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PROPOSTA DE DESCENTRALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES DA REFORMA AGRÁRIA EM MINAS GERAIS: O CASO DO TRIÂNGULO MINEIRO E ALTO PARANAÍBA

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1 PROPOSTA DE DESCENTRALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES DA REFORMA

AGRÁRIA EM MINAS GERAIS: O CASO DO TRIÂNGULO MINEIRO E ALTO PARANAÍBA

Marcelo Gonçalves da Silva Universidade Federal do Amapá – UNIFAP marcelo.engufu@gmail.com

Thiago Batista Marra Universidade Federal do Amapá – UNIFAP thiagobmarra@gmail.com

Resumo

O estado de Minas Gerais apresenta uma estrutura fundiária bastante diversa, fruto de um processo histórico de apropriação que culmina com um quadro de concentração de terras bastante relevante, convergindo num número considerável de conflitos pela terra e água. Tal situação justifica em grande medida a necessidade de implementação de medidas efetivamente eficientes para a execução da reforma agrária nesse estado. A mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba emerge como uma das mais relevantes nesse contexto, sobretudo devido ao grande número de conflitos pela terra aí registrados. Como tentativa de solucionar parte desses problemas, propõe-se uma descentralização administrativa da estrutura do INCRA, criando uma unidade descentralizada com jurisdição restrita ao Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba.

Palavras-chave: Alto Paranaíba. Reforma Agrária. Triângulo Mineiro.

Introdução

Contando com um total de 66 cidades, a mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba se destaca como uma das mais importantes regiões de planejamento do Estado de Minas Gerais. Localizada no extremo oeste do estado, é marcada por uma economia forte e diversificada, com destaque para os setores ligados à indústria, comércio atacadista/varejista e especialmente à agropecuária. Em termos gerais, responde por 16,57% do PIB estadual - R$ 37.011.590.000,00 (IBGE, 2006), o que é equivalente ao PIB dos estados do Acre, Amapá, Roraima e Tocantins juntos.

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2 Figura 1: Estado de Minas Gerais: Regiões de Planejamento

Contudo, apesar de apresentar números consideráveis numa perspectiva regional e nacional, é uma região que apresenta uma série de contradições de cunho social e imensos entraves estruturais. No que se refere ao setor agropecuário e, mais especificamente à malha fundiária da região, esses problemas são ainda mais evidentes.

Nesse contexto, Cleps Jr. (2012), em recente artigo publicado no Boletim DATALUTA, ressalta que:

(...) a real situação da distribuição dos conflitos no campo no estado, onde são registradas ações nas principais regiões de expansão do agronegócio (Triângulo, Alto Paranaíba, Noroeste e Norte de Minas). Analisando, portanto, na perspectiva das ocupações, os municípios com maior número de ações no período 1990 a 2010 foram Uberlândia (50), Unaí (32), Buritis (18), Prata (18), Santa Vitória (18) e Montes Claros (17). (CLEPS JR, 2012)

De acordo com os dados fornecidos pelo DATALUTA, dentre os 6 municípios mineiros com maior incidência de conflitos no campo, 3 localizam-se no Triângulo Mineiro e representam mais de 56% dos casos registrados. A figura 2 apresenta essas ocorrências a partir da distribuição por municípios e por mesorregião, o que corrobora o entendimento de que exista um cenário de conflito pelo acesso a terra e água de extrema

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3 relevância nos municípios do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, sobretudo no contexto do estado de Minas Gerais.

Entende-se que essa situação acarreta prejuízos econômicos e sociais tanto para o agricultor familiar (camponês) ou empresarial, seja proprietário de pequenas, médias ou grandes propriedades, ou mesmo para assentados da reforma agrária, acampados, remanescentes de quilombolas, posseiros, famílias atingidas por barragens etc. Por outro lado, o problema fundiário traz consigo a dificuldade de atração de novos investimentos e atrasa o processo de melhoria da qualidade de vida das populações envolvidas, seja no campo ou na cidade.

Prova disso é a grande demanda por ações de reforma agrária e ordenamento da estrutura fundiária na mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Somente nessa mesorregião, existem cerca de 4.000 famílias assentadas, espalhadas por quase 70 projetos de assentamentos, conforme observa-se na figura 3.

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4 Figura 3 – Projetos de Assentamentos: Mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba – 2010.

Fonte: INCRA

Some-se a isso o imenso passivo de terras que, uma vez cadastradas no Sistema Nacional de Cadastro Rural - SNCR, ainda não foram objetos de certificação cartográfica e atualização cadastral, indispensáveis para a emissão do Certificado de Cadastro de Imóveis Rurais – CCIR, conforme previsto na Lei Federal 10.267/2001.

Sem tal certificado, o proprietário rural fica impedido de realizar operações relativas a financiamento bancário ou registros na matrícula do imóvel no cartório de registro de imóveis, por exemplo.

Não obstante, cabe ressaltar a dificuldade encontrada pela Superintendência Regional do INCRA no estado de Minas Gerais – SR(06)/MG em atender a todas essas demandas. Seja na área da reforma agrária ou ordenamento da estrutura fundiária, existe uma grande limitação de recursos para investimentos e defasagem de mão de obra especializada, visto que um número reduzido de técnicos deve atender às demandas de todo o estado de Minas Gerais, com seus 20.033.665 habitantes, espalhados por 853 municípios.

No contexto da mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba e sua relação difícil com a SR(06)/MG, vários outros fatores devem ser considerados. Um dos gargalos mais relevantes constitui na própria distância geográfica da capital mineira. As cidades mais importantes, como Uberaba, Uberlândia e Ituiutaba distam 487, 548 e 683 km de Belo Horizonte, respectivamente. Essa distância constitui num obstáculo oneroso tanto aos deslocamentos dos cidadãos desses municípios à SR(06)/MG quanto dos próprios

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5 técnicos do Incra até a essas cidades, pois encarece sobremaneira os deslocamentos dos servidores da SR(06)/MG, gerando gastos excessivos com diárias, combustível, passagens aéreas etc.

Implantação de uma unidade descentralizada

Nesse contexto, emerge a necessidade de se viabilizar a criação de uma Unidade Descentralizada do INCRA no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba - SR(06)/MG/UDTM, como forma de garantir uma melhor atuação do INCRA no território mineiro, aumentando assim a capilaridade e diminuindo o tempo de resposta da autarquia frente ao atendimento das demandas da sociedade triangulina.

Inicialmente, uma estrutura nesses moldes propiciaria, dentre outras vantagens, a descentralização das atividades da autarquia no estado de Minas Gerais, facilitando o acesso dos beneficiários da reforma agrária e dos proprietários de imóveis rurais em geral aos serviços do INCRA. Além disso, a fixação de um quadro de servidores nessa unidade descentralizada – UD abre caminho para que as demandas da região sejam prioritárias dentro da autarquia, haja vista que as atividades do órgão são organizadas a partir de um sistema administrativo jurisdicional.

O quadro 1 demonstra uma síntese dos benefícios de curto e médio prazo esperados a partir da criação da SR(06)/MG/UDTM:

Quadro 1 - INCRA - Unidade descentralizada do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba - SR(06)/MG/UDTM

Principais benefícios Justificativas

Economia de recursos Menor custo com deslocamentos de servidores (diárias, combustível, passagens etc.)

Facilidade de acesso Menor distância geográfica entre o beneficiário da reforma agrária e a unidade do INCRA.

Agilidade na análise de processos de certificação de imóveis rurais

Técnicos com jurisdição restrita à mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, e não a todo o estado de Minas Gerais.

Representatividade Político-administrativa Possibilidade de atuação de uma liderança político-administrativa da própria região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba dentro da estrutura do INCRA/MG.

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6 A seguir, apresentamos os principais Projetos e Programas executados pelo INCRA e que deverão ter suas ações intensificadas nos municípios do Triangulo Mineiro e Alto Paranaíba em virtude da implantação da SR(06)/MG/UATM:

 Titulação de Assentamentos

Além da garantia da propriedade da terra para os trabalhadores rurais assentados a titulação efetuada pelo INCRA contém dispositivos norteadores dos direitos e deveres dos participantes do processo de reforma agrária, especialmente do poder público, representado pelo INCRA e dos beneficiários, caracterizado pelos assentados.

 Certificação de Imóveis Rurais

Com a formação de um comitê local de atualização cadastral e certificação cartográfica, com atuação restrita à análise dos processos dos 66 municípios Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, cria-se condições para uma maior celeridade na emissão dos CCIR e demais atividades inerentes ao comitê de certificação.

 Luz Para Todos

O Luz para Todos é uma ação integrada coordenada pelo Ministério de Minas e Energia (MME) em que o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) participam indicando quais assentamentos rurais têm prioridade para receber energia elétrica.

 ATES

O Programa de Assessoria Técnica, Social e Ambiental à Reforma Agrária (ATES) foi criado em 2003 com o objetivo de assessorar técnica, social e ambientalmente as famílias assentadas nos Projetos de Assentamento (PA´s) da Reforma Agrária, criados ou reconhecidos pelo INCRA.

 Crédito Instalação

O Crédito Instalação consiste no provimento de recursos financeiros sob a forma de concessão de crédito, aos beneficiários da Reforma Agrária, visando assegurar aos mesmos os meios necessários para instalação e desenvolvimento inicial e/ou recuperação dos projetos do Programa Nacional de Reforma Agrária.

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 Infraestrutura

As prioridades são a construção e/ou complementação de estradas vicinais, o saneamento básico – através da implantação de sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário, além de construção de redes de eletrificação rural –, visando proporcionar as condições físicas necessárias para o desenvolvimento sustentável dos assentamentos.

 PAC

O Programa de Consolidação e Emancipação (Auto-Suficiência) de Assentamentos Resultantes da Reforma Agrária (PAC) é fruto de um acordo firmado entre o governo brasileiro e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e executado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Através do programa, desenvolvido via convênios estabelecidos entre o INCRA, prefeituras e associações de agricultores assentados, estão sendo atendidas cerca de 12 mil famílias de 75 Projetos de Assentamentos distribuídos em sete Estados: Maranhão; Mato Grosso; Mato Grosso do Sul; Rio Grande do Norte; Minas Gerais; Paraná; e Rio Grande do Sul.

 PACTO

Programa de Apoio Científico e Tecnológico aos Projetos de Assentamento da Reforma Agrária (Pacto) é uma parceria entre o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que atua como suporte às iniciativas dos projetos de assentamentos.

Agricultores de Uberlândia e Araguari, no Triângulo Mineiro, também estão sendo beneficiadas pelo programa, com ênfase na agropecuária e na organização das comunidades em associações e cooperativas.

 Terra Sol

O Terra Sol é uma ação de fomento à agregação de valor à produção. Apóia a agroindustrialização e a comercialização por meio da elaboração de planos de negócios, pesquisa de mercado, consultorias, capacitação em viabilidade econômica e gestão e implantação/recuperação/ampliação de agroindústrias. Atividades não agrícolas - como turismo rural, artesanato e agroecologia -, também são apoiadas.

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 PRONERA

Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), tem a missão de ampliar os níveis de escolarização formal dos trabalhadores rurais assentados. Atua como instrumento de democratização do conhecimento no campo, ao propor e apoiar projetos de educação que utilizam metodologias voltadas para o desenvolvimento das áreas de reforma agrária.

 Documentação da Trabalhadora Rural

O Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural, criado em 2004, é uma ação fundamental para o desenvolvimento de estratégias de inclusão das trabalhadoras rurais. Por meio dele são emitidos gratuitamente: registro de nascimento, Cadastro de Pessoa Física (CPF), documento de identidade, carteira de trabalho, registro junto ao INSS e carteira de pescador. As beneficiárias também recebem orientações sobre direitos e políticas públicas e podem abrir contas bancárias.

Considerações Finais

A descentralização e conseqüente interiorização das atividades do INCRA pelos estados é uma necessidade cada vez mais evidente, assim como a reestruturação de toda a autarquia, com vistas a garantir mais eficiência e credibilidade frente ao instituto. Sabe- se que essa preocupação não se restringe aos movimentos sociais, sindicatos e academia, mas alcança a própria gestão do Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA (ao qual o INCRA está vinculado) e do INCRA.

No contexto do estado de Minas Gerais, essa interiorização deve contemplar várias mesorregiões, servindo como polos irradiadores das políticas da reforma agrária e do acesso a terra. Contudo, entende-se que, nesse contexto, a mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba deve ser entendida como prioridade dos gestores públicos devido ao número de conflitos pela terra e água registrados, conforme os dados dos pesquisadores do DATALUTA nos revelam.

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9 Contudo, salienta-se a importância do engajamento dos movimentos sociais na luta por essa descentralização, assim como o respaldo da comunidade acadêmica, dos sindicatos dos agricultores e pecuaristas, das lideranças políticas e do próprio INCRA, seja na esfera da Superintendência Regional ou da sua Sede em Brasília como forma de viabilizar uma estrutura que certamente trará uma diminuição do tempo de resposta da autarquia às demandas da sociedade triangulina.

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10 Referências

CLEPS JUNIOR, J. Reforma Agrária e conflitos no campo em Minas Gerais:

contribuições da pesquisa Dataluta. Boletim DATALUTA. Pres. Prudente: NERA- UNESPE. Disponível em www.fct.unespe.br/nera, 2012.

FERNANDES, Bernardo M. Reconceitualizando a Reforma Agrária. Boletim DATALUTA. Pres. Prudente: NERA-UNESP. Disponível em www.fct.unesp.br/nera, 2010.

5º Congresso do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Carta do 5º Congresso do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Brasília, 2007.

Referências

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