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O uso do Tangram em uma aula de estágio em Matemática

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Academic year: 2021

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O uso do Tangram em uma aula de estágio em Matemática

Dulcyene Maria Ribeiro1

1Colegiado do Curso de Matemática – Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná

Campus de Cascavel dulcyenemr@yahoo.com.br

Resumo: Neste texto discorremos sobre o Tangram, um quebra-cabeça originário da China que tem sido usado como material didático. Durante atividades de estágio realizado por um grupo de alunos do curso de Matemática da Unioeste, no ano de 2010, o Tangram foi explorado em atividades didáticas, que tinham como intuito ensinar frações, bem como outros conceitos relacionados à geometria, a um grupo de alunos de 8ª séries. Portanto, faz-se um relato de como se desenvolveram as atividades com os alunos utilizando o Tangram. Também apresenta-se um modo de construção do Tangram, bem como comentários sobre a existência de outros Tangrans.

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1. O contexto

Durante o ano letivo de 2010, alguns alunos (que denominaremos daqui em diante de discentes para diferenciar da forma como nos referiremos aos alunos da escola envolvidos no projeto), do terceiro ano do curso de licenciatura em Matemática da Unioeste, campus de Cascavel, sob a minha orientação, realizaram algumas atividades do estágio na Escola Estadual Olinda Truffa de Carvalho.

Por motivos diversos os discentes realizaram algumas atividades do estágio, no período noturno. Como na maioria das escolas em Cascavel, não há Ensino Fundamental na modalidade regular no período noturno, já que era com esse público que se devia trabalhar, acabamos por realizar um trabalho diferenciado, uma espécie de projeto, no qual não se exige que seja numa classe já formada.

Temerosos com a baixa procura que o curso pudesse ter, nos surpreendemos com a quantidade de alunos que se inscreveram. Em média o número de alunos que compareceram aos encontros era 15, havendo dias em que teve mais de 20. Os alunos envolvidos eram das 8ª séries do referido colégio. Realizaram-se encontros semanais, de 3 horas de duração, sempre às terças-feiras.

Embora com suas especificidades, o grupo de alunos inscrito garantiu as características do que se pode chamar de uma “classe normal”. Nela havia alunos que conversavam muito, mas faziam o que lhes era solicitado, alunos que conversavam, não faziam as atividades e ainda influenciavam de maneira negativa o comportamento dos colegas, alunos que faziam as atividades sem fazerem algazarras, alunos comportados que faziam seus trabalhos, alunos comportados mas que não faziam as atividades solicitadas, mostrando-se apáticos, alunos que eram ignorados pelos demais, outros que estavam muito envolvidos, enfim, podemos dizer que a classe montada com voluntários era representativa da realidade de uma classe de 8ª séries da escola.

Nesses encontros foram trabalhados conteúdos variados, sem a sequência rígida de uma unidade de conteúdo. Foram trabalhados, por exemplos, potenciação, usando a ideia de fractal por meio do triângulo de Sierpinski, radiciação, fazendo um paralelo com os números irracionais, produtos notáveis utilizando o algeplan e, por último, geometria, por meio da confecção de sólidos geométricos feito com canudos de plástico e da construção com régua e compasso de polígonos regulares.

Conteúdos variados foram pensados justamente porque se tratava de um projeto diferenciado do que acontece normalmente em sala de aula. Então como uma forma de tentar garantir público e, por relacionar vários conteúdos já vistos pelos alunos nas séries anteriores, optamos por adotar metodologias diferenciadas e temas diversos.

Além dos conteúdos listados anteriormente, foi trabalhado também com as noções de área, perímetro e com frações, utilizando o Tangram. É sobre a abordagem deste tema que discorreremos daqui em diante, destacando os aspectos que foram tratados com os alunos e a forma como eles corresponderam.

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2. A aula

Ao preparar o encaminhamento da aula, estabeleceu-se como objetivo, levar os alunos a: perceber formas geométricas e criar figuras com base nelas; desenvolver a capacidade de visualização, de percepção espacial, de análise e criatividade; estabelecer proporções de figuras com relação ao todo ou às demais partes do Tangram; estabelecer relações de área e perímetro entre figuras ou com o todo, tomando como referência as peças do Tangram.

Quanto ao desenvolvimento metodológico, começou-se por apresentar o Tangram e contar uma lenda que explica sua criação.

O que é o Tangram?

É um quebra-cabeça originário da China, formado por cinco triângulos, um paralelogramo e um quadrado. Essas figuras, juntas, podem formar um quadrado. A seguir está o esboço do Tangram tradicional1, o mais conhecido e explorado em

atividades didáticas.

Figura 1

Não se sabe exatamente quando, nem quem inventou o Tangram. A origem desse jogo chinês é contada por diversas lendas. Uma delas diz que um sábio chinês deveria levar ao imperador uma placa de jade, mas no meio do caminho, o sábio tropeçou e deixou cair a placa que se partiu em sete pedaços geometricamente perfeitos. Eis que o sábio tentou remendar e, a cada tentativa, surgia uma nova figura. Depois de muito tentar, ele, finalmente, conseguiu formar novamente o quadrado e levou ao imperador. Os sete pedaços representariam as 1 Outros tipos de Tangram serão mencionados no fim deste texto.

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sete virtudes chinesas, e uma delas, com certeza, seria a paciência. O sábio mostrou aos seus amigos as figuras que havia conseguido montar e cada um construiu o seu Tangram.

Depois desse preâmbulo foi proposto aos alunos o manuseio do Tangram. Cada um recebeu um quebra-cabeça reconhecendo, por meio das explicações de um dos estagiários, cada uma das figuras geométricas que compõem o Tangram. Foi solicitado que utilizando as peças do quebra-cabeça, os alunos montassem um quadrado e que resolvessem algumas atividades, relacionando as peças. Alguns alunos apresentaram um pouco de dificuldade para encontrar o lugar de cada uma das peças na montagem do quadrado.

O Tangram é formado por dois triângulos grandes (T1), um triângulo médio (T2) e dois triângulos pequenos (T3), um paralelogramo (P) e um quadrado (Q). Ao considerar o quadrado formado pelas sete peças, como um inteiro, pode-se estabelecer relações entre as peças do Tangram. As atividades pode-seguintes foram organizadas para que os alunos respondessem:

1ª) Um triângulo grande (T1) representa _____________ do inteiro; 2ª) O quadrado (Q) representa _____________ do inteiro;

3ª) O triângulo médio (T2) representa _____________ do inteiro; 4ª) O paralelogramo (P) representa _____________ do inteiro; 5ª) Um triângulo pequeno (T3) equivale a _____________ do inteiro;

As peças do Tangram também podem ser relacionadas umas com as outras. Então foi proposto que os alunos respondessem:

1ª) O triângulo médio (T2) representa _____________ do triângulo grande (T1); 2ª) Um triângulo pequeno (T3) equivale a _____________ do triângulo médio (T2);

3ª) Um triângulo pequeno (T3) equivale a _____________ do triângulo grande (T1)

4ª) O paralelogramo (P) representa _____________ do triângulo médio (T2); 5ª) Um triângulo grande (T1) equivale a __________ triângulos médio (T2); 6ª) O quadrado (Q) representa _____________ do triângulo grande (T1); 7ª)Dois triângulos (T1) correspondem a ___________ do inteiro;

8ª)Dois triângulos (T3) correspondem a ___________ do inteiro.

Para resolver essas relações os alunos sobrepunham umas peças sobre as outras para visualizar quantas unidades de uma peça “caberia” em outra. Depois de sobreporem as peças, eles anotavam as relações entre as peças. Os alunos apresentaram dificuldades para fazer essas relações solicitadas. Quando conseguiam entender a ideia do quanto uma peça representava do todo, se animavam e tentavam fazer sozinhos as demais relações.

Também foi relembrado com os alunos os conceitos de perímetro e área da seguinte forma: Perímetro de uma figura é a medida de seu contorno e

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Perímetro de um polígono é a soma das medidas de seus lados. Área de um polígono é a região limitada pelos seus lados. Depois foi proposto comparar as áreas e perímetros das peças do Tangram e realizar as seguintes atividades que utilizavam esses conceitos.

1ª) Qual a relação da área do triângulo médio (T2), do quadrado (Q) e do paralelogramo (P)? Qual a relação entre os perímetros desses polígonos?

2ª) A área do triângulo médio (T2) equivale a metade da do triângulo grande (T1). Essa proporção se mantém em relação ao perímetro? Explique.

3ª) A área do triângulo grande (T1) é quatro vezes a área do triângulo pequeno (T3). Essa proporção se mantém em relação ao perímetro

4ª) A área do inteiro é igual à somas das áreas das sete peças. O perímetro do inteiro é a soma dos perímetros das sete peças?

Os alunos apresentaram mais dificuldade para realizar essa atividade e poucos conseguiram entender essas relações. Por esse motivo, um dos estagiários resolveu no quadro, desenhando e mostrando as relações e incentivando a participação dos alunos que, no geral, participaram da correção.

Em seguida foi distribuída aos alunos uma folha contendo figuras possíveis de ser construídas utilizando o Tangram, como a que segue e foi solicitado que eles tentassem formar as figuras.

Figura 2

Os alunos demonstraram entusiasmo para montar as figuras. Em algumas delas apresentaram um pouco de dificuldade, mas os colegas indicavam como

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poderiam fazer. Os estagiários apenas auxiliavam quando solicitados e acompanhavam o envolvimento e as descobertas dos alunos sobre como uma figura era montada.

Alguns alunos não realizaram as atividades iniciais como esperado, pois ficaram o tempo todo tentando montar figuras utilizando o Tangram, já que as imagens da Figura 2 estavam juntas com o material inicial. Disso conclui-se que se esperamos que todos façam as atividades iniciais envolvendo os conteúdos matemáticos, não se pode colocar no mesmo material imagens que serão utilizadas no momento lúdico da aula. De qualquer maneira, essa atitude dos alunos mostra como o Tangram pode ser bem aproveitado já que desperta o interesse dos alunos.

Como foi apenas um encontro e tinha-se como objetivo relembrar conteúdos já aprendidos, como área, perímetro e frações, omitimos nesse relato aspectos que poderiam ser levados em conta se os alunos fossem de faixa etária menor do que os que participaram, como por exemplo, solicitar que os alunos representassem por desenhos as relações entre as peças. Para alunos mais jovens, o ideal é fazer mais associações com representações geométricas, como as que são apresentadas no livro de Souza et al.

3. Um breve comentário

Ao utilizar materiais pedagógicos como o Tangram como recurso para o ensino da Matemática, é preciso ter em mente os objetivos do trabalho e para que alunos as atividades serão dirigidas. Assim,

As atividades iniciais, para o reconhecimento das peças e das relações entre elas, devem ser feitas com os alunos de qualquer série, pois, como vimos, as relações entre as peças formam a base para o uso do material no estudo de conceitos envolvendo área ou frações, bem como para a construção do quebra-cabeça. No entanto, com alunos de maior escolaridade podemos aprofundar a reflexão colocando outros questionamentos, promovendo discussões e novas sistematizações das conclusões do grupo ou da classe como um todo (SOUZA et al, 2008, p.64).

No trabalho de SOUZA et al (2008) referenciado acima a descrição mais detalhada se dá com base em um trabalho realizado com alunos de 1ª a 4ª séries ou de 1º ao 5º anos, com os quais a necessidade de representações geométricas de cada passo realizado é de muita importância. Com os alunos de 8ª séries como os que participaram do trabalho conosco julgamos que todas as representações não eram necessárias.

Como tínhamos pouco tempo para desenvolver nosso trabalho com os alunos, optamos por levar os Tangrans prontos. Mas a construção do quebra-cabeça é rica para se explorar diversos conteúdos matemáticos, como vértice, ângulos, diagonal, área, além do reconhecimento de diversas figuras geométricas.

Tangrans podem ser construídos de várias formas. No livro de SOUZA et al (2008), são apresentadas duas formas de construção do Tangram por meio de dobraduras e outra utilizando régua e compasso. Apresentaremos a forma que

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temos utilizado para a construção do Tangram utilizada em outros trabalhos que temos realizado.

4. Uma construção do Tangram

Construa um quadrado de 13 cm de lado. Trace a diagonal.

De um dos vértices, trace um segmento de reta até alcançar a diagonal já marcada, para isso tome como referência a diagonal BD. O ponto de encontro é denominado de O e marca o centro do quadrado. Assim, ficam obtidas duas peças do Tangram, os dois triângulos grandes.

Em seguida, deve-se localizar os pontos médios dos lados do quadrado que não delimitam os triângulos grandes. Esses pontos podem ser encontrados usando a régua, já que foi estabelecido a medida do lado do quadrado em 13 cm. Ao ligar esses pontos marca-se o triângulo médio, a terceira peça do quebra-cabeça.

Prolongue a diagonal BD, até alcançar o lado maior do triângulo médio. Chamemos o ponto de intersecção de G. Então trace um segmento perpendicular a AC, passando pelo ponto médio do lado DC (essa é apenas uma das maneiras de traçar esse segmento). Ficam delimitados outras duas peças do Tangram, um triângulo pequeno e o quadrado.

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Por fim, une-se o ponto G ao ponto médio de OA, obtendo as duas peças do Tangram que ainda faltavam: um triângulo pequeno e o paralelogramo.

5. Outros Tangrans

O Tangrans utilizado no trabalho ora relatado é apenas um dos vários tipos de Tangrans existentes. Souza et al (2008, p.90-102) apresenta seis tipos de Tangrans, conforme as respectivas imagens seguintes: Tangram de Pitágoras, também formado com base em um quadrado é composto de sete peças, Tangram de Nove Peças, formado tendo como base um retângulo, Tangram Retangular, formado de sete peças, Tangram Circular, formado por dez peças, Tangram Oval, um quebra-cabeça de dez peças também conhecido como ovo mágico e o Coração Partido, como o próprio nome já diz tem como base um coração composto de sete peças. Os três últimos apresentam como característica comum serem formados com base em figuras arredondadas. Além desses existem outros Tangrans.

Figura 32 Figura 4 Figura 5

2 As figuras 3, 4 e 5 tem como base o texto de Souza et al. As figuras 6, 7 e 8 têm por base o site

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Figura 6 Figura 7 Figura 8

Durante a construção de cada um dos Tangrans o professor pode fazer explorações semelhantes as que se faz com o Tangram tradicional, discutindo noções de área, perímetro, semelhança, congruência, simetria entre outros conteúdos matemáticos.

6. Bibliografia

KALEFF, Ana Maria Martensen Roland. Tangrans geométricos especiais. Disponível em: http://www.uff.br/cdme/tangrans_geometricos/index.html. Acesso em: 26 set. 2010.

LORENZATO, Sergio. O laboratório de ensino de matemática na formação de professores. São Paulo: Autores Associados, 2006.

SMOLE, Kátia Critina Stocco et al Cadernos do Mathema: Ensino fundamental: jogos de matemática de 6º a 9º ano. Porto Alegre: Artmed, 2007.

SOUZA, Eliane Reame de et al. A Matemática das sete peças do tangram. São Paulo: CAEM/IME-USP, 2008. 102p.

Referências

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