A D V O C A C IA -G E R A L DA U N IÃ O PR O C U R A D O R IA -G ER A L FED ERA L
PR O C U R A D O R IA FED ER A L JU N T O À A G ÊN CIA N A C IO N A L D E EN ER G IA ELÉTRICA
C O O R D EN A D O R IA D E G E R A Ç Ã O , TRA N SM ISSÃO E D ISTR IB U IÇ Ã O SG A N , Q U A D R A 603 / M Ó D U LO S "1" E ' T CEP 70830-110, B RA SÍLIA /D F
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PA R E C ER n. 00359/2015/PFANEEL/PGF/AGU
NUP: 48554.002493/2014-96
IN TE R ESSA D O S: Superintendência de Regulação dos Serviços de D istribuição - SRD
ASSUNTO: Cobrança retroativa de encargos de uso do sistem a de distribuição
E M E N T A : C o b ra n ç a retro a tiv a d e encargos. Prescrição. C ausa in te rru p tiv a d a prescrição. P o ssib ilid a d e d e co b ran ça
Pelo M emorando n° 0482/2014-SRD/ANEEL, o Superintendente da SRD consulta esta Procuradoria a respeito do início do prazo prescricional para fins de cobrança, pela distribuidora C EM A T, dos encargos de uso do sistem a de distribuição devidos pela Global Energia E létrica S.A, responsável pela concessão da Pequena Central H idrelétrica — PCH Raruíto. em com plemento ao P arecer n° 00421/2014/C G TD /PFA N EEL/A G U , de 9.9.2014.
I - DOS FATO S
1. Pelo M emorando n° 0365/2014-SRD/ANEEL, esta Procuradoria foi consultada pela SRD acerca da possibilidade de cobrança pretérita dos encargos de uso do sistem a de distribuição não recolhidos pela PCH Baruíto no período entre a sua entrada em operação com ercial (22.4.2003) e a publicação do ato que autorizou o desconto de 100% no recolhimento da Tarifa de U so do Sistem a de D istribuição - TUSD (R esolução A utorizativa n° 4.541/2014, com efeitos retroativos a 15.3.2013).
2. Em resposta, esta Procuradoria exarou o P arecer n° 00421/2014/CGTD/PFANEEL/AGU, por meio do qual, em síntese, concluiu pela “ possibilidade de cobrança retroativa dos encargos de uso do sistem a de distribuição, respeitando-se o prazo prescricional constante no artigo 206, §3°, do Código C ivil.” Segundo o raciocínio desenvolvido naquela ocasião, os encargos em tela seriam devidos pela geradora levando-se em conta que houve a efetiva utilização dos ativos do sistem a da distribuidora acessada, muito embora as partes não tenham celebrado os instrumentos contratuais cabíveis, quais sejam o CUSD e o CCD.
3. A despeito da resposta positiva por parte deste órgão jurídico, não restou definido qual seria o momento inicial a partir do qual a distribuidora poderia efetuar a cobrança dos valores devidos pela geradora. N a consulta ora encaminhada, a SRD relata que ao longo dos últimos anos, a distribuidora CEM AT tentou por diversas vezes faturar os encargos devidos da geradora, mas nunca obteve sucesso.
4. Daí porque a SRD consulta novamente esta Procuradoria a fim de esclarecer o momento de mício da fluência do prazo prescricional para fins de cobrança pela C EM A T dos encargos devidos pela PCH Baruíto.
5. E o breve relatório. Passo a analisar.
I I . - D A A N Á L IS E
6. Inicialmente, vale esclarecer que já não mais se discute se é devido ou não os valores a título dos encargos de uso do sistem a de distribuição pela PCH Baruíto à CEM AT. Assim sendo, deve ser tido como incontroverso que a PCH Baruíto deveria te r pago os encargos em tela pelo período compreendido entre a sua entrada em operação com ercial e a publicação da R esolução Autorizativa n° 4541/2014, conforme relatado no introito deste arrazoado.
7. Tendo esta premissa em mente, é sabido que a prescrição está diretamente relacionada com os direitos subjetivos patrimoniais, isto é, aqueles que conferem ao seu titular uma pretensão de exigir de alguém um determinado com portamento apreciável economicamente (D E FARIAS e RO SEN V A LD , 2013). A ssim sendo, somente direitos sujeitos a uma pretensão conduzem à prescrição. Exemplo claro é o cham ado direito de crédito, que ocorre caso o devedor, espontaneam ente, não honre uma determinada obrigação, poderá o credor exigir o
pagam ento exercendo a sua pretensão. Como conseqüência, somente as ações condenatórias, como por exemplo, as ações de cobrança, execução ou reparação de danos, podem sofrer os efeitos da prescrição, na m edida em que constituem o único m ecanism o de proteção dos direitos subjetivos patrimoniais.
8. N o que se refere ao term o inicial da contagem do lapso prescricional, ensina-nos a doutrina (D E FAR IA S e R O SEN V A LD , 2013) com fundamento na tese da a d io nata. que o início se dá a partir não da violação do direito em si, mas sim do “ conhecim ento da violação ou lesão ao direito subjetivo pelo seu respectivo titular.” A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça - STJ, inclusive, se fixou no sentido de acolher a referida tese, conforme revela a redação da Súmula n° 258: “o term o inicial do prazo prescricional, na ação de indenização, é a data em que o segurado teve ciência inequívoca da incapacidade laborai” . Logo, pacificado está o entendimento de que o term o inicial do prazo prescricional das ações indenizatórias é a data em que a lesão e os seus efeitos são constatados.
9. N o que tange ao prazo propriamente dito, o P arecer n° 00421/2014/CGTD/PFANEEL/AGU, de 9.9.2014, chegou à conclusão que incidiria no caso concreto o disposto no art. 206, §3°, do Código Civil, segundo o qual a prescrição opera-se em três anos nas pretensões de ressarcim ento de enriquecim ento sem causa. R ealm ente, ao fazer uso de um serviço e não pagar por ele, a PCH Baruíto experimentou um enriquecim ento sem causa, o que é vedado pelo direito.
10. N o caso em análise, vale notar que por diversas vezes a distribuidora CEM A T foi diligente no sentido de efetuar a cobrança dos valores devidos pela PCH Baruíto. Com efeito, conforme noticia a SRD, a prim eira tentativa de cobrança ocorreu em 31.8.2009, oportunidade em que a CEM A T encaminhou uma carta à PCH Baruíto com minutas do CU SD e C C D para assinatura. Já em fevereiro de 2011, a CEM AT passou a em itir faturas referentes ao uso do sistem a de distribuição pela PCH Baruíto que jam ais foram quitadas.
11. Salvo melhor juízo, essas tentativas por parte da distribuidora devem ser vistas como circunstâncias capazes de interromper a prescrição. A s causas interruptivas da prescrição dizem respeito a circunstâncias que possuem o condão de inutilizar o lapso prescricional já iniciado. D entre as causas interruptivas de prescrição listadas pelo Código Civil, merece destaque a prevista no art. 202, inciso VI, cuja redação é a seguinte:
A rt. 202. À interrupção da prescrição, q u e so m en te p o d erá o co rrer um a vez, dar-se-á:
VI - por q u a lq u e r ato in e q u ív o c o , a in d a q u e e x tra ju d ic ia l, que im porte reco n h ecim en to d o d ireito pelo devedor.
12. Daí porque na opinião desta Procuradoria, em complemento ao Parecer n° 00421/2014, a tentativa de cobrança efetuada pela CEM A T em 31.8.2009 deve ser interpretada como um marco interruptivo da prescrição, razão pela qual seria devida a cobrança dos encargos de uso do sistem a de distribuição não recolhidos pela PCH Baruíto a partir dos três anos anteriores àquela data.
IIL -C O N C L U S Ã O
13. Pelo exposto, opina esta Procuradoria pela possibilidade de cobrança retroativa de encargos de uso do sistem a de distribuição a partir dos três anos anteriores à prim eira tentativa de cobrança efetuada pela CEM AT, ou seja, 31.8.2006.
14. É o parecer.
Brasília, 25 de junho de 2015.
JOÃ O ALFREDO S. BAETAS G ON ÇA LV ES Procurador Federal
Aprovo o P arecer n.° 00359/2015/PFANEEL/PGF/AGU. Encaminhe-se à SRD.
Brasilia, 25 de junho de 2015.
RICARDO BRA N D Ã O SILVA Procurador-Geral da A NEEL
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