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A produção historiográfica em revista: uma análise da Revista de História na década de 1950

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A produção historiográfica em revista: uma análise da Revista de História na

década de 1950

Patrícia Helena Gomes da Silva

Criada no ano de 1950 por Eurípedes Simões de Paula, professor catedrático de História Antiga e Medieval da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (FFCL – USP), a Revista de História é considerada pela literatura como pioneira no universo das publicações acadêmicas especializadas na área de História no Brasil. Mais do que isso, ela é também um importante espaço de divulgação da produção intelectual da USP e de outras universidades, bem como de estímulo a linhas de trabalhos desenvolvidas por

diferentes pesquisadores1.

Apesar do lançamento da publicação ocorrer nos anos 1950, a sua gestação pode ser localizada bem antes, mais precisamente em 1937. Conforme destacado por seu diretor no primeiro editorial da revista, a ideia surgiu em conversas com o Prof. Fernand Paul Braudel, então professor da Cadeira de História das Civilizações e um dos docentes partícipes das missões de ensino e pesquisa vindas ao Brasil na década de 1930 com o intuito de auxiliar na institucionalização da Universidade de São Paulo, de modo a contribuir para renovação de

áreas de estudo a serem consolidadas nos diversos campos do conhecimento2.

No caso particular das Ciências Humanas, cabe destacar a vinda das missões oriundas sobretudo da França, as quais trouxeram nomes como Émile Coornaert (em 1934, para a cadeira de História das Civilizações, e em 1949 como professor visitante); o próprio Fernand P. Braudel (entre 1935 e 1937, na cadeira de História das Civilizações, e em 1948 como professor visitante); Jean Gagé (entre 1938 e 1946, substituindo Braudel na referida cadeira, na qual orientou teses de doutoramento); Émile G. Leonard (que substituiu, em 1948, Jean

Graduada em História pela Universidade Federal de São Paulo – Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – Campus Guarulhos (UNIFESP – EFLCH – Campus Guarulhos). Este trabalho foi originário do Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em História) defendido em maio de 2013, sob orientação do Prof. Dr. Fábio Franzini.

1 Cf. LAPA, José Roberto do Amaral. História e historiografia Brasil pós-64. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1985 (Estuds Brasileiros ; 87); ______. A história em questão: historiografia brasileira contemporânea. Petrópolis, RJ: Vozes, 1976. 204 p.; MOTA, Carlos Guilherme. Ideologia da cultura brasileira (1933-1974): pontos de partida para uma revisão histórica. 3. ed. São Paulo: Editora 34, 2008.

2 ROIZ, Diogo da Silva. A estrutura curricular do curso de Geografia e História da FFCL-USP entre 1934 e 1956. In: ______. Os caminhos (da escrita) da História e os descaminhos de seu ensino: a institucionalização do ensino de universitário de História na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (1934-1968). Curitiba, Appris, 2012, p. 38-58.

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2 Gagé como professor visitante); Jean Glénisson (de 1957 a 1958, na cadeira de Metodologia e

Teoria da História)3. A vinda das missões de ensino e pesquisa de professores estrangeiros,

sendo a experiência francesa como a mais frutificante das iniciativas tomadas demonstraram, conforme apontado por Marieta de Moraes Ferreira, o forte interesse francês em garantir sua influência nos estabelecimentos do ensino superior recém-criados no país, em um momento

de mudanças nas políticas educacionais no Brasil4.

Tal aspecto, enfatizado por Eurípedes Simões de Paula no texto inaugural da publicação, indica-nos as possíveis relações existentes entre o prelúdio da Revista de História com o próprio contexto de criação da FFCL – USP nos anos 1930 e, dessa forma, auxilia na compreensão do contexto de produção da Revista de História e das contribuições dadas por seu grupo fundador no forjamento do projeto editorial do periódico, liderado pelo próprio

Eurípedes5. Convém, assim, abordar alguns aspectos do escopo do periódico, por meio dos

editoriais presentes na Revista de História durante o período analisado, de forma a visualizar as ações empreendidas em imprimir um perfil ao mesmo.

No primeiro editorial, presente no primeiro número da Revista de História (ano I, n. 1, p. 1-2), Eurípedes Simões de Paula oferece aos leitores elementos cruciais no sentido de

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ROIZ, Diogo da Silva. A estrutura curricular do curso de Geografia e História da FFCL-USP entre 1934 e 1956. In: ______. Os caminhos (da escrita) da História e os descaminhos de seu ensino: a institucionalização do ensino de universitário de História na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (1934-1968). Curitiba, Appris, 2012, p. 38-58

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FERREIRA, Marieta de Moraes. Os professores franceses e o ensino da história no Rio de Janeiro nos anos 30. In: MAIO, Marco Chor; VILAS BÔAS, Glaucia (org.). Ideias de modernidade e sociologia no Brasil: ensaios sobre Luiz de Aguiar Costa Pinto. Porto Alegre, RS: EDUFRGS, 1999, p. 277-299

5 Eurípedes Simões de Paula nasceu na cidade de São Paulo no ano de 1910. Formado em Ciências Jurídicas e Sociais da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, ingressou no curso da sub-secção de Geografia e História da FFCL-USP em 1934, formando-se na primeira turma no ano de 1936. No mesmo ano, torna-se assistente-adjunto da Cadeira de História da Civilização da FFCL-USP e entre 1937-1938 ministra cursos sob a orientação do Prof. Jean Gagé que sucedeu o prof. Fernand Paul Braudel em 1937. Dois anos mais tarde, foi contratado para o cargo de Prof. Adjunto da Cadeira de História da Civilização Antiga e Medieval e em 1942, assume a regência da Cadeira de História da Civilização Antiga e Medieval da mesma instituição, reassumindo a cadeira em 1945 após sua participação na Força Expedicionária . No mesmo ano, obteve o titulo de doutoramento em História com a tese “O comércio Varegue e o Grão-Principado de Kiev”. Em 1950, assume a direção da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, permanecendo no cargo até 1954. Ainda em 1954, torna-se vice-reitor da USP, com mandato cumprido até 1957. Em 1961, participa da fundação da Associação dos professores de História (atual Associação Nacional dos Professores Universitários de História (ANPUH). Entre 1962 e 1964 é eleito diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília (SP). Durante a década de 1960, organiza diversos eventos, dentre eles, a Comissão Nacional para as comemorações do Dia de Anchieta (1965), seminário interdisciplinar na problemática das vilas medievais (1965), Comissão Internacional de História Marítima (1965), Colóquio Brasil-Japão (1966), entre outros. Entre ao anos de 1972 e 1974, assume a chefia do Departamento de História da FFCL-USP. No ano de 1977, falece em São Paulo, em decorrência de um acidente de trânsito. Cf. GLEZER, Raquel. Eurípedes Simões de Paula: uma bibliografia. In: IN MEMORIAM de Eurípedes Simões de Paula: artigos, depoimentos de colegas, alunos, funcionários e ex-companheiros da FEB. São Paulo: Seção Gráfica da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 1983, p. 661-706

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lançar as bases, os princípios e o espírito da publicação. Intitulado “O Nosso Programa”,6

ele tem a clara noção de edificar “[...] uma Revista destinada à divulgação de trabalhos históricos,

não só de professores e assistentes, mas também de licenciados e alunos.”7

No parágrafo seguinte, o diretor sublinha as possibilidades desenhadas no universo dos

periódicos existentes8, de forma a situar a importância e o papel que passara a desempenhar

na vida universitária9. A intenção era que o mesmo merecesse “um lugar modesto” entre as

publicações especializadas já existentes no país, com o intuito primordial em dar publicidade a trabalhos que porventura não poderiam ser acolhidos em outras publicações, devido à subordinação a possíveis exigências impostas pelas mesmas.

Os dois últimos parágrafos do editorial de abertura da Revista de História nos dão indicativos da amplitude atribuída ao seu projeto, com o anseio de recepcionar trabalhos, reflexões sobre quaisquer dos setores da História (econômico, social, político, religioso,

literário, filosófico e científico)10 e também algumas considerações sobre a delimitação do

título da revista (Revista de História), o qual necessitava de um designativo capaz de afastar desde seu início qualquer preocupação restritiva. Tal título foi consentido pelo Prof. Fidelino de Figueiredo (membro da Comissão de Redação da Revista de História), utilizado anteriormente pelo mesmo numa outra publicação entre os anos de 1912-1928. E a ideia não era apenas tomar o nome do periódico para a revista recém-fundada, mas também colocá-la enquanto modelo “[...] da nossa, pondo desde já ao serviço de todos os Homens de Boa

Vontade, a nova Revista de História (grifo do autor)11”.

6 PAULA, Eurípedes Simões de. Nosso Programa. Revista de História, São Paulo, ano I, n. 1, p. 1, jan/mar. 1950 7

PAULA, loc. cit.

8 Apesar da Revista de História ser considerada como pioneira no universo de periódicos acadêmicos na área dos estudos históricos no Brasil, vale ressaltar a existência de publicações, muitas das quais dedicaram em seu espaço à veiculação do conhecimento histórico: a própria Revista do IHGB (1838) e Revista do Arquivo Municipal de São Paulo (1934), dentre outros.

9 NOVINSKY, Anita. Eurípedes e a sua Revista no exterior. In: IN MEMORIAM de Eurípedes Simões de Paula: artigos, depoimentos de colegas, alunos, funcionários e ex-companheiros da FEB. São Paulo: Seção Gráfica da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 1983, p. 480

10 PAULA, Eurípedes Simões de. Nosso Programa. Revista de História, São Paulo, ano I, n. 1, pg. 2, jan/mar. 1950

11 PAULA, Eurípedes Simões de. Nosso Programa. Revista de História, São Paulo, ano I, n. 1, p. 2, jan/mar. 1950

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4 Além do editorial de inauguração do periódico, outros dois editoriais ao longo dos 40

números lançados pela Revista de História foram assinados pelo seu diretor.12 Neles, nota-se

o empenho em fazer um balanço das atividades desenvolvidas com o passar das edições, dar publicidade às alterações realizadas na configuração da mesma (reajuste de preços, aumento do número de páginas, rearranjo na divisão dos volumes) e, sobretudo, dar maior amplitude a

seções específicas da revista, principalmente, àquelas dedicadas à publicação de resenhas

bibliográficas e fontes primárias relevantes ao trabalho dos pesquisadores de História do Brasil e de São Paulo.

Já os editoriais referentes aos números 6, 13, 26 e 32 dizem respeito a possíveis indicativos das formas as quais os pesquisadores vislumbravam o projeto da Revista de

História em diferentes meios intelectuais, no Brasil (no caso, Rio de Janeiro) e em circuitos

internacionais, como Portugal e França. Tais textos indicam-nos importantes pontos para o entendimento do prestígio e do papel delineado à Revista de História ao longo de seu percurso. No decorrer do cotejamento dos mesmos, pudemos perceber certa similaridade em alguns pontos, principalmente no que tange à explicitação do seu espírito, de seus objetivos principais e sobremaneira ao reconhecimento como um espaço aberto e interdisciplinar para a difusão dos estudos históricos no Brasil.

Nesse sentido, esses editoriais correspondem à publicação de textos de pesquisadores no exercício de reconhecimento e crítica ao periódico nascente, presentes em diversas revistas, dentre elas as publicações na área de História na França Bulletin Hispanique, Revue

Historique e Annales: Économies, Sociétés, Civilisations (escritos, respectivamente, por Yves

Renouard, Pierre Chaunu e Frédéric Mauro), a revista portuguesa Vértice (escrito por Rui Feijó) e a publicação Bibliografia de História do Brasil (texto escrito por Hélio Vianna). Ao mesmo tempo, podem indicar ainda a composição de uma rede colaborativa com centros de pesquisa internacionais.

Os editoriais aqui abordados indicam um caminho de mão dupla: por um lado, historiadores renomados aferiam qualidade à Revista de História com a divulgação de seus trabalhos; por outro, simultâneo a esse movimento, a própria publicação, ao ganhar destaque nos meios universitários, também conferia prestígio e credibilidade a produção dos estudos históricos difundida em suas páginas e, consequentemente, aos pesquisadores responsáveis pelos trabalhos divulgados.

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5 Outro aspecto relevante da análise diz respeito aos elementos internos da Revista de

História, tanto em seus aspectos materiais quanto na análise de seu corpo editorial, seus

principais colaboradores e da historiografia difundida em seu espaço. Durante o período analisado no estudo (década de 1950), foram publicados 40 números do periódico, todos com a tiragem trimestral, com algumas variações referentes a organização de seus números e ao preço estipulado para venda avulsa e assinatura dos volumes. Ainda no âmbito de sua materialidade, o periódico permaneceu com características perenes ao longo dos anos 1950, seja em suas dimensões (24 cm x 16,5 cm), seja na configuração da capa e outros elementos presentes, tais como apresentação do expediente, divulgação de outros periódicos e a organização de suas seções.

Passando para o exame de seu corpo editorial, a Revista de História contou com a

presença de 28 colaboradores, distribuídos nos seguintes perfis: Docentes

(catedráticos/assistentes/adjuntos) da USP: 17; Docentes (outras instituições): 2; Licenciados: 2; Sem identificação: 5; Outras instituições (membros, direção): 2. Ao traçar a situação institucional dos membros da Comissão de Redação da Revista de História, percebe-se o predomínio dos docentes ligados à USP, especificamente integrantes aos quadros da própria FFCL, advindos da própria subseção de História e Geografia, bem como das áreas de etnografia, antropologia e literatura, figurando nomes como Eduardo de Oliveira França (Professor Assistente de História da Civilização Moderna e Contemporânea – USP), Pedro Moacyr Campos (Professor Adjunto da Cadeira de História da Civilização Antiga e Medieval – USP), Carlos Drummond (Assistente da Cadeira de Etnografia Brasileira e Língua Tupi-Guarani – USP), Egon Schaden (Professor de Antropologia – USP), Alice P. Canabrava (Professora de História Econômica – USP), entre outros.

Assim como a conjuntura levantada pelo expediente, o corpo principal de colaboradores da Revista de História neste período refletia, em alguma medida, uma grande extensão da gama de seu perfil, com a contribuição de pesquisadores provenientes de áreas e de espaços distintos, originários de centros de investigação tanto no Brasil, quanto de diversas partes do mundo. O quadro de colaboradores da Revista de História foi dividido em quatro

grandes grupos, assim classificados: pesquisadores ligados à FFCL-USP, ocupantes das

cátedras existentes, alguns assistentes e auxiliares de ensino alocados nas mesmas, os licenciados formados então pela Faculdade e pesquisadores que mantinham vínculos com a instituição (total de 66 pessoas); pessoas oriundas de outras instituições brasileiras de caráter

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6 múltiplo (universidades, Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e seus congêneres estaduais, órgãos de pesquisa e salvaguarda de acervos documentais, sociedades de numismática e de estudos históricos) (total de 32); diferentes instituições internacionais, com ênfase nos institutos de ensino superior, sobretudo de universidades e centros europeus (37); e aqueles cujo vínculo institucional não pode ser localizado (80).

Uma análise mais detida desse quadro permite constatar a preponderância dos pesquisadores pertencentes ao meio uspiano, com destaque ao número elevado de trabalhos elaborados por catedráticos e de seus assistentes e auxiliares de ensino, significando um importante espaço na divulgação do estado da arte das pesquisas então em andamento.

O grupo representado por pessoas oriundas de outras instituições, tanto nacionais quanto internacionais, mostrou-se significativo em números de recorrência (69), de forma a superar as produções realizadas no meio uspiano. A seleção desses autores, superando o conjunto de trabalhos efetuados na USP, demonstra, em certa medida, a preocupação do grupo formador da Revista de História em conferir-lhe um estatuto de receptáculo dos estudos realizados em distintos campos do conhecimento, em busca de possíveis pontos de intersecção no interior das Ciências Humanas, recorrendo em muito à interdisciplinaridade entre as mesmas e os estudos históricos em diversas perspectivas tomadas. Ainda nesse grupo, cabe ressaltar a presença de autores atuantes no processo de criação da Faculdade na década de 1930 e sua posterior consolidação, entre eles: Jean Gagé, Émile-G. Leonard, Émile Coornaert, Fernand Braudel, Roger Dion, Charles Morazé, Vitorino Magalhães Godinho.

Partindo desse ponto para outras perspectivas da estrutura interna do periódico, convém examinar as seções presentes ao longo dos números e as temáticas depreendidas com a análise dos trabalhos publicados na Revista de História. As temáticas foram delimitadas levando em consideração a leitura de suas principais partes (título e subtítulo, primordialmente).

Durante a década de 1950, foram contabilizadas as seguintes seções, em número de recorrências: 38 “Conferências”, 186 “Artigos”, 117 “Fatos e Notas”, 205 “Resenhas Bibliográficas”, 55 “Noticiários”, 8 “Arquivos”, 35 “Documentários”, 1 “Resenha historiográfica”, 7 “Editoriais”, 2 “Bibliotecas”, 28 “Questões Pedagógicas” e 3 “Críticas bibliográficas”.

No interior das seções, foi levantada uma amplitude de temas, sistematizados em grandes conjuntos, de acordo com possíveis afinidades existentes entre os tópicos

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7 destrinchados. A ideia era operacionalizar uma leitura mais efetiva das propostas cotejadas nos trabalhos, conforme se segue: “História do Brasil”: 154; “Divulgação (eventos, defesas de

teses, outras publicações periódicas, fontes, etc.”: 148; “História da Europa13”, 132; “Relações

da História com outros campos do conhecimento”: 58; “História Antiga e Medieval”: 57;

“Estudos da História de outras áreas do conhecimento14”, 37; “Questões epistemológicas nos

estudos históricos”, 35; “História da América”, 26; “Perfis biográficos”, 26; “Assuntos diversos”, 26; “História (outras localidades)”, 10; “Questões relacionadas ao ensino de História”, 7.

A divisão das temáticas existentes na Revista de História foi pensada muito em função dos campos de conhecimento, os quais eram objetos das pesquisas realizadas pelos colaboradores nas áreas de pesquisa e ensino. A observância dos núcleos dos artigos localizados nas temáticas História do Brasil, História da Europa, História da América e

História Antiga e Medieval encontram correspondências com a própria configuração das

cátedras existentes na FFCL-USP, com grande inserção de seus titulares, professores assistentes e adjuntos na apresentação de suas pesquisas.

De modo geral, depreende-se, a partir da leitura da tabela, a predominância das temáticas devotadas à História do Brasil (no total de 152 ocorrências), com ênfase principalmente nos períodos abrangidos entre os séculos XVI e XVIII (América Portuguesa).

Há, ainda, um acentuado viés também ao século XIX, mas, em contrapartida, poucos

trabalhos tendo o século XX como período de análise. Vale enfatizar que no interior desse agrupamento foram detectadas variantes, as quais perpassavam todos os períodos categorizados. Ou seja, predominava uma atenção específica às perspectivas econômica,

social, política e cultural, demonstradas no decorrer dos trabalhos publicados15.

O conjunto chamado “Divulgação” visava primordialmente a publicar ações e acontecimentos ocorridos na FFCL, como visitas de docentes estrangeiros, concursos para

13 Nesta categoria, foram reunidos os trabalhos, cujo período de análise abrangem as épocas moderna e contemporânea

14 Estudos sobre a constituição de outras áreas do conhecimento, particularmente, vinculados à História da Filosofia, História da Ciência, História da Medicina

15 Ao analisar a produção da chamada primeira geração de historiadores da escola uspiana de História, Maria Helena Rolim Capelato, Raquel Glezer e Vera Lúcia Amaral Ferlini destacam as vertentes da história social, da história das ideias e a história econômica, marcantes nas teses de doutorado defendidas entre 1951 e 1973, tendência refletida também no espaço da Revista de História. Cf. CAPELATO, Maria Helena Rolim; GLEZER, Raquel; FERLINI, Vera Lúcia Amaral. Escola uspiana de História. Estudos Avançados, São Paulo, v. 8, n. 22, 1994. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141994000300044&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 01 abr. 2012

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8 cátedras existentes, livre-docências e doutoramento, divulgação de cursos, programas oferecidos pela própria FFCL, eventos fora do âmbito da USP, divulgação de centros e sociedades de estudos históricos e revistas na área de História e correlatas. Uma vertente importante extraída do conjunto “Divulgação” diz respeito à difusão de fontes consideradas importantes para os estudos históricos, sobretudo para a História do Brasil. Tal inclinação pode ser vista, por exemplo, em quatro artigos escritos por Eurípedes Simões de Paula,

intitulados “Inventário de documentos inéditos de interesse para a história de São Paulo16”,

que expressavam um esforço de organização de fontes constantes nos acervos da Biblioteca Nacional de Lisboa (Portugal).

Outro conjunto de temáticas relevantes ao estudo da Revista de História consiste nos artigos cujo assunto principal foi identificado como História da Europa, com maior grupo de trabalhos situado nas reflexões acerca dos séculos XV e XVI, mais precisamente em torno da história das navegações e dos descobrimentos de possessões de ultramar empreendidas, primordialmente, por Portugal e Espanha. Nesse aspecto, alguns pontos tornaram-se relevantes na própria configuração do periódico, na medida em que tais assuntos suscitaram uma sequência de debates entre diferentes historiadores, discussões essas divulgadas em grande parte na seção “Fatos e Notas”, cujo mote consistia na importância do trabalho do historiador em cotejar as fontes disponíveis à pesquisa e a natureza do próprio conhecimento histórico.

Já o grupo de temáticas importante na Revista de História devotou-se às relações da História e outras áreas de conhecimento, primordialmente em campos correlatos das Ciências Humanas e das Letras, como a Sociologia, a Antropologia, a Geografia, a Literatura e a Linguística. Tal conjuntura é demonstrada na apresentação de um rol de pesquisadores pertencentes a essas áreas do conhecimento, oriundos da USP e de distintos centros de pesquisa na divulgação de seus estudos, mas também era uma interface prioritária ao diretor do periódico. A presença de especialistas de diversos campos do saber na revista é um “sintoma” abordado por Janice Theodoro como alicerce do projeto erigido por Simões de Paula: propiciar a participação ativa de professores integrados às redes de conhecimento, primordialmente europeias, forneceria condições para que as universidades brasileiras

16 Artigos presentes na seção Arquivos dos seguintes números: n. 9 (ano III, jan/mar. 1953); n. 10 (ano III, abr/jun. 1953); n. 11 (ano III, jul/set. 1953) e; n. 12 (ano III, out/dez. 1953)

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9 formassem docentes e pesquisadores capazes de responder aos desafios enfrentados pelo

Homem nos âmbitos nacional e internacional17.

Duas outras temáticas presentes na análise encontram-se nos trabalhos dedicados às reflexões entorno do ensino de História, da História enquanto campo científico, no sentido de investigar os aspectos teóricos e metodológicos dos estudos históricos, bem como a formação do historiador, discussões inseridas no âmago do projeto de universidade e de uma concepção de História erigida por esse grupo de historiadores.

Tais propósitos esboçados podem ser vistos, em conjunto, como um projeto vencedor. Apesar dos debates envolvidos em distintas perspectivas para a História e do que viria a ser a formação do historiador, toda uma série de implicações ganhou corpo nas páginas da Revista

de História à medida que ela se configurava como um instrumento fundamental no processo

de institucionalização do saber universitário de História em São Paulo desde a década de 1930.

FONTES

Revista de História, São Paulo, 1950, Números 1 ao 40. Disponível em:

<http://revhistoria.usp.br>

REFERÊNCIAS

CAPELATO, Maria Helena Rolim; GLEZER, Raquel; FERLINI, Vera Lúcia Amaral. Escola uspiana de História. Estudos Avançados, São Paulo, v. 8, n. 22, 1994. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141994000300044&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 01 abr. 2012.

FERREIRA, Marieta de Moraes. Os professores franceses e o ensino da história no Rio de Janeiro nos anos 30. In: MAIO, Marco Chor; VILAS BÔAS, Glaucia (org.). Ideias de

modernidade e sociologia no Brasil: ensaios sobre Luiz de Aguiar Costa Pinto. Porto Alegre,

RS: EDUFRGS, 1999, p. 277-299.

IN MEMORIAM Eurípedes Simões de Paula: artigos, depoimentos de colegas, alunos, funcionários e ex-companheiros de FEB; vida e obra. São Paulo: [s.n.], 1983. 719 p.

17 THEODORO, Janice. Eurípedes Simões de Paula (1910-1977). Revista de História, São Paulo, n. 160, p. 17-50, jan/jun. 2009. Disponível em: <http://revhistoria.usp.br/images/stories/revistas/160/RH_160_-_Janice_Theodoro.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2012

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10 LAPA, José Roberto do Amaral. Projeção da historiografia. In: ______. História e

historiografia: Brasil pós-64. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985, p. 49-55 (Estudos Brasileiros;

87).

______. A história em questão: historiografia brasileira contemporânea. Petrópolis, RJ: Vozes, 1976. 204p.

MOTA, Carlos Guilherme. Ideologia da cultura brasileira (1933-1974): pontos de partida para uma revisão histórica. 3.ed. São Paulo: Editora 34, 2008. 421 p.

NOVINSKY, Anita. Eurípedes e a sua Revista no exterior. In: IN MEMORIAM de Eurípedes Simões de Paula: artigos, depoimentos de colegas, alunos, funcionários e ex-companheiros da FEB. São Paulo: Seção Gráfica da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 1983

ROIZ, Diogo da Silva. A estrutura curricular do curso de Geografia e História da FFCL-USP entre 1934 e 1956. In: ______. Os caminhos (da escrita) da História e os descaminhos de seu

ensino: a institucionalização do ensino de universitário de História na Faculdade de Filosofia,

Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (1934-1968). Curitiba, Appris, 2012, p. 38-58

THEODORO, Janice. Eurípedes Simões de Paula (1910-1977). Revista de História, São

Paulo, n. 160, p. 17-50, jan/jun. 2009. Disponível em: <

http://revhistoria.usp.br/images/stories/revistas/160/RH_160_-_Janice_Theodoro.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2012

Referências

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