FIPAD
XXVII Curso de Inverno de
Atualização em Dependência Química
Julho de 2015
Alterações clínicas da maconha
Mauro Soibelman
Conhecimentos básicos
• Substância ilegal mais consumida no mundo – cerca de 160 milhões de pessoas ou 4% da população mundial (idade entre 15 e 64 anos) usaram maconha pelo menos 1 vez no último ano (1)
• Contém mais de 400 compostos, mais de 60 canabinóides, incluindo canabidiol e canabiol – não psicoativos (2)
• As propriedades psicoativas são associadas principalmente ao
delta-9-tetrahidrocanabinol – THC (2)
• Aumento significativo da concentração de THC desde o final dos anos 60: de 1 a 5% para até 10 a 15% (3)
•Aumento na potência >>> aumento na incidência de desordens associadas?
1. Leggett T, United Nations Office on Drugs and Crime. A review of the world cannabis situation. Bull Narc 2006; 58:1 2. Ashton CH. Pharmacology and effects of cannabis: a brief review. Br J Psychiatry 2001; 178:101
Conhecimentos básicos
• Cultivada em praticamente todos os países, é processada em 3 tipos de produtos: 1. Folhas secas e flores (erva)
Conhecimentos básicos
Conhecimentos básicos
Leggett T, United Nations Office on Drugs and Crime. A review of the world cannabis situation. Bull Narc 2006; 58:1.
3. Óleo (óleo de haxixe)
• Erva – mais usada nas Américas, especialmente EUA • Haxixe – mais usada na Europa
Farmacologia
• Leggett T, United Nations Office on Drugs and Crime. A review of the world cannabis situation. Bull Narc 2006; 58:1
• Ohlsson, A.; Lindgren, J.E.; Wahlen, A.; Agurell, S.; Hollister, L.E.; and Gillespie, H.K. Plasma delta-9 tetrahydrocannabinol concentrations and clinical effects after oral and intravenous administration and smoking. Clin Pharmacol Ther 28(3):409-416,1980
• Devane WA, Hanus L, Breuer A, Pertwee RG, Stevenson LA, Griffin G, et al. Isolation and structure of a brain constituent that binds to the cannabinoid receptor. Science 1992; 258:1946-9
• Kalant H. Medicinal use of cannabis: history and current status. Pain Res Manag 2001; 6:80-91
• Jones RT. Human effects: an overview. In: Petersen RC, editor. Marijuana research findings. Rockville: DHHS-NIDA; 1980. p. 54-80 • Adams IB, Martin BR. Cannabis: pharmacology and toxicology in animals and humans. Addiction 1996; 91:1585-614
• Absorção do THC: 20 a 50% pelos pulmões (fumada) e 90 a 95% após ser ingerida (oral)
• Início dos efeitos psicoativos: 5 a 10 min após ser fumada e 30 a 45 minutos após ser ingerida • Efeitos podem durar até 12 a 24 horas (liberação lenta do tecido adiposo)
• Metabolismo hepático de 1ª passagem: biodisponibilidade de THC reduzida após ingestão • Quase todo o THC absorvido se liga a proteína; acumula-se no tecido gorduroso (cérebro, testículos e tecido adiposo), de onde é distribuído
• O THC atinge o cérebro e cruza facilmente a barreira hematoencefálica, ligando-se a receptores canabinóides endógenos chamados CB1 (anandamida)
Farmacologia
Jones RT. Human effects: an overview. In: Petersen RC, editor. Marijuana research findings. Rockville: DHHS-NIDA; 1980. p. 54-80. Adams IB, Martin BR. Cannabis: pharmacology and toxicology in animals and humans. Addiction 1996; 91:1585-614.
• “Baseado típico” contém cerca de 0,3 a 1g de maconha
• Concentração de delta-9-THC nas diferentes apresentações da
Cannabis varia de 1 a 15%, ou seja, de 2,5 a 150mg de THC
• Concentração mínima preconizada para produzir efeitos euforizantes: 1%, ou 1 cigarro com 2 a 5 mg.
receptores canabinóides:
alta densidade
• funções cognitivas especializadas • aprendizado e memória
• coordenação motora
• nucleus accumbens: recompensa
receptores canabinóides:
moderada densidade
• regulação da temperatura corporal, balanço hidroeletrolítico e
função reprodutiva • resposta emocional, medo
• sono e vigília, temperatura corporal e controle motor
• sensibilidade periférica (dor)
• substância cinzenta central: analgesia • núcleo do trato solitário: sensibilidade
Ribeiro M, Marques ACPR. Abuso e Dependência – Maconha. In: Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina. Projeto Diretrizes. 2002. [C]
Ribeiro M, Marques ACPR. Abuso e Dependência – Maconha. In: Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina. Projeto Diretrizes. 2002. [C]
Complicações médicas do uso da maconha
• Pulmonares
bronquite
redução da capacidade vital lesões pré-neoplásicas
• Nariz e garganta
sinusite crônica faringite / rinite
risco aumentado de neoplasias da cabeça e do pescoço
• Cardiovasculares
aumento da frequência cardíaca diminuição da força contrátil
redução da liberação de oxigênio para o miocárdio
• Sistema imune
diminuição da resposta imune pelos leucócitos
Sistema reprodutor
redução da produção de esperma quebras cromossômicas aumentadas diminuição da próstata e testículos bloqueio da ovulação
• Sistema endócrino
níveis reduzidos de vários hormônios (testosterona) cetoacidose (diabéticos)
• Neurológicas
disfunção aguda da memória
disfunção do sistema límbico (controle das emoções) alterações no EEG
Acidentes
prejudica a coordenação motora e o equilíbrio prejudica a troca de atenção de um objeto para outro e o tempo de reação
THC detectável no exame toxicológico em 6 a 11% dos casosCâncer
a fumaça da maconha é mutagênica [C]
uso concomitante de outras drogas (álcool e tabaco) e a idade dos sujeitos (jovens) dificultam a documentação de evidências epidemiológicas sobre o risco de câncer
evidência fraca de risco aumentado para câncer de cabeça e pescoço e próstata [D]
aumento do risco de câncer no trato respiratório e tubo digestório em usuários frequentes, por longos períodos, principalmente se usuários concomitantes de tabaco e álcool [C]
Alterações respiratórias
causa bronquite crônica prejudica o funcionamento das vias aéreas centrais
provoca alterações patológicas em tecidos pulmonares que podem ser precurssoras de câncer aumento do risco de câncer no trato respiratório e tubo digestório em usuários frequentes, por longos períodos, principalmente se usuários concomitantes de tabaco e álcool [B]
fumaça é parecida (tabaco e maconha)
fumar
poucos
baseados é menos prejudicial
do que fumar
muitos
cigarros de tabaco
• mesma frequência de bronquite aguda e crônica
• mesmo tipo e gravidade de dano epitelial na via aérea central
voluntários usuários regulares de maconha e tabaco 3 grupos de intervenção: (1) cigarros de tabaco (2) maconha (1,24% de THC) (3) “placebo” de maconha (0,004% de THC) • achados:
filtração mais eficiente nos cigarros de tabaco => com filtro e mais densamente “enrolados” bagana menor no baseado => diminui filtração
tamanho inicial do cigarro é maior no tabaco => “quantidades” semelhantes são fumadas padrões de inalação marcadamente diferentes – possível principal determinante das
diferenças encontradas
Wu TZ, Tashkin DP, Djahed B, Rose JE. Pulmonary hazards of smoking marijuana as compared with tobaco. N Engl J Med 1988; 318(6): 347-51
baseados:
o volume inalado é mais de 2 vezes maior
o volume tragado é um terço maior
o tempo de retenção da fumaça no trato respiratório inferior é
4 vezes mais longo
a carga de particulados que agride o trato respiratório
inferior é 4 vezes maior INDEPENDENTE da concentração de THC => modo de fumar
saturação da carboxihemoglobina aumenta 4 a 5 vezes em comparação com o tabaco, mesmo sendo a concentração do monóxido de carbono na fumaça 25% menor