todo.
O livro “Estranhos à Nossa Porta”, do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, propõe uma reflexão sobre as origens, os contornos e o impacto do medo
despertado pela crise migratória nos últimos anos. O autor, inclusive, afirma que a crise que vivemos é humanitária, na qual as migrações provocam um
“pânico moral”, incentivado pelos líderes políticos. A saída dessa situação seria reconhecer a crescente interdependência global e encontrar novas formas de convivência, basea- das em solidariedade e cooperação com aqueles que têm crenças e opin- iões diferentes das nossas.
O filme “After Spring” trata de duas famílias sírias refugiadas e de trabalhadores humanitários no campo de Zaatari, o maior campo de refugia- dos sírios. O longa mostra como é viver em um campo de refugiados e dialoga com as dificuldades que as pessoas lá enfrentam, ao terem de reconstruir suas vidas em um lugar que não foi criado para ser permanente.
“The Land Between” explora as vidas escondidas e desesperadas de migrantes africanos subsaarianos vivendo nas montanhas do norte do Marrocos cujo objetivo é entrar na Europa. Esse filme documenta o cotidiano desses migrantes presos em um limbo, assim como a violência extrema e constante mau trato que eles enfrentam tanto das autoridades marroquinas como espanholas.
Também explora questões universais tais quais como e por que essas pessoas estão dispostas a arriscar tudo, incluindo a própria vida, para deixar seu país, sua família e seus amigos, em busca de uma vida melhor.
PARA SABER MAIS
DICAS DE FILMES
REDAÇÃO: GEÓRGIA GOMES E JOANA LOPES | DIAGRAMAÇÃO: VITÓRIA KRAMER