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Temas públicos e riscos acadêmicos

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Academic year: 2022

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Temas públicos e riscos acadêmicos

Crítica | O Observatório de Comunicação Pública, em sua análise sobre as edições de outubro do JU, ressalta o silenciamento sobre assuntos de interesse da comunidade da UFRGS e da sociedade e destaca a pluralidade e a relevância das pautas veiculadas

*Foto: Flávio Dutra. Bandeira Nacional, 2021. Obra da artista mineira Desali. 504 espojas coladas sobre espuma e seis limpadores de azulejo. Exposição “Carolina de Jesus”, no Instituto Moreira Salles- São Paulo, em novembro de 2021

A vida acadêmica e seus desafios em tempos de pandemia e desinvestimento na ciência marcaram as edições do Jornal da Universidade de outubro. Viver e fazer a Universidade em meio às restrições de sociabilidade impostas pela crise sanitária do coronavírus foi o pano de fundo das reportagens de capa que abordaram as dificuldades e a mobilização de alunos autistas (#75); a situação precária dos alunos cotistas; efeitos sobre a saúde mental (#76); além dos espaços de respiro através de diferentes iniciativas de grupos de leitura virtuais (#77).

A última edição do JU (#78) estampou o agravamento do corte de investimentos na pesquisa científica brasileira, apontando que a vida universitária corre risco e busca sobreviver diante do vírus e, também, das decisões governamentais sobre o futuro da ciência e da educação. O JU apresenta dados sobre os impactos negativos na produção científica brasileira, com o corte de verbas ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), de 600 milhões de reais destinados ao CNPq.

A vida acadêmica, bem como o JU, sobrevive no centro de disputas por reconhecimento e respeito vivenciadas em processos educacionais (convívio e aprendizado com as diferenças), na produção científica, no debate permanente de

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ideias, que incidem sobre a gestão pública da Universidade. No entanto, esses temas, principalmente quando relacionados à política, não têm sido pauta do JU, mesmo que sejam de interesse público.

Especificamente em relação a problemas na gestão da UFRGS, o JU se manteve em silêncio nas últimas edições sobre o processo de impeachment do reitor Carlos André Bulhões e da vice- reitora, Patricia Pranke, solicitado pelo Conselho Superior, em agosto, com repercussão nacional. No último dia 25 de outubro, foi criada uma comissão especial para acompanhar o processo junto ao MEC.

Já havíamos apontado a ausência do tema na coluna publicada em 9 de setembro, embora atualmente não esteja incluída na relação de conteúdos dessa data. Ao contrário das colunas anteriores, esta não consta da edição e precisa ser procurada.

A dificuldade de acesso à coluna pode estar relacionada a um equívoco de ordem técnica ou vinculada ao silenciamento do JU sobre o tema “impeachment da atual reitoria”.

Outra importante ausência nas edições de outubro diz respeito à decisão da Reitoria da UFRGS em contrariar a recomendação do Comitê Covid da própria instituição sobre a exigência do passaporte vacinal para o retorno às aulas presenciais.

Esse assunto obteve repercussão na imprensa e, em sua Carta aos Leitores (#76), o JU havia ressaltado a importância e a segurança das vacinas no retorno às atividades presenciais. As referidas ausências temáticas contrariam os princípios editoriais do jornal que, assim, parece se distanciar dos interesses da Universidade. Esses deslizes, estranhos às características do JU, impactam negativamente sobre a credibilidade do jornal, na medida em que essas questões são próprias da gestão da educação e da ciência e características da universidade pública.

A missão da UFRGS e seu papel transformador são referências do

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JU em sua Carta aos Leitores (#78), ao destacar a importância do servidor público lembrado na data comemorativa de 28 de outubro. Atualmente, na UFRGS, 5.464 pessoas trabalham para que a Universidade cumpra seus objetivos, e o JU reafirma seu compromisso enquanto veículo de comunicação pública em direção à “busca incessante por expressarmos ao máximo o que a UFRGS representa para a sociedade brasileira e oferecermos uma produção que esteja à altura e de acordo com a ética e a cultura jornalísticas”. Esse trabalho exige permanente vigilância a fim de avançar na defesa de valores como diversidade, representatividade, inclusão e debate – todos fundamentais à construção de processos democráticos dentro e fora da Universidade.

A visibilidade e a credibilidade representam elementos centrais para a existência de debates que favorecem o interesse público e, nesse sentido, a Universidade é um espaço privilegiado para dar visibilidade a temas sensíveis.

Destacamos o protagonismo de indivíduos e grupos sociais durante as edições de outubro sobre temas que não costumam ser pautados em mídias hegemônicas.

Na reportagem sobre o Coletivo Autista UFRGS (#75), o Jornal problematiza o capacitismo, forma de preconceito que gera impactos negativos em diversos âmbitos da vida. Na mesma edição, o artigo sobre menores infratores destaca que a redução da maioridade penal é uma pauta recorrente e associada a problemas como o encarceramento em massa, o genocídio da população negra e a criminalização de jovens em situação de vulnerabilidade social. Na edição #76, é abordado o impacto da pandemia para as professoras da rede pública estadual diante de limitações tecnológicas, dificuldades de acesso ao ensino, revelando cenários de desigualdade, descaso do Estado e sobrecarga financeira e laboral. As edições demonstraram como o contexto pandêmico é atravessado por múltiplas realidades e dificuldades com impacto nos grupos sociais, devido aos

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resultados do desmonte da educação tanto estadual quanto federal.

No âmbito da divulgação científica, o Jornal apresentou as produções da UFRGS em diferentes áreas do conhecimento, como Letras (#75), Saúde (#76), Biodiversidade (#77) e Recursos Hídricos (#77). Deu visibilidade, também, à pesquisa sobre temas socialmente relevantes, como as teses sobre trabalhos reprodutivos, que representam parte significativa do PIB e são majoritariamente realizados por mulheres (#77), e sobre direitos jurídicos para casais poliamorosos (#78), que atualmente não são legalmente reconhecidos. Essas questões não estão restritas à ordem prática e exigem transformações jurídicas e sociais. Nessa direção reside a contribuição da Universidade como agente de mudança, ao colaborar para o debate sobre a igualdade de oportunidades e o respeito às diversidades.

Pontuamos nesta análise sobre as edições de outubro um elogio sobre a pluralidade e a relevância das pautas do JU, que cumpre seus princípios relacionados à comunicação pública.

Sublinhamos, entretanto, um desvio de suas práticas com o silenciamento inexplicável sobre assuntos de interesse da comunidade da UFRGS e da sociedade.

Decisões editoriais operam sobre escolhas, enquadramentos e os respectivos níveis de visibilidade e apagamento sobre diferentes temas.

O Jornal da Universidade conquistou em sua trajetória um espaço de credibilidade ao dar visibilidade a temas vitais ao debate público, ao tornar visíveis determinados problemas e oferecer argumentos. Assim contribui para disseminar informações confiáveis e pavimentar decisões, especialmente em um momento de disputas narrativas e fake news, que exige a circulação de saberes, o livre pensar e a ciência gerada na Universidade.

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O Observatório de Comunicação Pública é mantido por doutorandos, mestrandos e pesquisadores que integram o Nucop – Núcleo de Pesquisa em Comunicação Pública e Política, grupo de pesquisa coordenado por Maria Helena Weber e vinculado ao PPGCom/UFRGS.

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