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IMPASSES NO APRENDIZADO DA TEORIA DA EVOLUÇÃO HUMANA NO ENSINO DE BIOLOGIA: O PARECER DOS ESTUDANTES

Bruna Gomes (Centro Universitário Barão de Mauá) Natália Cristina Curvelo Silveira da Silva (Centro Universitário Barão de Mauá) Chaiane Katiucia Nonato Ribeiro (Centro Universitário Barão de Mauá) Andréa Cristina Tomazelli (Centro Universitário Barão de Mauá) Marcelo Nunes Mestriner (Centro Universitário Barão de Mauá)

RESUMO

A investigação dos fatores envolvidos nas dificuldades da aprendizagem da evolução humana é essencial para garantir uma educação de qualidade e a formação de cidadãos críticos e conscientes de seu papel na natureza e na sociedade. Deste modo, esta pesquisa objetivou analisar as dificuldades no processo de aprendizagem da Teoria da Evolução Humana no ensino de Biologia em seis escolas públicas estaduais do município de Sertãozinho (SP). Para este fim, foram aplicados cento e cinquenta questionários a alunos do terceiro ano do ensino médio. Os resultados encontrados apontaram o reflexo da abordagem descontextualizada da evolução humana e a apresentação de conceitos evolutivos errôneos. Concluímos que a principal barreira da compreensão adequada do tema são os conflitos religiosos.

Palavras-chave: Evolução Biológica, Ensino de Evolução, Evolução Humana, Criacionismo

e Evolucionismo.

INTRODUÇÃO

A maior parte da comunidade científica considera o pensamento evolutivo como eixo central e unificador das ciências biológicas, fundamental para a compreensão da diversificação dos seres vivos. Tidon e Vieira (2009) dizem que a biologia evolutiva percorre todas as áreas das ciências biológicas, podendo atingir até outras áreas do conhecimento,

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como das ciências exatas e humanidades e, não só explica a diversidade da vida, como também proporciona reflexões e desenvolve o espírito crítico dos estudantes.

O ensino da Teoria da Evolução Biológica deve envolver conhecimentos, habilidades, atitudes e valores, possibilitando ao aluno compreender não somente a teoria biológica em si, mas também as crenças e valores que são comumente associados a ela, tendo melhores condições para reconhecer esses diferentes aspectos, estabelecer seu próprio posicionamento crítico e a compreensão significativa dos conteúdos da Biologia, constituindo uma linha de pensamento orientadora nas discussões de todos os temas (BRASIL, 2006).

Segundo Coimbra e Silva (2007), alguns alunos podem apresentar ideias, a respeito da evolução, que se distanciam das concepções científicas, influenciados pelo senso comum. Desse modo, o ensino da teoria evolutiva é visto de maneira complexa, e merece abordagem diferenciada. Deve ser executado como um eixo integrador, permitindo uma relação saudável e que potencialize as demais áreas de conhecimento da biologia, e é preciso ser sustentado por métodos racionais.

A frequente polêmica causada entre o criacionismo e o evolucionismo está relacionada à falta de prioridade colocada nos currículos educacionais, o que gera, na maioria dos professores, certo receio na abordagem desse assunto, resultando na desvalorização do tema no ensino de Ciências e Biologia (OLIVEIRA, 2009).

Visto que a origem e evolução do homem é um tema instigante e um dos mais complexos a serem tratados na área da biologia evolutiva, conhecer e romper as dificuldades do ensino da evolução humana torna-se necessário para a formação integral do aluno. Deste modo, o presente trabalho teve como finalidade analisar as dificuldades da aprendizagem e da compreensão da Teoria da Evolução Humana, e verificar a influência da religião na interpretação da teoria e as possíveis rejeições ou aceitações do tema no ensino de Biologia.

METODOLOGIA

O presente trabalho compreende um estudo bibliográfico e investigativo realizado no ano de 2015, por meio de uma abordagem quanti-qualitativa baseada na aplicação de questionários estruturados para cento e cinquenta alunos do 3º ano do ensino médio no município de Sertãozinho, interior de São Paulo.

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Visando compreender possíveis defasagens na abordagem da teoria da Evolução Humana no ensino de Biologia, os locais para a coleta de dados foram divididos setorialmente; das nove escolas estaduais de Sertãozinho, foram escolhidas seis para a aplicação dos questionários.

Na escolha do questionário foi priorizado garantir o anonimato dos entrevistados, proporcionando maior liberdade e segurança nas respostas e também por não o expor à influência do pesquisador.

A fim de evitar quaisquer tipos de constrangimento e possíveis más interpretações das questões, o questionário passou por um pré-teste seguido de adequações e posteriormente a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Barão de Mauá – Ribeirão Preto (SP). Foi entregue também, aos sujeitos de pesquisas, os respectivos termos de consentimento livre e esclarecido (TCLE), solicitados pelo Comitê de Ética, deixando-os livres para participar da pesquisa ou não.

Com o propósito de integrar os sujeitos no tema da pesquisa, a aplicação do questionário foi realizada em sala de aula durante uma das aulas da disciplina de Biologia; pois em uma investigação quali-quantitativa, é essencial considerar a associação entre o ambiente natural, os sujeitos e a pesquisa (ENSSLIN; VIANNA, 2008). O questionário aplicado contemplou seis questões, entre as quais constavam discursivas e de múltipla escolha, com o objetivo de estimar proporções de variáveis quanti-qualitativas, segundo a metodologia apresentada por Miot (2011).

De acordo com Prodanov e Freitas (2013), realizar categorias e codificações facilita a interpretação da pesquisa, proporcionando assim, a organização das informações para que o pesquisador seja capaz de tomar decisões e tirar conclusões a partir deles. Deste modo, os dados coletados foram categorizados, codificados e tabelados para posteriormente serem analisados, como sugerem Marconi e Lakatos (2012).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir do levantamento de dados, analisamos a influência da religião na interpretação do tema abordado para verificar possíveis falhas no ensino da teoria da Evolução Humana. Os resultados encontrados mostraram que os alunos que não possuíam nenhum tipo de crença religiosa faziam parte da minoria, apenas 11%, e o restante afirmou possuir alguma crença religiosa. Destes, foram identificados quatro grupos religiosos, sendo

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que os Católicos correspondiam a 53% dos alunos investigados, os Evangélicos foram 39%, Testemunhas de Jeová correspondiam a 5% e Espíritas 3%.

A fim de verificar se indivíduos que se dizem religiosos, porém não praticantes das atividades propostas por sua religião, possuem opiniões contrárias aos indivíduos da mesma crença que são fieis às mesmas; perguntamos aos alunos que responderam ter crenças religiosas se eram praticantes e o resultado foi inesperado, com relevância parcial; a maioria (54%) é praticante dos eventos e atividades propostas pela religião seguida, e 46% não é praticante.

Com propósito de avaliar sua influência na vida social e escolar do aluno, tendo como base seu significado científico, não científico e a verificação de como a linguagem influencia o conceito de evolução, questionamos sobre o conhecimento prévio da palavra “evolução”, possibilitando a análise de distorções em relação aos conhecimentos aceitos pela sociedade científica. Pode-se verificar que as principais relações estabelecidas para o significado da palavra evolução foram: transformação, melhoria, mudanças, aperfeiçoamento, adaptação, teoria, desenvolvimento e progressão. Componentes negativos associados ao conceito de evolução também foram observados na maioria dos sujeitos de pesquisa que responderam com embasamento não científico (83%), como pode ser observado nas citações abaixo:

“Evolução, é quando alguém muda pra melhor, ou seja, ele evolui”. “Evolução é evoluir, ou seja, aperfeiçoar algo em algum espaço de tempo”.

“Que antes éramos macacos e com o passar dos anos, ou seja, a evolução nos tornou humana... isto é evolução.”

Já os alunos que responderam de forma satisfatória, colocando suas respostas com algum embasamento científico, representaram 17% dos questionários avaliados. Seguem citações que se enquadram nesta categoria:

“Em um modo geral, acredito que evolução signifique melhorar, se tornar melhor, aprender novas coisas, viver experiências. Mas na ciência acho que quer dizer novas características, mudanças genéticas.”

“Significa adaptação para que a espécie possa sobreviver.”

“Evolução é o processo no qual ocorrem as mudanças ou transformações nos seres vivos, ao longo do tempo, dando origem a espécies novas.”

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Concordando com os estudos de Oliveira (2009), os resultados encontrados nesta questão revelaram distanciamento das concepções dos estudantes dos conhecimentos científicos, pois a maioria das respostas demonstraram expressões permeadas pelas visões superficiais dos processos da evolução. Adaptação, seleção e evolução possuem conotações diversas, devido aos significados atribuídos no dia-a-dia do aluno. Assim podemos concluir que a linguagem cotidiana apresenta-se como um bloqueio na aprendizagem da evolução.

Com o propósito de analisar as dificuldades no entendimento da Teoria da Evolução Humana, os questionamos sobre ilustrações mal elaboradas frequentemente presentes em materiais didáticos e com isso, conseguimos ponderar a falta de compreensão da ancestralidade e possível rejeição à teoria.

Figura 1. Imagem apresentada no questionário aplicado aos alunos.

Fonte: WHALLEY et al., 2005.

A imagem apresentada no questionário (figura 1) possui distorções pedagógicas, as quais expõem a evolução humana de maneira não científica, que além de proporcionar uma percepção errônea, dificulta a obtenção de novas aberturas para a compreensão de fenômenos evolutivos (BELLINI, 2006).

Foi solicitado aos alunos que interpretassem e transcrevessem qual era a mensagem que o infográfico lhes transmitia. Obtivemos duas categorias de respostas com pesos similares: Evolução Humana, que corresponderam a 51% e Homem “veio” do macaco, que corresponderam a 49%. Esses resultados sustentam a hipótese de que cerca da metade do nosso público-alvo entrevistado não tem o conhecimento básico sobre a evolução humana.

A imagem é um exemplo do reflexo da interpretação linear da evolução humana, que resulta na má compreensão de que a espécie à esquerda deu origem à espécie à direita (BIZZO, 2006), como pode ser observado na citação de um aluno:

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“De acordo com a imagem vê-se que o homem vem do macaco, ou seja, o homem é a evolução do animal macaco.”

A fim de compreender as concepções dos alunos sobre o infográfico, lhes foi perguntado se concordavam com a mensagem proposta por este. Obtivemos quatro categorias de respostas com embasamentos opostos: sim, com embasamento científico; concordo parcialmente; não, com embasamento científico; e não, com embasamento religioso.

Sim, com embasamento científico: Essa categoria representou 27% dos alunos

colaboradores, refletindo a realidade do ensino, no qual os alunos possuem uma introdução do assunto em seu pensamento, mas não são capazes de construir uma resposta correta, ou seja, possuem os dados e as informações, mas estes ainda não estão interligados.

“... Sim, pois pesquisas científicas apresentam semelhanças notáveis que comprovam essa teoria.”

“... Sim, essa teoria é a que tem mais provas, por isso acredito nela.”

Concordo parcialmente: Além da não compreensão da teoria, também estão

presentes os conflitos religiosos em 27% das respostas adquiridas. Estudos de Carter e Wiles (2014) apontam que existem vários fatores que afetam a aceitação ou rejeição sobre a teoria evolutiva, sendo entre eles religiosos, não religiosos e até mesmo a combinação de ambos.

“... Concordo em partes, mas não tem lógica o macaco se transformar em homem, pois se fosse assim não existiria mais macaco, e com o tempo todos os macacos continuariam se transformando.”

“... Acredito parcialmente, a evolução do homem é fato, mas não acredito que somos evolução de um macaco.”

Não, com embasamento científico: A minoria dos alunos (13%) representou esta

categoria. Segundo Dawkins (2009), compartilhamos um ancestral comum com os chimpanzés, este já extinto. Gordilho (2014) assegura que existem provas científicas mais do que suficientes para afirmar que o homem e os grandes primatas pertencem à mesma família (hominidae), portanto deixa claro nossa ancestralidade em comum. Apenas a minoria dos alunos conseguiu perceber que a figura proposta pode ser ambígua e dar um sentido errado à evolução humana e responderam de maneira coerente.

“... Esta imagem transmite que o homem veio do macaco, o que está errado, pois o homem veio apenas de um ancestral em comum, o Ramapitecus.”

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“... Não concordo com essa imagem porque assim da pra interpretar que o homem veio do macaco quando na verdade veio de um ancestral em comum.”

Não, com embasamento religioso: Os representantes desta categoria contemplaram a

maioria (33%) das respostas. As relações entre crença, compreensão e aceitação da teoria da evolução são amplamente discutidas entre pesquisadores do ensino das Ciências; estudos empíricos revelam que a construção do conhecimento é influenciada pelos valores sociais e culturais do indivíduo (HOKAYEM; BOUJAOUDE, 2008). As respostas desta categoria evidenciam que estes alunos não conseguem distinguir experiências científicas de experiências religiosas. A presença da palavra “criados” contemplada nas respostas reflete a presença da concepção criacionista, contrariando a argumentação científica, como pode ser observado em algumas respostas:

“... Não, pois eu creio na criação do homem que vem do pó da terra e com o sopro de Deus em suas narinas deu-lhe a vida.”

“... Mas não concordo com a ilustração, pois creio que foi Deus quem me formou desde o ventre da minha mãe, pra mim não houve barreira geográfica ou mutações genéticas que modificaram a espécie humana.”

Alunos que se declararam mais próximos da religião demonstraram uma relação entre a rejeição da teoria e as crenças pessoais. No que se refere aos evangélicos e testemunhas de Jeová, a maioria dos alunos mostrou ter atitudes negativas mais aparentes, ao contrário dos católicos que apresentaram médias mais elevadas de concordância; já a maior parte dos espíritas concordou parcialmente.

Em outra questão, observamos que 38% dos alunos não enquadram a espécie humana como pertencente ao Reino Animal. Esse é um dado que revela a ocorrência de inanidade durante a educação básica dos alunos, em que os mesmos deveriam ser estudados juntamente com os animais. Considerando este aspecto, vê-se a necessidade da escola amenizar o egocentrismo do aluno, utilizando maneiras de interpretações menos antropocêntricas, de modo a ver o homem como mais um dos seres vivos a habitar este planeta e compartilhar o ambiente com os demais organismos viventes (SILVA; LAVAGNINI; OLIVEIRA, 2000).

A consideração de que o ser humano é um animal, foi respondida por 44% dos alunos, mas ainda assim, não é o suficiente para uma aprendizagem correta, em que possa estabelecer os seres humanos no mesmo nível que os outros animais. Para isso, os mesmos devem

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entender que além de ser um animal, o ser humano também é um primata, como todos os outros animais que dividem conosco a ordem Primates.

Analisando as nomenclaturas empregadas nos estudos de filogenia, é incerto julgar que o homem não é um macaco, mesmo considerando a ordem dos primatas como um grupo monofilético, já que todos os primatas que descendem de um mesmo ancestral comum são denominados macacos, ou seja, o ser humano além de ser um primata é um macaco (POUGH; JANIS; HEISER, 2008); esta que seria a alternativa correta esperada nesta questão, foi escolhida por somente 3% dos alunos, enquanto 15% consideraram o ser humano como um animal e um primata, não colocando-o como um macaco. Podemos considerar também uma perspectiva preconceituosa, que fomenta semelhanças e diferenças fenotípicas da cor da pele, diversas características morfológicas e até mesmo intelectuais.

Ao serem indagados sobre a aceitação da Teoria da Evolução, foi possível constatar que 51% dos alunos aceitam que a evolução é a única explicação, lógica e comprovada, para a diversidade da vida no planeta. Este é um dado considerável. Porém, ainda 39% dos alunos consideram a teoria incompleta e incapaz de explicar de forma satisfatória a diversidade de vida no planeta.

De acordo com Braga, Guerra e Reis (2008), o fixismo defende a ideia da imutalidade, ou seja, favorece a concepção de que após serem criados, os seres vivos não sofreriam modificações; conceito considerado correto por 4% dos colaboradores, logo, para estes, predomina a ideia de que as espécies são imutáveis. No entanto, 6% dos alunos investigados acreditam que a evolução é uma teoria que vem sendo desacreditada no meio científico atual, embora de acordo com Razera (2009), existem vários argumentos e contextos que envolvem a teoria evolutiva, sendo assim possível obter bases teóricas incontestáveis.

Em relação às defasagens no ensino de evolução, foi possível analisar que 79% dos alunos já estudaram sobre Evolução Humana em algum momento durante sua vida escolar. Destes, 48% responderam ter estudado o tema na disciplina de Biologia, 20% na disciplina de Ciências e 32% na disciplina de História. Devido à sua complexidade e ao seu conjunto de conceitos específicos, atualmente o tema de Evolução se associa tanto as disciplinas das Ciências Biológicas quanto de outras áreas do conhecimento como História, Sociologia e Filosofia, conforme argumentações de Tidon e Lewontin (2004).

Por fim, os alunos foram questionados quanto à presença de dúvidas relacionadas à Teoria da Evolução Humana. A maior parte dos alunos (62%) assegurou a não existência de dúvidas, refletindo a indolência de debater sobre o assunto. Aos que responderam (38%),

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classificamos as dúvidas em categorias qualitativas criadas segundo o conteúdo das respostas, para agrupá-las numericamente com o mesmo sentido, estas foram: se o homem evoluiu dos macacos, porque ainda existem macacos?; distorções religiosas; quais são as comprovações?; e, como tudo começou?

Se o homem evoluiu dos macacos, porque ainda existem macacos? Esta categoria

refere-se a 29% das dúvidas, o que reflete a ausência da maior compreensão dos conceitos relacionados aos processos evolutivos, mencionando que o homem evoluiu a partir de macacos, representadas a seguir:

“Porque os macacos pararam de evoluir?”

“Como um macaco pode se transformar em um homem? Por que então, hoje em dia um macaco não se transforma em homem?”

Distorções religiosas: Esta categoria correspondeu a 29% das dúvidas que apresentam

características de conflitos entre a religião e a evolução. Conforme pesquisas de Costa, Melo e Teixeira (2011), os alunos buscam construir uma associação entre teorias científicas e o conhecimento religioso por meio da criação de modelos pessoais, possibilitando assim incertezas quanto ao seu posicionamento, como mostra as respostas abaixo:

“Fico com dúvidas por também acreditar no criacionismo”

“Sobre as teorias existentes, inclusive a do Big Bang que corta a criação de Deus”.

Quais são as comprovações? Estas dúvidas se referem a 24% dos alunos que fizeram

indagações de provas sobre Teoria da Evolução. O problema predominante ainda estaria no método de como o conhecimento científico é estruturado e apresentado aos alunos. Estudos de Lopes e Vasconcelos (2012) evidenciam que a maioria dos livros didáticos apresenta a ideia do processo evolutivo como uma sequência linear de modificações dos organismos, ou seja, causam distorções de filogenia, causando más interpretações do tema.

“De onde os homem vem e como eles sabem disso?” “Qual lógica seria a correta, de onde tiveram essa ideia?”

Como tudo começou? As dúvidas atribuídas a esta categoria correspondem a 18%

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pesquisa em que conclui que os professores constatam que os alunos possuem dificuldades para aprender as explicações científicas do fenômeno da origem da vida, pois expressam receios por existir um confronto de ideias. As dúvidas a seguir expõem essas incertezas:

“Em meio a todas as explicações lógicas, há um certo ponto onde a ciência não consegue obter explicações racionais. Como ocorreu o inicio de tudo?”

“Como realmente tudo começou? Porque não continua a evolução nos dias de hoje?”

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com os objetivos propostos neste estudo, buscamos identificar as dificuldades no aprendizado e na compreensão da Teoria da Evolução Humana, a influência da religião na interpretação dos conteúdos relacionados e analisar a aceitação e rejeição da teoria pelos alunos.

A aplicação dos questionários foi crucial na identificação das dificuldades no aprendizado e na compreensão do tema abordado. Nota-se que a minoria dos alunos participantes compreende a teoria da evolução de modo considerado correto destacando a descendência a partir de um ancestral comum. Além disso, a maioria apresentou em suas respostas conceitos evolutivos errôneos, caracterizando a evolução humana de forma linear em busca de melhoria. Deste modo, constatamos que a possível deficiência do ensino-aprendizagem desse tema pode ser reflexo da abordagem descontextualizada, colocando os conceitos filogenéticos separadamente, favorecendo assim, as visões criacionistas em relação à origem do ser humano.

Mesmo encontrando dificuldades na compreensão, ao serem questionados quanto a possíveis dúvidas sobre a teoria, a maioria dos alunos afirmou não haver, apresentando desta forma uma indiferença para com o tema, demonstrando que suas concepções sobre a evolução humana são suficientes, embora equivocados, como mostra a pesquisa.

A hipótese de que a religião é encarada como uma barreira pelos alunos foi confirmada. Os dados indicaram uma predisposição negativa na compreensão do termo evolução por influência da religião. A maioria dos alunos praticantes das doutrinas religiosas,

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destacando-se os Evangélicos e Testemunhas de Jeová, demonstraram uma visão antropocêntrica, na qual o homem é o centro da natureza.

A aceitação e/ou rejeição da teoria está diretamente relacionada ao meio social no qual o sujeito está inserido, a pesquisa conclui que a bagagem do senso comum carregada pelo aluno é a principal causa relacionada à negação da teoria.

Sendo assim, embora a teoria da Evolução proposta por Darwin em 1859 e embasada por dados da genética desde 1937, seja amplamente aceita no meio científico, ainda existem muitas deficiências e barreiras relacionadas a seu ensino nas escolas brasileiras, o que enfatiza a necessidade de desenvolvimento de estratégias didáticas e projetos que favoreçam o aprendizado contextualizado e cientificamente embasado da teoria da Evolução Humana, afinal como citado por Dobzhansky (1973, p. 127) “Nada na Biologia faz sentido exceto à luz da Evolução”.

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