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Estud. av. vol.2 número2

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Academic year: 2018

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Apresentação

José Eduardo Faria*

Existe um ranço na universidade, e esse ranço muitas vezes é expresso por uma certa retórica vazia. Essa retórica quase sempre aparece quando temos que apresentar alguém. Eu tenho receio em apresentar uma pessoa, exatamente porque não gostaria de fazer essa retórica e muito menos ser identificado como cúmplice dela.

O prof. Boaventura de Sousa Santos possui uma trajetória que transgride metodologicamente, uma trajetória que cria, e cada vez que cria dá um salto à frente. Esse salto baseia-se, do ponto de vista metodológico, em argumentos consistentes, e que de alguma forma vai funcionando como elemento catalisador do novo.

Ele começou como professor de Direito Penal, mas no momento em que viu a distância existente entre as normas penais, a doutrina jurídica e as práticas sociais, ele deixou de ser um jurista, nesse momento ele passou a ser sociólogo. Quando passou a

pesquisar exatamente essa distância, ele descobriu a existência do pluralismo jurídico, não apenas do direito oficial, mas sim das diferentes formas de direito que existem numa determinada sociedade. Nesse instante, passou a fazer não mais Direito Penal e sim Sociologia do Direito.

No momento em que começou a verificar como se articulavam essas diferentes ordens jurídicas, estatais e não-estatais, para-estatais ou contra-estatais, ele deslocou-se da

sociologia do direito para uma sociologia do poder. Quando está examinando as relações entre Estado e sociedade, ele também se volta para a necessidade de fundamentar metodologicamente esses saltos, o que o leva para um trabalho ao nível da teoria da ciência, a tentar relacionar um debate epistemológico com as

transformações sociais. Essa trajetória parece-me bastante conhecida.

O prof. Boaventura, hoje, não é um professor de Direito, como também não é um professor de Sociologia, como também não é um professor de Epistemologia, talvez ele seja tudo isso ao mesmo tempo. Esse texto visa a apresentar essa faceta

globalizante de um professor que se propôs a uma certa interdisciplinaridade na sua carreira, que transgrediu metodologicamente e abriu espaço para uma metodologia transgressora.

O tema do texto é o debate da relação existente entre conhecimento e realidade, entre conhecimento e vida, entre aquilo que certa vez, conversando, nós chamamos de conhecimento prudente e vida decente, do paradigma científico ou dos paradigmas científicos aos paradigmas sociais. Ele toma, como ponto de referência, os limites e as aforias da ciência moderna e discute as condições de emergência dos paradigmas de uma ciência pós-moderna, de modo que o seu objetivo é investigar a fase de transição em que se encontra hoje, ou se encontram hoje as ciências sociais e naturais, partindo de uma análise dos problemas e dilemas epistemológicos do mundo contemporâneo, isto é, da necessidade de se perguntar:

a) Pelas relações entre ciência e virtude;

b) Pelo valor do conhecimento considerado ordinário e vulgar, que os sujeitos

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individuais ou coletivos criam e usam para dar sentido às suas práticas, e que a ciência moderna considera irrelevante, ilusório e falso;

c) Pelo papel de todo o conhecimento científico acumulado no enriquecimento ou no empobrecimento prático de nossas vidas.

De acordo com o trabalho que o prof. Boaventura vem desenvolvendo, as condições epistemológicas dessas três interrogações estão inscritas no avesso dos conceitos utilizados pela ciência moderna, para lhes dar resposta. Daí a necessidade de um esforço de desvendamento, conduzido sobre um fio de navalha entre a lucidez e a ininteligibilidade dessa resposta. Em suma, em seu texto, ele pretende caracterizar a ordem científica hoje hegemônica, analisando os sinais de crise dessa hegemonia, e

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