Estrutura organizacional de serviços de saúde
Universidade de São Paulo Faculdade de Saúde Pública
Carinne Magnago
HSP0163 – Gestão Pública e Privada
Antecedentes
‘Estado’ na antiguidade (anterior ao Sec. XVIII) Monarquias, Impérios, Pólis, República Romana
‘Estado’ feudal
Administração: Patrimonialismo
Sem distinção entre os limites do público e os do privado No Brasil
Poder Moderador, Senado vitalício (Império) Coronelismo (República): clientelismo
Patrimonialismo
Surgimento das organizações: a empresa
Queda do Feudalismo
◦ Crescimento do comércio e acumulação de capital
◦ Fortalecimento da burguesia como classe dominante
◦ Troca monetária
◦ Migração para as cidades
A evolução dos pequenos artesão em sistemas fabris
◦ Pequeno artesão organizado em corporações
◦ Surgimento dos empreendedores
◦ Sistema fabril com crescimento de classe dominante e uma classe
operária
Surgimento das organizações: a empresa
◦ Estado: poder público (suprema autoridade política) – Sec.
XV, absolutismo, mercantilismo, capitalismo
◦ Eclosão da Inglaterra como Polo Industrial – XVIII e XIX
◦ Estado moderno: autoridade racional legal
◦ População, território, soberania, Governo
◦ Organização do Direito
◦ Centralização do poder estatal
◦ Sociedade de massa
◦ Busca de uma racionalidade técnica e científica dentro de uma visão positivista
o conhecimento científico é a única forma de conhecimento verdadeiro
Organização burocrática
A organização necessitava de regras e procedimentos para permitir que o processo produtivo fosse eficiente e os riscos e os conflitos controlados.
Administração pública: modelo burocrático
O que detém o poder não é dono dos bens públicos, mas sim responsável
Chiavaneto, 2011
Organização burocrática
Teorias da Administração - têm por domínio específico a construção e testagem de teorias sobre as organizações, os seus membros e a sua gestão, as relações organização- envolvente e os processos organizativos
Teoria Geral da Administração (TGA) - conjunto de conhecimentos a respeito das organizações e do processo de administrá-las, composto por:
- princípios, proposições e técnicas em permanente elaboração
Chiavaneto, 2011
Teoria Geral da Administração
Conjunto de teorias da administração que busca fundamentar esta atividade e elevá-la à condição de ciência.
Cada teoria apresenta as influências do momento histórico
de sua criação sob a forma de ênfases, ou seja, cada teoria
administrativa evidencia um aspecto das organizações
negando ou colocando em segundo plano os outros
aspectos.
O que é uma organização?
Na perspectiva da TGA, as organizações são grupos estruturados de pessoas que se juntam para alcançar objetivos comuns.
Características comuns a todas as organizações:
◦ Têm um propósito ou uma finalidade que lhe conferem uma razão para existir.
◦ São compostas por pessoas.
◦ Têm uma estrutura que define e delimita qual é o comportamento e as responsabilidades de cada um de seus membros.
Chiavaneto, 2011
Chiavaneto, 2011
TAREFAS
PESSOAS
TECNOLOGIA AMBIENTE
ESTRUTURA
ORGANIZAÇÃO
Variáveis básicas
ORGANIZAÇÃO
Teorias da
administração
Tarefas
Administração Científica – Frederick Taylor
Estrutura
Teoria Clássica – Henri Fayol
Teoria Burocrática – Max Weber
Pessoas
Relações Humanas – Elton Mayo Comportamental – Hebert Maslow
Ambiente
Teoria dos Sistemas – Ludwig Von Bertalanffy
Tecnologia
Teoria contingencial (Aborda todas as variáveis. Tudo é relativo. Tudo depende.)
Chiavaneto, 2011
Evolução das teorias da administração
RDC 50/2002 – Regulamentação técnica para planejamento, programação e avaliação de projetos físicos de EAS (Estabelecimentos de Atenção a Saúde)
RDC 33/2003 – Plano de Gerenciamento de Serviços de Saúde (PGRSS)
Regulamentos - Anvisa
Infraestrutura e ambiência
Deve se adequar:
- Quantitativo de população adstrita e suas especificidades (densidade demográfica e perfil epidemiológico da população)
- Processos de trabalho das equipes (composição, atuação, tipos de equipes)
- Atenção aos usuários (ações e serviços de saúde) - Formação de estudantes e trabalhadores de saúde - Normas sanitárias
(PNAB, 2017)
Infraestrutura e ambiência
Espaço físico (arquitetônico): lugar social, profissional e de relações interpessoais proporcionar uma atenção acolhedora para as pessoas, além de um ambiente saudável para o trabalho dos profissionais de saúde
Qualificadores: recepção sem grades (acolhimento), identificação dos serviços existentes, escala dos profissionais, horários de funcionamento, conforto térmico e acústico, adaptação para as pessoas com deficiência
Recursos humanos, materiais e insumos
(PNAB, 2017)
Serviços disponíveis
(Centro de Saúde Barão Geraldo, Prefeitura de Campinas, 2019)
Instalações
- Recepção - Ambulatório
- Sala de repouso - Consultórios
- Consultório odontológico - Sala de enfermagem - Sala de nebulização - Sala de curativo - Serviços de apoio
- Central de Esterilização de Materiais (CME) - Farmácia
- Serviço de Prontuário de Paciente
- Almoxarifado
Funcionamento
Recomendações
- Carga horária mínima de 40 h/semana, no mínimo 5 dias da semana e nos 12 meses do ano
- População adscrita: 2.000-3.500 pessoas - 04 equipes por USB
(PNAB, 2017)
Funcionamento
Ações e serviços
- Padrões essenciais: ações e procedimentos básicos relacionados a condições básicas/essenciais de acesso e qualidade na APS
- Padrões ampliados: ações e procedimentos considerados estratégicos para se avançar e alcançar padrões elevados de acesso e qualidade, considerando especificidades locais, indicadores e parâmetros estabelecidos nas Regiões de Saúde
(PNAB, 2017)
Funcionamento
Operacionalizado por equipes interprofissionais
Equipes de Saúde da Família: médico, enfermeiro, auxiliar e/ou técnico de enfermagem e agentes comunitários de saúde (e ainda agentes de combate a endemias) – 40h/semanais
* máximo de 750 pessoas por ACS
Equipes de Saúde Bucal: cirurgião- dentista, técnico em saúde bucal e/ou auxiliar de saúde bucal
Equipes de Estratégia de Agentes
Comunitários de Saúde: ACS e
enfermeiro supervisor
Trabalho na APS
Trabalho em equipe colaborativo com vistas à integralidade
da atenção e à otimização dos resultados de saúde
Práticas gerenciais na APS
Cidadania
Política
Comunicativa Técnica
Dimensões
articula o trabalho gerencial ao modelo
assistencial conjunto de
instrumentos (ex.
planejamento, avaliação), e de
saberes (ex.
epidemiologia, sociologia)
evidencia as relações de trabalho da equipe de saúde,
visando a cooperação
visa a participação e emancipação dos sujeitos sociais: democratização da gestão e tomada de decisão
Mishima et al, 1997
Gerente de UBS
Contribui para o aprimoramento e qualificação do processo de trabalho nas UBS, em especial ao fortalecer a atenção à saúde prestada pelos profissionais das equipes à população adscrita, por meio de função técnico-gerencial
Profissional qualificado, preferencialmente com nível superior, com o papel de garantir o planejamento em saúde, de acordo com as necessidades do território e comunidade, a organização do processo de trabalho, coordenação e integração das ações
(PNAB, 2017)
Gerente de UBS - atribuições
participar e orientar o processo de territorialização, diagnóstico situacional, planejamento e programação das equipes e avaliação de resultados
acompanhar, orientar e monitorar os processos de trabalho das equipes
assegurar a adequada alimentação de dados nos sistemas de informação
(PNAB, 2017)
Dimensão técnica
Gerente de UBS - atribuições
estimular o vínculo entre os profissionais favorecendo o trabalho em equipe
representar o serviço sob sua gerência em todas as instâncias necessárias e articular com demais atores da gestão e do território
conhecer a RAS, participar e fomentar a participação dos profissionais na organização dos fluxos de usuários, com base em protocolos, diretrizes clínicas e terapêuticas, apoiando a referência e contrarreferência
(PNAB, 2017)
Dimensão comunicativa
Dimensão política
Dimensão política
Gerente de UBS - atribuições
identificar as necessidades de formação/qualificação dos profissionais e promover a Educação Permanente
desenvolver gestão participativa e estimular a participação dos profissionais e usuários em instâncias de controle social
(PNAB, 2017)
Dimensão política
Dimensão cidadã
A gestão eficaz da APS no âmbito das redes de atenção implica:
- territorialização
- atualização constante das informações (sistemas de informação)
- planejamento das ações de saúde - negociação e pactuação de ações
- monitoramento e avaliação permanentemente dos processos
práticas gerenciais de saúde
INFORMAÇÃO
Cuidar de cidadãos, não consumidores Perseguir o interesse público
Dar mais valor à cidadania
Pensar estrategicamente, agir democraticamente
Dar valor às pessoas, não apenas à
produtividade
Hospital
O hospital é parte integrante de um
sistema coordenado de saúde que deve
prestar à comunidade e às famílias
completa assistência preventiva e curativa,
podendo também constituir em um centro
de pesquisas biossociais e de formação
aos profissionais da área da saúde.
Porte do hospital
Pequeno porte: É o hospital que possui capacidade normal ou de operação de até 50 leitos (até 30 leitos pela Portaria GM nº 1044/2004).
Médio porte: É o hospital que possui capacidade normal ou de operação de 51 a 150 leitos.
Grande porte: É o hospital que possui capacidade normal ou de operação de 151 a 500 leitos.
Acima de 500 leitos considera-se hospital de capacidade
extra.
Portaria GM/MS n. 1.101/20002: 2,5 a 3 leitos por 1.000 habitantes
https://www.redesocialdecidades.org.br/br/SP/sao-paulo/leitos-hospitalares
Perfil assistencial dos estabelecimentos:
Hospital geral, hospital especializado, hospital de
urgência, hospital universitário e de ensino e pesquisa
Papel do estabelecimento na rede de serviços de saúde:
Hospital local, regional, de referência estadual ou nacional
Regime de propriedade:
Hospital público, privado, privado com fins lucrativos e privado sem fins lucrativos (beneficentes ou
filantrópicos).
119.578 leitos privados abertos
160.059 leitos privados fechados
Estrutura de governança Estrutura de apoio à gestão Estrutura de
controle e fiscalização
Social
Político
Conhecimento
Ecologia Valorização
do homem Gerencial
Tecnológico Organizacional
ORGANIZAÇÃO
Gerencialismo / Nova Gestão Pública
◦ Reformas governamentais para superar a velha burocracia estatal por meio da propagação de nova cultura organizacional no serviço público
◦ Foco nos resultados (eficácia e efetividade)
◦ Usuários como clientes de mesma natureza que aqueles de empresas privadas
◦ Pulverização de tipos de vínculo institucional (terceirização, contratos temporários...)
◦ Descentralização
◦ Privatização Brasil
◦ Redemocratização
◦ Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (1995-1999)
Lei de mercado
Abordagens da administração
Era industrial Era da informação
Fábrica – empresa física e tangível, empresa de
cimento e concreto, máquinas e equipamentos Empresa virtual e em rede, empresa de bytes e bites, computadores e terminais
Estabilidade e permanência Mudança e instabilidade
Manter o status quo Mudar e inovar
Mão de obra braçal – trabalho muscular Conhecimento – trabalho cerebral
Emprego único, tradicional e presencial Atividade compartilhada, engajada e virtual Trabalho individual, isolado e solitário Trabalho em equipe, participativo e solidário
Gerência tradicional Liderança, coaching, mentoring
Impor ordens e comandos Conquistar a colaboração
Obediência cega a regras e regulamentos Empreendedorismo e intraempreendedorismo Especialização e foco em uma única atividade Flexibilidade, multifuncionalidade e polivalência
Capital financeiro Capital intelectual
Referências
Brasil. Decreto nº 7.508, de 28 de junho de 2011. Regulamenta a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, para dispor sobre a organização do Sistema Único de Saúde - SUS, o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa, e dá outras providências. Diário Oficinal da União, 29 jun. 2011.
Brasil. Ministério da Saúde. Portaria no. 2.436, de 21 de setembro de 2017. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília, 2017.
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Referências
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