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Detecção de falha num rolamento com recurso a técnica de envelope em um alternador da fragata NRP Vasco da Gama

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Academic year: 2021

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Detecção de falha num rolamento com recurso a técnica

de envelope em um alternador da fragata NRP Vasco da

Gama

João F. D. dos Santos(1)(2); Rui P. C. Sampaio(2); Hélder F. S. Ferreira(3) ;

duarte.santos@marinha.pt; chedas.sampaio@marinha.pt;helder.silva.ferreira@marinha.pt;

1,3

Gabinete de Avaliação de Condição – Direcção de Navios – Marinha de Guerra Portuguesa Alfeite, Portugal

2CINAV – Centro de Investigação Naval, Marinha, Lisboa, Portugal

Resumo

A fragata NRP Vasco da Gama reportou, à Direcção de Navios (DN), a existência de um alarme de temperatura num rolamento do alternador do grupo electrogéneo n.º 2. Com a necessidade de efectuar o diagnóstico da causa do alarme, o Gabinete de Avaliação de Condição, da Divisão de Mecânica e Electrotecnia da DN, aplicou técnicas de avaliação de condição, nomeadamente, termografia e medição de vibrações, para diagnosticar a causa do aumento de temperatura. Através da termografia confirmou-se a existência de um ponto quente no rolamento em questão. Através da medição e análise de vibrações foi possível diagnosticar um defeito na pista interna do rolamento, o que se confirmou após desmontagem deste. Este artigo visa demonstrar a técnica de envelope, na medição de vibrações, para diagnosticar defeitos em rolamentos como uma técnica válida para evitar custos não previstos no ciclo de vida útil dos equipamentos.

1.

Enquadramento

As fragatas da classe Vasco da Gama estão equipadas com quatro grupos geradores. Os geradores são constituídos por um motor diesel MTU 8V396TB53, de 655kW de potência às 1800 RPM, acoplado a um alternador Siemens 1FR6 45 4-4.

Ilustração 1-Motor diesel do grupo gerador

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Ilustração 2 - Arranjo dos rolamentos do alternador

Para convencionar a posição dos rolamentos será utilizada a ilustração abaixo, em que o veio do alternador tem dois pontos de apoio A e B. Nestes pontos estão montados os rolamentos em questão.

Ilustração 3- Esquema de pontos de leitura do grupo gerador

Nos pontos A e B estão montados sensores de temperatura. Estes sensores transmitem, em tempo real, a temperatura para o sistema de gestão da plataforma, que dará alarme ao operador se a temperatura exceder os 90oC. Este sistema funciona essencialmente como segurança para evitar uma falha catastrófica.

Os rolamentos instalados são ambos da marca FAG da série 63. A série 63 é composta por rolamentos de esferas constituídos por uma pista externa, interna, esferas e gaiola. São rolamentos simples e fáceis de manter devido à sua simples constituição. Por serem abertos permitem uma lubrificação fácil. A geometria dos elementos rolantes permite suportar cargas axiais e radiais, o que os torna ideais para inúmeras aplicações. Nesta série de rolamentos existem variáveis de duas pistas e blindados (Schaeffler Technologies AG & Co., 2016).

Ilustração 4 - Rolamento FAG da série 63

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O rolamento do lado do acoplamento ao motor diesel (ponto B) é um rolamento de esferas da marca FAG com referência DIN 625-6324 C3. Tem 12,8 kg de massa, diâmetro interno de 120 mm, velocidade limite de 3500 RPM e uma carga limite de fadiga de 9500 N.

A manutenção recomendada pelo fabricante dos rolamentos contempla apenas lubrificação com massa ou óleo. O manual do grupo gerador recomenda a lubrificação dos rolamentos com 40 gramas de massa a cada 1500 horas de funcionamento. Esta rotina está implementada a bordo e é executada pelos operadores do grupo gerador.

2.

Detecção de dano em rolamentos

Os rolamentos por serem componentes fundamentais para o normal funcionamento das máquinas e por terem ampla aplicação na indústria, é aconselhável a sua monitorização. A temperatura é um dado facilmente recolhido que nos indica o correto funcionamento do rolamento. Porém, como é pouco sensível a danos incipientes não permite evitar danos colaterais nem a programação atempada da substituição do rolamento.

A análise de vibrações tem-se consolidado como a técnica por excelência, para detectar e diagnosticar falhas em rolamentos antes que ocorram avarias graves nas máquinas.

O controlo de condição de rolamentos por análise de vibrações é normalmente faseado, isto é, em primeiro lugar é necessário detectar se existe ou não dano no rolamento e, só depois, é que se diagnostica o tipo de dano. A detecção deverá ser o mais antecipada possível para dar tempo à programação da intervenção de manutenção. O diagnóstico deverá ser o mais preciso possível para se optimizar a disponibilidade do rolamento e para se programar com maior eficácia a sua substituição.

A detecção é feita automaticamente pelo computador ou analisador de vibrações, sem recurso a operador especializado, que emite um alarme de alerta ou de perigo. O alarme é emitido quando determinado indicador ultrapassar um limite previamente estabelecido. Existem três tipos de indicadores disponíveis:

Os níveis globais (valores escalares), como por exemplo, o crest factor (pico/rms em aceleração na banda dos 1000 aos 10000 Hz), o rms (root mean square) em aceleração na banda dos 1000 aos 10000 Hz,o spike energy (gSE)1 ou o gE que é um nível global calculado a partir do envelope, os níveis globais da ISO 10816, da Det Norske Veritas, da Turk Loydu Naval Ship Technology ou de outras sociedades classificadoras;

 Os sinais no tempo;

 E os espectros de frequência.

Os mais sensíveis são os espectros de frequência medidos em aceleração e numa banda de 0 até 5000 Hz, no mínimo. A razão porque são os mais sensíveis deve-se à própria natureza da progressão do dano em rolamentos. Enquanto a fenda, ou defeito, não atinge a superfície da pista, gaiola ou elemento rolante, só por ultrasons é possível detectar o dano. Assim que a fenda atinge a superfície, e antes de ser visível a olho nú, geram-se impactos que excitam a frequência natural da caixa do rolamento (normalmente entre os 500 e os 5000 Hz). Como a amplitude dos impactos é reduzida (dano incipiente) a amplitude da vibração da chumaceira, na sua frequência natural, também é e, por isso, é aconselhável medir em aceleração para

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realçar as amplitudes das altas frequências. Como o espectro de frequência nos dá as amplitudes de vibração por frequência é fácil medir a variação destas relativamente à medição de referência (espectro medido quando não havia dano) e assim detectar se nas altas frequências existe um aumento significativo. Após a detecção segue-se o diagnóstico. Como os rolamentos podem apresentar 4 tipos de dano – dano na pista interior, dano na pista exterior, dano no elemento rolante e dano na gaiola – e cada um força a chumaceira a uma frequência característica, conhecida como frequência de falha, o diagnóstico consiste em identificar qual destas frequências surge no espectro de frequência. Estas frequências são normalmente pequenas, abaixo dos 500 Hz, mas como são de reduzida amplitude ficam submersas na vibração dominada pelo desequilíbrio e desalinhamento residual do veio. Por esta razão desenvolveu-se a técnica conhecida por envelope ou análise da envolvente. Esta técnica filtra o sinal numa banda estreita de frequência, em torno da frequência natural da caixa do rolamento, seguido da desmodulação em amplitude e apresentação em frequência da onda moduladora (frequência característica da falha do rolamento). Quando a frequência de falha, para além de aparecer no envelope, aparece também no espectro de frequência é sinal de que o dano é grande e estará eminente o colapso.

As frequências de falha podem ser calculadas de forma aproximada, desprezando o escorregamento dos elementos rolantes, uma vez que dependem da rotação do veio, da geometria e do arranjo dos componentes que formam o rolamento, conforme é visível na ilustração abaixo.

FT: Frequência de defeito na gaiola

BPO: Frequência de defeito na pista externa BPI: Frequência de defeito na pista interna BS: Frequência de defeito no elemento rolante

Ilustração 5- Frequências de falha de rolamentos

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Ilustração 6 - Frequências de falha, método simplificado (Pista interior)

Ilustração 7 - Frequências de falha, método simplificado (Pista exterior)

Sendo que estas frequências apenas são função das características do rolamento, o fabricante fornece-as e estão disponíveis em software de análise de vibrações. Na tabela abaixo são apresentadas as frequências de falha para os rolamentos aplicados no alternador (Schaeffler Technologies AG & Co., 2016).

Tabela 1 - Frequências de falha para rolamentos 6320 e 6324

Frequências de falha (xRPM) Rolamentos 6320 6324 BPO 3.5535 3.1140 BPI 5.4465 4.8600 BS 2.2720 2.1480 FT 0.3948 0.3894

3. Medição e análise de Vibrações na Marinha de Guerra Portuguesa

Na Marinha de Guerra Portuguesa é utilizada a medição e análise de vibrações para controlo de condição dos vários equipamentos a bordo das unidades navais. Ao navio compete efectuar medições mensais para detecção do dano. Feita a detecção, o navio solicita o diagnóstico aos serviços técnicos de apoio do comando a que o navio pertence. Efectuado o diagnóstico decide-se a intervenção que pode passar por equilibragem no local, alinhamento, isolamento de vibrações, absorção de vibrações, modificações estruturais ou outro tipo de intervenção. Se o diagnóstico não for conclusivo ou a solução se afigure complexa é solicitada ao Gabinete de Avaliação de Condição (GAV) a intervenção.

4. Caso de estudo

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4.1. Critérios de Aceitação

No equipamento em estudo, foram aplicados os critérios da norma ISO 10816, parte 6. Aplicável a motores alternativos com potência inferior a 750 kW. Os critérios de aceitação são apresentados na tabela a baixo.

Tabela 2 - Critérios de aceitação (ISO 10816-6)

ISO 10816-6 (Potência <750kW)

Alerta 11.2 mm/s RMS Alarme 17.8 mm/s RMS 4.2. Parâmetros de recolha de dados

Para conduzir as medições foram utilizados parâmetros de configuração no equipamento portátil de medição que são apresentados na tabela a baixo.

Tabela 3 - Parâmetros de medição de vibrações

Velocidade Aceleração (envelope)

Fundo de escala 10 mm/s 25 gE

Detecção RMS Pico a pico

Aplicação de filtro - 30K a 600K CPM

Linhas 800

Janela Hanning

Gama de frequências De 0 a 60 kCPM

4.3. Dados recolhidos

4.3.1. Temperatura registada nos rolamento.

Na data da recolha de dados havia relatos de anomalias na temperatura do rolamento do ponto A com o gerador em funcionamento. Foram colocados em funcionamento o gerador 2 e o gerador 1. Foram recolhidas as temperaturas de funcionamento dos geradores nos mesmos pontos. Na tabela a baixo resumem-se os valores obtidos.

Tabela 4 - Temperaturas recolhidas nos rolamentos do gerador n.º1 e n.º2

Temperaturas dos rolamentos (ºC) Gerador 1 Gerador 2

Ponto A 38 74

Ponto B 53 42

4.3.2. Níveis globais recolhidos

Na tabela seguinte são apresentados os valores dos níveis globais da ISO 10816 recolhidos para os geradores n.º1 e n.º2. Os valores foram recolhidos no dia 26 de Julho de 2016.

 É visível que no gerador n.º2 os níveis globais são maiores no ponto A do que no ponto B.

 Em comparação entre geradores, o ponto A é o que apresenta uma maior diferença entre geradores, sendo que o gerador n.º2 tem os valores mais altos.

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Tabela 5 - Níveis globais de vibração recolhidos nos geradores n.º1 e n.º2

Gerador n.º2 Gerador n.º1

Ponto/Direcção Nível global Diferença Unidade

A – Axial 12,912 5,697 7,22 mm/s A – Horizontal 8,836 5,691 3,15 mm/s A – Horizontal Envelope 18,070 2,555 15,52 gE A – Vertical 5,598 6,597 1,00 mm/s B – Axial 3,269 4,929 1,66 mm/s B – Horizontal 6,606 8,916 2,31 mm/s B – Horizontal Envelope 6,443 4,091 2,35 gE B – Vertical 5,672 7,427 1,76 mm/s

Todos estes factos indicam que poderá haver um defeito no rolamento da chumaceira do ponto A, no gerador n.º2. Posto isto, é relevante efectuar a análise do espectro do envelope no ponto A do gerador n.º2 para identificar a frequência de falha.

4.3.3. Análise do envelope.

A análise espectral permitirá identificar as frequências de falha que poderão indicar o tipo de defeito no rolamento do ponto A.

Tabela 6- Espectros de envelope nos pontos A e B do gerador n.º2

Espectro do envelope do gerador n.º2

Ponto A-H Ponto B-H

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Ilustração 8 - Espectro de frequências gerador n.º2, ponto A-H (envelope)

4.3.4. Verificação dos resultados

Após a emissão do relatório, com a indicação que haveria um possível defeito na pista interna do rolamento do ponto A, foi emitido um pedido de trabalho para o estaleiro substituir este rolamento.

Após a substituição, o rolamento em causa foi inspeccionado tendo sido encontrado o defeito na pista interna tal como havia sido diagnosticado.

Ilustração 9 - Rolamento desmontado

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É visível uma zona com arrancamento de material, com uma área bem definida.

Ilustração 11 - Defeito na pista interna (2)

Ilustração 12 – Defeito na pista interna (3)

Foi ainda identificado outro defeito semelhante pista interna mas de dimensões mais reduzidas.

5. Conclusões

Verificou-se que a detecção e diagnóstico, de danos em rolamentos, com a técnica de envelope é eficaz. Apesar do rolamento, do caso de estudo, apresentar já sintomas de temperatura elevada, a análise de vibrações permitiu confirmar o defeito e identificar a sua natureza.

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Referências

Howieson, D. D. (s.d.). A pratical introdution to condition monitoring of rolling element bearings using envelope signal processing.

Roque, A., & Silva, T. (s.d.). Detecção de defeitos em rolamentos - Uma aproximação didática. Sanders, C. (2011). Maintenance and Asset Management. A maintenance managers guide to

vibration analysis and associated techniques in condition monitoring, 42 - 46.

Schaeffler Technologies AG & Co. (2016). Rolling and Plain Bearings. Obtido em 12 de 10 de 2016, de FAG:

Referências

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