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IV ENCONTRO ESTADUAL DE HISTÓRIA - ANPUH-BA HISTÓRIA: SUJEITOS, SABERES E PRÁTICAS. 29 de Julho a 1 de Agosto de Vitória da Conquista - BA.

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Vitória da Conquista - BA.

ITINERÁRIOS DE ESCOLARIZAÇÃO DO LEITOR

Ester Maria de Figueiredo Souza

Professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Doutora em Educação pela UFBA E-mail: ester@uesb.br Palavras-chave: Autoria. Educação. Ensino. Linguagem .

A sala de aula é u m espaço de circulação e produção de enunciados, instância de produção de conheciment os, de novas descobertas e de formação humana . Especificamente, compete aos seus professores, na instância da aula, como evento discursivo, promover ações com a linguagem que iniciam o aluno no mundo da escolarização, possibilitando a sua assunção, enquanto sujeito -leitor. Assim, reafirma -se a fundamental importância da escola para a formação desse indivíduo, conferindo -lhe humanização, por meio de ação discursiva com a linguagem, de ação dialógica entre professores e alunos e de constituição de identidades. Nesse sentido, a linguagem é formadora de s ubjetividades e, como tal, requer considerá-la como processual, como produção laboral entre seres humanos.

Segundo Geraldi (1984, p. 43):

A linguagem é uma forma de interação: mais do que possibilitar a transmissão de informação de um emissor a um receptor, a linguagem é vista como um lugar de interação humana: através dela o sujeito que fala pratica ações que não conseguiria pr aticar a não ser falando; com ela o falante age sobre o ouvinte, constituindo compromisso e vínculos que não preexistiam antes da fala.

Dessas afirmações uma conclusão: o ser humano é um ser inacabado, c ompõe-se com a presença de outro(s), nas produções das interações sociais. Como a escola é instâ ncia de conhecimento, a criança pequena, ao ingressar no seu universo de escolarização, internaliz a palavras de outros, amplia suas rep resentações, apropria -se de novas imagens, todos sintetizadas em discursos, enfim, constitui-se enquanto sujeito pela ocorrência de diversos discursos. Bakhtin, (1986, p. 95) afirma:

Não são palavras o que pronunciamos ou escutamos, mas verdades ou mentiras, coisas boas ou más, importantes ou triviais, agradáveis ou desagradáveis, etc. A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial.

Na aula, diferentes discursos se conflitam. E nunciados são revelados pelas práticas

pedagógicas, a partir de atividades orais, escritas, gestuais desenvolvida s pelos participantes

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em seus conjunto s de ações sociais. A síntese dessa compreensão remete ao entendimento de que o processo de alfabetização é trabalho, trabalho real izado, produzido por (e produtivo de) pessoas, enquanto sujeitos sociais , enunciadores e produtores de discurso .

Com esse pano de fundo sobre a linguagem, em suas realizações mediante enunciados e práticas discursivas, apreendem -se as representações que compõem o currículo escolar, uma vez que os usos da linguagem na vida cotidiana e na vida das escolas regulam-se por ritos, regras e condicionalidades de ocorrências.

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Por ser dinâmica e constitutiva, a própria realização dos proce ssos interativos, carrega em si a diversidade qu e torna a língua viva.

Bakhtin (1986), em sua argumentação sobre a linguagem, esclarece que essa penetra na vida por meio dos enunciados que a realizam, e é também, por meio dos enunciados concretos que a vida penetra na língua .

Uma das práticas com a linguagem na sala de aula é a de quebrar o silenciamento do sujeito, induzindo-o a se expressar. Alunos são incitados a falar, a expor suas idéias, a se posicionar perante temas. Produzem, assim, discursos, alicerçados em formações discursivas diversas. Outra prática é a exposição do que foi aprendido por meio do registro escrito, em instrumento de avaliação, denominado prova. Essas ações são exemplos de práticas discursivas referenciad as em condições de produção do discurso pedagógico escolar, distintas.

A noção de condições de produção do discurso abrange os aspectos de e missão e recepção de significados, a troca e negociação de pontos de vista, uma vez que o seu processo inscreve-se em uma formação discursiva que, por sua vez, apóia -se em formação ideológica.

Ainda Orlandi (1987, p. 32-33) analisa a circularidade do disc urso pedagógico:

Do ponto de vista do autor ( professor) uma maneira de se colocar de forma polêmica é constituir seu texto, seu discurso de maneira a expor -se o efeito de sentidos possíveis, é deixar um espaço para a existência do ouvinte como sujeito. Isto é, é deixar vago um espaço para o outro ( o ouvinte) dentro do discurso e construir a própria possibilidade de ele mesmo (locutor) se colocar como ouvinte. É saber ser ouvinte do próprio texto e do outro. Da parte do aluno, uma maneira de instaurar o po lêmico é exercer sua capacidade de dis cordância, isto é, não aceitar aquilo que o texto propõe e o garante em seu valor social: é a capacidade do aluno de se constituir ouvinte e se constituir como autor na dinâmica da interlocução, recusando tanto a fixid ez do dito como a fixação do seu lugar como ouvinte.

No primeiro ano de escolarização formal, comumente conhecido como classe de alfabetização, ao aluno não é apresent ada avaliação escrita, denominada prova de unidade.

1 Souza (1996).

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Resulta, ao final do ano letivo, da aplicação de uma prova final de ano, constituí da de enunciados que eng lobam conteúdos de le itura e escrita de palavras e de pequenos textos, reconhecimento de símbolos matemáticos e sua sequenciação , bem como quantidade .

O lugar, a posição discursiva, que os interlocutores do discurso ocupam no percurso da enunciação é determinado como um dos elementos que contribuem para constituir a significação das condições de produção do trabalho com a linguagem na sala de aula. As condições de produção de uma prova es colar são marcadas pela constituição de um cenário discursivo já conhecido pelo aluno, no qual as perguntas são do ti po perguntas didáticas, nas quais o aluno tem obrigação de e responde -las, quer corretamente ou não. Enlich (1986, p.

154) constata:

Que tipo de ação lingüística é a pergunta didática? Obviamente esse tipo de questão não coloca simplesmente que um “falante” que expressa uma pergunta e assim inicia uma seqüência pergunta -resposta tem intenções didáticas ou é um professor. Ao contrário esse é um subtipo de pergunta didática porque ocorre tipicamente no discurso de cada sala de aula.

Recebe essa designação por estar envolvido com uma constatação de características que poderiam ser chamadas didáticas. A pergunta didática não é usada pelo prof essor quando ele mesmo, o que fez a pergunta, não sabe a resposta. Isso violaria uma condição essencial para a pergunta uma vez que é uma forma lingüística que ser ve para transmitir conhecimento.

Essas observações contribuem p ara especificar contrapontos da concepção de linguagem de cunho interacionista. Essa enfoca a linguagem enquanto produção discursiva, que se estrutura em uma ordem discursiva aberta à instauração do outro, constituída de expressões de subjetividades, que são reveladas por meio de el ementos que ajudam a identificar e caracterizar ações dos sujeitos sobre os enunciados produzidos.

A concepção interacionista da linguagem , em seu contraponto com os estudos

tradicionais, considera o processo de construção do conhecimento por meio de práti cas com a

linguagem que exige m a participação do sujeito e de sua autoria discursiva, focalizando a

escrita como prática social. Assim, os típicos exercícios de ligação de objetos, linhas

pontilhadas, atividades de treinamento de habilidades de escrita , cópias e ditados, ainda tão

cotidianos na sala de aula , não revelam a apropriação d essa concepção por parte de

professores. Antes disso, expõem que a prática pedagógica rege -se por postulados

metodológicos que se suportam nas crenças da prontidão e memorizaç ão de conceitos a serem

apropriados pelo estudante. Essa concepção não é revelada nos documentos analisados.

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Por meio dos proces sos interativos com a linguagem, o sujeito se presentifica, expõe - se, instaura-se como enunciador. Pela s interações sociais, produzem formas de apropriação do conhecimento e incita novos modos de reconhecim ento do outro, de aceitação ou rejeição da introdução desse outro em seu discurso. Nessa concepção, de caráter histórico e material, a produção de linguagem em enunciados implic a na assunção de papéis de interlocutores, na sua definição como sujeito professor e sujeito aluno , em que aqueles que enunciam produze m efeitos de sentidos e são refratados pelas produções discursivas. A linguagem, assim, tem essência humanizadora e socia lizadora.

Na concepção instrumental, a linguagem silencia o suj eito enunciador. Nessa o aluno é impedido de dizer a sua palavra e reduz -se a copiar textos já definidos. A questão número dez do documento selecionado para análise é ilustrativa dessa afirmaçã o. A prática pedagógica confere à linguagem abstração de sentidos e condições artificiais de realização. A linguagem é um objeto a ser ensinado , exterior ao sujeito, estática e pretexto para exercícios didáticos.

O material escolhido para expor os modos de ensinar concebidos pelos professores , na elaboração das q uestões avaliativas , parte da análise de uma prova de fina l de ano letivo, da década de 70. Da análise desse instrumento, extraem-se as expressões de autoria do sujeito - leitor-alfabetizador, quando de suas respostas às questões formuladas , isto é, enunciados didáticos, e as tentativas do professor de interagir com o aluno, de fazer -se presente no jogo sócio-comunicativo.

Figura 1 - Capa da prova. Fonte: Acervo pessoal

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A capa do exame final é impr essa, em papel azul claro. O material apresentado ao aluno reveste-se de significância. É impresso gráfico. Com letra cursiv a a professora, complementa as informações, escrevendo o nome da escola e do aluno, data, série e ano.

Nessa página o aluno já se de para com a diversid ade dos símbolos gráfico letra.

Figura 2 - Primeira página da prova . Fonte: Acervo pessoal.

Na prova, o aluno escreve um texto ditado pela professora. Esse ditado é pretexto para

que a professora afirme, na questão de número 1: Você já escreveu vários nomes – e, como o

aluno já escreveu o que foi ditado, deve escrever o seu nome – agora escreva o seu .

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O ditado escolar é uma prática didática que se suporta em uma concepção instrumental da linguagem. No ditado esco lar não se constituem interações discursivas, servindo -se, unicamente, para um ajuste de contas. Revela -se, nessa questão que nome se refere tanto a palavra, como à identificação pessoal , o nome próprio do aluno. As questões da prova revelam a intenção da professora de estabelecer um jogo discursivo com o aluno , com expressões como: “não é?”. A professora registra a sua nota do exame final, os ponto s da questão e ainda apreciação sobre a escrita do nome do aluno, antes de ver, saber e reconhecer essa escrita: Muito bonitinho o seu nome . Será que busca interação com o aluno?

As questões da prova p artem de enunciados já pré-estabelecidos. A professora homogeniza expressões para toda a classe. Você gosta muito de animais, não é ? Um exemplo, a questão de número três, também se insere nessa suposição de que a professora joga com recursos lingüísticos, a fim de se estabelecer interação com o aluno. Os desenhos de animais servem para identificar a escrita de nomes.

Figura 3 - Segunda página da pro va.

Fonte: Acervo pessoal .

Nessa página apresenta -se o uso de expressões que intentam provocar o aluno. Supõe -

se que o aluno já saiba ler, que goste de bonecas, de flores e de pintar. E deve gostar de pintar,

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porque na próxima questão ele o, aluno, deve dizer ao professor, com o gesto de pintar qual é a figura do meio, aplicando corretamente conceitos matemáticos.

A décima questão é entendida como desenho livre e expõe a contextualização, no seu enunciado, com as festas natalinas de final de ano. E, é claro, a aluno traduz os mesmos desenhos da professora como presente que gostaria de ganhar,

Figura 4 - Terceira página da prova. Fonte: Acervo pessoal.

As marcas de correção da prova são marcadas com o sinal de certo , em vermelho. A

professora inscreve -se na prova, como autorizada para tal, assumindo o papel discursivo na

escola de sujeito avaliador de produção de aluno. A prova, exame final, é assim um contrato

que se estabelece entre professor e aluno.

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A concepção de linguagem d ominante, a que orientou a elaboração do exame final, é a de cunho instrumental, na qual predomina a artificialidade e descontextualização do conteúdo.

Esta é compreendida como um sistema de signos que são utilizados para reproduzir uma situação sócio-comunicativa já dada. A professora expressa essa compreensão, nas questões formuladas. Seria o caso de provocar a formação docente, sustentando -a, teórica e metodologicamente, no referencial da linguagem com processo histórico e social.

Referências

BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec , 1986.

ENLICH, K. Discurso escolar: diálogo? Cadernos de Estudos Lingüísticos , Campinas:

IEL/Unicamp, n. 11, 1986.

GERALDI, J. W. (Org.). O texto na sala de aula. Cascavel-PR: Assoeste, 1984.

ORLANDI, E. P. A linguagem e seu funcionamento. As formas do discurso. Campinas:

Pontes, 1987.

SOUZA, E. M. F. Sala de aula: práticas discursivas no cotidiano . 1996. Dissertação

(Mestrado em Educação) – Universidade Federal da Bahia/ Faced, Salvador, 1996.

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