I
I
Os pi
Os pioneir
oneir
os
os
da habitação
da habitação
social
social
Presidente do Conselho Curador
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Pioneiros da Habitação Social Pioneiros da Habitação Social Coordenação
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Volume 1 – Cem anos de política pública no Brasil
Volume 1 – Cem anos de política pública no Brasil Concepção e Coordenação Editorial
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Pesquisa, textos e legendas Nabil Bonduki Nabil Bonduki Edição de fotografia e ensaio fotográfico
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Os pioneiros da habitação social no Brasil: volume 01 / Os pioneiros da habitação social no Brasil: volume 01 / Nabil Bonduki. – 1. ed. –
Nabil Bonduki. – 1. ed. – São Paulo: Editora Unesp: Edições SescSão Paulo: Editora Unesp: Edições Sesc São Paulo, 2014.
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ISBN Unesp 978-85-393-0522-3 ISBN Unesp 978-85-393-0522-3 ISBN
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1. Arquitetura rquitetura – Brasil – Brasil – Hist– História. ória. 2. Ar2. Arquitetura quitetura e hise história. tória. 3.3. Arquitetur
Arquitetura e Estado – Brasil. 4. a e Estado – Brasil. 4. Planejamento urbano – Brasil –Planejamento urbano – Brasil – História. I. Bonduki, Nabil. II. Koury, Ana Paula.
História. I. Bonduki, Nabil. II. Koury, Ana Paula. 14-11356
Os pione
Os pione
ir
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os
os
da habitação
da habitação
social
social
Volume
Volume
Cem anos de
Cem anos de
construção de política
construção de política
pública no Brasil
pública no Brasil
Nabil Bonduki
Nabil Bonduki
1
1
nuciosa pesquisa sobre a política pública brasileira para
nuciosa pesquisa sobre a política pública brasileira para
a habitação entre 1930 e 1964. Sob o olhar da Arquitetura
a habitação entre 1930 e 1964. Sob o olhar da Arquitetura
e do Urbanismo e
e do Urbanismo e através de documentação textual e fo-através de documentação textual e
fo-tográfica,
tográfica,Os pioneiros da habitação socialOs pioneiros da habitação social traz a trajetória e traz a trajetória e
as inovações tecnológicas das implantações de conjuntos
as inovações tecnológicas das implantações de conjuntos
habitacionais de várias regiões do país. É de extrema
habitacionais de várias regiões do país. É de extrema
im-portância para o resgate e para o
portância para o resgate e para o registrregistro do patrimônio o do patrimônio ar-
ar-quitetônico e urbanístico de tais construções, assim como
quitetônico e urbanístico de tais construções, assim como
consolida a contribuição histórica para o desenvolvimento
consolida a contribuição histórica para o desenvolvimento
destas áreas no Brasil. Auxiliar na organização e
destas áreas no Brasil. Auxiliar na organização e
dispo-nibilização de material tão relevante é compatível com o
nibilização de material tão relevante é compatível com o
que almejamos ao selecionar um projeto. É motivo de
que almejamos ao selecionar um projeto. É motivo de
or-gulho saber que os resultados do trabalho agora estarão
gulho saber que os resultados do trabalho agora estarão
disponíveis para estudantes, pesquisadores e qualquer
disponíveis para estudantes, pesquisadores e qualquer
in-teressado no registro deste período da ocupação urbana
teressado no registro deste período da ocupação urbana
no século XX.
no século XX.
ra brasileira em suas mais diversas manifestações,
ra brasileira em suas mais diversas manifestações,
articu-lados com as políticas públicas para o setor e focados na
lados com as políticas públicas para o setor e focados na
afirmação da identidade brasileira, além de contribuir para
afirmação da identidade brasileira, além de contribuir para
a permanente construção da memória cultu
a permanente construção da memória cultural. Ao patroci-ral. Ao
patroci-nar este projeto, a Petrobras reafir
nar este projeto, a Petrobras reafirma o objetivo de incen-ma o objetivo de
incen-tivar o trabalho de resgate e organização do acervo
tivar o trabalho de resgate e organização do acervo
mate-rial e imatemate-rial da nossa cultura, com a intenção firme de
rial e imaterial da nossa cultura, com a intenção firme de
ampliar a oportunidade de acesso público a esses acervos.
ampliar a oportunidade de acesso público a esses acervos.
P
Na história da arquitetura e urbanismo brasileira, a habitação social
sempre foi tratada como um objeto de segunda categoria diante dos
edifícios monumentais e das residências da elite. O registro e a
aná-lise da moradia dos trabalhadores nunca tiveram o destaque
neces-sário, perdendo-se a memória sobre o espaço ocupado pelos mais
pobres. Esta publicação procura suprir essa lacuna. Desenvolvida na
USP entre 1997 e 2013 — inicialmente na Escola de Engenharia de São
Carlos e, após 2005, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo —, a
pesquisa que originou esta obra identificou, levantou e sistematizou
a produção de habitação social realizada pelo poder público em todo
o país na era Vargas.
Organizado em três volumes, o livro foi concebido para tratar esse
tema com a mesma qualidade que tem sido dada à “alta arquitetura”.
Neste primeiro volume, analisa-se a ação dos principais órgãos
pro-motores, no âmbito de um inédito estudo sobre a história da ação
es-tatal na questão habitacional no Brasil, do início do século XX até os
dias atuais. No segundo volume, apresenta-se o inventário de toda a
produção, com fichas descritivas por empreendimento e farta
ilustra-ção. No terceiro volume, os principais empreendimentos foram
anali-sados, incluindo modelos tridimensionais dos projetos originais e um
ensaio fotográfico realizado pelo fotógrafo Bob Wolfenson.
A publicação não se viabilizaria sem o apoio da USP, da Fapesp, da
Fundação para o Incremento da Pesquisa e Aperfeiçoamento Industrial
e de várias empresas, que pela Lei de Incentivo Fiscal patrocinaram o
projeto, selecionado em edital público promovido pela Petrobras
vol-tado para a área de “Patrimônio e Documentação”. O acolhimento que
a proposta obteve da Editora Unesp e das Edições Sesc São Paulo foi
fundamental para sua concretização.
A todos os que contribuíram com este trabalho, em especial, os
pes-quisadores do nosso Grupo de Pesquisa, por onde passaram dezenas
de estudantes de graduação e pós-graduação ao longo de dezesseis
anos, nossa gratidão pelo esforço realizado. Não se avançará no
en-frentamento do problema habitacional brasileiro, com a qualidade
que tem faltado, sem a memória e a reflexão sobre o que já se produziu.
Este livro joga mais uma pedrinha no árduo caminho para garantir o
direito à habitação digna para todos.
Prof. Dr. Nabil Bonduki
CEM ANOS DE CONSTRUÇÃO DA POLÍTICA PÚBLICA DE HABITAÇÃO NO
BRASIL: O DESAFIO DE UMA ARQUITETURA PARA A MAIORIA
40
Origens da
habitação social
1930-1964
62
A política
habitacional
e urbana do
regime militar
1964-1986
1
Apresentação
18
A produção rentista
da habitação
1889-1930
Sumário
78
Décadas perdidas
ou tempos de utopia
e esperança?
1986-2002
126
Desengavetando
documentos para
pensar o futuro
106
A Política Nacional de
Habitação do século XXI:
em direção ao direito à
moradia digna?
COMO OS PIONEIROS ÓRGÃOS PÚBLICOS
ENFRENTARAM A QUESTÃO DA HABITAÇÃO
136
Os Institutos de
Aposentadoria e
Pensões: previdência
e habitação social
164
Na vanguarda do
projeto habitacional
no Brasil: a concepção
de habitação do IAPI
1936-1966
198
A concepção
de habitação
do IAPC:
uma produção
dispersa
1934-1966
222
A concepção
de habitação
do IAPB: das casas
unifamiliares aos
edifícios modernos
inseridos nos
centros urbanos
1934-1966
244
A concepção de
habitação da
Fundação da Casa
Popular: a difusão
da casa própria
isolada e unifamiliar
Sumário
272
Os órgãos regionais:
as origens da
descentralização da
ação habitacional
374
Referências
bibliográficas
Créditos de
imagens
Índice
onomástico
326
Em busca de uma
síntese: diversidade,
valorização do
espaço público e
inserção urbana
300
Departamento de
Habitação Popular
da Prefeitura do
Distrito Federal:
a habitação como
um serviço público
286
A Liga Social
Contra o Mocambo
(LSCM): produção
de moradias ou
exclusão territorial
Este livro trata do processo de construção da política
pú-blica de habitação no Brasil, com ênfase nos aspectos
relacionados com a arquitetura e o urbanismo e foco no
período entre 1930 e 1964, quando ocorrem, de acordo com
as premissas que orientam esta investigação (Bonduki,
1998), as origens da ação do Estado na questão da
mora-dia econômica.
A partir de uma longa e abrangente pesquisa, que envolveu
grande número de pesquisadores de iniciação científica,
mestrado, doutorado e pós-doutorado, sob minha
orienta-ção e coordenaorienta-ção, este trabalho procurou construir uma
base empírica até então inexistente, capaz de dar suporte
a uma análise aprofundada sobre uma etapa fundamental
da formulação da política habitacional no país.
A publicação não se limita, entretanto, ao período que foi
o foco principal da pesquisa. Preliminarmente, objetiva-se
situar este período num contexto histórico mais amplo: os
cem anos de ação estatal na problemática habitacional que
se completaram em 2012, mostrando como se foram
cons-truindo os elementos essenciais de uma política
habitacio-nal no país. Desse modo, é possível enquadrar
adequada-mente a contribuição específica desse período, relacionada
com uma especial preocupação com a qualidade de projeto
arquitetônico e inserção urbanística.
O trabalho defende a tese de que, na segunda década do
século XXI, alcançaram-se as condições para que o direito à
habitação digna possa ser garantido para todos os cidadãos
brasileiros. No entanto, a questão fundiária, a qualidade
do projeto e a inserção urbana dos conjuntos habitacionais
estão distantes das preocupações dos atuais governos no
enfrentamento do problema, o que dá sentido e atualidade
para este livro. Ao resgatar uma faceta pouco conhecida da
história da arquitetura e do urbanismo do país, procura-se
aqui contribuir, modestamente, para uma correção de
ru-mos da atual política habitacional brasileira.
Para desenvolver essa hipótese, foi necessário construir uma
periodização da trajetória da ação do Estado na questão da
habitação, procurando identificar como ela foi tratada em cada
momento e sintetizar os avanços conquistados e as
limita-ções e entraves encontrados, com ênfase nos aspectos
ar-quitetônicos e urbanísticos.
Este esforço não pretende, nem de longe, esgotar uma tarefa
de maior fôlego, que consiste na elaboração de uma
histó-ria das políticas públicas de habitação no país. O livro
nas pavimenta um pouco mais este caminho. A intenção foi
traçar um quadro referencial que possa mostrar a
contri-buição que cada um dos períodos retratados trouxe para
alcançar a situação promissora e desafiante que se atingiu
em 2011 e, em particular, situar num contexto histórico
am-plo o que representou o período para a construção da
polí-tica pública em questão.
É nesse sentido que emerge o principal objetivo da pesquisa
que deu origem a este livro: levantar, sistematizar e
anali-sar a produção realizada pelos órgãos públicos e
profissio-nais que participaram da elaboração do primeiro ciclo de
empreendimentos habitacionais implantados por iniciativa
do poder público no Brasil.
A partir da análise de toda a produção habitacional
realiza-da entre 1930 e 1964, obtirealiza-da a partir de um levantamento de
larga escala em todo o território nacional e de um enorme
esforço de processamento do material levantado – que
ge-rou o inventário apresentado no Volume 2 do livro –, a
hipó-tese que se procura desenvolver é que a principal
contri-buição do período para a construção de uma política pública
de habitação no Brasil foi no campo de arquitetura e
urba-nismo, envolvendo uma ampla gama de propostas que eram
inovadoras naquele momento e continuam atuais para um
enfrentamento consistente do problema da moradia
econô-mica e social no país.
Questões de grande atualidade, como processos de
constru-ção industrializada, heterogeneidade de tipologias
habitacio-nais, diversidade arquitetônica, adequada inserção urbana
e valorização dos espaços públicos, foram desenvolvidas
nos empreendimentos realizados no período, com melhor ou
pior resultado, mas definindo uma agenda que hoje não só
não vem sendo implementada, como tem sido negligenciada
pelos governos que, em diferentes níveis, têm enfrentado a
questão habitacional.
O aprofundamento da pesquisa
iniciada em
Origens da habitação
social no Brasil
A investigação que deu base empírica a este livro é a
conti-nuidade e o aprofundamento de estudo anterior que resultou
na minha tese de doutorado e no livro
Origens da habitação social no Brasil(Bonduki, 1994; 1998a), que resgatou a
produ-ção habitacional do período de 1930 a 1964, inserida no
con-texto de modernização, intensificação da acumulação do
ca-pital, transformação das condições de reprodução da força
de trabalho e intensa urbanização. Esses processos foram
decorrentes da implementação do projeto
nacional-desen-volvimentista, a partir da Revolução de 1930, pelos governos
Vargas, que atinge seu clímax com Juscelino Kubitschek e a
implantação de Brasília.
O trabalho mostrou que a forte intervenção do Estado, a partir
de 1930, que gerou o deslocamento de uma economia de base
agrário-exportadora para uma de base urbano-industrial
(Oli-veira, 1971), exigiu medidas para reduzir o custo do trabalho
urbano, gerando, entre outras consequências, a
transforma-ção do problema da habitatransforma-ção numa questão social. Iniciativas
governamentais tomadas nesse sentido definiram o perfil do
enfrentamento do problema habitacional na segunda metade
do século XX. Entre elas, podem ser destacadas a
regulamen-tação das relações entre proprietários e inquilinos, com a
re-gulação dos aluguéis, o estabelecimento de condições para
a ampliação em larga escala do padrão periférico de
cresci-mento urbano, baseado no trinômio acesso informal à terra,
autoconstrução e casa própria, e o início do financiamento e
da produção de habitação social por entidades públicas.
Entre os inúmeros aspectos tratados em
Origens, o que
ga-nhou mais repercussão, sobretudo na área acadêmica de
Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo, foi a revelação
do ciclo de projetos habitacionais desenvolvidos pelos
insti-tutos de aposentadoria e pensões e outros órgãos atuantes
no período.
Até então praticamente desconhecidos (com exceção da
con-tribuição de A. E. Reidy), pela historiografia da arquitetura
brasileira, marcada por uma trama interpretativa desvendada
por Martins (1987), os projetos surpreenderam por sua
quali-dade urbanística e arquitetônica e por introduzirem questões
fundamentais para o enfrentamento massivo do problema da
habitação, como a produção seriada e estandardização, que
foram incorporadas nas propostas desenvolvidas no país
como uma repercussão do ideário moderno, em particular
das teses formuladas no âmbito dos Congressos
Internacio-nais de Arquitetura Moderna (Ciams). O interesse sobre essa
faceta da análise foi bastante expressivo entre os arquitetos e
urbanistas, potencializado pelo fato de que a qualidade da
pro-dução habitacional deixou de ser um aspecto relevante no
pe-ríodo seguinte, o da massiva produção financiada pelo Banco
Nacional da Habitação (BNH), criado em 1964, e, a bem dizer,
segue assim até hoje.
Apesar da repercussão que esse aspecto ganhou, é
necessá-rio ter em conta que a pesquisa que fundamentou
Origens da habitação social no Brasilnão tinha como foco exclusivo nem
principal uma análise aprofundada desses conjuntos
resi-denciais. O objetivo era identificar como o Estado interveio
na questão habitacional no âmbito da construção de um pro
- jeto de desenvolvimento para o país, na perspectiva de
reve-lar o contexto em que o problema habitacional
transformou--se em uma questão social no Brasil.
De caráter eminentemente interdisciplinar, a tese envolvia,
além de uma reflexão inovadora no âmbito da História da
Ar-quitetura e do Urbanismo, análises de Economia Política,
So-ciologia e História Social sobre diferentes aspectos dos
pro-cessos tratados, que iam muito além da produção estatal de
habitação social. A importância que ganhou o subtema dos
conjuntos residenciais e de sua relação com a arquitetura
moderna acabou por obscurecer a análise de outras
ques-tões de grande importância que ainda não tinham sido
in-vestigadas, como as razões que levaram à promulgação, em
1942, e manutenção por décadas da Lei de Inquilinato, objeto
que, originalmente, era o objetivo principal da pesquisa.
Por essa razão, o levantamento e a análise da produção
habi-tacional realizada no período não foram exaustivos naquele
livro. O estudo foi desenvolvido a partir de um número
re-lativamente pequeno de empreendimentos, embora fossem
alguns dos mais significativos do ponto de vista dos projetos
arquitetônicos. Ainda não era possível identificar com
clare-za as diferentes políticas de projeto desenvolvidas por cada
um dos órgãos promotores, nem as especificidades das suas
organizações; as influências internacionais não estavam
su-ficientemente mapeadas. Até mesmo detalhes importantes
dos projetos revelados eram desconhecidos.
A investigação realizada até aquele momento era suficiente
para desenvolver as hipóteses principais daquela tese, em
especial o papel da habitação no âmbito da política de redução
do custo de reprodução da força de trabalho e de proteção aos
trabalhadores com carteira assinada e a importância desse
ciclo de conjuntos residenciais para a arquitetura moderna
brasileira. No entanto, era necessário um aprofundamento
substancial da investigação para que se pudesse chegar a
conclusões mais definitivas sobre o que foi a ação estatal na
questão da habitação no período que antecedeu a criação do
BNH e sobre qual seria sua contribuição para o
aperfeiçoa-mento da política habitacional brasileira.
Arquitetura moderna e habitação
econômica no Brasil
Para aprofundar o estudo desse objeto foi proposta uma nova
investigação, que deu as bases empíricas para este livro. O
objetivo principal da pesquisa foi realizar um
levantamen-to complelevantamen-to dos empreendimenlevantamen-tos habitacionais realizados
por órgãos estatais no período de 1930 a 1964, analisar
deta-lhadamente os mais significativos e enquadrar esse ciclo no
âmbito da trajetória mais geral do enfrentamento do
proble-ma habitacional no Brasil no século XX.
A primeira etapa dessa investigação foi desenvolvida entre
1997 e 2001, no antigo Departamento de Arquitetura e
Urba-nismo da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP),
onde fui professor por vinte anos, como uma das pesquisas
específicas integrantes do projeto temático “Arquitetura
Mo-derna e Habitação Econômica no Brasil (1930-1964)”, que
reu-niu cinco pesquisadores principais da EESC-USP e da
Faculda-de Faculda-de Arquitetura e Urbanismo da UniversidaFaculda-de Faculda-de São Paulo
(FAU-USP), sob minha coordenação e da professora Maria Ruth
Sampaio. Esse projeto, apoiado pela Fundação de Apoio à
Pes-quisa do Estado de São Paulo (Fapesp), objetivava estudar
di-ferentes recortes da questão da habitação econômica no
perío-do: produção pública, produção privada, áreas residenciais
das cidades novas, legislação e instituições relacionadas com
a questão urbana e habitacional e relação entre
desenvolvi-mento tecnológico e produção habitacional.
Nessa etapa, com a participação de bolsistas de iniciação
cien-tífica, iniciou-se o levantamento documental, bibliográfico,
ar-quitetônico e fotográfico da produção realizada, assim como a
identificação dos órgãos promotores e dos principais
profis-sionais envolvidos. Constataram-se as imensas dificuldades
para cumprir os objetivos da investigação, dados o
desmante-lamento e a dispersão dos arquivos que poderiam guardar a
documentação dos projetos, a forte descaracterização dos
em-preendimentos implantados, a ausência de registros
siste-matizados, a falta de processos de aprovação da maioria dos
projetos nas prefeituras e a dificuldade de acesso a muitos
conjuntos, por estarem em áreas sob domínio do crime
orga-nizado. Tais problemas dificultaram e atrasaram
substancial-mente o andamento do trabalho.
Outra questão foi a gradativa perda de vários profissionais que
atuaram nesses projetos, embora tenha sido possível
entrevis-tar muitos deles no âmbito da pesquisa. Entre 1994 e 2006,
fale-ceram Carlos Frederico Ferreira (1906-1995), Eduardo Kneese
de Mello (1906-1994), Carmen Portinho (1902-2002), Flávio
Marinho Rego (1925-2001), Francisco Bolonha (1923-2006),
Marcos Kruter (1917-1995) e White Lírio da Silva (1914-2005),
todos profissionais com presença destacada na produção
habi-tacional do período. Outros, doentes, não puderam receber os
pesquisadores, como o engenheiro Pedro Queima Coelho.
Ao final desta etapa, em 2001, já tinha sido alcançado um
re-sultado expressivo, embora insuficiente, com a organização
do acervo físico e digital de um grande número de
empreen-dimentos (embora ainda restrito sobretudo aos estados de
São Paulo e Rio de Janeiro), identificação da produção de cada
órgão promotor, recuperação da trajetória dos principais
pro-fissionais e análises específicas, realizadas tanto nos
relató-rios da pesquisa como em trabalhos de iniciação científica,
dissertações de mestrado e artigos acadêmicos. O livro
Ori- gens da habitação social no Brasil, publicado mais de três anos
após a conclusão da tese de doutorado, já incorporou alguns
resultados preliminares.
Os pioneiros da habitação
social no Brasil
A segunda etapa da pesquisa, com o título de
Pioneiros da ha-bitação social no Brasil,foi desenvolvida entre 2005 e 2010 na
FAU-USP, com o apoio da Fapesp e através da Lei de Incentivo
à Cultura. Nessa etapa, tendo já como horizonte a edição do
livro, foram realizados a complementação do levantamento
de campo, o aprofundamento da análise e, sobretudo, a
siste-matização e preparação do material empírico, tendo em vista
sua publicação em um padrão de qualidade compatível com
a intenção de garantir um tratamento digno para o tema da
habitação social.
Nessa etapa, foi possível garantir uma abrangência
efetiva-mente nacional ao inventário dos conjuntos residenciais,
apresentado no Volume 2, garantindo a investigação em
to-das as regiões do país. No total, foram documentados 325
empreendimentos, em 81 municípios situados em 24
unida-des da federação, reunindo parcela expressiva das unidaunida-des
habitacionais identificadas na produção pública. Com esse
resultado, pode-se afirmar que o inventário, embora não
in-clua todos os empreendimentos realizados no período, é
am-plamente representativo do que foi realizado em todo o país.
Entre as várias atividades da etapa, foi realizado um amplo
levantamento em fontes documentais, com grande
dificul-dade, tendo em vista a extinção dos órgãos promotores e o
sucateamento dos seus arquivos. Na falta de documentação
de muitos empreendimentos, o levantamento arquitetônico e
urbanístico teve de ser feito
in loco, apesar da
descaracteriza-ção dos projetos originais e das dificuldades de localizadescaracteriza-ção e
acesso a muitos dos conjuntos residenciais.
Para garantir a melhor legibilidade possível dos projetos,
todas as implantações urbanísticas, plantas das unidades e
outros elementos projetuais foram redesenhados,
procuran-do uniformizar as escalas para permitir análises
compara-tivas entre as soluções e propostas. Quando apresentavam
interesse no ponto de vista documental, foram incorporados
ainda desenhos e croquis originais dos autores.
O mesmo cuidado foi procurado, ainda, na documentação
fo-tográfica, com pesquisa à exaustão, em publicações antigas,
arquivos públicos e privados e álbuns de famílias, de
fotogra-fias de época capazes de revelar os conjuntos residenciais e
sua vida cotidiana. A tarefa, entretanto, não foi fácil. Por um
lado, os arquivos de fotografias dos órgãos promotores
de-sapareceram quase integralmente e, por outro, parte
signi-ficativa dos empreendimentos não foi contemplada, à época,
com uma adequada documentação fotográfica. Em
compen-sação, todos os empreendimentos inventariados foram
foto-grafados em registros contemporâneos.
Os onze empreendimentos selecionados para a análise em
profundidade, apresentados no Volume 3, receberam
trata-mento diferenciado, com a criação de modelos eletrônicos dos
projetos originais, que permitem conhecer as propostas dos
autores que nem sempre foram integralmente realizadas ou
que não são mais perceptíveis em face da
descaracteriza-ção dos conjuntos. Ainda assim, considerou-se importante
documentá-los em sua situação atual, em um ensaio especial
realizado pelo fotógrafo Bob Wolfenson.
A organização do livro
O livro está organizado em três volumes, que correspondem a
abordagens diferentes de apresentação do material
processa-do pela pesquisa e de análise processa-dos seus resultaprocessa-dos. O Volume 1
é dedicado às análises mais gerais; o Volume 2, ao inventário
da produção habitacional do período de 1930 a 1964; e o
Volu-me 3, à análise dos onze empreendiVolu-mentos mais significativos.
O volume 1 está dividido em três partes. A primeira é
dedica-da à análise sintética do processo de construção dedica-da política
pública de habitação no Brasil, estabelecendo uma
periodiza-ção e uma reflexão sobre os principais marcos e referências,
com os objetivos apresentados no início desta introdução. Sem
a preocupação de ser exaustiva, essa análise objetiva situar
o período estudado em profundidade em um quadro mais
ge-ral, identificando a contribuição específica da produção
habi-tacional realizada.
A segunda parte é dedicada à análise dos seis órgãos
promo-tores que consideramos os mais importantes do período: os
Institutos de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI),
dos Comerciários (IAPC) e dos Bancários (IAPB), a Fundação
da Casa Popular (FCP), o Departamento de Habitação Popular
da Prefeitura do Distrito Federal (DHP) e a Liga Social Contra
os Mocambos (LSCM). Essa parte está focada na identificação
das diretrizes de projeto desses órgãos, na perspectiva de
revelar as inovações por eles introduzidas e suas limitações
no quadro institucional e político do período.
A terceira parte é destinada a uma reflexão geral das
princi-pais características dos projetos desenvolvidos no período,
destacando os aspectos mais relevantes, como a diversidade
de produção, a valorização do espaço público, a preocupação
com uma adequada inserção urbana e a riqueza dos espaços
de sociabilidade criados.
O Volume 2 é inteiramente voltado para a apresentação do
inventário da produção habitacional do período. Está
organi-zado em nove capítulos, cada um destinado a um órgão ou grupo
de órgãos promotores, com exceção do último, que apresenta
as áreas residenciais de quatro cidades novas planejadas pelo
poder público. Essa divisão permite uma leitura mais orga
ni-zada das características dos empreendimentos
desenvolvi-dos por cada órgão, evidenciando suas diferenças e permitindo
uma observação mais clara da trajetória institucional e das
diretrizes de projeto habitacional desenvolvidas por essas
entidades.
O Volume 3 é composto de textos de apresentação e análise
de onze conjuntos residenciais selecionados para uma
refle-xão mais aprofundada. Trata-se de um esforço coletivo
reali-zado pela equipe de pesquisadores envolvidos com o trabalho
que, sob minha orientação e coordenação, desenvolveram
análises que procuram identificar o processo de elaboração
desses projetos, os avanços que trouxeram e a sua atualidade.
De autoria coletiva, os textos finais foram editados na
perspec-tiva de garantir uma estrutura uniformizada e gerar uma
com-preensão mais precisa da contribuição das iniciativas
estuda-das para a construção da política de habitação social no Brasil.
Agradecimentos
Este livro é uma versão revisada e ampliada da minha tese de
livre-docência
Pioneiros da Habitação Social no Brasil,
defen-dida na FAU-USP em agosto de 2011. A concepção e a
coordena-ção deste projeto editorial são de minha autoria, em parceria
com a arquiteta Ana Paula Koury, coordenadora assistente.
Sem os apoios financeiros e patrocínios que recebeu, este
trabalho não teria sido possível. Os auxílios da Fapesp e, em
menor escala, do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) foram indispensáveis para a
realização da pesquisa e a participação de vários bolsistas
de iniciação científica no projeto. Em 2004, a proposta de
pu-blicação em livro foi selecionada para receber patrocínio, no
âmbito da Lei Federal de Incentivo Fiscal, em edital público
na área de Patrimônio e Documentação, promovido pela
Pe-trobras S/A, processo que deu o pontapé necessário para
ti-rar o levantamento de relatórios científicos e começar a
tor-nar sua divulgação uma realidade. A Fundação para o
Incre-mento da Pesquisa e do DesenvolviIncre-mento Industrial (Fipai),
vinculada à Escola de Engenharia de São Carlos –
institui-ção proponente do projeto ao Ministério da Cultura –, deu a
necessária cobertura administrativa para a correta utilização
dos recursos e os demais procedimentos legais
indispensá-veis para iniciativas com essas características.
Posteriormente, outras empresas participaram do
patrocí-nio: Itaú BBA, Imprensa Oficial, Votorantim, Cebrace e,
es-pecialmente, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN),
em-presa que possibilitou uma captação integral do orçamento
inicialmente previsto. Muitos amigos e colegas que
acredi-taram desde o início na importância desse trabalho tiveram
papel destacado para o resultado alcançado, dentre os quais
gostaria de citar: Suzana Pasternak, Marcos Barreto,
Candi-do Bracher, Mário Willian Sper, Cecília Scarlat, Ana Helena
Curti, Abilio Guerra e Silvana Romano. Luis Carlos do
Nas-cimento, gerente do projeto na Petrobras, e a equipe da
Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura do Ministério
da Cultura, em especial Alexandra Costa, tiveram a
compre-ensão da dimcompre-ensão e complexidade da publicação,
atenden-do os vários pediatenden-dos de aditamento atenden-do prazo de execução.
A Fapesp, parceira de várias etapas dessa pesquisa, apoiou
também sua publicação.
A publicação é resultado de um processo de pesquisa
realiza-do nos últimos quinze anos por uma grande equipe que vem se
dedicando de diversas formas ao trabalho. Ana Paula Koury,
Nilce Cristina Aravecchia Botas, Sálua Kairuz Manoel, Flavia
Brito do Nascimento, Elaine Pereira da Silva, Juliana Costa
Mota e Maria Lucia de Freitas, todas arquitetas e mestras com
passagem pela graduação, mestrado e/ou doutorado no agora
Instituto de Arquitetura e Urbanismo de São Carlos – onde a
pesquisa foi concebida e inicialmente desenvolvida –,
estive-ram por mais de uma década envolvidas nesta investigação e
participaram do levantamento de campo e da análise de
al-guns dos conjuntos residenciais estudados, apresentando em
coautoria comigo ou de maneira independente, sob minha
orientação, textos sintetizados no Volume 3 do livro.
Nilce, Sálua e Flavia, que finalizaram seus doutorados em 2011,
participam dos levantamentos e estudos relacionados com o
tema desde a iniciação científica, tendo realizado, em suas
dis-sertações ou teses, investigações específicas, respectivamente,
sobre o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários,
a Fundação da Casa Popular e o Departamento de Habitação
Popular da Prefeitura do Distrito Federal, trabalhos que foram
referências fundamentais para o presente estudo.
Muitos outros alunos de graduação e de pós-graduação em
arquitetura da EESC-USP e da FAU-USP, além de
colaborado-res de outras instituições, estiveram envolvidos nos
levanta-mentos de campo e sistematização do material de pesquisa:
na primeira etapa, entre 1987 e 1995, os estudantes e
bolsis-tas de iniciação científica Maurício Ribeiro da Silva, Maria
Cláudia de Oliveira, Mayra Carvalho; na segunda etapa, entre
1997 e 2001, as estudantes e bolsistas de iniciação científica
Elaine Pereira da Silva, Nilce Cristina Aravecchia Botas, Sálua
Kairuz Manoel, Juliana Costa Mota, Paola Werneck Padovani,
Silvia Siscar, Manoela C. Souza, Rafael M. Esposel, Ana Paula
Cássago e Paola Moreno Bernardi e as mestrandas Alexandra
de Souza Frasson e Flávia Brito do Nascimento; na terceira
etapa, entre 2005 e 2010, além das pesquisadoras principais
já citadas, os estudantes e bolsistas de iniciação científica
Amália dos Santos, Rodrigo Minoru, Tatiana Zamoner, Inês
Pereira Coelho Bonduki e Juliana Tiemi.
Participou ainda dos levantamentos de campo, de maneira mais
esporádica, um grande número de estudantes de graduação e
de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, de diversas
ins-tituições: Alexsandro de Almeida Pereira, Ana Maria Boschi da
Silva, Ana Marta Branquinho e Silva, Ana Paula Cássago, Camila
Opipari Capitanini, Carlos Frederico Lago Burnett, Carolina M.
Chaves, Eduardo Henrique de Souza, Felipe de Araujo Contier,
Fernanda Accioly, Fernando Domingues Caetano, Francisco
Sales Trajano Filho, Fúlvio Teixeira, George Alexandre Ferreira
Dantas, Glaucio Henrique Chaves, Kelly Yamashita, Liah
Bea-triz Aidukaits, Luciana Dornellas, Maira de Carvalho, Manoela
C. Souza, Maria Beatriz Camargo Cappelo, Maria Cláudia de
Oliveira, Maristela Siolari, Marluce Wall de Carvalho Venâncio,
Mauricio Ribeiro da Silva, Paola Moreno Bernardi, Pablo
Igle-sias, Patricia Lustosa, Paulo Eduardo Vasconcelos, Paulo Silva,
Rafael M. Esposel, Raquel Schenkman, Renata Bogas Gradin,
Renata Campello Cabral, Renato Pequeno, Ricardo Trevisan,
Tatiana Salema Marques e Vivian Cotta. Ao final do Volume 2,
está identificada a autoria dos relatórios dos levantamentos de
campo realizados pelos pesquisadores e colaboradores, o que
permite dimensionar a contribuição de cada um para o
resul-tado final da investigação.
A construção dos modelos eletrônicos no software Revit foi
supervisionada por Ana Paula Koury, coordenada por Luiz
Augusto Contier e Miriam Castanho e executada pelos
esta-giários Fábio Burgos Garcia, Felipe de Araujo Contier,
Mu-rillo Moralles e Raquel Schenkman.
Os desenhos finais de apresentação foram elaborados por
Douglas Uemura Olim Marote, Natália Held e Ybi Arquitetura
e Urbanismo, a partir dos desenhos em CAD coordenados por
Ana Paula Koury e desenvolvidos por Acácia Furuya, André
Ramos, Bruna Zendron, Bruno Salvador, Celina Sayuri Fujii,
Claudiano Ribeiro de Souza, Danyelle Frascareli, Débora
Ca-zarini Neme, Donizetti Aparecido Beccaro, Henrique Amorim
Diamantino, Luis Filipe Magalhães Rodrigues, Rafael
Andra-de e Thammy Cervi.
Colaboraram na edição do livro, com papel destacado nas
várias tarefas necessárias para organização e
sistematiza-ção do acervo, montagem do inventário e selesistematiza-ção de imagens
que integram essa publicação, os hoje arquitetos Amália dos
Santos, Rodrigo Minoru, Inês Bonduki e Juliana Tiemi, que
co-meçaram a participar do projeto como estudantes da FAU-USP
e se integraram no projeto como pesquisadores assistentes,
com grande dedicação. A seleção e edição final das fotos que
integram os Volumes 1 e 3 foram realizadas por Inês Bonduki,
com o apoio de Juliana Tiemi.
O projeto gráfico e a diagramação foram realizados por Chico
Homem de Melo e Lana Troia (Homem de Melo e Troia), que
tiveram a paciência e a compreensão necessárias para
en-frentar o trabalho de dimensão excepcional, em particular, na
edição do Volume 2, que exigiu nada menos que seis provas. O
mesmo esforço foi exigido de Neusa Caccese de Mattos e
Clau-dionor A. de Mattos (Escritta), que realizaram o penoso
traba-lho de revisão final do texto. O tratamento das imagens foi
re-alizado por Antônio Carlos Kehl e Silvana Panzoldo, e pelos
profissionais da Imprensa Oficial do Estado e da Editora Unesp.
O ensaio fotográfico de abertura dos capítulos do Volume 3 é
de Bob Wolfenson, cuja disposição para realizar o trabalho
agradeço. As fotografias aéreas recentes são de Inês Pereira
Coelho Bonduki. Grande parte das fotografias de
documen-tação, realizadas durante os levantamentos de campo, são de
minha autoria ou dos demais pesquisadores. Em São Paulo e
no Rio de Janeiro, onde foi necessário complementar o
levan-tamento fotográfico, participaram os fotógrafos Stepan Norair
Chahinian e Inês Pereira Coelho Bonduki. Os créditos das
fo-tografias incluídas no inventário estão identificados ao final de
todos os volumes.
Agradeço, ainda, aos secretários do Instituto de Arquitetura
e Urbanismo de São Carlos, no qual a pesquisa foi
desen-volvida até 2005, em particular Antonio João e Marta
Tessa-rin, Fátima Lourenço Leal, Lucinda Torres e Marcelo
Celes-tini, e às equipes da secretaria do Departamento de Projeto
e do Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos
da FAU-USP. Juliana Niero, secretária da Associação Casa
da Cidade, onde o grupo de pesquisa se instalou a partir de
2005, foi um apoio indispensável.
A interlocução intelectual que o convívio universitário em São
Carlos e em São Paulo permitiu foi essencial para a
realiza-ção deste trabalho. Em primeiro lugar, no âmbito do grupo
de pesquisa, onde pude, cotidianamente, compartilhar
espe-cialmente com Ana Paula e também com Nilce, Flávia e Sálua,
que me estimularam a enfrentar o desafio de levar adiante um
projeto dessa dimensão.
Os colegas do projeto temático “Habitação Econômica e
Arqui-tetura Moderna no Brasil”, professores Maria Ruth Sampaio,
Carlos Roberto Monteiro de Andrade, Sarah Feldman, José
Lira, Maria Lúcia Gitai e Paulo César Xavier, e os
companhei-ros do Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos,
Ermínia Maricato, Maria Lúcia Refinetti e João Whitaker Sette
Fereira, foram muito importantes para garantir um diálogo
mais amplo sobre o objeto específico da pesquisa, o que lhe
deu maior amplitude crítica.
O debate intelectual com os amigos Carlos Martins, Rossella
Rossetto, Raquel Rolnik, Luis Fernando Almeida e Pedro
Pau-lo Martoni Branco foi sempre muito estimulante nas
diferen-tes facetas da reflexão sobre a história da arquitetura
mo-derna brasileira e sobre as políticas públicas de habitação e
urbanismo.
Finalmente, cabe um agradecimento especial à Universidade
de São Paulo, em particular ao Instituto de Arquitetura e
Urba-nismo de São Carlos e à Faculdade de Arquitetura e
Urbanis-mo, e, ainda, à Universidade São Judas Tadeu, instituições que
abrigaram esta pesquisa e seus pesquisadores principais.
Como se vê, este trabalho é resultado de uma grande equipe
e de muitas colaborações, sem as quais ele não teria sido
pos-sível. No entanto, é minha toda a responsabilidade sobre
fa-lhas e lacunas, inevitáveis em um trabalho desta dimensão.
Uma homenagem aos que
se dedicam à habitação social
O país vem realizando, nos últimos anos, um enorme esforço
para criar um corpo de profissionais qualificados para
imple-mentar uma nova política habitacional e urbana. Em todo o
Brasil, começam a surgir técnicos, de várias formações, que
optam por se dedicar à dura tarefa de atuar em habitação
so-cial, campo profissional que era e ainda é muito desvalorizado.
Esse processo está apenas começando. Se for levado adiante
o objetivo de garantir a todo cidadão o acesso a uma moradia
digna, como está proposto na nova Política Nacional de
Habi-tação, a necessidade de profissionais será proporcional a um
déficit
acumulado de 7,9 milhões de moradias, uma demanda
futura de 27 milhões de unidades até 2023 e mais de 3,3
mi-lhões de pessoas vivendo em favelas e outras formas de
assen-tamentos de urbanização precária, conforme diagnosticou o
Plano Nacional de Habitação.
Não se constrói uma política pública sem o reconhecimento de
seus principais formuladores e executores. O esquecimento
dos que atuaram com empenho e seriedade nos órgãos
públi-cos e se dedicam a esse tema tem sido uma regra no país,
prá-tica que só desestimula um maior envolvimento com as causas
públicas. Resgatar e valorizar seu trabalho constitui uma etapa
importante da construção da política pública de habitação.
Ao divulgar e analisar as propostas, ideias, projetos e sonhos
dos primeiros profissionais que se dedicaram ao tema da
ha-bitação social, procura-se demonstrar que seu esforço não
foi em vão. Ao trazer à tona suas utopias, mas também as
dificuldades, constrangimentos, obstáculos e limitações que
enfrentaram para colocar em prática as concepções que
de-fenderam, procura-se mostrar que os problemas
enfrenta-dos hoje têm raízes profundas, que precisam ser conhecidas
e combatidas.
O esforço que realizamos para mostrar o trabalho por eles
realizados objetiva tratar com dignidade uma área de atuação
profissional que tem sido desprezada no âmbito da
arquitetu-ra, não merecendo o mesmo cuidado dedicado a temas de
menor importância, mas de mais
glamour. Essa é a melhor
maneira de homenagear os pioneiros que lutaram para que a
moradia fosse tratada como uma questão pública. A eles, e a
todos os que se dedicam com convicção à habitação social no
Brasil, é dedicado este livro.
Departamento de
Habitação Popular da
Prefeitura do Distrito
Federal: a habitação
As ideias de Gilberto Freyre sobre as construções tradicio-nais, obviamente, chocavam-se com a visão uniformizadora e conservadora que Agamenon Magalhães procurou impor por sua Liga Social Contra o Mocambo. Mas o sociólogo per-nambucano também não encontraria eco no outro extremo do espectro ideológico – entre os formuladores do segundo projeto institucional que tem grande interesse no âmbito dos órgãos regionais, o Departamento de Habitação Popu-lar da Prefeitura do Distrito Federal.
A concepção de habitação desse órgão, formulada pela en ge-nheira Carmen Portinho, estava longe de associar o atendi-mento habitacional a uma estratégia anticomunista, como defendia a Igreja, ou a uma perspectiva de segregação so-cioterritorial como promoveu a LSCM. O DHP defendia a construção de grandes conjuntos coletivos em bairros con-solidados, com generosas áreas públicas e equipamentos sociais, propondo uma vida mais socializada e moderna. Por essa razão, o órgão considerava inadequadas as tipologias habitacionais formuladas pela FCP e pela LSCM – baseadas em casas unifamiliares. Para os mentores do DHP, entre os quais se destacava Affonso Eduardo Reidy, o principal arquiteto do órgão, esses tipos eram inadequados para as necessidades contemporâneas, por razões urbanísticas e enquanto modo de morar.
Embora progressista em vários aspectos, a concepção de habitação formulada por Portinho, baseada nos princípios defendidos nos Ciam, também desprezava os hábitos de morar tradicionais das populações rurais e sua cultura construtiva, considerada atrasada.
Ideologicamente situada no que poderia ser classificado como uma posição de “esquerda”, no polo oposto ao de Ma-galhães, a engenheira compartilhava das ideias do inter-ventor sobre o papel que os conjuntos residenciais podiam exercer na reeducação dos moradores de assentamentos precários, para difundir novos modos de habitar e intro-duzi-los na vida moderna. Só que, para ela, os princípios a serem valorizados deveriam ser a libertação da mulher das tarefas do lar e uma vida mais socializada, inserida em ambientes criados por uma arquitetura de vanguarda, que adotasse os pressupostos urbanísticos e construtivos de-fendidos pelos Ciams.
Carmen Portinho foi uma das poucas mulheres que se des-tacaram no mundo masculino, para não dizer machista, da construção civil brasileira. Terceira mulher a se formar em engenharia no Brasil, Carmen foi uma pioneira militante
feminista que, no final da década de 1920, ingressou como funcionária da Prefeitura do Distrito Federal e, logo em se-guida, tornou-se editora da Revista Municipal de Engenharia, principal publicação de engenharia e arquitetura do perío-do. Em 1948, tornou-se diretora do DHP, cargo que exerceu até 1960. Desde meados dos anos 1950, ela acumulou suas atividades na prefeitura com a direção do Museu de Arte Mo-derna do Rio de Janeiro, polo que reuniu a vanguarda artísti-ca e cultural do país. Exerceu essa função até 1966, quando passou a dirigir a Escola Superior de Desenho Industrial. Durante os doze anos em que permaneceu na chefia do DHP, Carmen reinou sem prestar contas a ninguém, po-dendo colocar em prática a concepção que julgava a mais adequada para enfrentar a questão urbana e habitacional. O arquiteto Francisco Bolonha, funcionário do DHP durante todo o período em que ela dirigiu o órgão, explicou, em de-poimento ao autor, o poder da diretora à testa do DHP:
O Correio da Manhã é que sustentava politicamente a Car-men. Mudava o prefeito e ela continuava na prefeitura, como diretora do Departamento de Habitação; não ligava, não dava bola para o secretário de Obras [seu chefe imediato], nem despachava com ele. Fazia por conta própria porque ti-nha o apoio do Correio.
Se, por um lado, essa autonomia permitiu que a engenhei-ra pudesse colocar em prática suas propostas, por outro, determinou um isolamento institucional que prejudicou uma ação mais ampla do DHP. O órgão praticamente não mantinha relações com os outros que atuavam na área da habitação, nem mesmo dentro da própria prefeitura, como se deduz pela afirmação de Bolonha: “Não [conheci] a Fun-dação da Casa Popular; era um órgão federal, ficava muito distante. Tinha também a Fundação Leão XIII, que eu não sei se era da Igreja ou da prefeitura. O Departamento de Habitação era muito isolado”.
A autonomia tornava necessário que Carmen Portinho batalhasse praticamente sozinha para obter os enormes recursos necessários para viabilizar os empreendimtos que implantou no DHP. Em vários depoimenempreendimtos e en-trevistas ao autor, a engenheira relatou o verdadeiro lobby que precisava fazer, anualmente, no Congresso Nacional e entre os prefeitos para inserir, no orçamento da Prefeitura do Distrito Federal, os recursos necessários para dar an-damento aos projetos do órgão, o que lograva obter, sobre-tudo, porque era apoiada pelo poderoso jornal Correio da Manhã, dirigido por seu irmão.
Carmen Portinho e Francisco Bolonha apresentam uma das maquetes do Conjunto Residencial Vila Isabel.
Carmen planejou uma intervenção ousada, programando a construção de dez conjuntos residenciais distribuídos nos diferentes bairros do Rio de Janeiro. No entanto, nos doze anos em que dirigiu o DHP, conseguiu planejar e iniciar apenas quatro empreendimentos, que nunca foram comple-tados: das 2.119 unidades projetadas, somente 699 foram efetivamente construídas. Apesar desse resultado limitado do ponto de vista quantitativo, os projetos do DHP foram ino-vadores e se destacaram no âmbito do ciclo de empreendi-mentos habitacionais dos anos 1940 e 1950, obtendo grande repercussão em nível nacional e internacional.
Elaborados pelos arquitetos Affonso Eduardo Reidy e Fran-cisco Bolonha, esses projetos concretizaram, com uma qua-lidade excepcional, a concepção da diretora, como pode ser visto no Volume 3, onde os conjuntos residenciais de Pedre-gulho e de Paquetá, assim como as trajetórias profissionais desses três profissionais, são analisados em profundidade. A efetividade da ação do DHP, em termos quantitativos e de impacto sobre as necessidades habitacionais da capital, talvez não fosse, para a engenheira, o aspecto mais impor-tante da intervenção. Miliimpor-tante nata, o que ela pretendia era gerar um efeito midiático capaz de demonstrar a su-perioridade da proposta e, desta forma, conseguir influen-ciar outras iniciativas mais amplas. De certa forma, ela e Reidy conseguiram isso quando defenderam, enquanto conselheiros da FCP, o projeto do Conjunto Residencial de Deodoro, elaborado segundo orientações semelhantes às do órgão que dirigia e dos princípios urbanísticos do arqui-teto. O empreendimento gerou 1.362 unidades habitacio-nais, o dobro de tudo o que o DHP construiu.
Na sintética análise do DHP que se pretende fazer neste capítulo, interessa identificar a concepção que orientou sua atuação e a contribuição que deu para a reflexão sobre a questão da habitação no Brasil. A dissertação realizada so-bre o órgão pela pesquisadora Flávia Brito do Nascimento (2004), no âmbito da investigação que gerou este livro, des-vendou de forma profunda suas origens, propósitos e atua-ção, constituindo uma das principais bases empíricas da reflexão aqui apresentada. Outras investigações sobre o DHP e sobre seus principais protagonistas, como Nobre (1999),
Portinho e Andrade (1999), Bonduki (2000a), Freire e Oliveira (2002) e Costa (2004), assim como a Revista Municipal de En-genharia e, sobretudo, os depoimentos e levantamentos do-cumentais realizados pela pesquisa, foram importantes fon-tes desta investigação.
A trajetória e o papel do DHP foram ofuscados pela sua prin-cipal realização, o Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Morais, o Pedregulho. Divulgado à exaustão em todo o mun-do, o conjunto se tornou uma das peças-chaves da arquite-tura moderna brasileira, que levou à exaltação do seu autor, o arquiteto Affonso Eduardo Reidy. Este acabou se tornando, para muitos dos críticos internacionais, uma referência fun-damental da arquitetura moderna brasileira por aliar a sua plasticidade com uma visão social (Bonduki, 1999).
Em consequência da importância de Pedregulho, o órgão que o promoveu foi quase sempre omitido, ou citado burocrati-camente, como se o empreendimento pudesse ter surgido apenas da vontade do arquiteto e não como resultado de um esforço institucional de uma grande equipe, em um contexto de crise habitacional e de reconhecimento da ne-cessidade de o Estado intervir nessa questão, situação que facilitava a aceitação de novas experiências e que gerou um ciclo importante de projetos habitacionais baseados nos princípios modernos.
Como foi mostrado em Bonduki (1998a), o protagonismo que a historiografia da arquitetura moderna brasileira e mundial reservou para Pedregulho, que obscureceu o ciclo de projetos investigado neste trabalho, também ofuscou a própria instituição que possibilitou sua existência, como de-mostrou Nascimento (2004).
Ao recuperar a trajetória e a concepção de habitação for-mulada pelo DHP – em grande parte decorrente da visão de Carmen Portinho, mas também resultado da atuação de seus inúmeros profissionais de primeira linha, arquitetos, engenheiros e assistentes sociais –, procura-se mostrar a multiplicidade de propostas promovidas pelo poder público visando ao enfrentamento da questão urbana e habitacional nos anos 1940 e 1950 , assim como explicitar as razões que geraram seu fracasso.
Fotos de alguns dos profissionais que atuaram no DHP.
Nesta página, de cima para baixo: o arquiteto Affonso Eduardo Reidy, em frente ao MAM; o engenheiro Sidney Santos; e a arquiteta Lygia Fernandes. Na página ao lado, Carmen Portinho assina sua posse como diretora do DHP, em 1946; Portinho, jovem engenheira feminista, entre os engenheiros da Prefeitura do Distrito Federal, na década de 1930.
As origens do DHP: o Departamento de
Construções Proletárias
Ao contrário da LSCM, que nasceu do zero, a partir da cam-panha contra os mocambos promovida por um interventor do Estado Novo apoiado pela elite local, o DHP foi o des-dobramento de um longo processo institucional, cuja ori-gem foi um órgão já existente na Secretaria Geral de Viação e Obras Públicas, a Divisão de Construções Proletárias, transformada, em 1940, em Serviço e, em 1942, em Depar-tamento, para assumir novas atribuições na segunda meta-de da década, quando Portinho assume sua direção. A Divisão, posteriormente, o Serviço e finalmente Depar-tamento de Construções Proletárias atuou durante vários anos, quase sem alarde (ao contrário do Serviço dos Par-ques Proletários, já descrito, que recebeu farta publicida-de), exercendo um papel importante no processo de difusão da casa própria autoempreendida nos subúrbios do Rio de Janeiro. Cabia ao Serviço conceder licenças e fiscalizar as construções de caráter popular. O novo Código de Obras do Distrito Federal (1937) definiu uma nova categoria de uso – “habitações proletárias de tipo econômico” – e estabeleceu que ela apenas poderia ser edificada nos subúrbios da ca-pital e na sua zona rural.
O objetivo desse dispositivo era consolidar a segmentação socioterritorial da cidade do Rio de Janeiro, reservando a “nova” Zona Sul (Copacabana, Ipanema e Leblon) para os mais ricos, a “antiga” Zona Sul (Catete e Glória) e a Zona Norte para o setor “médio” e a “periferia”, ou seja, o subúr-bio e a Zona Rural, para os pobres. A eletrificação da estrada de ferro, a abertura da Avenida Brasil e a tentativa de con-centrar as indústrias ao longo desses eixos de mobilidade rumo ao subúrbio facilitariam esse plano.
Como pontua Nascimento (2004), “A lei determinava não só o espaço geográfico das casas, mas também sua aparência física: determinava as formas de habitar do povo do subúr-bio, com referências higienistas”. As normas estabeleciam padrões construtivos, sanitários e de implantação no lote. Para liberar o proprietário do terreno da obrigação de con-tratar um profissional licenciado e de aprovar o projeto, o órgão passou a fornecer projetos de casas-tipo, que deviam ser obedecidos.
O objetivo era ampliar a presença do Estado na ocupação das áreas de expansão urbana, limitar o crescimento das favelas e estimular a difusão da casa própria autoconstruí-da por iniciativa do morador. Inicialmente, foram propostos três tipos de casas, com algumas variações, todas forma-das por um núcleo sanitário básico (banheiro e cozinha), somando no total de dois a quatro cômodos. Como afirma Nascimento (2004), “era um modelo de casa almejado por boa parte das elites interventoras para os populares, com padrões burgueses de domesticidade e privacidade”. De uma maneira geral, esses projetos-tipo não diferiam, subs-tancialmente, das casas isoladas que estavam sendo pro-postas pelos outros órgãos que atuavam no período. A transformação do Departamento de Construções Proletá-rias em Departamento de Habitação Popular, em 1946, não foi uma mera mudança de nome. Ao mesmo tempo em que a prefeitura, associada à Igreja católica, cuidaria das favelas por meio da Fundação Leão XIII, caberia ao DHP construir casas para os funcionários de salários baixos da prefeitura, que moravam em condições precárias. Isso significava que a prefeitura aceitava institucionalmente o problema, admi-tia que os trabalhadores precisavam de moradias e que a prefeitura devia construí-las.
A iniciativa se inseria em um processo mais amplo de cres-cente atuação do poder público no enfrentamento da ques-tão habitacional. Os IAPs já atuavam desde 1937 na pro-moção de conjuntos residenciais para os seus associados e o Estado de Pernambuco tinha, desde 1939, um instituto voltado para a construção de casas para os funcionários estaduais, o IPSEP, além da atuação da própria LSCM. A transformação do antigo Departamento de Construções Proletárias em Departamento de Habitação Popular ocor-reu em 1946, mesmo ano em que o governo Dutra criou a Fundação da Casa P opular.
A inovação do DHP foi sua concepção de habitação social e a possibilidade de profissionais comprometidos com a ar-quitetura moderna estarem à testa de um órgão que podia produzir conjuntos residenciais sem as limitações institu-cionais e econômicas que vigoravam nos IAPs.
A concepção de habitação do DHP
A criação do novo departamento, em abril de 1946, veio na sequência de uma série de artigos sobre habitação social que Carmen Portinho publicou na imprensa assim que vol-tou da Inglaterra, no final de 1945, depois de ter visitado as áreas devastadas pela guerra e conhecido os planos urba-nísticos e habitacionais de reconstrução de suas cidades. É possível identificar nos propósitos do novo órgão uma forte relação com o discurso e as propostas que a engenheira estava defendendo. Não cabe aqui se alongar sobre o con-teúdo dos artigos de Carmen, nem das influências interna-cionais que recebeu, exaustivamente analisadas por Nas-cimento (2004) e Nobre (1999) e aprofundadas no Volume 3 deste livro, mas analisar como ela deu concretude para as ideias que trouxe para o DHP.
Quando o órgão foi criado, em 1946, o engenheiro Antônio Arlindo Laviola foi indicado diretor; a engenheira ficou res-ponsável por chefiar um dos seus serviços, enquanto Reidy assumiu a chefia do serviço de Planejamento, onde os proje-tos dos conjunproje-tos residenciais deveriam ser elaborados. Em-bora, nesse momento, tenha se iniciado o planejamento da intervenção e, sobretudo, a elaboração do projeto de Pedre-gulho, cuja primeira publicação é de 1946, a ênfase continuou sendo o licenciamento e a fiscalização de habitações popu-lares, pois Laviola era contra conjuntos sofisticados como aquele, conforme declarou posteriormente (FCP, 1954b). A construção de conjuntos residenciais somente se torna uma prioridade do DHP quando Carmen Portinho é nomea-da diretora do órgão, em 1948, tornando-se a primeira mu-lher a assumir um cargo de direção na Secretaria de Viação e Obras Públicas. No mesmo dia em que o prefeito Mendes de Morais indicou Portinho, Reidy deixou a chefia do Ser-viço de Planejamento, que foi ocupado por Bolonha, para assumir o cargo de diretor do Departamento de Urbanismo, função que ocupou por três períodos relativamente curtos entre 1948 e 1955, ficando lotado, nos intervalos, no DHP. Determinada e competente, a nova diretora levou a ferro e fogo sua pretensão de implantar conjuntos residenciais de um padrão excepcional de qualidade arquitetônica e com uma concepção inovadora de enfrentamento da questão habitacio-nal: “se construídos de acordo com o plano, teremos habita-ções maravilhosas, obedecendo ao mesmo tempo às neces-sidades sociais dos seus moradores e às exigências estéticas modernas”, afirmou Portinho em 1949 (Nascimento, 2004).
Para colocar de pé essas “habitações maravilhosas” e via-bilizar o plano, Carmen Portinho se cercou de profissionais competentes nas áreas de arquitetura, engenharia e assis-tência social. Além de Reidy e Bolonha, devem ser citados, entre outros, os arquitetos Hélio Modesto e Lygia Fernan-des, o engenheiro Sidney Santos, que calculou as fenome-nais estruturas de Pedregulho e Gávea, e a assistente so-cial Anna Augusta de Almeida, pioneira no trabalho soso-cial voltado para a habitação. Além desses profissionais “fixos”, vários outros colaboraram com o DHP de maneira pontual, geralmente de forma voluntária, como o paisagista Rober-to Burle Marx e os artistas plásticos Candido Portinari e Anísio Medeiros.
O DHP formulou um programa habitacional prevendo um empreendimento em cada distrito da cidade, unidades au-tônomas que seriam servidas por uma gama completa de equipamentos sociais. A ideia, de grande atualidade, era aproximar a moradia do trabalho, de modo que o traba-lhador não precisasse perder tempo nesse deslocamento. Para Reidy, deviam
existir em cada bairro habitações baratas, já que cada bairro tem os seus trabalhadores. Além de terem que morar em algum lugar, também é preciso que se pense sempre em […] avaliar os nossos meios de transportes, como poupar-lhes um cansaço que prejudica a saúde e o trabalho.
Com base nesse pressuposto, o plano previa a edificação de dez conjuntos residenciais, destinados “inicialmente para funcionários públicos municipais” (Bonduki, 2000a). Ao contrário dos outros órgãos que atuaram no Rio de Ja-neiro no período, o objetivo do DHP não se relacionava dire-tamente com a favela, mas estava implícito que, ao atender funcionários de baixa renda, contribuiria para evitar a for-mação de novos assentamentos ou para retirar moradores que nelas viviam. Além disso, o departamento acabou sen-do acionasen-do para produzir habitações em favelas ocupadas por funcionários, como foi o caso de Paquetá, ou até mesmo para intervir em um grande assentamento que nada tinha a ver com a clientela prioritária do órgão, como o estudo de-senvolvido por Reidy para substituir a Favela da Catacumba por um conjunto residencial.
Maquetes dos conjuntos residenciais da Gávea, na página ao lado, e de Pedregulho, acima, junto às fotos aéreas desses empreendimentos em 2013, que permitem identificar o quanto do projeto original foi implantado. Na Gávea, apenas o bloco serpenteante foi edificado, enquanto os blocos residenciais retos e os equipamentos sociais ficaram no papel. Em Pedregulho, com exceção do edifício alto, quase todo o projeto foi construído.