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NACIONALIDADES E LIBERDADE À LUZ DA FILOSOFIA ARISTOTÉLICA

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Academic year: 2021

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NACIONALIDADES E

LIBERDADE À LUZ DA

FILOSOFIA ARISTOTÉLICA

Claudio Mano

Membro do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa”, da UFJF. Membro do Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-Americanos da UFJF. Aluno do Curso de Filosofia da UFJF

cmpostal@gmail.com

RESUMO

O artigo busca encontrar uma correlação entre a postura superior e paternalista adotada pelas nações desenvolvidas, em relação às do terceiro mundo, e os ensinamentos de Aristóteles, que constituem a base do pensamento ocidental. Em função da universalização desses conceitos, procuramos mostrar que, tanto aqueles que agem para fazer prevalecer suas posições quanto os que são compelidos a se submeter, acabam, uns justificados de seus atos e outros conformados com a sua legitimidade.

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1 - INTRODUÇÃO

Desenvolveremos nossa analise a partir do Livro I da obra “Ética a Nicômaco”, escrita por Aristóteles em seus últimos anos de vida. Esse tratado sobre a ética, relativamente mais simples que os demais textos do autor sobre o mesmo tema, poderíamos inferir se tratar de uma orientação a seu próprio filho, Nicômaco, a quem a obra foi dedicada.

O livro I tem como tema “o bem para o homem”. Procuramos conduzir nossas observações, no sentido de extrair, de uma forma objetiva, elementos que pudessem dar sustentação às idéias apresentadas em nossa conclusão.

Certamente o contexto em que as idéias de Aristóteles foram elaboradas, era completamente diferente do atual. Nossa intenção não é atribuir a esse grande filosofo algo que não faz parte de seu pensamento, e sim, tão somente, constatar a força dos conceitos por ele elaborados, que como o leitor poderá observar, se encontram enraizados em nosso modo “natural” de pensar e de agir.

2 - Livro I da Ética a Nicômaco

Aristóteles nos diz que todas as atividades humanas buscam algum tipo de resultado favorável, e ele enfoca especificamente o bem auferido, apesar de os resultados em si, poderem ser bem diversos em cada caso.

Em algumas, o próprio exercício da atividade já poderá prover o bem desejado, em outras, poderá se apresentar como um produto final, e em outras ainda, como uma conseqüência. Para que as metas sejam atingidas (o bem), primeiramente objetivos têm de ser traçados, e aqueles objetivos que almejam o bem mais amplo (o bem de um grupo, da “pólis”), serão mais completos; daí ele concluir pela utilidade e importância da política, que permitiria que um bom resultado fosse compartilhado por todos os homens.

Aristóteles considera a capacidade de julgamento (avaliação) dos homens, que lhes decorre tanto de seu conhecimento, quanto de sua experiência - “um jovem, provavelmente não será bom ouvinte para os assuntos da ciência política, uma vez que estará mais inclinado a agir por impulso” -, e assim, as características do individuo precisam ser levadas em conta, ou seja, se eles buscam o conhecimento ou a ação, bem como quaisquer outras limitações.

Temos então que qualquer atividade, pelo simples fato de ser exercitada, deverá buscar o bem, e mais que isso, o bem de todos. Por outro lado, temos que as atividades resultam em conseqüências que são avaliadas em sua eficácia por indivíduos (cada um deles

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forma o “todo”), que constatamos serem muito provavelmente diferentes, e capazes de diferentes percepções e avaliações (um mesmo individuo pode reagir de forma diferente ao mesmo fato, em diferentes momentos de sua vida), e daí nos resulta uma questão, o bem resultante da ação será assimilado por todos como um bem?

Temos então que Aristóteles considera que o “todo” a quem o bem é destinado, se limita àqueles que podem alcançá-lo: “A massa da humanidade é evidentemente escrava de seus prazeres, ... e podem se basear no fato de que muitos daqueles que ocupam altos cargos, possuem gostos comuns a ´Sardanapallus´ (Rei assírio notabilizado pela luxuria)”.

Nesse ponto, verificamos que Aristóteles associa o bem à virtude e à obtenção da felicidade, e que esta, nas pessoas “superiores”, está associada à virtude e à honra. O bem e a felicidade que ele acredita serem o objetivo das atividades, não se tratam, portanto, daqueles que podem ser adquiridos pelo dinheiro. Não se trata de nada de natureza material, e sim de algo que seria absorvido e experimentado pelo intelecto, como a honra ou o exercício da inteligência. Permanece, entretanto, a proposição inicial de Aristóteles, que a finalidade de uma atividade busca o maior bem possível, que diferentes resultados poderão ser obtidos, dependendo da ação implementada (medicina, arquitetura, política...), mas o bem advindo, de alguma forma deveria possuir um fator comum, que o caracterizasse como um bem, e esse fator poderia então ser identificado como a conseqüência advinda.

Aristóteles nos indica a felicidade como essa peça chave, e busca obter um retorno, através da opinião corrente sobre o que ela seja, de modo a sincronizar suas opiniões, e assim não ser levado a falsos raciocínios. Ele nota que os filósofos concordam em que o bem mais verdadeiro está relacionado à alma, e não a exterioridade, também que o homem feliz vive bem e desempenha bem seus afazeres (associação da felicidade a prática das boas ações). Alguns identificarão a felicidade com a virtude, alguns com o conhecimento prático, e outros ainda, com a prosperidade. Mas a felicidade não existe por si só, no sentido de que é necessária uma atividade para despertá-la, assim como “não basta ser o melhor atleta, é necessário competir para auferir o premio”.

Para Aristóteles, a maioria dos homens entra em conflito, quando usa de atividades desprovidas de virtude, visando obter alguma. Aristóteles acredita, que as ações virtuosas, são por si só prazerosas, e, portanto, transmissoras de felicidade, por sua própria ação, e a atividade mais “nobre” é aquela que mais possibilidade tem de realizar o homem. “Mais nobre é aquilo que é mais justo, e melhor a saúde, mas prazer é se obter aquilo que se ama. – Inscrição em Delos”. Aristóteles reconhece que é necessário um mínimo de conforto material, sem o qual, seria difícil o agir de maneira nobre. As amizades, o dinheiro, e o poder, são

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instrumentos para a obtenção da felicidade (mas não garantem por si só sua obtenção), e por isso a maioria dos homens confunde essa situação com a própria felicidade.

Aristóteles também avalia, se a felicidade pode ser adquirida por ensinamento (ou por hábito ou treinamento), ou se simplesmente já terá sua possibilidade incutida no homem ao acaso, ou mesmo sendo o resultado de um presente divino. Mas depender do acaso para uma coisa tão importante parece a Aristóteles, ser uma alternativa muito falha, e daí concluir que a felicidade deveria vir de alguma virtude, e de treinamento e aprendizado,

Mas se a felicidade é um tipo de “atividade virtuosa” da alma, alguns bens são necessários para a sua obtenção, e outros ainda, contribuem para a sua obtenção. Se observarmos a política, que trabalha no sentido de obter o melhor fim, ou seja, a felicidade de todos, ela gasta a maior parte de seus esforços, tentando transformar o caráter dos homens para um determinado tipo (“ser bom e capaz de atos nobres”). Desta forma, os animais, por exemplo, jamais alcançariam a felicidade (são irracionais), nem tão pouco as crianças, uma vez que ainda não são capazes dos atos necessários (falta-lhes a experiência e o conhecimento), se “as últimas são chamadas de felizes, o são apenas na expectativa que temos de seu futuro”.

Aristóteles acredita na felicidade como algo permanente, mas a vida dos homens é sujeita a diversos infortúnios imprevisíveis, e não podemos assumir que o homem é feliz, sem considerar o que ainda poderá acontecer com ele, se a felicidade obtida não será perdida. Poderíamos olhar somente para o final da vida de alguém e então julgar, pelas felicidades vividas previamente, que a felicidade foi alcançada? Aristóteles considera a “permanência” dos atos bons, e o mais durável de todos é a felicidade. O homem deve ser feliz, e o conseguirá estando sempre executando as atividades virtuosas, agindo portanto, de acordo a sempre estar obtendo a felicidade, através de seus atos, e por fazê-los bons e da melhor maneira possível (quer seja fazer a guerra ou um simples sapato).

Aristóteles diz que apreciamos aquilo que está associado ao bom e ao importante. Nota que é absurdo avaliar os Deuses segundo nossos próprios padrões (humanos), mas que o fazemos, em função de precisarmos de referencias, como para tudo o mais. Já que “a felicidade é uma atividade da alma de acordo com a virtude perfeita”, buscando a natureza da virtude, poderemos observar melhor a natureza de nossa própria felicidade. Para Aristóteles, a virtude do homem não é de acordo com o corpo, e sim com a alma, e a felicidade, a da alma, e não a do corpo. É portanto necessário, conhecer a alma (como aos médicos que estudam o corpo, é necessário bem conhecê-lo), de modo a determinar as virtudes que desencadearão as atividades que conduzirão ao maior bem, e portanto à maior felicidade.

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Aristóteles nos leva a concluir, que o conhecimento não é possível a todos, e assim, alguns deverão ser ensinados a agir como se o tivessem, e daí obter a felicidade. Note que para Aristóteles, não importa se o individuo anseia por esta felicidade ou não, ou mesmo que a sua natureza o conduza por buscá-la em atividades não reconhecidas como próprias, pois pelo uso das leis (Livro X) ele deverá ser compelido a ser feliz, não é uma questão de escolha e sim do que é mais apropriado para o bem da “pólis”. A felicidade ideal, portanto, se afigura como algo cada vez mais sofisticado, abstrato e inatingível (exceto pelo filósofo), e as leis que garantem o comportamento adequado, devem ser seguidas inquestionavelmente, pois seus motivos e razões estão além da compreensão de quem a elas está submetido, e o objetivo final é inquestionável, a felicidade.

3 - CONCLUSÃO

Concluímos nossa analise, com uma tentativa de fundamentar em Aristóteles, a base do pensamento contemporâneo que visa diminuir o valor da independência das nações, em detrimento de um bem maior, que é a humanidade, o planeta, que diminuído de suas dimensões pelas novas tecnologias, caminha para se tornar a nova pequena e essencial “pólis”.

Diante de um conhecimento (tecnológico, cientifico econômico), que somente pode ser possuído e assimilado por poucos, uma nova ordem precisa ser imposta (ex: leis internacionais que irão regular a prospecção e uso de recursos naturais), e para isso as nacionalidades (soberania nacional), deverão ser reduzidas à peculiaridades culturais. Se o pensamento ocidental está alicerçado nos valores ético e morais construídos por Aristóteles, tudo leva a crer que a proposição, de que os que não alcançam o maior conhecimento devem ser tutelados pelos que o possuem, acabará por prevalecer, mesmo porque, quem terá argumentos para recusar a felicidade, no caso, travestida na própria possibilidade de sobrevivência do planeta?

Se uma batalha deverá ser travada para proteger a integridade e a liberdade das nações, no sentido de que representam valores e aspirações que somente poderão ser preservados se mantidos os meios físicos e a autonomia para geri-los, esta luta não será nem disputada, e nem terá nenhuma chance de ser ganha no campo de batalhas, e sim no campo das idéias, onde o conceito da felicidade imposta (repetimos, será o bem aceito como bem por todos?), poderá ser questionado. Por isso, imaginamos ser de interesse estratégico para um país, a formação de filósofos que possam estabelecer novas relações ético-morais que, por sua força, influenciem

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essas novas leis, que certamente virão, para que não aconteça que, além das nacionalidades, também sucumba um outro conceito que era desconhecido por Aristóteles, e que existe em nosso meio há muito pouco tempo, o de liberdade individual.

Acreditamos que esse último conceito seja o caminho mais promissor para que se construa uma base comum, sobre a qual floresça a tão desejada felicidade. A partir, não da visão que o “melhor” está justificado para ser imposto, e sim do conhecimento, reconhecimento e respeito entre todas as partes.

BIBLIOGRAFIA

ARISTÓTELES, Nicomachean Ethics, (Tradução inglesa e introdução a cargo de Sir W. D. ROSS), – Londres: William Benton, Publisher, 1956.

Referências

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