• Nenhum resultado encontrado

Os pioneiros da habitação social

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Os pioneiros da habitação social"

Copied!
47
0
0

Texto

(1)

I

I

Os pi

Os pioneir

oneir

os

os

da habitação

da habitação

social

social

(2)
(3)

Presidente do Conselho Curador 

Presidente do Conselho Curador 

Mário Sérgio Vasconcelos Mário Sérgio Vasconcelos Diretor-Presidente

Diretor-Presidente

José Castilho Marques Neto José Castilho Marques Neto Editor-Executivo

Editor-Executivo

Jézio Hernani Bomfim Gutierre Jézio Hernani Bomfim Gutierre

Superintendente Administrativo e Financeiro

Superintendente Administrativo e Financeiro

William de Souza Agostinho William de Souza Agostinho  Assessores Edito

 Assessores Editoriaisriais

João Luís Ceccantini João Luís Ceccantini

Maria Candida Soares Del Masso Maria Candida Soares Del Masso Conselho Editorial Acadêmico

Conselho Editorial Acadêmico

Áureo Busetto Áureo Busetto Carlos Magno C

Carlos Magno Castelo Branco Fortalezaastelo Branco Fortaleza Elisabete Maniglia

Elisabete Maniglia Henrique Nunes de Oliveira Henrique Nunes de Oliveira João Francisco Galera Monico João Francisco Galera Monico José Leonardo do Nascimento José Leonardo do Nascimento Lourenço Chacon Jurado Filho Lourenço Chacon Jurado Filho Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan Paula da Cruz Landim

Paula da Cruz Landim Rogério Rosenfeld Rogério Rosenfeld Editores-Assistentes Editores-Assistentes Anderson Nobara Anderson Nobara Jorge Pereira Filho Jorge Pereira Filho Leandro Rodrigues Leandro Rodrigues © 2012 Editora Unesp © 2012 Editora Unesp

Fundação Editora da Unesp (FEU) Fundação Editora da Unesp (FEU) Praça da Sé, 108 Praça da Sé, 108 01001-900 – São Paulo – SP 01001-900 – São Paulo – SP Tel.: (0xx11) 3242-7171 Tel.: (0xx11) 3242-7171 Fax: (0xx11) 3242-7172 Fax: (0xx11) 3242-7172 www.editoraunesp.com.br www.editoraunesp.com.br www.livrariaunesp.com.br www.livrariaunesp.com.br feu@editora.unesp.br feu@editora.unesp.br Editora afiliada: Editora afiliada:

SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO

SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO

Administração Regional no Estado de São Paulo

Administração Regional no Estado de São Paulo Presidente do Conselho Regional

Presidente do Conselho Regional

Abram Szajman Abram Szajman Diretor Regional

Diretor Regional

Danilo Santos de Miranda Danilo Santos de Miranda Conselho Editorial

Conselho Editorial

Ivan Giannini Ivan Giannini Joel Naimayer Padula Joel Naimayer Padula Luiz Deoclécio Massaro Galina Luiz Deoclécio Massaro Galina Sérgio José Battistelli Sérgio José Battistelli Edições Sesc São Paulo

Edições Sesc São Paulo

Gerente

Gerente Marcos Lepiscopo Marcos Lepiscopo Gerente adjunta

Gerente adjuntaIsabel M. M. AlexandreIsabel M. M. Alexandre Coordenação editorial

Coordenação editorialClívia Ramiro, CristiaClívia Ramiro, Cristianne Lameirinhanne Lameirinha

Produção editorial

Produção editorial Rafael FernRafael Fernandes Caçãoandes Cação Coordenação gráfica

Coordenação gráfica Katia Verissimo Katia Verissimo Coordenação de comunicação

Coordenação de comunicaçãoBruna ZarnoBruna Zarnoviec Danielviec Daniel

Colaborador desta edição

Colaborador desta edição Marta Colabone Marta Colabone Edições Sesc São Paulo

Edições Sesc São Paulo

Rua Cantagalo, 74 - 13º/14º andar Rua Cantagalo, 74 - 13º/14º andar 03319-000 São Paulo SP Brasil 03319-000 São Paulo SP Brasil Tel. 55 11 2227-6500 Tel. 55 11 2227-6500 edicoes@edicoes.sescsp.org.br edicoes@edicoes.sescsp.org.br sescsp.org.br sescsp.org.br

Pioneiros da Habitação Social Pioneiros da Habitação Social Coordenação

Coordenação Nabil Bonduki Nabil Bonduki Coordenação Adjunta

Coordenação AdjuntaAna Paula Ana Paula KouryKoury Pesquisadores

Pesquisadores

Flávia Brito do Nascimento, Maria

Flávia Brito do Nascimento, Maria Luiza de Freitas,Luiza de Freitas, Nilce Aravecchia Botas, Sálua Kairuz

Nilce Aravecchia Botas, Sálua Kairuz Manoel PoletoManoel Poleto

Volume 1 – Cem anos de política pública no Brasil

Volume 1 – Cem anos de política pública no Brasil Concepção e Coordenação Editorial

Concepção e Coordenação Editorial Nabil BondukiNabil Bonduki Pesquisa, textos e legendas

Pesquisa, textos e legendas Nabil Bonduki Nabil Bonduki Edição de fotografia e ensaio fotográfico

Edição de fotografia e ensaio fotográfico Inês Bonduki Inês Bonduki Projeto gráfico e editoração eletrônica

Projeto gráfico e editoração eletrônica Homem de Melo e Homem de Melo e TroiaTroia

 Assistentes de edição

 Assistentes de ediçãoInês Bonduki e Inês Bonduki e Juliana TiemiJuliana Tiemi

Revisão do texto

Revisão do texto Mariana Pires Mariana Pires

Preparação do texto

Preparação do texto Pedro Biondi Pedro Biondi Tratamento de imagens

Tratamento de imagens Antônio Carlos Antônio Carlos KehlKehl Desenhos

Desenhos André Ramos André Ramos

CDD: 720.981 CDD: 720.981 CDU: 72(81)(091) CDU: 72(81)(091) CIP –

CIP – Brasil. Catalogação na publicaçãoBrasil. Catalogação na publicação Sindicato Nacional dos Editores de Livros, Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJRJ B694p

B694p v.1 v.1

Os pioneiros da habitação social no Brasil: volume 01 / Os pioneiros da habitação social no Brasil: volume 01 / Nabil Bonduki. – 1. ed. –

Nabil Bonduki. – 1. ed. – São Paulo: Editora Unesp: Edições SescSão Paulo: Editora Unesp: Edições Sesc São Paulo, 2014.

São Paulo, 2014.

ISBN Unesp 978-85-393-0522-3 ISBN Unesp 978-85-393-0522-3 ISBN

ISBN Edições Edições Sesc Sesc São São Paulo Paulo 978-85-7995-103-9978-85-7995-103-9 1. A

1. Arquitetura rquitetura – Brasil – Brasil – Hist– História. ória. 2. Ar2. Arquitetura quitetura e hise história. tória. 3.3. Arquitetur

Arquitetura e Estado – Brasil. 4. a e Estado – Brasil. 4. Planejamento urbano – Brasil –Planejamento urbano – Brasil – História. I. Bonduki, Nabil. II. Koury, Ana Paula.

História. I. Bonduki, Nabil. II. Koury, Ana Paula. 14-11356

(4)

Os pione

Os pione

ir

ir

os

os

da habitação

da habitação

social

social

Volume

Volume

Cem anos de

Cem anos de

construção de política

construção de política

pública no Brasil

pública no Brasil

Nabil Bonduki

Nabil Bonduki

1

1

(5)

nuciosa pesquisa sobre a política pública brasileira para

nuciosa pesquisa sobre a política pública brasileira para

a habitação entre 1930 e 1964. Sob o olhar da Arquitetura

a habitação entre 1930 e 1964. Sob o olhar da Arquitetura

e do Urbanismo e

e do Urbanismo e através de documentação textual e fo-através de documentação textual e

fo-tográfica,

tográfica,Os pioneiros da habitação socialOs pioneiros da habitação social traz a trajetória e traz a trajetória e

as inovações tecnológicas das implantações de conjuntos

as inovações tecnológicas das implantações de conjuntos

habitacionais de várias regiões do país. É de extrema

habitacionais de várias regiões do país. É de extrema

im-portância para o resgate e para o

portância para o resgate e para o registrregistro do patrimônio o do patrimônio ar-

ar-quitetônico e urbanístico de tais construções, assim como

quitetônico e urbanístico de tais construções, assim como

consolida a contribuição histórica para o desenvolvimento

consolida a contribuição histórica para o desenvolvimento

destas áreas no Brasil. Auxiliar na organização e

destas áreas no Brasil. Auxiliar na organização e

dispo-nibilização de material tão relevante é compatível com o

nibilização de material tão relevante é compatível com o

que almejamos ao selecionar um projeto. É motivo de

que almejamos ao selecionar um projeto. É motivo de

or-gulho saber que os resultados do trabalho agora estarão

gulho saber que os resultados do trabalho agora estarão

disponíveis para estudantes, pesquisadores e qualquer

disponíveis para estudantes, pesquisadores e qualquer

in-teressado no registro deste período da ocupação urbana

teressado no registro deste período da ocupação urbana

no século XX.

no século XX.

ra brasileira em suas mais diversas manifestações,

ra brasileira em suas mais diversas manifestações,

articu-lados com as políticas públicas para o setor e focados na

lados com as políticas públicas para o setor e focados na

afirmação da identidade brasileira, além de contribuir para

afirmação da identidade brasileira, além de contribuir para

a permanente construção da memória cultu

a permanente construção da memória cultural. Ao patroci-ral. Ao

patroci-nar este projeto, a Petrobras reafir

nar este projeto, a Petrobras reafirma o objetivo de incen-ma o objetivo de

incen-tivar o trabalho de resgate e organização do acervo

tivar o trabalho de resgate e organização do acervo

mate-rial e imatemate-rial da nossa cultura, com a intenção firme de

rial e imaterial da nossa cultura, com a intenção firme de

ampliar a oportunidade de acesso público a esses acervos.

ampliar a oportunidade de acesso público a esses acervos.

P

(6)

Na história da arquitetura e urbanismo brasileira, a habitação social

sempre foi tratada como um objeto de segunda categoria diante dos

edifícios monumentais e das residências da elite. O registro e a

aná-lise da moradia dos trabalhadores nunca tiveram o destaque

neces-sário, perdendo-se a memória sobre o espaço ocupado pelos mais

pobres. Esta publicação procura suprir essa lacuna. Desenvolvida na

USP entre 1997 e 2013 — inicialmente na Escola de Engenharia de São

Carlos e, após 2005, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo —, a

pesquisa que originou esta obra identificou, levantou e sistematizou

a produção de habitação social realizada pelo poder público em todo

o país na era Vargas.

Organizado em três volumes, o livro foi concebido para tratar esse

tema com a mesma qualidade que tem sido dada à “alta arquitetura”.

Neste primeiro volume, analisa-se a ação dos principais órgãos

pro-motores, no âmbito de um inédito estudo sobre a história da ação

es-tatal na questão habitacional no Brasil, do início do século XX até os

dias atuais. No segundo volume, apresenta-se o inventário de toda a

produção, com fichas descritivas por empreendimento e farta

ilustra-ção. No terceiro volume, os principais empreendimentos foram

anali-sados, incluindo modelos tridimensionais dos projetos originais e um

ensaio fotográfico realizado pelo fotógrafo Bob Wolfenson.

A publicação não se viabilizaria sem o apoio da USP, da Fapesp, da

Fundação para o Incremento da Pesquisa e Aperfeiçoamento Industrial

e de várias empresas, que pela Lei de Incentivo Fiscal patrocinaram o

projeto, selecionado em edital público promovido pela Petrobras

vol-tado para a área de “Patrimônio e Documentação”. O acolhimento que

a proposta obteve da Editora Unesp e das Edições Sesc São Paulo foi

fundamental para sua concretização.

A todos os que contribuíram com este trabalho, em especial, os

pes-quisadores do nosso Grupo de Pesquisa, por onde passaram dezenas

de estudantes de graduação e pós-graduação ao longo de dezesseis

anos, nossa gratidão pelo esforço realizado. Não se avançará no

en-frentamento do problema habitacional brasileiro, com a qualidade

que tem faltado, sem a memória e a reflexão sobre o que já se produziu.

Este livro joga mais uma pedrinha no árduo caminho para garantir o

direito à habitação digna para todos.

Prof. Dr. Nabil Bonduki

(7)

CEM ANOS DE CONSTRUÇÃO DA POLÍTICA PÚBLICA DE HABITAÇÃO NO

BRASIL: O DESAFIO DE UMA ARQUITETURA PARA A MAIORIA

40

Origens da

habitação social

1930-1964

62

A política

habitacional

e urbana do

regime militar

1964-1986

1

Apresentação

18

A produção rentista

da habitação

1889-1930

Sumário

(8)

78

Décadas perdidas

ou tempos de utopia

e esperança?

1986-2002

126

Desengavetando

documentos para

pensar o futuro

106

A Política Nacional de

Habitação do século XXI:

em direção ao direito à

moradia digna?

(9)

COMO OS PIONEIROS ÓRGÃOS PÚBLICOS

ENFRENTARAM A QUESTÃO DA HABITAÇÃO

136

Os Institutos de

Aposentadoria e

Pensões: previdência

e habitação social

164

Na vanguarda do

projeto habitacional

no Brasil: a concepção

de habitação do IAPI

1936-1966

198

A concepção

de habitação

do IAPC:

uma produção

dispersa

1934-1966

222

A concepção

de habitação

do IAPB: das casas

unifamiliares aos

edifícios modernos

inseridos nos

centros urbanos

1934-1966

244

A concepção de

habitação da

Fundação da Casa

Popular: a difusão

da casa própria

isolada e unifamiliar

Sumário

(10)

272

Os órgãos regionais:

as origens da

descentralização da

ação habitacional

374

Referências

bibliográficas

Créditos de

imagens

Índice

onomástico

326

Em busca de uma

síntese: diversidade,

valorização do

espaço público e

inserção urbana

300

Departamento de

Habitação Popular

da Prefeitura do

Distrito Federal:

a habitação como

um serviço público

286

A Liga Social

Contra o Mocambo

(LSCM): produção

de moradias ou

exclusão territorial

(11)
(12)

Este livro trata do processo de construção da política

pú-blica de habitação no Brasil, com ênfase nos aspectos

relacionados com a arquitetura e o urbanismo e foco no

período entre 1930 e 1964, quando ocorrem, de acordo com

as premissas que orientam esta investigação (Bonduki,

1998), as origens da ação do Estado na questão da

mora-dia econômica.

A partir de uma longa e abrangente pesquisa, que envolveu

grande número de pesquisadores de iniciação científica,

mestrado, doutorado e pós-doutorado, sob minha

orienta-ção e coordenaorienta-ção, este trabalho procurou construir uma

base empírica até então inexistente, capaz de dar suporte

a uma análise aprofundada sobre uma etapa fundamental

da formulação da política habitacional no país.

A publicação não se limita, entretanto, ao período que foi

o foco principal da pesquisa. Preliminarmente, objetiva-se

situar este período num contexto histórico mais amplo: os

cem anos de ação estatal na problemática habitacional que

se completaram em 2012, mostrando como se foram

cons-truindo os elementos essenciais de uma política

habitacio-nal no país. Desse modo, é possível enquadrar

adequada-mente a contribuição específica desse período, relacionada

com uma especial preocupação com a qualidade de projeto

arquitetônico e inserção urbanística.

O trabalho defende a tese de que, na segunda década do

século XXI, alcançaram-se as condições para que o direito à

habitação digna possa ser garantido para todos os cidadãos

brasileiros. No entanto, a questão fundiária, a qualidade

do projeto e a inserção urbana dos conjuntos habitacionais

estão distantes das preocupações dos atuais governos no

enfrentamento do problema, o que dá sentido e atualidade

para este livro. Ao resgatar uma faceta pouco conhecida da

história da arquitetura e do urbanismo do país, procura-se

aqui contribuir, modestamente, para uma correção de

ru-mos da atual política habitacional brasileira.

Para desenvolver essa hipótese, foi necessário construir uma

periodização da trajetória da ação do Estado na questão da

habitação, procurando identificar como ela foi tratada em cada

momento e sintetizar os avanços conquistados e as

limita-ções e entraves encontrados, com ênfase nos aspectos

ar-quitetônicos e urbanísticos.

Este esforço não pretende, nem de longe, esgotar uma tarefa

de maior fôlego, que consiste na elaboração de uma

histó-ria das políticas públicas de habitação no país. O livro

(13)

nas pavimenta um pouco mais este caminho. A intenção foi

traçar um quadro referencial que possa mostrar a

contri-buição que cada um dos períodos retratados trouxe para

alcançar a situação promissora e desafiante que se atingiu

em 2011 e, em particular, situar num contexto histórico

am-plo o que representou o período para a construção da

polí-tica pública em questão.

É nesse sentido que emerge o principal objetivo da pesquisa

que deu origem a este livro: levantar, sistematizar e

anali-sar a produção realizada pelos órgãos públicos e

profissio-nais que participaram da elaboração do primeiro ciclo de

empreendimentos habitacionais implantados por iniciativa

do poder público no Brasil.

A partir da análise de toda a produção habitacional

realiza-da entre 1930 e 1964, obtirealiza-da a partir de um levantamento de

larga escala em todo o território nacional e de um enorme

esforço de processamento do material levantado – que

ge-rou o inventário apresentado no Volume 2 do livro –, a

hipó-tese que se procura desenvolver é que a principal

contri-buição do período para a construção de uma política pública

de habitação no Brasil foi no campo de arquitetura e

urba-nismo, envolvendo uma ampla gama de propostas que eram

inovadoras naquele momento e continuam atuais para um

enfrentamento consistente do problema da moradia

econô-mica e social no país.

Questões de grande atualidade, como processos de

constru-ção industrializada, heterogeneidade de tipologias

habitacio-nais, diversidade arquitetônica, adequada inserção urbana

e valorização dos espaços públicos, foram desenvolvidas

nos empreendimentos realizados no período, com melhor ou

pior resultado, mas definindo uma agenda que hoje não só

não vem sendo implementada, como tem sido negligenciada

pelos governos que, em diferentes níveis, têm enfrentado a

questão habitacional.

O aprofundamento da pesquisa

iniciada em

Origens da habitação

 social no Brasil

A investigação que deu base empírica a este livro é a

conti-nuidade e o aprofundamento de estudo anterior que resultou

na minha tese de doutorado e no livro

Origens da habitação  social no Brasil

(Bonduki, 1994; 1998a), que resgatou a

produ-ção habitacional do período de 1930 a 1964, inserida no

con-texto de modernização, intensificação da acumulação do

ca-pital, transformação das condições de reprodução da força

de trabalho e intensa urbanização. Esses processos foram

decorrentes da implementação do projeto

nacional-desen-volvimentista, a partir da Revolução de 1930, pelos governos

Vargas, que atinge seu clímax com Juscelino Kubitschek e a

implantação de Brasília.

O trabalho mostrou que a forte intervenção do Estado, a partir

de 1930, que gerou o deslocamento de uma economia de base

agrário-exportadora para uma de base urbano-industrial

(Oli-veira, 1971), exigiu medidas para reduzir o custo do trabalho

urbano, gerando, entre outras consequências, a

transforma-ção do problema da habitatransforma-ção numa questão social. Iniciativas

governamentais tomadas nesse sentido definiram o perfil do

enfrentamento do problema habitacional na segunda metade

do século XX. Entre elas, podem ser destacadas a

regulamen-tação das relações entre proprietários e inquilinos, com a

re-gulação dos aluguéis, o estabelecimento de condições para

a ampliação em larga escala do padrão periférico de

cresci-mento urbano, baseado no trinômio acesso informal à terra,

autoconstrução e casa própria, e o início do financiamento e

da produção de habitação social por entidades públicas.

Entre os inúmeros aspectos tratados em

Origens

, o que

ga-nhou mais repercussão, sobretudo na área acadêmica de

Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo, foi a revelação

do ciclo de projetos habitacionais desenvolvidos pelos

insti-tutos de aposentadoria e pensões e outros órgãos atuantes

no período.

(14)

Até então praticamente desconhecidos (com exceção da

con-tribuição de A. E. Reidy), pela historiografia da arquitetura

brasileira, marcada por uma trama interpretativa desvendada

por Martins (1987), os projetos surpreenderam por sua

quali-dade urbanística e arquitetônica e por introduzirem questões

fundamentais para o enfrentamento massivo do problema da

habitação, como a produção seriada e estandardização, que

foram incorporadas nas propostas desenvolvidas no país

como uma repercussão do ideário moderno, em particular

das teses formuladas no âmbito dos Congressos

Internacio-nais de Arquitetura Moderna (Ciams). O interesse sobre essa

faceta da análise foi bastante expressivo entre os arquitetos e

urbanistas, potencializado pelo fato de que a qualidade da

pro-dução habitacional deixou de ser um aspecto relevante no

pe-ríodo seguinte, o da massiva produção financiada pelo Banco

Nacional da Habitação (BNH), criado em 1964, e, a bem dizer,

segue assim até hoje.

Apesar da repercussão que esse aspecto ganhou, é

necessá-rio ter em conta que a pesquisa que fundamentou

Origens da habitação social no Brasil

 não tinha como foco exclusivo nem

principal uma análise aprofundada desses conjuntos

resi-denciais. O objetivo era identificar como o Estado interveio

na questão habitacional no âmbito da construção de um pro

- jeto de desenvolvimento para o país, na perspectiva de

reve-lar o contexto em que o problema habitacional

transformou--se em uma questão social no Brasil.

De caráter eminentemente interdisciplinar, a tese envolvia,

além de uma reflexão inovadora no âmbito da História da

Ar-quitetura e do Urbanismo, análises de Economia Política,

So-ciologia e História Social sobre diferentes aspectos dos

pro-cessos tratados, que iam muito além da produção estatal de

habitação social. A importância que ganhou o subtema dos

conjuntos residenciais e de sua relação com a arquitetura

moderna acabou por obscurecer a análise de outras

ques-tões de grande importância que ainda não tinham sido

in-vestigadas, como as razões que levaram à promulgação, em

1942, e manutenção por décadas da Lei de Inquilinato, objeto

que, originalmente, era o objetivo principal da pesquisa.

Por essa razão, o levantamento e a análise da produção

habi-tacional realizada no período não foram exaustivos naquele

livro. O estudo foi desenvolvido a partir de um número

re-lativamente pequeno de empreendimentos, embora fossem

alguns dos mais significativos do ponto de vista dos projetos

arquitetônicos. Ainda não era possível identificar com

clare-za as diferentes políticas de projeto desenvolvidas por cada

um dos órgãos promotores, nem as especificidades das suas

organizações; as influências internacionais não estavam

su-ficientemente mapeadas. Até mesmo detalhes importantes

dos projetos revelados eram desconhecidos.

A investigação realizada até aquele momento era suficiente

para desenvolver as hipóteses principais daquela tese, em

especial o papel da habitação no âmbito da política de redução

do custo de reprodução da força de trabalho e de proteção aos

trabalhadores com carteira assinada e a importância desse

ciclo de conjuntos residenciais para a arquitetura moderna

brasileira. No entanto, era necessário um aprofundamento

substancial da investigação para que se pudesse chegar a

conclusões mais definitivas sobre o que foi a ação estatal na

questão da habitação no período que antecedeu a criação do

BNH e sobre qual seria sua contribuição para o

aperfeiçoa-mento da política habitacional brasileira.

Arquitetura moderna e habitação

econômica no Brasil

Para aprofundar o estudo desse objeto foi proposta uma nova

investigação, que deu as bases empíricas para este livro. O

objetivo principal da pesquisa foi realizar um

levantamen-to complelevantamen-to dos empreendimenlevantamen-tos habitacionais realizados

por órgãos estatais no período de 1930 a 1964, analisar

deta-lhadamente os mais significativos e enquadrar esse ciclo no

âmbito da trajetória mais geral do enfrentamento do

proble-ma habitacional no Brasil no século XX.

A primeira etapa dessa investigação foi desenvolvida entre

1997 e 2001, no antigo Departamento de Arquitetura e

Urba-nismo da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP),

(15)

onde fui professor por vinte anos, como uma das pesquisas

específicas integrantes do projeto temático “Arquitetura

Mo-derna e Habitação Econômica no Brasil (1930-1964)”, que

reu-niu cinco pesquisadores principais da EESC-USP e da

Faculda-de Faculda-de Arquitetura e Urbanismo da UniversidaFaculda-de Faculda-de São Paulo

(FAU-USP), sob minha coordenação e da professora Maria Ruth

Sampaio. Esse projeto, apoiado pela Fundação de Apoio à

Pes-quisa do Estado de São Paulo (Fapesp), objetivava estudar

di-ferentes recortes da questão da habitação econômica no

perío-do: produção pública, produção privada, áreas residenciais

das cidades novas, legislação e instituições relacionadas com

a questão urbana e habitacional e relação entre

desenvolvi-mento tecnológico e produção habitacional.

Nessa etapa, com a participação de bolsistas de iniciação

cien-tífica, iniciou-se o levantamento documental, bibliográfico,

ar-quitetônico e fotográfico da produção realizada, assim como a

identificação dos órgãos promotores e dos principais

profis-sionais envolvidos. Constataram-se as imensas dificuldades

para cumprir os objetivos da investigação, dados o

desmante-lamento e a dispersão dos arquivos que poderiam guardar a

documentação dos projetos, a forte descaracterização dos

em-preendimentos implantados, a ausência de registros

siste-matizados, a falta de processos de aprovação da maioria dos

projetos nas prefeituras e a dificuldade de acesso a muitos

conjuntos, por estarem em áreas sob domínio do crime

orga-nizado. Tais problemas dificultaram e atrasaram

substancial-mente o andamento do trabalho.

Outra questão foi a gradativa perda de vários profissionais que

atuaram nesses projetos, embora tenha sido possível

entrevis-tar muitos deles no âmbito da pesquisa. Entre 1994 e 2006,

fale-ceram Carlos Frederico Ferreira (1906-1995), Eduardo Kneese

de Mello (1906-1994), Carmen Portinho (1902-2002), Flávio

Marinho Rego (1925-2001), Francisco Bolonha (1923-2006),

Marcos Kruter (1917-1995) e White Lírio da Silva (1914-2005),

todos profissionais com presença destacada na produção

habi-tacional do período. Outros, doentes, não puderam receber os

pesquisadores, como o engenheiro Pedro Queima Coelho.

Ao final desta etapa, em 2001, já tinha sido alcançado um

re-sultado expressivo, embora insuficiente, com a organização

do acervo físico e digital de um grande número de

empreen-dimentos (embora ainda restrito sobretudo aos estados de

São Paulo e Rio de Janeiro), identificação da produção de cada

órgão promotor, recuperação da trajetória dos principais

pro-fissionais e análises específicas, realizadas tanto nos

relató-rios da pesquisa como em trabalhos de iniciação científica,

dissertações de mestrado e artigos acadêmicos. O livro

Ori- gens da habitação social no Brasil

, publicado mais de três anos

após a conclusão da tese de doutorado, já incorporou alguns

resultados preliminares.

Os pioneiros da habitação

social no Brasil

A segunda etapa da pesquisa, com o título de

Pioneiros da ha-bitação social no Brasil,

 foi desenvolvida entre 2005 e 2010 na

FAU-USP, com o apoio da Fapesp e através da Lei de Incentivo

à Cultura. Nessa etapa, tendo já como horizonte a edição do

livro, foram realizados a complementação do levantamento

de campo, o aprofundamento da análise e, sobretudo, a

siste-matização e preparação do material empírico, tendo em vista

sua publicação em um padrão de qualidade compatível com

a intenção de garantir um tratamento digno para o tema da

habitação social.

Nessa etapa, foi possível garantir uma abrangência

efetiva-mente nacional ao inventário dos conjuntos residenciais,

apresentado no Volume 2, garantindo a investigação em

to-das as regiões do país. No total, foram documentados 325

empreendimentos, em 81 municípios situados em 24

unida-des da federação, reunindo parcela expressiva das unidaunida-des

habitacionais identificadas na produção pública. Com esse

resultado, pode-se afirmar que o inventário, embora não

in-clua todos os empreendimentos realizados no período, é

am-plamente representativo do que foi realizado em todo o país.

Entre as várias atividades da etapa, foi realizado um amplo

levantamento em fontes documentais, com grande

(16)

dificul-dade, tendo em vista a extinção dos órgãos promotores e o

sucateamento dos seus arquivos. Na falta de documentação

de muitos empreendimentos, o levantamento arquitetônico e

urbanístico teve de ser feito

in loco

, apesar da

descaracteriza-ção dos projetos originais e das dificuldades de localizadescaracteriza-ção e

acesso a muitos dos conjuntos residenciais.

Para garantir a melhor legibilidade possível dos projetos,

todas as implantações urbanísticas, plantas das unidades e

outros elementos projetuais foram redesenhados,

procuran-do uniformizar as escalas para permitir análises

compara-tivas entre as soluções e propostas. Quando apresentavam

interesse no ponto de vista documental, foram incorporados

ainda desenhos e croquis originais dos autores.

O mesmo cuidado foi procurado, ainda, na documentação

fo-tográfica, com pesquisa à exaustão, em publicações antigas,

arquivos públicos e privados e álbuns de famílias, de

fotogra-fias de época capazes de revelar os conjuntos residenciais e

sua vida cotidiana. A tarefa, entretanto, não foi fácil. Por um

lado, os arquivos de fotografias dos órgãos promotores

de-sapareceram quase integralmente e, por outro, parte

signi-ficativa dos empreendimentos não foi contemplada, à época,

com uma adequada documentação fotográfica. Em

compen-sação, todos os empreendimentos inventariados foram

foto-grafados em registros contemporâneos.

Os onze empreendimentos selecionados para a análise em

profundidade, apresentados no Volume 3, receberam

trata-mento diferenciado, com a criação de modelos eletrônicos dos

projetos originais, que permitem conhecer as propostas dos

autores que nem sempre foram integralmente realizadas ou

que não são mais perceptíveis em face da

descaracteriza-ção dos conjuntos. Ainda assim, considerou-se importante

documentá-los em sua situação atual, em um ensaio especial

realizado pelo fotógrafo Bob Wolfenson.

A organização do livro

O livro está organizado em três volumes, que correspondem a

abordagens diferentes de apresentação do material

processa-do pela pesquisa e de análise processa-dos seus resultaprocessa-dos. O Volume 1

é dedicado às análises mais gerais; o Volume 2, ao inventário

da produção habitacional do período de 1930 a 1964; e o

Volu-me 3, à análise dos onze empreendiVolu-mentos mais significativos.

O volume 1 está dividido em três partes. A primeira é

dedica-da à análise sintética do processo de construção dedica-da política

pública de habitação no Brasil, estabelecendo uma

periodiza-ção e uma reflexão sobre os principais marcos e referências,

com os objetivos apresentados no início desta introdução. Sem

a preocupação de ser exaustiva, essa análise objetiva situar

o período estudado em profundidade em um quadro mais

ge-ral, identificando a contribuição específica da produção

habi-tacional realizada.

A segunda parte é dedicada à análise dos seis órgãos

promo-tores que consideramos os mais importantes do período: os

Institutos de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI),

dos Comerciários (IAPC) e dos Bancários (IAPB), a Fundação

da Casa Popular (FCP), o Departamento de Habitação Popular

da Prefeitura do Distrito Federal (DHP) e a Liga Social Contra

os Mocambos (LSCM). Essa parte está focada na identificação

das diretrizes de projeto desses órgãos, na perspectiva de

revelar as inovações por eles introduzidas e suas limitações

no quadro institucional e político do período.

A terceira parte é destinada a uma reflexão geral das

princi-pais características dos projetos desenvolvidos no período,

destacando os aspectos mais relevantes, como a diversidade

de produção, a valorização do espaço público, a preocupação

com uma adequada inserção urbana e a riqueza dos espaços

de sociabilidade criados.

O Volume 2 é inteiramente voltado para a apresentação do

inventário da produção habitacional do período. Está

organi-zado em nove capítulos, cada um destinado a um órgão ou grupo

de órgãos promotores, com exceção do último, que apresenta

as áreas residenciais de quatro cidades novas planejadas pelo

poder público. Essa divisão permite uma leitura mais orga

ni-zada das características dos empreendimentos

desenvolvi-dos por cada órgão, evidenciando suas diferenças e permitindo

uma observação mais clara da trajetória institucional e das

(17)

diretrizes de projeto habitacional desenvolvidas por essas

entidades.

O Volume 3 é composto de textos de apresentação e análise

de onze conjuntos residenciais selecionados para uma

refle-xão mais aprofundada. Trata-se de um esforço coletivo

reali-zado pela equipe de pesquisadores envolvidos com o trabalho

que, sob minha orientação e coordenação, desenvolveram

análises que procuram identificar o processo de elaboração

desses projetos, os avanços que trouxeram e a sua atualidade.

De autoria coletiva, os textos finais foram editados na

perspec-tiva de garantir uma estrutura uniformizada e gerar uma

com-preensão mais precisa da contribuição das iniciativas

estuda-das para a construção da política de habitação social no Brasil.

Agradecimentos

Este livro é uma versão revisada e ampliada da minha tese de

livre-docência

Pioneiros da Habitação Social no Brasil

,

defen-dida na FAU-USP em agosto de 2011. A concepção e a

coordena-ção deste projeto editorial são de minha autoria, em parceria

com a arquiteta Ana Paula Koury, coordenadora assistente.

Sem os apoios financeiros e patrocínios que recebeu, este

trabalho não teria sido possível. Os auxílios da Fapesp e, em

menor escala, do Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (CNPq) foram indispensáveis para a

realização da pesquisa e a participação de vários bolsistas

de iniciação científica no projeto. Em 2004, a proposta de

pu-blicação em livro foi selecionada para receber patrocínio, no

âmbito da Lei Federal de Incentivo Fiscal, em edital público

na área de Patrimônio e Documentação, promovido pela

Pe-trobras S/A, processo que deu o pontapé necessário para

ti-rar o levantamento de relatórios científicos e começar a

tor-nar sua divulgação uma realidade. A Fundação para o

Incre-mento da Pesquisa e do DesenvolviIncre-mento Industrial (Fipai),

vinculada à Escola de Engenharia de São Carlos –

institui-ção proponente do projeto ao Ministério da Cultura –, deu a

necessária cobertura administrativa para a correta utilização

dos recursos e os demais procedimentos legais

indispensá-veis para iniciativas com essas características.

Posteriormente, outras empresas participaram do

patrocí-nio: Itaú BBA, Imprensa Oficial, Votorantim, Cebrace e,

es-pecialmente, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN),

em-presa que possibilitou uma captação integral do orçamento

inicialmente previsto. Muitos amigos e colegas que

acredi-taram desde o início na importância desse trabalho tiveram

papel destacado para o resultado alcançado, dentre os quais

gostaria de citar: Suzana Pasternak, Marcos Barreto,

Candi-do Bracher, Mário Willian Sper, Cecília Scarlat, Ana Helena

Curti, Abilio Guerra e Silvana Romano. Luis Carlos do

Nas-cimento, gerente do projeto na Petrobras, e a equipe da

Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura do Ministério

da Cultura, em especial Alexandra Costa, tiveram a

compre-ensão da dimcompre-ensão e complexidade da publicação,

atenden-do os vários pediatenden-dos de aditamento atenden-do prazo de execução.

A Fapesp, parceira de várias etapas dessa pesquisa, apoiou

também sua publicação.

A publicação é resultado de um processo de pesquisa

realiza-do nos últimos quinze anos por uma grande equipe que vem se

dedicando de diversas formas ao trabalho. Ana Paula Koury,

Nilce Cristina Aravecchia Botas, Sálua Kairuz Manoel, Flavia

Brito do Nascimento, Elaine Pereira da Silva, Juliana Costa

Mota e Maria Lucia de Freitas, todas arquitetas e mestras com

passagem pela graduação, mestrado e/ou doutorado no agora

Instituto de Arquitetura e Urbanismo de São Carlos – onde a

pesquisa foi concebida e inicialmente desenvolvida –,

estive-ram por mais de uma década envolvidas nesta investigação e

participaram do levantamento de campo e da análise de

al-guns dos conjuntos residenciais estudados, apresentando em

coautoria comigo ou de maneira independente, sob minha

orientação, textos sintetizados no Volume 3 do livro.

Nilce, Sálua e Flavia, que finalizaram seus doutorados em 2011,

participam dos levantamentos e estudos relacionados com o

tema desde a iniciação científica, tendo realizado, em suas

dis-sertações ou teses, investigações específicas, respectivamente,

sobre o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários,

a Fundação da Casa Popular e o Departamento de Habitação

Popular da Prefeitura do Distrito Federal, trabalhos que foram

referências fundamentais para o presente estudo.

(18)

Muitos outros alunos de graduação e de pós-graduação em

arquitetura da EESC-USP e da FAU-USP, além de

colaborado-res de outras instituições, estiveram envolvidos nos

levanta-mentos de campo e sistematização do material de pesquisa:

na primeira etapa, entre 1987 e 1995, os estudantes e

bolsis-tas de iniciação científica Maurício Ribeiro da Silva, Maria

Cláudia de Oliveira, Mayra Carvalho; na segunda etapa, entre

1997 e 2001, as estudantes e bolsistas de iniciação científica

Elaine Pereira da Silva, Nilce Cristina Aravecchia Botas, Sálua

Kairuz Manoel, Juliana Costa Mota, Paola Werneck Padovani,

Silvia Siscar, Manoela C. Souza, Rafael M. Esposel, Ana Paula

Cássago e Paola Moreno Bernardi e as mestrandas Alexandra

de Souza Frasson e Flávia Brito do Nascimento; na terceira

etapa, entre 2005 e 2010, além das pesquisadoras principais

 já citadas, os estudantes e bolsistas de iniciação científica

Amália dos Santos, Rodrigo Minoru, Tatiana Zamoner, Inês

Pereira Coelho Bonduki e Juliana Tiemi.

Participou ainda dos levantamentos de campo, de maneira mais

esporádica, um grande número de estudantes de graduação e

de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, de diversas

ins-tituições: Alexsandro de Almeida Pereira, Ana Maria Boschi da

Silva, Ana Marta Branquinho e Silva, Ana Paula Cássago, Camila

Opipari Capitanini, Carlos Frederico Lago Burnett, Carolina M.

Chaves, Eduardo Henrique de Souza, Felipe de Araujo Contier,

Fernanda Accioly, Fernando Domingues Caetano, Francisco

Sales Trajano Filho, Fúlvio Teixeira, George Alexandre Ferreira

Dantas, Glaucio Henrique Chaves, Kelly Yamashita, Liah

Bea-triz Aidukaits, Luciana Dornellas, Maira de Carvalho, Manoela

C. Souza, Maria Beatriz Camargo Cappelo, Maria Cláudia de

Oliveira, Maristela Siolari, Marluce Wall de Carvalho Venâncio,

Mauricio Ribeiro da Silva, Paola Moreno Bernardi, Pablo

Igle-sias, Patricia Lustosa, Paulo Eduardo Vasconcelos, Paulo Silva,

Rafael M. Esposel, Raquel Schenkman, Renata Bogas Gradin,

Renata Campello Cabral, Renato Pequeno, Ricardo Trevisan,

Tatiana Salema Marques e Vivian Cotta. Ao final do Volume 2,

está identificada a autoria dos relatórios dos levantamentos de

campo realizados pelos pesquisadores e colaboradores, o que

permite dimensionar a contribuição de cada um para o

resul-tado final da investigação.

A construção dos modelos eletrônicos no software Revit foi

supervisionada por Ana Paula Koury, coordenada por Luiz

Augusto Contier e Miriam Castanho e executada pelos

esta-giários Fábio Burgos Garcia, Felipe de Araujo Contier,

Mu-rillo Moralles e Raquel Schenkman.

Os desenhos finais de apresentação foram elaborados por

Douglas Uemura Olim Marote, Natália Held e Ybi Arquitetura

e Urbanismo, a partir dos desenhos em CAD coordenados por

Ana Paula Koury e desenvolvidos por Acácia Furuya, André

Ramos, Bruna Zendron, Bruno Salvador, Celina Sayuri Fujii,

Claudiano Ribeiro de Souza, Danyelle Frascareli, Débora

Ca-zarini Neme, Donizetti Aparecido Beccaro, Henrique Amorim

Diamantino, Luis Filipe Magalhães Rodrigues, Rafael

Andra-de e Thammy Cervi.

Colaboraram na edição do livro, com papel destacado nas

várias tarefas necessárias para organização e

sistematiza-ção do acervo, montagem do inventário e selesistematiza-ção de imagens

que integram essa publicação, os hoje arquitetos Amália dos

Santos, Rodrigo Minoru, Inês Bonduki e Juliana Tiemi, que

co-meçaram a participar do projeto como estudantes da FAU-USP

e se integraram no projeto como pesquisadores assistentes,

com grande dedicação. A seleção e edição final das fotos que

integram os Volumes 1 e 3 foram realizadas por Inês Bonduki,

com o apoio de Juliana Tiemi.

O projeto gráfico e a diagramação foram realizados por Chico

Homem de Melo e Lana Troia (Homem de Melo e Troia), que

tiveram a paciência e a compreensão necessárias para

en-frentar o trabalho de dimensão excepcional, em particular, na

edição do Volume 2, que exigiu nada menos que seis provas. O

mesmo esforço foi exigido de Neusa Caccese de Mattos e

Clau-dionor A. de Mattos (Escritta), que realizaram o penoso

traba-lho de revisão final do texto. O tratamento das imagens foi

re-alizado por Antônio Carlos Kehl e Silvana Panzoldo, e pelos

profissionais da Imprensa Oficial do Estado e da Editora Unesp.

O ensaio fotográfico de abertura dos capítulos do Volume 3 é

de Bob Wolfenson, cuja disposição para realizar o trabalho

agradeço. As fotografias aéreas recentes são de Inês Pereira

Coelho Bonduki. Grande parte das fotografias de

(19)

documen-tação, realizadas durante os levantamentos de campo, são de

minha autoria ou dos demais pesquisadores. Em São Paulo e

no Rio de Janeiro, onde foi necessário complementar o

levan-tamento fotográfico, participaram os fotógrafos Stepan Norair

Chahinian e Inês Pereira Coelho Bonduki. Os créditos das

fo-tografias incluídas no inventário estão identificados ao final de

todos os volumes.

Agradeço, ainda, aos secretários do Instituto de Arquitetura

e Urbanismo de São Carlos, no qual a pesquisa foi

desen-volvida até 2005, em particular Antonio João e Marta

Tessa-rin, Fátima Lourenço Leal, Lucinda Torres e Marcelo

Celes-tini, e às equipes da secretaria do Departamento de Projeto

e do Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos

da FAU-USP. Juliana Niero, secretária da Associação Casa

da Cidade, onde o grupo de pesquisa se instalou a partir de

2005, foi um apoio indispensável.

A interlocução intelectual que o convívio universitário em São

Carlos e em São Paulo permitiu foi essencial para a

realiza-ção deste trabalho. Em primeiro lugar, no âmbito do grupo

de pesquisa, onde pude, cotidianamente, compartilhar

espe-cialmente com Ana Paula e também com Nilce, Flávia e Sálua,

que me estimularam a enfrentar o desafio de levar adiante um

projeto dessa dimensão.

Os colegas do projeto temático “Habitação Econômica e

Arqui-tetura Moderna no Brasil”, professores Maria Ruth Sampaio,

Carlos Roberto Monteiro de Andrade, Sarah Feldman, José

Lira, Maria Lúcia Gitai e Paulo César Xavier, e os

companhei-ros do Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos,

Ermínia Maricato, Maria Lúcia Refinetti e João Whitaker Sette

Fereira, foram muito importantes para garantir um diálogo

mais amplo sobre o objeto específico da pesquisa, o que lhe

deu maior amplitude crítica.

O debate intelectual com os amigos Carlos Martins, Rossella

Rossetto, Raquel Rolnik, Luis Fernando Almeida e Pedro

Pau-lo Martoni Branco foi sempre muito estimulante nas

diferen-tes facetas da reflexão sobre a história da arquitetura

mo-derna brasileira e sobre as políticas públicas de habitação e

urbanismo.

Finalmente, cabe um agradecimento especial à Universidade

de São Paulo, em particular ao Instituto de Arquitetura e

Urba-nismo de São Carlos e à Faculdade de Arquitetura e

Urbanis-mo, e, ainda, à Universidade São Judas Tadeu, instituições que

abrigaram esta pesquisa e seus pesquisadores principais.

Como se vê, este trabalho é resultado de uma grande equipe

e de muitas colaborações, sem as quais ele não teria sido

pos-sível. No entanto, é minha toda a responsabilidade sobre

fa-lhas e lacunas, inevitáveis em um trabalho desta dimensão.

Uma homenagem aos que

se dedicam à habitação social

O país vem realizando, nos últimos anos, um enorme esforço

para criar um corpo de profissionais qualificados para

imple-mentar uma nova política habitacional e urbana. Em todo o

Brasil, começam a surgir técnicos, de várias formações, que

optam por se dedicar à dura tarefa de atuar em habitação

so-cial, campo profissional que era e ainda é muito desvalorizado.

Esse processo está apenas começando. Se for levado adiante

o objetivo de garantir a todo cidadão o acesso a uma moradia

digna, como está proposto na nova Política Nacional de

Habi-tação, a necessidade de profissionais será proporcional a um

déficit

acumulado de 7,9 milhões de moradias, uma demanda

futura de 27 milhões de unidades até 2023 e mais de 3,3

mi-lhões de pessoas vivendo em favelas e outras formas de

assen-tamentos de urbanização precária, conforme diagnosticou o

Plano Nacional de Habitação.

Não se constrói uma política pública sem o reconhecimento de

seus principais formuladores e executores. O esquecimento

dos que atuaram com empenho e seriedade nos órgãos

públi-cos e se dedicam a esse tema tem sido uma regra no país,

prá-tica que só desestimula um maior envolvimento com as causas

públicas. Resgatar e valorizar seu trabalho constitui uma etapa

importante da construção da política pública de habitação.

Ao divulgar e analisar as propostas, ideias, projetos e sonhos

dos primeiros profissionais que se dedicaram ao tema da

(20)

ha-bitação social, procura-se demonstrar que seu esforço não

foi em vão. Ao trazer à tona suas utopias, mas também as

dificuldades, constrangimentos, obstáculos e limitações que

enfrentaram para colocar em prática as concepções que

de-fenderam, procura-se mostrar que os problemas

enfrenta-dos hoje têm raízes profundas, que precisam ser conhecidas

e combatidas.

O esforço que realizamos para mostrar o trabalho por eles

realizados objetiva tratar com dignidade uma área de atuação

profissional que tem sido desprezada no âmbito da

arquitetu-ra, não merecendo o mesmo cuidado dedicado a temas de

menor importância, mas de mais

 glamour 

. Essa é a melhor

maneira de homenagear os pioneiros que lutaram para que a

moradia fosse tratada como uma questão pública. A eles, e a

todos os que se dedicam com convicção à habitação social no

Brasil, é dedicado este livro.

(21)

Departamento de

Habitação Popular da

Prefeitura do Distrito

Federal: a habitação

(22)

As ideias de Gilberto Freyre sobre as construções tradicio-nais, obviamente, chocavam-se com a visão uniformizadora e conservadora que Agamenon Magalhães procurou impor por sua Liga Social Contra o Mocambo. Mas o sociólogo per-nambucano também não encontraria eco no outro extremo do espectro ideológico – entre os formuladores do segundo projeto institucional que tem grande interesse no âmbito dos órgãos regionais, o Departamento de Habitação Popu-lar da Prefeitura do Distrito Federal.

A concepção de habitação desse órgão, formulada pela en ge-nheira Carmen Portinho, estava longe de associar o atendi-mento habitacional a uma estratégia anticomunista, como defendia a Igreja, ou a uma perspectiva de segregação so-cioterritorial como promoveu a LSCM. O DHP defendia a construção de grandes conjuntos coletivos em bairros con-solidados, com generosas áreas públicas e equipamentos sociais, propondo uma vida mais socializada e moderna. Por essa razão, o órgão considerava inadequadas as tipologias habitacionais formuladas pela FCP e pela LSCM – baseadas em casas unifamiliares. Para os mentores do DHP, entre os quais se destacava Affonso Eduardo Reidy, o principal arquiteto do órgão, esses tipos eram inadequados para as necessidades contemporâneas, por razões urbanísticas e enquanto modo de morar.

Embora progressista em vários aspectos, a concepção de habitação formulada por Portinho, baseada nos princípios defendidos nos Ciam, também desprezava os hábitos de morar tradicionais das populações rurais e sua cultura construtiva, considerada atrasada.

Ideologicamente situada no que poderia ser classificado como uma posição de “esquerda”, no polo oposto ao de Ma-galhães, a engenheira compartilhava das ideias do inter-ventor sobre o papel que os conjuntos residenciais podiam exercer na reeducação dos moradores de assentamentos precários, para difundir novos modos de habitar e intro-duzi-los na vida moderna. Só que, para ela, os princípios a serem valorizados deveriam ser a libertação da mulher das tarefas do lar e uma vida mais socializada, inserida em ambientes criados por uma arquitetura de vanguarda, que adotasse os pressupostos urbanísticos e construtivos de-fendidos pelos Ciams.

Carmen Portinho foi uma das poucas mulheres que se des-tacaram no mundo masculino, para não dizer machista, da construção civil brasileira. Terceira mulher a se formar em engenharia no Brasil, Carmen foi uma pioneira militante

feminista que, no final da década de 1920, ingressou como funcionária da Prefeitura do Distrito Federal e, logo em se-guida, tornou-se editora da Revista Municipal de Engenharia, principal publicação de engenharia e arquitetura do perío-do. Em 1948, tornou-se diretora do DHP, cargo que exerceu até 1960. Desde meados dos anos 1950, ela acumulou suas atividades na prefeitura com a direção do Museu de Arte Mo-derna do Rio de Janeiro, polo que reuniu a vanguarda artísti-ca e cultural do país. Exerceu essa função até 1966, quando passou a dirigir a Escola Superior de Desenho Industrial. Durante os doze anos em que permaneceu na chefia do DHP, Carmen reinou sem prestar contas a ninguém, po-dendo colocar em prática a concepção que julgava a mais adequada para enfrentar a questão urbana e habitacional. O arquiteto Francisco Bolonha, funcionário do DHP durante todo o período em que ela dirigiu o órgão, explicou, em de-poimento ao autor, o poder da diretora à testa do DHP:

O Correio da Manhã é que sustentava politicamente a Car-men. Mudava o prefeito e ela continuava na prefeitura, como diretora do Departamento de Habitação; não ligava, não dava bola para o secretário de Obras [seu chefe imediato], nem despachava com ele. Fazia por conta própria porque ti-nha o apoio do Correio.

Se, por um lado, essa autonomia permitiu que a engenhei-ra pudesse colocar em prática suas propostas, por outro, determinou um isolamento institucional que prejudicou uma ação mais ampla do DHP. O órgão praticamente não mantinha relações com os outros que atuavam na área da habitação, nem mesmo dentro da própria prefeitura, como se deduz pela afirmação de Bolonha: “Não [conheci] a Fun-dação da Casa Popular; era um órgão federal, ficava muito distante. Tinha também a Fundação Leão XIII, que eu não sei se era da Igreja ou da prefeitura. O Departamento de Habitação era muito isolado”.

A autonomia tornava necessário que Carmen Portinho batalhasse praticamente sozinha para obter os enormes recursos necessários para viabilizar os empreendimtos que implantou no DHP. Em vários depoimenempreendimtos e en-trevistas ao autor, a engenheira relatou o verdadeiro lobby que precisava fazer, anualmente, no Congresso Nacional e entre os prefeitos para inserir, no orçamento da Prefeitura do Distrito Federal, os recursos necessários para dar an-damento aos projetos do órgão, o que lograva obter, sobre-tudo, porque era apoiada pelo poderoso jornal Correio da Manhã, dirigido por seu irmão.

Carmen Portinho e Francisco Bolonha apresentam uma das maquetes do Conjunto Residencial Vila Isabel.

(23)

Carmen planejou uma intervenção ousada, programando a construção de dez conjuntos residenciais distribuídos nos diferentes bairros do Rio de Janeiro. No entanto, nos doze anos em que dirigiu o DHP, conseguiu planejar e iniciar apenas quatro empreendimentos, que nunca foram comple-tados: das 2.119 unidades projetadas, somente 699 foram efetivamente construídas. Apesar desse resultado limitado do ponto de vista quantitativo, os projetos do DHP foram ino-vadores e se destacaram no âmbito do ciclo de empreendi-mentos habitacionais dos anos 1940 e 1950, obtendo grande repercussão em nível nacional e internacional.

Elaborados pelos arquitetos Affonso Eduardo Reidy e Fran-cisco Bolonha, esses projetos concretizaram, com uma qua-lidade excepcional, a concepção da diretora, como pode ser visto no Volume 3, onde os conjuntos residenciais de Pedre-gulho e de Paquetá, assim como as trajetórias profissionais desses três profissionais, são analisados em profundidade. A efetividade da ação do DHP, em termos quantitativos e de impacto sobre as necessidades habitacionais da capital, talvez não fosse, para a engenheira, o aspecto mais impor-tante da intervenção. Miliimpor-tante nata, o que ela pretendia era gerar um efeito midiático capaz de demonstrar a su-perioridade da proposta e, desta forma, conseguir influen-ciar outras iniciativas mais amplas. De certa forma, ela e Reidy conseguiram isso quando defenderam, enquanto conselheiros da FCP, o projeto do Conjunto Residencial de Deodoro, elaborado segundo orientações semelhantes às do órgão que dirigia e dos princípios urbanísticos do arqui-teto. O empreendimento gerou 1.362 unidades habitacio-nais, o dobro de tudo o que o DHP construiu.

Na sintética análise do DHP que se pretende fazer neste capítulo, interessa identificar a concepção que orientou sua atuação e a contribuição que deu para a reflexão sobre a questão da habitação no Brasil. A dissertação realizada so-bre o órgão pela pesquisadora Flávia Brito do Nascimento (2004), no âmbito da investigação que gerou este livro, des-vendou de forma profunda suas origens, propósitos e atua-ção, constituindo uma das principais bases empíricas da reflexão aqui apresentada. Outras investigações sobre o DHP e sobre seus principais protagonistas, como Nobre (1999),

Portinho e Andrade (1999), Bonduki (2000a), Freire e Oliveira (2002) e Costa (2004), assim como a Revista Municipal de En-genharia e, sobretudo, os depoimentos e levantamentos do-cumentais realizados pela pesquisa, foram importantes fon-tes desta investigação.

A trajetória e o papel do DHP foram ofuscados pela sua prin-cipal realização, o Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Morais, o Pedregulho. Divulgado à exaustão em todo o mun-do, o conjunto se tornou uma das peças-chaves da arquite-tura moderna brasileira, que levou à exaltação do seu autor, o arquiteto Affonso Eduardo Reidy. Este acabou se tornando, para muitos dos críticos internacionais, uma referência fun-damental da arquitetura moderna brasileira por aliar a sua plasticidade com uma visão social (Bonduki, 1999).

Em consequência da importância de Pedregulho, o órgão que o promoveu foi quase sempre omitido, ou citado burocrati-camente, como se o empreendimento pudesse ter surgido apenas da vontade do arquiteto e não como resultado de um esforço institucional de uma grande equipe, em um contexto de crise habitacional e de reconhecimento da ne-cessidade de o Estado intervir nessa questão, situação que facilitava a aceitação de novas experiências e que gerou um ciclo importante de projetos habitacionais baseados nos princípios modernos.

Como foi mostrado em Bonduki (1998a), o protagonismo que a historiografia da arquitetura moderna brasileira e mundial reservou para Pedregulho, que obscureceu o ciclo de projetos investigado neste trabalho, também ofuscou a própria instituição que possibilitou sua existência, como de-mostrou Nascimento (2004).

Ao recuperar a trajetória e a concepção de habitação for-mulada pelo DHP – em grande parte decorrente da visão de Carmen Portinho, mas também resultado da atuação de seus inúmeros profissionais de primeira linha, arquitetos, engenheiros e assistentes sociais –, procura-se mostrar a multiplicidade de propostas promovidas pelo poder público visando ao enfrentamento da questão urbana e habitacional nos anos 1940 e 1950 , assim como explicitar as razões que geraram seu fracasso.

Fotos de alguns dos profissionais que atuaram no DHP.

Nesta página, de cima para baixo: o arquiteto Affonso Eduardo Reidy, em frente ao MAM; o engenheiro Sidney Santos; e a arquiteta Lygia Fernandes. Na página ao lado, Carmen Portinho assina sua posse como diretora do DHP, em 1946; Portinho, jovem engenheira feminista, entre os engenheiros da Prefeitura do Distrito Federal, na década de 1930.

(24)

As origens do DHP: o Departamento de

Construções Proletárias

Ao contrário da LSCM, que nasceu do zero, a partir da cam-panha contra os mocambos promovida por um interventor do Estado Novo apoiado pela elite local, o DHP foi o des-dobramento de um longo processo institucional, cuja ori-gem foi um órgão já existente na Secretaria Geral de Viação e Obras Públicas, a Divisão de Construções Proletárias, transformada, em 1940, em Serviço e, em 1942, em Depar-tamento, para assumir novas atribuições na segunda meta-de da década, quando Portinho assume sua direção. A Divisão, posteriormente, o Serviço e finalmente Depar-tamento de Construções Proletárias atuou durante vários anos, quase sem alarde (ao contrário do Serviço dos Par-ques Proletários, já descrito, que recebeu farta publicida-de), exercendo um papel importante no processo de difusão da casa própria autoempreendida nos subúrbios do Rio de Janeiro. Cabia ao Serviço conceder licenças e fiscalizar as construções de caráter popular. O novo Código de Obras do Distrito Federal (1937) definiu uma nova categoria de uso – “habitações proletárias de tipo econômico” – e estabeleceu que ela apenas poderia ser edificada nos subúrbios da ca-pital e na sua zona rural.

O objetivo desse dispositivo era consolidar a segmentação socioterritorial da cidade do Rio de Janeiro, reservando a “nova” Zona Sul (Copacabana, Ipanema e Leblon) para os mais ricos, a “antiga” Zona Sul (Catete e Glória) e a Zona Norte para o setor “médio” e a “periferia”, ou seja, o subúr-bio e a Zona Rural, para os pobres. A eletrificação da estrada de ferro, a abertura da Avenida Brasil e a tentativa de con-centrar as indústrias ao longo desses eixos de mobilidade rumo ao subúrbio facilitariam esse plano.

Como pontua Nascimento (2004), “A lei determinava não só o espaço geográfico das casas, mas também sua aparência física: determinava as formas de habitar do povo do subúr-bio, com referências higienistas”. As normas estabeleciam padrões construtivos, sanitários e de implantação no lote. Para liberar o proprietário do terreno da obrigação de con-tratar um profissional licenciado e de aprovar o projeto, o órgão passou a fornecer projetos de casas-tipo, que deviam ser obedecidos.

O objetivo era ampliar a presença do Estado na ocupação das áreas de expansão urbana, limitar o crescimento das favelas e estimular a difusão da casa própria autoconstruí-da por iniciativa do morador. Inicialmente, foram propostos três tipos de casas, com algumas variações, todas forma-das por um núcleo sanitário básico (banheiro e cozinha), somando no total de dois a quatro cômodos. Como afirma Nascimento (2004), “era um modelo de casa almejado por boa parte das elites interventoras para os populares, com padrões burgueses de domesticidade e privacidade”. De uma maneira geral, esses projetos-tipo não diferiam, subs-tancialmente, das casas isoladas que estavam sendo pro-postas pelos outros órgãos que atuavam no período. A transformação do Departamento de Construções Proletá-rias em Departamento de Habitação Popular, em 1946, não foi uma mera mudança de nome. Ao mesmo tempo em que a prefeitura, associada à Igreja católica, cuidaria das favelas por meio da Fundação Leão XIII, caberia ao DHP construir casas para os funcionários de salários baixos da prefeitura, que moravam em condições precárias. Isso significava que a prefeitura aceitava institucionalmente o problema, admi-tia que os trabalhadores precisavam de moradias e que a prefeitura devia construí-las.

A iniciativa se inseria em um processo mais amplo de cres-cente atuação do poder público no enfrentamento da ques-tão habitacional. Os IAPs já atuavam desde 1937 na pro-moção de conjuntos residenciais para os seus associados e o Estado de Pernambuco tinha, desde 1939, um instituto voltado para a construção de casas para os funcionários estaduais, o IPSEP, além da atuação da própria LSCM. A transformação do antigo Departamento de Construções Proletárias em Departamento de Habitação Popular ocor-reu em 1946, mesmo ano em que o governo Dutra criou a Fundação da Casa P opular.

A inovação do DHP foi sua concepção de habitação social e a possibilidade de profissionais comprometidos com a ar-quitetura moderna estarem à testa de um órgão que podia produzir conjuntos residenciais sem as limitações institu-cionais e econômicas que vigoravam nos IAPs.

(25)

A concepção de habitação do DHP

A criação do novo departamento, em abril de 1946, veio na sequência de uma série de artigos sobre habitação social que Carmen Portinho publicou na imprensa assim que vol-tou da Inglaterra, no final de 1945, depois de ter visitado as áreas devastadas pela guerra e conhecido os planos urba-nísticos e habitacionais de reconstrução de suas cidades. É possível identificar nos propósitos do novo órgão uma forte relação com o discurso e as propostas que a engenheira estava defendendo. Não cabe aqui se alongar sobre o con-teúdo dos artigos de Carmen, nem das influências interna-cionais que recebeu, exaustivamente analisadas por Nas-cimento (2004) e Nobre (1999) e aprofundadas no Volume 3 deste livro, mas analisar como ela deu concretude para as ideias que trouxe para o DHP.

Quando o órgão foi criado, em 1946, o engenheiro Antônio Arlindo Laviola foi indicado diretor; a engenheira ficou res-ponsável por chefiar um dos seus serviços, enquanto Reidy assumiu a chefia do serviço de Planejamento, onde os proje-tos dos conjunproje-tos residenciais deveriam ser elaborados. Em-bora, nesse momento, tenha se iniciado o planejamento da intervenção e, sobretudo, a elaboração do projeto de Pedre-gulho, cuja primeira publicação é de 1946, a ênfase continuou sendo o licenciamento e a fiscalização de habitações popu-lares, pois Laviola era contra conjuntos sofisticados como aquele, conforme declarou posteriormente (FCP, 1954b). A construção de conjuntos residenciais somente se torna uma prioridade do DHP quando Carmen Portinho é nomea-da diretora do órgão, em 1948, tornando-se a primeira mu-lher a assumir um cargo de direção na Secretaria de Viação e Obras Públicas. No mesmo dia em que o prefeito Mendes de Morais indicou Portinho, Reidy deixou a chefia do Ser-viço de Planejamento, que foi ocupado por Bolonha, para assumir o cargo de diretor do Departamento de Urbanismo, função que ocupou por três períodos relativamente curtos entre 1948 e 1955, ficando lotado, nos intervalos, no DHP. Determinada e competente, a nova diretora levou a ferro e fogo sua pretensão de implantar conjuntos residenciais de um padrão excepcional de qualidade arquitetônica e com uma concepção inovadora de enfrentamento da questão habitacio-nal: “se construídos de acordo com o plano, teremos habita-ções maravilhosas, obedecendo ao mesmo tempo às neces-sidades sociais dos seus moradores e às exigências estéticas modernas”, afirmou Portinho em 1949 (Nascimento, 2004).

(26)

Para colocar de pé essas “habitações maravilhosas” e via-bilizar o plano, Carmen Portinho se cercou de profissionais competentes nas áreas de arquitetura, engenharia e assis-tência social. Além de Reidy e Bolonha, devem ser citados, entre outros, os arquitetos Hélio Modesto e Lygia Fernan-des, o engenheiro Sidney Santos, que calculou as fenome-nais estruturas de Pedregulho e Gávea, e a assistente so-cial Anna Augusta de Almeida, pioneira no trabalho soso-cial voltado para a habitação. Além desses profissionais “fixos”, vários outros colaboraram com o DHP de maneira pontual, geralmente de forma voluntária, como o paisagista Rober-to Burle Marx e os artistas plásticos Candido Portinari e Anísio Medeiros.

O DHP formulou um programa habitacional prevendo um empreendimento em cada distrito da cidade, unidades au-tônomas que seriam servidas por uma gama completa de equipamentos sociais. A ideia, de grande atualidade, era aproximar a moradia do trabalho, de modo que o traba-lhador não precisasse perder tempo nesse deslocamento. Para Reidy, deviam

existir em cada bairro habitações baratas, já que cada bairro tem os seus trabalhadores. Além de terem que morar em algum lugar, também é preciso que se pense sempre em […] avaliar os nossos meios de transportes, como poupar-lhes um cansaço que prejudica a saúde e o trabalho.

Com base nesse pressuposto, o plano previa a edificação de dez conjuntos residenciais, destinados “inicialmente para funcionários públicos municipais” (Bonduki, 2000a). Ao contrário dos outros órgãos que atuaram no Rio de Ja-neiro no período, o objetivo do DHP não se relacionava dire-tamente com a favela, mas estava implícito que, ao atender funcionários de baixa renda, contribuiria para evitar a for-mação de novos assentamentos ou para retirar moradores que nelas viviam. Além disso, o departamento acabou sen-do acionasen-do para produzir habitações em favelas ocupadas por funcionários, como foi o caso de Paquetá, ou até mesmo para intervir em um grande assentamento que nada tinha a ver com a clientela prioritária do órgão, como o estudo de-senvolvido por Reidy para substituir a Favela da Catacumba por um conjunto residencial.

Maquetes dos conjuntos residenciais da Gávea, na página ao lado, e de Pedregulho, acima, junto às fotos aéreas desses empreendimentos em 2013, que permitem identificar o quanto do projeto original foi implantado. Na Gávea, apenas o bloco serpenteante foi edificado, enquanto os blocos residenciais retos e os equipamentos sociais ficaram no papel. Em Pedregulho, com exceção do edifício alto, quase todo o projeto foi construído.

Referências

Documentos relacionados

Water and wastewater treatment produces a signi ficant amount of methane and nitrous oxide, so reducing these emissions is one of the principal challenges for sanitation companies

Neste estudo, o autor mostra como equacionar situações–problema, do tipo: “Descubra dois números cuja a soma é 20 e cuja a diferença é 5”, propondo primeiro que o

Evacuar imediatamente a área do derramamento ou vazamento, em todas as direções, num raio de pelo menos 15 m (consultar a Tabela de Distância de Evacuação. Se o nome do produto for

Estudar o efeito da plastificação do ATp com glicerol nas características físico-químicas da blenda PLA/ATp; Analisar a mudança na cristalinidade dos laminados submetidos a

the human rights legislated at an international level in the Brazilian national legal system and in others. Furthermore, considering the damaging events already

nesse contexto, principalmente em relação às escolas estaduais selecionadas na pesquisa quanto ao uso dos recursos tecnológicos como instrumento de ensino e

Declaro que fiz a correção linguística de Português da dissertação de Romualdo Portella Neto, intitulada A Percepção dos Gestores sobre a Gestão de Resíduos da Suinocultura:

Assim sendo, o espaço da estrada é determinante como facilitador de um exercício de uma sexualidade mais plena, aberta e satisfatória, pelo menos para Thelma, e ao