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O corpo em análise

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Revista de Psicologia

Revista de Psicologia, Fortaleza, v. 1 n. 2, p. 196-197, jul./dez. 2010

Revista

de Psicologia

Título: Corpo

Autora: Maria Helena Fernandes

O CORPO EM ANÁLISE

The body in analysis

Rosani Gambatto 1

1 Universidade do Oeste de Santa Catarina. E-mail: rosani_gambatto@yahoo.com.br

De que maneira é a escuta psicoterapêutica, quando o foco de análise é o corpo? Essa é uma das questões, que está presente no co-tidiano de psicoterapeutas, quando a psicoterapia é realizada por inter-médio de análise do corpo, e com

ela, seus signiicados inconscien

-tes e/ou não. Cada cliente utiliza o corpo, como forma de expressão particular, e devido à necessidade de uma interpretação mais deta-lhada, a psicanálise, muitas vezes, é o instrumento para auxiliar no processo analítico. Temas envol-vendo o corpo estão presentes nas mais diversas conversas do dia-a-dia, tornando-se um assunto co-tidiano e popular. Esse corpo vem ganhando cada vez mais espaço, principalmente na mídia, que con-sidera a beleza física como sinôni-ma de saúde, e, é esse corpo, ou essa noção popular de corpo, que chega às clínicas e consultórios psicoterapêuticos. Esse corpo que é investido de prazeres e alegrias, dores e angústias, que podem oca-sionar frustrações quando não são

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atingidos os padrões de beleza desejados e/ ou idealizados. É com essa visão de corpo e

mais especiicamente com a intenção de re

-pensar a análise psicanalítica realizada nos settings, que Maria Helena Fernandes, em seu livro “Corpo”, reproduz na íntegra seu trabalho de pós-doutorado, realizado pela UNIFESP (Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina).

A autora questiona o processo ana-lítico realizado na maioria dos consultórios psicoterapêuticos, defrontando-se com os

mais variados corpos: o corpo biológico, i

-losóico, histórico, estético, religioso, social,

antropológico e o psicanalítico. O livro tra-ta, portanto, de um fenômeno difícil de ser reduzido a um único determinante, sendo que, a compreensão sobre o corpo psica-nalítico requer a revisão de expectativas da sociedade sobre beleza e saúde, bem como, o questionamento de psicólogos sobre suas

atuações e práticas proissionais. A escrita

do livro, assim, é moldada pela intersecção entre história, cultura, sociedade, corpo, ideais de beleza, psicanálise e clínica, tor-nando-se de real ou imaginária importância a psicoterapeutas que se preocupam com a

sua atividade clínica, a im de oferecer ao

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Revista de Psicologia

Revista de Psicologia, Fortaleza, v. 1 n. 2, p. 196-197, jul./dez. 2010

De acordo com a autora, percebe-se que no emprego cotidiano do termo corpo, o mesmo é estudado e tratado no âmbito do adoecimento somático do corpo doente. Fernandes enfatiza ao leitor sobre a psico-patologia do corpo na vida cotidiana e,

con-sidera que o corpo é depositório de conlitos

internos. A autora utiliza como referência o eixo psicanalítico de Freud, e argumenta que, segundo essa teoria, o corpo não se confunde com o organismo biológico, objeto de estudo e intervenções médicas, mas sim, é o lugar no qual se desenrola o complexo jogo das relações entre o psíquico e o so-mático, tal concepção do corpo, permite co-locar em evidência o somático, como sendo também, um lugar de realização de desejos inconscientes. A autora parte da hipótese de que, o discurso freudiano se desenvolve a partir da histeria e do sonho, que consti-tui assim, o eixo condutor de exploração da abordagem do corpo. A inovação freudiana foi precisamente a de possibilitar a compre-ensão de como esse corpo que, ao mesmo

tempo nos identiica, também vai sendo

construído com e a partir do contato com o outro. No livro são destacados os avan-ços teóricos, especialmente após 1920, que vão progressivamente ampliar as possibili-dades de compreensão do corpo para além da lógica da representação, havendo as-sim, principalmente, implicações clínicas, passando a produzir um conhecimento do ponto de vista metapsicológico, colocando

em evidência a eicácia da escuta analítica

sobre o registro do corpo.

Fernandes enfatiza que na teoria

freu-diana o corpo possui dois signiicados: o cor

-po real, objeto material e visível, que ocupa um espaço e pode ser designado por uma certa coesão anatômica, e outro corpo,

prin-cípio de vida e individualização, com signii

-cados peculiares. Ainda relata a importância da pulsão quando se trata do corpo, sendo que o corpo é habitado pelas pulsões, e

des-sa maneira, o corpo é pulsional, autoerôgeno e narcísico, conceitos esses, de relevância à questão do corpo em psicanálise.

Após a construção teórica do corpo psicanalítico, Fernandes enfatiza os des-dobramentos analíticos no transcorrer do processo terapêutico, focalizando o corpo em seu conceito complexo, envolvendo as-sim, as possíveis tramas inconscientes. A autora relata da importância da escuta psicanalítica, diferenciando-a da escuta médica, sendo que, a função do psicotera-peuta muito mais do que escutar é inter-pretar o que está sendo dito pelo cliente. Destaca, especialmente, os clientes que vêm encaminhados ao consultório psicana-lítico por médicos, pacientes que, em sua maioria, possuem doenças psicossomáti-cas, o que, para a autora é uma necessi-dade para o paciente. Assim, a doença ou o órgão atingido, são lugares de depósitos, seja de angústia, medo, insegurança, ran-cor ou desejos inconscientes, sendo que, o que importa ao indivíduo é manter certa dose de sofrimento.

Desse modo, o livro de Maria Hele-na FerHele-nandes, consiste no resultado de um trabalho de experiência não só de docência mas, e principalmente, de clínica. Trata-se de uma leitura envolvente, a qual no mí-nimo desperta questionamentos em rela-ção à prática em consultório psicanalítico. Ao leitor, possibilita a percepção de que o corpo, além de ser um meio de expressão, seja de gestos, movimentos ou olhares, é o elemento investido de vários desejos, cons-cientes ou inconscons-cientes, perpassando as sensações. Assim, cabe ao analista investir no corpo do cliente, acolhendo-o e trans-formando-o assim, em um “corpo falado”, aberto à abordagem psicanalítica. A leitura desse livro torna-se essencial a estudantes,

psicólogos e proissionais psicanalíticos

que, a im de realizar uma revisão psicana

-lítica em relação ao corpo, buscam e

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