EDITORIAL
É com grande honra e senso de responsabilidade que assumo a editoria da Revista Psicologia & Sociedade. Tomo como um desafio dar continuidade a um trabalho consolidado e reconhecido não somente pelos membros da Associação Brasileira de Psicologia Social, mas também pela comunidade científica que faz da interface da psicologia e da sociedade seu campo de investigação e de reflexão teórico-metodológica. Assim como o menino que se empenha na construção de uma pipa, como ilustra a capa deste número, expresso meu desejo e o da Comissão Editorial de prosseguir os esforços para que a Revista seja cada vez mais reconhecida como um vigoroso fórum de interlocução no plano da Psicologia Social. Esse número reflete o movimento de transição editorial da Revis-ta. Alguns dos artigos aqui publicados já haviam sido aprovados no proces-so editorial anterior. De um modo geral podemos dizer que os artigos des-se número demarcam alguns dos objetos de estudo ativos entre os pensa-dores desse domínio de conhecimento. O conjunto dos primeiros quatro artigos toma como foco a identidade a partir de temáticas e escolhas teó-ricas diferenciadas. Eles configuram uma espécie de dossiê que podería-mos denominar “Leituras da Identidade”.
José Rogério Lopes em seu artigo pontua alguns movimentos sig-nificativos da produção da categoria identidade nas Ciências Sociais. Sua análise, entre outras coisas, convida a pensar a predominância dos usos aplicativos da categoria identidade em detrimento de reflexões de seus pressupostos epistemológicos.
Deslocando-se de um eixo histórico e epistemológico da reflexão da identidade para pensar como os grupos categoriais produzem modos identitários sociais, João Eduardo Coin de Carvalho propõe a definição dos grupos-nome cujas relações predominantemente virtuais se efetivam pelas bordas, ou pelo nome do grupo. Denuncia como o esvaziamento do imaginário social pode dar lugar a ações de controle e de violência.
Ainda do âmbito dos efeitos das tecnologias da comunicação na produção de identidades sociais, a análise de Neuza Guareschi e Inês Hennigen de um comercial de tv, a partir da perspectiva dos Estudos Cultu-rais, demonstra a condensação de várias significações contemporâneas da paternidade.
cam-po fértil para a sustentação do preconceito em relação às cam-populações ne-gras.
Além da identidade outros temas de relevância são tratados no pre-sente número. Osvaldo Gradella Junior a partir da análise de indicadores de internas de um hospital psiquiátrico discute a necessidade de constru-ção de perspectivas diversas da lógica prevalente nas internações como alternativas que fortaleçam a luta antimanicomial.
Álvaro Roberto Crespo Merlo e Neuzi Barbarini discutem como a reestruturação produtiva tensiona os modos de trabalhar causando uma mobilização psíquica dos sujeitos para fazer frente ao sofrimento.
O último artigo problematiza as questões da felicidade e da liberda-de na perspectiva liberda-de Adorno. Ao fazer essa problematização Kety Valéria Simões Franciscatti afirma o potencial da Psicologia no combate às for-mas de ilusão.
A resenha crítica de Henrique Nardi apresenta e discute o último livro de Robert Castel que resulta de uma longa entrevista concedida a Claudine Haroche acerca da problemática do trabalho como elemento estruturante da sociedade capitalista, dando subsídios para entender a genealogia do indivíduo moderno.
Na expectativa que os artigos publicados neste número possam incrementar o debate das temáticas abordadas convido os leitores a envia-rem suas contribuições à Revista para que possamos mantê-la como um fórum privilegiado de discussão e de trocas.
Antes de finalizar esse editorial não poderia deixar de agradecer o trabalho do Professor Antônio da Costa Ciampa e de sua equipe na condu-ção da revista nos últimos anos.