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DIAGNÓSTICO AMBIENTAL E DE SAÚDE HUMANA: CONTAMINAÇÃO POR CHUMBO EM ADRIANÓPOLIS, NO ESTADO DO PARANÁ, BRASIL

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DIAGNÓSTICO AMBIENTAL E DE SAÚDE HUMANA:

CONTAMINAÇÃO POR CHUMBO EM

ADRIANÓPOLIS, NO ESTADO DO PARANÁ, BRASIL

1 Fernanda Gonçalves da Cunha , fcunha@rj.cprm.gov.br

2 Bernardino Ribeiro de Figueiredo, berna@ige.unicamp.br

3 Mônica Maria Bastos Paoliello, monibas@sercomtel.com.br 4 Eduardo Mello De Capitani, capitani@hc.unicamp.br 1 Serviço Geológico do Brasil/CPRM/RJ; 2 Instituto de Geociências/UNICAMP;

3 Universidade Estadual de Londrina;

4 Faculdade de Ciências Médicas/UNICAMP;

INTRODUÇÂO

Durante várias décadas o Alto Vale do Ribeira este- ve sob influência das atividades de mineração de chum- bo e de uma usina de refino e beneficiamento dos minéri- os que eram produzidos nas minas da região, a Plum- bum. A partir de 1996, todas essas atividades cessaram, mas deixaram às margens do rio Ribeira, pilhas de rejei- to e de escória provenientes das atividades da refinaria.

Durante o período de funcionamento da Plumbum, por 50 anos consecutivos, foi lançada na atmosfera grande quantidade de material particulado enriquecido em chumbo, que se depositou na superfície dos solos cir- cunvizinhos. A população da região utilizou, também, o material da pilha de escória para calçamento das ruas em Vila Mota e Capelinha, áreas rurais do município de Adrianópolis, próximas à Plumbum, no Paraná.

Durante o período entre 1999 e 2001, foi desenvolvi- do um estudo ambiental associado a um monitoramento humano, na região do Alto Vale do Ribeira, com popula-

ções residentes em áreas próximas às minas e à Plum- bum: Ribeira e Iporanga (Bairro da Serra) no Estado de São Paulo e Adrianópolis (Vila Mota, Capelinha e Porto Novo), no Estado do Paraná. Este estudo envolveu ainda a população de Cerro Azul, a montante da região minei- ra, no Paraná.

O principal objetivo deste trabalho foi investigar a possibilidade da contaminação ambiental causada pe- las atividades de mineração de chumbo estar atingindo as populações residentes no Alto Vale do Ribeira.

ASPECTOS FISIOGRÁFICOS

A área estudada localiza-se no Vale do Ribeira , ao sul do Estado de São Paulo e a leste do Estado do Para- ná, delimitada pelas coordenadas 25 o 00’ - 25 o 30’ de la- titude sul e 48 o 30’ - 49 o 30’ de longitude oeste de Green- wich (Figura 1).

A bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape com-

preende a área abrangida pelo rio Ribeira e seus princi-

(2)

pais tributários, englobando uma superfície de aproxi- madamente 25.000 km 2 , sendo 61% no Estado de São Paulo. O rio Ribeira atravessa 120 km do seu percurso inicial em terras paranaenses, atua como limite entre os dois Estados num trecho de cerca de 90 km, e após re- ceber a contribuição do rio Pardo, estende-se por mais 260 km em terras paulistas, até alcançar a sua foz, no im- portante complexo lagunar-estuarino de Igua- pe-Cananéia, no litoral sul do Estado de São Paulo.

O clima da região é subtropical úmido. As temperatu- ras médias anuais oscilam em torno de 20 o C. Na faixa lito- rânea, os meses de dezembro, janeiro e fevereiro são os mais quentes, com médias de 25 o C, e os meses de maio a agosto, os mais frios, com médias de 18 o C. Nos meses de junho e julho são comuns temperaturas mínimas diárias de 0 o C, muitas vezes ocorrendo geada. As médias de precipitação pluviométrica anual da região ficam em torno de 1.500 a 2.500 mm. A faixa litorânea e as partes serra- nas recebem mais chuvas. Os dias com chuvas fortes acontecem nos meses de outubro a março. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia, os ventos predomi- nantes na área do Alto Vale são oeste-sudoeste (WSW).

A elevada precipitação pluviométrica regional con- tribui para a exuberância da Floresta Subcaducifólia Tro- pical que ainda cobre extensas faixas na região e que

são preservadas sob forma de florestas primitivas. Essas áreas constituem reservas e parques estaduais. As flo- restas secundárias já ocupam área bem maior que as primárias e tendem a crescer ainda mais, em conse- qüência da insuficiência de demarcação e fiscalização dos parques. Completando o quadro da cobertura vege- tal, cerca de 30% são áreas com cultura de banana e de chá, de capoeiras e de pastagens.

ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS

O Vale do Ribeira de Iguape foi, no passado, uma das maiores Províncias Metalogenéticas de chumbo no Brasil e teve como atividade paralela à mineração uma usina de refino, a Plumbum, instalada na embocadura da mina Panelas de Brejaúva, em Vila Mota, no município de Adrianópolis, para processar os minérios produzidos na região. Atualmente a produção de bens minerais no Vale do Ribeira se resume na exploração de não-metálicos, como o calcário, argila, rocha ornamental e fluorita.

As atividades de mineração foram responsáveis por um período transitório de prosperidade nos municípios do Alto Vale do Ribeira e o seu declínio representou tam- bém a queda do nível de renda e emprego para a popu- lação local. Os índices de desenvolvimento humano

IGUAPE Porto Novo

Vila Mota Capelinha

Rio Ja cupiranga Serra

SÃO PAULO PARANÁ

N

0 15 30Km

Cidade

24°45’

48°00 49°00

25 00´

o

CERRO AZUL

RIBEIRA APIAÍ

ADRIANÓPOLIS ITAÓCA

Rocha

Canoas

Perau

Panelas e refinaria Plumbum

Furnas

REGISTRO

JUQUIÁ

CANANÉIA SETE BARRAS

ELDORADO

ITAPEÚNAS IPORANGA

Divisa interestadual Mina

BRASIL

OCEANO ATLANTICO

Rio Pardo

Rio Juquiá

Ribeirão Be tarí

Rio Ribeira

Rio Ribeira

Rio Ribeira

de Iguape

Figura 1 – Localização do Vale do Ribeira.

(3)

(IDH-M) desses municípios, de acordo com o PNUD, são os mais baixos do Vale do Ribeira e bem inferiores às médias dos estados de São Paulo e Paraná. Os diferen- tes indicadores sociais, como nível de renda, emprego, investimentos industriais, educação, mortalidade infantil e saúde pública convergem para a caracterização do Vale do Ribeira como relativamente pobre, embora apre- sente maior dinamismo econômico em algumas áreas mais vocacionadas para agricultura de banana, comér- cio e turismo.

GEOLOGIA

A região do Vale do Ribeira, sob o ponto de vista geotectônico, insere-se na Faixa de Dobramento Ribe- ira, caracterizada por grande número de falhas longi- tudinais subverticais que representam zonas de cisa- lhamento. Essas falhas afetam tanto o embasamento quanto as seqüências metassedimentares que defi- nem um corredor com aproximadamente 100 km de largura e 1.000 km de comprimento, denominado Fai- xa de Dobramento Apiaí-São Roque, com estruturação geral NE-SW, alternando conjuntos de metamorfitos de baixo e/ou médio grau, complexos graníticos e com- plexos gnáissico-graníticos e/ou gnáissi- co-migmatítico/granulítico (Daitx, 1996; Dardenne &

Schobbenhaus, 2001).

Regionalmente predominam gnaisses e migmatitos de idade arqueana, que têm sido descritos como emba- samento (Complexo Cristalino), sobre os quais dis- põem-se seqüências supracrustais do Grupo Açungui, depositadas no Proterozóico Médio-Superior. O Grupo Açungui está subdividido em formações: Setuva (basal), Capiru, Itaiacoca, Votuverava e Água Clara, Subgrupo Lageado, Complexo Perau e a Seqüência Turvo-Cajati.

As unidades litoestratigráficas (rochas de composição carbonáticas) que se apresentam mineralizadas (Pb-Zn) estão no Complexo Perau e no Subgrupo Lageado.

CHUMBO: CONTAMINAÇÃO HUMANA

Tanto as crianças quanto os adultos são suscetíveis aos efeitos na saúde por exposição ao chumbo, entre- tanto as vias de exposição e os efeitos podem ser bas- tante diferentes. As crianças estão mais expostas em re- giões apresentando contaminação ambiental, devido ao seu comportamento e fisiologia, enquanto os adultos es- tão mais expostos nas atividades de trabalho, como in- dústrias e refinarias.

O chumbo absorvido pelo trato gastrointestinal nas crianças mais velhas e nos adultos é proveniente princi- palmente da ingestão de alimentos e água, enquanto nas crianças mais novas, é da inalação de poeiras e da ingestão de pequenas partículas de solo (Who, 1995).

As crianças são consideradas grupo de alto risco, porque absorvem e retêm maior quantidade do chumbo ingerido do que os adultos.

O CDC (1991) recomendou para limite de ação, configurando risco de exposição a altas doses de chum- bo e conseqüente ocorrência de efeitos adversos em longo prazo, o valor 10mg de chumbo/dL de sangue em crianças. Exposições crônicas em níveis acima deste va- lor podem levar à ocorrência de efeitos adversos à saú- de comprometendo o sistema nervoso central, com efei- tos irreversíveis, também causando anemia, alterações renais e alteração do metabolismo da vitamina D.

Adultos com teores de 40 a 60 mg/dL de chumbo no sangue podem apresentar sintomas neurocomporta- mentais como distúrbios de humor e neuropatias periféri- cas, além de sintomas gerais como cansaço, sonolên- cia, irritabilidade, tonturas, dores nos músculos e proble- mas gastrointestinais. Níveis acima de 60 mg/dL podem produzir sintomas de alterações mentais e neurológicas importantes, além de cólicas abdominais típicas.

POPULAÇÃO E MÉTODOS

Para a realização do monitoramento humano, foi ne- cessário submeter o projeto ao Comitê de Ética da Facul- dade de Ciências Médicas da UNICAMP, realizar reu- niões com os prefeitos e secretários de saúde dos muni- cípios abrangidos pelo estudo e, em seguida, reuniões com os diretores, professores, pais e responsáveis pelas crianças, nas escolas públicas de cada município, para esclarecimento dos objetivos e autorização na participa- ção voluntária no estudo.

Foram coletadas amostras de sangue de 335 crian- ças na faixa etária entre 7 e 14 anos e de 350 adultos com idade entre 15 e 70 anos, nos municípios de Ribeira e Iporanga (Serra) no Estado de São Paulo e Adrianópo- lis (Capelinha, Vila Mota e Porto Novo) e Cerro Azul, no Estado do Paraná.

No momento da coleta de sangue foram aplicados questionários sobre informações dos hábitos alimenta- res, saúde, ocupação dos pais, tempo de residência, en- tre outras questões, necessárias à interpretação final dos dados.

O chumbo nas amostras de sangue foi analisado por espectrofotometria de absorção atômica acoplado a forno de grafite, no Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo.

Para a verificação da contaminação ambiental, fo-

ram coletadas 13 amostras de água utilizada para con-

sumo doméstico, de torneiras, de algumas residências

nas áreas estudadas, e 21 amostras de solos superficia-

is (0-20cm de profundidade), numa distância de até

9,5km da Plumbum, incluindo 4 amostras de solos de

hortas domésticas. Foram coletadas ainda amostras das

pilhas de rejeito e da escória.

(4)

A água que abastece as residências das populações que residem nas áreas urbanas de Adrianópolis e de Cerro Azul é fornecida pela SANEPAR - Companhia de Saneamento do Paraná, e aquela que abastece as casas das populações que moram na área urbana de Ribeira e em Iporanga é fornecida pela SABESP - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo. As residências das populações que moram nas áreas rurais de Vila Mota, Capelinha e Porto Novo não rece- bem água tratada. As famílias utilizam água de várias fontes naturais (olhos d’água) e direta- mente do rio Ribeira.

A escolha das residências foi aleatória, mas procurou-se coletar no mínimo uma amos- tra em cada área estudada, e nas diversas fon- tes utilizadas pelas famílias.

As amostras de água foram filtradas em membranas de acetato de celulose de 0,45mm e armazenadas em tu- bos esterilizados de polietileno, tipo centrífuga, de 50mL, e logo depois, aciduladas com 1mL de ácido nítrico 1:1, mantendo o pH @ 2, com a finalidade de preservar a amostra até o momento da análise.

Para análise das concentrações de chumbo nos so- los foi utilizada a fração granulométrica menor do que 177mm (areia fina a argila muito fina), considerando que a contaminação de solos por este metal através de fon- tes atmosféricas (emissões da refinaria) tende a se dis- persar como partículas finas. É nessa fração mais fina que o chumbo tende a se acumular.

Os teores de chumbo na água, nos solos e nas amostras do rejeito e da escória foram analisados por es- pectrometria de absorção atômica com fonte de plasma (ICP/AES), no Laboratório de Análises Minerais - LAMIN, do SGB, no Rio de Janeiro.

RESULTADOS

Contaminação humana Crianças

A média aritmética dos teores de chum- bo nas amostras de sangue (PbS) das crian- ças que participaram do estudo foi de 7,40mg/dL, variando no intervalo entre con- centrações menores do que 1,8mg/dL a 37,8mg/dL. A figura 2 mostra as médias arit- méticas dos teores de chumbo no sangue das populações de crianças, de acordo com as localidades amostradas.

Observa-se que a maior média aritméti- ca foi na população de crianças que reside mais próximo da refinaria Plumbum e da mina

de chumbo Panelas, num raio aproximadamente 2km, em Vila Mota e Capelinha, na área rural de Adrianópolis.

Em Vila Mota ocorreu o maior valor de PbS, valor corres- pondente a quase quatro vezes o valor sugerido pelo CDC (1991) e WHO (1995) como limite para manutenção da saúde das crianças (10mg/dL). Por outro lado, a mé- dia aritmética encontrada na população de crianças re- sidentes na cidade de Cerro Azul (2,37mg/dL) é duas a três vezes menor do que a das outras populações estu- dadas. Cerro Azul está localizada a montante das mi- nas de chumbo do Alto Vale e não sofreu influência das atividades de mineração, então o valor de 2,37mg/dL pode ser considerado como valor de referência ou background para chumbo no sangue de crianças resi- dentes na região do Alto Vale do Ribeira.

Foram significantes as diferenças entre as médias das concentrações de chumbo no sangue em meninos e meninas em todas as populações estudadas. Os meni- nos apresentaram valores mais elevados do que as me- ninas (Figura 3).

5,40 6,06

11,89

4,17

5,36

2,37

0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00

Pb S (u g/ dL )

Ribe ira Adrianópo lis Vila Mo ta e

Cape linha P o rto No vo S e rra Ce rro

Azul

Figura 2 – Médias aritméticas das concentrações de chumbo no sangue das crianças.

5 ,4 0 6 ,0 6

11,8 9

4 ,17

5 ,3 6

2 ,3 7

0 ,0 0 2 ,0 0 4 ,0 0 6 ,0 0 8 ,0 0 10 ,0 0 12 ,0 0

Pb S (u g/ dL )

Ribe ira Adrianópo lis Vila Mo ta e

Cape linha P o rto N o v o S e rra Ce rro Azul

Figura 3 – Médias aritméticas das concentrações de chumbo no sangue nas

populações de crianças, segundo o sexo.

(5)

Na avaliação dos dados dos questionários, constatou-se que as crianças que se alimentam de verduras e legumes cultivados nas hortas re- sidenciais mostraram teores de Pb S mais ele- vados do que as que se alimentam de outras fontes, o que pode indicar que a alimentação pode ser uma das vias da entrada de chumbo nos organismos infantis (Figura 4).

Os resultados mostraram que todas as po- pulações que participaram deste estudo, exceto a de Cerro Azul, apresentaram crianças com Pb S acima de 10mg/dL, o que pode caracterizar, em longo prazo, risco à saúde, segundo o CDC (1991). Porém, ficou bem evidente que 59,6%

das crianças residentes em Vila Mota e Capeli- nha, no entorno da refinaria Plumbum, apresen- taram teores de chumbo mais elevados, necessi- tando de exames médicos periódicos para acompanhamento, enquanto 12 crianças mos- traram teores de chumbo no sangue acima de 20mg/dL, já precisando de intervenção médica.

Adultos

Os resultados mostraram que os adultos moradores no entorno da refinaria Plumbum, em Vila Mota e Capeli- nha, apresentaram os níveis de chumbo no sangue mais elevados do que os das outras populações (Paoliello et al, 2003), semelhante aos dados analíticos encontrados para as crianças (Figura 5).

Segundo os dados dos questionários, os adultos que apresentaram os maiores teores de chumbo no san- gue foram do sexo masculino e trabalharam na usina de refino de chumbo, significando que parte do chumbo en- contrado nas amostras de sangue pode ser residual.

Estudos recentes mostraram que o homem adulto mes- mo quando exposto a baixas concentrações pode apre-

sentar problemas de saúde, como por exemplo, diminui- ção das funções cognitivas.

Contaminação Ambiental Água de consumo

As concentrações de chumbo nas águas das tornei- ras residenciais foram muito baixas (<0,005 a 0,008mg/L), mostrando que a água consumida pela po- pulação não está contaminada por chumbo, indepen- dentemente da origem, em relação ao valor permitido para chumbo em água potável da Portaria 518/2004, do Ministério da Saúde (Brasil, 2005).

Solos superficiais, material das pilhas de escória e de rejeito

As concentrações de chumbo nas amos- tras de solos variaram de 21 a 916mg/g, sendo que os teores mais elevados ocorreram nos lo- cais mais próximos à usina de refino Plumbum (Tabela 1). Na escória foi encontrado 2,5% e no rejeito 0,7% de chumbo. Esses valores são ele- vadíssimos, principalmente em se tratando de lugares onde as crianças brincam diariamente.

Segundo a CETESB (2001) os solos com teores de chumbo acima de 100mg/g podem indicar alteração na qualidade em relação ao risco potencial à saúde humana, e com teores acima de 350mg/g já necessitam de estudos ambientais de remediação. Seguindo, então, essa proposição, os solos mais próximos da Plumbum podem ser considerados contami- nados por chumbo, apresentando risco à saú- de das populações que ali habitam. Esses re-

8,8

2,8

1,8

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

P bS (ug/dL)

po pula ção e xpo s ta : áre a pró xim a a P lum bum po pula ção e xpo s ta : áre a a fa s ta da da P lum bum po pula ção não e xpo s ta

0 2 4 6 8 10 12 14

Pb S (u g/ dL )

C o ns o m e m v e rdura s N ão c o ns o m e m v e rdura s

R ibe ira A dria nó po lis Vila M o ta e C a pe linha

P o rto N o v o S e rra C e rro A zul

Figura 4 – Médias aritméticas das concentrações de chumbo no sangue das populações das crianças, de acordo com o consumo de verduras e legumes das

hortas domésticas.

8,8

2,8

1,8

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

P bS (ug/ dL)

po pula ção e xpo s ta : áre a pró xim a a P lum bum po pula ção e xpo s ta : áre a a fa s ta da da P lum bum po pula ção não e xpo s ta

Figura 5 – Médias aritméticas das concentrações de chumbo no sangue das

populações de adultos.

(6)

sultados incluem os solos das hortas residenciais, que necessitam de investigação em relação aos teores de chumbo nos alimentos ali cultivados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados encontrados para chumbo no sangue nos habitantes do Alto Vale do Ribeira e nas amostras de solos indicam que as atividades decorrentes dos pro- cessos de refino dos minérios de chumbo pela Plumbum afetaram todas as populações estudadas, com exceção da população de referência (Cerro Azul).

Porém, as populações de crianças que residem em Vila Mota e Capelinha foram as que apresentaram maior número de amostras de sangue com valores de chumbo acima de 10mg/dL (aproximadamente 60%) em relação às outras populações (aproximadamente 8%). Vários fa- tores podem ter contribuído para esses resultados, tal

como a ocupação paterna na refinaria, mas a moradia próxima à refinaria foi o mais importante, onde os solos apresentaram elevadas concentrações de chumbo. Os hábitos das crianças de levarem suas mãos e brinque- dos sujos à boca possibilitam a ingestão de partículas de solo, caracterizando uma via de entrada do metal no or- ganismo infantil.

Os resultados das análises das amostras de sangue das populações adultas mostraram que aquelas resi- dentes no entorno da refinaria Plumbum apresentaram os níveis de chumbo mais elevados do que das outras populações, semelhante aos dados analíticos encontra- dos para as crianças. Os adultos que apresentaram os maiores teores de chumbo no sangue (48mg/dL) foram do sexo masculino e trabalharam na usina de refino de chumbo. Segundo a WHO (1995) esses teores de chum- bo em adultos não apresentam risco à saúde, porém es- tudos mais recentes já apontam risco à saúde até em concentrações mais baixas.

A dispersão do chumbo contido no material particu- lado emitido pela chaminé da refinaria e sua deposição na superfície dos solos adjacentes (contaminação resi- dual) possibilitou que ainda hoje as crianças moradoras de Vila Mota e Capelinha continuem expostas ao chum- bo, e conseqüentemente apresentem os teores de chumbo no sangue mais elevados.

Esses resultados mostram a necessidade de estu- dos ambientais para reabilitação da área e atendimento médico, com monitoramento humano, principalmente nas populações infantis que residem próximo à refinaria Plumbum.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria ms nº 528/2004.

Brasilia, DF, 2001. 28p. Disponível em <http://por- tal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/pota-

ria_518_2004.pdf. Acesso em: 04 maio 2005.

CDC – CENTERS OF DISEASE CONTROL AND PREVENTION. U.S.Department of Health and Human Services, Atlanta. Preventing lead poisoning in young children. 1991. Disponível em: <http://www.

astdr.cdc. gov/lead5.htm>. Acesso em: 03 julho 2001.

COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL - CETESB. Relatório de estabelecimen- to de valores orientadores para solos e águas subter- râneas no Estado de São Paulo. São Paulo, 1996.

DAITX, E.C. 73p. Origem e evolução dos depósitos sulfeta- dos Tipo-Perau (Pb-Zn-Ag), com base nas jazidas Canoas e Perau (Vale do Ribeira, PR). 1996. 453p.

Tese (Doutorado em Geociências)-Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, SP, 1996.

Tabela 1 – Concentrações de chumbo nas amostras de solo superficial

Número da

amostra Teor de chumbo

(ug g-1) pH Distância da

Plumbum

1 175 6,6 5km

2 432 6,6 2,5km

3 343 7,9 1,2km

4 63 6,2 1km

5 672 6,7 1km

6* 904 6,5 300m

7 397 6,5 500m

8 916 6,3 900m

9* 802 5,5 900m

10 76 5,0 1km

11 117 6,7 1,4km

12 245 5,9 1,5km

13* 217 7,2 1,7km

14* 293 6,3 1,8km

15 37 5,9 2km

16 52 5,6 3,5km

17 76 5,9 3,6km

18 58 5,8 4,5km

19 21 5,6 6,5km

20 37 5,8 6,0km

21 26 5,5 9,5km

* solos de horta

(7)

DARDENNE, M.A.; SCHOBBENHAUS, C. Metalogênese do Brasil. Brasília: Ed. UNB, 2001. Cap. 3, p.

232-238.

PAOLIELLO,M.M.B.; CAPITANI,E.M.; CUNHA,F.G.;

CARVALHO,M.F.; MATSUO,T.; SAKUMA,A.;

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