UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO MULTIPROFISSIONAL NA ATENÇÃO BÁSICA 2015
Neilo da Rosa Luz
Ações para reduzir a incidência e prevalência de sífilis nas gestantes da comunidade da Unidade Básica de
Saúde Panissa/Maracanã, Londrina-PR
Florianópolis, Março de 2016
Neilo da Rosa Luz
Ações para reduzir a incidência e prevalência de sífilis nas gestantes da comunidade da Unidade Básica de Saúde Panissa/Maracanã,
Londrina-PR
Monografia apresentada ao Curso de Especi- alização Multiprofissional na Atenção Básica da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito para obtenção do título de Es- pecialista na Atenção Básica.
Orientador: Aline Lima Pestana
Coordenador do Curso: Prof. Dr. Antonio Fernando Boing
Florianópolis, Março de 2016
Neilo da Rosa Luz
Ações para reduzir a incidência e prevalência de sífilis nas gestantes da comunidade da Unidade Básica de Saúde Panissa/Maracanã,
Londrina-PR
Essa monografia foi julgada adequada para obtenção do título de “Especialista na aten- ção básica”, e aprovada em sua forma final pelo Departamento de Saúde Pública da Uni- versidade Federal de Santa Catarina.
Prof. Dr. Antonio Fernando Boing Coordenador do Curso
Aline Lima Pestana Orientador do trabalho
Florianópolis, Março de 2016
Resumo
A sífilis é uma doença sistêmica, causada pela bactéria Treponema pallidum. Tem como principal via de transmissão o contato sexual, seguido pela transmissão vertical para o feto durante o período de gestação de uma mãe com sífilis não tratada ou tratada inadequada- mente. Na área de abrangência da Unidade Básica de Saúde (UBS) Panissa/Maracanã da cidade de Londrina, Paraná, houve um aumento considerável na incidência/prevalência dessa infecção, sendo que no ano de 2015 foram diagnosticados 5 casos das 139 gestantes acompanhadas. Devido aos agravos e sequelas decorrentes da transmissão vertical, esco- lhemos como problema a sífilis na gestação. Tem como objetivo elaborar um plano de ação para reduzir a incidência e prevalência de Sífilis nas gestantes desta comunidade, juntamente com a equipe de sáude da UBS. As gestantes serão consultadas no mínimo 7 vezes e realizarão VDRL ou teste rápido a cada trimestre. Todas as gestantes com VDRL positivo e seu parceiro serão tratadas durante o pré-natal. Haverá a busca ativa pelos Agente Comunitários de Saúde de gestantes que não comparecerem as consultas ou que não realizarem o tratamento. Promoveremos grupos mensais para conscientizar as ges- tantes sobre os riscos da doença na gestação e prevenir a transmissão sexual e vertical. O projeto irá promover ações de educação em saúde e prevenção de infecções sexualmente transmissíveis na comunidade, com a realização de palestras e distribuição de material informativo. Com a realização dessas ações esperamos que haja uma diminuição na in- cidência de sífilis na comunidade, a eliminação definitiva dos casos de sífilis congênita, assim como diminuição dos casos de sífilis na gestação.
Palavras-chave: Sífilis, Sífilis Congênita, Transmissão Vertical de Doença Infecciosa, Saúde da Família
Sumário
1 INTRODUÇÃO . . . . 9
2 OBJETIVOS . . . 13
2.1 Objetivo geral . . . 13
2.2 Objetivos específicos . . . 13
3 REVISÃO DA LITERATURA . . . 15
4 METODOLOGIA . . . 19
5 RESULTADOS ESPERADOS . . . 23
REFERÊNCIAS . . . 25
9
1 Introdução
O territórrio da Unidade Básica de Saúde Panissa/Maracanã abrange os bairros Ave- lino Antônio Vieira ( ”Panissa”), Jardim Olímpico, João Turquino, Maracanã e Parque Universidade. Localizado na Região Oeste de Londrina, Paraná . Seu limite faz fronteira com o município de Cambé. São divididos em 3 equipes de PSF (A, B e C).
O Conjunto Habitacional Avelino Antônio Vieira, conhecido popularmente como Con- junto Panissa, foi batizado em homenagem ao Sr. Avelino Antônio Vieira, pioneiro do Norte do Paraná que se destacou atuando na área financeira, como superintendente de bancos e criador do antigo Banco Bamerindus. Idealizado durante o mandato do prefeito Antônio Belinati, foi construído sob responsabilidade das empresas Seffer e Icopan, com recursos administrados pela COHAB Londrina. Sua construção se iniciou em 27 de agosto de 1979 e a inauguração se deu em 13 de novembro de 1981.
O segundo bairro formado ao redor foi o Jardim Olímpico, cujo nome devido a algumas ruas do bairro se caracterizarem por ter nomes de esportes olímpicos. Após foi constituído o Parque Universidade. Esse nome por fazer divisa a UEL.
Entre o Jardim Olímpico e Parque Universidade, constava uma área rural de plantação de soja e café. Em 1998 essa área foi invadida por sem-tetos, originando o bairro João Turquino.
O Maracanã surgiu de um loteamento imobiliário, com fins particulares para formação de um bairro. Devido a invasão do João Turquino, apresentou dificuldades em negociar os lotes. Houve então uma posterior invasão de famílias dos bairros vizinhos principalmente.
Existe ainda os bairros Sabará e Columbia, sem áreas de abrangência de ESF, que foram adotados pela UBS.
Dentro do territórrio da UBS Panissa/Maracanã existes cinco estabelecimentos de ensino: uma escola estadual (Dr° Olavo Garcia Ferreira da Silva) e quatro creches (Menino Deus; Carolina; Laura Ribeiro e Rafaela Lemen). Há quadras de esporte nessas escolas para atividades físicas e de lazer dos estudantes.
Quanto aos espaços religiosos, no território existem 11 igrejas, sendo quatro católicas:
Capela Bom Jesus (Panissa), Capela São Silvestre (Olímpico), Capela Santa Helena (João Turquino) e Capela Santoo Antonio (Parque Universidade); Igrejas Evangélicas e um Centro Espírita.
Na comunidade são utilizados para a criação de grupos os seguintes espaços: o Centro comunitário Jardim Olímpico; o salão da capela Bom Jesus; Ciranda; Salão da Capela Santa Helena; Viva Vida; e o Centro de Formação Cidadã que oferece aulas e atividades de teatro, educação física, artesanato, e comunicação.
Na comunidade também existem espaços que oferecem atenção psicossocial: o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), Centro de Referência da Assistência Social (CRAS)
10 Capítulo 1. Introdução
Oeste A; o movimento Cristo te ama, direcionado a usuários de álcool e drogas; e o centro comunitário Jardim Olímpico, que realiza terapias comunitárias.
As áreas de maior risco social e violência são os bairros João Turquino e Jardim Mara- canã, caracterizadas principalmente pelo tráfico de drogas e prostituição (alta prevalência de DST, como a Sífilis). Frequente a situação de domicílios em que mulheres e crianças residem sem a presença do marido/pai, por ser presidiário.
Região caracterizada por muitos aclives e declives, o que dificulta acesso e locomoção dos idosos às ruas, supermercados, UBS etc... Presença de fundos de vales, com acúmulo de lixos, apesar de haver coleta de lixo 3 vezes na semana. A maior parte das ruas são asfaltadas, e há 1 praça em más condições de conservação e usada para drogadição. O saneamento básico abrange em torno de 97% das casas com acesso a rede de esgosto.
As condições das moradias, no inicio do bairro Avelino, eram moradias de alvenaria com 35 m2, isso há aproximadamente 30 anos. Muitas dessas casas foram reformadas e aumentadas. Por isso encontramos a maioria das casas de alvenaria e poucas casas de madeira. As áreas que se formaram devido a invasão, tem a maior parte de casas de madeira.
Os bairros de adoção (Sabará e Columbia) , por serem bairros novos e população com maior poder aquisitivo, moradias de alvenaria mais conservadas, amplas e novas.
Cerca de 588 famílias recebem auxílio Bolsa Família, num total de 1320 pessoas be- neficiadas. Em média o restante da população, a renda familar em torno de 3 salários minímos. Sendo que as áreas com melhor nível (Sabará e Columbia), uma variação um pouco acima desse valor. População com índices consideráveis de analfabetismo, em torno de 10%, principalmente na população mais idosa, cerca de 60% com ensino fundamental incompleto e menos de 5% com ensino superior.
A população da UBS Panissa/Maracanã estimada pelo IBGE em 2013 era de 15.460 pessoas, sendo 8.026 mulheres (51%) e 7.434 homens (49%). Dividida por faixa etária são 4.484 menores de 20 anos, 9.010 de 20 a 59 anos, e 1.706 maiores de 60 anos.
De acordo com dados do SIAB-2014, a prevalência de hipertensos é de 678 casos (11,7%) e diabéticos 154 (2,72%). As cinco principais queixas que levaram a população a procurar a UBS, de acordo com E-SUS de maio-2015, estão listadas em ordem e nú- mero: HAS: 31,6% (352); Saúde sexual reprodutiva: 17,6% (196); Pré-natal: 12,5% (139);
Diabetes: 11,7% (131) e Rastreamento de CA colo do útero: 9,3% (104).
No período de janeiro a maio de 2015, ocorreram 47 idosos internaram.Os principais agravos que levaram a essas internações foram: Pneumonia(6), Acidente Vascular En- cefálico (5), Quedas(5), Neoplasias(4), e Infarto Agudo do Miocárdio, Diabetes Mellitus descompensada HAS com 3 internações cada. Outras internações em menor número por infecção do trato urinário, insuficiência cardíaca congestiva, arritmia, escara infectada, abdome agudo. Ainda destacam-se nessa comunidade os casos de Sífilis, violência pessoal, prostituição, tráfico e uso de drogas.
11
A UBS conta com um pediatra que realiza as consultas. A consultas de puericultura são divididas entre os auxiliares de enfermagem. E toda situação vacinal está vinculada ao Bolsa Família, com acompanhamento e fiscalização pelas ACS. Em 2014, os óbitos ocorridos em crianças menores de 1 ano foram 2, um caso por gastroquise e outro por prematuridade consequente de ITU na gestação. Em relação as gestantes, as consultas de pré-natal de baixo risco e intermediário é realizado pela equipe médica, alternando com as enfermeiras, e dividida por áreas de abrangência. Os casos de alto risco são encaminhados para o serviço de patologia obstétrica, mas não deixam de realizar as consultas e manter o vínculo na UBS. As ACS acompanham cada consulta e se houver faltas entram em contato imediatamente com a gestante. Num total de 102 gestantes em Dezembro de 2014, 80 eram de risco habitual, 13 intermediário e 9 de alto risco. Destas somente 9 não completaram 7 consultas, dando uma proporção de 91,17 % que fizeram o pré-natal corretamente.
O problema escolhido foi a sífilis devido ao fato observado da alta prevalência de exa- mes de VDRL alterados durante os atendimentos, principalmente em gestantes. E mesmo nesses casos de gestantes há muita dificuldade no seu tratamento e do parceiro. Isso é agravado pelo baixo nível socieconômico e promiscuidade, o que implica nas principais causas que são o uso de drogas ilícitas, baixa renda, baixo nível de escolaridade, de- sinformação, prostituição, falta de uso de preservativos, gestantes sem tratamento e/ou reinfecção, ausência de políticas de prevenção.
A sífilis é uma enfermidade sistêmica, causada pela bactéria Treponema pallidum, e exclusiva do ser humano. Tem como principal via de transmissão o contato sexual, se- guido pela transmissão vertical para o feto durante o período de gestação de uma mãe com sífilis não tratada ou tratada inadequadamente. Também pode ser transmitida por transfusão sanguínea. A apresentação dos sinais e sintomas da doença é muito variável e complexa. Quando não tratada, evolui para formas mais graves, podendo comprome- ter o sistema nervoso, o aparelho cardiovascular, o aparelho respiratório e o aparelho gastrointestinal(SUMIKAWA et al., 2010) .
Foi escolhido esse problema de saúde da população, devido ao fato que o aumento da circulação do agente etiológico da Sífilis traz muitos agravos e sequelas, principalmente em gestantes (LORENZI; FIAMINGHI; ARTICO, 2009). Além do que isso gera um círculo vicioso às condições de risco e a transmissão do agente e as comorbidades se perpetuam, aumentando de modo escalonado a incidência da doença. Dentre esses agravos causados na gestação temos o aumento da mortalidade infantil, assim como aumento do número de prematuros e nascidos de baixo peso, também há as sequelas neonatais e o aumento do tempo de internação em UTI neonatal (LORENZI; FIAMINGHI; ARTICO, 2009).
E ainda têm todas as sequelas conhecidas da sífilis terciária, como as neurológicas e cardíacas, por exemplo. Acredito que a intervenção de modo preventivo é possível e está ao alcance de ser realizado pelos profissionais de saúde da UBS e têm o potencial de gerar impactos positivos para as pessoas que adquiriram a doença assim como a comunidade
12 Capítulo 1. Introdução
exposta ao treponema circulante.
13
2 Objetivos
2.1 Objetivo geral
• Elaborar um plano de ações junto com a equipe de saúde UBS Panissa/Maracanã, Lonndrina, PR, para reduzir a incidência e prevalência de sífilis nas gestantes da comunidade.
2.2 Objetivos específicos
• Qualificar o rastreamento de sífilis primária dentre as gestantes da comunidade atendida pela UBS Panissa/Maracanã durante o pré-natal.
• Realizar o tratamento das gestantes com VDRL positivo e de seu parceiro durante o pré-natal.
• Realizar ações de educação em saúde e prevenção de Infecções Sexualmente Trans- missível com a população.
• Prevenir a transmissão de sífilis via sexual e via vertical na população acompanhada pela UBS Panissa/Maracaná.
15
3 Revisão da Literatura
A história da sífilis se inicia com relatos na Europa há mais de 500 anos e manteve-se sem tratamento eficaz até a primeira metade do século 20. Somente a partir da descoberta da penicilina, por Fleming em 1928, e do reconhecimento da sua indicação para o trata- mento da sífilis após a Segunda Guerra Mundial, que sua prevalência finalmente mostrou sinais de declínio (LORENZI; MADI,2001). A partir dos anos 1960 e, principalmente, da década de 1980, houve uma elevação a nível mundial da incidência de sífilis, atribuído à maior liberação sexual e o aumento do uso das drogas injetáveis. Como consequência do aumento dos casos de sífilis adquirida, houve um aumento proporcional de sua transmissão vertical (BERMAN, 2004).
A sífilis é uma doença sexualmente transmissível causada pelo Treponema pallidum e pode se manifestar em primária, secundária e terciária. Os principais sintomas ocorrem nas duas primeiras fases, período em que a doença é mais contagiosa. A sífilis terciária pode ser assintomática. A transmissão da sífilis ocorre pela via sexual, hemotransfusão e via vertical. Os primeiros sintomas da doença primária são pequenas úlceras genitais indolores e linfonodomegalia inguinal, que surgem entre a 7 e 20 dias após a transmissão.
A sífilis secundaria é caracterizada pelo surgimento de manchas eritematosas em várias regiões do corpo, principalmente palma das mãos e planta dos pés. O estágio terciário é caracterizado pelo acometimento do sistema neurológico, cardíaco, podendo levar, por exemplo, a cegueira, paresias e até óbito. O diagnóstico da sífilis pode ser realizado por VDRL (teste antigênico não treponêmico), FTA-ABS (teste treponêmico) ou teste rá- pido (treponêmico). O tratamento de escolha é feito com penicilina benzatina, e deve se estender aos parceiros sexuais. (LORENZI; FIAMINGHI; ARTICO, 2009).
A sífilis congênita, adquirida por transmissão transplacentária, é classificada em re- cente quando diagnosticada até o segundo ano de vida; e, tardia quando diagnosticada após o segundo ano de vida. O comprometimento fetal depende principalmente da trepo- nemia materna, que varia segundo a fase da doença. Enquanto, nas suas formas primária e secundária, 70 e 100% dos fetos são comprometidos, nas fases latente e terciária, o risco de infecção fetal se reduz para 30%, devido à menor carga treponêmica decorrente da resposta imunológica materna à presença do treponema. Os possíveis desfechos da sífilis na gestação incluem abortamento espontâneo, nascimento pré-termo e óbito perinatal em até 40% dos casos. Os neonatos sobreviventes podem ser assintomáticos em mais de 50%
dos casos, podendo vir a manifestar surdez, problemas visuais e até retardo mental no futuro (LORENZI et al., 2005).
A Sífilis na gravidez e congênita já faziam parte da Lista Nacional de Doenças e Agravos de Notificação Compulsória. Em 2010 foi incluído também a Sífilis adquirida.
Os casos novos devem ser notificados sempre que houver suspeita ou confirmação, tanto
16 Capítulo 3. Revisão da Literatura
na rede pública ou privada. O registro é feito diretamente no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), pelas Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde (FEBRASGO,2011). Estima-se que possa haver uma subnotificação de até 67%, mesmo com o uso do Sistema Nacional de Notificações (ARAÚJO et al., 2012).
Segundo o boletim epidemiológico da Sífilis publicado em 2015, no Brasil, em 2013, o número de gestantes com sífilis foi 21.382, com 13.705 de transmissão congênita (taxa de 4,7 a cada 1.000 nascidos vivos) e 161 casos de óbito infantil, taxa de 5,5 para cada 100.000 nascidos vivos. Além disso, neste ano, na região Sul foi observado um aumento de 44,7% na notificação de sífilis em gestantes em relação ao ano anterior. O aumento gradual na notificação de casos na rede de atenção pré-natal nos últimos anos deveu-se provavelmente ao fortalecimento dos serviços de pré-natal, por meio da Rede Cegonha, o que propiciou o aumento na cobertura de testagem das gestantes e acompanhamento dos casos (BRASIL, 2013). No Paraná, em 2014, 1.117 gestantes foram diagnosticadas com sífilis, sendo que 455 foram casos congênitos. Na cidade de Londrina, entre 2007 e 2014, foram notificados 274 casos de sífilis em gestantes e 183 casos de sífilis congênita, o que demonstra que, durante o período, mais da metade de gestantes com sífilis transmitiram a doença aos bebês. Em 2014, a cidade registrou 101 casos de sífilis em gestantes e 30 casos de sífilis congênita (HEDLER, 2015).
A Organização Mundial da Saúde estima 1 milhão de casos de sífilis por ano entre as gestantes e preconiza a detecção e o tratamento destas e de seus parceiros sexuais por- tadores da sífilis, considerando que a infecção pode ser transmitida ao feto, com graves implicações (BRASIL, 2013). Em 2010 foi lançado uma estratégia e plano de ação para a eliminação da transmissão vertical da sífilis nos países das Américas até 2015. Esse compromisso está em conformidade com as metas estabelecidas pela “Iniciativa de Elimi- nação” da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), quais sejam: a redução da taxa de transmissão vertical de sífi- lis congênita para menos de 0,5 caso por 1.000 nascidos vivos até 2015. Em 2014, a OPAS criou o Comitê Regional para Validação da Eliminação da Transmissão Materno-Infantil de Sífilis, certificando os países que alcançarem: 1) taxa de incidência de sífilis congênita de 0,5 caso por 1.000 nascidos vivos; 2) cobertura de pré-natal (pelo menos 1 consulta)
� 95%; 3) cobertura de testagem para sífilis em gestantes � 95%; 4) cobertura de trata- mento com penicilina em gestantes com sífilis � 95% (OPAS,2009). Além disso, a política de prevenção da morbimortalidade materno-infantil do Pacto pela Saúde do Ministério da Saúde (2006) incluiu metas de redução da transmissão vertical da sífilis contidas no Plano Plurianual 2012-2015 aprovado pelo Congresso Nacional (BRASIL, 2006). Por isso, uma das prioridades descritas na Agenda Estratégica da Secretaria de Vigilância em Saúde e do Ministério da Saúde (MS) é a eliminação da sífilis congênita como problema de saúde pública até 2015. Com a expansão do diagnóstico por meio de testes rápidos de sífilis observou-se elevação na taxa de detecção de sífilis em gestantes, decorrente da melhoria
17
do diagnóstico e da vigilância epidemiológica. A notificação, a investigação de casos, o tratamento adequado e a implementação de medidas para a prevenção de novos casos de sífilis congênita contribuirão para a redução dos casos rumo à eliminação da doença (BRASIL, 2013).
19
4 Metodologia
Na presente proposta de intervenção, que tem como objetivo geral elaborar um plano de ações junto com a equipe de saúde UBS Panissa/Maracanã, Londrina, Paraná, para reduzir a incidência e prevalência de sífilis nas gestantes da comunidade, foram estabeleci- dos os seguintes objetivos específicos: Qualificar o rastreamento de sífilis primária dentre as gestantes da comunidade atendida; Realizar o tratamento das gestantes com VDRL positivo e de seu parceiro durante o pré-natal; Realizar ações de educação em saúde e pre- venção de infecções sexualmente transmissíveis com a população; Prevenir a transmissão de sífilis via sexual e via vertical na comunidade atendida. A população alvo do projeto será composta por todas as gestantes da área de abrangência da UBS Panissa/Maracanã.
Atualmente, 139 gestantes estão cadastradas no SIS-Pré natal. No ano de 2015, foram diagnosticados 5 casos de sífilis na gestação na UBS Panissa/Maracanã.
Para melhorar o rastreamento de sífilis nas gestantes da comunidade, devemos assegu- rar que todas as gestantes compareçam nas consultas de pré natal e realizem VDRL em cada trimestre da gestação, e teste rápido para aquelas que não fizeram por algum motivo a sorologia, assim como orientar a respeito de vias de transmissão, sintomas de sífilis e riscos para o feto. Será feito nas consultas médicas e de enfermagem na UBS, no mínimo de 7 consultas durante a gestação, e busca ativa pelos ACS para aquelas gestantes que não comparecerem. A previsão de início é de Abril de 2016 e prazo de duração de pelo menos 12 meses.
Será realizado o tratamento, com penicilina benzatina de acordo com protocolo do Ministério da Saúde, de todas as gestantes com VDRL positivo e de seu parceiro durante o pré-natal. O tratamento será feito nas dependências da UBS, pelas enfermeiras e técnicos de enfermagem, com acompanhamento da queda de titulação de VDRL pelo médico, e monitorização da certeza do tratamento e busca ativa pelas ACS para aquelas gestantes que não comparecerem. A previsão de início é de Abril de 2016 e prazo de duração de pelo menos 12 meses.
As ações de educação em saúde e prevenção de infecções sexualmente transmissíveis serão realizadas por palestras que abordem assuntos como: Esclarecimentos e conheci- mento das DSTs; Implicações das sequelas e comorbidades, como as causadas pela sífilis congênita e terciária; A relação do uso de drogas, promiscuidade, prostituição com as DSTs; Métodos de prevenção e necessidade do uso de preservativos. Distribuiremos pan- fletos informativos sobre sífilis, na UBS e na comunidade. As palestras serão realizadas nas escolas e centro comunitário, pelo médico e enfermeiras, a cada 3 meses, durante pelo me- nos 12 meses, com início em Abril de 2016. Os panfletos serão confeccionados e impressos na UBS em um tempo de 3 meses, com inicio em Maio 2016, alguns ficarão disponíveis no balcão de atendimento e outros entregues pelos ACS nas visitas domiciliares, pelo menos
20 Capítulo 4. Metodologia
1 vez em 3 meses, com início em Agosto de 2016.
Para prevenir a transmissão de sífilis via sexual e via vertical, além de todas ações acima, a proposta é organizar grupos de gestantes para conscientizar e debater sobre sí- filis na gestação, disponibilizar de fácil acesso os preservativos na UBS e certificar com segurança que todas as gestantes com sífilis sejam tratadas. Os grupos serão feitos e acom- panhados pelo médico e enfermeiras, 1 vez por mês durante pelo menos 12 meses, com início em Abril de 2016. A garantia do tratamento realizado é tarefa de todos profissio- nais de saúde envolvidos, principalmente os ACS, na realização da busca ativa dos não aderentes ao tratamento.
Os recursos utilizados para realização do projeto serão de baixo custo e disponíveis na UBS. Os testes para o diagnóstico de sífilis já fazem parte da rotina da UBS, assim como a penicilina benzatina, desta maneira a proposta visa garantir que todas as gestantes e seus parceiros,sejam diagnosticadas e tratadas para sífilis. Para realização das palestras para educação em saúde e prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, serão feitas em PowerPoint e utilizando computador e projetor disponíveis na secretaria de saúde de Londrina. Serão confeccionados 500 panfletos, impressos com os materiais da UBS.
Abaixo elabourou-se um cronograma especificando as o período de cada ação proposta.
21
DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES
PERÍODO 01/04/2016 a 31/03/2017
Meses
Abr MaiJunJul AgoSet OutNovDezJanFev Mar Garantir a realização de
consultas de pré-natal (mínimo de 7 consultas)
X X X X X X X X X X X X
Realizar busca ativa pelos ACS das gestantes que não
comparecerem à consulta
X X X X X X X X X X X X
Orientar gestantes sobre a sífilis durante as consultas
X X X X X X X X X X X X
Realizar VDRL ou teste rápido em todas as gestantes a cada trimestre
X X X X X X X X X X X X
Durante o pré-natal, tratar todas as gestantes com
VDRL ou teste rápido para sífilis positivo e seus
parceiros
X X X X X X X X X X X X
Realizar busca ativa pelos ACS das gestantes e seus
parceiros que não comparecerem à UBS para
tratamento
X X X X X X X X X X X X
Ministrar palestras sobre educação em saúde e prevenção de infecções sexualmente transmissíveis para a comunidade da UBS
X X X X
Confeccionar panfletos informativos sobre sífilis
X X X
Distribuir panfletos informativos sobre sífilis na
comunidade e na UBS
X X X
Organizar grupos de gestantes para conscientizar e debater sobre sífilis na gestação
X X X X X X X X X X X X
23
5 Resultados Esperados
O problema escolhido foi a sífilis devido a alta prevalência de exames de VDRL al- terados durante os atendimentos, principalmente em gestantes, e a dificuldade de seu tratamento e do parceiro. Isso gera um círculo vicioso, a transmissão do agente e as comorbidades aumentam e se perpetuam de modo escalonado. Esse descontrole da circu- lação do agente etiológico traz muitos agravos e sequelas, como o aumento da mortalidade infantil e do número de prematuros e nascidos de baixo peso, as sequelas neonatais e o au- mento do tempo de internação em UTI neonatal. A intervenção de modo preventivo está ao alcance de ser realizado pelos profissionais de saúde da UBS, tendo o potencial de gerar impactos positivos para as pessoas que adquiriram a doença, na diminuição da incidên- cia/prevalência da sífilis na gravidez e suas consequências e sequelas na sífilis congênita, assim como a diminuição do treponema circulante na comunidade.
Com a realização desse projeto, esperamos garantir que todas as gestantes da comu- nidade realizem pelo menos 95% das consultas de pré natal e que a cobertura VDRL ou teste rápido em cada trimestre da gestação seja de 95%, consequentemente tenham um rastreamento mais qualificado para o diagnóstico da sífilis. E para os casos das gestantes e de seus parceiros diagnosticados, espera-se assegurar que definitivamente 100% sejam tratados e acompanhados do sucesso do tratamento.
Através das ações de educação em saúde e prevenção de infecções sexualmente trans- missíveis, esperamos conscientizar a população sobre os riscos da sífilis e de outras DSTs, compreendendo melhor sobre a doença e suas sequelas, para que haja maior prevenção. As- sim como, a realização de grupos de gestantes que abordam a sífilis como tema principal, esperamos diminuir a transmissão sexual e vertical.
Enfim, com a realização dessas ações, temos como metas para a comunidade da UBS Panissa/Maracanã, a eliminação definitiva dos casos de sífilis congênita, assim como di- minuir para < 5 os casos de sífilis na gestação, que foi a incidência de 2015.
25
Referências
ARAÚJO, C. L. et al. Incidência da sífilis congênita no brasil e sua relação com a estratégia de saúde da família. Rev Saúde Pública, v. 46, n. 3, p. 479–486, 2012. Citado na página 16.
BERMAN, S. M. Maternal syphilis: pathophysiology and treatment. Bulletin of the World Health Organization, v. 82, n. 6, p. 433–438, 2004. Citado na página 15.
BRASIL, M. da S. Pacto pela Saúde 2006: Consolidação do SUS. 2006. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2006/prt0399_22_02_2006.html>. Acesso em: 23 Jan. 2016. Citado na página 16.
BRASIL, M. da S. Boletim Epidemiológico Sífilis 2015. 2013. Disponível em:
<http://www.aids.gov.br/sites/default/files/anexos/publicacao/2015/57978/_p_
boletim_sifilis_2015_fechado_pdf_p__18327.pdf>. Acesso em: 23 Jan. 2016. Citado 2 vezes nas páginas 16e 17.
FEBRASGO. 2010 Saúde amplia lista de doenças de notificação obrigatória e inclui a sífilis adquirida. 2011. Disponível em: <http://www.febrasgo.org.br/site/?p=1412>.
Acesso em: 26 Jan. 2016. Citado na página 16.
HEDLER, A. P. Londrina é referência nacional no combate à sífilis.
2015. Disponível em: <http://www1.londrina.pr.gov.br/index.php?option=
com_acymailing&ctrl=archive&task=view&listid=10-imprensa&mailid=
8358-londrina-e-referencia-nacional-no-combate-a-sifilis&tmpl=component>. Acesso em: 23 Jan. 2016. Citado na página 16.
LORENZI, D. R. S. D.; FIAMINGHI, L. C.; ARTICO, G. R. Transmissão vertical da sífilis: prevenção, diagnóstico e tratamento. FEMINA, v. 37, n. 2, p. 83–90, 2009. Citado 2 vezes nas páginas 11e 15.
LORENZI, D. R. S. de; MADI, J. M. Sífilis congênita como indicador de assistência prénatal. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, v. 23, n. 10, p. 647–652, 2001.
Citado na página 15.
LORENZI, D. R. S. de et al. Prevalência de sífilis congênita no hospital geral de caxias do sul – rs no período de 1998-2002. Jornal Brasileiro de Doenças Sexualmente Transmissíveis, v. 17, n. 1, p. 5–9, 2005. Citado na página 15.
OPAS, O. P.-A. de S. Iniciativa regional para la eliminación de la transmisión maternoinfantil del VIH y de la sífilis congénita en América Latina y el Caribe. 2009.
Disponível em: <http://www.unicef.org/lac/Documento_Conceptual_-_Eliminacion_
de_la_transmision_maternoinfantil_del_VIH_y_de_la_sifilis_congenita(2).pdf>.
Acesso em: 23 Jan. 2016. Citado na página 16.
SUMIKAWA, E. S. et al. Estratégias para Diagnóstico no Brasil. 2010. Disponível em:
<http://www.aids.gov.br/sites/default/files/anexos/page/2012/50768/manual_sifilis_
miolo_pdf_53444.pdf>. Acesso em: 16 Jan. 2016. Citado na página11.