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QUANDO O CHOCOLATE ACABA

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Academic year: 2022

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Índice

O Chocolate como Salvação Fontes de Descontentamento A Origem dos Nossos Problemas Apego e Libertação

Quando o Ego Se Intromete Interpretações Enraivecidas O Âmago do Dharma Psicologia Interna Qualidades da Mente Para Quê Meditar?

Esforço e Expectativa

Analisar a Sua Própria Experiência Dormir e Acordar

A Realidade Incontestável do Karma

«Os Meus Inimigos Desapareceram»

Igualdade para Todos os Seres Equilíbrio

Caridade Verdadeira O Signifi cado de Vazio A Mente da Sabedoria 11

15 19 27 37 43 47 55 61 69 79 83 89 93 105 109 117 121 123 135

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Tomar Refúgio Como Meditar?

Conduzir uma Revolução Interior

– Trocar-se a Si Próprio pelos Outros

Posfácio Sobre o Autor 139

143 155 159 161

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O Chocolate como Salvação

A

doramos chocolate. Talvez o adoremos tan- to que chegamos ao ponto de acreditarmos que «Serei feliz desde que tenha chocolate». Este é o poder do apego em ação. E é com base neste apego que criamos uma fi losofi a apoiada no cho- colate e organizamos a nossa vida dando priorida- de ao chocolate. Mas nem sempre temos chocolate à mão. E quando o chocolate desaparece, fi camos nervosos, preocupados: «Oh, não! Agora estou in- feliz!» Contudo, é óbvio que não é a falta de cho- colate que nos torna infelizes, são as nossas ideias fi xas e o facto de não entendermos a verdadeira natureza do chocolate.

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Tal como todos os nossos prazeres e todos os nossos problemas, o chocolate é efémero: o cho- colate aparece e desaparece. E isso é algo natural.

Assim que conseguir entender isto, a sua relação com o chocolate poderá mudar, e quando o enten- der em profundidade, deixará verdadeiramente de ter medo de seja o que for.

No fim de contas, não se pode confi ar no cho- colate. O chocolate nem sempre está em uníssono consigo: quando o quer, não o tem, e quando não lhe apetece, aí o tem sempre à sua frente. Todos os prazeres de curta duração como este funcionam desse modo, já que nós não controlamos a imper- manência, não controlamos o mundo sensorial – e o seu sofrimento tornar-se-á ainda maior se a sua busca pela felicidade o levar a apoiar-se emocio- nalmente no mundo dos sentidos.

Mas, coragem! Há outro tipo de felicidade à sua disposição, uma experiência silenciosa de profunda alegria permanente, uma alegria prove- O chocolate vai e vem, o chocolate desaparece.

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niente da sua própria mente. Este tipo de felicidade está sempre consigo, está sempre disponível. Está presente sempre que precisa dele. E poderá desco- brir esta felicidade através do estudo da sua própria mente. Observar e investigar a sua própria mente é algo bastante simples, mesmo muito simples. Com a prática poderá vir a experienciar este tipo de feli- cidade onde quer que vá e em qualquer altura.

E, vendo bem, todos os seres desejam ser fe- lizes. O desejo de se ser feliz move grande parte do mundo. A motivação subjacente em processos que vão desde a produção do mais pequeno rebuçado até à criação da nave espacial mais sofi sticada é a busca pela felicidade. Subjacente a todo o percur- so da história humana está a constante busca pela felicidade ou, de certo modo, a busca por mais e melhor chocolate.

É claro que todos nós sabemos que é impossí- vel obter felicidade e satisfação duradouras através do chocolate. Sabemos onde encontrar chocolate, mas sabemos onde encontrar uma paz profunda e duradoura?

Nas páginas que se seguem, espero conseguir transmitir as perspetivas e as ferramentas – a sa-

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bedoria e o método – necessárias para que com- preenda a origem do sofrimento e descubra uma felicidade verdadeiramente indestrutível, uma fe- licidade à disposição em todas as alturas, sítios e circunstâncias – mesmo quando o chocolate che- ga ao fi m.

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Fontes de Descontentamento

A mente humana não se satisfaz somente através do mundo sensorial.

O

apego emocional surge ao experienciarmos sensações agradáveis, e é quando estas des- vanecem que aparece o desejo: o desejo de voltar a senti-las. A aversão surge quando sentimos algo de- sagradável: automaticamente percebemos que não gostamos e queremos livrar-nos das sensações desa- gradáveis que, uma vez mais, perturbam a nossa paz de espírito. E a ignorância surge quando nos senti- mos indiferentes ou aborrecidos: ignoramos o que se passa à nossa volta e não queremos ver a realidade.

Este tipo de mente caracterizada pelo apego, pela aversão e pela ignorância tem como natureza o descontentamento.

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Quando era criança, talvez adorasse e dese- jasse comer gelado, chocolate e bolo e pensasse:

«Quando for grande, vou comer todos os gelados, chocolates e bolos que me apetecer e, aí sim, serei feliz!» Agora pode comer todos os gelados, cho- colates e bolos que quiser, mas continua a não se sentir satisfeito. Por isso, e já que nada disso o dei- xa feliz, decide comprar um carro, uma casa, uma televisão, decide arranjar um marido ou uma mu- lher, ter fi lhos e um emprego, e só então se sentirá feliz. Agora já tem tudo o que desejava, mas o seu carro é um problema, a sua casa é um problema, o seu marido ou a sua mulher é um problema, os seus fi lhos são um problema. Então apercebe-se:

«Ah! A satisfação não é isto.»

Portanto, vai à procura de uma cura para esse descontentamento.

Contudo, apesar de a medicina moderna ser claramente capaz de atenuar os males físicos, ja- mais conseguirá curar as mentes descontentes e indisciplinadas. Nenhum tipo de medicina é capaz de gerar um sentimento de satisfação. E mais: não conseguirá fugir aos seus problemas, nem que vá para a Lua.

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Estamos descontentes connosco próprios. Es- tamos descontentes com os outros, estamos des- contentes com o lado exterior do mundo. Este descontentamento é como um oceano.

O nosso problema é não nos aceitarmos a nós próprios tal como somos e não aceitarmos os outros tal como são. Queremos que as coisas sejam diferentes de como realmente são, porque não entendemos a realidade. A nossa forma su- perfi cial de ver as coisas, as nossas ideias fi xas e as nossas conceções erradas impedem-nos de ver a realidade daquilo que somos e de como existi- mos.

Temos de aprender a reconhecer que somos nós próprios que criamos todos os problemas huma- nos. Não devíamos culpar a sociedade por isso;

não devíamos culpar os nossos pais ou o nosso companheiro ou o nosso patrão ou os nossos ami- gos; não devíamos culpar ninguém.

A sua mente descontente acompanhá-lo-á para onde quer que vá.

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Tal como somos os criadores de todos os nossos problemas, também somos os criadores da nossa própria libertação, da nossa própria alegria e de tudo o que é necessário para alcançar a ditosa li- bertação que o corpo e a mente que possuímos neste preciso momento contêm.

A meditação proporciona satisfação à mente descontente e refuta a ideia, ou crença, de que a felicidade depende somente das circunstâncias.

A sua vida terá muito mais signifi cado e des- cobrirá uma satisfação muito maior se compreen- der corretamente os princípios espirituais e agir de acordo com eles.

A meditação refuta a crença de que a satisfação depende das circunstâncias.

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A Origem dos Nossos Problemas

Já pensou mesmo bem acerca da ideia

«o meu problema»?

Q

uando estiver numa situação em que se sen- te psicologicamente incomodado, em vez de fi car obcecado com a forma como se está a sentir, concentre-se em perceber como é que a sua mente fi cou perturbada.

Se alguém o agredisse fi sicamente, fi caria verda- deiramente perturbado e é óbvio que imediata- mente quereria fazer algo quanto a isso. Mas pen-

Os nossos problemas são criados por nós próprios.

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se nisto: a mente preocupada com «os meus pro- blemas, os meus problemas, os meus problemas»

agride-o dia após dia, semana após semana, mês após mês, ano após ano – até mesmo vida após vida – e você limita-se a fi car de braços cruzados à espera que o problema se resolva sozinho.

Vale muito mais a pena enfrentar os seus pro- blemas do que ignorá-los ou tentar fugir deles. Já tentou agir dessa forma no passado; não se trata de um caminho novo, é exatamente o mesmo ca- minho de sempre. Você vai, você muda, você vai, você muda… sempre assim sem parar. Só ao longo desta vida já seguiu o apego em inúmeras viagens, mas este nunca o levou até uma felicidade dura- doura.

É muito mais importante eliminar os nossos pro- blemas pela raiz do que passar o tempo todo a ten- tar lidar com os problemas superfi ciais, emocio- Porque não agir?

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nais. Lidar com problemas aparentemente indivi- duais não faz com que se deixe de ter problemas constantemente; simplesmente substitui o proble- ma que achávamos que tínhamos acabado de re- solver por um novo.

Os velhos problemas são substituídos por novos, contudo não deixam de ser problemas, uma vez que o problema original permanece. O problema original é como um oceano; aqueles que tentamos resolver são apenas as ondas.

Quando temos problemas, sejam eles internos ou externos, a nossa mente limitada e inepta só os torna piores. Quando uma pessoa que tem uma doença de pele, que faz comichão, se coça, sente um alívio temporário e pensa que o facto de ter coçado ajudou a melhorar. Na verdade, o ato de coçar só fez com que piorasse. Nós somos assim;

nós fazemos exatamente a mesma coisa, todos os dias das nossas vidas.

Encobrir um problema com outro não resolve nada; é apenas uma alteração.

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Neste momento, mesmo que pense que não tem problemas, não está livre de os ter – simplesmente não está consciente do que se passa na sua mente.

Esta é uma situação muito perigosa. Não estou a tentar assustá-lo, mas tem de estar alerta para o que se esconde na sua mente, à espreita, à espera de sair.

As próprias ideias causam problemas – isto se você se deixar envolver pelos problemas que elas originam. Verifi que e examine cuidadosamente como é que as suas ideias lhe trazem problemas.

Não dê tanta importância às emoções superfi ciais e a quaisquer vivências ou objetos sensoriais que as possam ter desencadeado e, em vez disso, olhe bem para o interior da sua mente de modo a de- terminar o que é que está realmente a provocar essa emoção.

Os problemas desaparecerão de moto pró- prio assim que os compreender verdadeiramente.

É na mente que existem os problemas.

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É na mente que estão as raízes do sofrimento, as verdadeiras raízes de todos os nossos problemas – e isso é bom, porque signifi ca que o sítio a que po- demos recorrer para resolver os nossos problemas também é a mente.

Muitos dos nossos problemas surgem porque nos sentimos desligados de algo que precisamos.

Não nos sentimos completos e, por isso, recorre- mos ansiosamente a outras pessoas em busca das qualidades que imaginamos que nos fazem falta a nós próprios. Todos os problemas do mundo, des- de a ansiedade de uma pessoa até às guerras entre nações, podem ser resumidos a este sentimento de se ser incompleto.

Todos os problemas do mundo se resumem a um sentimento de se ser incompleto.

Você é responsável pelos seus próprios problemas, tal como é responsável pela sua própria libertação ou esclarecimento.

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É com o sofrimento, com os problemas, que aprendemos, ao apercebermo-nos de onde estes vêm e exatamente como é que nos fazem so- frer. Portanto, os problemas são realmente uma ajuda para quem investiga a natureza da realidade interior. Aprender com os problemas proporcio- na-nos mais energia, uma maior sabedoria e uma compreensão mais profunda.

E, por isso, sempre que surgir alguma difi cul- dade ou problema, em vez de simplesmente fi car deprimido, aceite a bênção que está a receber. Pen- se: «Fantástico! Se este problema não tivesse apa- recido, poderia ter fi cado a achar que não tinha quaisquer problemas. Este problema será o meu mestre; todos os problemas são o meu mestre. Eles ajudam-me a reconhecer a natureza do meu apego de uma forma muito mais clara. Que maravilha!

Aliás, que todos os problemas de todos os seres caiam sobre mim, agora mesmo, e que esses seres recebam todo o meu mérito, a minha sorte e a mi- nha sabedoria.»

Não tem de alterar nada exterior; a única mudança

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Meditar é uma forma de se tornar sufi ciente- mente forte para conseguir enfrentar os seus pro- blemas, em vez de fugir deles. Permite-lhe enfren- tá-los e lidar com eles habilmente.

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Apego e Libertação

N

ão importa a quantidade que se obtém de algo, já que essa quantidade jamais satisfará o seu desejo de mais e melhor. Este desejo inces- sante é uma forma de sofrimento; a sua natureza é a frustração emocional.

Preste atenção ao seguinte: imagine que está numa sala onde entra um amigo seu. Este traz um bolo delicioso e dá-o a apenas uma pessoa, que de-

Pode verifi car por si próprio como é ridícula a maneira como o apego funciona.

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pois se senta a comê-lo sem o partilhar connosco.

Vamos fi car perturbados, não vamos? Vamos fi car cheios de inveja e zangados. As nossas mentes são assim. Em vez de fi carmos contentes com a alegria das outras pessoas – «Ele não é simpático? Veio de tão longe para trazer um bolo àquela pessoa. Espe- ro bem que ela goste!» –, sentimo-nos magoados por termos sido excluídos. Vejamos a psicologia aqui implícita. À superfície parece que a nossa re- ação surge apenas relativamente ao bolo, mas se analisarmos mais profundamente, descobrimos que o que as nossas mentes estão realmente a pen- sar é: «O que eu quero é ser feliz. Não quero que ela seja feliz.» Assim que for capaz de perceber isto com maior clareza e somente como sendo um tipo de apego, este passará a exercer menos poder so- bre si.

Depois de conseguir reconhecer a força da ener- gia do apego, seguir-se-á o pensamento puro – o tipo de pensamento que indica o caminho para a libertação. Não terá de se esforçar: «Quero ter um pensamento puro! Tenho de ter um pensamento puro!» Não tem de se agarrar à ideia de desejar ter

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um pensamento puro. Limite-se apenas a ver o modo como o apego faz com que a sua mente seja assaltada por ideias; o pensamento puro aparecerá espontane- amente. Assim que os pensamentos puros surgirem, a sua vida tornar-se-á naturalmente positiva.

Se se familiarizar profundamente com a atitude inerente ao apego, com o percurso percorrido pelo apego e como este tipo de mente interpreta as coi- sas, descobrirá como a sua vida se tornará muito mais fácil e a sua mente se tornará muito mais ágil.

Mesmo que fuja do seu próprio país e vá para uma caverna no meio das montanhas, o apego acompa- nhá-lo-á sempre. É impossível deixá-lo para trás.

Render-se a uma mente dominada pelo apego é como atirar-se ao chão em agradecimento peran- te alguém que ameaça matá-lo com uma faca. Tal como isso é absurdo, assim é ser-se simpático para com o seu apego.

Decida parar, de uma vez por todas, de se curvar perante o apego.

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Não terá de abdicar de todos os seus bens para ultrapassar o seu sofrimento. Fique com os seus bens; não são eles que estão a tornar a sua vida difícil. Está inquieto porque está a agarrar-se aos seus bens e prazeres com apego.

Mas não se ponha a atirar a sua mobília para o meio da rua: «O Lama Yeshe disse que tenho demasiado apego! É melhor livrar-me da minha tralha toda!»

Ao contrário do que algumas pessoas pos- sam acreditar, não faz mal nenhum ter-se alguns prazeres e alegrias. O que está mal é a forma como nos agarramos a esses prazeres, transformando-os de uma fonte de felicidade numa fonte de dor e descontentamento.

Aproveite a sua vida material o melhor que puder, mas, simultaneamente, entenda a natureza da sua satisfação – a natureza alucinante e imper- manente tanto do objeto de que está a usufruir como da mente que está a vivenciar esse prazer, e como esses dois estão relacionados. Isto é o des- prendimento de se tornar mais sensato ao passar a conhecer a natureza característica do prazer e dos objetos do prazer.

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O verdadeiro objetivo da religião é a compre- ensão de tudo isto em profundidade.

Uma pessoa realmente rica é aquela que possui uma mente satisfeita. A abundância de um senti- mento de satisfação advém da sabedoria, e não de coisas externas.

A verdade é que você apega-se a qualquer ideia que julga ser boa, por isso, mesmo que os ensina- mentos do seu caminho espiritual possam de facto ser bons, tente praticá-los sem qualquer sentimen- to de apego.

É possível atingir a iluminação sem sequer o de- sejar. O mais importante é não se agarrar dema- siado a algo. Se se agarrar, com apego, à ideia de

Se realmente estiver livre de uma mente dominada pelo apego, aperceber-se-á, em primeiro lugar, de que nada lhe pertence verdadeiramente.

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atingir a iluminação, essa experiência poder-se-á transformar em algo negativo, em vez de positivo.

Não deixe de tentar ser livre, mas faça-o agindo simplesmente de uma forma consciente e correta com conhecimento de cada ação do seu corpo, do seu discurso e da sua mente.

Quando o apego nasce, é o ego que surge pri- meiro. A ilusão começa com o ego; a ela segue-se o apego. O conceito ego constrói uma projeção do

«eu» e reveste essa projeção alucinada com uma camada de qualidades. Depois, quando o «eu» – superfi cial, artifi cial e ilusório – começa a contem- plar os prazeres provenientes do mundo senso- rial, classifi ca determinados objetos como sendo apetecíveis. A partir daqui surge o apego, que se prende ou agarra a esses objetos sedutores. Resu- mindo, esta é a evolução do apego.

Não pode travar o sentimento de apego através do desenvolvimento de um qualquer tipo de mente radical e de rejeição.

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No fundo, não só estamos absolutamente dispo- níveis para todo o tipo de lixo intelectual que en- contramos pelo caminho, como até lhe damos as boas-vindas.

É importante aperceber-se de que as palavras das outras pessoas não podem alterar a sua realidade – não há necessidade nenhuma de se sentir ora para cima ora para baixo quando as pessoas o elogiam ou o criticam. Estes altos e baixos acontecem por causa do seu apego, da sua mente que se agarra às coisas, das suas ideias fi xas. Certifi que-se de que entende isto muito bem.

Pense na seguinte história: uma vez o mosteiro re- cebeu como oferenda um iogurte delicioso. Nesse mosteiro estava um praticante de ioga, sentado no fi m da fi la. Permaneceu sentado, a fi car cada vez mais preocupado, à medida que o iogurte era ati- rado ruidosamente para as taças dos monges que estavam à frente dele. «Estão a dar demasiado io- gurte àqueles monges! Não vai chegar para mim!»

Subitamente, tomou consciência do que se estava a passar na mente dele, por conseguinte meditou

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acerca do quão poderoso é o apego e como este produz fantasias que nada têm a ver com a reali- dade. Foi então que virou a taça dele ao contrário.

Quando a pessoa que estava a servir se aproximou dele, o praticante de ioga disse: «Não, obrigado, já comi.» Este é um bom exemplo de como pôr em prática o antídoto para o apego.

Seria maravilhoso se você fosse capaz de reco- nhecer que o seu próprio apego é a causa de todos os problemas que tem.

A libertação denota uma mente que transpôs o apego, que transpôs a mente dualista; e signifi - ca que o seu coração já não está dominado pela mente descontrolada, indomada e descontente, já não está preso ao apego. Libertar-se-á da sujeição e tornar-se-á capaz de obter alegria sem depender de objetos sensoriais, assim que entender a natu- reza autoritária da sua mente.

A prática do Dharma é um método que pode usar para se libertar por completo do apego.

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A sensação de um átomo de mel na sua língua é muito mais poderosa do que ouvir, durante anos, explicações do quão doce ele é. Não obstante a quantidade de vezes que eu lhe fale acerca da ma- ravilhosa doçura do mel, você continuará a pen- sar: «Bem, talvez seja, talvez não.» A verdade da felicidade indestrutível resultante da libertação é assim.

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Quando o Ego Se Intromete

O

ego é muito simplesmente a noção errada de que o seu «eu» é independente, perma- nente e intrinsecamente existente. Na realidade, aquilo que acredita ser o «eu» não existe. É muito importante que se observe esta crença minucio- samente e que se consiga vê-la como realmente é:

uma alucinação que não se baseia na realidade.

Aquilo em que acredita é poderoso, e acre- ditar em algo errado eterniza muito efi cazmente ideias erradas. As pessoas parecem frequentemen- te acreditar que, se você não for uno com o seu ego, não poderá ter uma vida, um emprego, ou fa- zer seja o que for. Pensam que, se perder o seu ego,

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perderá a sua personalidade, a sua mente, a sua natureza humana. Isso é uma ilusão perigosa – a de que não pode separar o ego da mente, o ego da vida. Por favor, não se preocupe com isso!

Se olhar por entre a ilusão do ego, fi cará re- almente muito feliz, e feliz de um modo que não depende de causas e circunstâncias.

O ego é um conceito mental, e não algo físico. É claro que os sintomas da atividade do ego podem manifestar-se externamente, tal como quando alguém está zangado e o rosto e o corpo dessa pessoa refl etem essa fúria. Contudo, a expressão facial e a postura corporal dessa pessoa não são propriamente a fúria, são apenas os sintomas da fúria. Da mesma forma, o ego não é a sua ma- nifestação externa, é um elemento mental, uma atitude psicológica. Não a podemos ver no exte- rior.

Aceitará de imediato a existência do outro as- sim que perceber que o «eu» independente é uma alucinação. Então, esse outro aparecer-lhe-á como estando totalmente separado de si. Se não existisse o eu, não surgiria o outro. Esta separação imaginá-

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ria e projetada é a origem deste mundo de sofri- mento, do Samsara.

A criação do ego é o nosso maior problema, o rei de todos os problemas; as outras emoções são como ministros, mas o ego é o rei. Quando se transpõe o ego, as outras ilusões desaparecem.

A mente do nosso ego engana-nos ao proje- tar a sua própria maneira alucinada de ver a re- alidade e depois, baseados nessa alucinação, nós decidimos se essa realidade é «boa» ou «má». O nosso ego retrata um objeto com uma projeção er- rada e o apego surge sem qualquer hesitação.

O poder da energia do ego irrompe pela sua mente sem pedir autorização. Mesmo que não queira que ele entre, o ego força a entrada. Se al- guém entrasse de repente na sua casa sem bater à porta, fi caria aborrecido, não fi caria? «O que é que se passa? Não bateste à porta!» É provável que re-

A ignorância origina o ego.

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clamasse, mesmo que fosse o seu melhor amigo a entrar de repente sem bater à porta. Sendo assim, não é ridículo que, em vez de fazer alguma coi- sa quando a poderosa energia negativa do ego se intromete sem ser convidada, você simplesmente diga: «Bem-vindo, ego. Entra, por favor. Como es- tás? Bebe um chazinho. Em que posso ajudar-te?

Queres um chocolate?»

Quando o ego se intrometer, em vez de se curvar perante ele e de o servir, ou talvez até de fugir a correr na direção oposta enquanto grita, limite-se a contemplá-lo. Observe-o simplesmente com muita atenção e entenda de onde é que ele veio e o que é que está a mandá-lo fazer. Enfrente-o com sabedoria. Assuma os problemas do ego com sabe- doria. Não há necessidade nenhuma de pensar: «A minha mente está completamente dominada pelo ego, sou tão má pessoa!» Não se deite abaixo a si próprio. Em vez disso, sinta-se feliz por entender o que está a acontecer. «Ah, estou a perceber! O ego meteu-se na conversa. Já conheço este truque anti- go muito bem!» Assim que dirigir o seu olho da sa- bedoria ao ego, este desaparecerá de moto próprio.

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Decida de uma vez por todas: «Estou farto de ser escravo do meu ego. O meu ego manda na mi- nha mente e, apesar de só me dar problemas cons- tantemente e não me dar tempo para descansar, continuo a dedicar toda a minha vida a servi-lo.

A minha mente está em constante agitação só por causa do meu ego. Vou deixar de ser escravo do meu ego!»

Damos início às nossas sessões de meditação cur- vando-nos – e o motivo pelo qual o fazemos é, em parte, para o rebaixarmos. Isto porque o orgulho egocêntrico vê as coisas muito superfi cialmente e nunca vê a natureza da realidade.

Não é pelos objetos materiais que estão no altar que nos curvamos quando nos prostramos, mas para prestar homenagem ao verdadeiro discerni- mento, à verdadeira sabedoria.

A mente orgulhosa é como um deserto:

nada tem a capacidade de crescer numa mente cheia de orgulho.

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O seu ego quer que você tenha sempre razão e o seu apego cria a sua própria fi losofi a de vida.

Referências

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