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Patrimônio da Reserva

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Academic year: 2021

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(1)

GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE

Organizadoras

Márcia Inês Martin Silveira Lopes

Mizué Kirizawa

Maria Margarida da Rocha Fiuza de Melo

P

atrimônio da Reserva

Biológica do Alto da

Serra de Paranapiacaba

A ANTIGA ESTAÇÃO BIOLÓGICA

DO ALTO DA SERRA

Instituto de Botânica São Paulo 2009

(2)

Editoras Responsáveis

Márcia Inês Martin Silveira Lopes Mizué Kirizawa

Maria Margarida da Rocha Fiuza de Melo

Editora Assistente

Maria Tereza Grombone Guaratini

Assistentes de Editoração

Andressa Ribeiro dos Santos Yukio Hayashi da Silva

Pré-composição Gráfica

Editora Neotropica

Diagramação

Marli Santos de Jesus

Tratamento de Imagens

Leonidio Gomes

Capa

Robson Minghini

Fotos da Capa

Armando Reis Tavares Cezar Kirizawa

Ingrid Yasbec Assad Ludwigs Marcelo Pinto Marcelli Marlies Sazima Mizué Kirizawa Olga Yano

Otavio Augusto Vuolo Marques Rafael Prezzi Indicatti

Rosangela Simão Bianchini Sergio Sakagawa

Thomas Püttker

Fotos da Dedicatória (pág. 11)

Museu Paulista Instituto de Botânica

Editoração, CTP, Impressão e Acabamento

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo

Tiragem

1.000 exemplares

Ficha catalográfica elaborada pela Seção de Biblioteca do Instituto de Botânica

Lopes, Márcia I.M.S.; Kirizawa, M.; Melo, Maria M. da R.F. de, orgs.

Patrimônio da Reserva Biológica do Alto da Serra de Paranapiacaba: a antiga Estação Biológica do Alto da Serra / Márcia Inês Martin Silveira Lopes, Mizué Kirizawa, Maria Margarida da Rocha Fiuza de Melo –– São Paulo: Instituto de Botânica, 2009.

720 p.: il.

ISBN 978-85-7523-029-9

1. Mata Atlântica. 2. Ambiente físico. 3. Flora e fauna. 4. Ecologia. I. Título

Revisores Científicos

Adriana Fidalgo (IBt)

Adriana Maria de Aquino (EMBRAPA-CNPA) Amélia Vera Guimarães de Sousa (UPM-São Paulo) Carlos Eduardo de Mattos Bicudo (IBt)

Denise Pinheiro da Costa (IPJBRJ) Eduardo Pereira Cabral Gomes (IBt) Elaine Malosso (UFPE)

Elisabete Aparecida Lopes (IBt)

Ermelinda Maria De Lamonica Freire (UNIVAG)

Francisco Langeani Neto (UNESP-São José do Rio Preto) Gladys Flavia Albuquerque Melo de Pinna (USP-São Paulo) Glauco Machado (UNICAMP-Campinas)

Inês Cordeiro (IBt)

Isabel Fernandes de Aguiar Mattos (IF) Ivan Sazima (UNICAMP-Campinas) Jaime Bertoluci (USP-ESALQ) Jose Bueno Conti (USP-São Paulo) Lana da Silva Sylvestre (UFRRJ) Lena Geise (UERJ)

Lucia Rossi (IBt)

Luiz Pedreira Gonzaga (UFRJ) Márcia Balistiero Figliolia (IF)

Márcia Inês Martin Silveira Lopes (IBt) Marcio Rossi (IF)

Maria Amélia Vitorino Cruz Barros (IBt) Maria Margarida Rocha Fiuza de Melo (IBt) Maria Tereza Grambone Guaratini (IBt) Massanori Takaki (UNESP-Rio Claro) Maurício Sedrez dos Reis (UFSC) Mizué Kirizawa (IBt)

Pedro Gnaspini (USP-São Paulo) Regina Maria de Moraes (IBt)

Ricardo Pinto da Rocha (USP-São Paulo) Ronaldo B. Francini (UNISANTOS) Rui Marconi Pfeifer (IF)

Sandra Farto Botelho Trufem (IBt)

Sergio Luiz Pompéia (Consultoria Paulista de Estudos Ambientais) Viviane Stern da Fonseca-Kruel (IPJBRJ)

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PARTE V

FAUNA

Cibele Bragagnolo

Ricardo Pinto-da-Rocha

Os opiliões

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Cibele Bragagnolo1 Ricardo Pinto-da-Rocha2

1. Universidade de São Paulo, Museu de Zoologia, Avenida Nazaré 481, CEP 04218-970, São Paulo, SP cibrag@usp.br

2. Universidade de São Paulo, Instituto de Biociências, Caixa Postal 11462, CEP 05422-970, São Paulo, SP ricrocha@usp.br

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Os opiliões

ABSTRACT ThehArveSTmen

The harvestmen fauna of the Reserva Biológica de Paranapiacaba is composed of 46 species. An analysis of material deposited in museums of samples conducted since the 1920’s showed that 18 species were not recorded in the last 34 years. It is possible that this richness had been lost after the atmospheric pollution in the Moji river valley, which occurred during the accelerated growth of industrial park in the region of Cubatão from the 1960’s to 1970’s. A similarity among 12 areas of Atlantic Rain Florest and Cerrado (Brazilian savanna) showed the highest similarity between Reserva de Paranapiacaba and Estação Biológica de Boracéia (48%), and a clear distinction between Cerrado and Atlantic Rain Forest from Brazilian Southeastern. The results suggest a strong relationship between harvestmen distribution and mountains. Key words: loss of diversity, opiliones, similarity

RESUMO oSopiliõeS

A fauna de opiliões da Reserva Biológica de Paranapiacaba é composta por 46 espécies. Uma análise do material de coletas de opiliões depositado em museus, da década de 1920 até o presente, revelou que 18 espécies não foram registradas nos últimos 34 anos. É possível que parte dessa riqueza tenha sido perdida após os eventos de forte poluição atmosférica no vale do rio Moji ocorrido durante o acelerado processo de industrialização no período de 1960 a 1970 na região de Cubatão. Uma análise de similaridade de opiliões em 12 áreas, de Mata Atlântica e de Cerrado, mostrou um alto índice de similaridade entre as faunas da Reserva de Paranapiacaba e da Estação Biológica de Boracéia (48%), e uma nítida distinção entre a fauna da Mata Atlântica de São Paulo e a das demais regiões de Mata Atlântica e de Cerrado do Sudeste do Brasil. Tais resultados sugerem uma forte relação entre a distribuição dos opiliões e as cadeias de montanhas.

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528 Cibele Bragagnolo e Ricardo Pinto-da-Rocha

Caracterização da Ordem

Opiliones

Os opiliões pertencem à Ordem Opiliones e constituem o terceiro maior grupo dentro da classe Arachnida, com aproximadamente 6.000 espécies. As espécies da ordem são caracterizadas, principalmente, por possuírem o cefalotórax amplamente fundido ao abdômem, alongamento do segundo par de pernas para função predo minantemente sensorial, trans-ferência direta de espermatozóides atra vés de um órgão emissor (pênis) e presença de um par de glândulas odoríferas. No Brasil, recebem diferentes nomes vulgares, a maioria fazendo referência ao odor das glândulas repugnatórias, tais como aranha-bode, bodum, aranha-fedida, frade-fedorento, gira-mundo, aranhas-de-chão ou cafofo.

São animais inofensivos e pouco conhecidos pelo público em geral, principalmente devido aos seus hábitos crípticos e noturnos. Entretanto, embora a maioria das espécies apresente hábito noturno, algumas possuem atividade tanto diurna quanto noturna. São onívoros, alimentando-se de presas vivas ou mortas, fungos e vegetais vivos ou em decomposição, no entanto, possuem uma tendência ao hábito predador.

Os opiliões ocorrem em praticamente todos os ambientes terrestres, mas sua diver-sidade varia com a localização geográfica, condições locais do clima, altitude, umidade, dis po nibilidade de recursos, entre outros fatores. Apresentam maior diversidade em regiões tropicais de florestas úmidas, po dendo ser facilmente encontrados no solo, na serapilheira, sob pedras e troncos, sobre a vegetação, na copa de árvores e em cavernas. Diferentes procedimentos de coleta podem ser utilizados para a coleta de opiliões, incluindo armadilhas de solo (pitfall), triagem do folhiço e outros métodos comu-mente usados para coleta de artrópodes, como guarda-chuva entomológico e aparelho de Wincker. Entretanto, estudos indicam que, principalmente, para a fauna da Mata Atlântica, a coleta manual noturna é o método

mais eficiente para amostrar a maioria das espécies (talvez 90%). Esse método con siste em coletar manualmente os opiliões encon-trados sobre a vegetação e solo, com o auxílio de pinças e lanternas de cabeça.

Diversidade da ordem no Brasil

O Brasil possui uma alta diversidade de opiliões, cerca de 950 espécies, contrastando com outras áreas tropicais, como a região afrotropical, com 707 espécies; e com outros países da América do Sul, onde a diversidade não ultrapassa 350 espécies. Os estudos do grupo no Brasil datam do início do século XIX, mas o conhecimento da sua diversidade é ainda escasso, uma vez que a maioria dos trabalhos é de caráter sistemático, tratando apenas da descrição de novos táxons. Além disso, não há uniformidade nos esforços de amostragem nas diferentes regiões do Brasil, resultando em um quadro no qual poucas áreas foram amplamente estudadas e as restantes carecem de estudos faunísticos quantitativos.

Não há registro de espécies de opiliões para os Estados de Alagoas, Piauí e Rio Grande do Norte. Em Sergipe e Tocantins, apenas uma espécie foi descrita. Outros nove Estados brasileiros (Acre, Amapá, Ceará, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Rondônia e Roraima) possuem menos de 10 espécies registradas (Kury 2003), o que deve corresponder a uma fração mínima da diversidade real. Um estudo recente sobre os opiliões da Amazônia, onde foram registradas apenas 173 espécies, aponta o escasso conhe-cimento da fauna na região, uma vez que poucas localidades foram amostradas e, em geral, próximas dos grandes rios.

Por outro lado, a Mata Atlântica foi intensi-vamente amostrada, principalmente nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, provavelmente porque a maioria dos pesquisadores que estudam ou estudaram o grupo pertencem a essa região; e também porque dois dos maiores e mais importantes museus brasileiros, o Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo e o Museu Nacional do Rio de Janeiro,

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529

Opiliões

Figura 1. Similaridade (Coeficiente de Sorensen) entre as faunas de opiliões de 10 áreas de Mata Atlântica nos Estados do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro e duas de Cerrado no Estado de São Paulo, mostrando maior semelhança entre a fauna da Reserva. Biológica de Paranapiacaba e as faunas da Estação Biológica de Boracéia e do Parque Estadual da Cantareira. AEIT Marumbi: Área de Especial Interesse Turístico Marumbi; PNS Órgãos: Parque Nacional da Serra dos Órgãos; PN Itatiaia: Parque Nacional do Itatiaia; PE Campos do Jordão: Parque Estadual Campos do Jordão; EE Juréia-Itatins: Estação Ecológica Juréia-Itatins; PE Intervales: Parque Estadual Intervales; PES Cantareira: Parque Estadual Serra da Cantareira; EB Boracéia: Estação Biológica de Boracéia; RB Paranapiacaba: Reserva Biológica de Paranapiacaba.

estão localizados nessa região. Atualmente, o Estado de São Paulo possui a maior riqueza de opiliões do Brasil, com aproximadamente 250 espécies registradas, seguido pelo Rio de Janeiro, que apresenta cerca de 230 espécies. A maior parte da diversidade (talvez 90%) desses dois Estados encontra-se em áreas de Mata Atlântica, onde a riqueza local de espécies varia entre 20 e 63 espécies. Áreas de Cerrado possuem uma diversidade muito menor, como por exemplo, nos municípios de Piracicaba (SP), com apenas quatro espécies registradas, e de Pirassununga (SP), com sete espécies.

Riqueza de opiliões

em Paranapiacaba

Devido à existência da Estação Biológica do Alto da Serra, atual Reserva Biológica do Alto da Serra de Paranapiacaba,

per-ten cente ao Instituto de Botânica, e pela fa ci lidade de acesso pela ferrovia São Paulo Railway Company desde 1867, os opiliões em Paranapiacaba foram estudados desde a década de 1920. Atualmente, são conhecidas 46 espécies no local (Tabela 1), o qual representa a localidade com maior diversidade do grupo no Estado de São Paulo. Os primeiros registros datam de 1922 e 1923, época em que foram descritas 11 espécies para a região de Alto da Serra (Mello-Leitão 1922, 1923). Em 1928, o pesquisador belga Louis Giltay acrescentou mais duas espécies à fauna da Reserva. Na década de 1940, Benedicto M. Soares, em uma excursão ao local, registrou 38 espécies, descrevendo 10 espécies novas (Soares 1944a, b). Não houve coleta nas décadas de 1970 e 1980, mas a partir da década de 1990, um extenso material foi incorporado às coleções dos museus de São Paulo e Rio de Janeiro, contribuindo para o registro de mais quatro espécies para o local.

Piracicaba - SP Pirassununga - SP AEIT Marumbi - PR PNS Órgãos - SP PN Itatiaia - RJ PE Campos do Jordão - SP Ubatuba - SP EE Juréia-Itatins - SP PE Intervales - SP PES Cantareira - SP EB Boracéia - SP RBAS Paranapiacaba - SP Cerrado Mata Atlântica Coeficiente de Sorensen 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

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530 Cibele Bragagnolo e Ricardo Pinto-da-Rocha

Tabela 1. Lista das espécies de opiliões e número de indivíduos coletados na Reserva Biológica de Paranapiacaba, SP, Brasil, no período anterior à fase de industrialização (décadas 1920-1960) e a partir de 1990-2000.

ESPÉCIE DÉCADAS

1920 1940 1950 1960 1990 2000 TOTAL

GAGRELLINAE

Holcobunus nigripalpis Roewer, 1910 (Figura 2) - 2 - - 68 16 86

Holcobunus dentatus Roewer, 1910 - 2 - - - - 2

Munequita sp. - 3 - - 44 5 52

Jussara rosea (Mello-Leitão, 1940) - 5 - - - - 5

GONYLEPTIDAE BOURGUYINAE

Asarcus longipes Kollar in Koch, 1839 - 1 - - - - 1

Bourguyia albiornata Mello-Leitão, 1923 - - 2 - 1 - 3

Bourguyia vinosa 1 - - 1 2 - 4

CAELOPYGINAE

Pristocnemis farinosus (Mello-Leitão, 1922) (Figura 6-7) 1 2 6 6 11 - 26

Pristocnemis pustulatus Kollar in Koch, 1839 - - - 1 - - 1

Metarthrodes pulcherrimus (Mello-Leitão, 1931) 1 - - - 1

GONYLEPTINAE

Sphaerobunus fulvigranulatus (Mello-Leitão, 1922) 1 - - - 1

Sphaerobunus pulcher (Mello-Leitão, 1922) (Figura 8) 1 - - 1 13 - 15

Gonyleptes fragilis Mello-Leitão, 1923 (Figura 4) 1 11 7 - 18 2 39

Mischonyx cuspidatus (Roewer, 1913) - 1 - - 12 - 13

Liogonyleptoides inermis (Mello-Leitão, 1922) 1 - - - 1

Neosadocus maximus (Giltay, 1928) (Figura 3) - 9 3 - 11 8 31

Neosadocus bufo (Mello-Leitão, 1923) - 1 11 - - 12

GONIOSOMATINAE

Acutisoma proximum Mello-Leitão, 1922 1 - - - 1

Heteromitbates albiscriptus (Mello-Leitão, 1932) - - - - 3 - 3

Heteromitobates sp. n. - - - - 2 - 2

HERNANDARIINAE

Piassagera brieni Roewer, 1928 - - - - 2 - 2

Pseudotrogulus funebris Firmo & Pinto-da-Rocha, 2002 (Figura 5) - - - - 16 - 16 MITOBATINAE

Discocyrtoides nigricans (Mello-Leitão, 1922) - 2 - - - - 2

Longiperna areolata (B. Soares, 1944) - 1 - - 2 - 3

Longiperna concolor (Mello-Leitão, 1923) (Figura 10) - 1 - - 15 4 20

Promitobates ornatus (Mello-Leitão, 1922) (Figura 11) - 10 4 - 34 1 49 PACHYLINAE

Discocyrtus areolatus Piza, 1938 - 3 - - - 3

Discocyrtus cornutus Piza, 1940 - 8 - - - - 8

Discocyrtus goodnighti Soares & Soares, 1945 - - 1 - - - 1

Discocyrtus longicornis (Mello-Leitão, 1922) (Figura 16-17) 2 114 - - 26 6 148

Discocyrtus rarus Soares, 1944 - 4 - - 8 - 12

Eusarcus insperatus B. Soares, 1944 - 1 - - 1 - 2

Eusarcus tripos Mello-Leitão, 1940 - 10 - - - - 10

Ogloblinia loretoensis Canals, 1933 (Figura 14-15) - 11 - - 20 - 31

Pseudogyndesoides latus B. Soares, 1944 - 3 - - - - 3

Rhioxyna zoppei (B. Soares, 1944) (Figura 12-13) - 7 - - 7 - 14

PROGONYLEPTOIDELLINAE

Gonyleptoides curvifemur B. Soares, 1944 - 1 - - - - 1

Moreiranula mamillata (B. Soares, 1944) - 1 - - 4 - 5

Progonyleptoidellus fuscopictus (B. Soares, 1942) - 1 - - - - 1

Progonyleptoidellus striatus (Roewer, 1913) (Figura 9) - 1 3 1 27 - 32 SODREANINAE

Sodreana sodreana Mello-Leitão, 1922 (Figura 18) - 2 - - 14 2 18 TRICOMMATINAE

Camarana unica B. Soares, 1944 - 1 - - 1 - 2

Laneosoares inermis (B. Soares, 1944) (Figura 19) - 2 - - 4 - 6

Olynthus alticola B. Soares, 1945 - 1 - - - - 1

Pseudopachylus eximius (Mello-Leitão, 1936) - 15 - - 15 5 35

Pseudopachylus longipes Roewer, 1912 - 3 - - 2 - 5

N° TOTAL DE INDIVÍDUOS 10 240 37 10 383 49 729 N° TOTAL DE ESPÉCIES 9 33 8 5 28 9 46

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Opiliões

Figuras 2-7. Opiliões da Reserva Biológica de Paranapiacaba, SP, Brasil. 2. Holocobunus nigripalpis (Sclerosomatidae, Gagrellinae), uma das poucas espécies com hábitos diurnos e noturnos. 3. macho de Neosadocus maximus (Gonyleptidae, Gonyleptinae), espécie com dieta extremamente variada dentre os opiliões (fungos, frutos, insetos e até pererecas). 4. macho de Gonyleptes fragilis (Gonyleptidae, Gonyleptinae), uma das espécies mais abundantes de opiliões da Reserva. 5. Gonyleptidae, Hernandariinae, Pseudotrogulus funebris, espécie altamente camuflada nos detritos do chão da floresta. 6-7. macho e fêmea de Pristocnemis farinosus (Gonyleptidae, Caelopyginae), espécie arbustiva com coloração conspícua.

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532 Cibele Bragagnolo e Ricardo Pinto-da-Rocha

A Reserva de Paranapiacaba apresenta uma alta diversidade de opiliões quando comparada a outras áreas da Mata Atlântica da região Sul e Sudeste do País, nas quais a fauna de opiliões foi bem estudada. Com 46 espécies registradas, tem-se representada cerca de 20% da fauna do Estado de São Paulo. Para o restante do Brasil, é considerada menos diversa apenas que o Parque Nacional da Serra dos Órgãos (RJ), com 63 espécies (Bragagnolo & Pinto-da-Rocha 2003), e o Parque Nacional do Itatiaia (RJ), com 51 espécies conhecidas. É interessante ressaltar que os Parques Nacionais do Itatiaia e da Serra dos Órgãos ocupam uma área muito maior (11.000 e 30.000 ha, respectivamente) do que a área da Reserva de Paranapiacaba, que abrange apenas 336 ha. Além disso, tanto em Itatiaia quanto na Serra dos Órgãos, há uma grande variação de altitude, com picos que chegam 2.787m e 2.263m, respectivamente, ao passo que na Reserva de Paranapiacaba as altitudes não ultrapassam 900 m. Esses fatores talvez expliquem a alta riqueza de opiliões encontradas nessas duas áreas.

Apesar do intenso esforço de amostragem de opiliões na Reserva, desde a década de 1920 até os dias atuais, o único estudo quantitativo efetuado na área, isto é, envolvendo um protocolo de amostragem, foi realizado em 1999, com apenas seis réplicas (cada réplica consiste em uma hora de amostragem manual noturna em um transecto de 30 m). Nesse estudo, coletaram-se 15 espécies de opiliões. Apesar deste número mostrar-se aparentemente baixo, quando comparado com o total de espécies registradas para o local, tal resultado deve ser interpretado com cautela. Uma análise da intensidade de coleta em Paranapiacaba ao longo das décadas mostrou um declínio no número de espécies coletadas após 1970 e 1980, período no qual a região sofreu um acelerado processo de poluição e degradação ambiental oriundo da zona industrial de Cubatão. Durante essa época, a região emitiu enormes quantidades de poluentes atmosféricos que foram carregados por nuvens e precipitaram sobre a vegetação nas áreas de encosta de altitudes mais elevadas

(acima de 400 m). Adicionalmente, a neblina ácida que passou pelo vale deve também ter sido depositada sobre a vegetação de encosta, em condições meteorológicas de baixa pressão. Como a circulação local de ar é dominada durante o dia por ventos que sopram do mar pelo vale do rio Moji e, durante a noite, em sentido oposto, é possível que tenha havido transporte de poluentes do pólo petroquímico de Mauá e das indústrias de Santo André serra abaixo em direção ao mar (Gutberlet 1996). Esses eventos alteraram drasticamente uma área de 60 km2 entre a Estrada Velha e a Serra do

Morrão, degradando fortemente cerca de 80% da cobertura vegetal.

Desde a década de 1920 até o presente, foram coletados 729 opiliões na Reserva de Paranapiacaba (Tabela 1), que se encontram depositados em 243 lotes no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, Instituto Butantan e Museu Nacional do Rio de Janeiro. Destes, 297 indivíduos (distribuídos em 107 lotes) foram coletados entre as décadas de 1920 e 1960; e o restante (430 indivíduos, distribuídos em 136 lotes) foi coletado entre os anos de 1990-2005. Entretanto, apesar do esforço de amostragem ter sido maior entre as décadas de 1970 a 1980, a riqueza de opiliões foi menor nesse período. De 1920 a 1960 foram coletadas 42 espécies de opiliões, sendo que destas, 18 foram registradas somente nesse período. Entre os anos de 1990 a 2005 foram coletadas apenas 28 espécies de opiliões, sendo que destas, quatro não haviam sido registradas anteriormente.

Embora a diversidade tenha sofrido, aparentemente, um grande declínio nos últimos anos, é temerário atribuir o desaparecimento de um número tão grande de espécies (18) tão somente aos eventos de degradação am-biental que a região sofreu principalmente nas décadas de 1970-1980. A ausência de dados amostrais comparativos dificulta uma análise mais detalhada sobre o assunto. Além disso, das 18 espécies que não foram mais encontradas após as décadas de 1970-1980, 14 correspondem às espécies raras. Portanto, não se sabe se elas não foram mais encontradas

(11)

533

Opiliões

Figuras 8-13. Opiliões Gonyleptidae da Reserva Biológica de Paranapiacaba, SP, Brasil. 8. fêmea de Sphaerobunus pulcher (Gonyleptinae), espécie endêmica de Reserva; 9. fêmea de Progonyleptoidellus striatus (Progonyleptoidellinae), espécie que apresenta cuidado paternal; 10. macho de Longiperna concolor (Mitobatinae) e 11. fêmea de Promitobates ornatus (Mitobatinae), espécies desta subfamília estão geralmente associadas a rios, sendo comumente encontradas abrigadas sob pedras durante o dia; 12-13. macho e fêmea de Rhioxyna zoppei (Pachylinae), espécie críptica encontrada no solo.

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534 Cibele Bragagnolo e Ricardo Pinto-da-Rocha

por serem raras ou porque foram extintas localmente. Entretanto, um estudo sobre a influência da poluição do ar na comunidade de opiliões realizado na Alemanha (Bliss & Tietze 1984) mostrou que apesar de não ter havido diminuição no número de espécies após a poluição, ocorreram mudanças na composição e na densidade das espécies. Um outro estudo recente, (Bragagnolo et al. 2007), na Reserva de Morro Grande (Cotia, SP) revelou que áreas de floresta madura apresentam riqueza de opiliões significativamente maior que áreas de vegetação secundária, mesmo estas sendo contínuas e dentro da mesma Reserva. Apesar da origem do distúrbio ambiental ter sido distinto entre os trabalhos, uma vez que no estudo conduzido na Alemanha o fator foi poluição do ar e em Cotia foi o corte de árvores, tais resultados indicam que os opiliões são sensíveis às variações ambientais, respondendo positivamente ao estado de preservação da mata.

Distribuição dos opiliões

A maioria das espécies de opiliões da Mata Atlântica possui área de distribuição bastante restrita, o que aliado à acelerada fragmentação e à redução dos ambientes florestais nesse bioma, faz dos opiliões um grupo bastante ameaçado. Apesar da grande importância de estudos para a conservação, a escassez de informações sobre a fauna, biogeografia e biologia dos opiliões prejudica uma análise mais aprofundada sobre a diversidade e os padrões de distribuição das espécies na Mata Atlântica. Apenas recentemente atenção maior tem sido dispensada ao estudo dos padrões de distribuição geográfica de grupos de opiliões restritos à região de Mata Atlântica no Sul e Sudeste do Brasil, principalmente nos Estados de Santa Catarina ao Espírito Santo. Nesses estudos estão sendo obtidos importantes resultados de relacionamento entre as distribuições das espécies, indicando uma forte relação entre a fauna de opiliões e as cadeias de montanhas da costa sul e sudeste do Brasil (Pinto-da-Rocha et al. 2005). Outro

aspecto relevante é o alto grau de endemismo dos opiliões. Pinto-da-Rocha (1999), num estudo sobre a similaridade de opiliões em sete áreas da Mata Atlântica do Sul e Sudeste do Brasil, mostrou que faunas de áreas em uma mesma cadeia de montanhas são mais similares entre si do que em cadeias distintas.

Uma nova análise de similaridade entre 10 áreas de Mata Atlântica do Sul e Sudeste do Brasil e duas áreas de Cerrado do Estado de São Paulo, incluindo dados de literatura e registros em museus, mostrou uma alta similaridade entre as faunas de opiliões da Reserva Biológica de Paranapiacaba e da Estação Biológica de Boracéia, em Salesópolis (SP), que possui 36 espécies (Figura 1). Essas duas áreas possuem 19 espécies em comum e um alto índice de similaridade (48%) quando comparado com o de outras áreas de Mata Atlântica e Cerrado. Essa semelhança na composição faunística já era esperada, uma vez que ambas as localidades se encontram próximas, pertencem à mesma formação geomorfológica e estão situadas no alto da Serra do Mar, bastante próximas do litoral. A comparação da fauna de Paranapiacaba e Boracéia com a das demais áreas do Sul e Sudeste do País mostra uma maior similaridade com o Parque Estadual da Serra da Cantareira; essa similaridade compartilhada por esse grupo talvez possa ser explicada por estarem localizadas na mesma latitude. Esse mesmo grupo apresenta ainda uma maior similaridade com áreas da Mata Atlântica ao sul do Estado de São Paulo (Parque Estadual de Intervales e Estação Ecológica de Juréia-Itatins) do que ao norte (Ubatuba). Além disso, a fauna da Mata Atlântica do Estado forma um grupo bastante distinto das demais regiões, como a da Serra do Mar do Paraná, do Rio de Janeiro e da Serra da Mantiqueira. Áreas de Cerrado, apesar de localizadas em São Paulo, possuem uma fauna mais pobre e bastante distinta da fauna da Mata Atlântica. Tais resultados sugerem uma forte influência não somente da proximidade geográfica, mas também da formação geomorfológica no padrão de distribuição das espécies de opiliões.

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535

Opiliões

Figuras 14-19. Opiliões Gonyleptidae da Reserva Biológica de Paranapiacaba, SP, Brasil. 14-15. macho e fêmea de Ogloblinia

loretoensis (Pachylinae), espécie pequena, que vive na serapilheira; 16-17. macho e fêmea de Discocyrtus longicornis

(Pachylinae), espécie normalmente encontrada na serapilheira; 18. fêmea de Sodreana sodreana (Sodreaninae), espécie arbustiva comum na Mata Atlântica, com longos pedipalpos raptoriais; 19. macho de Laneosoares inermis (Tricommatinae), espécie pequena, encontrada na serapilheira.

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536 Cibele Bragagnolo e Ricardo Pinto-da-Rocha

Considerações fi nais

A fauna de opiliões da Reserva de Paranapiacaba é a mais rica do Estado do São Paulo e possui a terceira maior riqueza do país, com 46 espécies registradas. Essa alta riqueza pode ser explicada principalmente por dois fatores: devido à sua localização geográfi ca, uma vez que a Mata Atlântica das regiões Sul e Sudeste do Brasil parece apresentar a maior diversidade de opiliões do mundo; e, porque a Reserva é uma das áreas que teve o melhor estudo da fauna de opiliões do Brasil, com os primeiros registros datados do início da década de 1920. Entretanto, a região onde se localiza a Reserva sofreu um grande impacto ambiental oriundo de Cubatão entre as décadas de 1970-1980, o que provavelmente prejudicou a fauna de opiliões local, extinguindo algumas espécies. Das 46 espécies de opiliões coletadas na Reserva, apenas 27 foram encontradas após o período de maior impacto, sugerindo que os opiliões são sensíveis aos efeitos da poluição atmosférica. Além disso, o fato dos opiliões apresentarem uma baixa capacidade de dispersão, torna esse grupo bastante promissor como indicador da qualidade ambiental atual ou passada, característica que merece ser melhor explorada em futuras pesquisas ecológicas na Mata Atlântica.

Agradecimentos

Aos pesquisadores Glauco Machado, pela revisão do artigo e Adalberto dos Santos, pelas sugestões. Ao Dr. Antonio Domingos Brescovit,

pelo empréstimo de material do Instituto Butantan e ao Adriano Brilhante Kury, pelo acesso ao banco de dados da coleção do Museu Nacional do Rio de Janeiro.

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Referências

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